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Registros de Guerra: Tanya, A Diabólica – Vol. 01 – Cap. 05.3 – O Batalhão Primordial

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Não é preciso dizer. As ordens para criar uma unidade de feiticeiros aéreos já foram praticamente emitidas; é apenas uma questão de tempo. A capitão von Degurechaff também parece saber disso e não diz nada. Bem, dispensar conversa fiada é certamente eficiente.

— A quem vou me reportar?

Ela pergunta exatamente o que quer saber. Seria muito mais fácil se eu pudesse apenas dizer: “Comando de Prontidão”, mas só consigo oferecer um sorriso dolorido.

Certamente é necessário para um comandante pensar sobre a quem está servindo. Sua abordagem analítica mostra o quanto ela está qualificada, perguntando sinceramente, sem sarcasmo.

— Já que a sua será uma força de reação rápida, você estará sob o comando direto do Estado-Maior. Seu código de formação será no V600. Algum pedido especial?

— Nada em particular. Por favor, escolha o que for apropriado.

Sem hesitação. Não tem muito interesse em códigos ou ornamentações, então? Embora pareça entender a necessidade deles em termos de identificação da unidade.

— Então você será a 601. Basicamente falando, você não tem um oficial superior. Alegre-se. Estará se reportando diretamente ao Estado-Maior.

— Tudo está dando certo.

— Sim, de fato. Qualquer um ficaria com inveja.

Ser um comandante de batalhão é considerado popularmente o melhor cargo – ainda é possível entrar em batalha como comandante e ter um alto grau de autonomia. Basicamente, permite ao líder travar a sua própria guerra. É um cargo agradável para aqueles suficientemente qualificados para tal.

Reportar diretamente ao Estado-Maior torna as coisas ainda melhores, uma vez que grande parte da burocracia chata é removida.

— Quanto tempo tenho para organizar a unidade?

— Quanto mais rápido você puder fazer isso, melhor. Mas não há um prazo definido.

— Entendi. Então vou considerar minhas escolhas com cuidado.

Quanto ao local em que estarão estacionados, o norte e o oeste não têm realmente os meios para acomodá-los por causa da proximidade com o combate principal, enquanto o sul e o leste tendem a ser politicamente delicados. É muito provável que fiquem em algum lugar entre essas áreas. Mesmo que seus ajudantes estejam cuidando dos detalhes em vez dele, ele pode deduzir isso.

— Imagino que estarão baseados em algum lugar do sudeste.

— Entendido, senhor.

O mais longe possível das áreas mais intensamente combatidas. Em outras palavras, estão dando a ela um sinal de que terá todo o tempo de que precisa para treinar seus subordinados. O sorriso sarcástico no rosto de Tanya lembra a Zettour de alguns rumores desagradáveis que ouviu sobre ela. Supostamente, seus critérios para selecionar subordinados são excessivamente rigorosos.

— Uma palavra de aviso, Capitão. Você tem a reputação de ser um pouco exigente demais com seus candidatos.

Dar a impressão de não ter força ou talento para cultivar subordinados é um grande ponto negativo. No meio militar, é dado que você não pode escolher seus colegas. Você simplesmente precisa fazer o melhor da situação que lhe é dada.

Se não puder, então não importa o quão distinto seja como indivíduo, falhará como oficial e como soldado. Na melhor das hipóteses, será considerado um lobo solitário e se encontrará sem um amigo para recorrer dentro da organização. Os grupos vão te derrotar com sua vantagem numérica.

— Não duvido das suas habilidades, mas não é uma reputação especialmente boa para se ter. Sugiro que tenha cuidado.

— Obrigada pela sua preocupação.

Tanya tem a compostura de aceitar críticas com calma. Isso é encorajador. Suspeito que ela já tenha uma ideia de quem quer na unidade.

— Bem, você conquistou isso com seus próprios esforços. Deve se orgulhar.

— O orgulho precede a destruição, senhor. Eu tento manter a humildade.

— Ótimo. Acho que essa atitude vai lhe servir bem.

O mais importante é que essa garota não deixa as promoções e privilégios subirem à cabeça. Ela é relaxada e aberta; não importa quanto de favor receba, não se perderá nisso, mas apenas trabalhará muito mais. Ela é realmente uma oficial rara. Talvez você até possa chamá-la de nobre. Nobreza, na verdade, sempre foi uma forma de agir, não apenas uma linhagem sanguínea. O von não é tudo. Se a maneira como uma pessoa se porta é aristocrática, então o sangue não importa.

