— Ugh, não aguento mais.
De volta em casa, Emi desabou na entrada do apartamento, sem nem mesmo se incomodar em tirar o calçado.
Alas Ramus era uma menina bonita e fofinha, como qualquer outro bebê da sua idade seria. Mas, pensando melhor, ela ainda era uma total estranha, uma com a qual não deveria ter ligação pessoal alguma.
— É demais para eu lidar…
Ela resmungou para si mesma enquanto pegava a bolsa que havia jogado para longe, sentando-se no degrau da entrada para tirar as tiras da sandália.
— Por que estou agindo como uma bocó?! Só estou agindo como a mãe de mentirinha da Alas Ramus. Não é como se eu e ele fossemos um c-c-ca-casal…
Mesmo quando falando consigo mesma, a palavra se mostrava diabolicamente difícil de ser dita.
— Não! Sem chance, nem ferrando, nunca!
Com uma última exclamação em sua forte defesa contra ninguém em particular, Emi baixou a cabeça, tirando o cabelo do pescoço coberto de suor e da testa.
— Talvez… eu devesse ir ao cabeleireiro uma hora dessas…
Justo quando disse isso, o celular dentro de sua bolsa começou a tocar a música tema do Shogun Maníaco.
Voltando a si de repente, procurou apressada pela bolsa e atendeu à ligação.
— A-Alô?!
— Oh, alôôôôô? Aqui éé a Emeraaaaalda.
— Hã? Eme?! E-Eu não estou ansiosa por isso nem nada, beleza?!
— Do que você está falaaaaaando? Oh, será que você está no trabaaaaalho ainda?
Emeralda Etuva, companheira de viagem de Emi em Ente Isla, deu uma resposta confusa diante da desculpa agitada de Emi.
— Oh, hm, não, não é… não é isso, está tudo bem. Tudo perfeitamente bem.
— Oh? Enfim, tudo beeeeem, então. Maaaaas você ainda parece bastante agitada.
Por trás do seu discurso tranquilo, Emeralda conseguia ser uma mulher surpreendentemente perceptiva. Seria necessário ter um certo nível de astúcia para manter uma posição elevada como a dela na maior nação da Ilha do Oeste de Ente Isla.
— Só liguei porque estou ficando um pouco preocupaaaada.
— Preocupada? E-Eu estou trabalhando, beleza?! Não me esqueci das obrigações como Heroína nem nada!
Apesar das suas boas intenções, tudo que Emi disse soava apenas como desculpas.
— Oh… ótimooooo. Que grande alívio.
— Hein?
— Um passarinho me contou que a Igreja está tramando algo ruiiiiim, por isso eu não queria que algo de ruim lhe acontecesseeeee, Emilia.
“Passarinho” talvez fosse a forma com a qual ela se referia aos seus espiões. E “algo ruim” podia ter alguma relação com Suzuno.
— Oh? Bem, eu não me preocuparia. Tem alguém da Igreja aqui que fez contato comigo, disso eu sei. Mas ela não é como Olba, já que sabe ouvir a razão.
Emi deu um rápido resumo a Emeralda sobre os últimos acontecimentos referentes a Suzuno e Sariel.
No começo, Emeralda ficou desconfiada perante a ideia de um oficial de alto escalão da Igreja entrar em contato com Emi, mas nem mesmo ela achava que todo mundo da Igreja era mal de verdade. O resumo de Emi sobre como ela apareceu em cena e seu papel na batalha que ocorreu parecia ter deixado sua amiga mais tranquila.
— Você faz isso parecer como se não fosse algo especial, Emilia, mas me parece terrivelmente perigooooso, não acha? Esse anjo ainda está aí com vocês, sim?
— Bem, sim, mas… Também temos alguns aliados fortes aqui no Japão, por assim dizer. Não acho que vamos precisar nos preocupar muito com ele por enquanto.
Ela se referia, é claro, à opressora tirânica e charmosa que gerenciava o MgRonald próximo à estação de Hatagaya.
— Claro, ainda não sei por que estavam tão fixados em retirar a espada sagrada de mim naquela época.
— Hmm… E, parando para pensaaaaar nisso, nunca pensamos muito sobre as oriiiiigens da espada. A Igreeeeja diz que foi dada a nós pelos céus há muitas eras, mas essa é apenas a históóóória deles, hmm? É melhor eu pesquisar mais sobre o assunto aqui do meeeeeeu lado.
— Valeu. Tente não exagerar, né? Tenho certeza de que você também tem que pensar no seu trabalho no governo. E como está indo o esforço de reconstrução?
— Ooooh, é melhor nem perguntaaaaar. É capaz de eu choramiiiingar para você durante o dia todo.
Mesmo antes da chegada do Rei Demônio, as cinco grandes ilhas que formavam a terra de Ente Isla não tinham uma relação harmoniosa entre si. Hoje, com o Continente Central deixando de ser um local de comércio e assuntos culturais, pode-se imaginar toda luta política ocorrendo entre as nações enquanto cada uma batalha para se tornar a próxima Isla Centurum.
