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Rei Demônio ao Trabalho – Vol. 03 – Cap. 03.3 – O Rei Demônio e a Heroína Aceitam uma Sugestão e Vão ao Parque Temático

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Alas Ramus, segurando um punhado de balões coloridos, estava no paraíso.

Ela implorou a Maou várias vezes ao longo do caminho por eles. Pelo que parecia, qualquer coisa feita com cores brilhantes e chamativas imediatamente atraía sua atenção.

— Ugh… Só agora que eu estou vendo isso. O pai amoroso, incapaz de dizer não à filha.

Emi resmungou para si mesma enquanto bebia um pouco de água mineral, usando um leque de papel distribuído no Lagoon para se refrescar.

Ao ver Alas Ramus gritar de alegria em um pequeno carrossel e Maou parecendo não tão desagrado em cima de um cavalo de carrossel logo atrás dela, Emi sentiu uma forte vontade de largar tudo ali mesmo e voltar correndo para Ente Isla naquele exato momento.

Algo que Maou disse há pouco continuava soando em seus ouvidos.

Ter as forças demoníacas expulsas pelos exércitos da raça humana a encheram de alegria pura e verdadeira. Era, em sua mente, a única conclusão da batalha que ela poderia aceitar.

Maou tinha o hábito de esconder sua verdadeira face quando era mais importante, então era difícil avaliar seus sentimentos com certeza. Mas não havia nenhum sinal de tristeza nem raiva em seu rosto enquanto teorizava sobre como seus antigos subordinados demônios provavelmente estavam mortos.

Algo sobre suas palavras, porém, deu a Emi a estranha sensação de que alguma coisa que ela tinha dado como certo até agora não deveria estar. Algo que considerava tão natural quanto respirar ou beber água…

— … mi? Ei, Emi?

— … O quê? Ah, desculpa. O que foi?

Perdida em pensamentos, ela de repente percebeu que Maou tinha saído do carrossel e estava parado bem ao lado dela.

— Por que você está viajando na maionese, cara? O calor está fritando seu cérebro?

— N-Não é isso! Pare de se aproximar de mim desse jeito! O que foi?!

— Acho que a Alas quer dar uma olhada.

Maou apontou para um pôster anunciando o show de herói do Tokyo Big-Egg, indiscutivelmente uma das experiências de marca registrada do parque, pregado em um quadro de informações.

Emi reconheceu o programa do anúncio de TV que viu antes, mas outra coisa também chamou sua atenção.

— Você por acaso comprou uma TV?

O show foi, pelo que sabia, um crossover grandioso, com uma equipe de cinco heróis acrobáticos — cada um identificado pela cor do spandex que usavam — se unindo com um grupo de garotas mágicas de cores semelhantes. O negócio estava bom, sem dúvida ajudado pelo tempo ensolarado de domingo, mas Emi não pôde deixar de notar que todos esses eram personagens infantis da TV.

— Uma TV? Nem. A antena no telhado ainda é analógica. — A resposta que Maou deu era previsível.

— Mas, eu não sei, Alas Ramus realmente parece gostar de todas essas cores do arco-íris. Não sei se isso te faz lembrar de algo, mas…

Alas Ramus estava com a atenção presa no pôster fora do palco, retratando as estrelas de spandex do live-action apertando as mãos de garotas mágicas no estilo anime — uma obra de arte bastante surreal, do ponto de vista de um adulto.

— Por mim tudo bem, mas vai custar mais dinheiro além do ingresso, certo? Dá conta de pagar?

Houve uma longa pausa antes que Maou pudesse responder.

— Posso me desculpar com Ashiya depois. Eu já comprei aquele chapéu mesmo.

Emi se perguntou por que, apesar de ser o único ganha-pão do Castelo Demoníaco, Maou agia tão intimidado sempre que o seu subordinado dono de casa mostrava uma cara feia.

— Bem, tanto faz. Vou cobrir o ingresso da Alas Ramus, ok? Você pode encontrar uma maneira de pagar o seu.

Obrigado!

Teria sido necessária uma montanha de motivação para o Rei Demônio se curvar com gratidão à Heroína dessa forma.

Mas, da perspectiva de Emi, o Rei Demônio agora tinha uma dívida com ela. Isso seria o suficiente para cobrir o que ela devia a Ashiya após toda a questão relacionada a Suzuno. Ela até pensou em reivindicar essa parte do débito de Maou como coberta, mas deixou de lado. Parecia um passo longo demais.

Ela foi direto para a bilheteria mais próxima, mas o balconista curvou-se humildemente para ela em resposta.

— O próximo show está esgotado! Vai demorar duas horas até o seguinte!

Emi passou a informação gritando para Maou.

— Isso é sério? Bem, que tal comprarmos ingressos para o próximo show e almoçarmos agora?

— Beleza! Nesse caso, dois adultos e uma criança. — Ela voltou até Maou. — Aqui. Um ingresso de adulto. Saiu mil e quinhentos ienes.

— Entendido.

Os dois trocaram o ingresso por um pouco de dinheiro que estava na carteira de Maou. Então, com Alas Ramus nas mãos de Maou, eles olharam o mapa do parque e caminharam em direção a um restaurante próximo.

— Rapaz, eles estão ficando muito amigáveis um com o outro agora, hmmmm?

— …

— …

Rika, é claro, estava se deleitando com a alegria de fazer Ashiya e Chiho reagirem aos comentários dela.

— Mas um daqueles programas de super-heróis, hein? Nunca fui a nenhum deles quando era criança. Que cê acha? Quer ir?”

— Isso é… um pouco demais.

— Eu meio que duvido que conseguiríamos muito com isso.

— Não? Por quê?

As sobrancelhas de Rika se franziram em confusão com a repentina falta de entusiasmo de Chiho e Ashiya.

— Bem, é meio que para criancinhas, não é? Seria meio estranho se nós três entrássemos sozinhos…

— Uau, alguém é das antigas. Isso não é mais apenas uma coisa de pai e filho.

— Hein?

— Até mesmo os adultos gostam de assistir a essas coisas hoje em dia. Sozinhos, até. Você costumava ouvir sobre as mulheres enlouquecerem por heróis bonitos em programas infantis antes de se transformarem em seus uniformes chiques. É meio que a chance delas de ver esses personagens na vida real, sabe? Ou suas vozes pré-gravadas, pelo menos.

— Hããããã?

— E esse anime aqui, com as garotas…

— Isso é Pretty and Pure, né? Eu costumava assistir quando era mais jovem, mas há tantos personagens para acompanhar hoje em dia…

Magical Girl Pretty and Pure foi uma série de animação de longa duração com um grupo de atraentes mulheres jovens com magia que lutavam contra o mal, muitas vezes usando roupas que lembram versões mais leves e enfeitadas do que se via nos shows de heróis de spandex. Era o sucesso atual de anime para meninas, a ponto de ter lançamentos nos cinemas anualmente.

