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Sword Art Online – Aincrad – Vol. 01 – Cap. 02

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— Aaaaaaah… Iáááá… Uaaargh!

Os movimentos da espada que acompanhavam esses gritos estranhos iam de um lado para o outro, cortando apenas o ar.

Logo em seguida, o javali azul, que apesar de seu tamanho enorme possuía uma velocidade incrível, avançou em direção ao seu agressor. E então não pude conter a minha gargalhada com a visão de alguém rolando pela grama após ser atingido pelo focinho achatado do bicho.

— Há, há, há… Assim não. O primeiro movimento é o mais importante, Klein.

— Ai… Esse maldito!

O agressor — Klein, um membro do meu grupo — levantou-se xingando e resmungando, olhando para mim de soslaio:

— Falar é fácil, Kirito… Mas o que posso fazer se ele fica se mexendo?

Conheci este homem de cabelo vermelho, preso para cima com uma bandana, uma armadura de couro lhe envolvendo o corpo esguio, há poucas horas. Se ele tivesse me revelado seu nome verdadeiro, seria difícil deixar os títulos honoríficos de lado, mas aqui, neste jogo, seu nome é Klein e o meu é Kirito. Estes são os nomes que criamos para os nossos personagens. Seria até cômico se usássemos -san ou -kun com eles.

Ao ver os pés de Klein estremecerem, pensei que ele estivesse um pouco desnorteado, então, com a minha mão esquerda, peguei uma pequena pedra do gramado aos meus pés e a ergui acima do meu ombro. Assim que o sistema detectou o primeiro movimento de uma Técnica de Espada, a pedra começou a emitir uma luz esverdeada.

Então, minha mão esquerda se moveu praticamente por conta própria, e a pedra, traçando uma linha brilhante no ar, voou em direção ao javali azul, que estava prestes a atacar novamente, acertando-o em cheio no meio da testa. Óóinc! O javali soltou um guincho raivoso e virou-se em minha direção.

— Mas é claro que se mexem! Eles não são bonecos de treinamento! Mas se você começar o movimento direito, o sistema vai se encarregar de acionar a Técnica de Espada e acertar o alvo por você.

— Movimento… Movimento…

Klein murmurou repetidamente, como se recitasse um encantamento, enquanto balançava o sabre em sua mão direita, de um lado para o outro.

O javali azul, cujo nome correto era Frenzy Boar, apesar de ser um monstro fraco de nível 1, conseguiu reduzir a barra de HP de Klein quase pela metade com contra-ataques aos seus avanços descontrolados. Mesmo que ele morresse, reviveria logo em seguida na Cidade do Início, que ficava ali perto, mas a caminhada de lá até aquela área de caça seria um transtorno desnecessário.

Parecia que havia mais alguma coisa a ser feita antes que a luta chegasse ao fim.

Inclinei o pescoço enquanto bloqueava o ataque do javali com a espada na minha mão direita.

— Como é que eu posso explicar… Não é “um, dois, três e ataca”, é mais como juntar um pouco mais de energia e quando você sentir a técnica entrar em ação, aí, bam! E então você sente que acertou o monstro, mais ou menos isso…

Bam?

O rosto até que atraente de Klein se contraiu numa careta enquanto ele alinhava a espada com o centro do seu corpo.

Após expirar e inspirar profundamente, ele abaixou o quadril e ergueu a arma acima do ombro direito, como se fosse carregá-la. Desta vez, o sistema identificou corretamente a pose e a espada curva lentamente começou a emitir um brilho alaranjado.

— Rááá!

Ao mesmo tempo que soltou um grito pesado, ele tomou impulso com a perna esquerda, em um movimento fluido, completamente diferente dos que havia mostrado até então. Zumbi! Com esse efeito sonoro satisfatório, a espada traçou sua trajetória em vermelho-flamejante no ar. Reaver, uma técnica básica para espadas curvas de mão única, acertou em cheio o pescoço do javali e acabou com seu HP que, assim como o de Klein, estava pela metade.