— Mas fico admiraaaada em saber que Crestia Bell, inquisidora temida como “Foice da Morte”, é uma mulheeeer pequenininha e acanhada! Se acha que pode confiar nela como se fosse uma aliada, isso é uma notícia maravilhooooosa.
A voz de Emeralda ficou mais alta quando decidiu sair dos assuntos mais sombrios.
— Quando se trata de ser “pequenininha e acanhada”, diria que você ainda sai vitoriosa, Emeralda.
— Siiim, bem, quando ando pelo castelo, os guardas costumam me confuuuundir com uma criancinha perdida.
Emeralda, tão compacta e de rostinho de bebê quanto Suzuno, parecia não ter aquele ar de dignidade que normalmente seria presente em seu papel como alquimista da corte do Império de Santo Aile, que estava posicionado de maneira estratégica dentro da Ilha do Oeste.
— Então, era só isso que queria me avisar?
— Ah, sim! Tem iiiiisso, de fato, mas também tenho uma pergunta a lhe fazeeeer. Laila apareceu por aí?
— Hã?
Emi foi pega de surpresa por aquela mudança repentina de assunto.
— Ela disse que estava indo ao mercado que fica fora do castelo um tempo atrás, mas não é vista desde entãããão. Sei que ela não tinha muita liberdade para viajar por aíííí, por isso imaginei que, caso fosse para algum lugar, seria até você, por issooooo…
— Bem, tipo, mesmo que tivesse o feito, nem faço ideia de como a minha mãe se parece… Mas, espera aí, você estava morando com ela?
— Moooorando, ou melhor dizendo… Oooh, não queria usar esse termo com você, Emilia, mas talvez você diria “caindo” aqui em casa?
— Oh… Oh.
Emi não conseguiu pensar em outra reação.
— Bem, enfim, não teve ninguém mais além do Sariel e da Crestia, e… Agh.
Sua voz subiu vários oitavos no meio da frase.
— Hm, ouça, hm, não sei se isso tem alguma relação, mas…
Não fazia sentido esconder aquilo. Emi decidiu seguir em frente, revelando tudo que sabia sobre Alas Ramus enquanto tentava esconder quem a garota achava que eram seus pais.
— Uma garotiiiiinha em forma de maçã? Nunca ouvi falar de uma pessoa assim, nem de demôôônio, também não detectamos nenhum Portaaaaal grande aqui, na Ilha do Oeste, sendo aberto recentemente, a não ser pelo da Crestia Bell.
— Não mesmo? Hmm… Pode ser.
Ente Isla era um lugar grande. Havia diversos alquimistas capazes de produzir um Portal. Emeralda era uma burocrata das grandes de um país poderoso, mas não era omnisciente.
— Bem, sinto muito, mas não tenho muitas informações também. Acho que talvez tenha alguma relação com Laila, mas pode ser só exagero meu. Vou manter meus olhos abertos, não que eu seja capaz de fazer muita coisa a essa altura.
— Oh, não, não, não. Ela sempre foi um espíííííírito livre, então pode acabar vindo bater à minha porta hojeeee, até. Só queria que você soubeeeesse. E verei o que posso reunir de informação sobre essa criança sem que atraia muita suspeeeeeita. Tchauzinhooooo!
— Oh, espere, Eme…!
Com isso, Emeralda terminou a ligação. Alas Ramus era uma coisa, mas Emi nunca tinha visto Laila em sua vida. Mesmo que se importasse, não havia quase nada que pudesse seguir. Preocupação em excesso com ela não fazia sentido.
— Oh, que seja, eu acho. Ela não pode ser tão perigosa assim, já que é a minha mãe.
Emi enfim retirou as sandálias e saiu da entrada.
Depois de ligar o ar condicionado e a TV ao mesmo tempo, jogou-se em uma cadeira.
— Pois é… Seria uma boa ir ao cabeleireiro. Não quero aparecer toda suada e exausta na frente dele.
Ela remexeu o cabelo com uma mão enquanto murmurava para si mesma.
Na TV estava passando uma propaganda de alguns eventos que aconteciam na Tokyo Big-Egg Town.
Era um show tipo aqueles filmes do domingo de manhã para garotos e uma série de uma “heroína se transformando em garota mágica” para as garotas.
Os quatro dias seguintes passaram sem problemas. Todo mundo estava preparado para algo inesperado acontecer com Alas Ramus, mas as coisas continuaram normais, para a surpresa de todos.
Nem mesmo Emi recebeu informações nem contato da “fonte” para a qual vazara sua situação atual.
As únicas mudanças visíveis eram que Urushihara começou a levar os seus pratos até a pia para serem lavados — aparentemente, ter sua higiene comparada de maneira desfavorável à de uma garota de dois anos enfim causou certo efeito nele — e todo mundo no Castelo Demoníaco tinha melhorado em lidar com o processo de troca de fralda.
Era irresponsabilidade para o grupo pensar que amanhã seria um dia tão tranquilo quanto hoje, mas a combinação de limpeza de bumbum e afazeres do trabalho não lhes dava tempo para pensar no futuro.
Tinham que encontrar uma rotina que não os complicasse demais, ou as responsabilidades duplas iriam deixá-los sem vida.
Isso não se aplicava tanto à vizinha, Suzuno, mas nem mesmo ela tinha tempo para ajudar em cada pequeno detalhe.