— Algumas pessoas gostam desse programa porque são apenas fãs de anime, mas muitos membros da equipe de voz se tornaram atores de sucesso também, sabe? Eu vi um artigo de revista sobre como existe uma grande massa de fãs do sexo masculino que vai à loucura com isso.

— Nossa… Então acho que tem apelo para homens e mulheres, jovens e velhos, hein?

— Não, eu, é, eu hesitaria em ir tão longe, mas…

Ashiya hesitantemente tentou impedir Chiho de construir uma imagem muito imprecisa da audiência de Pretty and Pure em sua mente. Só então o barulho além da parede indicou que o show estava em andamento.

Não era visível de fora — não havia muita razão para cobrar entrada de outra forma —, mas os aplausos do público incluíram alguns gritos baixos e profundos que definitivamente não eram pré-púberes por natureza.

Rika riu ao notar o rosto de Chiho congelar.

— Que tal almoçarmos também?

Rika apontou para um café italiano ao ar livre situado bem em frente à entrada do show.

Duas horas depois, Maou e sua família se sentaram em uma fileira de arquibancadas relativamente perto do palco.

— Conseguimos um lugar muito bom, hein? É incrível pensar que são ingressos antecipados. Quer dizer, olhe para aquele palco. É tão pequeno.

Sentando-se no banco comprido, Maou observou os arredores.

— Ouvi dizer que se eles não reservassem lugares, as crianças no fundo não poderiam ver o show.

— Hein? Por quê?

— Bem, você sabe, há um monte de… gente lá fora, no mundo.

Mesmo com os ingressos atribuídos, essas eram arquibancadas simples, não assentos de estádio equipados com porta-copos. Seria impossível evitar esfregar cotovelos com seus vizinhos de assento.

Alas Ramus estava lá, e suas compras variadas também estavam entre eles, mas, para Emi, Maou ainda estava sentado perto demais para se sentir confortável.

Mesmo em meio a uma multidão de curiosos, não havia como ela suportar um contato tão íntimo com Maou por um longo período de tempo.

O show no palco foi outra lotação esgotada, e com o sol batendo neles, parecia uns bons quatro ou cinco graus mais quente do que o lado de fora. Depois de uma espera rápida, os alto-falantes de repente irromperam com uma música-tema alta enquanto a fumaça e os fogos de artifício zuniam pelo palco. O show foi definido para começar com o segmento herói de colante primeiro, embora as altas explosões já fossem o suficiente para deixar Alas Ramus cambaleando.

Cada iteração desses programas de heróis parecia ter seu próprio tema, seus próprios movimentos especiais de finalização e seu próprio robô gigante com todos os heróis combinados para formá-lo, tudo o que foi delineado de forma útil na música-tema de abertura. Desta vez, os heróis foram modelados a partir dos ninjas, ao que parece.

Um grande suporte de árvore ficava na frente e no centro do palco, mais ou menos da altura de um prédio de dois andares. Cada um dos cinco heróis desceu dele, um por um, todos com sua pose de marca registrada.

— Uau, eles estão caindo de muito alto!

— Por que está tão impressionado? Você é o Rei Demônio!

— Mas os ninjas realmente andam por aí nessas cores?

— É um show infantil. Relaxe!

A equipe do herói mostrou alguns movimentos ninjais entre o clarão e a pose, mas Maou tinha suas dúvidas sobre se um ninja em cores pastel fluorescentes seria muito bom em furtividade.

O suporte da árvore aparentemente seria reciclado para o segmento Pretty and Pure , onde forneceria a “força da mãe Terra” que as meninas precisavam para lutar.

— Droga! Esses caras podem realmente se mover! Eles deveriam, tipo, se juntar às Forças Especiais ou sei lá.

Os inimigos que esta notável equipe ninja enfrentou eram, por algum motivo, uma horda de alienígenas do espaço.

Uma salva de palmas particularmente alta surgiu entre as crianças na plateia assim que o chefe dos alienígenas entrou no palco.

— Oooh, que top! O vilão tem um fã-clube!

— Eles não estão torcendo por ele. Estão torcendo sobre como ele vai levar um chute na bunda em um segundo.

— Oh, pare de estragar a diversão, cara! Ei, Alas Ramus, de que lado você…

Tentando trazer a garota para a conversa, Maou percebeu que algo estava errado.

Alas Ramus, normalmente uma garota alegre e agitada que adorava objetos coloridos, estava olhando fixamente para o palco com os olhos vidrados, seu rosto sem expressão alguma.

— Uh… Alas Ramus?

O tom da voz de Maou fez Emi notar.

— Qual é o problema?

— Eu não sei, ela está meio distraída. Ei, o que foi, Alas Ramus? Sua barriga está doendo?

— Se… pila.

— Hein?

― Cair…

— O quê? O que foi?

Os aplausos da multidão tornaram difícil discernir Alas Ramus.

— Papai, aquela é Sepila!

— Hein? Qual é o problema?

— Todos caíram da árvore. Mamãe me pegou e fugiu. Market também se foi.

— Árvore? Market? O que você… Agh! Maou entrou em pânico.

Ele não tinha ideia do que a desencadeou, mas, do nada, lá estava — a marca da lua crescente, bem na testa de Alas Ramus.

O emblema era quase cristalino, com o mesmo tom roxo encontrado nos olhos da garota e aquela pequena mecha de seu cabelo.

— O que é… isso?

Maou inclinou o chapéu para cobri-la, mas não rápido o suficiente para que Emi não notasse.

— Você não percebeu? Essa mesma marca surgiu em sua cabeça na primeira vez que ela apareceu no meu quintal. Foi embora muito rápido, mas… Ei, Alas Ramus, fale comigo!

— Uau, não a sacuda assim! É melhor sair daqui. Hum, foi mal! Minha filha não está se sentindo muito bem…

Sem esperar pela resposta de Maou, Emi pegou Alas Ramus, navegando pela multidão animada enquanto abria caminho para fora das arquibancadas.

Ela considerou chamar um atendente, mas não havia como explicar a lua crescente em sua testa.

Jogando um olhar para trás para garantir que Maou estava logo atrás com todos os seus pertences, Emi carregou Alas Ramus, ainda olhando para o nada e resmungando algo para si mesma, enquanto procurava um lugar fresco e silencioso para descansar.

Ela tentou tocar a testa, mas não estava quente nem suando muito. Não era um caso de exaustão por calor, mas Emi não tinha ideia do que a marca que aparentemente causou tudo isso significava.

Correndo para dentro do Lagoon em busca de ar-condicionado, ela logo avistou um banco vazio. Sentou-se e gritou para Maou, que estava ficando para trás.

— Rei Demônio! Compre algo para ela beber!

