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Sword Art Online – Aincrad – Vol. 01 – Cap. 10

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Sem nem parar para respirar, Asuna e eu corremos até a zona de segurança, que fora montada em alguma parte no meio do labirinto. Tive a sensação de ter sido perseguido por monstros diversas vezes durante o trajeto. Mas, para dizer a verdade, não estávamos nas melhores condições mentais para enfrentá-los.

Irrompemos para dentro da sala que servia de zona segura e, lado a lado, encostamos na parede e deslizamos até sentarmos no chão. Depois de soltar um grande suspiro, olhamos um para o outro e…

— …Hah.

Ambos começamos a rir ao mesmo tempo. Se tivéssemos checado o mapa na hora, teríamos visto que o chefe não havia saído da sala. Mas sequer pensamos em parar para ver.

— Ah, há, há, há, há, há, ah… Conseguimos fugir!

Asuna estava jogada no chão e estremecia de tanto gargalhar.

— Faz muito tempo que não saio correndo desse jeito. Se bem que você foi pior que eu, Kirito.

Eu não podia negar. Asuna continuava rindo da minha cara amuada. Ela precisou de muito esforço até conseguir parar, e então disse:

— …Parece que aquele lá vai dar trabalho…

Então sua expressão ficou séria.

— Pois é. À primeira vista, ele usa apenas uma grande espada, mas deve ter algum ataque especial…

— O jeito é colocar gente resistente na linha de frente, fazendo switch.

— Seria bom ter uns dez caras com escudos… Bom, por enquanto, é melhor pensar numa estratégia segura.

— Escudo, é…?

Asuna olhou para mim, pensativa.

— Q-Que foi?

— Está escondendo algo, não está?

— Que que foi, do nada…?

— É que é estranho. Normalmente, a maior vantagem da espada de uma mão é poder usar um escudo na outra. Só que eu nunca o vi usando um escudo, Kirito. No meu caso, é porque prejudicaria a velocidade da minha espada, mas com você é diferente… É meio suspeito.

Ela acertou na mosca. Eu tinha uma skill secreta. Mas eu nunca a havia utilizado na frente de outras pessoas.

Não era só porque informações sobre skills eram uma importante estratégia de sobrevivência, mas era também porque achei que chamaria ainda mais atenção se ficassem sabendo daquela skill.

Mas, se fosse ela, eu não me importaria se ficasse sabendo…

Com esse pensamento em mente, abri a boca.

— Esquece, não tem importância. De qualquer forma, é rude ficar fuçando nas skills alheias desse jeito.

E ela soltou uma risada. Agora que tinha perdido minha chance, balbuciei algumas palavras que ela não pôde ouvir. E, então, os olhos de Asuna se arregalaram quando ela olhou a hora.

— Ah, já são três horas. Está tarde, mas vamos almoçar.

— Quê?!

Mal pude esconder minha emoção.

— Comida c-caseira…?

Asuna sorriu sem dizer nada e rapidamente mexeu na janela de diálogo de seu menu. Depois de tirar a luva, ela materializou uma pequena cesta de vime. “E não é que tem um ponto positivo em formar dupla com ela?”, mas no instante em que tive esse pensamento mal-educado, Asuna olhou feio para mim.

— …O que estava pensando?

— N-Nada. Mas, na boa, isso não importa, deixa eu comer logo.

Asuna fez bico, mas mesmo assim tirou duas embalagens de papel de dentro da cesta e deu uma delas para mim. Abri o embrulho e dentro dele encontrei um sanduíche feito de vegetais e carne grelhada, recheados dentro de duas finas fatias de um pão redondo. Eu podia sentir um aroma similar ao de pimenta-do-reino. De repente, senti-me faminto e dei uma grande mordida.

— Que… Delícia…

Eu dei duas, três mordidas em seguida, e apenas expressei minha sincera opinião. Pela cara, parecia um prato europeu, parecido com os que eram servidos em restaurantes de NPCs ao redor de Aincrad, mas o sabor era diferente. O tempero ligeiramente agridoce era definitivamente similar ao dos pratos de fast food japoneses que eu costumava comer até dois anos atrás. Terminei de comer o enorme sanduíche em um piscar de olhos, sentindo que estava prestes a chorar de tanta nostalgia.

