Já havia se passado mais de um ano desde que a Knights of the Blood havia assumido a posição de melhor guilda.
Desde então, “O Homem Lendário”, líder da guilda, e claro, sua vice-comandante, Asuna, o “Relâmpago”, ficaram conhecidos no mundo todo como os dois jogadores mais fortes de Aincrad. Pela primeira vez, eu tinha a chance de ver de perto Asuna, que havia completado todo os níveis de habilidade de usuária de espada, lutar contra um monstro.
No momento, nos encontrávamos bem no meio de um longo corredor ladeado por colunas cilíndricas em ambos os lados, que levava para a sala localizada no topo da torre do labirinto do 74° andar.
Estávamos bem no meio de uma luta e o inimigo era um esqueleto espadachim chamado “Demonish Servant“. Seu corpo de cerca de dois metros de altura era envolto por uma estranha luz azul e ele segurava uma grande espada reta na mão direita e um escudo redondo de metal na esquerda. Ele não tinha nenhum músculo, mas seu atributo de força era assustador, o que o tornava um monstro difícil de enfrentar. Mas Asuna não deu nenhuma brecha para ele.
— Hrrrrgrr!
Com esse estranho rugido, o esqueleto brandiu sua espada, deixando um rastro de luzes azuis no caminho. Era uma técnica de quatro ataques: “Vertical Square“. Enquanto eu assistia tudo com certa apreensão, a alguns passos de distância, Asuna desviava de todos os golpes à direita e à esquerda com elegância.
Mesmo em uma situação como essa, de dois contra um, nós não podíamos lutar ao mesmo tempo quando confrontados por um inimigo completamente armado. Não era algo proibido pelo sistema, mas quando duas pessoas estavam lutando com espadas, agitando-as de um lado para o outro em uma velocidade acima do que era perceptível aos olhos, isso acabava atrapalhando em vez de ajudar. Então em casos de batalhas em grupo, uma técnica que exigia altos níveis de trabalho em grupo chamada de “Switch” era usada.
Depois de ter o último de seus quatro golpes em sequência evitados, a postura do Demonish Savant parecia um pouco instável. Asuna não desperdiçou a chance e partiu direto para o contra-ataque.
Ela desferia golpes com sua espada prateada, um atrás do outro, todos acertando o alvo em cheio e fazendo o HP do esqueleto diminuir. Cada um dos golpes não tinha gerado tanto dano assim, mas a quantidade deles era assustadora.
Depois de ser golpeado com três cortes rápidos, a defesa do esqueleto subiu um pouco e Asuna mudou de estilo para dar dois golpes largos em suas pernas. Então, com a ponta de sua espada emitindo uma luz branca, deu dois fortes golpes, um em cima e outro embaixo.
Era um combo de oito golpes. Mais especificamente, uma skill de espada de alto nível conhecida como “Star Splash“. Acertar aquele esqueleto com precisão usando aquela lâmina fina, normalmente ineficaz contra esse tipo de inimigo, era uma demonstração incrível de suas habilidades.
A capacidade de reduzir o HP do esqueleto em um terço foi espantosa, mas eu estava fascinado era com a beleza da jogadora que havia executado aquele feito. Deve ser isso que chamam de dança de espadas.
Asuna gritou em minha direção, parado ali, feito um bobo, como se tivesse olhos nas costas.
— Kirito, hora do switch!
— S-Sim!
Eu me apressei para erguer novamente a espada. Ao mesmo tempo, Asuna desferia um intenso golpe de perfuração.
O esqueleto bloqueou o ataque com o escudo em sua mão esquerda e faíscas brilhantes saíram voando. Mas isso já era de se esperar. O inimigo ficou paralisado por alguns instantes depois de se defender do forte ataque, impossibilitado de contra-atacar imediatamente.
E claro que Asuna também ficou paralisada, depois de ter seu ataque defendido, mas o que importava agora era essa “brecha”.
Eu prontamente investi com uma técnica de avanço. Criar um ponto de parada de propósito no meio de uma luta e trocar de lugar com outro membro de seu time era a tática conhecida como “switch“.
Depois de me certificar ao ver pelo canto dos olhos que Asuna estava fora do alcance da luta, eu parti para o ataque contra o oponente. A menos que você fosse um mestre como ela, monstros cheios de aberturas como esse Demonish Servant deveriam ser enfrentados com golpes de impacto, não com golpes de perfuração. E por isso, armas de impacto como clavas seriam as mais eficientes.