— Uh, isso funciona?

Ele mostrou a ela o frasco da fórmula de reidratação oral.

— Passa pra cá!

Emi arrancou-a de sua mão e levou-a à boca de Alas Ramus.

— Traga-me outra coisa gelada também! Não para beber, mas para colocar na cabeça dela para esfriar!

— C-Certo!

Mesmo em seu estado desordenado, Maou seguiu fielmente as ordens de Emi, correndo em busca de uma máquina de venda automática.

— Ela está bem?

De repente, alguém chamou Emi, Alas Ramus ainda em suas mãos.

Olhando para cima, Emi viu uma atraente jovem parada diante dela, usando um longo vestido branco e um chapéu branco de abas largas.

Seus olhos, que pareciam absorver tudo o que viam, pousaram em Emi e Alas Ramus.

— Sim, está bem. Não acho que seja exaustão por calor, então deve estar com dor de estômago ou algo assim…

— Mamãe…?

De repente, Alas Ramus — alheia até agora à voz de Emi — voltou a prestar atenção.

Emi se iluminou quando olhou para o seu rosto.

— Estou bem aqui. Você está bem?

— Uhum…

Seu rosto não parecia corado, mas a voz indicou que não estava completamente atenta. Emi tentou esconder a testa, fingindo limpar o suor da cabeça.

— Pode me dar licença rapidinho?

Então, a garota de branco ajoelhou-se ao nível dos olhos, levando a mão acima da cabeça de Alas Ramus.

— O… o que você está fazendo?

— Sshhh. Vai ser coisa rápida.

Não havia nada de ameaçador em sua voz, mas Emi ainda ficou em silêncio conforme as instruções. No dedo anelar da garota, havia um anel incrustado com uma pequena pedra.

Por um momento, Emi percebeu que parecia brilhar de roxo ao sol. Em seguida:

— Oo… ooh?!

Do nada, Alas Ramus se levantou.

— Ngh? Ooh? Ahn? Papai?

Contorcendo-se como se acordasse de um pesadelo, Alas Ramus girou a cabeça para avaliar os arredores.

Para Emi, a maior surpresa foi que sua testa — exposta ao mundo depois que o movimento repentino tirou o chapéu de sua cabeça — voltou ao normal, a marca da lua desapareceu sem deixar rastros.

— Ah, Mamãe… wpph!

Movendo-se depressa, Emi pegou Alas Ramus, mantendo-a segura na parte traseira enquanto ela se levantava para encarar a garota de branco.

— Não há necessidade de tanta desconfiança. Não sou sua inimiga.

A garota, perfeitamente composta, afastou a saia e sorriu.

— Assim como também não sou inimiga desta criança… Você fez bem em manter Alas Ramus segura.

— …!!

Emi em momento algum pronunciou o nome dela na frente daquela garota.

— Como você sabe disso…?

A mulher sorriu de maneira serena.

— Como poderia não saber? É um nome deveras importante para mim. O coração de Emi acelerou enquanto a observava.

A conversa com Emeralda três dias atrás passou por sua mente.

Obviamente, estava indicando que conhecia Alas Ramus.

Foi essa mulher…?

Emi sentiu um calor bem diferente do calor do verão, mas a mulher sorridente passou a mostrar um olhar sério de súbito.

— Você precisa ser cuidadosa. Eles provavelmente notaram o fragmento de Yesod na testa daquela garota agora. O inimigo aparecerá em breve. O Regimento Celestial no comando de Gabriel está em movimento.

— Fragmento… de Yesod? Quem é Gabriel…? Espere. Você é…

— Ei! Emi! Eu trouxe algumas coisas!

No momento em que a extasiada Emi tentou fazer a pergunta fatídica, Maou chegou causando, trazendo uma garrafa de água e uma lata de suco.

A atenção de Emi foi distraída por apenas um momento, quando…

— Mamãe…

— …!!

A garota de branco havia sumido.

Foi completamente do nada, como se tivesse conversado com um devaneio.

— Ainda bem que havia uma parede inteira de máquinas de venda automática por perto. Aqui… Ahn? Oh, Alas Ramus acordou?

— Oi, Papai!

— Oh, uh, ei. Bem, caramba, isso acabou servindo pra nada, hein? Quer dizer, ótimo, mas… Ei, o que aconteceu, mocinha?

— Quêêêê?!

— Hm… Ah, não importa. Mas ei, Emi, o que… urphh!

— Por que você nunca consegue ver o que está acontecendo? Você nunca quer. Nunca, nunca, nunca!

— O-O quê?! O que eu fiz?! Por que tem que me dar um soco desse jeito?

— Mamãe assustadooooora!

— Ooh! Lá está! É ele ali!

— Hee-hee! Bom trabalho, Chiho! Esse é o poder do amor, hein?

— Ah, pare de brincar com isso!

— Ughh… Você deve ter um estômago muito fraco, Ashiya. Quem já ouviu falar de alguém que adoeceu com azeite de oliva? Demorou muito para te encontrar, sabia?

— M-Minhas desculpas…

Graças ao estômago de Ashiya se mostrando excessivamente sensível ao azeite do restaurante italiano em que comeram, Chiho e seus amigos perderam Maou, Emi e Alas Ramus de vista.

Não conseguindo identificá-los entre a multidão que estava saindo do show, decidiram caminhar pelo parque por um tempo. Logo, Chiho percebeu Emi por trás, Alas Ramus em suas mãos, quase arrastando Maou enquanto ela caminhava.

Eles se dirigiam para o Tokyo Eye, a enorme roda-gigante que se projetava bem acima do parque.

— Eles estão indo na roda-gigante? Emi parece que está decidida a fazer isso, mas…

— Deve ficar muito quente naquela coisa nessa época do ano.

— Ah, todas as gôndolas naquela roda-gigante têm ar-condicionado. Contanto que esteja usando protetor solar, é muito confortável.

— Q-Quanto luxo desnecessário!

Ashiya provou ser rápido em criticar qualquer uso de ar condicionado que não envolvesse sua permissão.

— Mas você tem que parar e pensar… Por que Emi está tão ansiosa para arrastar Maou para uma sala fechada suspensa no ar, hein?

— Suzuki!!

— Caramba, só estou brincando, Chiho! Menina, você pode parecer assustadora de verdade quando quer, hein?

Sabendo muito bem que Chiho tinha noção de que era uma piada, Rika estava apenas provocando.

— Bem, quer segui-los? Duvido que veremos alguma coisa, mas… O que você acha, Ashiya?

— Pode ser…

Ele acenou com a cabeça, o braço levantado, seu rosto ainda um pouco pálido.

Dado o calor intenso e o triste estado de sua dieta regular, comer uma refeição italiana suntuosa em um café ao ar livre foi o suficiente para nocautear seu estômago com um só golpe.