Depois de engolir o último pedaço e beber o chá gelado que Asuna havia me oferecido, eu finalmente soltei um suspiro.

— Como conseguiu esse sabor…?

— É o resultado de um ano de treinamento e estudos. Analisei tooooodos os ingredientes que podem ser obtidos em Aincrad e como eles afetam o mecanismo de reprodução de sabor. Isto aqui é semente de grogwa, água de shubul e água de kalim.

Enquanto falava, Asuna tirou dois pequenos frascos de dentro da cesta, abriu um deles e mergulhou o indicador nele. Seu dedo saiu coberto de uma substância indescritível que era roxa e pegajosa. Então ela disse:

— Abra a boca.

Eu não sabia o que era, mas abri a boca por reflexo e Asuna enfiou o dedo coberto com a substância misteriosa dentro dela. O sabor que havia invadido a minha boca me deixou maravilhado.

— …É maionese!

— E aqui é grão de abilpa, folhas de sag e ossos de uransipi.

Esse último parecia um ingrediente de antídoto para envenenamento, mas o líquido entrou na minha boca antes que eu tivesse sequer tempo para pensar. Seu sabor me chocou mais do que o primeiro. Com certeza era shoyu. Eu estava tão exaltado que agarrei o pulso de Asuna e coloquei seu dedo na minha boca.

— Kyaah!

Ela gritou e puxou o braço de volta, olhando feio para mim.

Então ela começou a rir da minha cara.

— F-Foi com isso que eu fiz o molho do sanduíche…

— Incrível! É perfeito! Se começasse a vender, ganharia uma nota!

Para ser honesto, o sanduíche era mais gostoso do que o prato de Ragout Rabbit que tinha comido no dia anterior.

— S-Será?

Asuna mostrou um sorriso envergonhado.

— Pensando melhor, deixa pra lá. Não sobraria pra mim.

— Que egoísta! É só pedir que eu faço quando você quiser.

Ela falou a última parte bem baixinho e apoiou-se no meu ombro. Enquanto o silêncio envolvia o cômodo, eu até esqueci que estávamos nas linhas de frente, um lugar onde colocávamos nossas próprias vidas em risco quando lutávamos.

Se pudesse comer aquilo todos os dias, acho que conseguiria até mudar de ideia e ir morar em Selmburg… Bem do lado da casa da Asuna… Comecei a pensar naquilo inconscientemente e quando estava prestes a cometer o erro de comentar em voz alta…

O barulho repentino de armaduras anunciou que um grupo de jogadores havia chegado. Nós dois imediatamente abrimos distância um do outro.

Olhei para o líder do time de seis pessoas e relaxei os ombros. Ele era o espadachim que eu conhecia há mais tempo que qualquer outra pessoa em Aincrad.

— E aí, Kirito? Há quanto tempo!

Eu me levantei e cumprimentei o homem alto que começou a vir em minha direção assim que me reconheceu.

— Caramba! Ainda tá vivo, Klein?

— E você continua mal-educado. Que raro te ver com… alguém…

Ao ver Asuna, os olhos do espadachim se arregalaram sob sua bandana. Ela havia se posto de pé depois de rapidamente guardar seus pertences.

— Vocês já devem ter se visto em alguma batalha, mas vou lhes apresentar assim mesmo. Esse é o Klein, da guilda Furinkazan, e essa é Asuna, da KoB.

Asuna assentiu com a cabeça ao ser apresentada, mas Klein continuou ali, parado, boquiaberto e de olhos arregalados.

— Ei, fala alguma coisa. Travou? Tá com lag?

Depois que dei umas cutucadas nele, Klein finalmente fechou a boca e se apresentou da maneira mais educada possível.

— M-Muito prazer! E-E… Eu me chamo Klein, tenho vinte e quatro anos e sou solteiro!

Assim que Klein começou a falar besteira por causa do nervosismo, eu o cutuquei mais uma vez, só que com mais força do que antes. Mas antes que ele pudesse terminar de falar, os cinco membros da sua guilda vieram correndo e começaram a se apresentar.

Eles disseram que todos os membros da Furinkazan já se conheciam desde antes de começarem a jogar SAO. Klein protegeu e guiou cada um deles, sem perder um membro sequer, até que estivessem fortes o suficiente para serem capazes de lutar nas linhas de frente. Ele foi capaz de carregar nas costas o peso do qual eu tinha fugido dois anos atrás — no dia em que o jogo da morte começara.

