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Registros de Guerra: Tanya, A Diabólica – Vol. 01 – Cap. 02.2 – O Orbe de Operação Elinium Modelo 95

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Presumo que ele quis dizer figurativamente, mas – ao que tudo indica – pensei errado. As linhas de frente parecem mais promissoras em termos de sobrevivência. No outro dia, ouvi dizer que já estou qualificada para a Medalha da Cruz Ferida.

— É a sua falta de concentração que causa esses problemas! E você se considera uma soldado?

Aguentei os insultos de Schugel e lutei contra o desejo interior de xingá-lo. Certamente não me alistei no exército porque queria, e não é uma profissão divertida, mas estou aqui.

— Te garanto, sou uma soldado imperial! Porém, o dever de um soldado é empunhar armas. Não fazer porcarias defeituosas funcionarem!

No começo, achei que o trabalho de um soldado imperial era travar uma guerra com um orbe de operação na mão e um fuzil no ombro. De forma alguma pensei que isso implicava carregar máquinas defeituosas que explodem sem aviso prévio. Até mesmo os soldados têm o direito de reclamar se lhes for dado um fuzil com defeito ou um orbe de operação descontrolado. Pelo menos, esse é o caso do Exército Imperial.

Sem mencionar que a confiabilidade e a durabilidade são indispensáveis para o equipamento de um feiticeiro no ambiente hostil da guerra moderna. Isso é bom senso, mesmo entre novos oficiais. E se estende além dos feiticeiros, a robustez e a confiança devem ser a prioridade máxima para todos os equipamentos militares. Sendo sincera, um equipamento desenvolvido de um jeito bizarro e único não é adequado para combate.

É o mesmo que um carro de corrida projetado para alto desempenho não sendo capaz de suportar o desgaste do uso diário. Uma arma delicada e intrincada que não tolera o mínimo manuseio de soldados regulares é praticamente insignificante no campo de batalha.

 

 

 

— O quê? Você chamou de ‘defeituoso’ de novo?!

Naturalmente, o exército entende a necessidade de inspeção tecnológica. E às vezes, para exibir seu poder técnico para a propaganda, o Império produzia equipamentos experimentais especializados em uma determinada área, a fim de quebrar recordes. Se estivesse correndo para quebrar um recorde mundial, seria aceitável, mas o protótipo de orbe dado para Tanya é conhecido como o “principal candidato da próxima geração”, tornando a versatilidade absurdamente essencial.

Será que esse cientista louco ao menos leva o desenvolvimento de armas a sério? Não é apenas um hobby para ele? Enquanto Tanya questiona o bom senso do engenheiro-chefe, ela não consegue deixar de se perguntar como o Quartel-General de Suprimentos e Logística poderia concordar com isso.

O mundo é realmente um lugar misterioso.

— Que parte de um orbe de operação que falha sem motivo aparente, a essa altitude, poderia ser considerado uma arma legítima?!

Se os motores de uma aeronave parassem de repente, todos a chamariam de “máquina de matar”.

Se os defeitos fossem particularmente terríveis, ele até adquiriria fama de “fabricante de viúvas”. Mas este orbe de operação tem problemas ainda maiores do que esse. Afinal, é preciso fazer quase um milagre para essa coisa funcionar.

Não só é propenso a mau funcionamento e quebra, mas também tem uma saída instável e, no geral, não é confiável. Não posso deixar de sentir que essa coisa não deveria ser chamada de arma.

— É porque vocês idiotas não sabem usar direito! Como consegue quebrar meus instrumentos de precisão tão rápido?!

— Porque são frágeis. Você sabe o que significa “uso militar”?

Este cientista louco definitivamente não entende o termo. Porém, devo reconhecer que ele conseguiu cumprir todas as especificações solicitadas pelo exército.

Mesmo que só seja verdade no papel – e apenas até certo ponto – o protótipo tem uma altitude funcional que torna possível interceptar bombardeiros. Essa capacidade aumentaria drasticamente o valor estratégico dos feiticeiros. Teoricamente, o poder de fogo imediatamente aplicável seria quadruplicado. O potencial de ataque dos feiticeiros dispararia.

Mas isso são apenas conjecturas, assumindo que a coisa funcione corretamente. Deveria ser óbvio, mas, sendo sincera, um orbe que é uma obra de arte ou requer manutenção laboratorial especializada é inútil. É tentador perguntar se tudo o que o engenheiro-chefe quer criar é um cavalo puro-sangue que só precisa dar o melhor desempenho por um breve momento durante uma corrida.

