O caminho dentro da floresta estava envolto por um ar tépido, quase como se a atmosfera sombria que eu havia presenciado na noite anterior fosse uma mera ilusão. O sol da manhã brilhava entre os galhos das árvores, criando pilares de luz dourada por onde borboletas passavam voando. Infelizmente, elas eram apenas efeitos visuais, então não era possível capturá-las, mesmo se corresse atrás delas.
Enquanto andava pelo gramado macio, fazendo um ruído agradável de se ouvir, Asuna disse, em tom de brincadeira:
— Você está sempre com as mesmas roupas.
Ah. Sem ter o que comentar, apenas olhei para baixo, para meu corpo. Eu vestia um velho casaco de couro preto e, por baixo dele, calça e camisa da mesma cor. Nenhuma armadura de metal.
— E-E qual o problema? Se você tem dinheiro sobrando pra comprar roupas, vale mais a pena comprar comida…
— Tem algum motivo prático pra você se vestir inteiro de preto? Ou é pura caracterização?
— M-Mas e você? Tá sempre vestida com essa coisa branca e vermelha…
Eu olhei em volta, mais por força do hábito do que qualquer outra coisa, sem prestar muita atenção. Não havia nenhum monstro na área, mas…
— Eu não tenho escolha, é o uniforme da guilda… Hm? Que foi?
— Não…
Levantei a mão direita de leve e interrompi Asuna. Havia um jogador no canto da minha área de escaneamento. Quando foquei na área atrás de mim, vários cursores verdes começaram a aparecer, indicando que havia vários jogadores ali.
Era impossível que fossem um grupo de bandidos. Bandidos normalmente procuravam jogadores mais fracos que eles, portanto eram raramente vistos perto das linhas de frente, onde os jogadores mais fortes ficavam. Além disso, toda vez que um jogador cometia um crime, seu cursor ficava laranja e demorava um bom tempo até voltar a ficar verde. O que me preocupava era o número de pessoas.
Abri o mapa através do menu principal e mudei para o modo de visualização para que Asuna também pudesse vê-lo. O mapa, que mostrava toda a área de floresta à nossa volta, mostrava alguns pontos verdes espalhados, graças à minha skill. Havia doze deles.
— É muita gente…
Concordei com suas palavras. Normalmente, quando havia muitos membros em uma mesma party, ficava mais complicado para lutar, então cinco ou seis era o número mais comum de pessoas.
— Olha a formação deles.
O grupo de luzes estava se aproximando rapidamente de nós, marchando em uma fila dupla bem organizada. Não seria incomum ver algo do tipo em uma dungeon mais perigosa, mas era bem raro de acontecer em campo aberto.
Se pelo menos pudéssemos ver o nível dos jogadores, talvez fôssemos capazes de adivinhar o que estavam fazendo, mas nós sequer podíamos ver o nome de usuários que encontrávamos pela primeira vez. Essa era uma especificação padrão do sistema, para evitar que houvesse PK – player killing, assassinato de jogador – no jogo, mas no fim das contas, não restava outra opção a não ser adivinhar o nível de alguém pelo equipamento que possuía.
Eu fechei o mapa e olhei de relance para Asuna.
— Acho que é melhor dar uma olhada. Vamos nos esconder atrás das árvores e esperar até que passem.
— Tá.
Asuna assentiu com uma expressão tensa. Nós abandonamos a trilha, subimos uma pequena elevação, encontramos alguns arbustos da nossa altura e nos agachamos atrás deles. Era um lugar ideal, de onde dava para observar bem o caminho.
— Ah…
Asuna olhou para as próprias roupas. O uniforme branco e vermelho chamava bastante atenção em meio à vegetação.
— O que eu faço? Não tenho outra roupa…
Os pontos brilhantes no mapa já estavam bem próximos. Logo, logo, seria possível vê-los a olho nu.
— Dá licença.
Eu abri o casaco e cobri Asuna com ele. Ela me encarou por um segundo, mas logo se certificou de que seu corpo inteiro estivesse coberto. Meu casaco esfarrapado não tinha lá a melhor das aparências, mas dava bônus de ocultação. Tomadas todas aquelas providências, seria bem difícil de sermos notados, a menos que usassem uma skill bem alta de escaneamento.
— Viu? Até que a minha única peça de roupa é útil.
— Já entendi! Shh… Eles estão vindo!
Asuna sussurrou e levou o indicador aos lábios. Eu me abaixei e o som de passos chegou até meus ouvidos.
Finalmente pude vê-los vindo pela curva da trilha.
Todos eram da classe de guerreiros. Vestiam a mesma armadura cinza-escuro com um uniforme de combate verde. Seus equipamentos possuíam um design mais prático, com exceção dos seis membros que seguiam à frente do grupo, e possuíam grandes castelos desenhados em seus escudos.
Os seis primeiros portavam espadas de mão única e os seis que vinham atrás portavam alabardas. Todos tinham seus visores abaixados, então não era possível ver seus rostos. Enquanto víamos o grupo marchar em fila organizada, comecei a pensar que eram NPCs.
Mas agora eu tinha certeza. Eles eram membros do grande grupo que tomara a cidade do primeiro andar: O Exército. Olhei de relance para Asuna e ela também havia chegado à mesma conclusão que eu e, no mesmo instante, senti seu corpo tensionar enquanto ela prendia a respiração.
Eles definitivamente não eram ameaças para jogadores comuns. Muito pelo contrário, podia-se dizer que eram o grupo que mais se esforçava para evitar crimes contra outros jogadores. Mas seus métodos eram conhecidos por serem agressivos, e havia boatos de que eles atacavam os jogadores laranja – assim chamados por causa da cor de seus cursores – assim que os avistavam, sem fazer nenhuma pergunta. Em seguida, confiscavam todo seu equipamento e os encarceravam nos calabouços do Palácio do Ferro Negro. Os boatos sobre o tratamento que davam para as pessoas que não haviam se rendido, ou para aqueles que tentaram escapar, eram bem medonhos.