Ignorei o autodesprezo que há tempos havia se infiltrado no fundo de meu coração e comecei a falar para Asuna:

— B-Bom… Eles não são sujeitos ruins… Apesar dessa cara de bandido do líder.

Dessa vez, Klein pisou no meu pé com toda a força que tinha. Ao ver o que tinha acontecido, Asuna começou a gargalhar, incapaz de conter o riso. Klein abriu um sorriso encabulado, mas logo voltou ao normal e me perguntou em tom de ameaça:

— O-o-o que significa isso, Kirito?!

Sem saber o que responder, Asuna falou em meu lugar, em um tom de voz bem claro:

— Olá! Eu serei a dupla do Kirito por um tempo. Muito prazer, Klein.

Eu fiquei em choque com o que tinha acabado de ouvir e pensei: “Hein? Não era só por hoje?!”. Klein e seu grupo tinham expressões que alternavam entre raiva e depressão.

Por fim, Klein me encarou com olhos ardendo de raiva e resmungou, com os dentes cerrados:

— Kirito, seu pilantra…

Deixei ele falar, pensando que seria complicado de me livrar da situação, quando…

O som de passos reverberou vindo da mesma direção de onde os Furinkazan tinham vindo alguns momentos atrás. Asuna se retesou diante do som peculiarmente uniforme, e então agarrou meu braço e sussurrou:

— Kirito, é O Exército.

Eu imediatamente olhei em direção à porta e, como era de se esperar, o que vi foi o batalhão armado que havíamos encontrado na floresta. Klein ergueu o braço e fez com que seus cinco companheiros de equipe recuassem até a parede. O grupo que marchou para dentro do salão, ainda na mesma formação de fila dupla, já não estava mais tão ordenado quanto da última vez que os vimos. Seus passos eram mais pesados e as expressões que tinham sob os capacetes pareciam bem cansadas.

Eles pararam diante de uma parede oposta à nossa. O homem que vinha à frente deu a ordem de descanso, o que fez com que as outras onze pessoas desabassem no chão. Ele então veio em nossa direção, sem nem olhar para os outros.

Agora que eu podia ver mais de perto, seu equipamento era ligeiramente diferente do resto. Sua armadura era de altíssima qualidade e tinha um brasão no formato de Aincrad entalhado no peito — algo que nenhum dos outros tinha.

Ele parou diante de nós e tirou o capacete. Era bem alto e parecia ter uns trinta e poucos anos, rosto anguloso, cabelo bem curto, olhos afiados sob sobrancelhas espessas e uma boca que se fechava em uma fina linha. Ele passou os olhos por nosso grupo e então começou a falar comigo, que estava à frente.

— Eu sou o Tenente-coronel Kobatz, do Exército de Libertação de Aincrad.

Quê? “Exército” era como as pessoas começaram a chamá-los por zoeira. Quando foi que aquele tinha virado seu nome oficial? E ele se chamou de “Tenente-coronel” ainda por cima? Levemente desconcertado, respondi com um curto:

— Kirito. Solo.

Ele assentiu e perguntou em tom petulante:

— Já investigaram a área adiante?

— Sim… Mapeamos tudo daqui até a sala do chefe.

— Hm. Gostaria que nos fornecesse esses dados.

Fiquei surpreso com sua atitude, mas Klein, que estava logo atrás de mim, ficou bravo.

— Hã? Fornecer? De graça? Sabe como é difícil mapear esses lugares?!

Ele gritou em uma voz furiosa. Mapas de áreas inexploradas eram informações importantes. Eles também podiam ser vendidos a preços altos para caçadores de tesouro que estavam em busca de baús.

Assim que ouviu a voz de Klein, o homem ergueu a sobrancelha e anunciou em voz alta:

— Nós lutamos pela liberdade de vocês, jogadores comuns!

Ele jogou o queixo para frente e continuou:

— Considere a sua colaboração um dever!

…E era aquilo que se chamava de arrogância. Fazia mais ou menos um ano que o Exército não participava ativamente dos esforços da vanguarda.