Mesmo assim, entretanto, quatro dias passaram sem grandes problemas para todo mundo envolvido, e a manhã de domingo enfim chegou para todos.
Naquele dia, Maou e Ashiya foram acordados por Alas Ramus às sete horas da manhã. Ela lembrou que era o dia do grande encontro deles com a Mamãe, é claro.
Os demônios concordaram com relutância em encontrar Emi por volta da uma da tarde, na frente da estação de metrô de Korakuen do Metrô de Tóquio. Emi, mesmo tendo tentado, não conseguiu sair do trabalho na hora certa pela manhã.
O trabalho de Maou entre este e o dia em que concordaram em visitar a Tokyo Big-Egg Town passou longe de ser uma pequena punição.
De acordo com o testemunho de Chiho, ele era uma máquina imparável do começo ao fim, atendendo a cada dever do MgRonald como se fosse um homem possuído.
Estava disposto a lutar com unhas e dentes por cada iene em que conseguisse colocar as mãos. Os salários por hora de gerente assistente do MgRonald não eram algo a se gabar, mas ainda eram algo.
Isso significava menos tempo com Alas Ramus, mas Ashiya e Suzuno fizeram rodízio para levá-la em passeios até o MgRonald, certificando-se, assim, que estivesse sempre de bom humor.
Emi, enquanto isso, passou boa parte do tempo fora de cena. Sua única interação com o bebê foi pelo telefone, apenas uma vez, quando ligou para Suzuno.
Era engraçado ela saber que era a Emi apenas pela voz, mas, de certa forma, a ideia de que um telefone não pareceu a surpreender era ainda mais engraçada. Talvez ainda fosse jovem demais para se preocupar com um.
Ainda eram apenas nove horas quando terminaram de tomar o café da manhã.
— Papaaaaai, já podemos ir? Podemos?
Alas Ramus não conseguia mais esperar um segundo sequer, constantemente puxando o braço de Maou, que negava de leve toda vez, mas, de repente, ele bateu no joelho ao perceber algo.
— Ah, pois é. Cara, estive trabalhando tão duro nos últimos dias que até esqueci. Ei, Ashiya, vou dar uma saída rápida.
— Vossa Alteza Demoníaca, aonde vai?
— Até a casa do Seu Hirose. Tenho que conversar com ele sobre a minha bicicleta.
Dullahan II ainda era praticamente nova; não fazia nem uma semana que Maou fez Suzuno a comprar. O que ele teria para conversar com o vendedor?
— Sobre essa mocinha aqui.
— Oo?
Alas Ramus inclinou a cabeça para cima enquanto Maou fazia carinho nela.
Logo, para que Maou pudesse levar Alas Ramus junto, os dois estavam caminhando de mãos dadas, aproveitando a manhã de Sasazuka.
A persiana tinha acabado de ser erguida na frente da Loja de Bicicletas do Hirose no centro comercial da Rua Bosatsu, quando eles chegaram.
— Seu Hirose!
— Hmm? Ohh, bom dia, Maou! O que… foi?
Hirose ainda tirava as teias de aranha da cabeça àquela hora da manhã. Ver o que Maou trazia na mão foi como jogar água em seu rosto.
— Ei, uh, tem como colocar cestas de bagagem e coisa do tipo na bicicleta que me vendeu há uns tempos, né?
— S-Sim, mas… você não…
— Wahbf!
Maou pegou Alas Ramus, achando graça da resposta trêmula de Hirose.
— Tem algum assento que sirva para uma menininha desse tamanho aqui?
Eles passaram um tempo procurando pelas cestas de criança com o Hirose em choque antes de voltarem para casa.
— Cara, isso foi refrescante. A resposta dele não chegou nem perto do que eu imaginava.
Na frente do pátio, ainda não completamente iluminado pelo sol da manhã, Maou passou mais um tempinho fixando o assento infantil de cinco mil ienes no guidão da Dullahan II.
— Foi terrivelmente desleal de sua parte, Vossa Alteza Demoníaca. E se isso levar a rumores desagradáveis pela vizinhança?
— Oh, não tem problema. Eu disse para ele que só estava cuidando dela para alguns parentes.
Ashiya ainda enrugou o rosto, desagradado. Maou não deu bola.
— Meu… soberano, posso fazer uma pergunta?
— Hm?
— Pode não fazer muito sentido perguntar agora, mas o que o fez decidir cuidar da Alas Ramus?
— Não gostou?
— Não… não é isso, Vossa Alteza Demoníaca, mas eu só pensei que deixá-la aos cuidados da Crestia teria apresentado problemas menores a qualquer um…
— Sim, bem, acho que é mais você, Suzuno e Chi que estão cuidando dela mesmo, hein? Foi mal por isso.
— Não, não, não é nada…
— Sabe, eu acabei de pensar que, caso algo ruim de fato acontecer, é melhor eu assumir a responsabilidade por isso. Não temos que prova de nada, e eu tenho certeza de que não lembro de nada sobre ela, mas…
Maou juntou o restante do plástico e a chave L hexagonal que vinha junto com o assento.
— Mas, sabe, fiquei um pouco preocupado.