Após um guincho que expressava sua agonia mortal, seu corpo gigantesco se estilhaçou como vidro e números roxos apareceram flutuando à minha frente, informando-me a quantidade de pontos de experiência conquistados.

— Aí sim!

Klein assumiu uma pose de vitória bem chamativa, com um grande sorriso no rosto, e ergueu a mão esquerda. Dando-lhe um tapa na mão como cumprimento, sorri mais uma vez.

— Parabéns pela primeira vitória. Mas esse javali… Ele seria o equivalente a slimes em qualquer outro jogo.

— É sério?! Eu pensei que fosse um subchefe ou algo do tipo!

— Até parece!

Meu sorriso se tornou um pouco amargo enquanto eu colocava minha espada de volta nas costas.

Posso ter zoado um pouco com a cara do Klein, mas entendo bem a alegria e emoção que ele sentiu. Como tenho dois meses a mais de experiência, só agora ele sentiu a maravilhosa sensação de derrotar o inimigo com as próprias mãos.

Klein começou a repetir a técnica que havia acabado de aprender, agitando a espada de um lado para o outro e gritando, talvez com a intenção de praticar um pouco. Eu o deixei só e olhei em volta.

A pradaria que se estendia em todas as direções reluzia lindamente sob o brilho do sol, tingindo de vermelho. Ao longe, ao norte, a silhueta de uma floresta; ao sul, o reluzir de um lago; ao leste, via-se vagamente a muralha que cercava a cidade; e ao oeste, o céu, sua vastidão infinita e seu rebanho de nuvens douradas.

Estávamos na planície a oeste da Cidade do Início, situada na parte norte do primeiro andar do imenso castelo flutuante chamado Aincrad. Em nosso redor deveria haver outros jogadores lutando contra monstros, assim como nós, mas devido ao tamanho do lugar, eles não podiam ser vistos.

Parecendo finalmente satisfeito, Klein guardou a espada na bainha da cintura e começou a se aproximar, também olhando em volta.

— Vou te falar… Não importa quantas vezes eu olhe, ainda não consigo acreditar que estamos dentro de um jogo.

— Podemos estar dentro dele, mas não é como se a nossa alma tivesse sido sugada pra dentro desse lugar. É só o nosso cérebro que tá vendo e ouvindo tudo no lugar dos olhos e ouvidos… Através dos sinais que a Nerve Gear envia — respondi, dando de ombros, enquanto Klein fazia bico igual a uma criança.

— Você diz isso porque já tá acostumado! Essa é a primeira vez que faço FullDive! É incrível… Como é bom viver nesta era!

— Você tá exagerando.

Mesmo rindo, eu concordava completamente com ele.

Nerve Gear.

Este é o nome do hardware que faz funcionar o VRMMO chamado Sword Art Online.

Mas a sua estrutura é completamente diferente dos sistemas anteriores.

Diferente de outras interfaces homem-máquina que usam equipamentos como monitores de tela plana e controles manuais, a Nerve Gear é simples: uma espécie de capacete que cobre o rosto e a cabeça.

Dentro dela, há inúmeros transmissores que, através de sinais eletrônicos, ligam o aparelho direto ao cérebro do usuário, que, por sua vez, recebe os sinais para ver e ouvir, em vez de usar os olhos e ouvidos. E não só isso, a Nerve Gear não é capaz apenas de transmitir os sentidos da visão e da audição, mas todos os cinco, incluindo tato, olfato e paladar.

Após colocar o Nerve Gear, prender a alça debaixo do queixo e acionar o comando inicial “Link Start”, todos os sons em volta desaparecem e o seu campo de visão se torna escuro, você está em um mundo completamente diferente, onde tudo é feito de dados digitais.