Mas eu, e provavelmente Asuna também, não tinha nenhuma skill de impacto.
A “Vertical Square” que tinha usado para atacá-lo em todas as quatro investidas reduziram bastante seu HP. O esqueleto reagiu devagar. Isso era porque a IA dos monstros costumava atrasar alguns instantes antes de responder com eficiência quando o padrão de ataques sofria uma mudança brusca.
Tive que me esforçar muito e levou um tempo para conseguir que isso acontecesse em minha luta solo contra o Lizardman ontem, mas quando se tem um companheiro de equipe, um único switch é tudo o que basta. Essa era a maior vantagem de se lutar em grupo.
Eu me defendi do contra-ataque e dei início a uma grande skill para dar fim à batalha. Dei um corte diagonal, indo para a direita, então virei os pulsos e tracei a mesma trajetória, só que na direção contrária, como se estivesse usando um taco de golfe em vez de uma espada. Toda vez que minha arma atingia o corpo dele, completamente feito de ossos, eu podia ouvir o som do impacto, acompanhado de um feixe de luzes laranja.
O esqueleto ergueu o escudo para se defender de um ataque que imaginava que viria de cima, mas fui contra suas expectativas e golpeei-o com meu ombro esquerdo. Então, dei um golpe vertical no esqueleto cambaleante e, sem pausar, o golpeei novamente, com o ombro direito dessa vez. Essa era uma técnica que preenchia os espaços entre ataques fortes: “Meteor Break“. Não querendo me gabar, mas era uma técnica que requeria skills de combate sem armas e skills de espada de mão única.
Com os ataques sofridos até então, o HP do meu oponente havia sofrido um grande baque e agora estava no vermelho. Eu concentrei toda a força presente no meu corpo para meu último golpe horizontal do combo de sete golpes consecutivos. A espada foi direto para o pescoço do esqueleto, traçando um arco brilhante. O osso se quebrou com um estalo e, enquanto o crânio voava no ar, o corpo caiu como uma marionete que teve seus fios cortados.
— Muito bem!
Asuna me deu um tapa nas costas, onde eu havia acabado de guardar minha espada.
Deixamos para depois a divisão de itens obtidos e nos concentramos em seguir em frente.
Até aquele momento, havíamos enfrentado um total de quatro monstros, mas nenhum deles causou danos a nós. O estilo de luta de Asuna consistia em utilizar skills básicas e intermediárias de golpes consecutivos, enquanto o meu era usar várias skills avançadas em sequência, o que causava uma certa extenuação da IA do monstro – claro que em termos de algoritmos, não a capacidade real de processamento da CPU – e permitia que nossas skills combinassem bem. Também acho que nossos níveis estavam bem próximos.
Nós caminhamos com cuidado pelo grandioso corredor ladeado por grandes colunas cilíndricas. Não havia como cairmos em uma emboscada, graças à minha skill de escaneamento, mas o eco de nossos passos continuava a me incomodar. Não havia nenhuma fonte de luz no labirinto, mas nossas imediações emitiam um brilho fraco e misterioso, então conseguíamos enxergar relativamente bem.
Eu examinei com atenção o corredor, que refletia uma suave luz azul.
O andar inferior era um labirinto feito de pedra calcária de tom marrom-alaranjado, mas à medida que escalávamos a torre, a construção à nossa volta mudou para um material azul e úmido. As colunas eram entalhadas com imagens belas que emitiam uma aura agourenta e, a nossos pés, corria um canal d’água bem raso que cobria o chão. Podia-se dizer que a atmosfera havia se tornado mais “pesada”. Não havia muito mais espaços em branco no mapa agora. Se o meu palpite estivesse certo, então essa área provavelmente era…
No final do corredor, um par de portas azul-acinzentadas esperava por nós. Os entalhes nela eram similares aos que existiam nas colunas. Mesmo que tudo isso fosse apenas um mundo composto de dados e algoritmos, uma aura inexplicável escapava por aquelas portas.
— …Será que essa é…?
— Provavelmente… É a sala do chefe.
Asuna agarrou a manga do meu casaco com força.
— O que vamos fazer…? Dar uma olhada só por olhar?
