Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 04 – 03.1 – Para Terras Humanas

Eu tive um sonho.

Um sonho que se tornava cada vez mais vívido com o tempo.

— Corra.

De novo.

— Por favor… as crianças…

Esse sonho de novo não.

— Por favor, salve as crianças…

Tudo bem, tudo bem, eu prometo.

— Por favor. As crianças estão na capital real.

O quê?

— A capital do Reino de Englesia. Por favor, salve-os antes que seja tarde demais…

E foi quando eu acordei.

Acordei e percebi que estava chorando. Isso não era mais algo que eu pudesse simplesmente descartar como um simples sonho. Acho que precisava ir para Englesia, para terras governadas por humanos, o mais rápido possível. Não havia um segundo a perder.

Pela primeira vez em várias semanas, eu estava de volta a Tempest. Benimaru e Rigurd trabalharam juntos para manterem as coisas perfeitamente em ordem na minha ausência.

— Não tenho brigas ou roubos para reportar, meu senhor — relatou Benimaru. — Os dias não poderiam ter sido mais tranquilos. Claro, se alguém fosse tolo o suficiente para tentar qualquer coisa, eu teria cuidado disso na mesma hora.

— Já recebemos uma remessa de frutas do Lorde Demônio Carillon — acrescentou Rigurd. — Foram entregues pelo ar, nas costas de grandes monstros avícolas, então temo que por agora seja apenas uma quantidade limitada.

Os monstros que moram em Tempest normalmente se dão bem, então eu não esperava por um aumento repentino de crimes. No mínimo, senti que minha presença atraiu o tipo de atenção que este país realmente não precisava.

Nosso pessoal já havia verificado a qualidade da remessa de Carillon e a dividido em suprimentos para alimentos e ingredientes para destilar mais tarde. Muito bem, pensei.

As coisas pareciam funcionar sem problemas, quer eu estivesse por perto ou não. Yohm e seus homens estavam se dando bem com os hobgoblins, orcs superiores e os outros monstros da cidade. Minha presença não era o único fator que impedia Yohm de começar brigas de rua. Os monstros, obedecendo às minhas regras, eram um pouco mais amigáveis com eles do que eu pensava que seriam e, ninguém na equipe de Yohm era intolerante o suficiente para desprezá-los.

Podiam ter sido um grupo de bandidos e batedores de carteira quando os conheci, mas talvez não fossem tão ruins de coração. Além disso, realmente acho que Yohm atrai as pessoas, com um tipo de carisma que o dinheiro simplesmente não pode comprar. E talvez porque ele e os monstros quisessem trabalhar juntos, estavam dividindo seus papéis com uma facilidade surpreendente.

Usando Tempest como sua base de operações, estavam conduzindo patrulhas regulares ao redor das aldeias que pontilhavam a floresta. Se tudo estivesse normal, treinavam diariamente sob as instruções de Hakuro. As aldeias na fronteira agora tinham um sistema firme para se apoiarem.

Antes, se alguém achasse um monstro ou um rebanho perigoso, teria que entrar em contato com a guilda, que selecionaria e despacharia uma equipe e, normalmente, uma equipe de investigação seria enviada primeiro. Sem um cristal de comunicação (um item mágico caro), levaria pelo menos uma semana para receber qualquer tipo de ajuda. No entanto, caso recebessem uma mensagem de emergência em uma aldeia distante, unicórnios conhecidos por cavalgarem muito rápido seriam usados e chegariam para o resgate em dois dias. Esses animais poderiam fazer esse percurso sem parar para comer ou beber. Em termos de velocidade máxima, poderiam até mesmo derrotar os lobos estelares.

Acho que são assim aqueles com classificação B+. Que bom que nem todos eram esnobes, ou só permitiam que virgens montassem, ou o que quer que fosse. Isso era um alívio.

Os Cavaleiros Goblins estavam cuidando da segurança ao redor da cidade principal, mas nossa capital estava muito bem defendida. Como resultado, concordamos em ter cerca de cinco deles se juntando à equipe de Yohm para lidar com alertas repentinos. Os hob-gobs estavam dispostos a isso, então ficaram felizes em trabalharem juntos. Também ajudou a espalhar a palavra sobre a nossa nação para as aldeias mais remotas, então eu era totalmente a favor. Yohm apreciou essa ação, e ficar de bem com ele sempre era algo positivo.