Resumindo…

Pode-se dizer que esta máquina lançada no mercado há meio ano, em maio de 2022, teve sucesso em finalmente criar uma “Realidade Virtual”. A empresa de eletrônicos por trás da criação da Nerve Gear chamou o ato de se ligar à realidade virtual de…

FullDive.

É um nome que combina bem com o isolamento total da realidade que causa.

Afinal, a Nerve Gear não só envia sinais falsos que imitam os cinco sentidos, como também bloqueia e redireciona os comandos que o cérebro envia para o resto do corpo.

Claro que este é o requisito mínimo para se mover livremente em uma realidade virtual. Senão enquanto o usuário estivesse em FullDive e decidisse “correr”, seu corpo real executaria a mesma ação e ele daria de cara com a parede do quarto.

Então era pela Nerve Gear poder redirecionar os comandos enviados pelo cérebro através da medula espinhal que Klein e eu podíamos mover nossos avatares livremente e brandir nossas espadas.

Poder pular para dentro do jogo.

O impacto de viver essa experiência fascinou muitos gamers como eu, a ponto de ter certeza de que nunca mais conseguiria voltar a usar interfaces como touch pens e sensores de movimento.

Klein observava a grama ondulando ao vento e a fachada do castelo ao longe com lágrimas nos olhos.

— Então SAO é o primeiro jogo para Nerve Gear que você joga? — perguntei.

Parecendo um jovem guerreiro do Período Sengoku, Klein calmamente e se virou para mim, balançou a cabeça e disse:

— É.

Quando estava com uma expressão séria, ele emitia uma aura que fazia parecer um ator de algum drama histórico, contudo, é claro que essa aparência era diferente da do mundo real. Era apenas um avatar criado do zero depois de configurar várias opções.

E, obviamente, eu também parecia um protagonista ridiculamente bonito de algum anime de fantasia.

Klein continuou falando com sua voz bonita e vigorosa que também era diferente da real.

— Na verdade, adquiri o meu equipamento às pressas depois de comprar SAO, já que o primeiro lote só tinha dez mil unidades. Acho que tive muita sorte… Mas, se for pensar, quem foi selecionado pra ser beta tester é mais sortudo ainda. Foram só mil pessoas!

— É, acho que sim.

Klein me encarou e eu, inconscientemente, cocei a cabeça.

Eu me lembro como se fosse ontem do entusiasmo e da febre que foi quando a mídia anunciou que um jogo chamado Sword Art Online seria lançado.

A Nerve Gear originou o sistema FullDive, determinando o futuro das plataformas de jogo, mas, devido ao nível de inovação do próprio equipamento, nenhum dos títulos lançados até então era minimamente interessante. A maioria era de quebra-cabeça, educacionais ou sobre o meio ambiente, o que frustrou pessoas viciadas em jogos como eu.

A Nerve Gear reproduz uma verdadeira realidade virtual.

Mas se nela só se pudesse andar cem metros até atingir uma parede, a decepção seria imensa. Então era inevitável que jogadores hardcore como eu e tantos outros que sonhavam com a experiência de poder entrar em um game aguardássemos ansiosamente pelo lançamento de um novo gênero.

Ou seja, ficamos esperando por um jogo em rede, do tipo que permitisse milhares de usuários se conectarem, criarem, lutarem e viverem como seus próprios personagens. Em outras palavras, queríamos um MMORPG.

Quando os sentimentos de anseio e antecipação chegaram ao seu limite, Sword Art Online foi anunciado na hora exata, dando origem a um novo gênero chamado VRMMO.

O cenário do jogo era um imenso castelo flutuante de cerca de cem andares.

Os jogadores viviam em um mundo onde existiam pradarias, florestas, cidades e até vilarejos, contando apenas com a sua arma para achar o caminho até os andares superiores, derrotando poderosos monstros defensores pelo caminho. E o objetivo era chegar ao todo do castelo.