— Espero que os papéis sejam liberados amanhã. Fique no seu alojamento esta noite.

— Você pensou em tudo.

Percebo um toque de irritação. Bem, é compreensível; seu posto parece mudar todos os dias.

— Apenas um gesto de desculpas da minha parte. Não dê importância.

— Não, muito obrigada.

— Tenho grandes esperanças em você, Capitão. Desejo-lhe grande sucesso.

Ela receberá uma unidade experimental. É uma responsabilidade séria, e ele realmente espera muito dela. Na verdade, espera que seu experimento dê frutos.

V600

Não há registro desse código de formação em lugar algum. Com exceção de um punhado classificado, os materiais tornados públicos após a guerra incluem todos os códigos. No entanto, não existe a série V600.

O sistema de numeração do Exército Imperial começa com as Forças Centrais, com códigos nos V000s. Mesmo se somarmos todos os exércitos regionais,

só chegamos aos V400s. A única exceção que conseguimos pensar seria uma unidade sob Tecnologia Central. Mas os materiais tornados públicos vão apenas dos V000s aos V500s.

Alguns especialistas apontam a possibilidade de que o V600 fosse o código dado a uma unidade experimental especial para manter um nível especialmente alto de sigilo. A acirrada corrida tecnológica que ocorreu durante a Grande Guerra resultou em um mundo muito mais avançado do que antes do conflito. Ganhar essa corrida exigia o máximo de sigilo. Talvez tenham criado uma unidade fora do sistema de numeração normal para que ninguém soubesse dela.

Essa sugestão valia a pena ser considerada. A equipe de Ender imediatamente começou a fazer uma lista de pessoas que pareciam estar envolvidas em tal projeto. AAo mesmo tempo, minha própria equipe começou a analisar os documentos da Divisão de Tecnologia do Exército Imperial. Encontramos um engenheiro ligado à Central.

Conseguimos a oportunidade de falar com ele pessoalmente. Seu nome era Adelheid von Schugel, e ele era o engenheiro-chefe. Ele liderou o projeto que produziu o Orbe de Operação de Assalto Modelo 97 no meio da guerra, que foi aclamado como uma obra-prima.

O devoto Sr. Schugel, segundo ouvimos, comparecia à missa toda manhã de domingo sem falta. Graças aos serviços do padre da igreja que frequenta, conseguimos uma entrevista. Por sorte, ele nos permitiu a visita, embora fôssemos observados de perto.

O Sr. Schugel era conhecido por sua intelectualidade.

— É uma alegria receber visitantes de longe em um dia em que orei a Deus. Deve ser o que o Senhor deseja, — murmurou, mostrando grande hospitalidade para connosco, tendo em conta que estávamos a intrometer-nos no Sabbath.

Honestamente, isso me surpreendeu. Eu estava esperando que um engenheiro imperial fosse mais difícil. Confessei minha estreiteza de visão por duvidar de uma pessoa tão gentil quanto o Sr. Schugel e pedi seu perdão.

— Você reconheceu o erro dos seus caminhos. Todas as coisas acontecem de acordo com a vontade dele.

Ele aceitou minhas desculpas com um sorriso e imediatamente depois disso, perguntamos sobre a unidade V600. Mas no momento em que a mencionamos, o policial militar que estava ali para arbitrar a entrevista impediu o Sr. Schugel de responder. Havia algo ali. Tínhamos certeza disso.

Mas o Sr. Schugel, com um sorriso irônico para o PM, disse algo completamente inesperado.

— O código da unidade V600 não existe. Mas examinem os registros, cavalheiros. Os jornalistas precisam conhecer sua história.

Ele sorriu ironicamente quando nos deu essa resposta desconcertante; decidimos que V600 não se referia a uma unidade, mas a algo mais, e continuamos nossa investigação com base nisso. A chave estava na dica dele sobre estudar história.

Um código de unidade que parecia não existir? Não. Realmente não existia. Agonizamos com isso por quase um mês antes que um especialista em organização militar pusesse fim ao nosso sofrimento.

Um colega da redação estrangeira nos apresentou a ele, e ele reconheceu nosso erro imediatamente.

— Um número V? — ele disse. — Isso é um código de formação.

