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Rei Demônio ao Trabalho – Vol. 01 – Cap. 03.3 – O Rei Demônio e a Heroína Permanecem Fortes em Sasazuka

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— Argh, me sinto péssimo! Acho que vou ficar doente por causa do Portal!

 

— Faça o favor de tentar não vomitar, se poudeeeerr…

 

— Não posso garantir, cara! Erp…

 

— Aguente, por favoooor! Duvido que tenhamos tempo para descansar quando chegarmos ao outro lado.

 

— Hein? Está sentindo algo lá? Grhh…

 

— Uma reação mágica criada pelo homem, descoberta pelas nossas leituras sonares. Está muito longe de ser puramente a magia latente do “Japão”.

 

— Quer dizer que Emília está com problemas?

 

— Talveee-ez! Pode ser que tenhamos que nos preparar para a batalha!

 

— Certo! Vamos nos apressar! Posso aguentar isso!

 

— Sim, senhor! Estamos innnndo!

 

— Oooooh! Pare de fazer tudo tremer tanto!

 

 

 

Chiho corria a toda velocidade enquanto chorava. Independentemente do que Maou e Emi tinham a dizer, não era o tipo de situação em que ela tinha os meios para entender com calma.

 

Eu gosto mesmo do Maou. Mas sou apenas a nova garota no trabalho, alguém que ele acabou de conhecer. Não posso fazer nada sobre a história que Maou e Emi têm juntos.

 

Foi o meu primeiro amor. Com Maou, eu me sentia tão energética; tinha um caminho, um objetivo que eu poderia conseguir com ele. Os garotos do ensino médio, todos vivendo às custas de seus pais e festejando a noite toda, não são nada comparados a ele.

 

Ele podia particularmente não ser alto nem bonito, mas Chiho ainda se apaixonou por ele.

 

Mas, agora, tudo se foi, seu coração estava em pedaços, e ela não tinha ideia do que fazer. Por isso correu o mais rápido que pôde, mergulhando na multidão ao redor da estação de Sasazuka, chocando-se em um poste, tropeçando em uma bicicleta estacionada e colidindo de cabeça em um pedestre.

 

— M-Me desculpe! — desculpou-se, envergonhada demais para erguer a cabeça.

 

— Oooh, essa aqui parece boa.

 

A voz, vindo de alguém que parecia um pouco mais alto que ela, ressoou com uma frieza amarga, totalmente estranhas para os ouvidos dela.

 

— Estive te seguindo desde aquele último erro, mas não achei que entraria em desespero com tanta facilidade.

 

Era um homem jovem, de baixa estatura. Parecia alguém bem normal: cabelo longo e liso, camiseta e jeans. Também não perecia ser muito mais velho que ela.

 

Mas qual era a daqueles olhos? Roxos, com pupilas que pareciam brilhar com uma imensidão de cores sinistras, algo que Chiho nunca vira antes.

 

— Chiho Sasaki. Permita-me pegar todo o ódio e desespero que o Rei Demônio e a Heroína lhe causaram e fazer com que se tornem realidade!

 

Eles estavam no meio do movimento do meio-dia em Sasazuka. Duas pessoas paradas no meio da calçada fizeram com que o tráfego fosse afetado.

 

— Ei, saiam daí! — Um homem, jovem e bem vestido, avisou ao estranho, colocando uma mão em seu ombro.

 

— …!

 

De repente, a camiseta rasgou-se no local em que a mão o tocou. O jovem foi arremessado pela coisa que saiu do ombro dele, caindo sobre algumas bicicletas que estavam estacionadas.

 

— Ahh…! — gritou Chiho, com força. Outros pedestres encaravam o homem, sem conseguir entender o que acabara de acontecer.

 

Foi uma asa negra, saindo diretamente das costas daquela pessoa.

 

— A caçada começou. Hoje, superarei o Rei Demônio de uma vez por todas.

 

Naquele momento, uma linha de trem Keio desabou, sendo vítima de uma misteriosa explosão.

 

Maou e Emi corriam, Ashiya não estava muito atrás. O barulho que ouviram logo após a explosão não podia ser outra coisa a não ser a influência de algo mágico.