A Magia, um elemento que era considerado como indispensável em MMOs de fantasia, foi ousadamente cortado do jogo, e em seu lugar um número quase infinito de técnicas chamadas de “Técnicas de Espada” foram criadas. Isso era parte de um plano para que os usuários pudessem experimentar a sensação de lutar usando o próprio corpo, tirando proveito máximo do que a FullDive poderia oferecer.

Essas técnicas não se limitavam apenas ao campo de batalha, mas também serviam para habilidades produtivas como ferraria, artesanato em couro e costura, além de atividades diárias como pesca, culinária e música. O jogador poderia não só explorar e se aventurar no cenário gigantesco, como também “viver” nele. Se desejasse e tivesse nível alto o suficiente, era possível também comprar uma casa e criar ovelhas.

A cada nova informação que era revelada ao público, o fervor dos gamers aumentava.

Apenas mil pessoas foram recrutadas para serem beta testers. Dizem que cerca de cem mil pessoas — quase metade do número de Nerve Gears vendidas até então — se candidataram para concorrer a uma vaga. Foi por pura sorte que eu consegui ser escolhido. Além disso, beta testers tinham a vantagem de ter prioridade quando o jogo fosse de fato lançado.

O período de teste de dois meses foi como um sonho. Enquanto estava na escola, eu continuava pensando no meu conjunto de habilidades, equipamentos e itens, voltava para casa voando assim que as aulas acabavam e ficava conectado ao jogo até quase o amanhecer. O teste acabou num piscar de olhos e, no dia que meu personagem criado foi resetado, tive uma sensação de perda quase como se metade do meu ser fosse arrancado de mim.

E hoje — domingo, 6 de novembro de 2022.

Às 13h, depois de todos os preparativos ficarem prontos, o servidor oficial de Sword Art Online foi lançado.

Obviamente, eu já estava esperando há meia hora e consegui logar na minha conta sem um segundo de atraso, mas quando fui checar o status do servidor, mais de noventa e cinco mil usuários já estavam conectados. Era provável que todos os sortudos o suficiente para conseguir o jogo estavam sentido o mesmo que eu. Disseram que todos os sites de compra on-line tiveram seus estoques esgotados poucos segundos depois da venda ser liberada, e nas lojas físicas, que começaram a vender ontem, haviam filas gigantescas de pessoas que chegaram ali até quatro dias antes, criando comoção o suficiente para aparecer nos jornais. Em outras palavras, praticamente todas que conseguiram adquirir o jogo eram pessoas seriamente viciadas em jogos.

E essa descrição se adequava perfeitamente a esse cara chamado Klein.

Logo que me conectei ao SAO, percorri novamente as nostálgicas ruas de pedra da Cidade do Início atrás de uma loja de armas bem barata, localizada em um complexo de vielas. E Klein provavelmente notou que eu era um dos beta testers ao me ver sair em disparada, sem nenhuma hesitação.

— Ei — ele me chamou —, será que você pode me ensinar umas coisinhas?

Fiquei sem palavras com a atitude descarada de pedir um favor a alguém que nunca tinha visto na vida,

— Ah, tá. Que tal… a gente passar numa loja de armas? — respondi como se fosse um NPC.

Formamos então uma party e eu ensinei a ele o básico do sistema de lutas — e foi assim que chegamos à situação atual.

Sinceramente, no jogo, assim como na vida real — ou até pior —, não me dou bem com outras pessoas. Durante o período de beta, posso dizer que fiz muitos conhecidos, mas não havia sequer uma pessoa que pudesse dizer que se tornara meu amigo.

Mas Klein tinha um poder curioso de conseguir passar pelas minhas barreiras, e o mais engraçado de tudo era que eu não me sentia desconfortável. Pensando em como parecia que iríamos nos dar bem, abri mais uma vez a boca:

— Então… O que quer fazer? Continuar caçando para pegar mais as manhas?

— …Com certeza! Quer dizer, é que..

Os delicados olhos de Klein se moveram sutilmente para o canto inferior direito. Ele devia estar checando o horário.