Eles também eram conhecidos por viajar em grandes grupos e tomar controle de áreas de caça inteiras, então era de conhecimento comum entre os demais jogadores que eles nunca deveriam chegar perto do Exército. Eles normalmente operavam do 50° andar para baixo, trabalhando para fortalecer o grupo e manter a ordem, então era difícil vê-los na linha de frente…
Enquanto observávamos, em silêncio, o grupo de guerreiros pesadamente armados desapareceu entre as árvores da floresta, fazendo ressoar o clangor de suas pesadas armaduras e botas.
Os jogadores que estão atualmente presos no mundo de SAO são pessoas que compraram o game no dia do lançamento, é óbvio que são todos maníacos por jogos. Também pode-se dizer que maníacos por jogos são uma raça que não tem muita conexão com a palavra “regra”. Mesmo depois de dois anos, é incrível como conseguem se mover tão ordenadamente. Eles provavelmente são a unidade mais forte dentro do Exército.
Depois de me certificar que eles haviam saído do raio de visão do mapa, eu e Asuna, ainda agachados, soltamos um suspiro aliviado.
— …O boato era verdadeiro…
Ainda enrolada no meu casaco, Asuna sussurrou aquelas palavras.
— Boato?
— É. Eu ouvi numa reunião da guilda que o Exército tem mudado o modo de operação e aparecido nos andares superiores. Eles originalmente eram um grupo que queria zerar o jogo, certo? Mas depois do dano que foi causado quando tentaram lutar contra o chefe do 25° andar, eles começaram a se concentrar em fortalecer o grupo e pararam de lutar nas linhas de frente, e por isso, parece que tem havido certo descontentamento dentro da guilda. Então, em vez de mandar grandes grupos para os labirintos como antes e causar confusão, eles têm mandado grupos menores, de elite, para mostrar que ainda estão se empenhando para zerar o jogo. O relatório previu que o primeiro grupo apareceria logo.
— Então eles estão promovendo as próprias habilidades. Mas será que tudo bem entrar assim de cara numa área inexplorada…? Eles pareciam ter níveis bem altos, mas…
— Talvez… Estejam querendo derrotar o chefe…
Dentro de cada labirinto havia um chefe que protegia as escadas para o próximo andar. Eles não regeneravam e eram bastante fortes, mas a reputação e a popularidade que se ganhava por derrotar um deles era enorme. Com certeza serviria para ser uma ótima propaganda.
— Então é pra isso que é esse grupo… Mas isso é um absurdo. Ninguém nem viu o chefe deste andar ainda. Normalmente, as pessoas ficam mandando pequenos grupos de reconhecimento para analisar o poder e padrões de luta do chefe e depois enviam um grupo maior para o ataque.
— Bom, guildas costumam colaborar umas com as outras pelo menos para derrotar o chefe. Talvez estejam fazendo o mesmo…?
— Não sei… Acho que não são idiotas o suficiente pra enfrentar o chefe assim de peito aberto. Vamos nos apressar. Tomara que não cruzemos com eles lá dentro.
Eu fiquei de pé, um pouco desapontado de ter que me soltar da Asuna. Ela tremeu um pouco, parecendo sentir frio.
— Logo vai chegar o inverno. Preciso de um casaco. Onde comprou o seu?
— Hm… Acho que foi numa loja de jogador, no distrito oeste de Algade.
— Me leve lá qualquer hora.
Dito isso, com um movimento leve, Asuna pulou para a trilha que estava a três metros abaixo de nós. Fiz o mesmo logo em seguida. Graças aos parâmetros do sistema, pular uma altura dessas não era nada.
O sol estava quase em seu ponto mais alto. Eu e Asuna seguimos nosso caminho o mais rápido que pudemos, enquanto prestavamos atenção ao nosso redor.
Por sorte, conseguimos sair da floresta sem que encontrássemos nenhum monstro no caminho e um campo cheio de flores azuis surgiu bem na nossa frente. A trilha continuava em linha reta, passando pelo campo de flores, seguindo em direção oeste e terminando onde o labirinto do 74° andar erguia-se, imponente.
No ponto mais alto desse labirinto haveria uma enorme sala, onde o monstro chefe estaria guardando a escada que dava para o próximo andar — no caso, o 75° andar. Se o monstro fosse derrotado e alguém fosse para o andar seguinte e ativasse o Portão de Teletransporte, então esse andar terá sido conquistado.
A “Inauguração de Cidade” seria celebrada por uma multidão vinda dos andares mais baixos para conhecer a nova cidade, e o lugar inteiro se encheria de vida, como se fosse um grande festival.
Neste momento, haviam passado nove dias desde que as pessoas começaram a explorar ativamente o 74°. Já estava na hora de alguém achar o chefe.
Do outro lado do campo havia uma torre cilíndrica feita de pedra calcária de tom marrom-alaranjado. Era um lugar que tanto eu quanto Asuna havia visitado diversas vezes, mas à medida em que nos aproximávamos dele, não havia como não nos sentirmos intimidados por seu tamanho. Mas esse era só um centésimo do tamanho total de Aincrad. Eu sei que era um desejo completamente impossível de ser realizado, mas um dia eu gostaria de ver esse castelo flutuante de grandeza colossal pelo lado de fora.
Não víamos ninguém do pessoal do Exército. Era bem provável que já estivessem lá dentro. Caminhamos em direção à entrada, aumentando o passo inconscientemente.
Tradução: Axios
Revisão: Alice
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