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Sword Art Online – Aincrad – Vol. 01 – Cap. 05

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Depois da minha batalha contra o formidável Lizardman Lord, que rondava o labirinto do 74º andar, andei por uns dez minutos, refazendo o meu caminho em direção à saída e revisitando minhas memórias ao mesmo tempo. Quando vi a luz da saída, soltei um suspiro aliviado.

Esvaziei a minha mente e, a passos rápidos, saí do corredor e inspirei profundamente o ar puro do lado de fora.

À minha frente, um caminho estreito levava a uma floresta escura e densa. Às minhas costas, a área do labirinto de onde tinha acabado de sair, tingido pelas cores do pôr do sol, se estendia infinitamente — ou pelo menos, até o piso do próximo andar.

Como o conceito básico do jogo é chegar ao topo do castelo, aqui as dungeons não são labirintos subterrâneos, mas tomam a forma de torres gigantescas. Mas a configuração básica de ter monstros mais fortes que os que ficam nos campos, rondando pelos corredores, enquanto um boss fica esperando nas profundezas, isso não tinha mudado.

No momento, cerca de oitenta por cento do labirinto do 74º andar foi completado, ou seja, mapeado. Provavelmente em alguns dias o salão onde fica o chefe vai ser descoberto e então um grande grupo será formado para derrotá-lo. Nessa hora, até um jogador solo como eu vai se juntar ao time.

Comecei a caminhar pela estrada, sorrindo e me sentindo empolgado e frustrado ao mesmo tempo.

A minha cidade atual, Algade, fica no 50º andar e é a maior de Aincrad. Em termos de tamanho, a Cidade do Início é maior, mas ela praticamente virou a base de operações do Exército e agora é difícil andar por lá.

Saindo das pradarias, onde a luz do entardecer já não era mais tão forte, havia uma floresta cheia de árvores antigas. Se eu andasse uns trinta minutos por entre essas árvores, chegaria à Área Habitacional do 74º andar e de lá usaria o Portão de Teletransporte para chegar a Algade em um instante.

Eu poderia usar um dos itens de teletransporte instantâneo para voltar a Algade a qualquer momento, mas como é um item meio caro, fico meio relutante em usar em situações que não sejam de emergência. Ainda tinha algum tempo até o sol se pôr, então resisti à vontade de voltar para casa o mais rápido possível e entrei na floresta.

A borda de cada andar de Aincrad, como regra, dá para o céu aberto, com exceção de alguns pilares de sustentação. As árvores queimavam com o brilho vermelho do sol que vinha pela fresta. A névoa que fluía entre os raios de luz emitia um forte brilho. Até o canto dos pássaros, que era barulhento durante o dia, mal podia ser ouvido agora, enquanto que o som dos galhos balançando ao vento parecia ter sido amplificado.

Eu sabia muito bem que conseguiria derrotar os monstros que apareciam nessa área de olhos vendados, mas era difícil evitar o sentimento de insegurança que vinha junto com o anoitecer. Um sentimento similar ao de se perder quando criança no caminho de volta para casa encheu o meu peito.

Mas não necessariamente odeio essa sensação. Em algum momento, enquanto morava no mundo de lá, acabei esquecendo desse medo primitivo. Essa solidão que se sente quando se viaja por lugares desertos, onde não se vê ninguém, não importa para onde se olhe — pode-se dizer que essa é a verdadeira essência do RPG.

Enquanto estava absorto em profundos sentimentos de nostalgia, um choro de animal que eu nunca tinha escutado antes adentrou meus ouvidos.

Foi apenas por um momento, mas soou alto e claro como um apito. Eu parei de andar e tentei achar de onde tinha vindo aquele som. Neste mundo, se você visse ou ouvisse algo que nunca havia visto ou ouvido antes, significava que ou você era muito sortudo, ou muito azarado.