Normalmente, os orbes de operação são instrumentos de precisão que funcionam bem se receberem manutenção básica uma vez por mês. Mobilizar todo o pessoal técnico para trabalhar em um orbe após cada uso é absolutamente ultrajante, o que quero dizer, cem por cento da equipe técnica da instituição de pesquisa, equipada com os recursos substanciais de apoio da retaguarda. Ou seja, o Quartel-General de Suprimentos e Logística. O doutor deve ter esquecido o significado de manutenção.

Não só ele falhou nos padrões de manutenção desejados para o front, na verdade, não chegou nem perto. O fato de que este é um protótipo avançado implica que Tanya deve realizar um certo grau de certificação. Mas estou espantada com quantos dos seus problemas de aplicação precisam ser resolvidos.

— Como você não entende o quão revolucionária é a tecnologia por trás da sincronização de quatro núcleos?

— Estou disposta a admitir que é revolucionária. É por isso que eu continuo dizendo para você me fazer um que funcione direito.

— Teoricamente, funciona! Por que você não consegue manuseá-lo direito? — Ele é mais um acadêmico do que um dos melhores engenheiros que trabalham na área. Fala idiotices com um rosto sério.

Com base nas opiniões pessoais de Tanya e em sua teoria, mesmo que um pouco tendenciosa, sobre gestão de recursos humanos, no caso de haver um cientista em seu local de trabalho no futuro, há apenas uma coisa que ela precisa se atentar, se a pessoa é louca ou não. Antes mesmo de se preocupar com as habilidades administrativas, primeiro: ela sabe a comunicação básica necessária para trabalhar em equipe? Só isso.

Aliás, as pessoas dizem que há uma linha tênue entre o gênio e o louco, mas eu sinto que é realmente bastante fácil distingui-los. Se no final de uma conversa você estiver cheio do desejo de esvaziar um carregador inteiro em alguém, a pessoa é louca. Se conseguir manter uma conversa amigável, é gênio.

— Dr. von Schugel! Quero que atinja um nível adequado para uso prático.

— É exatamente por isso que estamos conduzindo esses experimentos! Você nunca ouviu falar do ciclo PDCA?

Seria tão maravilhoso mandá-lo céu abaixo com meu orbe reserva. Qualquer um que provoque esse tipo de pensamento é um cientista louco. Se a voz da razão não estivesse me segurando, eu com certeza absoluta teria sujado minhas mãos.

Nem preciso dizer que sei tudo sobre o ciclo PDCA. Planejar (plan), executar (do), checar (check) e implementar melhorias quando necessário (Act), um processo comumente conhecido. Não é como se eu tivesse objeções a usar esse método completamente comum.

Na verdade, sou a favor de seguir procedimentos ainda mais rigorosos. Eu quero muito falar com ele para, pelo menos, dar uma olhada melhor em suas criações.

Como aquela que usa o orbe, posso dizer que os defeitos não são do tipo que podem ser corrigidos com pequenas melhorias. O orbe tem muitas falhas graves, problemas e erros. A coisa é tão confusa que, apesar da minha obrigação de sigilo, eu jogaria essa coisa fora se não fosse pelos mecanismos de segurança embutidos nela.

Para começo de conversa, os mecanismos de segurança em questão não são dos melhores. Eles atuaram sem problemas, e Tanya conseguiu evitar o pior resultado. Mas essa coisa não consegue conter a mana completamente. Se os circuitos explodirem, o orbe ficará inútil, então sempre tenho que manter o pior cenário em mente.

O pior seria se uma explosão incendiasse meu tanque de oxigênio, então não seria nada divertido. Com base no progresso anterior, me deram paraquedas reforçados feitos de tecido à prova de fogo e resistente ao rasgo. Mas mesmo assim não é garantido cem por cento a segurança.

Se Tanya ficar inconsciente, há sempre a preocupação de que o paraquedas não abra automaticamente. Ou dependendo da escala da explosão, há o risco de ficar presa nas cordas e asfixiar antes de chegar ao solo.

