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Tive Aquele Mesmo Sonho de Novo – Cap. 11

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Tive aquele mesmo sonho de novo.

O alarme do meu despertador. O filete de luz forçando seu caminho em torno das bordas da cortina. Os lençóis de seda. O travesseiro fofo. O teto branco.

Essa foi a primeira coisa que pensei ao acordar: tive aquele mesmo sonho de novo.

Pisquei para tirar o sono dos meus olhos, movendo-me para desligar o alarme. Senti um peso modesto em cima do estômago e levantei a malandra que sempre me impedia de virar na cama, colocando-a no chão. Ela era uma dorminhoca que poderia não acordar mesmo se a casa estivesse pegando fogo, então estava tudo bem em ser um pouco rude com ela.

Saí da cama e me levantei, abrindo as cortinas e deixando a luz do sol entrar. Sim, céu limpo de novo hoje. Clima perfeito.

É melhor lavar meu rosto, pensei, quando o celular na mesa ao lado da minha cama começou a vibrar. Eu já sabia de quem era a mensagem.

Ao lê-la, minhas costas se endireitaram. Eu tinha planos para hoje, então teria que me arrumar e sair um pouco mais cedo do que de costume.

Fui até a pia lavar o rosto. Meu cabelo comprido não ficava tão despenteado, mas também me mantinha no banheiro por mais tempo do que a maioria. Além disso, eu tive aquele sonho hoje. Em dias assim, sempre acabava olhando meu próprio rosto no espelho por um tempo.

Depois que arrumei meu cabelo e terminei meu tempo como narcisista temporária, fui à cozinha e peguei um pouco de suco de laranja e os financiers que comprei ontem. Duas das minhas coisas favoritas.

Era sempre nessa época, quando me sentava no sofá para tomar meu café da manhã, que a residente aproveitadora decidia acordar. Ela se enrolou languidamente em minhas pernas e começou a lamber meus pés. Provavelmente estava com fome. Eu estaria condenada se ela mordiscasse meus pés, então trouxe seu pires pessoal e um pouco de leite para seu café da manhã. Eu tinha separado este pires só para ela, um com o seu nome escrito na borda. Não sei o que ela estava pensando enquanto tomávamos o café da manhã, mas eu estava pensando em sonhos.

Muitas vezes sonhei com minha infância, sempre meus dias de escola fundamental. Eu tinha muitas outras lembranças importantes, mas só parecia sonhar com isso.

Era como se meu coração estivesse perguntando: Você fez isso? Você descobriu como ser feliz?

Eu não estava disposta para o café da manhã, então bebi outro copo de suco de laranja e liguei a TV, trocando os canais, me perguntando o que estava passando. Mas tudo que encontrei foram alguns desenhos animados antigos, algumas notícias tristes e algum tipo de talk show composto inteiramente por alunos do ensino fundamental. Os professores universitários de aparência importante em um canal diziam exatamente o mesmo tipo de coisas que diziam quinze anos atrás.

Desliguei a TV, deixando a pequenina aos meus pés enquanto ia para o meu escritório. Eu morava neste apartamento de dois quartos já faz três anos. Quando procurei uma casa e disse ao corretor de imóveis meu requisito número um, eles me olharam com curiosidade. Mas procuraram muito, e fiquei bastante impressionada com a casa que encontraram para mim.

Eu não tinha um único item desnecessário em meu espaço de trabalho. Possuía uma cadeira de rodinhas ao lado de uma grande escrivaninha, um caderno e um lápis, um despertador e um pequeno computador. Havia livros na estante. E havia um cobertor, sobre o qual minha minúscula aproveitadora poderia dormir.

Sentei na cadeira e abri o caderno, revendo o trabalho de ontem. Então peguei meu lápis e comecei a trabalhar. Este trabalho não exigia deslocamento. Não havia horas definidas, nem horas extras, nem chegar atrasado ou mais cedo. Não havia nenhum outro material de que eu precisava. Meu caderno, meu lápis e minha mente eram as únicas coisas necessárias neste mundo.

Eu acertei o relógio. Assim que comecei meu trabalho, rapidamente perdi a noção do tempo. Com certeza as mãos voaram rapidamente hoje e, como sempre, fui trazida de volta ao mundo pelo meu alarme. Marquei um pequeno círculo no caderno e me levantei da cadeira. Normalmente, eu simplesmente desconsideraria o almoço e continuaria trabalhando, mas não hoje. Hoje, eu tinha algo importante para fazer.

Arrumei meu cabelo no banheiro, olhando de soslaio para a minha aproveitadora, que tinha voltado a dormir. Passei uma camada de maquiagem casual, mudando para uma saia que era um pouco mais estilosa e caprichosa do que o normal. Peguei minha mochila favorita e estava pronta para sair.

— Miau.

A aproveitadora parecia ter acordado. Ela sentou-se aos meus pés, franzindo a testa e olhando para mim.

— O quê? Você está dizendo que eu não deveria usar mochila para um encontro? Ouça, a vida é como uma mochila, afinal.

— Miau.

— Você fica um pouco mais ereto quando tem algo nas costas. Além disso, me lembra uma mochila escolar. Eu amo ela.

Ela não pareceu entender minha piada. Parecia mais interessada em correr para fora e começou a arranhar a porta. Embora tenha saído de cima de mim, sempre passava os dias ao ar livre. Eu não sei aonde ela ia. Talvez estivesse escalando colinas com alguma garotinha em algum lugar.

Pressionada pela minha aproveitadora, decidi sair de casa imediatamente, embora fosse um pouco cedo. Eu tinha um livro lido pela metade na minha mochila, uma caneta e um caderno. Todos os preparativos necessários para um momento maravilhoso. Meu cabelo e minha saia balançaram de tal maneira que parecia que eu estava dançando. Logo seria verão.