 

A julgar pelo aviso da senhoria, ficou claro que ela, no mínimo, não era uma pessoa comum. Mas não havia tempo para tentar compreender isso agora.

 

— Aguente aí, Chi!

 

Maou ainda estava correndo.

 

— Veja! — Emi apontou para frente.

 

— Mas o que é aquilo…!? — Murmurou Ashiya para si mesmo.

 

Os trilhos desabaram. A ponte elevada tinha colapsado, esmagando o shopping ao lado da estação de Sasazuka. Eles conseguiam sentir restos de magia na área, mas não eram nada como as barreiras que Maou usou para salvar as pessoas.

 

Além de toda a bagunça, na rua Koshu-Kaido, Maou viu duas figuras no ar; a Via Expressa de Shuto cobria o céu.

 

O inimigo já não tinha mais motivos para se esconder. Os inocentes que escaparam se mantinham longe, encarando os destroços e as pessoas no ar.

 

— Eles…!

 

— Quem… são eles? Como podem…

 

— O que você acha!?

 

Maou começou a escalar os escombros, evitando os trilhos energizados e subindo uma montanha de destroços que poderiam desabar a qualquer momento. Emi e Ashiya iam logo atrás.

 

Havia duas pessoas: um homem batendo suas gigantescas asas, ao mesmo tempo em que carregava algo ao seu lado; e outro, que flutuava no ar, o capuz de seu manto fantasmagórico cobria o rosto.

 

Depois de passarem pelos escombros, Maou detectou alguma coisa. Algo voltava para dentro dele. Por quê? Devia ter ficado alegre, mas, ao invés disso, sentiu perturbador. Não era assim que planejava, não desta forma.

 

Tal pensamento incômodo jamais teria lhe ocorrido durante seus dias no reino dos demônios. Porém, agora…

 

— Bom ver você, Lúcifer! Trouxe um amiguinho junto?

 

A figura de asas respondeu com uma risada sombria:

 

— Ora, ora! O Rei Demônio Satan! Ou devo me referir a você como Sadao Maou? E como é ver você com tanta saúde, Alciel!

 

 — Lúcifer…? Não poder ser…

 

— N-Não… Por que está aqui agora…?

 

Emi estava completamente perdida, sem saber o que dizer. Ashiya balançava a cabeça, incapaz de acreditar no que via.

 

Apenas Maou permanecia forte, sua expressão permanecia inalterada enquanto observava as duas pessoas flutuando.

 

Lúcifer era o Grande Demônio General que a Heroína Emília matou primeiro. O anjo caído que se tornou um demônio. O general que governou a invasão do Continente do Oeste e o capturou.

 

— Há quanto tempo, Heroína Emília… quero dizer, Emi Yusa!

 

— Sem… chance…

 

— Ah, sim! Sua espada pode ter perfurado meu corpo, mesmo assim, aqui estou, diante de você!

 

O Grande Demônio General Lúcifer zombou, as horripilantes asas negras o tornavam digno do título de anjo caído. Ao seu lado, como se fosse uma mãe gata carregando seu filhote, ele segurava Chiho, que estava inconsciente.

 

Ela não parecia estar ferida. Mas por que ele decidiu capturá-la?

 

— Tudo graças ao seu novo amigo, não é? — Maou apontou com a cabeça para a figura encapuzada ao falar. —  Quando recuei e mandei um esquadrão ao Continente do Oeste para investigar, ainda não acreditava que você estava morto. Nunca imaginei, em momento algum, que humanos pudessem derrotar um Demônio General, então eu acho que a investigação foi menos minuciosa do que deveria ter sido…

 

— E, graças a isso, sobrevivi.

 

— Sim. Você não era um demônio puro. Não como Alciel, Malacoda e Adramelech. Mas, com seu sangue do Paraíso, pensei que capturar o Continente do Oeste fosse ser moleza, mesmo que fosse a fortaleza da Igreja. Uma pena eu estar errado.