No sistema do Exército Imperial, a formação da unidade era tratada pelo Corpo de Apoio, e as Operações que efetivamente utilizavam  tropas. O ponto importante aqui é que aqueles encarregados da organização estavam em um departamento diferente daqueles incumbidos da implantação.. Normalmente, o último simplesmente assumiria os números sob os quais o primeiro havia reunido em uma unidade.

Por exemplo, digamos que o Corpo de Apoio criou a unidade V101 com a intenção de reabastecer as forças centrais. A Operações utilizaria como a 101ª Força-Tarefa. Mas se não estivesse claro onde uma unidade seria designada, eles escolheriam um código que normalmente não era usado para evitar mal-entendidos. Então, obviamente, o código de formação V600 poderia existir mesmo que nenhuma unidade na casa dos seiscentos existisse.

Foi isso que nos confundiu. Estávamos perseguindo um fantasma de seiscentos unidades criado por nossa própria imaginação. Espero que dêem risada de nós. Achamos que tínhamos descoberto a verdade, mas veja onde isso nos levou.

Tomamos uma decisão improvisada de ir ao bar para coletar informações, e só registro que passamos o dia inteiro lá. (Infelizmente, não conseguimos incluir a viagem nas despesas.)

Agora entendi. O sábio Sr. Schugel pensou que estávamos indo na direção certa. Seu único erro foi pensar que eu havia estudado o suficiente para entender seu conselho enigmático.

Mas agora estávamos progredindo, tínhamos certeza. Por alguma razão, todos nós tínhamos terríveis dores de cabeça, mas começamos a examinar a documentação de formação de unidades deixada pela seção do Corpo de Apoio do Estado-Maior do Exército Imperial. E não tivemos dificuldade em encontrar o que estávamos procurando.

Entre todos aqueles arquivos cuidadosamente organizados, havia apenas um com o número seiscentos, como se estivesse suplicando para ser encontrado. Mas estava praticamente vazio. Havia apenas um simples memorando:

Atenção: Corpo de Apoio, Estado-Maior do Exército Imperial.

Nós o guiamos sempre, nunca o abandonamos, vamos para onde não há caminho, nunca cedemos, para sempre no campo de batalha. Tudo o que fazemos, fazemos pela vitória. Procuramos feiticeiros para os campos de batalha mais terríveis, as recompensas mais modestas, dias escurecidos por uma floresta de espadas e uma chuva de balas e perigo constante sem garantia de sobrevivência. Aqueles que retornam recebem a glória e a honra.

Comitê de Formação 601 do Gabinete do Estado-Maior.

Mas qual era o código da unidade que correspondia ao código de formação 601? Infelizmente, o arquivo continha apenas aquela única folha de papel. A prosa altamente carregada era incomum; normalmente, o Exército Imperial detestava qualquer coisa que cheirasse a retórica literária.

Qualquer um que o visse lembraria. Tendo tomado nossa decisão sobre isso, começamos a questionar os feiticeiros que estavam no exército na época. Com o primeiro com quem conversamos, acertamos em cheio. Mas o que ele nos disse foi profundamente decepcionante.

— Ah sim, isso é famoso. Sobre a unidade de propaganda, certo? As pessoas que realmente se inscreveram voltaram bastante irritadas.

— Uma unidade de propaganda?

— Correto. O departamento de relações públicas queria uma unidade que “transmitisse a justiça e a nobreza do Império” ou algo do tipo.

— Hmm, não vimos nenhum material que mencione propaganda.

— Claro que não viram. Se as pessoas soubessem que estavam usando uma grande unidade de feiticeiros aéreos apenas para propaganda, teria dado problema.

— Desculpe, o que você está tentando dizer?

— Ouvi dizer que houve uma enxurrada de reclamações do Corpo de Apoio e das linhas de frente, e eles abandonaram a ideia toda. É uma história bastante conhecida, pelo que me lembro.

Incrédulos, conversamos com vários ex-feiticeiros imperiais. Metade de nós esperava que eles negassem e a outra metade esperava, resignada, que dissessem: ”Ah, sim, eu ouvi sobre isso.”

Mas – e não sei se isso é um cruel truque do destino ou uma feliz coincidência – a verdade acabou sendo um pouco diferente. Vários feiticeiros nos deram versões alternativas e convincentes.

— Sim, ouvi falar disso. Eles não chegaram a um acordo sobre a ideia de um Comando de Prontidão, e esse foi o resultado.

— Não era uma unidade de propaganda?