Ele tocou na testa diversas vezes antes de voltar ao seu apartamento, deixando Ashiya, confuso, para trás.
O olhar de Ashiya mudou do apartamento no segundo andar para o novo assento infantil amarelo e brilhante na bicicleta. Logo depois, balançou a cabeça e seguiu o seu líder para dentro da casa.
— Vossa Alteza Demoníaca, por favor, por favor mesmo, tome cuidado lá! Você está lidando com a Heroína, e não se sabe quando ou onde ela pode atacar!
Ashiya certificou-se de dar um aviso sério a Maou antes de ele sair. No reino dos demônios, esses papéis normalmente eram inversos.
— Calma. Se as coisas se complicarem tanto assim, vou correndo até os seguranças, beleza? Independentemente do que aconteça comigo, vou me certificar de que Alas Ramus estará segura.
Com essas palavras, as quais não fizeram nada para ajudar Ashiya a se “acalmar”, Maou deixou o Castelo Demoníaco para trás.
Se Maou fosse o mesmo que costumava ser, decerto teria ido a pé até Shinjuku, uma estação de distância de Sasazuka, para economizar 120 ienes no caminho até o JR Suidobashi, a estação de trem mais próxima da Tokyo Big-Egg Town. Mas não podia fazer isso enquanto acompanhava uma criança. Seria muito mais seguro embarcar na Nova Linha Keio a partir da estação de Sasazuka, descer na Linha Toei-Shinjuku, passar para a Linha Namboku, então descer na estação de Korakuen do Metrô de Tóquio… a saída de estação mais próxima do parque.
Teve que se sacrificar para conseguir tempo o suficiente, na esperança de evitar que gritassem com ele por estar atrasado, mas o sol já estava perto do seu ponto mais alto no céu, disparando seu calor infernal sobre o asfalto da cidade.
A sacola de pano que Maou normalmente utilizava para ir ao trabalho carregava copos, lenços umedecidos, fraldas extras e até mesmo a fórmula de reidratação oral de Chiho. Ele estava preparado para qualquer coisa, e tentar ser pão-duro na passagem do trem depois de todo o trabalho de preparação o faria parecer um completo idiota, caso resultasse em desidratação e outras preocupações.
Alas Ramus estava com a animação a mil por poder andar de trem pela primeira vez, embora o eco do túnel ao entrarem no subterrâneo a tenha feito mostrar certo nervosismo.
Depois de receber todos os “que fofiiiiinha” que choveram sobre Alas Ramus, vindo dos casais de idosos na plataforma de Shinjuku, Maou fez a viagem à qual não estava acostumado entre a Linha Toei-Shinjuku até a Linha Namboku, então desceu na Korakuen e pegou a longa e demorada escada-rolante até a superfície.
Logo que chegou na metade, um indivíduo olhou para eles da plataforma lá embaixo, com preocupação estampada na cara.
— Ninguém ameaçador por perto… Meu soberano, juro a você que eu, Ashiya, protegerei suas costas das sombras que se espreitam entre nós!
Era Ashiya. Já tinha ficado claro pela sua perseguição desajeitada. Estar atrás de uma coluna e espiar com um par de óculos escuros baratinhos o fazia parecer incrivelmente suspeito, e a forma com a qual não dava atenção alguma aos seus arredores, a não ser pelo alvo, indicava que sua missão tinha sido um fracasso desde o começo.
— Você é a pessoa que mais se parece com uma ameaça aqui, Ashiya.
Uma voz exasperada veio das suas costas, e ele deu de ombros.
— Você devia mesmo jogar esses óculos escuros fora. Comprou eles na loja de cem ienes? Ficaram horríveis em você, e sem contar que está se destacando mais do que qualquer um.
— Ah! Ah, ah, ahhhh! Senhorita S-Sasaki!
Ele saltou para trás ao inesperadamente ver Chiho, que estava usando um chapéu que não era do estilo dela.
— Q-Q-Q-Quando foi que você apareceu?!
Ver o Grande General Demônio sendo tão facilmente descoberto por uma adolescente fez Chiho pensar que tipo de requisitos Maou pedia das suas hordas demoníacas.
— Eu estava no mesmo trem que você. Suzuno me mandou uma mensagem sobre o seu plano…, mas, sério, se algo realmente acontecer aqui, você não é um problema maior do que o Maou?
— C-Como você…?
— Você não tem um celular, né, Ashiya? Como iria entrar em contato com alguém?
— E-Eu planejava ir atrás de um orelhão, mas…
— Já imaginava que diria isso. Se não tem como entrar em contato… Maou não sabe que está sendo seguido, certo?
— Hm, sim, bem, pensei que seria ruim se a Emilia me encontrasse, por isso…
Sua suspeita era digna de nota, mas só fazia aumentar ainda mais a dúvida do porquê não tentou pelo menos se preparar um pouco mais para ser sorrateiro.
— Então, posso te emprestar o meu celular, se precisar. Vamos indo. Se ficarmos parados, vamos perdê-los de vista!
Pressionado pela urgência de Chiho, Ashiya partiu atrás dela antes de a dúvida lhe ocorrer.