— Daqui a pouquinho vou ter que sair e comer alguma coisa. Pedi uma pizza para ser entregue às cinco e meia da tarde.

— Já veio preparado — eu disse, surpreso, o que fez Klein estufar o peito.

— Ah, e depois eu combinei de encontrar uns conhecidos na Cidade do Início. Que tal? Eu te apresento pra eles e você os coloca na sua lista de contatos. É mais prático, aí você pode mandar mensagens quando quiser.

— Hã… Hm… — balbuciei sem perceber.

Eu me dou bem com Klein, mas não há nenhuma garantia de que o mesmo vai acontecer com seus amigos. Senti que, na verdade, as chances de dar tudo errado com eles e acabar me afastando de Klein eram bem maiores.

— Bom…

Parecendo entender a razão por trás da hesitação em minha voz, Klein balançou a cabeça.

— É lógico que não vou te forçar a nada, Eu acho que, eventualmente, vão surgir outras chances pra vocês se conhecerem.

— …É. Foi mal, mas valeu.

Ao agradecê-lo, Klei balançou a cabeça mais uma vez, vigorosamente.

— Ei, eu que devia te agradecer! Você quebrou um galhão para mim! Mas um dia vou devolver o favor!

Klein abriu um sorriso e conferiu novamente o relógio.

— …Bom, então vou nessa. Valeu mesmo, Kirito. Muito prazer.

Ao apertar a mão direita que ele estendeu para mim, imaginei que ele deveria ter sido um ótimo líder em outro jogo.

— Que isso, o prazer é todo meu. Pode me chamar sempre que tiver uma dúvida.

— Tá, Olha eu vou contar com isso, hein?

E então soltamos as mãos.

 

É correto dizer que foi naquele momento em que Aincrad, ou melhor, o Sword Art Online, deixou de ser apenas um jogo divertido para mim.

 

Dando um passo para trás, Klein esticou os dedos indicador e médio da mão direita e os abaixou. Era uma ação para abrir a janela com o menu principal do jogo. Logo em seguida, junto com o soar de um sino, apareceu um retângulo roxo à sua frente.

Eu também me afastei um pouco, sentei em uma pedra e abri meu menu. Comecei a mover os dedos para organizar os itens que tinha ganhado na batalha anterior contra o javali.

E então.

— Hã? — Klein disse em um tom exasperado. — Mas o que é isso? O botão de saída sumiu.

Ao ouvir isso, parei de mover a mão e ergui a cabeça.

— Como assim o botão sumiu? Isso é impossível, olha direito — eu disse, confuso.

O espadachim arregalou os olhos, puxou a bandana de gosto duvidoso e então aproximou o rosto da janela de opções.

No largo retângulo havia várias abas de menu no canto esquerdo e, no canto direito, a silhueta da arma que estava equipada. No canto inferior deveria haver um botão de “Logout”, ou seja, um botão para poder sair deste mundo.

Eu estava prestes a voltar novamente minha atenção à lista de itens ganhos durante as lutas ocorridas nas últimas horas quando Klein começou a falar mais alto.

— Não acho em lugar nenhum. Dá uma olhada você também, Kirito.

— Já falei, não tem como isso acontecer… — resmunguei, soltando um suspiro, então cliquei no botão do canto superior esquerdo para retornar ao menu principal.

A janela de inventário se fechou e retornou ao menu inicial. À esquerda da silhueta, que ainda continha vários espaços vazios, havia uma longa fileira de botões.

Com um movimento que havia quase se transformado num hábito, arrastei meus dedos até o canto inferior…

E então meu corpo inteiro paralisou.

Não estava lá.

Assim como Klein havia dito, o botão de “Logout”, que estava lá durante o período de beta, quero dizer, que estava lá quando loguei hoje à uma da tarde, havia desaparecido completamente.