Os seres humanos aprenderam através da experiência que, como dito pela Lei de Murphy1Lei de Murphy é um adágio ou epigrama da cultura ocidental que normalmente é citada como: “Qualquer coisa que possa ocorrer mal, ocorrerá mal, no pior momento possível”. Ela é comumente citada (ou abreviada) por: “Se algo pode dar errado, dará.” Relatos sobre a Lei de Murphy existem desde o Século XIX, mas a expressão só ganhou esse nome em 1949 oriunda do resultado de um teste de tolerância à gravidade por seres humanos, feito pelo engenheiro aeroespacial americano Edward A. Murphy., se algo pode dar errado, dará. Se um funcionário do escritório tiver a capacidade de causar problemas, causará problemas. Por exemplo, é de conhecimento comum na gestão de pessoas não manter um funcionário falido em um departamento que lida com finanças. Seguindo esse raciocínio, voar com um orbe que pode explodir a qualquer momento é como ficar sentado esperando a explosão acontecer.

Ao pousar, decidi enviar uma solicitação de transferência séria dessa vez. Um aceno de cabeça enfático demonstra a profundidade da determinação de Tanya. Mesmo que eu fique mal falada pelos superiores por um tempo, juro que negociarei até conseguir o que eu quero com o Departamento de Pessoal.

Como as coisas estão, cem vidas não serão suficientes para ela sobreviver. O serviço na unidade de instrução é a única esperança de Tanya. Usei minha afiliação com eles como um escudo e implorei para assumir meus deveres lá, mas não deu em nada. Há uma possibilidade real de eu me tornar um sacrifício humano para um dos experimentos do cientista louco, a menos que eu desista desses métodos não oficiais e envie um pedido oficial de transferência.

Tenho que enviar o pedido de transferência o mais rápido possível.

E assim, imediatamente depois de pousar e cumprir minhas obrigações, empunhei minha caneta.

 

Separador Tanya

QUARTEL-GENERAL DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA DO EXÉRCITO IMPERIAL, DIVISÃO DE TECNOLOGIA

A solicitação de transferência aderiu ao formato oficial. A demanda da Segundo-Tenente Feiticeira Tanya Degurechaff transmitiu um terrível senso de urgência. Como uma burocracia sofisticada, a Divisão de Tecnologia dentro do Quartel-General de Suprimentos e Logística teve que aceitar e processar quaisquer solicitações de transferência enviadas oficialmente.

O consenso geral era que ela estava muito séria sobre querer se transferir. O que não era surpresa, já que esse era seu quarto pedido se contar os métodos não oficiais.

Suas tentativas não oficiais anteriores eram desejos desacompanhados de documentação – então a equipe conseguiu segurá-la – mas a cada tentativa, ela ficava mais séria e determinada. Esse pedido estava fadado a chegar eventualmente, era apenas uma questão de tempo. No entanto, ao ler o pedido e a petição de transferência da Segundo-Tenente Tanya Degurechaff, toda a equipe gerencial da Divisão de Tecnologia do Quartel-General de Suprimentos e Logística foi deixada segurando a cabeça em frustração.

— Então, o que devemos fazer? Vocês sabem que esses são todos os formulários oficiais. Devemos deferir?

A soldado havia se permitido ser segurada antes, mas apresentar esse pedido oficial mostrou que ela havia atingido os limites de sua paciência. No que diz respeito ao Departamento de Pessoal, as coisas estavam melhores no Front Norden, então eles estavam no meio da atribuição de postos aleatórios de jovens soldados na retaguarda por consideração à posição política e internacional.

Como tal, dificilmente seria um problema para o Quartel-General de Suprimentos e Logística realocar Degurechaff a um posto aleatório. Mas, mesmo que não fosse difícil encontrar um novo posto, ela era muito valiosa em sua posição atual.

— Fora de questão. Ela é a única capaz de atender aos padrões de Schugel.

O engenheiro-chefe von Schugel era excepcionalmente proficiente, apesar de ter seu talento, ou melhor, nada além de seu talento, para recorrer. O desenvolvimento do orbe da próxima geração combinou a coleta de dados de nível básico com os objetivos de criar e certificar tecnologias avançadas. Ele havia conseguido atender aos padrões indicados pela Divisão de Tecnologia, pelo menos nos documentos de planejamento, apesar de quão ambiciosos (para dizer o mínimo) eram.

— Bom ponto. Não deveríamos também levar em conta o fato de que sua pesquisa pode finalmente se tornar realidade?