— Sabe, não sei o que levou vocês dois a fazer isso, mas não acho que nada de ruim esteja realmente acontecendo, hein?

A observação positiva demais de Rika, resultado de sua falta de alguns pontos pertinentes de conhecimento, fez Chiho e Ashiya trocarem olhares.

— Olá, e bem-vindos à roda-gigante Tokyo Eye…? — O atendente da bilheteria na  entrada da roda-gigante viu-se gaguejando ao ver a jovem família diante dele, uma nuvem negra de miasma sinistra flutuava sobre a cabeça deles.

Talvez sinistra não fosse o termo correto. O marido parecia assustado com a raiva fervente demonstrada por sua esposa, a filha de dois anos aparentemente sem saber de que lado ficar.

— Três!

A esposa apresentou três ingressos como um pugilista dando um soco. O atendente acenou com a cabeça com força e apontou para a frente.

— Isso! Boa tarde! Teremos o maior prazer em tirar uma foto para vocês aí mesmo! Aí você pode comprar uma cópia do seu dia especial naquele estande ali!! Sinta-se à vontade para dar uma olhada quando saírem da roda-gigante!!

Outra atendente estava parada perto da entrada da gôndola, uma grande câmera digital na mão, pronta para vender uma foto para eles pela taxa normal de um parque de diversões.

— Eu… eu realmente não preciso de uma…

— Oh, ficaremos felizes em excluí-la se não gostar, senhora! Se puder ficar logo ali… Ótimo! Okay, se o Papai puder pegar aquela garotinha fofa e ficar no meio… Perfeito! Oh, se importaria de colocar os balões dela atrás de você um pouco?

A atendente parecia estranhamente animada para esta foto de família disfuncional.

— Papai, o que é aquilo?

Os olhos de Alas Ramus fixaram-se na câmera nas mãos da funcionária.

— Hmm? Oh, é chamado de câmera. Eles vão usá-la para tirar sua foto.

— Foto?

Por mais talentosa que fosse na língua japonesa, ela ainda tinha problemas com conceitos que não existiam em Ente Isla.

— Uhh, sabe, uma foto… É uma ferramenta que pode desenhar imagens com magia. Basta ficar paradinha e olhar para aquela coisa redonda e preta que a moça está carregando.

— Ohhh!

Quer ela entendesse isso ou não, Alas Ramus olhava atentamente para as lentes enquanto sua curiosidade a dominava.

— Okay, posso pedir à mamãe para olhar para este lado, por favor?

— …

Emi estava ansiosamente virada para o lado até aquele momento. Mas, não querendo agir de forma muito contrária em torno de um estranho inocente, ela fez um esforço simbólico para reajustar sua pose.

— Beleeeeeeeza! Okay, aí vamos nós! Um, dois e… xiiiiiiiiiissss… Show de bola! Essa foi uma bela foto! Venham aqui depois, se quiserem comprá-la!

Despachados pela atendente estranhamente intensa, o trio enfim entrou na gôndola.

— Ooh. Frio.

Eles estavam esperando uma sauna dentro da cabine, mas uma lufada de ar frio emanou de trás dos encostos dos assentos, acompanhada por uma música animada de fundo. Os assentos eram duros e pareciam arquibancadas, mas era surpreendentemente confortável por dentro.

— Cuidado com esses balões, okay? Vai demorar cerca de quinze minutos para dar a volta uma vez. Não é permitido fumar, comer nem beber dentro da gôndola. Tenham uma boa viagem!

A atendente repassou rapidamente as regras básicas antes de fechar a porta.

— Ooh, já estão ligados!

Longe da atenção de Emi ou Maou, Chiho, Rika e Ashiya tinham acabado de chegar à bilheteria da roda-gigante.

— Eles já estão ficando longe! Rápido!

Empurrados por Rika, Ashiya e Chiho jogaram apressadamente dinheiro na máquina de compra de ingressos.

— Hm, com licença.

— Hein?

Alguém de repente gritou do lado de Chiho.

Virando-se, ela encontrou uma mulher mais velha, uma criança jovem o suficiente para ser sua neta ao lado dela, parecendo desamparadamente confusa com a máquina de ingressos adjacente.

— Você tem alguma ideia de como funciona esta máquina?

— Ah, claro. Primeiro, você coloca seu dinheiro aqui… Este é um painel de toque, então…

Chiho já estava bem ciente de que parte da geração mais velha ainda tinha problemas para seguir o conceito de como funcionava um painel de toque.

O slot de dinheiro nesta máquina estava a uma distância razoável do painel em si, e a tela oferecia pouco em termos de orientação, exibindo nada além de um teclado numérico simples. A facilidade de uso não foi uma prioridade neste design.

— Não acho que haja uma taxa para crianças para esta roda-gigante, então os dois vão custar isso. Então, basta apertar o número de quantos ingressos você deseja…

Chiho foi praticamente forçada a conduzir a mulher passo a passo pelo processo de compra.

Agradecendo muito, a mulher se dirigiu para a roda-gigante.

— Dahh! Ah, não!

Então Chiho percebeu. Todas essas instruções fervorosas estavam custando tempo aos três.

— Hein?

Chiho percebeu de novo. A bilheteria e a entrada da gôndola não eram tão grandes, mas Ashiya e Rika não estavam em lugar nenhum.

— Hein? Hããããã?

Ela olhou para cima, sem saber o que fazer, mas viu seus olhos encarando os de Rika enquanto esta estava do outro lado da janela da gôndola, rosto congelado com um sorriso estranho.

— Hãããããããã?

— Muito bem. Podemos conversar?

Maou, preso dentro da pequena gôndola, não encontrou como escapar do brilho das pupilas de alfinetes de Emi. Seu olhar, infiltrando-se entre os balões de hélio nas mãos de Alas Ramus, era nada menos que aterrorizante.

— Eu deveria saber desde o início que você estava agindo de forma suspeita. Por que disse que cuidaria dessa garota? Você odeia lidar com coisas irritantes como essa.

— Oh, bem, isso…

— E quando aquela coisa da lua apareceu na testa dela, você agia como se soubesse o que era, não é? Pode contar tudo! Tudo! Agora mesmo!

— Mamãe! O que é aquilo? Aquela coisa grande?

— Hm… Aquela é a Tokyo Skytree.

— Sim. É onde estão todos os transmissores de TV digital. Graças àquilo lá, o Papai tem que pagar por um conversor idiota, se quiser…

— Não mude de assunto.

A gôndola balançou ligeiramente com o forte impacto da voz de Emi.

Duas gôndolas atrás, Rika e Ashiya estavam sozinhos.

— Dehh… Se fôssemos um pouco mais rápidos, poderíamos ver o que estava acontecendo lá dentro…

Eles haviam subido com sucesso em uma gôndola, mas as cabines dificilmente eram transparentes, e conseguir uma visão clara da gôndola dois lugares à frente não era algo tão simples como parecia.