 

— Uma pena mesmo! Devotei todo o meu ser em erradicar os humanos da ilha, para cumprir a missão que me foi dada. Porém… — Lúcifer virou o olhar para Emi. —, os exércitos da Heroína me venceram. Acho que isso você já sabe.

 

— Seu amigo se importaria em contar o resto? — perguntou Maou.

 

— Bem? — Lúcifer virou-se para a figura de manto próxima a ele.

 

Ele riu, parecendo concordar com seu parceiro.

 

— Certamente, sou…

 

— … Olba Meiyer, um dos seis arcebispos da Igreja?

 

O homem parou, surpreso com o palpite de Maou.

 

— …! — A mente de Emi ficou em completa desordem. O nome era muito familiar para ela. — Olba? É mentira! Olba é o meu…

 

— … companheiro, aquele que te mandou para este mundo, para depois tentar erradicar nós dois, certo?

 

— Você já sabia disso…?

 

A figura interrompeu, um pouco desanimado por ter perdido a oportunidade de dar a notícia bombástica, então, tirou o capuz. Era um homem de aparência graciosa e calma, por volta dos cinquenta anos. Sua cabeça tonsurada, símbolo de um bispo de alto nível da Igreja, brilhou sob o sol matutino.

 

Seu manto branco de arcebispo, bordado com fios azuis e prateados, esvoaçava com o vento forte que soprava entre os prédios por perto.

 

— Nós, demônios, praticamente inventamos o mal, sabia? Sempre consigo saber no que um vilão está pensando, do começo ao fim. Você é o cara que estava atrás de Emi quando ela entrou no Portal, não é? Quando fiquei sabendo disso, consegui juntar todas as peças. Ninguém mais teria a chance de atingir nós dois.

 

— Não… Não! Olba, por que está agindo com Lúcifer? Você não…

 

— Tudo começou depois que ele perdeu para você, Emília.

 

O arcebispo Olba mostrou um sorrisinho, sua voz pareia estar prestes a tomar outro tom enquanto ele se preparava para contar o conto épico.

 

— Depois que destruíram os exércitos demoníacos, você não queria a Heroína mandando em você, por isso a mandou para outro mundo e consultou Lúcifer, enquanto ela ainda permanecia incapaz de fazer qualquer coisa. Então, em segredo, eliminou o resto do grupo da Heroína, a fim de proteger os interesses da Igreja. Fim. Preciso fazer alguma correção?

 

Novamente, Maou roubou os holofotes.

 

Além disso, a julgar pela forma que a boca de Olba se abriu e fechou logo em seguida, deixando-o calado, mostrava que ele estava certo. Maou riu de forma sinistra.

 

— Algo assim já foi feito milhares de vezes, careca! Acha que essa garota aqui vai tentar se tornar a deusa do universo ou algo parecido? Até um filme de segunda classe e de baixo orçamento poderia sugerir um roteiro melhor do que esse. — Maou cutucava Emi enquanto falava.

 

— Ei, pare com isso!

 

Emi ainda estava em estado de choque, mas as cutucadas foram o suficiente para trazê-la de volta à realidade.

 

 — Careca…? Filme de segunda classe? — Olba estava chocado por outros motivos.

 

— Hmm… Vossa Majestade Demoníaca? Eu acho que não deveríamos o chamar de careca natural.

 

Por alguma razão, Ashiya achava adequado defendê-lo. Ignorando isso, Maou, desafiadoramente, ficou diante de seus dois inimigos.

 

— Viu só, por isso que eu odeio o Paraíso. Vocês todos dizem uma coisa e pensam outra. Seria muito mais humanitário se nós, demônios, governássemos a coisa toda. Até já imagino como que levou Lúcifer para o seu lado. O atraiu com a chance de voltar ao Paraíso?

 

— C-Como você-!

 

— Não me venha com “Como você”. Podia tentar, pelo menos, ser um pouco mais original? Eu acho que você também não passa muito de um filme de segunda classe, Lúcifer. Ver você cair na história desse idiota me faz querer chorar.

 

— S-Seu demônio maldito!! — A voz de Olba falhou quando entrou em um estado de pura raiva.

