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Rei Demônio ao Trabalho – Vol. 02 – Cap. 02.3 – A Heroína Deve um Favor Seguido de uma Onda de Mal-entendidos

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Ao ouvir a indireta sobre a falta de movimento atual do MgRonald, Maou sentiu um trovão ecoar em toda a sua mente como nada que experienciou antes nesse mundo.

— Sim… estamos um pouco devagar no momento. Mas é uma boa oportunidade para conhecermos melhor os nossos vizinhos, é claro.

Maou não era o tipo de supervisor de turno/gerente assistente do turno da tarde do MgRonald da estação de Hatagaya que deixaria o seu sorriso de atendimento ao cliente desmoronar diante de tamanha afronta. No entanto, estava começando a passar dos limites.

— Oh, nem um pouco! Nossa base de clientes compartilhada está sempre procurando por novidades, sabe? Tenho certeza de que tudo voltará ao normal logo, logo.

O sorriso foi recompensado com outra declaração insultuosa sobre a superioridade deles, a qual foi camuflada com uma máscara de modéstia.

Se Kisaki estivesse lidando com isso, Maou conseguia imaginar com facilidade ela perdendo o controle e jogando Sarue pela porta. Mas com o local nas mãos de Maou, não havia como isso ser algo perdoável. Kisaki era a maior responsável pelas suas ações, afinal.

Maou elogiava a si mesmo por manter a calma e se recusar de cair na armadilha.

— Eu certamente esperaria, senhor. Na realidade, espero ansioso pelo grande sucesso de nós dois aqui, ao lado da estação, e tenho certeza de que, quando ela voltar, nossa gerente estará mais do que feliz em compensar a sua visita ao fazer a mesma coisa.

Então você poderia, por gentileza, dar o fora daqui? Maou sugeriu educadamente por entre as linhas.

A resposta parecia ter pego Sarue de surpresa, mas ele, apesar disso, mostrou um sorriso irônico.

— Bem…! Suponho que você não é mesmo a pessoa que conheço, afinal. — Ele curvou a cabeça e continuou. — É uma pena eu não ser capaz de encontrar a belíssima gerente de que tanto ouvi falar, mas, enquanto estou aqui, posso pedir um lanche para levar? Hmm…?

Os seus olhos pararam em Chiho, que observava tudo junto com o resto dos membros da equipe atrás de Maou.

— Minha nossa, que linda.

— Hã?

Dentro do instante em que Maou percebeu para onde os olhos de Sarue miravam, ele já tinha se teleportado para aquele lugar, logo na frente dela.

— Mas que futuro brilhante esta jovem dama atraente deve ter. Seria um grande deleite comprar uma refeição preparada por você e suas mãos delicadas!

A careta no rosto de Chiho ficou clara para todos.

Não precisava ser um gênio para ver que Sarue estava ali para atiçar a sua nova concorrência. Como se isso não fosse o suficiente, ele estava passando dos limites com a equipe a serviço.

Chiho começou a abrir a boca.

— Sasaki? — A voz forte e com tom de supervisor de Maou foi o suficiente para fechá-la. — Você poderia, por favor, anotar o pedido do cliente?

— Sim…

Maou fez um gesto para que Sarue se aproximasse do caixa. Sarue olhou mais uma vez para ele, então passou a fixar o olhar em Chiho até que ela anotasse o seu pedido e saísse.

— Alguém está parecendo um tanto irritada.

Chiho ainda estava amuada, mesmo depois de bastante tempo após a saída de Sarue.

— E como não ficaria? Aquele tal de Sarue obviamente veio aqui para provocar a gente. Toda aquela porcaria que ele falou não te incomodou nem um pouco, Maou?

— Bem, se você ficou tão irritada com isso, mostra que melhorou tanto que acaba sentindo orgulho de verdade pelo seu trabalho. Em outras palavras, não está aqui apenas pelo salário. Eu mesmo estou muito mais feliz com isso.

— Ugh… — Chiho tentou forçar ainda mais o beiço. O efeito, no entanto, fez seu rosto ficar torcido, como se tentasse evitar um bocejo. — Você é tão denso o tempo todo, mas toda vez que algo desse tipo acontece, é sempre assim para você.

Ela murmurou para si mesma, baixo demais para que Maou ouvisse, então virou o rosto para o lado. Não queria que ele visse o seu rosto torcido, o resultado por ter sido elogiada quando, ao invés disso, queria ficar irritada.

— Se você acabar ficando brava com um cliente difícil desses, isso só irá fazer com que se rebaixe ao nível dele. Nós só temos que continuar firmes em nossas convicções, sabe? É isso que faz tudo funcionar e também mantém o seu orgulho. Contanto que estejam nos pagando, um cliente ainda é um cliente.

Maou esfregou a parte inferior do nariz numa tentativa artificial de parecer autoritário.

— O que achou? Bem no estilo gerente assistente, né?

— Aham, só até você dizer isso. — Chiho riu.

— Acho que devo me desculpar por não me intrometer quando ele ficou todo assanhado. Isso deve ter sido um saco.

— Como se eu fosse me importar com o que aquele toco de amarrar bode tem a dizer para mim. — Chiho balançou a cabeça enquanto Maou curvava ligeiramente a cabeça para ela.

— Toco de amarrar bode! Essa foi boa.

Maou bateu palmas enquanto o resto da equipe concordava e ria.

— Cara, eu odiaria de verdade ter que trabalhar para um gerente como aquele. Ele está pelo menos tratando esse negócio a sério? Com aquele tipo de colônia, é bem provável que ganhe uma pilha de reclamações.

Essa conversa animada escondeu a preocupação verdadeira que Maou tinha com relação ao seu novo rival. Revendedores na mesma área comercial tinham uma maneira de influenciar a reputação um do outro, tanto para melhor quanto para pior. Não era algo que ele podia gostar muito.

— Você também acha que ele conversa com clientes usando aqueles óculos? — Chiho falou de repente.

— Pois é, bem, talvez esteja tentado evitar os raios UV. O Ashiya mencionou algo do tipo para mim uma vez. Ou talvez ele tenha problemas oculares. Meio difícil saber hoje em dia.

Maou estava mais preocupado com o estranho… seja lá o que Sarue estava tentando dizer, sem realmente dizer. Mas isso precisava esperar. Por enquanto, precisavam fazer as vendas voltarem ao normal antes de fechar.

— Beleza. Vamos voltar para as vendas a sério.

— Boa! Não vou deixar que vençam!

O acontecido parecia ter ficado no passado, quando Chiho liderou a surpreendente rodada de animação.

— Tudo bem! Vamos com tudo! Cem, duzentos, não me importo! É hora de trabalhar um pouco!!

— É assim que se fala, Chi. Vamos conseguir um pouco mais de informações concretas sobre a SFC mais tarde, então vamos manter os negócios a todo vapor.

— Informações concretas?

Maou estufou o peito e assentiu para a Chiho.

— Yep. Temos que usar o que temos em mãos. Nossos fiéis generais, por assim dizer. Além disso, quando falei para ele que o meu salário estava em risco, não teve outra escolha a não ser dizer sim.

Ainda à tarde, as ondas de calor que cobriam os céus de verão de Tóquio não mostravam sinais de enfraquecerem.