Como jogador solo, treinei a minha skillProcurar por inimigo”. Essa skill prevenia emboscadas e, se você ficasse melhor nela, permitia que detectasse os monstros e jogadores que estavam escondidos. Logo, consegui detectar a figura de um monstro escondido entre os galhos de uma árvore que estava a dez metros de distância.

Não era muito grande. Tinha a pelagem verde para se camuflar no meio da folhagem e suas orelhas eram maiores que seu corpo. Assim que me concentrei nele, ele se tornou meu alvo e apareceu um cursor amarelo junto com seu nome.

Assim que li as palavras, prendi a respiração. Ragout Rabbit, um monstro raro o suficiente para ganhar a alcunha de “super”.

Era a primeira vez que o via ao vivo, esse coelho peludo e fofinho que vivia no meio dos galhos não era particularmente forte, nem dava muitos pontos de experiência, mas…

Do meu cinto, tirei um pequeno machado. Minha skill de “Arremesso de faca” só estava equipada no espaço que sobrava, e o nível não era tão alto assim. Mas tinha ouvido dizer que Ragout Rabbit, entre os monstros conhecidos, era o mais veloz de todos, e eu não tinha confiança o suficiente para lutar com meu machado.

Eu tinha uma única chance de atacá-lo antes que ele notasse a minha presença. Ergui o machado e, rezando, ativei o movimento da skill “Single Shoot”.

Mesmo com a skill em um nível baixo, consegui compensar com meu alto nível de destreza e arremessei o machado tão rápido que podia apenas se ver um borrão, e ele apenas cintilou quando foi engolido pelas árvores. Assim que iniciei o ataque, o cursor que indicava a direção do Ragout Rabbit mudou para o modo de combate, ficando vermelho, e a barra de HP dele apareceu logo abaixo.

Um grito alto e agudo chegou aos meus ouvidos, vindo da direção de onde eu havia atirado a arma. A barra de HP zerou de uma só vez. O som familiar de polígonos sendo destruídos soou. Sem perceber, fechei o punho esquerdo.

Levantei o braço direito e abri o menu principal. Acessei rapidamente o inventário com movimentos manuais que pareciam lerdos demais e então, bem no topo da lista de itens recém-adquiridos, lá estava: “Carne de Ragout Rabbit”. Um item tão raro que não poderia ser vendido para outro jogador por menos de cem mil col. O suficiente para encomendar uma arma da melhor qualidade sob medida e ainda receber troco.

O motivo para ser um item tão caro era bem simples. Era o ingrediente mais delicioso entre os inúmeros existentes neste mundo.

Comer era praticamente o único prazer que havia em SAO, mas as únicas coisas que normalmente havia para comer eram sopas e pães que tinham o sabor de receitas vindas de cidades do interior da Europa — não que eu saiba com certeza. Mas eram pratos bem simples, raro algumas exceções, desenvolvidas pelos poucos jogadores que escolheram se especializar na skill de culinária e quiseram aumentar o leque de opções. Mas não só esses jogadores eram poucos, como era muito difícil encontrar os ingredientes certos e de boa qualidade, então o fato era que a maioria dos jogadores estava privada no quesito sabor.

É claro que eu estava na mesma situação. Não odiava a sopa e o pão de centeio que comia no restaurante NPC que frequentava, mas às vezes eu era atormentado por uma vontade imensa de comer um pedaço de bife bem suculento. Encarei o nome do item por alguns instantes, soltando um suspiro.

Achava muito difícil ter a chance de encontrar aquele item de novo. Sinceramente, eu queria muito comê-lo, mas à medida que o rank de um ingrediente aumentava, também aumentava o nível de skill necessário para prepará-lo, então eu precisaria encontrar um mestre culinário para cozinhar um prato para mim.

Não é como se eu não conhecesse ninguém que pudesse fazer isso, mas daria trabalho demais procurar por essa pessoa para pedir um favor desses. Mas do que isso, estava na hora de adquirir equipamento novo, então levantei, decidido a trocar o item por dinheiro.