Talvez para retribuir pelo que fiz a ele, Yohm e sua equipe nos deram algumas dicas sobre combate em grupo, habilidades com a espada, artes marciais e assim por diante. Aprendi muito sobre técnicas de sobrevivência e como se alimentar na floresta com eles.

Nossa relação de confiança havia crescido a tal ponto que não seria arruinada se eu ficasse fora da cidade por um tempo. Isso só me fez sentir ainda menos preocupado ao viajar para terras humanas.

Naquela noite reuni meus funcionários e conversei sobre o assunto.

— Então, eu gostaria de passar algum tempo viajando por nações e cidades humanas. Também quero manter isso em segredo. Não há necessidade de fazer alarde sobre isso.

Contei a eles tudo sobre os sonhos que vinha tendo. Sonhos que eu suspeitava estarem sendo mostrados a mim por Shizue Izawa, a mulher que absorvi. Acredito que revelavam algumas das razões pelas quais ela estava tão decidida a confrontar o Lorde Demônio Leon, apesar de todo o seu conflito interno. E consegui ter esses sonhos simplesmente porque fiquei treinando para tirar uma soneca, por pura preguiça. Realmente nunca se sabe o que a vida vai jogar pelo caminho.

Mas isso significava que, quando comi a Shizu, sua alma também foi junto? Eu estava começando a achar que sim, mas o Grande Sábio não me respondeu. Sempre me dando lições sobre coisas que não pergunto, mas em momentos como esse mantém a boca fechada. Imagino que responderia se eu deliberadamente pensasse na pergunta, mas consultas nebulosas como essa eram sua principal fraqueza. O Sábio, que sempre buscou ser o mais preciso possível com suas respostas, provavelmente não queria admitir que poderia estar errado sobre alguma coisa. O que é uma alma? Nem mesmo ele sabia.

Assim que terminei, avaliei os rostos ao meu redor.

— Entendo — um Rigurd taciturno começou a falar —, mas a ideia de você partir sozinho, Senhor Rimuru, não é algo que possamos aceitar facilmente…

— De fato — acrescentou Hakuro —, se algo acontecer com você, isso pode abalar os próprios alicerces da aliança de Jura, e justo quando está começando a tomar forma.

— Bem, se não quisermos que o Senhor Rimuru vá sozinho, talvez possamos protegê-lo?

Foi Benimaru quem estendeu essa corda para me salvar. Em outras palavras, desde que eu ficasse em segurança, ele não iria me repreender muito. Então Sion levantou a mão.

— Sendo assim, tudo bem se eu o acompanhar?

Tenho certeza de que ela não estava me ouvindo. Não haveria nada de “secreto” sobre a minha viagem se ela estivesse comigo.

— Não, eu… eu não quero causar problemas desta vez, então estou planejando fazer minhas viagens na forma humana, não como monstro. Soei me disse que existem várias barreiras mágicas cobrindo muitas das cidades, logo, se um bando de monstros poderosos como vocês for comigo, seremos descobertos na mesma hora. Além disso… quero dizer, olhe para vocês, todos têm chifres em suas cabeças.

— Nossos chifres são pura decoração! E prometo que vou trabalhar para suprimir a minha aura.

— Certo, então tente agora.

Eu a desafiei, cansado do egoísmo de Shion. Se ela realmente pudesse dissipar a sua aura, então isso com certeza serviria. Em relação aos chifres, poderíamos escondê-los de alguma outra maneira.

— Haaaaaaaahhh!!

Em vez disso, sua aura apenas se expandiu. Você fez justo o contrário, idiota!

— Para, para! Você vai destruir o prédio!

Shion me deu um olhar taciturno de decepção enquanto eu a reprendia. Se eu pegasse leve, acabaria levando nada além de problemas comigo.

— Olha, você é uma mulher forte; quero que mantenha a ordem na cidade para mim. Estou contando com você!

— S-Sim senhor! Não vou decepcioná-lo, Senhor Rimuru!

     Dar a Shion um elogio e alguma responsabilidade ajudaram a retomar sua motivação, mesmo quando seu fracasso abjeto levou uma expressão de dor ao rosto de Benimaru.