Quando deixaram o escritório juntas, Rika perguntou a Emi sobre quais eram os planos dela para a tarde. Emi hesitou, evitando a pergunta de maneira brusca.

— Eu meio que tenho um lugar para ir.

Ela tinha sido terrivelmente dura com Suzuno de manhã cedo, mas havia muita chance de a garota ainda agir, apesar da sua repreensão séria.

— Oh? É uma pena. Algo com a sua amiga dessa manhã, talvez? Bem, me avisa quando estiver livre, porque eu ainda tenho aquele cupom do Takano Fruit Bar para usar, beleza?

— Pode deixar…, vou tentar arrumar um dia livre logo. Sinto muito.

Visões do paraíso de buffet de frutas coloridas passaram pela mente da Emi. Foi necessária muita força de vontade, além do seu senso de dever, para resistir à ideia.

Era compreensível que a descrença estivesse escrita com clareza no rosto de Emi quando encontraram Suzuno do lado de fora do prédio, parecendo muito diferente de como estava de manhã.

— Hein? Ei, aquela não é a garota com quem você estava?

Por um segundo, Emi considerou negar tudo e dar no pé.

— Emi! Você enfim completou os seus deveres?

Bem, que se dane, pensou Emi enquanto corria ao encontro dela. Forçada a jogar com as cartas que tinha em mãos, ela virou-se para Suzuno, abatida.

Ela usava um refrescante quimono com bordados de água, do tipo que você esperaria ver em panfletos de viagem a Quioto, além de um prendedor de cabelo de vidro no formato de cruz. Em sua mão estavam duas sacolas — uma de papel, de uma loja que ficava no prédio Kakui Fashion Square, e a outra de plástico, com a marca do Mercado DEF — e aparentemente segurando um par de sandálias.

Um balão estava amarrado em sua sacola, a qual tinha a marca de estilo japonesa de um peixe-dourado. Dentro dela Emi viu uma garrafa plástica de água mineral e um copo do Moonbucks Coffee.

— Você comprou tudo isso, mas mesmo assim não foi capaz de escolher nada além de um quimono?

Emi sentiu-se perfeitamente correta em dizer isso antes de mais nada. O que diabos aconteceu com essa pobre garota, aquela que pediu à Heroína para que matasse o Rei Demônio há menos de meio dia?

— Como membro da força missionária da Igreja, é parte do meu dever examinar as tendências econômicas em nossas áreas de operação. Além disso, percebi diversas mulheres em quimonos semelhantes.

— Você… tinha tanto dinheiro assim?

— Eu trouxe uma quantia adequada de, hm, instrumentos financeiros comigo. Vendi vários exemplares para uma loja conhecida como Mugi-hyo.

Essa era o nome da famosa loja de penhores de Tóquio. Mas o que uma pessoa de alta importância na Igreja estaria fazendo com “instrumentos financeiros”, seja lá o que fosse? Emi duvidava que ela tinha tanta ideia do valor do iene no Japão moderno. Sua esperança era que ela não tinha se livrado de preciosas relíquias de Ente Isla por pequenas barganhas.

Suzuno continuou ao pegar uma carteira de passagem da sua bolsa, a qual também tinha outra bela estampa nipônica.

— Ah, e veja! Comprei um dos seus “cartão de tarifa”! Eu, é, “o carreguei”? Sim! Fiz isso! Tudo sozinha!

Em uma rara demonstração de euforia, ela mostrou a logo de pinguim no cartão para Emi.

— Bem… bom trabalho.

Era como dar os parabéns à sua irmãzinha depois de completar a primeira tarefa para os pais. Emi teve que resistir à vontade de afagar a cabeça de Suzuno quando Rika interveio.

— É a sua amiga, Emi?

— Hmm… — Ela parou por um momento. — Sim, bem isso, eu acho.

— Bem, você não parece ter tanta certeza.

Uma seleção de desculpas passou pela sua mente, todas as quais envolviam evocar mais mentiras sobre a sua origem. Enquanto pensava, Suzuno começou a se apresentar repentinamente para Rika:

— É maravilhoso conhecê-la. Me chamo Suzuno Kamazuki. É curto o período de tempo desde que passei a viver em Tóquio, mas a Emi tem sido de grande ajuda para mim.

— Oh. Que elegante! Meu nome é Rika Suzuki. Trabalho com ela, como já deve ter imaginado.

Emi permaneceu em silêncio, incapaz de compreender a intenção de Suzuno.

— Então, Kamazuki, você se mudou para Eifukucho?

Rika fez a pergunta óbvia. Se ela e Emi tinham alguma relação, seria natural imaginar que vivam perto uma da outra.

Mas o inquérito foi o suficiente para preencher a mente de Emi com uma sensação iminente de condenação.

— Não, minha residência fica em Sasazuka.

— Sasazuka? Sério? Mas você está em Eifukucho, não é, Emi?

— S-Sim, mas…

Emi tentou indicar a Suzuno sobre o seu anseio com os olhos, mas os dela estavam em outra direção.

— Emi começou uma conversa comigo logo depois que me mudei para cá. Ela estava visitando os vizinhos que moram ao lado.

— Oh, entendo…, mas, espera aí, o que você estava fazendo em Sasazuka, Emi?

Rika parecia estar quase pronta para deixar o assunto de lado, quando algo chamou a sua atenção. Suzuno escolheu aquele exato momento para virar os olhos na direção da Emi. Ao perceber isso, Rika fez uma cara de quem tinha um osso de galinha preso na traqueia. Agora o foco da conversa estava em algo totalmente diferente.

— Então, o motivo para mim estar aqui esperando, Emi, é porque eu tinha outro pedido.

— O que você está tramando agora?

Depois de toda repreensão que lhe deu naquela manhã, Emi não esperava que Suzuno viesse implorar a ela mais uma vez. Na frente de uma completa estranha, ainda por cima. Ela viu que Suzuno estava tramando algo, mas, sem saber o quê, não havia muitas maneiras de enfrentá-la.

Tentar afastar Rika a essa altura do encontro levantaria muitas suspeitas. Por isso que Emi foi um pouco mais dura do que o normal na sua resposta anterior.

— Oh, hã, sinto muito se estou sendo intrometida ou algo do tipo. Será que devo me retirar? — Rika, pelo menos, era uma amiga boa o bastante para perceber o clima. Mas Suzuno foi rápida demais na resposta:

— Não, não mesmo. É um pedido bem simples. Eu esperava que pudéssemos ir juntas visitar o local de trabalho do Sadao.

— Sadao? Será que já ouvi esse nome antes?

— Não, sério, o que você está…?

Suzuno estava mais do que feliz em dizer o nome do Maou na frente da Rika. Agora Emi sabia o que ela queria, mas já era tarde demais.

— Quero ver esse homem, esse Sadao Maou, no trabalho. Sei que você me proibiu de me aproximar dele, mas não sou o tipo de mulher para consentir tão facilmente com isso.

— …

Emi agarrou a cabeça. A pura estranheza arbitrária do vocabulário dela era o que mais a irritava.

Rika, ao se ver de repente como uma espectadora contrária à disputa verbal, intrometeu-se mais uma vez.