Fechei a janela, na tentativa de me livrar de qualquer pensamento indesejado, e usei minha skill para procurar por possíveis inimigos. Era muito difícil um bandido aparecer nas linhas de frente, mas você nunca é cuidadoso demais quando se tem um item de raridade nível “S” em mãos.

Se eu vendesse aquele objeto, poderia comprar quantos itens de teletransporte quisesse. Então, para diminuir o risco, decidi me teleportar até Algade, e com isso em mente, comecei a procurar dentro da minha algibeira.

O que tirei de dentro dela foi um cristal na forma de um pilar de oito faces que cintilava num profundo tom de azul. A Magia havia sido quase que completamente excluída deste mundo, mas a maioria dos poucos itens mágicos existentes tomavam a forma de jóias. Azul para teletransporte, rosa para recuperar HP, verde para antídotos e por aí vai. Todos eram itens úteis, porém muito caros, então a maioria dos jogadores preferia usar itens mais baratos como poções de recuperação mais lentas depois de uma luta, por exemplo.

Disse a mim mesmo que essa era com certeza uma situação de emergência, então segurei o cristal azul e gritei:

— Teleporte! Algade!

Ouvi o belo som de milhares de sinos tocando, ao mesmo tempo que o cristal em minha mão se despedaçou. Neste mesmo momento, meu corpo foi envolto em um feixe de luz azul e a floresta à minha volta começou a desaparecer, como se estivesse se dissolvendo. Uma luz ainda mais forte brilhou, me deixando ofuscado, e quando ela desapareceu, o teletransporte já havia acabado. O som de folhas ao vento foi substituído pelo martelar de um ferreiro e o ruído de uma cidade inquieta.

Fui parar no Portão de Teletransporte de Algade, bem no centro da cidade.

No centro da praça circular, havia um portal de metal de cerca de cinco metros de altura. No meio dele, o ar tremeluzia como uma miragem e pessoas entravam e saíam de lá.

Quatro ruas se estendiam a partir dos quatro cantos da praça e eram ladeadas por inúmeras lojas pequenas, uma ao lado da outra. Os jogadores que haviam terminado suas aventuras do dia e procuravam relaxar um pouco conversavam nos estandes de comida em frente às tavernas.

Se fosse para tentar descrever a cidade de Algade com uma só palavra seria “confusão”.

Não havia uma avenida larga como na Cidade do Início e sim inúmeras ruazinhas e vielas que cruzavam entre si, com amontoados de lojas duvidosas, onde era impossível saber o que vendiam, e estalagens de onde talvez nunca mais se sairia depois de entrar.

Na verdade, há várias histórias de jogadores que se perderam nas vielas de Algade e ficaram vagando por dias sem conseguir encontrar a saída. Faz quase um ano que decidi morar aqui e ainda não conheço nem metade das ruas. Até os NPCs que vivem aqui são sujeitos estranhos, difícil de adivinhar a qual classe pertencem, o que me faz achar que todo mundo que escolhe viver neste lugar é meio esquisito.

Mas gosto do clima desta cidade. Não é exagero dizer que o único momento de paz que tenho no dia é quando estou bebericando um chá que cheira estranho em uma lojinha que costumo frequentar nos fundos de um beco. Eu não quero pensar que é porque me lembra a loja de eletrônicos que eu ia antigamente.

Antes de voltar para casa, decidi me desfazer logo do item em questão, então fui em direção à loja de um conhecido.

Segui a rua que saía da praça central e fui a oeste, cortando caminho no meio da multidão. Depois de andar alguns minutos, lá estava a loja. A parte de dentro era tão pequena que mal cabiam cinco pessoas sem ficar apertado. Era caótico, mas é o que se espera de uma loja administrada por um jogador: armas, ferramentas e até mesmo comida, todos ficavam misturados e à mostra.