Sua genialidade era proeminente pelo Império todo, que havia sido pioneiro na pesquisa de tecnologia mágica através da observação científica. Mesmo quando a engenharia mágica ganhou reconhecimento como um campo independente da ciência, ainda havia margem para erros, e muitos elementos permaneceram desconhecidos. Schugel tinha feito grandes contribuições levando este campo para o caminho certo, através de várias complicações, e depois melhorando-o.

Se, como uma extensão de seus métodos, eles consideraram puramente o aspecto da pesquisa, ficou claro, sem dúvida, que os dados e valores teóricos do Modelo 95 deram um grande passo no progresso. Essa avaliação, no entanto, só era verdadeira em termos científicos. Avanços inovadores poderiam ser suficientes para uma instituição de pesquisa, mas o Quartel-General de Suprimentos e Logística queria um produto que pudesse resistir a operações militares, então precisavam dar um julgamento mais abrangente.

— Por outro lado, mesmo que ela consiga o orbe protótipo, seria uma pena segurar alguém com tanto talento.

— Devemos pensar a longo prazo. É impossível achar alguém semelhante para a substituir.

As vozes dos chefes de departamento expressaram preocupação por perder uma feiticeira inestimável com um talento incrível. Na realidade, a competição entre as nações estava impulsionando avanços rápidos no desenvolvimento de tecnologia militar e inovação, era raro sacrificar vidas valiosas em nome do progresso científico, mas acontecia.

O desenvolvimento de armas se tornou prioridade devido a preocupações de defesa nacional, o que resultou em um imprevisto acidente em um setor sobrecarregado. A lista de pessoas que morreram durante o serviço não era nada pequena.

— Concordo. Se pensarmos a longo prazo, a aquisição, treinamento e permanência de feiticeiros competentes também é um assunto de preocupação para o Império.

— Acrescentando mais uma coisa… sei que sua idade não deve ser levada em consideração, mesmo sendo tão talentosa, ainda é uma garotinha. Dói meu coração ver ela sendo usada como brinquedo pelo Dr. von Schugel.

Outro fator importante para o Império era que, na marinha e nas forças mágicas, ambas precisando se expandir, o aprimoramento individual só poderia ser alcançado com treinamento a longo prazo. Eles podiam produzir orbes de operação ou navios de guerra em massa, mas não era tão fácil treinar uma equipe principal competente e experiente.

Nesse ponto, Degurechaff não só se enquadrava na faixa etária mais jovem do exército, mas também era uma graduada da academia com experiência de combate. Tudo isso a deixou realmente valiosa. Seria um desperdício acabar com seu futuro. Além disso, a Armamento Elinium não era a única fábrica que estava brigando para ser escolhida para fabricar a próxima geração de orbe de operação imperial, e isso criou uma situação política problemática. Todos os presentes tinham em mente ter que tentar evitar a bagunça com a mídia caso permitissem que a promissora proprietária da Medalha de Assalto de Asas de Prata morresse em serviço.

Acima de tudo, Degurechaff era simplesmente muito jovem aos olhos de qualquer pessoa sensata. Mesmo que eles não fizessem disso uma questão moral, havia a possibilidade de que seus talentos melhorem drasticamente com o tempo. As habilidades que ela já havia demonstrado deixaram óbvio que ela tinha uma carreira promissora nas Forças Armadas. Se esses chefes perguntassem se deveriam jogá-la para os cães, a resposta era não.

Os superiores podem ter permitido sua transferência temporária, mas deixaram uma mensagem em alto e bom som, nomeando-a para uma posição na unidade de instrutores: Vocês estão livres para usá-la como quiserem, mas ela tem que voltar viva.

— Mas a única razão pela qual não sabemos o que fazer é que o orbe Modelo 95 é muito promissor para perder! — As palavras saíram da boca de um participante com a cabeça enterrada nas mãos, resumindo a situação do grupo.

— Os resultados dos testes foram muito frutíferos. As conquistas tecnológicas não são de forma alguma irrelevantes.

Os retornos previstos da pesquisa eram gigantescos o suficiente para que o Império estivesse disposto a tolerar um certo nível de risco. Por isso investiram montes de dinheiro no Modelo 95. E depois de investir uma enorme quantidade de capital,  estavam finalmente começando a ver um vislumbre do  retorno.