— Oh, é mesmo! Sadao Maou é o cara que é seu amigo, né?

— Viu…? Conseguiu agora… — Emi gemeu.

— Você falou dele quando ficou na minha casa, se lembra? Ooh, não é algum tipo de competição que estou vendo aqui, é?!

— Rika, não, espera aí…

Diante disso, essa parecia a única interpretação lógica. Duas mulheres estavam em desacordo físico sobre o coração de um Sadao Maou. Era assim que ela queria considerar a situação.

Rika mostrou um sorriso confuso enquanto balançava as mãos.

— Bem, espera, espera! Ouça, se você não se importa que eu fale como uma mulher que está testemunhando tudo isso… e eu sei que estou sendo uma completa intrometida agora…, mas algo assim não será resolvido por apenas uma de vocês sozinha. Por isso, se quer realmente cortar o mal pela raiz para sempre, acho que precisamos fazer esse tal de Maou estar junto. E sim, sei que será estranho no começo, mas evitará uma grande tristeza para todos mais tarde, sabe?

— Não, Rika, não é isso que você…

Emi tentava freneticamente fazer a imaginação borbulhante da Rika parar de borbulhar.

— Realmente… Talvez você esteja certa.

Suzuno jogou a conversa de novo para Rika com tranquilidade, mais do que preparada para considerar a sugestão dela.

— Ei!

— Então, onde ele está, hein?

— Sei que ele trabalha no MgRonald em Hatagaya.

— Eeeeeiiiiii!!!

— Ah, se acalme, Emi. Hatagaya fica logo ali, né? Bem, é como eu digo: quanto antes, melhor!

— Eu, eu estou calma! Rika, não precisa mesmo…

— Vai dar tudo certo, okay? Fique tranquila e lembre-se, estou do seu lado aqui!

Sim, talvez ela pensasse assim. Mas era o grande problema. Emi começou a reconsiderar se valia a pena ter amigos.

— Oh, e você também não precisa se preocupar! Um bom juiz precisa ser justo e imparcial, sabe.

Rika sorriu para Suzuno. Como se aquela garota precisasse de mais aferroadas.

Suzuno, a enganadora, e Rika, a enganada, deram um aperto de mãos caloroso. Uma solução decente não pôde ser formada pelo cérebro da Emi.

— Ei, parem de fazer isso sem que eu diga alguma coisa! Não vou a lugar algum!

Era o seu último recurso. Mas a colega de trabalho japonesa e a chefe inquisidora de Ente Isla diante dela escolheram, por coincidência, as mesmas palavras para contrariá-la, mesmo que houvesse significados diferentes atrás delas.

— Tem certeza…?

— Você tem certeza disso?

Havia um traço de tristeza nos olhos da Rika e um olhar malicioso do tipo se importa se eu continuar acabando com o seu esforço? Vitória total dela.

— Nnnn…!

Ela devia ter assumido o gemido da Emi como consentimento.

— Então…! Vamos indo? Eu vou ficar de lado durante o procedimento, é claro. Mas agora que sou uma completa intrometida, tenho que compensar o máximo que puder por isso, certo? Além do mais, sou especialista nesse tipo de coisa.

Rika começou a caminhar na frente.

Agora que as costas da Rika estavam viradas para elas, Emi mostrou o olhar mais vil e predatório que conseguia para Suzuno. Em resposta, a normalmente calma e tranquila franziu um pouco o rosto, como se pedisse desculpas em silêncio.

— Se eu tivesse pedido para que apenas você viesse junto comigo, temo que se faria de surda para mim.

— Ir junto para o quê?!

Emi emitiu um sussurro sibilante para evitar que Rika ouvisse.

— Hoje, o Rei Demônio está em uma posição para governar os humanos, não? De uma maneira pequena e infinitesimal, sim, mas…

Era verdade. Emi lembrou-se da falação patética de Maou sobre ter sido promovido a gerente assistente.

— E daí?!

Era um final de tarde de sábado, mas o sol ainda estava no alto, e a cidade continuava repleta de pessoas. Era fácil o suficiente manter a conversa delas longe dos ouvidos afiados da Rika enquanto procediam.

— Então, estou preocupada que você esteja levando a sua missão de matar o Rei Demônio de uma maneira… bastante vagarosa.

Os olhos da Suzuno apontaram para as costas da Rika, que andava na frente delas.

— Ele pode parecer inofensivo o suficiente enquanto segue com os seus afazeres diários, mas uma vez Rei Demônio, sempre Rei Demônio. Quando ele ganhar o poder para liderar e controlar humanos, não há como saber como vai mostrar as garras. Quero evitar o desastre antes que ocorra, mas tenho total certeza de que eu, sozinha, não estou capacitada para a tarefa.

Emi se perguntava que tipo de desastre o Maou poderia gerar como um tirano dominante temporário cumprindo um reino de terror contra uma única franquia do MgRonald. Por ter sido uma testemunha frequente da atitude dele no trabalho, ela sabia que os medos de Suzuno eram infundados.

— Eu queria evitar atiçar as chamas desnecessariamente ao agir por conta própria, mas sei que se pedisse a você, Emi, seria refutada mais uma vez, por isso optei por uma diferente…

— Beleza! Já entendi, já entendi!

Emi deu um suspiro de derrota.

Teve um momento, não muito tempo atrás, que ela tinha uma forte sensação de que logo o Rei Demônio poderia enfim emergir do seu casco de chefe de hambúrguer abobado.

Mas, agora, embora não estivesse pronta para perdoar o Maou pelas suas atrocidades do passado, já estava convencida de que os demônios do Castelo Demoníaco eram inofensivos para o Japão, contanto que não fossem provocados demais.

A ideia de defender o Rei Demônio ainda lhe deixava enjoada, mas talvez observar o Maou no trabalho ajudaria a amenizar um pouco dos medos de Suzuno também.

— E lembre-se, você foi atacada por um intruso mascarado faz pouco tempo. A minha missão não termina com a derrota do Rei Demônio… Devo também a levar de volta a Ente Isla, então podemos enfim descobrir a verdade. Trabalhar juntas irá ajudar a desfazer qualquer dúvida que permanece na minha mente e… além disso, posso vir à sua ajuda se assim for necessário.

Se não fosse pelos seus deveres da Igreja, Suzuno teria sido uma vendedora mortal. Emi precisou rir da pressão forte que ela liberava.

— Bem, no momento, o maior problema é como vamos fazer para a Rika parar com essas loucuras.

— Me parar com o quê?

Rika virou-se ao ouvir o seu nome.

— Nada… Desculpa. Vamos indo, quero terminar logo com isso.

— Ooh, alguém parece achar que tem chance!

Nada no mundo é mais assustador do que boa vontade descontrolada.

Subindo as escadas para a saída da estação de Hatagaya Keio New Line, Rika deu uma boa olhada ao seu redor, com a mão desafiadoramente no quadril.

— Bem, aqui estamos…, mas o MgRonald tá parecendo bem morto. Talvez agora não seja a hora certa para uma intervenção, afinal. Se não estiver movimentado, vai ficar beeeeem estranho caso a coisa toda saia dos eixos. Com outras pessoas por perto, fica mais fácil manter tudo controlado, sabe?