 

— Se era para vir aqui, Careca, e começar a gritar só porque estou dizendo a verdade, seria muito melhor ter vindo com um roteiro mais adequado!

 

O puro abuso por trás das palavras de injúria de Maou, que pareciam não ter fim, deixaram não apenas Olba e Lúcifer de boca aberta, mas Emi também.

 

— E agora você vai ficar todo “Oh, nããoooo, você enfureceu o Lúcifer! E não será capaz de fugir como da última vez! Morra aqui mesmo, ao lado da Heroína!” Isso é tão brega, cara! Nem mesmo os vilões dos shows sentai das crianças pensaria em falas melhores do que essas!

 

— O que é um “show sentai”!? O que está querendo fazer, seu idiota estúpido!? Além disso, eles meio que têm a Chiho como refém, já se esqueceu!? — Sem conseguir se segurar mais, Emi deu um tapa na nuca de Maou. — Você poderia saber o seu lugar agora, pelo menos! Eles estão prestes a confessar todos os atos malignos que cometeram! Então pare de ficar interrompendo!

 

— Vossa Majestade Demoníaca! Quando foi que teve a chance de assistir algum filme!? Que desperdício de dinheiro…

 

Emi e Ashiya gritaram com Maou ao mesmo tempo, ainda que fosse por razões diferentes. Lágrimas de frustração apareceram nos olhos dele.

 

— Cara, isso dói, maldita! Se eu deixar ele falar primeiro, é bem provável que você tivesse desmaiado por causa do choque, tá bom!? Por isso que fiz um pouco de esforço para dar uma amaciada nas más notícias para você! Além disso, qual é, como um filmezinho só iria doer!? Sou eu quem traz o bacon à mesa!

 

Nem Emi nem Ashiya estavam dispostos a desistir.

 

— Não quero que vocês peguem no meu pé por causa disso!

 

— Eu também queria parar um pouco com o serviço de casa e aproveitar um pouco do entretenimento! Mas eu me controlei!

 

— Parem com isso, todos vocês! — Foi necessário que Olba gritasse com toda a força de seus pulmões para parar a discussão. — Concedi-me a te ouvir, mas o que ganho em troca é uma discussão idiota? Você pagará por isso, Rei Demônio Satan!!

 

— Isso é tão amador, cara. Não poderia ser menos original que isso, mesmo se tentasse.

 

— Grrrnnnhhhh… — O rosto de Olba ficou vermelho a ponto de ser possível fritar um ovo nele.

 

— Ei, se importa de me responder uma coisinha, Arcebispo Bola Branca? — Maou levou a mão ao ouvido, fazendo um gesto para ouvir melhor a resposta. — Quantas pessoas precisou atacar para proporcionar o aumento mágico a Lúcifer?

 

— …!

 

— Hein!?

 

— O quê!?

 

— Você é bem perceptivo, Vossa Majestade Demoníaca!

 

Apesar da reação de choque dos quatro, Maou baixou o tom e continuou:

 

— Deixe-me te perguntar algo, Emi… Onde é que todos os deuses e demônios vivem nesta terra chamada Japão?

 

— O quê? Não sei…

 

— Dentro do coração das pessoas. Me diga que percebeu agora, pelo menos.

 

— No coração… das pessoas?

 

— Sim. O povo dessa nação não é governado pelos seus deuses. Eles se inclinam para o lado maligno ou para o lado sagrado com um estalar de dedos. Veja a divindade e a maldade, isso fica claro na pessoa sempre que é forçada a situações extremas. Essa é a fonte de poder! A forma na qual podemos ganhar poder neste mundo!

 

— É isso… mesmo? Então…

 

Maou assentiu, então voltou o seu olhar para Lúcifer.

 

— Ver um demônio em toda a sua glória assim faria com que grande parte das pessoas mijasse nas calças. Estariam assustados demais para fazer algo. Eles, provavelmente, são as pessoas por trás das ondas de assaltos.

 

Emi virou-se para Olba, na esperança de que negasse, mas ele permaneceu em silêncio. Quanto tempo fazia que estavam ali? Não podiam ter ficado tanto tempo sem beber ou comer. Como se mantiverem alimentados?