Encarei o espaço vazio por alguns segundos, e depois de olhar o menu inteiro de cima a baixo, conferindo se o botão não havia mudado de lugar, ergui o rosto. Klein estava com a cabeça inclinada, com uma expressão de “não falei?” estampada.

— …Não tem, né?

— Não, não tem.

Klein tinha ficado irritado por um instante, mas ao ver que eu realmente estava concordando com ele, o espadachim sorriu e coçou seu queixo robusto.

— Bom, hoje é o primeiro dia de operações do servidor, é normal esse tipo de bug acontecer. O game master deve estar chorando agora com o tanto de mensagens que devem estar enviando.

Ao ouvir o tom de voz calmo na resposta de Klein, resolvi provocá-lo um pouco.

— Tudo bem pra você ficar nessa calma toda? Não foi você que disse que tinha pedido uma pizza pra cinco e meia da tarde?

— Ah, é mesmo!

Acabei rindo ao vê-lo pular gritando, com os olhos arregalados.

Eu deletei alguns itens do meu inventário, que havia ficado vermelho devido ao excesso de carga, e me aproximei de Klein, que lamentava por sua pizza de anchovas e ginger ale.

— A propósito, você também deveria mandar uma mensagem pro GM. Pode ser que eles te desconectem pelo sistema deles.

— Eu fiz isso, mas não me responderam. Ah, já são cinco e vinte e cinco! Kirito, não tem outro jeito de desconectar, não?

Ao ouvir as palavras de Klein, que estava com os dois braços erguidos num pedido de misericórdia…

Meu rosto enrijeceu. Uma sensação de medo sem motivo algum me ocorreu e mandou um arrepio pela minha espinha.

— Hã… Pra sair… — murmurei, enquanto pensava.

Para poder sair do jogo e voltar para o seu quarto no mundo real, você só tem que abrir a janela principal, apertar o botão de “Logout” e apertar a opção de confirmar na janela de diálogo em seguida. É bem simples. Mas… Fora o que acabei de descrever, não conheço nenhum outro método para sair do jogo.

Ergui o olhar para Klein, cujo rosto se encontrava a alguns centímetros acima do meu, e balancei lentamente minha cabeça de um lado para o outro.

— Não… não tem. Se você for sair por conta própria, esse é o único jeito. Não tem nenhuma opção além dessa.

— Impossível… Tem que ter algum outro jeito!

Klein de repente começou a gritar, como se quisesse negar o que eu havia acabado de afirmar.

— Voltar! Logout! Sair!!!

Mas, obviamente, nada aconteceu. Não havia comando de voz desse tipo em SAO.

— Klein, é inútil. Nem o manual fala de desconexões de emergência.

— Mas… Só pode ser zoeira! Mesmo que seja só um erro do sistema, como é que eu não posso voltar pro meu próprio quarto, pro meu próprio corpo quando eu bem entender?! — Klein fritou com uma expressão de desespero.

Concordei totalmente.

Só podia ser zoeira. Não fazia nenhum sentido. Mas era a mais pura verdade.

— Não, não… É mentira, não posso acreditar. A gente não tem como sair do jogo!

Klein soltou um riso desesperado e então continuou falando mais rápido:

— Já sei, é só desligar a energia. Ou então tirar a Gear.

Klein gesticulava como se estivesse tirando um chapéu invisível da cabeça, e mais uma vez senti um medo que não sabia de onde vinha. Eu disse calmamente:

— Não tem como fazer nenhum dos dois. Neste momento, a gente… Não consegue mover o próprio corpo de verdade. A Nerve Gear recebe todos os sinais que o nosso cérebro envia aqui — com a ponta do dedo, dei um tapinha na nuca —, interpreta e faz com que o nosso avatar se mova.

Klein lentamente fecha a boca e abaixou as mãos.

Ambos ficamos calados por um tempo, cada um mergulhado em seus próprios pensamentos.