Talvez Emi estivesse pensando demais, mas algo na análise fria e calculista da Rika indicava que não havia nada melhor para se saborear do que a total falta de controle nos eventos a se desenrolar.

— Não queremos atrapalhar demais o local de trabalho dele se ficar estranho, também… Bem, é bom saber que tem um Sentucky Fried Chicken cheio do outro lado da rua. O que acha de irmos lá para formularmos os planos primeiro?

— Sei muito bem que você está amando cada segundo disso, Rika.

A única escolha que restava era seguir o fluxo. Emi poderia, talvez, usar o seu poder sagrado para controlar a mente da Rika por trás. Entretanto, sentia-se envergonhada por ter que tomar atitudes tão drásticas contra uma amiga que estava apenas querendo ajudar… independentemente de quão ruim isso fosse.

Ao olhar para o MgRonald, ficou claro que Rika estava certa. O lugar estava longe de estar movimentado. Se entrassem agora, o Maou e a Chiho, sem dúvidas, estariam no caixa, com a boca aberta.

— Tudo bem. Primeiro, me fale um pouco mais sobre esse tal de Maou. Talvez isso nos dê alguma dica sobre como resolver essa bagunça.

Como poderia? Especialmente pelo papel das pessoas envolvidas. Emi não fazia ideia de como Suzuno planejava explicar essa situação.

Ou ela tinha mesmo a intenção de mentir sobre tudo e dizer que ela e Emi estavam em um triângulo amoroso, arrastadas pelo coração e alma do Maou?

Abrindo bem a porta, o trio entrou na franquia do Sentucky Fried Chicken de Hatagaya, a qual era ricamente decorada e tinha três andares. Estava bastante agitado, assim como Rika disse. Emi tinha muitas esperanças de que não houvesse lugares livres.

— Olá, bem-vindas ao SFC! Acabou de ser liberada uma mesa para quatro. Se puderem ir até o balcão…

O pequeno gesto de gentileza do funcionário atendente esmagou toda a esperança de Emi dentro de dez segundos.

— Aqui. Temos um cardápio de fácil leitura disponível bem aqui.

O balcão estava um pouco cheio demais para que três pessoas olhassem o cardápio ao mesmo tempo, por isso o funcionário, que era baixinho e usava uns óculos de sol que evidentemente não combinavam, entregou a Suzuno e a Emi uma cópia extra.

Emi o pegou sem questionar, não que fosse mais fácil de ler do que o cardápio colocado no balcão.

— Vou querer um café gelado, e quanto a vocês?

— Acho que vou pedir o combo com bolinho de bordo e chá gelado. Com leite, por favor.

— Café… gelado.

— Doce! Eu vou pagar desta vez, tudo bem? Oh, e vai ser isso para nós hoje.

O funcionário baixinho com quem ela falou assentiu com um sorriso.

— Perfeito. Só um momento que já vamos preparar. Se estiver interessada, eu tenho um cupom da grande abertura aqui para você usar…

Rika pegou o panfleto colorido oferecido a ela enquanto bruscamente apresentava uma nota de mil ienes.

— Ótimo. Vamos começar a preparar o seu pedido agora mesmo. Tenho certeza de que a nossa comida e bebida ficarão alegres em saber que serão consumidas por um trio de mulheres tão lindas. Deixe-me lhe dar o troco.

— Okay… hyuh?

Com a sua atenção no cupom, Rika entregou o folheto sem ao menos olhara para o funcionário. O pequeno gemido de surpresa foi o resultado de ele agarrando a mão dela antes de colocar o troco e o recibo nela.

Por instinto, ela o olhou de maneira severa. Suas costas já estavam viradas enquanto preparava as bebidas na bandeja, alegremente inconsciente da resposta dela.

— Uh. Será que é um daqueles serviços ao cliente com envolvimento pessoal?

Sem cogitar nada de estranho nisso, Rika voltou a olhar para o cupom. Depois de um tempo, ouviu:

— Bem, mil desculpas por fazer um grupo de mulheres belas como vocês esperar por tanto tempo. Aqui está o seu pedido.

Não tinha sido uma espera maior do que um minuto, mas Rika acenou de maneira vaga com a cabeça para o funcionário enquanto pegava a bandeja e se encontrava com Emi e Suzuno no andar de baixo.

— Cara… sempre tem homens que nem esse, sabe? Podem parecer legais e tal, mas saia com eles num encontro e você terá que acabar arcando com todo o peso sozinha. E aquela colônia, credo!

— De quem você está falando?

— Oh, ninguém em particular. Vamos subir para o outro andar.

Emi e Suzuno seguiram Rika de volta até a escadaria. Rika lançou um olhar passageiro para o funcionário de antes enquanto passava por perto, mas ele já estava escondido pela fila de clientes que esperava atrás dela.

— Tudo bem. Agora que já estamos sentadas, o que acha de falarmos sobre os eventos que nos trouxeram até hoje? Esse cara… Sadao Maou, certo?

Rika pediu para Emi e Suzuno se sentarem no sofá ao lado da mesa de quatro assentos que o funcionário indicou, então mostrou-lhes um olhar sério, como um juiz dando início a uma sessão.

— Sei que você me falou um pouco sobre ele antes, Emi, mas eu gostaria de saber a opinião das duas aqui, enquanto estamos juntas. O que acham?

— Bem, para mim, ele é o vizinho da habitação para a qual me mudei recentemente… alguém gentil.

Emi lançou um olhar de esguelha para Suzuno. Ela estava toda animada para matar o Rei Demônio há pouco, mas agora tinha voltado a isso.

— E, para mim, se fosse possível, eu gostaria de matá-lo agora mesmo.

Emi não estava mentindo, mas Rika dificilmente entenderia as suas palavras literalmente.

— Ooh, é uma diferença de opinião bem grande, hein? Parece que você está escondendo algo aqui, Emi.

Emi, pretendendo não esconder nada, mostrou um olhar zangado por causa da surpresa.

— Ouça só, Rika, eu devo mesmo deixar isso claro: não há nada entre mim e o Maou. Não quero que ela se envolva com ele por motivos completamente diferentes. Não é como se estivéssemos brigando por amor ou coisa do tipo.

— Oh, sério? Mas, quando você ficou na minha casa, não disse algo sobre “o Maou ser todo meu”?

— Eu não! Pare de colocar palavras na minha boca!

Dois meses atrás, Emi passou uma noite no apartamento de Rika após o desabamento do túnel. Quando o assunto voltou ao Maou, o qual Rika viu com a Emi no local do desastre, Emi não se lembra de ter dito nada além de “só nos encontramos, não somos nem conhecidos, algum dia eu vou fazer ele ter o que merece”, etc., etc.

— Além disso, por que você está tão inclinada em juntar eu e o Maou, hein? Apenas pensar na ideia já me deixa enjoada! Sair com aquela aberração, cruel, perversa, teimosa e retardada, alguém que pensa ter feito um favor para mim só porque me emprestou um guarda-chuva lixoso… — Quando se tratava de criticar o Maou, Emi tinha material de sobra.

Ela deixou jorrar como uma represa estourada, esperando que Suzuno continuasse ao se aproveitar do embalo.