— Então, estou protegendo o forte de novo — sussurrou ele, claramente desapontado. Ele provavelmente queria se oferecer como substituto, mas se Shion não conseguia esconder sua aura, ele também não tinha nenhuma chance. Não com a enorme quantidade de magículas que possuía, facilmente a maior dentre os ogros magos. De qualquer maneira, não havia mais ninguém que pudesse cuidar das coisas enquanto eu estivesse fora. Ele era o único que poderia manter a autoridade sobre todas as diferentes espécies de monstros presentes. Shion e Soei, entretanto, não eram tão hábeis na política entre monstros.

— Bem — respondeu Shuna com um sorriso —, então suponho que caberá a mim me juntar a você.

Mas isso já era um problema. Com certeza a aura de Shuna não era tão evidente quanto a de Benimaru ou Shion, mas ela ainda era quase um monstro de rank A. Não havia como isso dar certo. Além do mais:

— Na verdade, tenho um trabalho para você, Shuna. Na minha ausência, quero que fique de olho nos portões da cidade para garantir que não haja ninguém suspeito entrando ou saindo.

Se eu estivesse lá, saberia na mesma hora se alguém com más intenções aparecesse. As habilidades Analisar e Avaliar mantinham uma vigilância constante sobre o que acontecia na cidade. Soei podia fazer isso sem habilidades, só olhando a silhueta da pessoa, mas nem mesmo ele podia fazer muito sobre um nascido da magia que escondia sua aura bem o suficiente para evitar ser detectado. Os lordes demônios agora estavam cientes de nós; tínhamos que ficar em alerta. Eu era amigo de Millim e tinha pelo menos uma relação de trabalho com Carillon, então pensei que conflitos não aconteceriam no momento, mas… bom, estamos falando de lordes demônios. É preciso ficar vigilante. Então achei melhor deixar Shuna por perto e manter o controle sobre nossos visitantes. A habilidade única Análise que ela tinha era uma ferramenta de investigação pelo menos tão boa quanto a minha.

Geld permaneceu em silêncio. Ele estava liderando a construção das rodoviárias que levavam às nações vizinhas, o que poderia se dizer que foi o maior projeto de obras cívicas executado em Tempest até então, e ele não estava disposto a abandonar seu dever tão prontamente. Ele se sentia muito responsável por isso e sabia qual era o seu papel.

Hakuro e Kurobe se sentiam da mesma forma.

— Talvez eu poderia me juntar a você — disse ele primeiro —, mas imagino que prefira que eu continue treinando as nossas tropas, Senhor Rimuru.

— Sim, eu também! Ainda tenho armas para fazer com Kaijin!

Pareciam desanimados com isso, mas cederam. Dito isso, eu não estava prestes a sair perambulando totalmente desacompanhado. Pelo que o grupo de Kabal me disse, e pelas adversidades que superei até o momento, tive a impressão de que eu estava muito forte neste ponto. Mas quando enfrentei uma ameaça tão avassaladora e desesperadora, como, digamos, Millim, claramente ainda não podia me dar o luxo de baixar a guarda. Eu poderia sempre correr se achasse que havia chances de vitória, mas pelo que sabia, alguém como ela poderia me matar à primeira vista. Eu precisava de algum tipo de proteção.

— Não se preocupem. Sempre estarei ao lado de meu mestre. Todos vocês podem ficar calmos quando estiverem realizando suas tarefas.

Ranga parecia um pouco ansioso demais. Seu rabo balançava com tanta força que pensei que isso o impulsionaria para o ar.

— Além disso — acrescentou Soei —, posso usar a Replicação para enviar um dublê para manter contato com o Senhor Rimuru, informando-o imediatamente se algo acontecer. Não acho que precisemos ser tão cautelosos.

Como um nascido na magia com alguma experiência em atravessar cidades humanas, apreciei o conhecimento dele para a minha viagem. Ter os dois por perto também me ajudou a acalmar as minhas preocupações.

 Eu também tinha os guias perfeitos em mente.

— Sim, pessoal, parem de se preocupar comigo. Eu fui legal com Kabal e seus amigos apenas para esse tipo de ocasião. Estava pensando que poderiam me guiar.

— Entendo. Nesse caso, não tenho nenhuma objeção. Senhor Ranga, Senhor Soei, deixo o Senhor Rimuru em suas mãos.