— …

Rika se sentou em frente a Ashiya, os olhos fixos ao redor de seus pés.

Chiho deve ter se envolvido em alguma coisa. Rika pensou que ela estava junto mas quando se deu conta, estava sozinha com Ashiya.

— Há algo de errado, Senhorita Suzuki?

— Agh! Hã?!

Rika, barulhenta e sociável como estava há pouco, agora tinha ficado quieta como uma concha. Até Ashiya percebeu.

— Uh, eu, um, ela, sinto muito por ter deixado Chiho, é tudo…

— Estávamos com muita pressa, não é…

A resposta forçada de Rika foi o suficiente para deixar a mente de Ashiya mais tranquila. Com um suspiro, ele se sentou pesadamente em seu assento.

— …!!

As gôndolas na roda-gigante não eram espaçosas por design. Com alguém tão alto quanto Ashiya sentado, era inevitável que eles se tocassem com os joelhos ou pernas.

O puro amor pela vida que Rika mostrou agora era, no final, algo que poderia expressar principalmente porque Chiho estava por perto para estimulá-la.

Se uma terceira pessoa estivesse lá, tocar corpos ou ficar apertada em um espaço minúsculo não era algo que a incomodava. Mas ali, sozinha com um homem em uma área fechada, era algo que nunca tinha experimentado antes em sua vida.

Ainda mais se o homem em questão fosse Ashiya.

Quando eles se conheceram há uma semana, em meio a todo o frenesi em torno de Emi e Suzuno, ela não pensava nele muito mais do que uma espécie de jovem um pouco esquisito. Nas últimas horas de atividade juntos, essa impressão só se aprofundou.

— Você está bem? Seu rosto está um pouco vermelho. Sofreu queimaduras de sol? — perguntou Ashiya.

— P-Perto demais!

— Hmm?

— Ah! Hum. Não. Tudo bem, tudo bem! Acho que esse protetor solar com certeza não funciona como anunciado, hein? Isso aí. — Rika balançou os braços em resposta, ficando o mais longe que conseguia.

Ashiya, sem prestar atenção a esse ato, começou a apreciar a vista de fora.

O atendente disse que uma volta completa da roda levaria quinze minutos, mas, para Rika, o puro constrangimento era algo que ela não fazia ideia de quanto tempo conseguiria aguentar.

Enquanto isso, Chiho, sentada em um banco na entrada da gôndola, estava pensando com uma lata de chá verde gelado com o rótulo “Yo! Tea!”.

— Então, e aí? Vai falar? Não vai?! Quer morrer?! — exigiu Emi.

— Me dê mais opções, cara! Você vai ser uma má influência para essa menina!

O ultimato do tipo “nós temos maneiras de fazer você falar” continuou na gôndola da frente.

— Quero dizer, qual é, isso importa mesmo? Não é como se eu tivesse feito alguma coisa. E não vejo problema em ser o pai da Alas Ramus, sabe?

— Talvez você não veja, mas eu sim! Não a viu?! Aquela garota de vestido branco, parada bem na minha frente? Ela falou sobre o Regimento Celestial ou coisa do tipo! Se você quer ficar do meu lado bom, é melhor contar tudo o que sabe, do começo ao fim, agora mesmo!

— Ela? Ela quem?! E desde quando eu sempre estive do seu lado bom?!

— Não estou falando de você! Estou falando dela!

Os olhos de Emi pousaram em Alas Ramus, olhando pela janela da gôndola.

Enquanto os dois observavam a garota por trás, a gôndola gradualmente alcançou o ponto mais alto da roda.

— Alguém me deu há muito tempo.

Maou suspirou, resignado com seu destino, seu rosto formava uma careta.

— Antes de eu ser o Rei Demônio… Sério, eu era apenas uma criança ranhenta. Tipo, talvez eu pudesse ter enfrentado um goblin.

Emi, percebendo que Maou enfim estava com vontade de conversar, baixou a guarda e sentou-se para ouvir.

— Naquela época… e eu estou falando muito antes de você nascer… o reino dos demônios era uma verdadeira bosta. Havia diversas tribos errantes, e bastava o contato visual para que começassem a se pegar no pau. Eu fazia parte de uma das tribos mais fracas… você poderia ter nos explodido com um dedo. E alguém o fez. Aquele demônio gigantesco e musculoso, com cérebro de amendoim, aniquilou todos nós. Ele não podia lançar nenhuma magia, mas também não precisava. A primeira e última lembrança que tenho de meus pais é de vê-los dando seu último suspiro no chão.

A narrativa pessoal começou sem aviso. Talvez tenha sido uma influência ainda pior na educação de Alas Ramus do que qualquer coisa que Maou fizera antes, mas Emi ficou em silêncio, não querendo quebrar o clima.

— Os sobreviventes foram todos massacrados em uma batalha contra outra tribo rival. Fui jogado fora como lixo com o resto deles. Eu estava à beira da morte. Mas uma pessoa se importou o suficiente com um pirralho sujo como eu para salvar minha vida.

Olhando para algum ponto distante ao longe, Maou continuou, sua voz assumindo uma pontada nostálgica.

— Foi a primeira vez que encontrei um anjo. Eu nunca tinha visto asas brancas como aquelas antes.

— Papai, o que é aquilo?

— Hmm? Ooh, você tem um bom olho, Alas Ramus! Aquilo lá se chama dirigível.

— Dirigííííível?

Alas Ramus olhou para o dirigível por um momento, boquiaberta.

— Uh, onde eu estava?

— No ponto em que um anjo salvou sua vida…

— Ah, é mesmo. De qualquer forma, eu era basicamente um idiota no nível de um goblin, então tentei enfrentá-la, embora estivesse ferido. Parando para pensar, ela devia ser um anjo de alto nível, mas de qualquer maneira, nem se preocupou em me dar bola. Não que ela tenha me matado ou algo assim. Eu ainda era um demônio, mais ou menos, então teria me curado sozinho, mas aquela desgraça ficava me checando, falando comigo sobre todos os tipos de merdas diferentes. Eu não conseguia me mover muito, então fui forçado a ouvir tudo. Ela me ensinou muitas coisas que eu não sabia.

Emi estava surpresa.

Já que ele passou a se chamar de Rei Demônio Satan, ela esperava que tivesse nascido assim, parte de uma linhagem prestigiosa de demônios nobres — assumindo que tal coisa existia lá.

— Então demorou muito para curar, eu acho. Afinal, eu estava bastante machucado. E, depois de um tempo, enfim percebi que esse anjo não iria me matar. Ela continuou falando comigo, por mais que eu odiasse, comecei a aprender muito. Mas quanto mais eu a ouvia falar, mais eu percebia que não existia nenhuma maneira de os anjos estarem ajudando os demônios. Então eu perguntei a ela: “Por que você está me ajudando?”