— Você não irá repreendê-lo assim, Yusa!

Ela foi parada por um intruso.

Suzuno olhou reto enquanto Rika se virava na cadeira.

Elas se depararam com um homem de pé que as olhava de cima, ainda segurando uma bandeja cheia de restos de um lanche há pouco comido.

Era Shirou Ashiya, cidadão do Castelo Demoníaco, um homem que, até esta manhã, estava em um estado de delírio devido ao calor do verão.

— O que você está fazendo aqui?! Onde estava até agora, hein? — Emi apontou um dedo em pânico para ele.

Ashiya apontou para uma banqueta na outra extremidade da área de refeição com os olhos.

— Percebi quando vocês chegaram! Eu tinha ignorado porque não queria mais problemas hoje. Esperava conseguir sair daqui sem ser notado, mas não sou o tipo de monstro que ficaria parado enquanto você espalha todas essas mentiras horríveis e falsidades sobre aquele grande homem!

Dada sua admissão de que estava pronto para sair de fininho sem dizer nada, a ética elevada do Ashiya parecia não ser sincera na mente de Emi. Ainda assim, internamente, ela precisou elogiá-lo por não deixar um Sua Alteza Demoníaca escapar.

De repente, Emi pensou em uma maneira para evitar um conflito verbal com ele e ainda usá-lo para o seu próprio ganho.

— Espere um pouco aí, Ashiya! Eu poderia usar da sua ajuda aqui, já que tem muito a ver com você e o Maou.

— O quê? Por que eu sequer ergueria um dedo para…

— Bem, assim, você está aqui para realizar uma pesquisa sobre o lugar para o seu amigo, certo? Ficarei feliz em comprar o que você quiser.

— Hmm. Então, já que insiste.

— Uau!

Foi Rika que deu um grito maravilhado. Até o momento, ela esteve ouvindo Ashiya e Emi gritando um com o outro por cima dela. Agora, mesmo que não tenha tirado os olhos dele, ele se sentou repentinamente ao seu lado.

A mudança rápida de atitude foi o suficiente para irritar a Emi. O seu plano parecia um pouco menos inquestionável agora.

— Eu… eu não fazia ideia de que você era um grande porco ganancioso.

— Hmph. Você não me entende. Neste exato momento, a única coisa que tem prioridade na minha mente são as finanças da nossa casa. Se isso irá nos fornecer uma boa economia no dinheiro, subirei qualquer montanha, percorrerei qualquer pântano lamacento, suportarei qualquer humilhação!

— Pare de agir como estúpido. Você não precisa ficar todo animadão por causa de lanches grátis.

— Fique quieta. No momento, fui incapaz de pesquisar sobre a seleção de sobremesa e salada do SFC por causa da minha verba atual. Talvez eu faça um segundo pedido depois.

Ele não tinha vergonha na cara.

— Hm… Ele é algum amigo seu ou algo do tipo? — perguntou Rika.

— Com toda certeza não!!

Ashiya e Emi gritaram em um coro improvisado, alto o suficiente para que os clientes por perto olhassem para eles.

— Não tenho exata certeza de quem você é, mas, entre suas companheiras, sou conhecido como o vizinho da Senhorita Kamazuki. Meu nome é Shirou Ashiya.

— Oh! Bem, olá. Sou amiga da Emi, Rika Suzuki. Então, se você é o vizinho… isso significa que mora com o tal de Maou?

— Sim, está correta. Você conhece o mestre da casa?

Ashiya olhou para Emi, checando com ela para ver se Rika estava ciente da verdadeira identidade deles da mesma forma que Chiho estava. Emi balançou a cabeça, apática.

— Siiiimmm, tipo isso. E eu gostaria de saber mais sobre ele, se não se importar.

O senso de perigo de Ashiya despertou.

Para ele, Rika era uma completa estranha. Que tipo de negócios ela teria ao perguntar sobre alguém como o Maou, que sequer fazia parte da sua hierarquia real demoníaca?

— Uh, Ashiya? Não precisa temer nada. Tenho bastante certeza sobre isso, de qualquer forma.

As palavras da Emi não foram o suficiente para acalmar a sua preocupação.

— Então, basicamente, pelo que entendi, tem esse cara que a Emi não quer que outras mulheres se aproximem — disse Rika.

— Hein? — As sobrancelhas do Ashiya se franziram enquanto ele mostrava uma expressão honestamente preocupada a Emi. — Yusa, do que se trata isso?

— Isso é o que eu gostaria de saber.

Ashiya olhou para Rika, Suzuno e Emi, nessa mesma ordem, então continuou:

— Um homem que a Emi não quer que outras mulheres se aproximem, isso…? — Ele refletiu sobre as palavras dela. — E isso pode me envolver? Entendo. Está tentando me pegar de guarda baixa, não é, Yusa?

Por apenas um momento, Ashiya mostrou um leve sorriso a Emi, confiante em sua vitória nos jogos mentais.

— Bem, realmente, por onde eu deveria começar então? — Ele fingiu pensar um pouco por um tempo. — Eu… não acho que a Senhorita Kamazuki está ciente disso, mas o Maou e eu gerenciávamos uma empresa juntos.

Isso foi além da imaginação de Emi.

— Como ééééé? Uma empresa?! — Rika ficou em choque, o que era previsível.

— A-Ashiya?! Do que é que você está falando?! — Os olhos de Emi se arregalaram de maneira semelhante.

— O que ele quer dizer com isso? — Suzuno, enquanto isso, continuava confusa enquanto perguntava a Emi, pergunta esta que Emi não tinha como responder.

A vizinha do Maou ainda não havia revelado a sua verdadeira identidade ao Ashiya, é claro, por isso ele estava tão decidido a lhe contar essa mentira descarada.

— Tipo, o Maou não é assim tão velho, é?! Ele é tipo um daqueles gênios de startup? — Continuou Rika.

— Algo assim, claro.

— Uoooou… Bem, isso certamente muda as coisas! E que tipo de empresa era?

— Bem, o nosso principal negócio era na administração de imóveis e contratação temporária. Havia também um trabalho de construção. Nós éramos chamados de… Grupo Maou.

— Oh… pois é, um monte de empresas de arquitetura se chama “Grupo Alguma Coisa Assim”, né?

Rika ficou fascinada pela marcante e, sem dúvidas, verdadeira história do passado do Maou.

Emi e Suzuno não.

— Contratação temporária? Sério?

— Belo “grupo” mesmo…

Ambas sussurraram para si mesmas, sendo que Emi tinha dificuldades em saber para onde Ashiya planejava levar essa história.

— Mas, infelizmente, o empreendimento acabou falindo e, agora, vivemos… e me desculpo à Senhorita Kamazuki, pois sei que acabou de se mudar e tal…, em um apartamento em ruínas e pegamos todos os trabalhos de meio período que conseguimos. Maou e eu, junto de mais um companheiro de negócios que vive conosco, estamos fazendo o melhor possível para lutar contra as dificuldades que encontramos para reconstruir nosso bom nome e fortuna. A questão para mim, então, é como a Yusa se envolveu nisso.