Com as preocupações de Rigurd aparentemente resolvidas, ele me deu sua permissão formal para partir. Além disso:

— Nesse caso é melhor que Gobta informe Kabal o quanto antes. Vou preparar as suas coisas.

Ele já estava me ajudando a me preparar. Esse é o Rigurd, sempre confiável. E com todos os outros balançando a cabeça em aprovação, eu poderia embarcar nesta jornada sem deixar nenhum negócio inacabado.

Os três aventureiros, Kabal, Elen e Gido, caminharam pela floresta.

O trabalho deles era de explorá-la e lidar com qualquer pedido de caça a monstros e coleta de recursos que caísse sobre seus ombros. Era um trabalho difícil que às vezes exigia que dormissem ao ar livre por dias seguidos, mas estava ficando cada vez mais fácil. Isso foi graças ao nascimento de Tempest, a nação de monstros que chamou a Floresta de Jura de lar.

A essa altura, já haviam visitado a cidade de Rimuru várias vezes. Não poderiam pedir um lugar melhor para suas aventuras. A cidade parecia mudar a cada vez que apareciam, crescendo e se expandindo. Isso deu a eles acesso a artesãos que podiam consertar suas armas e armaduras e, para ser honesto, todos os três gostariam de um lugar assim, para servir como um posto de aventureiro e chamar de lar.

Sempre que apareciam, tinham consigo as mais diversas ervas aromáticas e frutas que encontravam pela floresta. Qualquer coisa rara que apresentassem era recebida de braços abertos e, antes que percebessem, haviam adotado o hábito de ficar de olho em qualquer coisa que Tempest pudesse gostar. Isso também os ajudava, especialmente porque Tempest teve sucesso em cultivar e produzir algumas das plantas que levaram. Assim, conseguiam usá-las em alimentos para melhorar o gosto, contribuindo diretamente para o aumento de satisfação dos aventureiros.

— Cara — observou Kabal —, a comida lá fica cada vez melhor, hein? A Shuna agora deve estar com os cozinheiros na capital real!

— Nem, melhor do que isso! Digo, qualquer coisa que ela cozinhasse ganharia fácil de qualquer outra coisa.

— Verdade. Você sabe que eu sou um bom juiz de comida, e as comidas da Shion são de primeira linha. Alguns membros da equipe sob o comando dela também não são de se subestimar.

— Verdade. Mas lembrem-se, pessoal, não estamos aqui apenas para comer a comida de outras pessoas, entenderam?

Kabal olhou severamente para os seus companheiros antes de se empolgarem demais. Não era nem preciso dizer que a qualidade da comida de Tempest era excelente, mas eles estavam querendo muito mais do que isso.

— Vocês não ficaram tão focados em comer a ponto de esquecerem da nossa verdadeira missão, não é?

— Oh, não seja tão bobo, Kabal.

— Sim! Rimuru confia na gente. É melhor nós retribuirmos, certo?

Kabal acenou com a cabeça.

Rimuru, o monstro que apareceu repentinamente na Floresta de Jura e praticamente começou a governar no topo em um piscar de olhos, os havia chamado a seus aposentos. A visão familiar de Gobta, o hobgoblin, sinalizando para eles na floresta foi uma surpresa, mas não era a primeira vez, então conseguiram manter a calma.

— Humm, acho que o Senhor Rimuru queria pedir algo de vocês, não?

Eles não se incomodaram em ouvir isso de Gobta, até mesmo ficaram satisfeitos enquanto disponibilizavam seu tempo para isso. Rimuru os tratou bem, deixando-os vagar livremente pela cidade e até mesmo tendo seus subordinados os ajudando em uma situação difícil. Ele tinha feito coisas maravilhosas não apenas para os aventureiros, mas para a raça humana em geral. O furioso Ifrit, o Lorde Orc e sua grande horda, a destruidora de nações Charybdis: Todos eram ameaças sem precedentes para o pequeno reino de Blumund, e Rimuru, o slime, lidava rapidamente com cada um.

Não que essa fosse a única motivação.

— Mas, ei, ei — insistiu Kabal —, as patrulhas deles têm bloqueado a floresta que esteve bem restrita esses dias, seria perda de tempo para nós aceitarmos qualquer trabalho de matar monstros da guilda, não seria?