O dono estava neste momento em uma discussão acalorada por uma barganha.

Havia duas maneiras de vender itens. Uma era vender para um NPC, ou seja, para um personagem controlado pelo sistema, o que eliminava o risco de ser enganado, mas o preço era sempre o mesmo. Para evitar inflação, o preço fora fixado abaixo do verdadeiro valor de mercado.

A outra era a troca entre jogadores. Usando esse método, era possível vender seu item por um valor bem alto, mas às vezes dava trabalho encontrar um comprador e não era incomum haver casos em que, depois da compra, o jogador resolver que o preço era alto demais ou que tinha mudado de ideia. Era nessas situações que apareciam os jogadores contrabandistas.

Além do mais, esse não era o único motivo para a existência de jogadores mercadores.

Como outras classes especializadas, eles tinham que preencher metade das skill slots com habilidades não relacionadas a combate. O que não queria dizer que eles tinham que ficar longe dos campos.

Mercadores tinham que lutar contra monstros para obter mercadorias da mesma forma que os artesãos o faziam por materiais e, claro, eles tinham mais dificuldade do que jogadores da classe guerreira. Era impossível para eles experimentar o sentimento revigorante de derrotar um inimigo.

Em outras palavras, a identidade deles, o motivo para terem escolhido essa classe, era a nobre causa de dar assistência aos jogadores que lutavam nas linhas de frente todos os dias. Por isso, eu secretamente nutria um profundo respeito por todos os mercadores e artesãos.

Isso era o que eu realmente sentia, mas o indivíduo que se encontrava à minha frente estava longe da definição da palavra “sacrifício”

— Feito! Vinte Couros de Dusk Lizard por 500 col!

O dono da loja que eu costumava frequentar, Agil, bateu nas costas do lanceiro de aparência fraca com seu grosso braço direito. Em seguida, ele abriu a janela de troca e colocou o dinheiro na sua janela de troca.

O outro jogador parecia ainda estar ponderando um pouco, mas assim que viu o rosto de Agil, que lembrava muito o de um guerreiro experiente — e de fato, ele não só era um mercador, mas também um exímio usuário de machado —, rapidamente abriu a própria janela de troca, moveu os itens para a lista e apertou o botão de OK.

— Valeu, hein?! Até a próxima, irmão!

Agil deu mais um último tapa nas costas do lanceiro e abriu um largo sorriso. O Couro de Dusk Lizard podia ser usado para criar armaduras padrão de alta qualidade. Eu achava que quinhentos col era um valor baixo demais, não importava a situação, mas apenas mantive meu silêncio e observei o lanceiro ir embora. Em minha mente, murmurei: “Que isso lhe sirva de lição para nunca mais dar brecha numa barganha”.

— E aí? Continua sendo um mercador malandro, hein?

Agil, o gigante careca que estava de costas para mim, sorriu ao se virar assim que ouviu meu cumprimento.

— E aí, Kirito?! Meu lema é comprar barato pra vender barato! — ele disse sem demonstrar o menor sinal de remorso.

— Não tenho tanta certeza quanto à última parte, mas que seja, eu também quero te vender uma coisa.

— Kirito, você já é da casa, não vou te passar a perna. Vejamos…

Dito isso, ele esticou seu pescoço de touro para espiar a janela de troca que eu tinha aberto.

A aparência dos jogadores de SAO era uma réplica da sua aparência real, criada por meio de escaneamentos e calibrações, mas toda vez que olhava para Agil, eu me perguntava como alguém podia ter uma cara que combinava tanto com a sua personalidade.

Seus 1,80 metros de altura eram completamente abarrotados de músculos e gordura, e a cabeça no topo disso esculpido em rocha. Além disso, seu penteado, único aspecto customizável do jogo, era uma careca completamente lisa, dando-lhe um aspecto medonho, comparável com monstros bárbaros.