Aí vem. Emi engoliu em seco. Ele estava simplesmente se perguntando como ferrar com ela.

Errar agora poderia significar ter que alterar as memorias de Rika, a sua amiga, o que ela preferia evitar.

Esse era um pensamento que Ashiya não poderia entender, mas ele ainda assim continuou a sua história de vida:

— Yusa, então, trabalhava para uma empresa rival na época.

— Hã? Emi? Você trabalhava na área da construção?!

A atenção da Rika imediatamente virou-se para Emi, mas Ashiya continuou antes que ela pudesse se defender:

— Não, você ainda era uma funcionária temporária naquele tempo, não era?

— Uma temporária… Hm. Bem.

A Igreja era apoiada pelas doações do povo de Ente Isla, os seus cavaleiros eram pagos pelos impostos coletados dos barões a quem serviam. Comparada a isso, Emi, que era recompensada apenas pelo seu “desempenho de trabalho” nos campos de batalha contra os demônios da sua terra natal, era, se pensar de uma certa forma, uma temporária. Ser um Herói não era uma carreira em que a maioria das pessoas continuava, ou sobrevivia, por muito tempo.

— Meu deus. Você, a Heroína do seu território, uma funcionária temporária.

— Não caia nessa, Suzuno! — Emi deu uma cotovelada de leve na Suzuno atrás da mesa.

— Estávamos ativos em uma variedade de indústrias, mas ainda éramos um negócio de pequena escala, do tipo em que os gerentes principais saíam em campo todos dos dias, dirigindo os locais de trabalho e assim por diante. Mas graças aos talentos dela e o apoio que a empresa lhe dava, nos víamos brigando por contratos contra a Yusa.

— Brigando por contratos… Mas por que uma empresa grande daria esse tipo de trabalho a uma temporária?

— Ah, nem… sabe, eu meio que tinha algumas conexões. Tipo assim, eu conhecia um dos caras do painel executivo, então…

Emi tentou explicar o seu passado de uma forma que seria aceitável para os ouvidos de uma pessoa japonesa moderna, adicionando alguns detalhes dolorosamente inventados para se encaixar na história de Ashiya.

— Ohh. Bem, acho que agora faz sentido então, hein? Você é boa com idiomas também. E o que aconteceu depois?

— Yusa tinha uma quantia de colegas de trabalho poderosos e administradores ajudando-a, mas… bem, sério, nós éramos um bando de moleques, daqueles que não tinham mais experiência em campo do que qualquer outro. E, quando a crise econômica chegou, empresas menores como a nossa foram as primeiras a ruir.

— Hohh… Faz sentido, sim. Fiquei sabendo sobre o quão avarentos os bancos são quando fazem empréstimos e coisas do tipo hoje em dia. E com toda a importação barata vindo para o Japão, muitas empresas estão caindo, mesmo que façam produtos melhores.

Rika primeiro reagiu às novidades com uma curiosidade surpresa, mas, agora, enquanto ouvia Ashiya continuar, a sua expressão foi começando a mudar.

Ela nasceu em Kobe, filha de uma família que gerenciava uma pequena fábrica. Os seus pais e parentes estavam todos envolvidos na empresa de uma maneira ou de outra. Rika viu tudo isso por si mesma quando era criança. Algo sobre a história ridícula de Ashiya deve ter a tocado de alguma forma.

— Então, no fim, a Yusa era a única competindo conosco por contratos… e essa não foi uma batalha ganhável para nós. Assim, fechamos o negócio e, depois de passar praticamente um ano no nosso apartamento em Sasazuka, nos encontramos com a Yusa mais uma vez. Ela se lembrou de nós das nossas disputas, é claro, e tenho certeza que tem suas próprias opiniões. Na realidade, de vez em quando vai lá para ver como estamos.

— Oh, é isso mesmo…?

Rika assentiu diversas vezes para si mesma, aparentemente chegou à conclusão lógica em sua mente.

Emi, enquanto isso, conseguia sentir o sangue sendo drenado do seu cérebro. Ashiya usou os últimos minutos pintando essa imagem amplamente positiva dela, e Rika estava aceitando tudo.

Ela ficaria devendo essa. Não era o tipo de coisa que poderia compensar com algumas sobremesas e uma salada.

— Então, recentemente, a gentil Kamazuki aqui se mudou para o apartamento ao lado. Se a Yusa prefere que ela fique longe de nós, deve ser porque não quer que seja envolvida no nosso estilo de vida indigente e precária… não nessa economia.

— Precária…?

Suzuno repetiu as palavras alto o bastante para que Ashiya ouvisse. Ele assentiu calmamente em resposta.

Para Emi, nada poderia estar mais longe da verdade. Tudo o que ela queria para Suzuno, apenas uma garota comum aos seus olhos na época, era que mantivesse distância do Demônio e seus lacaios. Mas não conseguiria encontrar uma maneira de se opor a Ashiya, cuja história estava provando-se notavelmente verossímil para Rika no momento.

— O Maou ainda é jovem, mas ele, infelizmente, não tem um diploma de faculdade ou qualquer educação de nível mais alto. Para alguém assim começar uma nova empresa, necessita de um grande conhecimento, dinheiro e conexões… todos os quais não temos no momento, nada mesmo. O único trabalho em que tivemos chances era o tipo de contrato que até mesmo Emi, no cargo mais baixo da sua empresa, estaria brigando para ter.

— Você… não precisa chamar de baixo — sussurrou Emi, frustrada.

— Ao invés de assumir o tipo de risco vasto que preferimos, tenho certeza de que a Yusa quer ajudar a Senhorita Kamazuki, guiá-la para uma situação de vista estável e honesta… E parece que você esteve aproveitando o ar fresco da cidade hoje, não é mesmo?

Ele sorriu quando percebeu o prendedor de cabelo bonito e o quimono de Suzuno, diferentes dos que ela usava de manhã, assim como todas as compras que estavam ao seu lado.

— Oh, é, foi apenas um estudo sobre os costumes sociais e…

Ela olhou para baixo, envergonhada, com o rosto vermelho sem querer. O furacão da vida urbana do Japão moderno devia ter sido uma montanha-russa para ela.

— Bem, dificilmente se tem algo para se sentir envergonhado. Uma mulher como você, aproveitando a cidade grande… Qual poderia ser a melhor forma de absorver a cena social?

Depois desse pequeno show de preocupação pelas mulheres em sua vida — muito além do que o seu chefe teria demonstrado — o rosto do Ashiya ficou franzido.

— Independentemente disso, o Maou ainda não desistiu do seu objetivo de construir uma nova empresa de sucesso. Hoje, ele está devotando todo o seu coração e alma ao MgRonald enquanto tenta aprender a arte do gerenciamento pessoalmente. Em um único ano, já chegou ao posto de supervisor de turno. Algum dia, quando chegar a hora, estarei ansioso para trabalhar para ele em um novo uniforme, mas, até lá, farei tudo o que posso para apoiá-lo.

Emi viu o rosto da Suzuno ficar rígido ao lado. Agora mesmo, diante da Heroína e de um clérigo da Igreja, Ashiya declarou que os demônios não tinham desistido de dominar o mundo. Seria estranho se isso não preocupasse Suzuno.