— Espera um pouco aí…

— Seu, seu filho da…

Asuna e Klein, um de cada lado, deram um passo à frente, suas vozes cheias de raiva. Eu abri os braços e os impedi de avançar.

— Eu não ligo. Já ia compartilhar o mapa quando voltasse à cidade mesmo.

— Caramba. É bondade demais, Kirito!

— Não tenho planos de ganhar dinheiro com esses dados.

Enquanto falava, abri a janela do menu de trocas e enviei as informações para o homem que se chamava Tenente-coronel Kobatz.

Ele aceitou a transação, sem mudar de expressão, e disse:

— Agradeço por sua cooperação — sem nenhum tom de gratidão em sua voz, ele respondeu e virou as costas para nós.

— Se pretendem enfrentar o chefe, sugiro que desistam.

Kobatz olhou para trás.

— Cabe a mim tomar essa decisão.

— Nós demos uma olhada na sala do chefe agora há pouco, mas não é um chefe que dá pra vencer com um grupo tão esgotado. Seus companheiros estão exaustos.

— Meus subordinados não são fracos para aceitar a derrota sem ao menos lutar!

Kobatz colocou ênfase em “meus subordinados” enquanto respondia com irritação. Mas os homens que estavam sentados no chão pareciam não concordar com ele.

— Levantem-se, soldados!

Ao comando de Kobatz, o grupo pôs-se de pé devagar e colocou-se novamente em fila dupla. Kobatz sequer olhou para nós enquanto retornava para a ponta da coluna e fez um gesto com o braço. Os doze homens então ergueram suas armas e voltaram a marchar, o som de suas pesadas armaduras ressoando ao fundo.

Mesmo que à primeira vista suas barras de HP estivessem em cem por cento, as árduas batalhas de SAO deixavam uma fadiga invisível. Nossos corpos no mundo real podiam não mover um músculo, mas a sensação de cansaço não desaparecia até que dormíssemos ou descansássemos dentro do jogo. Pelo que tinha visto, aqueles jogadores do Exército estavam exaustos, já que não estavam acostumados a lutar nas linhas de frente.

— …Será que eles aguentam..?

Klein tinha dito aquilo com preocupação, enquanto os membros do Exército desapareciam dentro do corredor que levava aos patamares superiores e o ruído ritmado de seus passos se distanciava até sumir. Ele realmente era uma boa pessoa.

— Não acho que sejam tolos o suficiente para encarar o chefe logo de cara, mas…

Asuna também estava preocupada. Com certeza havia algo na voz de Kobatz que indicava imprudência.

— …Será que é melhor dar uma olhada…?

Assim que eu dissera aquilo, não só Asuna e Klein, mas também os outros cinco membros de seu grupo, concordaram comigo. “Quem aqui é bondoso demais, mesmo?”, pensei, com um sorriso irônico, mas já havia feito minha decisão. Eu não conseguiria dormir à noite se deixássemos o labirinto e depois eu ficasse sabendo que eles não retornaram.

Rapidamente chequei meu equipamento e estava prestes a começar a andar, quando ouvi…

Eu podia escutar Klein cochichando algo no ouvido de Asuna pelas minhas costas. Estava imaginando se ele não havia recebido porrada suficiente antes, mas o conteúdo da sua conversa me surpreendeu.

— Ah, é… Asuna… Como posso dizer..? Cuida bem dele, hã, do Kirito. Mesmo ele não sendo muito bom em se expressar, não ser muito engraçado e ser um idiota que só pensa em lutas.

Voltei correndo e puxei sua bandana com toda força que tinha.

— O que que você tá falando?!

— M-Mas…

O espadachim inclinou a cabeça e coçou a barba.

— É que você finalmente aceitou jogar com alguém. Sei que só tá enfeitiçado por essa beldade, mas é um grande avanço…

— Enfeitiçado uma ova! — retruquei, mas Klein, seus cinco companheiros e até mesmo Asuna, todos olharam para mim com sorrisos nos lábios. Não pude fazer nada além de dar as costas em silêncio e continuar andando.

Não bastasse aquilo, ouvi Asuna dizer para Klein:

— Pode deixar comigo.

Saí correndo em direção ao corredor que levava para o próximo patamar, fazendo barulho com o solado das botas.

 


Tradução: Axios

Revisão: Alice

 

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