— E…?

— Não ria, beleza…? Se rir, não vou dizer mais nada.

Por razões que só ele sabia, Maou desviou os olhos, envergonhado.

— Ela disse que é porque eu estava chorando.

— Hein?

— Ela disse que nunca viu um demônio chorando antes, então simplesmente não podia me deixar sozinho.

Era difícil para Emi imaginar um demônio chorando, seja qual fosse o motivo.

Isso a fez perceber pela primeira vez quão pouco ela realmente sabia sobre a variedade de espécies que seus compatriotas humanos chamavam de “demônios”.

— Que motivo você teve para chorar?

Maou estremeceu com a pergunta. Mas, percebendo que ela não queria zombar dele, ele continuou, resignado:

— Bem, um monte de coisas. Como eu disse, não me importava muito em perder meus pais ou as pessoas ao meu redor. Se eu tivesse que colocar em palavras… Acho que só estava chateado. Irritado com o quão fraco eu era. Irritado com o quão injusto era apenas morrer sem nem mesmo choramingar.

Os olhos de Maou ainda estavam desviados dos de Emi, um efeito colateral de recontar essas memórias amargas.

— Mas, de qualquer maneira, esse anjo cuidou de mim até que eu me curar, e me ensinou muitas coisas também. Foi a primeira vez que aprendi que existia o mundo humano.

— …!!

Maou havia ignorado isso, mas, para Emi, esta foi uma revelação chocante.

Foi um anjo a causa que levou à invasão do Rei Demônio a Ente Isla?

Não havia nenhuma evidência conclusiva por trás de qualquer coisa que Maou disse, é claro. Mas se ele não estava mentindo, esse fato tinha o potencial de abalar o cerne da pouca paz a que o mundo de Emi se agarrava.

— E essa garota… ou o cristal que ela costumava ser, pelo menos… Ela deixou comigo no dia em que foi embora. Era um lindo cristal violeta, em forma de lua crescente.

— Não! Estou olhando.

Alas Ramus gritou em protesto quando Maou a ergueu.

Nada estava em sua testa no momento, mas aquela marca em forma de meia-lua deve ter simbolizado sua forma de cristal original.

— S”e você quiser aprender mais sobre o mundo, pegue esta semente. Plante-a e deixe-a crescer. Então, você irá longe, Satan, meu Soberano Demônio”.

— O quê?

— Isso é o que ela escreveu no bilhete que deixou. Alfabetização também… esse foi outro presente que ela me deu. Uma forma revolucionária de transmitir informações, que não envolvia violência ou tagarelice enlouquecida, para variar. Então, vou encobrir os próximos duzentos anos de conquista gloriosa, quando peguei a ralé demoníaca e a forjei em uma civilização adequada, mas não havia como isso acontecer sem o conhecimento que ela me deu. Então é por isso que plantei aquela semente em forma de meia-lua. Achei que me beneficiaria, mais cedo ou mais tarde, mesmo que não soubesse exatamente o que era. Então, quando plantei este cristal por ordem daquele anjo, veja só, ele acabou mesmo virando uma árvore. Foi meio que uma decepção, sabe?

Agora os olhos de Maou estavam focados em um ponto não tão antigo de sua vida. O Castelo Demoníaco, o original, símbolo da transformação que ele projetou nos reinos dos demônios, construído nas ruínas de Isla Centurum, no centro das terras de Ente Isla.

O Rei Demônio, ao colocar os pés em um mundo que não era o seu pela primeira vez, plantou o cristal roxo em forma de lua em seu solo, antecipando que ele germinaria como um prenúncio do futuro.

Ele o cultivou dentro de um vaso colocado bem no fundo de sua câmara pessoal, totalmente exposto à luz do sol, em uma área à qual ninguém além dele tinha permissão para acessar.

— Quer dizer, não é como se eu tivesse sido ensinado e treinado desde o nascimento para ser o Rei Demônio. Naquela época, nos reinos dos demônios, pessoas com o nome Satan eram como formigas, bastava chutar uma pedra e um monte aparecia. Fomos ensinados que era o nome de algum grande soberano demoníaco, alguém que viveu em uma era anterior à lenda, blá, blá, blá. É realmente um milagre que qualquer tipo de lenda existisse naquele lixão antes de eu aparecer. Não tenho ideia do porquê aquele anjo me chamou de “Soberano Demônio”, mas acho que foi aí que comecei. Com ela. —

Maou deu um tapinha na cabeça de Alas Ramus, mas a garota escapou de sua mão, colando-se contra a janela da gôndola.

— Mas, de qualquer maneira, foi isso aí. Com relação ao papel que tive ao pegar aquele cristal e transformá-lo em Alas Ramus, acho que pode me considerar o pai dela.

— Então, esse anjo seria sua verdadeira…?

— Faria sentido, não acha? Mas era apenas este cristal simples quando ela o deu para mim, então… Não sei se você realmente chamaria isso de embrião e tal.

Emi, suando frio ao sentir o pulso acelerar e uma premonição sinistra pairar sobre sua mente, fez a pergunta óbvia:

— Quem era?

Laila havia desaparecido de vista de Emeralda. A mulher de branco sabia o nome de Alas Ramus. O cristal que produziu Alas Ramus foi presenteado ao Rei Demônio por um anjo. Essa menina agora via Emi como sua mãe.

Não podia ser.

Uma gigantesca tempestade de antecipação, premonição e ansiedade percorreu o coração de Emi.

— Ninguém que você conhece.

A tempestade se dissipou em uma garoa leve.

— Você não está tentando escondê-la de mim, está?

— Nem, mas não acho que ela seja tão famosa. Ela não apareceu em nenhum dos trechos sagrados da Igreja ou coisa assim. Ei, mas você pode me dizer por que Alas Ramus voltou ao normal agora? Você sabe de algo, certo?

Emi achou a imprecisão repentina de Maou inescrutável. Mas ela respondeu mesmo assim, raciocinando que já havia aprendido o suficiente sobre o passado de Maou por hoje.

— Ela foi curada por uma garota toda vestida de branco. Ela colocou a mão acima dela, e isso foi tudo o que precisou.

— Eita, o que rolou aí? Algum tipo de negócio Nova Era? — Maou não devia ter visto a mulher.

Emi pressionou:

— Não! Ela estava lá quando você voltou! Você não a viu?! Foi tipo, eu acho que o anel dela brilhou um pouco, e então Alas Ramus estava acordada de novo! Como se estivesse apenas tendo um sonho ou algo assim!

— Eu não vi ninguém! Que tipo de anel?

— Apenas um anel simples e antigo. Acho que tinha uma pedra roxa, mas…

— Isso definitivamente não é simples ou antigo.