— Mas, como dizem, a vida toda é uma aposta. E eu posso certamente entender se a Yusa tem preocupações com relação à Senhorita Kamazuki se envolvendo demais conosco, pois isso pode ser afetado por algo desafiador no futuro.

— Oh, eu já estou bastante envolvida. — Suzuno cuspiu as palavras sem pensar, o que fez Emi suar. Felizmente, ninguém tinha a ouvido.

Ashiya continuou depois de uma curta pausa.

— Maou pode ser uma pessoa bastante teimosa às vezes… ou, devo dizer, tende a ter rancor contra as pessoas. Ele não gosta das visitas de Yusa, mesmo que ela esteja apenas agindo por causa da preocupação que sente por nós. Por isso acho que a situação é bem diferente do que você está pensando, Senhorita Suzuki.

Se não fosse pelos outros ao redor dela, Emi provavelmente já teria batido tanto o pé que o chão teria tremido.

Ashiya estava falando com maestria, bem o suficiente para mudar a ideia da pessoa para quem falava. Tinha controle total de toda a narrativa.

Emi estava preocupada com Maou, sim, e não queria que Suzuno se envolvesse na batalha deles. Porém, ouvia isso da boca de um demônio, o qual veio ao apoio dela.

A vergonha foi o suficiente para fazê-la querer sumir, mas Rika, perdida na saga da ascensão e queda de um jovem empresário, estava entretida demais para notar.

— Mas… bem, uau, hein? Vocês devem ter a minha idade, mas já estão fazendo todas essas loucuras! Isso é incrível! Cara, agora me sinto toda idiota por ter aquelas ideias bobas na cabeça! Você devia ter dito isso antes, Emi.

— …

Emi não conseguiu fazer nada além de ficar em silêncio, tendo a mente ocupada pela ideia pesarosa de que Rika não teria a ouvido caso o fizesse e pela dolorosa realização de que jamais conseguiria inventar uma desculpa tão eloquente quanto à de Ashiya.

— Realmente, mas, no fim, falhamos. Nosso presidente agora trabalha meio período no MgRonald, e eu sirvo como o seu fiel colega de quarto. Além disso, um de nós mal tem vontade de buscar um emprego honesto. Que grandes “jovens prodígios” somos.

— Sim, mas… — O rosto de Rika passou de admiração para seriedade enquanto virava-se na direção de Ashiya. — Se vocês estão se mantendo com bicos assim e ainda estão bem confortáveis, eu diria que se saíram numa boa.

— Numa… boa? — Ashiya falhou para entender o significado do termo.

— Quero dizer, parece que não ficaram com muitas dívidas depois que a empresa fechou. Não deram cheques sem fundo, não faliram nem foram caçados por credores e coisas do tipo, certo? Se têm o talento para dar um jeito nas coisas com essa facilidade, tenho certeza de que terão uma chance para tentar outra vez.

Ela tinha a ideia completamente errada. O encorajamento inesperado deixou Ashiya surpreso por um momento.

— A minha família, lá na minha terra natal, gerencia uma pequena fábrica também e… tipo, é apenas uma empresa comum no papel, mas sempre que as coisas parecem estar prestes a sair dos eixos, a família inteira se une. Tipo assim, todo mundo trabalha junto para superar a crise, ainda que seja pouca coisa. Isso também vale para quando não tem nada a ver com os negócios da fábrica. Então, talvez, não tenha funcionado na primeira vez, mas Maou e o outro cara que você mencionou… Eles estão comendo a sua comida, dormindo nos lençóis que lavou, usando as calças que estendeu no varal, não é? Você está fornecendo todas as necessidades básicas que eles precisam, por isso acho que deveria se sentir orgulhoso disso. Todos vocês estão um cuidado do outro, então acredito que têm um futuro brilhante à frente.

Rika falou devagar, mastigando cada palavra enquanto continuava. Ashiya, ainda que estivesse surpreso no começo, assentia ligeiramente. Aquelas palavras acertaram na mosca, lá no fundo.

— Sim… sim, também acredito nisso. — Ele olhou com mais atenção para Rika. — Muito obrigado, você foi a primeira pessoa a dizer algo assim para mim. — Sorriu suavemente, sendo sincero. Nos últimos raios de sol do dia, o seu rosto um tanto magro evocava uma estranha sensação de saudade.

O motivo era por ter ficado de cama nos últimos dias, na realidade, mas isso fez Rika congelar por um breve momento, sentindo o pulso aumentar.

— Senhorita Suzuki?

Rika voltou a si ao ouvir seu nome, então acenou com as mãos, nervosa.

— Oh! Hã… sim. Bem, certo. Sinto muito por ser tão intrometida.

— Não se preocupe. Para ser honesto, ando tendo muita coisa ocupando a minha mente, por isso estava começando a perder a confiança em mim mesmo. Mas, ao ouvir o que você disse, sinto-me um pouco melhor agora.

Tudo relacionado à voz de Ashiya indicava que ele estava sério. Ser um dono de casa significava que não se podia esperar grandes elogios pelo seu desempenho.

A ideia de o Rei Demônio planejando sua conquista da Terra a partir da escada corporativa de um conglomerado de fast food a nível mundial tinha começado a inquietá-lo um pouco. Era isso mesmo o que deveriam estar fazendo?

E, neste estado mental, o encorajamento de Rika foi direto ao fundo do seu coração de uma maneira que ninguém esperava.

— É sério? Bem, isso é… ótimo. Sim, ótimo mesmo.

Rika tomou um gole do seu café gelado, claramente tentando afogar suas emoções confusas.

— Rika?

A metamorfose súbita foi mais do que suficiente para aumentar as suspeitas de Emi.

— Ahhhh! Hã? Emi? O que foi? — Ela ficou tão chocada que quase derrubou a xícara.

— O que quer dizer com “o que foi”? Tipo… o que aconteceu assim, de repente?

— Oh, nada! Nada, nada, nada!

— Você disse a mesma coisa quatro vezes.

Suzuno foi gentil o bastante para fornecer uma contagem.

— Ainda assim…, acho que todos têm a sua própria história, hein…? — Isso soava como uma declaração corajosa e efusiva vinda da boca de Rika. Ela então bebeu o resto do seu café de uma só vez. — Sabe, estou começando a achar que quero ver esse tal de Maou com meus próprios olhos.

— Oi? — A resposta de Emi quase parecia exagerada demais.

— Bem, quero dizer, precisa de um trabalho sério para se tornar gerente de turno tão rápido em um lugar grande como o MgRonald. Talvez ele tenha errado uma vez, mas me parece que é um cara bastante esforçado, sabe?

— Talvez… Ele recebeu mesmo um aumento de cem ienes depois de dois meses trabalhados lá, pelo que me disse…

A memória do sorriso largo de Maou naquele dia ainda cortava o coração de Ashiya com tristeza, mas Rika demonstrou admiração uma vez mais.

— Sério?! Cem ienes? Isso é loucura! Em dois meses? Tipo assim, isso é muito mais do que você normalmente recebe a mais depois de passar pelo período de experiência. E o MgRonald também não pega muito leve com os seus funcionários. Sabe, no ambiente certo, aposto que ele poderia mesmo fazer com que algumas coisas avançassem!