Mas mesmo assim, ele tinha um rosto amigável quando abria um sorriso. Aparentava ter uns vinte e poucos anos, mas eu não conseguia adivinhar o que ele fazia na vida real. Não perguntar sobre “o lado de lá” era uma das regras tácitas do jogo.

Seus olhos, que ficavam logo abaixo de um par de grossas sobrancelhas, se arregalaram de surpresa assim que viram o conteúdo da minha janela de troca.

— Epa, epa, esse aí é um item raro de nível “S”. “Carne de Ragout Rabbit”, é a primeira vez que vejo um… Kirito, você tá sussa de grana, né? Não pensou em comê-lo?

— Pensei. Mas acho que ninguém consegue cozinhar isso… É difícil achar alguém que tenha skill alta o suficiente para lidar com esse ingrediente…

Nesse momento, alguém cutucou o meu ombro.

— Kirito.

Uma voz feminina. Não há muitas mulheres que me chamam pelo meu nome. Ou melhor, naquelas circunstâncias, só existia uma pessoa que faria isso. Eu pude adivinhar mesmo antes de ver seu rosto. Rapidamente agarrei a mão que estava no meu ombro esquerdo e disse, enquanto me virava:

— Capturei minha chef.

— O… O quê…?

Com a mão ainda agarrada pela minha, ela gaguejou com uma expressão de suspeita no rosto.

Cabelo comprido, castanho e liso, dividido cuidadosamente ao meio, emoldurando seu pequeno rosto oval e seus olhos também castanhos, os quais emitiam um brilho quase ofuscante. Logo abaixo de seu pequeno nariz, seus lábios tinham um belo tom rosado, igual ao de uma flor. Seu corpo esguio estava envolto em um uniforme de combate semelhante ao de um cavaleiro, e dentro da bainha de couro branco havia uma elegante espada prateada.

Seu nome era Asuna. Ela era uma celebridade. Em SAO, praticamente todos a conheciam.

Havia vários motivos para tanto, mas o primeiro deles era que ela era uma das poucas jogadoras mulheres, dona de uma beleza que não se podia botar defeito.

Em SAO, onde a aparência física de todos, principalmente o rosto, era uma cópia quase idêntica à do mundo real, não era exagero dizer que jogadoras eram praticamente indivíduos de raridade nível “S”. Jogadoras bonitas como Asuna, então, davam para ser contadas nos dedos das mãos.

O segundo motivo para ter esse status de celebridade era seu uniforme branco e vermelho, pertencente à guilda Knights of the Blood. Essa guilda, comumente chamada de KoB, sigla tirada das iniciais de Knights of the Blood, dentre as muitas organizações do jogo, era amplamente reconhecida como a melhor.

Era apenas uma guilda de tamanho médio, com cerca de trinta membros, mas todos eram guerreiros fortes e de alto nível, e seu líder era o jogador mais poderoso, considerado quase uma lenda dentro de SAO. E apesar de sua aparência delicada, Asuna era a vice-comandante. Obviamente, sua habilidade com espadas era excepcional, o que lhe rendera a alcunha de “Relâmpago”.

Em resumo, sua habilidade com espadas e sua aparência representavam o ápice dentre todos os seis mil jogadores, então seria estranho se ela não fosse conhecida. Ela tinha um número bastante grande de fãs, mas dentre eles havia alguns stalkers que praticamente a veneravam, e também haviam aqueles que a odiavam, o que era um problema.

Embora eu duvidasse que existisse alguém que se atreveria a atacar diretamente uma das melhores espadachins do jogo, ela era sempre seguida por guarda-costas. Talvez a guilda dela quisesse mostrar que estavam dispostos a protegê-la… Naquele momento, havia dois homens logo atrás dela, completamente equipados com armadura de metal e vestindo o manto branco da KoB. O que estava à esquerda era magro e tinha o cabelo comprido, preso em um rabo de cavalo na nuca, e me lançava um olhar mortal enquanto eu ainda segurava a mão de Asuna.