— Não, aquilo era só uma mentira. Ouvi dizer que V600 era o código dado à força de reação rápida.

— Força de reação rápida?

— Sim, eles queriam uma unidade que pudesse se locomover mais rápido do que o Grande Exército, mas acho que não deu certo.

Isso veio de um ex-soldado que serviu no exército central.

— Acho que V600 era apenas uma maneira conveniente de se referir aos Grupos de Exército do Oeste e do Leste combinados.

— Você ouviu alguma coisa sobre isso ser uma força de reação rápida ou propaganda?

— Eram apenas blefes. Acontece muito na época de guerra, sabe.

— Então, que tipo de unidade era a V600?

— A versão resumida é que foi uma reorganização dos exércitos ocidental e oriental depois de levarem uma surra nas fases iniciais da guerra.

— Uma reorganização?

— Isso mesmo. Foi mais fácil do que dissolvê-los.

— E quanto aos outros rumores?

— O que ouvi dizer foi que eram truques da Inteligência. Para fazer o inimigo se preocupar que estavam criando uma unidade de elite completamente nova.

Isso veio de um ex-membro do Grupo de Exército do Norte.

Além dessas coisas, ouvimos todo tipo de especulação, desde o totalmente plausível até o quase absurdo. Brincávamos entre nós que poderíamos compilar uma enciclopédia de rumores de campo de batalha – mas isso nos deixou incertos sobre o que fazer em seguida. Quanto mais investigávamos, mais novos fatores surgiam. Sei que dizem que não existe uma única verdade, mas isso era ridículo. Estávamos completamente perdidos.

O que está correto? Decidi começar com essa pergunta. Ouvimos muitas coisas diferentes, mas algo estava me incomodando. Tentei fazer uma análise estatística dos relatos que reunimos. Às vezes concordavam, outras vezes se contradiziam. Isso significava que tinha que haver algum núcleo de verdade nos rumores, mas eles tomaram vida própria; agora era possível que nunca descobríssemos o que realmente aconteceu.

Parecia um microcosmo da própria guerra. Muito se falou sobre o conflito, e todos entendem que foi uma tragédia terrível, mas a verdade sobre isso, o que realmente aconteceu, permanece obscuro.

V600 e a Décima Primeira Deusa alimentaram nossa confusão.

Mas poderiam também ter sido o próprio coração da guerra?

(Texto por: Andrew, correspondente especial da WTN)

 

Separador Tanya

QUARTEL-GENERAL DO ESTADO-MAIOR, SEÇÃO DE FORMAÇÃO

Um escritório com uma placa que diz: “QUARTEL-GENERAL DO ESTADO-MAIOR, CORPO DE APOIO, SEÇÃO DE FORMAÇÃO, COMITÊ DE FORMAÇÃO 601” foi colocado em um canto do Quartel-General do Estado-Maior para lidar com a criação de uma nova unidade. E a principal ocupante, a Capitão Tanya von Degurechaff, é confrontada com os mistérios do mundo, verdadeiramente à beira da loucura.

A causa disso tudo é a montanha de formulários de inscrição que a aguarda quando ela se senta em sua cadeira feita sob medida e olha para a sua mesa. O enorme volume faria algum sentido se ela estivesse recrutando recém-formados; o Estado-Maior paga bem, então se fosse feito um chamado aberto para novos formandos, até ela teria considerado se inscrever.

Mas não é isso o que está acontecendo. Embora às vezes Tanya sinta que seus sentimentos não coincidem exatamente com os de outras pessoas, isso a pegou completamente de surpresa. Imaginando que deve ter havido algum engano, ela pega as diretrizes distribuídas para todos os exércitos regionais e as examina palavra por palavra, mas não há erros em nenhum lugar.

Nós o guiamos sempre, nunca o abandonamos, vamos para onde não há caminho, nunca cedemos, para sempre no campo de batalha. Tudo o que fazemos, fazemos pela vitória. Procuramos feiticeiros para os campos de batalha mais terríveis, as recompensas mais modestas, dias escurecidos por uma floresta de espadas e uma chuva de balas, e perigo constante sem garantia de sobrevivência. Aqueles que retornam recebem a glória e a honra.