— Mas, Senhorita Sasaki, por que você…?
Ele logo se arrependeu dessa pequena indiscrição quando viu o rosto dela virado para ele.
— Sei que essa é a coisa certa, mas ainda estou preocupada!
— Ah… Mil perdões.
Chiho e Ashiya subiram a escada rolante na tentativa de manter um olho em Maou.
Ele deveria se encontrar com Emi no portão de ingressos, perto da entrada da Linha Marunouchi da estação de Korakuen.
Observando o mapa da estação com intensidade, Maou puxou a mão de Alas Ramus para subirem um jogo de escadas. Pensou que ela pudesse estar cansada depois de caminhar todo o caminho desde a catraca da Linha Namboku, mas, ao contrário do que esperava, a garota corria a todo vapor, fazendo gesto para que Maou se apressasse sem nem mesmo mostrar uma gota de suor.
Chiho, olhando de longe, sorriu um pouco para si mesma. O sorriso sobreviveu por apenas um momento.
— …!
— O… O que foi, Senhorita Sasaki?
Chiho ofegou quando chegaram ao nível da superfície.
Ela percebeu uma garota parada na frente do portão, um relógio estava bem preso ao seu pulso.
Usava um chapéu de aba larga, com o cabelo liso, que normalmente estava solto, amarrado de maneira delicada, e as sapatilhas em seus pés eram chiques. Não havia como confundi-la com outra pessoa a não ser Emi.
Maou e Ashiya ainda não haviam a visto pelo fato de estar muito diferente do normal.
— Yusa… Uou, ela está se esforçando bastante hoje.
Com a área do pescoço quase toda nua agora que o seu cabelo estava amarrado para trás, ela tinha decidido usar um colar largo, o qual dava o toque final, o suficiente para que até mesmo Chiho ficasse impressionada. Era uma aparência madura, sem dúvida alguma.
— Hmm… Aquela não é Emilia, é? Hmph! Não é um traje de batalha muito prático. Será que não percebe que é a Heroína?
Ashiya, enfim seguindo o olhar de Chiho até o alvo, focou em algo que não tinha nada a ver.
— Maou está usando o que hoje, Ashiya…?
— O mesmo de sempre. Não precisava se vestir tão bem para a Emilia, e até mesmo antes da Alas Ramus, a presença de Urushihara já tinha transformado o nosso orçamento em uma tragédia que acontecia em câmera lenta. Não sobrou dinheiro para comprar roupas novas para o verão.
Por um momento, a mente de Chiho entrou em conflito interno. De um lado, ela não queria ver Maou sendo um par perfeito no quesito moda para Emi no estado atual dela; por outro, vê-lo usando roupas velhas da UniClo ao lado da Heroína a fizeram questionar seriamente se uma intervenção da moda seria necessária ou não, e o quanto antes
Alas Ramus acabou vendo Emi antes que Maou, que acabou sendo arrastado até ela pela garota, não mostrando quaquer inquietação enquanto Chiho observava de longe.
Assim como ela esperava, Emi sorriu diante da alegre Alas Ramus, então voltou a lançar um olhar pesado e desinteressado enquanto observava Maou.
Chiho e Ashiya observavam a coisa toda se desenrolar de trás de um pilar.
— Hehehehe! O que achou? Até porque eu acho que a Emi Yusa está com a expressão perfeita agora.
De repente, os dois foram agarrados pelos ombros. Trêmulos, viraram-se para encarar quem os atacava.
— Oh… Você é a amiga da Yusa…
— S-Senhorita Suzuki?!
Rika Suzuki estava lá, ainda segurando Chiho e Ashiya pelos ombros enquanto sorria ligeiramente.
As mulheres da Terra tinham um dom notável e inato de se espreitar por trás de demônios.
— O… O que está fazendo aqui?
Chiho desviou o olhar da Rika para a Emi, que estava longe.
— Isso é algo que eu também gostaria de perguntar a vocês dois! Aqui estava eu, pensando o que a Chiho e o Ashiya estariam fazendo no mesmo lugar, e quem diria que estariam de olho na Emi e no Maou, hein? Por isso pensei que estávamos todos no mesmo barco, então vim para dar um oizinho.
Ashiya logo percebeu algo.
Emi e Maou estavam se encontrando agora porque Emi trabalhou durante a manhã. Ela não teria tempo de ir para casa, em Eifukucho, depois do trabalho, o que significava que ela foi ao trabalho com aquela roupa.
— Vocês não vão acreditar na surpresa que foi vê-la! Nunca a vi tão bem vestida assim. É meio difícil ver de longe, mas ela foi ao cabeleireiro ontem. Fica, tipo, totalmente óbvio de perto.
Rika levou uma mão ao queixo, refletindo sobre sua análise, quase pedindo a opinião de Chiho.
— S-Sério?! — gritou Chiho.
— Oh, está interessada em saber mais?
— Tipo, eu, hm, não é como se eu, tipo, se disser não, eu…
Um pouco por causa do calor, as bochechas dela estavam vermelhas. A reação foi muito mais intensa do que Rika imaginara, fazendo-a ceder um pouco.