Ao contrário de suas palavras audaciosas, seu tom de voz parecia inquieto. Não importava que ela era uma espadachim de alto nível, ela ainda parecia ter medo dessas coisas. Bom, era de se esperar. Eu também estava com medo.
— …Os chefes nunca saem da sala que estão protegendo… Acho que não vai ter problema se for só abrir a porta. Mas prepare um item de teleporte só por precaução.
— Ok…
Asuna assentiu e tirou um cristal azul do bolso. Fiz o mesmo.
— Pronta? Vou abrir…
Com meu braço direito firmemente seguro nas mãos de Asuna, toquei o portão com o braço esquerdo, que segurava o cristal azul. Se este fosse o mundo real, minhas mãos estariam encharcadas de suor.
Conforme fui colocando mais força contra uma porta, que parecia ter o dobro da minha altura, ela se abriu com uma facilidade surpreendente. Uma vez que começaram a se mover, as portas se abriram com tamanha rapidez que acabei me assustando um pouco. Enquanto Asuna e eu estávamos parados ali, prendendo nossa respiração, as portas enormes terminaram de se abrir com um estrondo, revelando o que havia por trás delas.
…Ou foi o que pensamos, mas o interior era uma escuridão completa. A luz que iluminava o corredor em que estávamos não chegava até o fim do salão. A escuridão espessa e gélida não nos revelava nada, não importava o quanto forçássemos a vista.
— …
Assim que abri a boca, um par de chamas branco-azuladas ganharam vida no fundo da sala, então mais um par e depois mais outro.
Bwo, bwo, bwo, bwo, bwo… Acompanhado desse som contínuo, uma trilha de chamas foi se acendendo em um piscar de olhos desde a porta até o centro do salão. Por fim, um grande pilar de fogo ascendeu do chão e preencheu o cômodo retangular com uma luz azulada. Parecia que todo o espaço em branco do mapa se encontrava neste local.
Asuna se agarrou no meu braço como se quisesse manter o nervosismo longe, mas eu não tinha capacidade mental suficiente no momento para aproveitar a sensação. Logo atrás do pilar de fogo, uma imensa silhueta começou a tomar forma.
Seu corpo colossal era coberto de músculos salientes. Sua pele era azul escura, e a cabeça que ficava sobre o pescoço aninhado entre grossos peitorais não era humana, mas sim a de uma cabra.
Dois grandes chifres saíam de ambos os lados de sua cabeça e curvavam-se para trás. Seus olhos, também de um tom de azul vibrante, estavam fixos em nós. A parte inferior do corpo era coberta por uma pelagem azul-marinho e não dava para ver direito por causa do fogo, mas também parecia pertencer a um animal. Em outras palavras, era um demônio, literalmente.
Havia uma boa distância entre o centro do salão e a entrada, onde nos encontrávamos. Apesar disso, ficamos paralisados, incapazes de mover sequer um músculo. De todos os monstros que havíamos enfrentado até então, esse era o primeiro que tinha a forma de um demônio. Era algo com que estava acostumado, graças aos inúmeros RPGs que havia jogado. Mas agora que estava vendo um exemplar bem diante de meus olhos, eu não podia evitar o medo que aflorava de dentro de mim.
Foquei meu olhar, ainda hesitante, nas palavras que apareceram: “The Gleam Eyes“. Sem dúvida alguma, esse era o chefe daquele andar. O “The” antes de seu nome era a prova. Gleam eyes — os olhos que brilham.
Quando terminei de ler, o demônio azul de repente começou a agitar seu nariz e a gritar. As chamas azuis tremeram violentamente e as vibrações abalaram o cômodo inteiro. Bafos flamejantes saíam de suas narinas e boca, enquanto ele erguia a espada. E então o diabo azulado começou a avançar em nossa direção em uma velocidade inacreditável — fazendo o chão inteiro tremer — sem nem dar tempo para pensarmos.
— Aaaaaaaaah!
— Kyaaaaaaaah!
Nós começamos a gritar e corremos o mais rápido que podíamos. Sabíamos que, em teoria, o chefe não poderia sair da própria sala, mas não podíamos simplesmente ficar ali. Tirando proveito dos atributos que havíamos treinado tanto para aumentar, Asuna e eu disparamos corredor abaixo como uma rajada de vento.
Tradução: Axios
Revisão: Alice
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