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Liberte Aquela Bruxa – Vol. 03 – Cap. 244 – Censo e Registro

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Do lado de fora da muralha de Vila Fronteiriça e sob a orientação dos soldados do Primeiro Exército, os refugiados começaram a passar por uma verificação de identidade sem precedentes em toda a história de Castelo Cinza.

Barov naturalmente sabia que para Sua Alteza, a população era o bem mais precioso. A fim de trazer essas pessoas para Vila Fronteiriça, Sua Alteza Real gastou muitas peças de ouro, chegando ao ponto de tirar do próprio bolso o dinheiro para o Primeiro Exército realizar a expedição até a capital do reino. Quando Barov pegou a conta da Câmara de Comércio de Margaret em suas mãos, ele ficou tão chocado que seu queixo quase caiu.

Em pouco mais de duas semanas, eles gastaram mais de duas mil peças de ouro pelas taxas de afretamento dos navios, incluindo as taxas de transporte, as taxas de fornecimento de alimentos e assim por diante. Isso equivalia ao preço de venda de quatro motores a vapor. Se não fosse pelos dois adiantamentos da adaptação dos navios à vela para navios movidos a vapor, neste momento, Barov receava que as contas da vila estariam no vermelho.

Depois que todos os refugiados foram transportados e estavam na área habitacional temporária, o árduo e exaustivo trabalho estatístico caiu sobre os ombros de Barov. Quase todos os funcionários e aprendizes da vila foram movidos para realizar o censo e a verificação de identidade. Ao lado da muralha, um galpão e um corredor de madeira foram colocados para a identificação e o registro dessas pessoas. Olhando para os mais de uma dúzia de grupos de refugiados alinhados e sendo examinados, Barov os viu como se fossem dinheiro vivo entrando para a vila.

Em comparação com o registro de civis comuns, Barov sentia um peso muito maior na responsabilidade de determinar quem era, de fato, profissional e quem não tinha profissão nenhuma, pois até agora, somente umas sessenta pessoas haviam passado no exame para confirmar sua respectiva profissão.

— Eu sou… um carpinteiro. — Nesse momento, um homem de meia-idade se aproximou cautelosamente — Ouvi dizer que um artesão pode conseguir uma casa? É verdade?

— Sim. — Sirius Daly1Caso você não se lembre desse cavaleiro, ele apareceu primeiro lá no capítulo 132 e depois Barov viu que ele tinha potencial lá no 139. respondeu — Qual é o seu nome? Você sabe ler e escrever?

O cavaleiro, Sirius Daly, que outrora pertencia à Família Lobo, estava sendo bastante útil no Ministério da Agricultura e, até então, não cometera erro algum. Barov estava bastante satisfeito com ele. Infelizmente, a Prefeitura dispunha de poucas pessoas que sabiam ler e escrever, então, sem nenhuma opção melhor, eles tiveram que colocar pessoas alfabetizadas de outros departamentos para suprir a demanda desejada e realizar essa tarefa de registro.

— Hã… bem, senhor, meu nome é Marshall. — Ele fez uma pausa — Eu não sei ler.

— Então você não sabe ler nem escrever?

— Não senhor, não sei. — O homem de meia idade baixou a cabeça.

— Bem, se você é um carpinteiro… — Sirius olhou para a pilha de formulários de perguntas e encontrou o que estava marcada como “carpinteiro” — Ah, achei. Deixe-me fazer algumas perguntas.

Esse passo preliminar foi algo pensado pelo 4º Príncipe. Era um formulário com diversas perguntas desenvolvido a partir do conhecimento de diversos artesãos com especialidades diferentes. As perguntas eram bastante variadas e abordavam assuntos relacionados ao conhecimento profissional e a abordagem correspondente a cada tipo de profissão. Dessa forma, contanto que a pessoa responsável pela checagem fizesse as perguntas enquanto olhava para o formulário com as respostas corretas, a mesma seria capaz de saber se o outro lado estava mentindo ou não.

A primeira vez que Barov viu esse método de exame, ele secretamente admirou a mente sagaz do pequeno diabinho. Por não estarem engajados nesse novo conceito de indústria, a maioria dos civis não entenderia os pormenores desse exame. Se uma pessoa quisesse fingir ter conhecimentos, provavelmente ela ficaria sem palavras com apenas duas ou três perguntas.

— Qual é a ferramenta usada para cortar madeira?

— Hã… uma serra, senhor.

— E quais são os tipos de serras?

 Serra de arco e serra de duas pontas. Para cortes pequenos, a gente usa serrote de carpinteiro mesmo, senhor.

Sirius fez várias perguntas, e Marshall conseguiu responder a quase todas elas. Com o tempo, ele parecia cada vez mais confiante.

— Bem, parece que você é mesmo um carpinteiro. — Sirius estava praticamente escrevendo o nome de Marshal na lista quando Barov de repente colocou a mão em seu ombro — Senhor? — Sirius disse, confuso.

— Não faça julgamentos precipitados. Primeiro, olhe para as mãos dele. — Barov disse e olhou para Marshal — Estenda as mãos.

Marshall ficou surpreso com essas palavras. Perplexo, ele estendeu as mãos. A pele das palmas de suas mãos estava bastante áspera e cheia de rachaduras, com um pouco de terra debaixo de suas unhas. Seus dedos eram grossos e cheios de calos, dando a entender que suas mãos já foram bastante castigadas pelo tempo.