— Hehe! Foi mal, foi mal. Eu não queria te provocar tanto assim. Não precisa se preocupar com nada, Chiho. É só a Emi sendo teimosa, sabe?
— Hã?
— Emi e Maou, sabe, geralmente não se dão tão bem, né? Essa é a maneira dela de colocar uma barreira. Desta forma, não seria superada por ele. Sabe como é…
Rika tirou os olhos deles por um instante, virando-se na direção de Maou.
— É engraçado como você pode dar duro por algo assim e acabar saindo dos eixos. Maou, enquanto isso… está completamente natural. Eu diria que ele venceu essa batalha.
Foi então que Emi, Maou e Alas Ramus começaram a caminhar em direção ao estádio do Tokyo Big-Egg.
Virando-se, Chiho viu Alas Ramus ficar ao lado da sua “mamãe” e do seu “papai”, de mãos dadas com ambos enquanto caminhava. Ver aquilo fez surgir uma sensação agitada em seu estômago.
— Bem, e lá vão eles. — Rika sorria de maneira provocativa. — O que vocês dois pretendem fazer?
A Tokyo Big-Egg Town era construída em um grande círculo ao redor do estádio Big-Egg, que servia como casa dos ilustres Tokyo Hulks, um time de beisebol profissional.
Estendendo-se do complexo comercial Lagoon, perto da estação de Korakuen, até o Hotel Big-Egg, que ficava ao lado do estádio, o parque oferecia vasta variedade de atrações. Se quisesse visitar um parque de diversões completo, sem precisar pegar um trem até os subúrbios, aquele era o lugar.
Não havia um portão de entrada que o separava do mundo externo; pelo contrário, era pago por acesso individual em cada atração, permitindo que os visitantes participassem de passeios ou exibições à vontade.
O shopping do outro lado da rua, em frente ao Lagoon e à estação de Korakuen, também exibia uma riqueza de lojas que atendiam às necessidades de jovens e idosos, tornando-se um local de compras popular para cidadãos de Tóquio de todas as idades.
O show ao vivo de super-herói realizado aos finais de semana e feriados era outra atração especial do lugar.
Mesmo não sendo cobertos pelos Ingressos de Um Dia Livre, que permitiriam acesso total a todas as atrações, os shows — cada um apresentando um herói ou mais, ao vivo, de live-action que estivesse passando na TV a nível nacional — esgotavam com multidões cheias de crianças animadas e pais entediados.
Sim, esse era um parque temático que colocava um sorriso no rosto de qualquer um. Qualquer pessoa, sim, mas Emi e Maou tinham uma aparência um tanto confusa e enrugada enquanto se deixavam ser arrastados sem parar por Alas Ramus.
Em certos momentos do dia, a fonte construída no segundo terraço aberto do prédio do Lagoon era casa de um concerto, com fontes de água balançando de um lado para o outro com a música gravada. Os três acabaram passando por lá bem na hora do show, e as águas ondulantes e coloridas fizeram Alas Ramus exclamar um “Ooooooooo…!” com a boca bem aberta.
— Ei.
— O quêêêêê?
Maou, com o entusiasmo já aparecendo debaixo do calor do verão, grunhiu fracamente para Emi enquanto observavam Alas Ramus encantada.
— Você passou protetor solar nela, né? O sol está bem forte hoje.
— Ahh… Bem, dizem que está tudo bem, a não ser que um médico receite, mas…
Baseado na pesquisa de Urushihara, ir à farmácia com um tipo de protetor solar já receitado por um médico era o conhecimento comum na internet. Fazer isso (lá dito) evitava futuros problemas com a pele da criança.
O plano de saúde de Maou, entretanto, não se aplicava a Alas Ramus. E levar uma criança sem plano de saúde nem documentos ao médico, além de todos os processos que apareciam dentro das regras da sociedade japonesa, era quase certo que criaria problemas para a forma de vida atual no Castelo Demoníaco. Por este motivo, Maou falhou em fornecer um protetor solar adequado.
— Bem, poderia ter ao menos comprado um chapéu pra ela, né? Tem lojas de roupas no Lagoon daqui, então vamos lá primeiro. Se quer cuidar dela, precisa mesmo começar a buscar aquilo que é melhor para ela.
A forma com que Emi rapidamente adotou aquele tom de esposa repreensora desmentia o seu antigo cargo no outro mundo. Maou não tinha muito o que dizer para contrariar.
— Pois é… Foi mal aí… O que acha, Alas Ramus? Está se divertindo?
— Ooooooohhh… Aaaahhhh…!!
— Encantada pelas fontes, hein? Bem, isso é ótimo.
Observando do terraço que ficava acima do show, Ashiya, Chiho e Rika estavam focados no trio logo abaixo.
— Uou, que família mais feliz, hein? Aquela garota está sendo uma luz na vida da Emi, não acham?
— Ela… é tão fofa.
Chiho suspirou ao ver Alas Ramus, que ainda estava hipnotizada pelo show da fonte.
Ashiya, por sua vez, estava de olho para se assegurar que Maou continuasse a salvo, embora naturalmente não tenha esquecido de outra tarefa quase mais pesada — garantir que o seu líder não ficasse torrando dinheiro.