Soltei a mão dela e balancei meus dedos em direção a ele, dizendo:

— Que surpresa, Asuna… Você vir a um depósito de lixo como este.

Tanto o homem de rabo de cavalo que me ouviu chamar Asuna com tanta familiaridade quanto o dono da loja que eu acabara de chamar de depósito de lixo se mostraram irritados, mas o lojista, assim que ouviu Asuna dizer “Há quanto tempo, Agil!”, derreteu-se todo e lançou um sorriso aberto em sua direção.

Asuna se virou de volta em minha direção, com os lábios franzidos em descontentamento.

— O que foi? Logo vamos enfrentar o próximo chefe. Só vim checar se você ainda estava vivo.

— Eu tô na sua lista de amigos, você só precisava dar uma olhada nela. Afinal, foi assim que você conseguiu me achar no mapa e vir até aqui.

Asuna virou o rosto assim que respondi.

Ela não só era a vice-comandante, mas também era responsável por monitorar o avanço do jogo dentro da guilda. Seu trabalho incluía sair à procura de jogadores solo egoístas como eu e formar um grupo para lutar contra o chefe. Mas vir pessoalmente checar como eu estava era demais, deveria haver um limite para essa coisa de levar o trabalho a sério.

Ao ver minha expressão de metade espantado e metade impressionado, Asuna colocou as mãos no quadril e falou, erguendo o queixo.

— Já que vi que está vivo, acho que vou embora. Mas… mas que conversa é essa de chef?

— Ah, é mesmo. Em que nível está sua skill de culinária?

Pelo que eu sabia, Asuna se dedicava a subir seu nível na skill de culinária sempre que encontrava tempo entre os treinos de espada. Ela respondeu à minha pergunta com um sorriso cheio de orgulho.

— Vai cair para trás. Semana passada eu “completei” tudo!

— Quê?!

…Que idiota.

Foi o que pensei por um instante, mas obviamente não disse nada.

Treinar uma skill é uma tarefa extremamente entediante e uma perda de tempo, pois só poderia ser completada depois de subir de nível mil vezes. A propósito, níveis eram atributos como HP, força, destreza e o número de skill slots, que determinava a quantidade de skills que cada um poderia aprender.

No momento, tenho doze skill slots, mas as únicas que estão completas são as minhas skills de “Espada reta de uma mão”, “Procurar por inimigo” e “Defesa”. E essa menina gastou uma quantidade absurda de tempo e energia numa skill que nem tinha utilidade em batalha.

— Certo… Confiando nas suas habilidades, tenho um pedido a fazer.

Sinalizei com a mão para que ela se aproximasse e coloquei minha janela de inventário no modo para que outras pessoas pudessem ver. Asuna lançou um olhar duvidoso, mas assim que ela leu o nome do item em questão, seus olhos se arregalaram.

— Oh! Isso… isso é um ingrediente nível “S”?!

— Vamos fazer uma troca. Se cozinhá-lo para mim, eu te dou um pedacinho.

Antes mesmo que pudesse terminar de falar, o braço direito da “Relâmpago” Asuna me agarrou pela gola da roupa. Ela aproximou seu rosto do meu até ficarmos a apenas alguns centímetros de distância.

— Me-ta-de!!!

 

 

Fiquei tão aturdido com o ataque surpresa que acabei concordando sem perceber. Quando dei por mim novamente, já era tarde demais, ela já estava balançando o braço esquerdo, animada. Eu tentei me convencer de que, bom, pelo menos pude ver seu rosto encantado de perto.

Eu fechei a janela de troca e me virei, dizendo para Agil:

— Desculpa, acho que a nossa troca tá cancelada.

— Tudo bem, fica tranquilo… mas nós somos amigos, né? Né? Que tal me dar um p…

— Descreverei a experiência em um relatório de oitocentas palavras.