Eles serão constantemente jogados na linha de frente e os últimos a recuar em uma retirada. É uma declaração de um campo de batalha perpétuo onde eles terão que abrir caminho nas linhas inimigas mesmo quando parecer impossível, sem rendição nem retirada como opções. E para enfrentar as batalhas mais difíceis, ela escreveu honestamente, haveria recompensas mínimas. Certamente, Tanya havia cumprido mais do que sua obrigação de explicar. Até escreveu sobre florestas de espadas e chuvas de balas – o fato de que se os candidatos baixassem a guarda por apenas um segundo, estariam mortos. O aviso dizia que aqueles que sobrevivessem receberiam medalhas ou algo do tipo, mas isso é praticamente o mesmo que dizer que não receberiam nada.

Não importa como ela olhe para isso, é como dizer: ”Por favor, junte-se a mim em um passeio de ida ao inferno, muito obrigada”. O bom senso lhe dizia que ninguém responderia a um chamado tão absurdo.

Ela certamente não teria respondido, e tinha certeza de que a maioria dos soldados também não. Dessa forma, poderia ter ganhado tempo alegando que não havia voluntários suficientes. Apenas alguns dias antes, Tanya estava maravilhada que o Corpo de Apoio tivesse permitido que um chamado tão ultrajante fosse divulgado.

Os feiticeiros desfrutam de tratamento de elite; não havia como responderem a esses requisitos ridículos. Era como enviar um anúncio de emprego para Wall Street que dizia: “Deve trabalhar horas extras não remuneradas; sem seguro de acidente de trabalho; deve estar disponível nos fins de semana e feriados; salário baixo; sem seguro de saúde. Com o sucesso nos negócios, os funcionários terão garantido um senso de satisfação e realização.” As chances de sucesso são extremamente baixas. Ninguém esperaria que economistas ou traders respondessem a isso.

Quando Tanya enviou a descrição brutal do trabalho, estava contando em matar pelo menos três meses reunindo voluntários. E ainda assim aqui está ela, confrontada com pilhas massivas de papéis que indicavam que há candidatos entusiasmados de todos os exércitos regionais. Nem sequer se passou uma semana ainda.

— Por que isso aconteceu…? — murmura consigo mesma, enterrando a cabeça nas mãos sobre a mesa. Quando estabeleceu este escritório, pediu ajuda mínima ao Corpo de Apoio na ingênua suposição de que o número de voluntários seria pequeno o suficiente para que pudesse lidar com tudo sozinha – um movimento que agora lamenta profundamente.

É decepcionante que seu plano não tenha funcionado, mas o problema maior é a montanha de inscrições tão grande que ninguém poderia lidar sozinho. A garotinha se considera habilidosa com papelada, mas mesmo ela tem limites. Infelizmente, não será uma tarefa simples obter o pessoal adicional de que precisa.

De certa forma, é uma falha de estratégia. Melhorar a situação com truques improvisados não será fácil. Parte dela quer saber o que aconteceu com o senso comum, mas, independentemente disso, ela tem que admitir que sua suposição estava seriamente equivocada. Sim, a Capitão Feiticeira Tanya von Degurechaff, oficial de formação do 601º Regimento do Estado-Maior, enfrentou a dura realidade e perdeu.

Para começar, ser encarregada do plano abrangente do Estado-Maior para a criação experimental de um batalhão de feiticeiros de reação rápida foi inesperado. Da parte dela, Tanya simplesmente esperava obter algum conhecimento privilegiado ao mostrar seu talento ao General de Brigada von Zettour relatando sua leitura da situação. Agora, de repente, estava vendo os líderes militares lhe dando um batalhão para fazer o que quiser.

Houve muitas vezes em que quase gritou: ”Eu não entendo!” Murmurou as palavras vazias: ”Como soldado, nada poderia me fazer mais feliz do que fazer parte disso”, mas no fundo, a situação não fazia sentido para ela.

A magnitude do que a organização fez por ela, esse poderoso apoio, é incrível. Essa situação é como aquelas vistas incríveis que fazem as pessoas duvidarem de seus olhos. É tão perturbador que Tanya sente vontade de colocar um fuzil na cabeça de alguém e puxar o gatilho só para verificar se isso é realidade.

Afinal, mesmo que sua permissão para ignorar a hierarquia do exército e formar sua unidade seja apenas nominal, tem praticamente liberdade. E a unidade que está formando é um batalhão reforçado. Para completar, ela pode estabelecer seu próprio prazo.