— Sim… no ambiente certo…

Para Ashiya, o Japão era o ambiente errado desde o começo para suas atividades que deixam rastro de enxofre.

— Talvez eu entre nessa jogada com ele, hein?

— Uou! Rika?! — Emi não conseguiu mais permanecer em silêncio, mas foi parada por Rika.

— Não de um jeito estranho. O que eu quero dizer é que ele é um cara que com certeza fará sucesso nos negócios. Sou filha do presidente de uma empresa, afinal, por isso tenho um olho afiado para essas coisas.

— O que isso significa…? Eu realmente não consigo…

— Quando se gerencia uma pequena oficina, as conexões que estabelece nas linhas de frente se tornam bastante importantes. Se Maou criar outra startup e fizer sucesso, ter conexões agora ao invés de mais tarde não vai machucar. Você ficaria surpresa se visse todas as ligações que as pequenas empresas compartilham pelo Japão. Não sei se a linha de negócios de Maou combina com a nossa, mas certamente quero saber.

— Sabe, nunca te perguntei, Rika, mas o que a sua família faz?

— Fazemos acessórios para calçados. Tipo solas de tênis e tal.

Isso jamais seria algo que combinaria com as aspirações despóticas de Maou, independentemente do mundo em que ele acabasse, mas não havia motivos para encher a bola dela.

— Bem…, vamos dizer que Maou tem mesmo em vista o topo do império MgRonald. Mas vai que ele queira fazer um pedido de sapatos com a nossa família algum dia, Senhorita Suzuki.

Mas Ashiya estava mais do que pronto para aumentar ainda mais as coisas.

— Ooh! Se ele acabar trabalhando com uma equipe, ficaremos felizes em fornecer calçados de boa qualidade para os uniformes da empresa. Sem pedido mínimo!

A bola agora ocupava toda a área de refeição, quase esmagando Emi.

— Sabe, sinto muito em ficar pedindo, mas acha que posso vê-lo? Sei que precisa passar o relatório para ele, Ashiya. Além disso, também poderia ajudá-lo um pouco nas vendas dele!

— É exatamente isso que eu estava esperando. Neste caso… — Ashiya mostrou um sorriso maléfico, um daqueles demoníacos, que pingava com intenções para Emi. — Você se juntará a nós, não vai? Espero que sim. Acho que vou querer alguns biscoitos e salada mil ilhas para a viagem, se não se importar. Podemos ir ao MgRonald após isso.

— Seu ganancioso… — Emi dizia com amargura para ele. Mas se não seguisse suas ordens, não se sabe como essa história se desenrolaria.

— Preciso compensar a Senhorita Kamazuki por toda a ajuda que nos deu até agora também. Estaria feliz em pagar por isso, então, por favor, me avise se quiser alguma coisa.

— Oh, não, eu… eu planejo jantar em casa, por isso…

A atitude de Ashiya para com Suzuno era notavelmente diferente da que tinha com Emi, que, ao perceber o leve beicinho que Rika fez atrás de Ashiya, sentiu sua dor de cabeça ficar ainda pior.

O grupo desceu as escadas e viu que o lugar estava mais movimentado do que antes. Uma fila longa estava à frente dos caixas registradores.

— Vocês três podem esperar do lado de fora, pode ser? Vou sair assim que comprar aquelas coisas.

Emi esperou que saíssem para então entrar na fila.

O mal-entendido com Rika ficou resolvido, mas agora tinha um problema totalmente diferente para enfrentar.

Com um adversário tão calculista como Ashiya, falhar em compensar um favor com certeza levaria a uma briga sem fim depois… sem contar algum tipo de pagamento.

Incerta de como oferecer uma compensação que satisfaria Ashiya por completo, Emi decidiu por fim que a única coisa que faria seria desmembrá-lo com violência em combate. Quando chegou a essa conclusão, percebeu que era a próxima da fila para pedir, então olhou para o cardápio, buscando os pedidos de Ashiya.

Depois, olhou para cima e viu o funcionário baixinho que anotou o pedido de Rika mais cedo.

O rosto dele era compacto e fino, e ele usava uma camisa com um avental preto, destacando-o do resto da equipe.

A julgar pelo nome SARUE escrito em caracteres chineses em seu crachá, deveria ser o gerente ou algo do tipo. Usava um par de óculos, uma raridade para atendimentos cara a cara como esse, sem contar que não combinavam nem um pouco.

— Pois é, foi mal. Um Cookie Gourmet e uma salada com molho mil ilhas para levar.

Emi não apreciou muito o comentário, mas deu pouca atenção enquanto jogava uma nota de mil ienes na bandeja à sua frente.

— Absolutamente. Ah, há algo distintamente atraente em uma mulher jovem e bonita que parece atormentada com alguma coisa…

Ela lhe lançou um olhar duvidoso. As reclamações eram suscetíveis de rolar logo se esse fosse o atendimento ao consumidor padrão dele.

— Entretanto, não importa o que te aflige, o tempo tem uma maneira de mudar tudo, você querendo ou não. Caso veja a si mesma incapaz de mudar os eventos a seu bel-prazer, poderá viver para se arrepender.

— Nunca… vi um funcionário do SFC se meter tanto assim na minha vida pessoal.

Emi juntou as sobrancelhas, o que pareceu não incomodar o funcionário, que agilmente colocou o pedido dela na sacola de papel.

— Sim, peço desculpas pela minha intromissão. Mas deixe-me lhe dizer apenas uma coisa. — Ele provavelmente só queria entregar o pedido para Emi, mas o homem com o crachá com nome Sarue pareceu estender o corpo por cima do balcão enquanto entregava a sacola. — Homens tendem a procurar mulheres quando estas estão mais fracas. Aconselho que tome cuidado por onde anda.

— O… que isso quer dizer?

— Oh, nada de profundo, certamente. Muito obrigado. Espero que volte logo. Estou pronto para atender o próximo cliente aqui, por favor!

A suspeita aumentada na mente de Emi ao ouvir o conselho obviamente significativo que o funcionário tinha para ela foi bloqueado pela família que esperava atrás na fila.

— Oops!

Um garotinho, que fazia parte do grupo, correu para frente, animado, chocando-se com Emi.

— S-Sinto muito por isso! Você sabe que não deveria sair correndo assim! Está tudo bem?

A mãe, que segurava um bebê com um dos braços, usou o outro para agarrar o presumido irmão do bebê enquanto curvava a cabeça para Emi.

— Oh, sim, estou bem…

Não havia como pressionar ainda mais o funcionário, pelo menos não com todas essas pessoas na fila nem com Rika e o resto esperando do lado de fora, por isso distanciou-se do caixa.

— … é alérgico a… tipo camarão, e caranguejo, e certos tipos de frutas…

— Me dê só um segundo para checar isso, senhora.

Emi ouvia a conversa que ia ficando mais baixa enquanto pensava consigo mesma:

— A última coisa que preciso é de mais problemas… — sussurrou suavemente para si mesma enquanto partia.

Não se virou, extremamente confusa e não querendo mais envolvimento, mas algo com relação aos olhos de Sarue fez parecer que ela ainda estava sendo perseguida.

 


 

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