— Se ele é um carpinteiro, a pele de sua mão não deveria ser tão áspera, especialmente a palma da mão que muitas vezes fica lisa por estar constantemente trabalhando com madeira. Além disso, os carpinteiros frequentemente precisam usar tinta preta para desenhar os contornos, de modo que a mão fica sempre manchada, em vez de amarelada desse jeito. — Barov disse diminuindo o tom de voz — Outra coisa que você deve levar em consideração, é que ele sempre olha para o lado quando está respondendo. A maioria das pessoas tem esse tipo de comportamento quando tenta se lembrar de algo que não lhe é familiar. Se ele fosse um carpinteiro, então ele deveria responder naturalmente, sem ficar olhando para os lados, certo?

— É mesmo? — Sirius olhou fixamente para Marshal.

Marshall ficou atônito naquele momento. Barov olhou para ele e disse:

— Você ouviu as advertências quando os soldados do Primeiro Exército o convocaram. Qualquer pessoa que fingir ser quem ela não é, mentir sobre sua profissão ou se recusar a participar do censo e do registro de identidade, será severamente punida. Podendo também ser mandada para às minas ou até expulsa da Região Oeste. Agora me diga, você é mesmo um carpinteiro?

— Não, senhor, eu cometi um erro! — Marshall não pôde deixar de se ajoelhar no chão — O carpinteiro era meu vizinho e tudo o que fiz foi ver ele trabalhar!

— Volte para o fim da fila. — Barov disse.

Observando o homem ir embora, Sirius perguntou:

— Como o senhor sabe dessas coisas?

— Durante os Meses dos Demônios, eu realizei um censo para Sua Alteza Real. Eu lidei com todos os carpinteiros da vila, então eu naturalmente sei dessas coisas. — Barov respondeu fingindo desinteresse, mas vendo o rosto do cavaleiro mostrar uma expressão de choque e admiração, ele ficou secretamente satisfeito.

Embora o método de Sua Alteza seja inteligente, sempre haverá pessoas que usam esses truques para passarem no exame. — Barov pensou — E somente pessoas como eu, que aprenderam após serem enganadas no passado, conseguem perceber essas artimanhas.

Mas devido a nova postura adotada por Sua Alteza, a maneira como os funcionários da Prefeitura lidam com esse tipo de problema hoje em dia é bem diferente da do passado, e Barov só podia suspirar com isso. Em casos como esse do Marshal, geralmente, o Lorde iria aplicar uma punição severa para que todos os outros civis ficassem intimidados a não cometerem o mesmo erro.

No entanto, Sua Alteza Roland não age como os outros Lordes, deixando essas pessoas irem embora sem qualquer tipo de punição. — Barov pensou — Afinal, cada refugiado vale muito dinheiro, então eles devem gerar lucro e riquezas para Vila Fronteiriça primeiro, para só então o dinheiro gasto no transporte deles valer a pena. Não podemos ter o luxo de perder mais dinheiro.

Sirius esperou até que o próximo refugiado chegasse para o exame de profissão, mas não o registrou de imediato, olhando para Barov como se esperasse sua aprovação.

Barov olhou para Sirius, assentiu e disse:

— Pode registrar, eu vou levá-lo até Sua Alteza.

Do outro lado do corredor, Roland Wimbledon construíra um barracão. Ali também era o ponto de verificação final.

Nesse barracão, todos que passaram no exame inicial seriam avaliados pessoalmente por Roland. Se fossem aceitos, eles poderiam obter um Cartão de Identidade de Residente e se tornar um cidadão oficial de Vila Fronteiriça. No momento, a vila não possuía casas para todos e a prioridade seria dada aos artesãos. Quanto àqueles que não possuíam uma profissão, eles esperariam por dois a três meses fora da muralha da vila.

Barov também tinha um Cartão de Identidade. Era um pedaço de papel colorido, quase do tamanho de sua mão. Havia uma pintura de seu rosto no canto superior esquerdo, tão perfeito quanto um reflexo no espelho. No meio estavam seu nome, endereço e um número de identificação. No verso do papel estavam impressos o emblema do Reino de Castelo Cinza e o selo de Sua Alteza, Roland Wimbledon. O cartão estava embrulhado em um tipo de “papel transparente” estranho. Esse “papel” não molhava de jeito nenhum e também não pegava fogo.

Não tenho dúvidas de que esse papel é fruto da feitiçaria de Soraya. — Barov pensou — Sua Alteza Real quer implementar essa política de Cartões de Identificação em toda a vila. No futuro, alguém só vai conseguir comprar ou vender alguma coisa aqui se tiver esse cartão. Bem, já que a filha do Sir Pinheiro também recebeu uma medalha na Cerimônia de Honra e Recompensas, isso quer dizer que Sua Alteza não tem mais a intenção de ocultar a existência das bruxas. — Pensando nisso, Barov já não dava a mínima sobre quem estava certo, se era o Diabo ou a Igreja — Espero que Sua Alteza consiga derrotar a Igreja e unificar completamente todo o Reino de Castelo Cinza.

Para Barov, não havia dúvidas de que quanto maior fosse o status de Sua Alteza Real, maior seria sua recompensa.

É claro que ainda havia um longo caminho a percorrer até ele unificar o reino, e Barov deixou essas preocupações para lá, por enquanto. Agora, a população da vila já era maior que a de Forte Cancioneiro, e Sua Alteza Real também havia revelado o plano de desenvolvimento da vila para o próximo ano, visando promover esta vila a uma cidade oficial. Uma vez que a Avenida Real entre Vila Fronteiriça e Forte Cancioneiro estiver pronta, a maior parte da Região Oeste estará unificada. Seu tamanho, sem dúvida alguma, superaria a Cidade Real de Castelo Cinza e se tornaria a cidade mais magnífica de todo o reino. E que tipo de promoção ele teria como Primeiro-Ministro da Prefeitura?

Barov estava ansioso pelo futuro.

 


 

Tradução: JZanin

Revisão: Kabum

 

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