— Você provavelmente tem razão — respondeu Gido. — Conseguimos todos os materiais oriundos de monstros que necessitávamos e nem precisamos suar muito por isso.

— Sim, exatamente. Também não poderíamos ter aumentado nossa classificação para B+ sem ele!

— Isso foi meio que trapaça, não foi?

— Ahh, não seja estúpida, Elen! É só uma pequena vantagem, só isso!

— Sim! Você sabe o que dizem sobre não reclamar de um presente, certo?

— Não estou dizendo que vocês estão errados, rapazes — rebateu Elen —, mas ele praticamente nos deu o mundo e não retribuímos, não concordam? Passamos um tempo explicando como as coisas funcionavam em nossa cidade e com a Guilda Livre, mas ainda assim, não demos muito além disso!

— Talvez sim. — Gido concordou acenando com a cabeça. — Tenho tentado obter algumas informações privilegiadas para dar ao Rimuru, mas…

— Ah, você o conhece; ele não é o tipo de cara que se preocupa muito com esses detalhes. E ele disse que a coleta de informações também era importante, lembram?

Tempest realmente tinha patrulhas regulares pelas áreas ao redor da capital com Cavaleiros Goblins, compostos por hobgoblins e suas montarias de lobo estelar. Se moviam com agilidade e rapidez para manter a região segura, e foi graças a eles que a lei e a ordem reinaram em torno da floresta. Uma das consequências foram os materiais e ingredientes oriundos de monstros que agora eram todos levados para a cidade de Rimuru, recursos que estavam sendo parcialmente entregues para equipe de Kabal, em troca de servirem como a nova inteligência de Tempest. A própria cidade não tinha escrúpulos em usar esses materiais. Para grande choque dos aventureiros, Tempest era o lar de vários anões conhecidos, mas nem mesmo eles podiam usar todas as coisas que a equipe de Kabal podia. Logo, tudo o que não poderia ser aproveitado para armas, armaduras ou comida, tratavam como sucata e deixavam os aventureiros levar de graça.

Isso foi, para dizer o mínimo, uma sorte inesperada. Chifres de Lebres Chifrudas, nadadeiras de Sapos Venenosos, orelhas de Ursos Gigantes… até coisas como chifres de armadurossauros, se tivessem sorte. Levar essas coisas para a guilda foi tratado como uma prova de que haviam concluídos missões de matar criaturas perigosas que ameaçavam as cidades, mesmo que, na verdade, não tivessem feito nada disso. Isso lhes rendeu pontos, e os pontos atualizaram suas classificações. Não podiam vender essas peças por dinheiro, mas para os aventureiros, ainda eram eminentemente valiosas.

Era trapaça? Ah, com certeza, mas não havia problema trapacear nesse negócio se ninguém descobrisse. Esta, pelo menos, foi a atitude que Kabal adotou para tratar esse acordo enquanto examinavam minuciosamente a escolha de Tempest como base regular.

A verdade é que Fuze, mestre da guilda do Reino de Blumund e chefe da Guilda Livre à qual eram filiados, estava totalmente ciente de tudo isso. Ele havia falado com o próprio Rimuru, tinha visto a cidade que ele construiu e sabia exatamente o que a equipe de Kabal estava tramando. O fato de que simplesmente suspirou diante disso e disse “Não deixe o esquema de vocês atrapalhar seu treinamento, certo?” foi porque o trio era um importante elo entre ele e Rimuru. Ele sabia que Hakuro, o ogro mago que oferecia exercícios militares aos monstros da cidade, também os estava treinando. Então pensou que mesmo com a maneira que manipulavam o sistema, suas habilidades não eram prejudicadas por isso.

Fuze pensava dessa forma, mas os outros ao redor deles eram menos compreensíveis. Qualquer um que disparasse na classificação de pontos tão rápido quanto eles certamente seria suspeito de traição. Abusar desse esquema poderia resultar em grandes problemas, então o mestre da guilda os chamou em um dia para aconselhá-los a se conterem.

No entanto, agora Gobta havia levado notícias muito mais emocionantes a eles.

— Acho que o velho Rimuru tem um pedido direto para nós, para variar?

— Sim! É bom saber que ele está contando com a gente!

— Uhum. É hora de nos exercitarmos um pouco!

Assim, com o ânimo excepcionalmente elevado, voltaram para a cidade de Rimuru.