— Oh, Março!  — Chamei minha aproveitadora de coração frio quando ela saiu, nem mesmo esperando que eu trancasse a porta.

Ela voltou com um olhar sedutor. Eu me perguntei que memórias haveria por trás daqueles olhos sedutores, os olhos de alguém que viveu metade de sua vida como uma gata de rua. Por mais curiosa que eu estivesse, era uma pergunta que ela nunca responderia.

— Estarei de volta antes da meia-noite. Encontre um lugar para se divertir.

— Miau.

Não havia necessidade de se preocupar com ela, ela parecia dizer, saltando sobre os pés leves, sua longa cauda balançando para frente e para trás. Embora parecesse um pouco diferente, seu comportamento me lembrava muito uma garota perversa que conheci.

Agora, é hora de eu ir.

— A felicidade não vai viiiiiir na minha direção, é por issoooo que partiiiiiii para encontrá-la hojeeeeee!

Eu me alonguei, apreciando a paisagem, e dei meu primeiro passo para o dia.

A felicidade é algo que você deve escolher por sua própria vontade, por meio de suas próprias palavras e ações, permitindo-se sentir alegria e entusiasmo, valorizando as pessoas importantes para você e valorizando a si mesmo.

Tive aquele mesmo sonho de novo. Quando tinha esse sonho, sempre sentia como se meu próprio coração estivesse perguntando: Você está feliz agora?

Sempre que tinha que responder a essa pergunta, certificava-me de que meus princípios de felicidade não mudaram, depois estufava o peito e assentia.

Quando eu era criança, uma jovem esperta que sempre dizia coisas arrogantes, não conseguia pensar nas pessoas ao meu redor e não tinha amigos nem aliados. Mas, felizmente, aquela menina teve pessoas para orientá-la e, graças a elas, ela pôde crescer.

Ainda me lembrava daquelas pessoas que me guiaram.

Senhorita Messalina. Minami. Vovó.

Aos poucos, fui aprendendo o significado da palavra “messalina” 1Messalina: Mulher cujos costumes são considerados dissolutos; mulher considerada libertina; sinônimo de vadia. e o tipo de trabalho que ela provavelmente tinha. Que Minami não era realmente “Minami”. Houve um acidente de avião no dia da aula de observação da turma. O que a Vovó quis dizer quando disse que eu tinha o poder de ver o futuro.

Todas elas vieram para me salvar. E eu, uma garotinha, fui capaz de salvá-las em troca. Provavelmente foi por isso que nos conhecemos.

Conforme fui crescendo, entendi a verdade por trás de todos aqueles mistérios, mas não fiquei triste. Eu ainda amava todas aquelas mulheres, e foi por isso que fiz as escolhas que quis. Eu queria ser como a Minami, então usava um caderno para o meu trabalho até agora. Eu queria ser como a Senhorita Messalina, então me mudei para um prédio pintado da mesma cor. Eu queria ser como a Vovó, então pratiquei fazer doces. Mas eu ainda não conseguia fazer mágica.

No final, nunca mais consegui encontrar aquelas mulheres.

Eu não sabia se poderia me tornar tão maravilhosa quanto qualquer uma delas, mas ultimamente meu rosto, que antes parecia com o da Minami, começou a se parecer com o da Senhorita Messalina. Eu tinha certeza de que, daqui a algumas décadas, ficaria parecido com o da Vovó.

Mas minha vida pertencia apenas a mim. Eu poderia escolher minha própria felicidade.

A felicidade não era algo concedido a você de fora. Ela vinha de dentro. Você a escolhia e a criava com suas próprias mãos.

Tive aquele mesmo sonho de novo. Quando tinha esse sonho, sempre sentia como se meu próprio coração estivesse perguntando: Você está feliz agora?

Quando chegava a hora de responder a essa pergunta, sempre me lembrava das palavras finais da Vovó:

A vida é algo que pertence a você agora, enquanto tudo brilha com esperança.

Coloquei uma cadeira ao lado dele no estúdio, em um local que não atrapalhasse seu trabalho.

— Estou acabando de assinar. — ele disse, rindo de quão perto eu estava sentada.

Eu ri e respondi:

— Tive aquele mesmo sonho de novo.

Eu nunca tinha explicado o sonho, mas ele não questionava. Com a caneta em mãos, marcou o canto inferior direito com sua assinatura. Era algo que começou a usar fundamental II. Uma frase que significava o oposto de como seu próprio nome pode soar aos ouvidos de um estrangeiro — Kiriyuu, “Kill You” — algo que pode assustá-los.

— Este é para a exibição, não é? — perguntei.

— Não. — ele disse, olhando para o desenho de flores de colza em plena floração. — Isto é para você.

Esta era sua versão de proposta, eu sabia. Não é um pouco cedo para isso? Acabamos de nos tornar namorados, pensei, mas eu sabia que ele tinha colocado todos os sentimentos que compartilhamos nesta pintura. No entanto, quando se tratava de coisas tão importantes, eu preferia ouvir em palavras.

— Covarde. — falei.

Ele riu e disse as palavras corretamente.

Como respondi à sua proposta?

O que aconteceu conosco desde aquele dia, mesmo agora, ainda sentados um ao lado do outro, está estritamente under the rose2Vale lembrar que no capítulo 3 ela disse que buscaria uma ocasião para usar essa expressão quando crescesse e aprendesse inglês, por isso está em inglês aqui. O significado já foi explicado no capítulo 3 também..

 


 

Tradução: SoldSoul

Revisão: Guilherme

 

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