Esses lapsos mentais ocasionais da parte de Emi foram suficientes para fazer Maou gritar.

— Você notou mais alguma coisa?

— Bem, não tive muito tempo antes que um idiota chegasse gritando comigo como um louco.

— Qual é…

— Oh, e ela disse algo sobre o Regimento Celestial, e algo sobre um… fragmento de Yesod? Acho que foi isso… ei!

Maou instintivamente acertou um golpe de caratê na cabeça adornada com chapéu de Emi.

— Po… por que você fez isso?! Eu vou te matar!!

Emi rapidamente ficou ansiosa para intensificar o conflito. Maou se manteve na ofensiva.

— Tipo, tem certeza que você é uma cavaleira da Igreja? Sério! Os jovens hoje em dia são tão estúpidos! Pelo menos tente aprender algo para variar! — berrou Maou enquanto segurava a cabeça entre as mãos, curvando-se em angústia mental. — Yesod… Yesod?! Isso não, droga! Caramba, de todas as coisas que aquela praga poderia ter empurrado para mim… Então aquela coisa antes também…!

— O… o quê? O que você está falando agora?

— Cara, quando chegarmos em casa, Suzuno vai te chamar de idiota.

— Hãã?

— Olha, a palavra Yesod não significa nada para…

— Queeeeee, Papaaaai?

Alas Ramus, a atenção voltada para fora da janela até agora, de repente reagiu a Maou e sua palavra-chave Yesod.

— Hã?

Emi fez uma pausa, confusa sobre o significado daquilo. Maou se abaixou ao nível de Alas Ramus, seu rosto em algum lugar entre a convicção e o desespero.

— Alas Ramus, ouça…

— Sim, Papai!

— O que é aquilo?

Maou apontou para um balão vermelho. A garota respondeu imediatamente.

— Gebba.

— E aquilo?

Em seguida, apontou para um balão amarelo-escuro, quase laranja.

— Tiparuh.

— E que tal este amarelo brilhante?

— Market. Eu gosto dele!

— E o branco?

— Ketter.

— O… o que ela está falando…?

Emi piscou em confusão diante dos termos desconhecidos.

— Está bem, e que tal isto?

Maou pegou um balão roxo do monte.

— Eu! Yeffod.

— Oooh, boa menina. Você já conhece tudo isso.

— Ooooh! Hee-hee.

A gôndola estava chegando ao fim de sua jornada. Emi semicerrou os olhos para o sol do oeste iluminando o estádio Big-Egg.

— Eu realmente não sei por quê…, mas tenho a sensação de que Alas Ramus é algo muito além de um demônio. Ou um anjo.

— Hein?

— Gevurah, Hod, Malkuth, Keter e então Yesod. Cada um é o nome de uma Sephirah, as joias formadoras de mundo que crescem na árvore de Sephirot. Eu acho… que Alas Ramus pode ser a personificação da Yesod Sephirah.

Chiho, esperando no banco enquanto as gôndolas de Maou e Ashiya giravam lentamente, estava mergulhando em aversão contra si mesma.

Sozinha, capaz de avaliar a situação com mais calma, ela agora percebeu que não estava em posição de criticar o hábito estressante de Rika.

Ela fingiu que tudo isso era por uma causa justa, oferecendo-se para emprestar seu telefone celular para Ashiya caso algo acontecesse com Maou. Mas, como ela agora admitia para si mesma, tudo o que estava fazendo era remoer seu ciúme pelo relacionamento de pseudo-casamento de Maou com Emi.

— Maou disse que acreditava em mim e tudo mais…

Ter essa confiança quebrada pela própria Chiho era algo que ela não podia ousar admitir para Maou ou Emi.

Enquanto se concentrava no assunto, uma profunda e impotente sensação de vergonha a envolveu.

— Maou… Sinto muito.

Tomada por ondas de ansiedade e ciúme, ela fez a única coisa que nunca deveria ter feito. Chiho se levantou e desceu as escadas, sem se preocupar em esperar por Ashiya e Rika.

Pouco depois de ela ter partido, a gôndola com Maou, Emi e Alas Ramus desceu.

— Ufa… Com certeza está quente, hein?

— Mmmph!

Maou e Alas Ramus estremeceram com a rajada de ar quente que os esperava do lado de fora.

Emi, estranhamente silenciosa, foi a última a sair.

— Muito obrigado! Temos sua foto aqui, se quiser! — Voltando-se para a voz, Maou foi saudado com uma impressão da foto que eles haviam tirado com relutância, completa com montagem comemorativa especial.

— Oooooooo!!

— Ugh…, estou horrível.

Os olhos de Alas Ramus brilharam quando ela se viu na foto. Emi, entretanto, estremeceu. Seu rosto na foto parecia que ela tinha acabado de engolir uma vespa.

— Você pode ter esta foto, junto com uma montagem especial em que pode escrever uma mensagem personalizada, por mil ienes. Podemos fazer cópias também!

— Espere, não é grátis?

Maou deixou escapar sua reação honesta. Emi deu um tapa na nuca dele.

— Hmm… Mil, hein…?

— Papai! Papai, olha! Olha só!

Alas Ramus claramente queria a foto. Mas considerando o custo do papel fotográfico, tinta da impressora e a montagem, estava bem claro qual lado dessa troca estava lucrando mais com isso.

— Vamos levar apenas uma, por favor.

Para a surpresa de Maou, foi Emi quem tomou a decisão repentina. Tirando uma nota de mil ienes da carteira, ela pegou a foto e a passou para Alas Ramus.

— Ebaaaa!

Abrindo a montagem dupla, Alas Ramus exclamou sua alegria ao ver a si mesma, o vagamente meio sorridente Maou e a aborrecida Emi.

— E-Espera, tem certeza?

— São apenas mil ienes. Você não precisa agir de maneira tão mesquinha o tempo todo. Esta é a primeira foto dela, não é?

— Bem, acho que sim, mas…

— E deixe-me apenas avisá-lo! Da próxima vez que Eme e Al vierem aqui, não mostre a eles! Isso colocaria minha posição com eles em jogo, entendeu?

— Oh, então está tudo bem com Ashiya, Chi, Suzuno e assim por diante?

— É meio tarde para eles, ok? Mas não se atreva a mostrar a Lucifer!

— Você está sendo tão idiota.

Rindo sobre as exigências reconhecidamente idiotas de Emi, Maou se agachou para olhar para Alas Ramus.

— Okay, Alas Ramus, diga “obrigada” para a mamãe.

— ‘Brigada, Mamãe!!

O rosto de Emi ficou vermelho com o grito infantil, alto o suficiente para fazer todos na área de embarcação da gôndola se virarem.

— Eu… estou apenas fazendo o que qualquer mãe faria! Não é minha culpa que o pai dela seja um vagabundo inútil!