Quando se tratava de tecnologia militar, o Império dominava. Um dos pilares centrais de sua supremacia tecnológica era seus avanços revolucionários na tecnologia mágica. Esse potencial teve repercussão. Os retornos seriam enormes, então o desenvolvimento do projeto não valia o custo? Eles já tinham a prova do conceito para a tecnologia de sincronização de núcleo do orbe. Só isso já seria possível aumentar drasticamente as capacidades dos feiticeiros.

— Reconheço o quão relevante a sincronização de quatro núcleos é, mas não temos ideia se será prático!

Até quem era oposição estava disposto a reconhecer a importância tecnológica do projeto. Não era como se não entendessem sua natureza revolucionária e também não negavam que o Império lucrou muito ao se dedicar a apoiar a análise e estudo científico da magia. Mas, em sua opinião, certos aspectos relacionados ao desenvolvimento do Modelo 95 acabaram o deixando muito caro.

Por fim, independentemente de seus valores teóricos, o feedback do usuário indicava que era muito problemático para uso prático. E, além disso, a coisa estava repleta de tantos mecanismos revolucionários de ponta que provavelmente superaria não apenas a “próxima geração”, mas possivelmente até a “próxima da próxima geração”. Quando surgiu a ideia de ser possivelmente implementado, parecia uma história improvável de se acontecer. Era por isso que estavam andando em círculos.

O que interrompeu esse debate foi a consideração de um único relatório.

— Vocês leram o relatório técnico? A análise da Tenente Degurechaff é bastante perspicaz. Não importa quanta mana o usuário tenha, não sustenta o orbe.

O relatório de teste enviado do Modelo 95 mostrava habilidades analíticas aguçadas e até mesmo uma pitada de profundidade que parecia ser apoiada pela experiência. O escritório estava chocado ao pensar que uma garotinha de dez anos poderia tê-lo escrito. Alguns até questionaram se ela não obteve ajuda na redação.

Dito isto, o conteúdo do relatório era adequado e perspicaz. E até onde puderam verificar, ela mesma quem escreveu. Com apenas dez anos, Degurechaff era muito nova para frequentar a escola preparatória militar, mas já era uma feiticeira com capacidade mediana de mana. Com base em seu talento e na quantidade de mana que possuía, tinha um futuro promissor garantido. Só que essa oficial mágica competente estava reclamando por não fazer esse trabalho bem feito.

— Seu alcance, poder aumentado e capacidade de ativar múltiplas fórmulas são excelentes melhorias, mas não vale a pena se essas coisas prejudicam sua usabilidade em combate prolongado crítico.

O objetivo pode ter sido simplesmente inspecionar a tecnologia, mas identificar uma taxa de consumo de mana que deixava as manobras de combate insustentáveis significava que o projeto do motor de quatro núcleos era simplesmente um fracasso. Talvez tivesse aumentado o poder de fogo momentâneo, mas isso seria inaceitável se chegasse ao preço de reduzir drasticamente a quantidade de tempo que o combate poderia ser mantido.

Em certo sentido, pode-se dizer que o mecanismo de avaliação é bom. Parte do processo que fazia as inspeções de tecnologia serem importantes era detectar falhas em equipamentos avançados como este. Então, se a questão era o consumo excessivo de mana devido a um problema estrutural com o consumo de mana em vários núcleos do orbe, não havia nada a se fazer.

— Desde o início, nosso objetivo foi verificar e testar a tecnologia avançada. Ainda está dentro de parâmetros aceitáveis.

O grupo a favor do desenvolvimento, por outro lado, estava disposto a admitir que o projeto não era adequado quando se tratava de sustentabilidade em combate. No entanto, isso não era muito preocupante, pelo menos no caso de inspeção, se especificasse que o objetivo era a prova de conceito. Os engenheiros a favor do desenvolvimento sentiram que as restrições ao uso não eram importantes.

A corrida tecnológica com as grandes potências ao redor estava tão instigada que, no coração de todos, havia um grande desejo de que o Modelo 95 garantisse superioridade técnica para a pátria. Se ficar para trás em inovação significa uma grave ameaça, por conseguinte, continuar avançando significa ganhar a vantagem e manter uma posição de poder. Se avaliassem o projeto com base no potencial, poderiam ter aprovado todos os custos relacionados ao  Modelo 95.

— Deixando sua importância tecnológica de lado, o exército não pode se dar ao luxo de brincar em combate.