Sem saber o que seus perseguidores pensavam, nem cientes de que havia perseguidores, a nova família alegre assistiu ao show até o fim, então deram as mãos com Alas Ramus e entraram no shopping Lagoon para procurar por um chapéu.
O outro trio os seguiu, assegurando-se de que ficariam a uma distância discreta.
— Ei, uma UniClo.
Maou percebeu o logo familiar no painel de informações perto da entrada. Emi imediatamente se intrometeu para recusar a ideia.
— Sem chance. Por que está tão ansioso pela UniClo?
— Como é? É barato. Barato é simples. Exatamente o que eu preciso.
— Poderia ao menos tentar visitar outra loja uma hora dessas. Não sei que tipo de imagem você tem em mente, mas não é tão caro assim.
— Hm.
— Não me venha com “hm”! E se Alas Ramus acabar parecendo uma pobretona igual você?
— Não existe nada de errado em ser econômico.
— Vamos, Alas Ramus. Não precisamos desse peso morto com a gente.
— Beso tonto?
Puxada por Emi, a garota timidamente subiu as escadas rolantes até o andar de roupas, tomado pela UniClo e uma vasta seleção de outras lojas de vestuário.
— Hmm… Esses ainda vão ficar um pouco grandes para ela.
Emi suspirou para si mesma enquanto conferia a seção infantil e os colocava acima dos ombros de Alas Ramus.
— Mas ela vai crescer rapidinho. Acho que pegar um tamanho maior não é má ideia, contanto que não seja algo que fique gigante para ela. Além disso, notei que você não está falando nada. Percebe que, ao falar “rapidinho”, me refiro a vários meses, né?
— Se está esperando para que eu me intrometa toda vez que você abrir a boca, pode esperar sentada. Não estou interessado em conversas longas contigo mesmo.
— Assim, por quanto tempo planeja ficar com ela? — Emi continuou vasculhando pelos acessórios infantis, colocando-os sobre Alas Ramus para ver como ficavam.
— Sei lá… Talvez os pais dela vão aparecer hoje. Talvez estaremos cuidando dela até o dia do casamento.
— Casamento…? Sinto muito por perguntar isso, mas tem certeza de que não seria melhor para todo mundo se você ficasse no Japão para sempre?
— Ooh… Ei, esse aqui ficou bom. Vai cobrir até os ombros.
Maou, sem dar atenção à conversa, pegou um chapéu de palha da prateleira, o qual servia certinho na menina.
— Talvez não seja algo que eu devesse perguntar, mas você não se importa com os generais que deixou em Ente Isla?
Emi estava esperando uma resposta muito menos direta do que aquela que Maou acabou dando.
— Eles? Pois é, já larguei mão daqueles desgraçados.
— Hã?
— Ei, Alas Ramus, pode escolher esse aqui com um laço rosa ou um vermelho. Qual prefere?
— Mmm, Market!
Alas Ramus apontou para o chapéu de laço amarelo.
Emi viu-se incapaz de responder à afirmação cruel e digna do Rei Demônio, mas ele deu de ombros.
— Nunca pensou no porquê Emeralda, Albert, Olba e Suzuno apareceram aqui, do nada, como se estivessem na cidade ao lado?
Ele arregalou os olhos ao ver a etiqueta com o preço no chapéu de palha que Alas Ramus escolheu.
— Já faz mais de um ano. Eu meio que sinto falta do meu postigo. Não importa quantos da força de invasão de Ente Isla tenham sobrevivido, já devem ter sido pisoteados há eras. Caso contrário, não estaríamos tendo lutadores tão fortes do mundo humano nessas grandes viagens até a Terra por todo esse tempo.
Aquela lógica fazia bastante sentido. Oficialmente falando, todos os quatro Grandes Generais Demônios — Lucifer incluso — foram derrotados. A cadeia de comando no mundo dos demônios foi estilhaçada.
Emi tinha zero simpatia por Maou, algo que já tinha ficado bem claro.
— Você… Você acha? Bem, que seja, foi fácil. Acho que esse é o grande reino dos demônios, hein? O chefão cai e o resto vira poeira.
— Eu não teria forma melhor de dizer isso. Sem mim, aquele pessoal é inútil. Mas mesmo que eu voltasse agora, sem o meu poder, seria morto no momento em que o próximo rei decidisse aparecer. Além disso… — Ao se conformar com a compra, Maou virou as costas para Emi e Alas Ramus enquanto levava o chapéu até o caixa. — Mesmo que eu recobre a minha força de Rei Demônio, agora não tenho chances de conquistar o mundo.
— B-Bem, sim. Já que os demônios foram aniquilados, não faz muito sentido em se chamar de Rei Demônio, né?
— Aniquilados? O que você andou cheirando, moça? — Maou zombou de Emi com desprezo. — Quando humanos lutam em uma guerra, cada um de vocês marcha para o campo de batalha junto?
— Hã?
Levou um tempo para que Emi absorvesse a pergunta, mas Maou continuou até o caixa, sem interesse em continuar a discussão.
Ele pediu para a caixa registrar a etiqueta de preço antes de colocá-lo certinho na cabeça de Alas Ramus.
— Mph! Fofa?
Alas Ramus se olhou no espelho e, depois, encarou Maou.