A Nerve Gear, para atingir o estado de FullDive, bloqueia e cancela os sinais que o cérebro envia pela espinha e os altera para que possamos controlar os avatares dentro do jogo. Não importa o quão violentamente eu agite o braço aqui, meu corpo no mundo real, deitado na cama, sequer se mexe. Logo, isso evita que eu bata em alguma quina e acabe com um hematoma.

Mas, por causa dessa função, naquele momento não podíamos nos desligar do sistema por vontade própria.

— Então, a gente vai ter que esperar até que esse bug seja consertado ou que alguém no mundo real tire a Gear da nossa cabeça, é isso? — Klein murmurou, ainda incrédulo.

Eu silenciosamente mostrei que concordava com ele.

— Moro em três com minha mãe e minha irmã mais nova. Acho que vou ser forçado para fora do jogo quando der a hora de jantar e eu não descer pra comer…

— Ooh?! Q-Quantos anos tem sua irmã?

Os olhos de Klein de repente se acenderam e ele se aproximou de mim. Eu apenas afastei a cabeça.

— Até que você tá bem calmo, considerando a situação atual. Ela faz parte do clube esportivo, odeia jogos e não tem nada a ver com gente como nós… Mas o mais importante… — na tentativa de mudar de assunto, estiquei o braço direito e gesticulei à nossa volta. — Você… não tá achando estranho?

— Claro que sim, é um bug.

— Não, mas não é só um simples bug, é um bug que torna impossível “Fazer logout”, isso pode afetar as operações do jogo inteiro. Enquanto a gente tá aqui, a pizza que você pediu tá ficando cada vez mais fria, o que é um prejuízo para você na vida real.

— …Pizza fria é pior que pastel de ar…

Ignorando os comentários sem sentido de Klein, continuei a falar:

— Neste caso, a medida mais óbvia a se tomar, independente do lado operacional, é paralisar o servidor e desconectar todos os jogadores. Mas… faz uns quinze minutos que a gente se tocou desse erro, mas não chegou nenhum aviso do sistema, imagina então desligarem o servidor. Muito esquisito.

— É, agora que você falou, é estranho mesmo.

Klein começou a coçar o queixo com uma expressão séria. Logo abaixo da sua bandana, que estava alojada sobre sua proeminente ponte nasal, seus olhos emitiam um brilho afiado.

Eu comecei a ouvir o que ele tinha para dizer, sentindo-me estranho por conversar com alguém que nunca mais encontraria se deletasse minha conta.

— A empresa que criou SAO, a Argus, é famosa por prezar pelo bem dos usuários, certo? É por isso que tava todo mundo brigando pra conseguir uma cópia do jogo, mesmo sendo o primeiro game on-line deles. Não faz sentido eles cometerem esse tipo de confusão logo no primeiro dia.

— Eu concordo plenamente. Além disso, SAO é pioneiro no gênero de VRMMO. Se alguma coisa der errado aqui, pode ser que criem regulamentações pro gênero inteiro.

Eu e Klein encaramos nossos rostos virtuais e soltamos um suspiro baixo.

As estações do ano de Aincrad eram as mesmas que as do mundo real, então aqui, assim como lá fora, também era início do inverno.

Eu inspirei profundamente o ar virtual seco e gelado e olhei para cima.

A uns 100 metros de distância, eu conseguia ver a luz arroxeada que demarcava o pico do segundo andar. Seguindo com o olhar o seu contorno irregular, vi a gigantesca torre — o labirinto que servia de caminho para o andar superior — e vi que estava conectada à porta de entrada exterior.

Já passavam das 17h30 e a fina linha visível do céu estava tingida de vermelho por causa do pôr do sol. A grama da imensa pradaria onde me encontrava refletia o brilho dourado da luz que vinha do céu e eu, sem a mínima ideia da situação em que me encontrava, fiquei sem palavras diante da beleza deste mundo virtual.

 

Logo depois…

O mundo mudou de vez.


 

Tradução: Axios

Revisão: Alice

 

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