Tanya está no limite, refletindo ansiosamente sobre tudo isso, quando avista o telefone em sua mesa e se lembra de algo que a correria expulsou completamente de sua mente: ela tem uma adjunta. Sim, ela tem certeza de que lhe foi designada uma adjunta. Finalmente, lembrando-se desse fato, Tanya tem uma epifania – não posso usar uma adjunta como secretária? – e pega o telefone.

— Adjunta, adjunta!

Uma semana se passou desde que o pequeno escritório foi estabelecido em um canto do Estado-Maior. No momento em que Tanya se lembra de sua adjunta, ela pega o telefone e chama a oficial. Sua mente está completamente ocupada com pensamentos sobre o quanto precisa de mais pessoas para ajudar a lidar com a montanha de papelada. Queria, se possível,uma dúzia desses policiais militares comissionados, os irritantes que nunca perdem um detalhe.

— Você me chamou, Capitão?

Hmm? É a voz de uma mulher jovem, uma que ela se lembra.

Isso a faz parar, mas seu cérebro está completamente dedicado à papelada. Ela responde à voz da porta com desinteresse, sem sequer olhar para cima. Mas esta senhorita está se apresentando pela primeira vez. Pelo menos devo olhá-la nos olhos. Eu deveria pelo menos olhar nos olhos dela. Quando Tanya ergue a cabeça e vê um rosto familiar olhando para si, percebe que suas próprias características estão se contraindo em uma expressão surpreendida, como um pombo atingido por um estilingue. Isso não faz parte de seu repertório usual.

— Faz muito tempo, Capitão von Degurechaff. Segundo-Tenente Viktoriya Ivanova Serebryakov, se apresentando para o serviço.

A mulher que dá uma saudação perfeita na frente dela foi uma das primeiras subordinadas que Tanya teve. Ao retribuir o gesto, ela verifica as insígnias de patente no ombro de Serebryakov e vê que a mesma é de fato uma segundo-tenente. Deve ter concluído o programa de treinamento acelerado de oficiais e sido promovida. Depois de chegar a essa conclusão, Tanya finalmente baixa o braço.

— Com certeza, Tenente Serebryakov. Ah, parabéns atrasado por sua promoção.

— Obrigada, Capitão.

É uma surpresa suave encontrar uma pessoa tão inesperada em um lugar tão inesperado.

— Então você é minha adjunta?

— Sim, senhora.

Entendo, os superiores estão sendo muito atenciosos. Designar uma adjunta do mesmo gênero já era bastante atencioso. De qualquer forma, Tanya não planeja que ela lide com assuntos pessoais, mas aprecia o pensamento de que uma mulher facilitaria as coisas, mesmo que o gesto seja um pouco desnecessário.

Em qualquer caso, Tanya estava apenas esperando por uma adjunta competente. Ela está mais do que feliz por ter calculado mal. Com uma ajudante que não é apenas competente, mas também garante uma certa confiança, o trabalho será muito mais tranquilo. Ela é capaz, então, felizmente, posso trabalhar muito com a Tenente.

— Okay, Tenente. Sinto muito pelo problema, mas preciso que vá dizer ao comandante da guarda que quero alguns PMs emprestados.

Na verdade, ela queria uma linha telefônica direta para o escritório da polícia militar, mas, por algum motivo, não é permitido ter telefones que possam fazer ligações externas nas mesas pessoais no Escritório do Estado-Maior do Exército. Talvez seja sobre manter o sigilo, mas é cansativo. Talvez simplesmente não queiram se incomodar em instalar uma central telefônica.

— Entendido, Capitão. Quantos PMs devo pedir?

— Quantos estiverem disponíveis, mas eu gostaria de uma dúzia, se possível.

— Entendi. Vou contatá-los imediatamente.

A interação ocorreu tão suavemente que Tanya sente um sorriso puxando suas bochechas. Ela está irritada com a quantidade de trabalho que precisa fazer, mas ter uma subordinada útil vai reduzir bastante seu fardo. Claro, ela não pode realmente dizer isso até que tenham reunido algum pessoal. De qualquer forma, teria que lidar com o fato de que há voluntários demais.

Tanya respira fundo e dá à lista um segundo olhar determinado. Uma inspeção mais detalhada revela que, por algum motivo, inclui candidatos dos exércitos ocidental e norte, mesmo que tenha sido instruída a escolher candidatos de forças que não estão atualmente envolvidas. Dado o trabalho envolvido em classificar todas essas inscrições, provavelmente é um erro administrativo. Pensando nesse sentido, ela tem a ideia de que a maneira de resolver o problema é reemitir o chamado para voluntários.