— Tá tirando uma com a minha cara?!

Quando tentei dar as costas a Agil, que gritava como se estivesse presenciando o fim do mundo, para ir embora, Asuna me agarrou firmemente pela manga do casaco.

— Você encontrou alguém para cozinhar, mas onde pretende preparar a comida?

— Hm…

Quando se cozinha, além dos ingredientes para o preparo da comida, é necessário ter equipamentos de cozinha, como forno e fogão. Eu até tinha alguns itens simples em casa, mas não poderia convidar a vice-comandante da KoB para ver aquela bagunça.

Asuna olhou para mim com uma expressão de incredulidade no rosto.

— De qualquer forma, aposto que você nem tem utensílios que prestem. Pelo bem da nossa refeição, só desta vez, vamos lá em casa.

Ela disse algo inacreditável com total calma.

Asuna ignorou o fato de eu ter congelado, como se o meu cérebro ainda não tivesse conseguido processar o que tinha sido dito, e virou-se para seus dois guarda-costas:

— Vou me teleportar diretamente para Selmburg. Não precisam mais me escoltar. Mais uma vez, obrigada.

Naquele instante, o guarda-costas de cabelo comprido, que parecia ter atingido seu limite, começou a gritar. Tenho certeza de que, se o sistema de reprodução facial de SAO fosse um pouco mais sofisticado, daria para ver umas duas ou três veias saltadas na sua testa.

— S… Senhorita Asuna! Já é impensável a senhorita vir a um pulgueiro como este… E ainda convida um sujeito de índole questionável para a sua casa!

Ao ouvir essa declaração, fiquei irritado. “Senhorita”. Ele provavelmente era um daqueles caras que idolatravam a Asuna. Olhei para ela com aquilo em mente e vi que ela mesma tinha uma expressão irritada.

— Eu conheço muito bem a índole e as habilidades do Kirito. E ele está uns dez níveis acima de você, Kuradeel.

— Q-Que bobagem! É impossível eu ser mais fraco do que esse sujeito…!

A voz do homem reverberou pelo beco inteiro. Ele me lançava um olhar feio por baixo de suas pálpebras pesadas, até que sua expressão mudou completamente, como se de repente tivesse se dado conta de alguma coisa.

— Ah, entendi… Você é um “beater”!

Beater é um termo próprio de SAO que vem da abreviação de “beta tester” com “cheater”. Era uma palavra usada para identificar quem trapaceava no jogo e um palavrão que eu já havia ouvido milhares de vezes, mas que ainda me trazia dor. O rosto da pessoa que me falara aquilo pela primeira vez, alguém que eu considerava um amigo, passou pela minha cabeça.

— Sim, é isso mesmo.

Quando confirmei o que disse, sem emoção nenhuma no rosto, o homem começou a falar animadamente.

— Senhorita Asuna, esse tipo de sujeito só liga para si mesmo! Não há nenhum mérito em se misturar com essa gente!

Asuna, que até então estava calma, franziu o cenho de tanto desgosto. De repente, uma multidão havia se formado e as palavras “KoB” e “Asuna” podiam ser ouvidas aqui e ali.

Ela olhou em volta e disse para Kuradeel, que ficava mais agitado a cada segundo:

— Está dispensado por hoje. Como vice-comandante, eu ordeno!

Ela falou em um tom brusco e agarrou o cinto do meu sobretudo com a mão esquerda. E, daquele jeito, foi caminhando em direção à praça do portão, arrastando-me junto com ela.

— Ei… Ei, ei! Não tem problema?

— Nenhum!

Bom, eu não tinha nenhum motivo para reclamar. Nós andamos pela multidão, deixando para trás os dois guardas e Agil, que ainda parecia desapontado. Quando dei uma última olhada para trás, a imagem de Kuradeel parado, com um olhar furioso, ficou impressa na minha visão.

 


 

Tradução: Axios

Revisão: Alice

 

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