— Oh, sim, com toda certeza!
Um sorriso bobo cruzou o rosto dele, a atmosfera sombria de antes deixada de lado.
— Ei, podemos deixar para nos preocuparmos com roupas na próxima? Está quase na hora do almoço, então as atrações vão estar praticamente vazias. Em qual você quer ir primeiro, Alas Ramus?
— Lá, Papai! Lá!
Ela apontou pela janela do Lagoon em direção à Queda Livre.
— Oooh, é capaz de você ser nova demais, ou baixinha de mais, para aquele lá, dona moça. O que acha de dar uma voltinha e ver as outras coisas?
Emi seguiu os dois, distraída, ainda perdida em pensamentos.
Os três seguindo logo atrás trocaram olhares entre Maou e a loja de roupas.
— Nunca vi duas pessoas parecerem tão depressivas ao comprarem roupas.
— Pois é, quem diria, né? Talvez tenha sido algo caro mesmo.
Ao ouvir a conversa de Rika e Chiho, Ashiya pegou um chapéu igual ao que Maou comprou para Alas Ramus.
— Dois… mil e quinhentos ienes… — arquejou o número, engasgando com cada dígito. — Ele… extrapolou por completo o dinheiro que economizamos naquele passe livre…
— Hã? Ei, Ashiya, precisa beber alguma coisa? Você não parece estar bem.
— Ha! Hahaha! Não, é, não precisam se preocupar! Em frente, hahahaha!
Pendurando de volta o chapéu com uma risada tensa e estridente, Ashiya acenou para que Rika deixasse a loja junto com ele. Chiho pegou um chapéu “Nova Moda Verão!” e olhou a etiqueta de preço, então limpou uma lágrima enquanto o colocava de volta no lugar, em silêncio.
— Devo dizer, isso aí está sendo bem mais normal do que eu pensei que seria. Tipo, eles estão agindo como adultos e tal, sabe? Pensei que precisaria me intrometer lá, caso uma briga acontecesse, mas acho que estão agindo de acordo, pelo bem da criança, hein?
— Hã? Então quer dizer que não estava aqui apenas para ficar de olho neles, Suzuki? — Chiho não conseguiu aguentar e fez uma pergunta honesta.
— Ooooh, Chiho, você não deveria desprezar a irmãzona aqui desse jeito! — Rika deu uma beliscada na bochecha da Chiho.
— Mmph, xinto mutcho…
— Não vou negar nem nada do tipo, mas o que mais deveria fazer com o meu tempo livre, sabe? Só pensei que seria bom ficar de olho e dar apoio, caso necessário.
— Afoiou?
— Sim. Aquela menina é da família do Maou, não é? Se a garota gosta tanto assim da Emi, vai acabar se machucando um monte quando for embora. Em momentos como esse, ajuda bastante só ter alguém com quem compartilhar uma bebida, sabe? Alguém que sabe até certo ponto pelo que você está passando.
— Ffh… Sim.
Sua bochecha enfim foi solta, e Chiho esfregou o rosto com as mãos.
— Além disso, eu meio que estou interessada em como Emi age quando sai com um cara, sabe como é?
— Viu? Viu? Só veio para ficar espiando! Você me beliscou por nada!
— Eu não estou espiando, Chiho. Está mais para ser tipo um voyeur, por assim dizer.
— Isso aí é ainda pior!
— E quem é você para falar, Chiho? Que eu saiba, não tem relação alguma com Maou, então por que está espreitando ele desse jeito?
— E-E-Eu não… quero dizer…
— Aw, qual é. Não vou contar a ninguém. Pode dizer o que tá rolando pra irmãzona aqui.
— Eu… estou feliz por alguém estar gostando disso, pelo menos.
Ashiya começou a perceber a fofoca entre as duas garotas mais atrás.
— Aw, não seja um estraga prazeres!
— Agh!
Ashiya gritou quando foi empurrado pelo ombro de repente.
— E você também, Ashiya… Sei que a Emi é o motivo indireto para a sua empresa ter ido pelo ralo e tal, mas não é mais a sua inimiga, é? Ela não vai ficar pegando no pé de vocês nem nada do tipo, então por que está parecendo tão sério com tudo isso?
Ela era a inimiga deles, da cabeça aos pés, e não era como se estivesse pegando no pé deles, estava mais para ela arrancando a cabeça deles e cuspindo em seus cadáveres, mas não tinha como contar isso a Rika.
— Sabe de uma coisa, Ashiya? Acho que você deveria tentar dar uma lida em algo do Natsume Soseki uma hora dessas.
— O quê? Por quê? De onde saiu essa?
— Oh, só pensei que te ensinaria uma coisa ou outra. Tipo, como não agir tão sério e formal o tempo todo, saca?
Chiho e Ashiya se viram à mercê dessa modesta garota da central de chamadas, a qual tinha um talento estranho de invadir a mente das pessoas.
— Ainda assim… — Continuou com um sussurro, longe de Chiho e Ashiya, enquanto estes se encaravam sem entender nada. — Eu gosto muito mais disso do que de me aproximar de uma maneira sútil.
Tradução: Taiyō
Revisão: Milady
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