Seu plano é considerar todas as inscrições nulas por motivos burocráticos e emitir um novo aviso.

— Certo, vou ter que ir ver o General de Brigada imediatamente.

Ela começa a contar seus pintinhos, pensando como apenas protestar o número de erros administrativos lhe comprará bastante tempo. Mas ela só se levanta pela metade antes de perceber que está sendo muito apressada.

Espera, espera. Você não pensou bem nisso.

Tanya originalmente lançou o chamado com a suposição de que ninguém responderia. A demanda urgente por potencial de combate e os requisitos rigorosos significariam que ela teria que analisar minuciosamente aquelas poucas inscrições, o que deveria lhe dar tempo. Mas então um grande número de pessoas se inscreveu. Há um perigo real de ser acusada de gastar muito tempo na montanha de papel se for exigente demais.

Então, ela reconsidera. Seria mais inteligente formar a unidade o mais rápido possível e, em seguida, tentar prolongar o treinamento ao máximo para transformá-los em um escudo humano robusto. Para sua própria segurança, quanto mais tempo tiver para preparar os subordinados que a protegerão, melhor. Vou apenas fingir que não vi as inscrições do oeste e do norte. No final da minha “seleção rigorosa”, decidirei deixá-los de fora desta vez – sorte deles! Provavelmente foram forçados a se voluntariar de qualquer maneira; eles ficarão igualmente felizes em serem deixados de fora e não serem enviados para campos de batalhas cruéis onde ninguém em sã consciência gostaria de ir. Em outras palavras, o melhor resultado que poderiam esperar era não serem escolhidos. Ignorá-los certamente contaria como boas ações secretas.

Posso realmente tirar vantagem do fato de haver tantos candidatos. Vou colocar obstáculos para garantir que eu crie a melhor unidade possível. Vai acabar levando um tempo para formá-la, mas ainda assim manterá um alto nível de qualidade. Se eu tiver sorte, posso desperdiçar todo tipo de tempo. No pior cenário, posso esperar que aqueles que sobreviverem ao processo de seleção se tornem escudos confiáveis. Isso não é nada mal.

Sim. Tendo chegado até aqui, devo me concentrar no controle de danos. Quero evitar tomar decisões estúpidas à la Concorde.

Controle de danos significa reduzir perdas – em outras palavras, não mexer no barco. Se eu apenas fizer isso, não haverá problemas. Vou definir os padrões tão altos que até deuses malignos fugiriam.

É o tipo de ideia que ocorre a alguém que está um pouco em pânico.

 

Separador Tanya

AGÊNCIA AFILIADA DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO IMPERIAL, SALA DE RECEPÇÃO 7

— Primeiro-Tenente Aisha Schulbertz, apresentando-se para o serviço.

— Primeiro-Tenente Crane Barhalm, apresentando-se para o serviço.

Dois jovens oficiais chegaram à capital, convocados do exército oriental. A base do 601º Comitê de Formação havia sido estabelecida nos subúrbios da cidade, e chegaram exatamente às onze horas, conforme instruído. Uma nova unidade de elite de feiticeiros estava sendo formada. Foi dito aos candidatos que se apresentassem, e o par ambicioso, ansioso para cumprir seu dever, anunciou seus nomes e patentes com entusiasmo.

— Obrigado por virem. Sou o Coronel Gregorio von Turner, chefe do 601º Comitê de Formação.

Ele os observou por cima da mesa à sua frente como se pudesse enxergar até suas almas, sua aura endurecida pela batalha fez com que os dois primeiros-tenentes se endireitassem inconscientemente.

O olhar do coronel os congelou no lugar, mas então ele assentiu como se estivesse aceitando.

— Tenho certeza de que ambos foram informados sobre a programação do dia, mas houve uma mudança de planos de última hora.

Mesmo na academia, mudanças de horários e objetivos eram comuns.

Sem dúvida, estão buscando flexibilidade. Após chegar a essa conclusão, os dois tenentes focaram toda a atenção no coronel para não perderem uma palavra.

— Esqueçam o que disseram sobre se apresentarem ao Campo de Treinamento Sete até as 14h de hoje. Os dois devem se dirigir imediatamente para o quartel-general da Sexta Unidade de Combate Aéreo.

Imediatamente. Eles perceberam que essa era a parte importante. Deve ser um teste de quão rapidamente podem responder a ordens urgentes.