 

— Por isso voltei à minha antiga forma ontem. O desespero das pessoas diante da morte iminente, todas ao meu redor, e isso forçou seu caminho para dentro do meu corpo.

 

Ainda havia uma parte de Emi que implorava para que Olba dissesse que tudo não passava de mentira. Entretanto, não conseguia entender por que Lúcifer e ele estavam trabalhando juntos.

 

— Eles sugaram toda a energia negativa, todo o medo e tristeza. Todo aquele poder que levou ao primeiro ataque de disparo mágico, e o terremoto de ontem… Como conseguiram tudo isso, hein?

 

Então, Emi lembrou-se da manhã depois dos disparos mágicos, assim como os noticiários que viu no quarto de Rika. Ela franziu a testa.

 

— Portanto, se quiser ganhar força mágica o suficiente para voltar a Ente Isla… Precisa causar um desastre enorme! Sugar o poder de uma ou duas pessoas não será o bastante.

 

— Não…

 

— Eu meio que gosto deste mundo, sabia? Tem sido uma experiência bem refrescante ser um humano. É um bom mundo, eu acho, e não quero ferrar com ele. Quero fazer algo diferente, então… — Com um sorriso no rosto, Maou olhou para os dois, que flutuavam. — E agora? Querem fazer isso aqui?

 

Ele percebeu que aquilo foi o suficiente para deixá-los agitados.

 

— M-Mas, Rei Demônio! Não se importa nem um pouco com essa garota? Temos total conhecimento do relacionamento de vocês! Sabemos que são íntimos!

 

Maou não aguentou a risada, conformado com a atuação meia-boca de vilão de Olba.

 

— Ei, Heroína Emília, eu realmente odeio arcebispos, mas me deixe te contar o que mais odeio… traidores.

 

O olhar de Emi foi de Maou para Olba por um momento, mas logo ficou fixado no arcebispo.

 

— Sim… eu também odeio demônios e traidores.

 

— Tem certeza disso? Faz um tempo que está poupando seu poder. Se lutarmos aqui, pode ser que nunca mais o recupere.

 

— Coisas boas vêm para aqueles que trabalham de forma justa.

 

É isso mesmo que eu gosto de ouvir. — Emi mostrou um sorriso amargo.

 

Maou também sorriu, fazendo um gesto para cima.

 

— Qual é, vamos logo com isso! Vou pulverizar vocês dois! E também vou pegar a Chi de volta!

 

A aura majestosa e que parecia estar acima de toda a vida fez com que todos os observadores lembrassem que ele costumava ser o Rei Demônio.

 

— M-Mas, Vossa Majestade Demoníaca! — Ashiya, naturalmente, por trás, intrometeu-se para arruinar o momento. — Precisamos avaliar nossos oponentes por completo. Se não entendermos o motivo pelo qual escolheram esse momento em específico para armar essa armadilha para nós, será muito perigoso agir de forma imprudente…

 

— Bom conselho, Alciel. Deixe-me te mostrar. — disse Lúcifer, enquanto suas asas pareciam brilhar por um momento.

 

Houve um woosh, seguido por um gemido curto e abafado. Maou e Emi se viraram.

 

Ashiya estava no chão, conforme sangue jorrava de um ferimento no lado esquerdo do seu peito, como se ele tivesse levado um tiro.

 

— A-Ashiya! — gritou Maou.

 

— Minha nossa! Veja a força que ela também tem pelo seu colega de quarto, Alciel! Você deve ter levado essa garota às profundezas do desespero por mim! — O sorriso de Lúcifer era de zombaria, e suas palavras mostravam pena.

 

Ver Ashiya sangrando no chão, pânico se espalhou pela área ao redor em um instante. Mesmo com o desabamento da ponte agora há pouco, uma grande audiência ainda olhava para Lúcifer, demonstrando uma falta de habilidade japonesa para sentir o perigo. Lúcifer murmurou, não dando atenção alguma à multidão em fuga.

 

— Sua imaturidade será a causa de sua queda. Imagine, algo tão pequeno causando tamanha nuvem de desespero e tristeza!