Era difícil saber por que ela estava inventando desculpas. Talvez apenas quisesse deixar claro que seu gesto por Alas Ramus não tinha nada a ver com sentir pena de Maou.

— Q-Qual é! Vamos indo!

Maou e Alas Ramus caminhavam atrás de Emi enquanto ela descia as escadas, o rosto virado. Então ele parou.

— Espere, Emi. Eu recebi um telefonema.

— Hein? Eh, eu também! Espere aqui um segundo, certo, Alas Ramus?

Os dois receberam uma chamada ao mesmo tempo… Urushihara para Maou, Suzuno para Emi.

— N-Nós os perdemos?!

Ashiya ficou exasperado ao descobrir que a área de embarque da gôndola estava deserta. Eles estavam sentados apenas duas gôndolas atrás, então não deveriam estar separados por mais de um ou dois minutos.

Descendo as escadas, Ashiya examinou a área comercial à sua frente. Maou e Emi ainda não estavam em lugar nenhum.

— Eu… eu me pergunto onde Chiho poderia ter ido também.

Rika, apesar de passar os últimos quinze minutos dentro de uma gôndola com ar-condicionado, estava com o rosto extremamente vermelho.

— Talvez Chiho tenha decidido persegui-los… O que devemos fazer, Ashiya?

Esta era uma notícia deveras ruim. Se Chiho não encontrasse o casal errante logo, Rika teria que ficar junto com Ashiya, sozinha, por ainda mais tempo!

— Eu… não tenho certeza do que podemos fazer. Não temos como entrar em contato com ela.

— Hein?

— Infelizmente não tenho meu próprio telefone celular.

— O quê? Sério?!

Libertada de sua prisão com ar-condicionado, Rika estava aos poucos voltando ao seu estado normal.

— Eu tinha planejado pegar emprestado o telefone da Senhorita Sasaki se algo desagradável acontecesse…, mas agora…

Era quase noite, mas o parque ainda estava bastante lotado, demais para tornar a busca por Maou e Emi uma opção prática.

— Bem, que seja. Isso é meio que forçar mais do que eu gostaria, mas…

Rika pegou seu próprio celular e buscou o número de Emi.

— Uh, ei, Emi?

Ashiya estava prestes a gritar em resposta ao ato descarado de imprudência de Rika, mas ficou em silêncio quando Rika colocou o dedo indicador na frente dos lábios dele em uma clássica pose de “cale a boca”.

— Hmm? Oh, não, nada muito importante… Eu só estava me perguntando se o seu encontro com Maou estava indo bem e tal… Ha-ha-ha! Ah, desculpa, desculpa. Eu sei, é pelo bem da criança e tal. Não estou ligando em um momento ruim, estou? Você está prestes a comer ou… Hein?

Rika, tentando descobrir a localização de Emi sob o pretexto de sua brincadeira trivial, não esperava a resposta que Emi deu.

— Você vai voltar para casa agora?”

— O quê?

Isso surpreendeu Ashiya. Rika tentou esconder sua própria surpresa o melhor que pôde.

— Ohh, entendi. A criança já deve ter enchido as fraldas, hein? Sim. Bem, pelo menos ela se divertiu muito hoje, certo? Okay, desculpe interrompê-la no caminho para a estação e tal! Tenha uma boa viagem!

— Bem, isso explica tudo.

Rika desligou seu telefone enquanto se virava para Ashiya.

— Eles foram embora… Ugghh! Isso não é divertido.

— Nesse caso, há pouca razão para permanecer aqui. Você acha que a Senhorita Sasaki também pode ter ido embora?

— Não tenho certeza, mas eu acho que foi meio maldoso, hein? Deixando-a lá embaixo e tal. Ei, da próxima vez que você a ver, importa-se em dizer a ela que sinto muito?

— Não, de forma alguma. Nesse caso, é melhor eu me apressar. Agradeço a sua ajuda hoje.

— Oh… E-Ei! Espere um segundo.

Rika parou Ashiya quando ele estava prestes a sair correndo em busca de Maou.

— Hm… Então… uh. Ah, sim! Aqui…

Remexendo em sua bolsa, Rika finalmente pegou um caderno, arrancando uma página dele e anotando algo antes de entregá-la a Ashiya.

— Este é… seu número?

— É meu… uh…

— Seu?

Ashiya examinou os dígitos no papel.

— Bem, sabe, da próxima vez que algo surgir… eu poderia, tipo, talvez ajudar vocês… ou algo assim?

Nem mesmo Rika tinha uma imagem clara de que tipo de coisa ela estava se referindo. Mas se ela não dissesse algo, não haveria como resistir à atmosfera opressiva em sua mente por mais tempo.

— Entendo… Bem, certamente, posso solicitar seus serviços de novo em algum momento no futuro.

— Hein…?

Seu pedido não poderia ter sido mais estranho, mas Ashiya acenou com a cabeça, completamente convencido por isso.

— Como mencionei, ainda não comprei meu próprio celular, então, se precisar de algo, posso usar o do Maou para…

Ashiya parou naquele ponto, balançando a cabeça enquanto se lembrava de algo. O celular de Maou servia como o principal elo do Castelo Demoníaco com o mundo exterior, mas ele percebeu que dar os dígitos de seu mestre supremo a um meio conhecido com quem andara na roda-gigante talvez não fosse a melhor coisa.

— No entanto… eu sinto, talvez, que aprendi algo hoje. Isso pode sobrecarregar nossas finanças, sim, mas talvez tenha chegado a hora de eu ter meu próprio celular. Você tem algum conselho de compra?

O rosto de Rika instantaneamente ficou vermelho brilhante.

— Eu entendo que você trabalha para a mesma companhia telefônica que Yusa. Não posso dizer que compraria um dispositivo de sua empresa ou não, mas se você tiver tempo livre, gostaria muito de receber alguma orientação quando fizer minha escolha.

— Uh… Claro! Sim, me ligue a qualquer hora!

Rika acenou com a cabeça ansiosamente, quase ficando na ponta dos pés para deixar claro.

— Muito obrigado. Nesse caso, com certeza entrarei em contato com você em breve… de um telefone público, imagino.

— Tudo bem…

— É melhor eu ir embora, então.

Com uma leve reverência, Ashiya se virou e saiu correndo em direção à estação ferroviária Korakuen.

— Sem chances… Oh, cara, o que estou fazendo…? Isso é doideira total!

Rika, entretanto, permaneceu enraizada no local até que Ashiya não estivesse mais visível.

— O que vou fazer agora… O que vou fazer agora… O que vou fazer agora?!

Depois de mais alguns instantes, ela começou a andar cambaleante na direção oposta, em direção à estação de Suidoubashi.

 


 

Tradução: Taiyō

 

Revisão: Sonny Nascimento (Gifara)

 

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