— Além disso, nem é preciso dizer, mas ambos são obrigados a manter a confidencialidade em relação ao processo de seleção.

Um dever de confidencialidade, isso faz sentido, pensaram. Começaram a reconsiderar como poderiam viajar, dado que precisavam manter sigilo. Os limites da cidade eram uma zona de não voo, mas eles provavelmente poderiam usar meios de transporte regulares. Basicamente, isso significava um veículo militar – idealmente, um associado ao Comando ou à polícia militar.

— Eu os aviso, se houver alguma dúvida sobre sua capacidade de manter o sigilo, vocês se encontrarão instantaneamente de volta à sua unidade original com uma nota em seu histórico.

— Senhor! — responderam ambos.

Ele mal precisou avisá-los. Rapidamente se retiraram e começaram a conversar entre si.

— O quartel-general da Sexta Unidade de Combate Aéreo? Desculpe, mas você sabe onde fica?

— Sim, sem problema. Tenho quase certeza de que estão baseados na base aérea de Auksburg.

Barhalm nunca tinha ouvido falar da unidade ou de seu QG, mas por sorte, Schulbertz a conhecia. A base aérea de Auksburg ficava nos arredores da capital imperial. Segundo ela se lembrava, era o lar de uma unidade de transporte capaz de lidar com missões em grande escala. Sem dúvida, uma unidade de elite gostaria de ter alguma conexão com a força aérea. E uma base nos arredores da cidade fazia mais sentido do ponto de vista do sigilo.

— Então é nos arredores, certo? Como vamos até lá? Será que podemos requisitar um veículo militar em algum lugar?

O raciocínio era simples de entender, mesmo para um par de jovens primeiros-tenentes. Mas isso os deixou com o desafio de como obter um veículo militar. Infelizmente, estavam atualmente ligados ao exército oriental. Eles não tinham absolutamente nenhuma autoridade para dar ordens a outras unidades, o que limitava suas opções de transporte. E dada a estipulação de confidencialidade, se aparecessem na base em um táxi civil ou algo do tipo, com certeza seriam recusados.

— A unidade da polícia militar ligada ao Estado-Maior deve ter veículos. Talvez eles possam nos emprestar um extra. — Pensando rapidamente, Schulbertz teve a ideia ao ver um PM se aproximando deles. Ela se aproximou trotando, confirmando que o oficial era da unidade ligada ao Estado-Maior. Ela tinha certeza de que teriam um veículo de algum tipo, e como viria do Estado-Maior, não haveria problemas com o sigilo, também.

— Sargento, poderia me arrumar um veículo?

— Claro, Tenente. Sem problema algum.

A resposta veio assim que ela pediu. Satisfeita com a eficiência, a dupla agradeceu. Os PMs os viram partir com saudações apropriadas, mas no momento em que o carro sumiu de vista, todos suspiraram de decepção.

Sua missão era se despedir daqueles que foram enganados e seriam levados de volta para suas bases – mas havia tantos deles.

— O que é isso, a décima quarta dupla? — ele refletiu. Cara, isso é muita gente.

— Quantos mais teremos hoje? Acho que ouvi falar de cinco.

Eles já haviam pedido um veículo quatorze vezes – e isso foi naquele dia. Seus superiores os haviam ordenado a marchar de forma visível. Se houvesse apenas um ou dois, eles poderiam atribuir ao azar, mas com tantos, as intenções do examinador estavam claras.

— Ah cara. Eu pensei que pelo menos quatro duplas passariam.

Será que realmente não percebiam que estavam sendo enganados e enviados de volta às suas unidades? Aqueles dois jovens oficiais sinceros, sem dúvida, seriam colocados em um transporte que partisse de Auksburg e seguisse de volta para o leste.

— Parece que o Terceiro Pelotão estava certo.

O Terceiro Pelotão apostou que ninguém passaria. O Primeiro Pelotão apostou em quatro duplas passando. Aliás, o Segundo Pelotão, que apostou que pelo menos metade passaria, já estava fora da competição. Por favor, alguém passe…

Pensando nas garrafas que estavam prestes a perder, os PMs rezaram fervorosamente pelo sucesso dos candidatos. Eles não eram muito religiosos, mas sentiram a necessidade de apelar a Deus. Nenhum discípulo é tão devoto quanto um apostador.

 


 

Tradução: Rlc

Revisão: Pride

 

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