 

— Você… você está invadindo o coração da Chi… — Maou, impotente, piscava.

 

— Sentimentos negativos são muito fáceis de se controlar quando direcionados a um único alvo. Sempre fui capaz de disparar poder mágico que tem um efeito muito mais poderoso contra vocês dois, e vocês. Vejam!

 

As asas dele mostraram um brilho negro logo depois. Inúmeros fios de luz iam em direção ao chão.

 

— Droga…

 

A grande quantidade e a velocidade eram demais para as pernas fracas de um humano conseguirem escapar. Estalando a língua, frustrado, Maou levantou seus braços, então, os abriu. Os fios de luz seguiram a direção de suas mãos, redirecionando-se a um prédio nas proximidades.

 

Com uma explosão, todas as janelas do edifício de vários andares se estilhaçaram, e as pessoas, do lado de dentro, fugiam como vespas de um ninho fumigado.

 

— Rei Demônio! Alciel está…!

 

Emi levantou a cabeça do completamente imóvel Ashiya. O sangue não mostrava sinais de parar, e sua pele estava tornando-se branca como papel rapidamente. Levando suas mãos até o seu pescoço e punho, percebeu que seu pulso estava rápido e fraco.

 

— Descuidado!

 

— O sujo falando do mal lavado, não acha?

 

— Ngh!

 

A segunda saraivada foi disparada. Maou levantou as mãos na mesma direção, mas…

 

— Droga, não tenho o bastante!

 

— O quêêê!?

 

Ainda havia uma pequena quantidade de poder mágico, proveniente do medo ao redor que encontraram quando passaram pelos destroços da ponte. Mas Maou não tentou absorvê-lo. Desviar apenas uma onda de disparos mágicos, controlado mentalmente por Lúcifer, já fez com que ficasse sem energia.

 

Emi, por instinto, cobriu a cabeça, incapaz de usar uma proteção antimagia com sua força sagrada enquanto cobria Ashiya ao mesmo tempo.

 

Os disparos que Maou falhou em desviar atingiram o concreto.

 

— Uooooouuuu!

 

O grito de Maou foi engolido pela poeira do asfalto jogado no ar devido à explosão. A onda de choque dos disparos mágicos percorreu os fios de eletricidade, os postes e os prédios, e, em um instante, a estação de Sasazuka transformou-se em algo que se assemelhava a um campo de batalha.

 

— Hahaha! Não tinha ideia de que o sabor da destruição, depois da derrota para a Heroína Emília, seria tão maravilhoso! — A risada alta de Lúcifer ecoou pela área. A estação de Sasazuka, coberta por poeira, parecia o inferno na terra.

 

Toda a vizinhança também parou de funcionar de uma só vez. Pessoas fugiam, outras falharam em fugir a tempo, explosões inimagináveis e a enorme bizarrice daquela cena de outro mundo…

 

— Não se distraia, Lúcifer! Nossa missão é destruir a Emília e o Rei Demônio!

 

Lúcifer mostrou um tom sarcástico a Olba, que estava ao seu lado e berrava para que não brincasse durante a luta.

 

— Você se atreve a interferiu nos meus assuntos?

 

Olba estremeceu por um momento com o impacto da ameaça de Lúcifer, mas manteve seu tom antipático quando continuou, ainda com suor escorrendo pela testa:

 

— Você já se esqueceu que sou eu quem controla o Portal que servirá como sua ponte ao Paraíso?

 

— Maldito… — Ele revirou os olhos, frustrado, então virou-se para Chiho, que ainda estava sob seu braço.

 

— Você não precisa se preocupar. Enquanto tivermos a garota, o Rei Demônio e a Heroína Emília jamais fugirão de nós.

 

Quando a poeira baixou, a única coisa que restava no chão era o sangue de Ashiya. Maou, Emi e o próprio Ashiya tinham sumido.

 

— Lúcifer!

 

— Se acalme. Eles podem armazenar quanto poder quiserem, mas nunca terão o suficiente para resistirem a nós. Vamos atrás deles!

 

Os dois voaram pelo céu de Sasazuka.

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