A questão era que apenas os engenheiros envolvidos no desenvolvimento e os pesquisadores que os apoiavam se sentiam assim. As tropas, que usavam uma variedade de armas diferentes e não eram gentis com elas, tinham seus próprios questionamentos. Os orbes de operação normais já custavam tanto quanto suas armas mais poderosas. Este protótipo especial apresentava problemas frequentemente e já havia ultrapassado seu orçamento original há muito tempo.

Já foi gasto uma grande soma de dinheiro, e estavam cada vez mais hesitantes em investir mais. Se eles mudassem o investimento para outro setor, não poderia ser mais rentável? Tais afirmações faziam total sentido. O Império era poderoso e, mesmo que seu orçamento militar não fosse escasso, era finito. Como os fundos eram limitados, a eficiência era necessária.

— E quanto ao potencial de converter mana em um estado concentrado? Isso já não é o suficiente para continuar o desenvolvimento?

— Você quer gastar tudo em busca de alquimia? Não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar nosso orçamento e mão de obra limitados para sempre.

Nunca foram capazes de chegar em um consenso se era possível sustentar a mana e armazená-la. Na teoria, fazia sentido. Até mesmo Schugel reconheceu que o grande consumo de poder mágico do orbe impediria o combate contínuo.

Como contramedida, ele pensou que se pudesse armazenar mana igual como a energia química era armazenada nas baterias, resolveria todos os problemas. Muitas pessoas estavam sempre tentando fazer um avanço tecnológico na transformação de mana para um estado concentrado na realidade, apenas para desistir da tarefa impossível.

Ao otimizar a mana através de um orbe de operação, um feiticeiro seria capaz de sobrepor efeitos de interferência na realidade com sua vontade. Essa interferência criava um fenômeno concreto. Este era o princípio por trás das fórmulas usadas pelos feiticeiros.

A magia que conjuravam era temporária, obviamente. Digamos que alguém desejasse fazer uma explosão, e esse desejo criasse uma, não seria apenas um fenômeno temporário, mas também a mana que provocou a explosão se dissiparia, tornando impossível conservar a mana em seu estado inicial. Se fosse possível, o feiticeiro só precisaria desejar que o fenômeno permanecesse ativo no mundo para mantê-lo no local.

Conceitos do mesmo tipo foram considerados logo após o uso de orbes de operações entrarem em prática. Mas toda vez que tentavam fazer a mana permanecer no mundo, era um fracasso atrás do outro.

Mesmo que os pesquisadores fossem muitas vezes otimistas, havia montanhas de artigos descrevendo implementações fracassadas. Todas as grandes potências que haviam se esforçado seriamente na ideia até agora, já a haviam abandonado.

Ao interferir no mundo com a vontade de alguém, um objeto poderia ser criado. Parecia fácil, mas era a mesma coisa que dizer a um feiticeiro para desafiar as leis da natureza e da física. Nessa hora, estava mais para aventuras no reino da alquimia dos contos de fadas.

Em outras palavras, isso era o quão absurdo parecia, pelo menos para os soldados realistas. Em seus olhos, a nova tecnologia exagerada era questionável. A teoria em si também era bem antiga.

Em certo sentido, a teoria vinha de um sonho tecnológico que deveria ter sido deixado para as gerações futuras, muito parecido com a alquimia, mas tornou-se tão notório que não apenas os soldados envolvidos no desenvolvimento de armas quanto como também todas pessoas trabalhando com magia ouviram sobre.

Interferir nas leis da natureza e manter esse estado exigia uma enorme quantidade de mana. A fim de aumentar a quantidade que poderia ser alocada de uma vez, os fenômenos precisavam ser fundidos com pelo menos dois núcleos. Da mesma forma, a fixação de fenômenos exigiu outros dois núcleos. Como resultado, tal processo exigiu controle perfeito de pelo menos quatro núcleos sincronizados que também estavam realizando suas próprias tarefas em paralelo. Até agora, tudo isso tinha sido meramente teórico.

— O Doutor conseguiu fazer a sincronização de quatro núcleos. Você não pode negar a possibilidade.

— Não podemos contar que consiga a sincronização perfeita, por agora. A Tenente Degurechaff foi a única que teve chance, e mesmo assim não foi capaz de ter uma taxa de sucesso aceitável.

Era por isso que o pessoal a favor do desenvolvimento e o grupo que achava melhor parar chegaram a conclusões completamente diferentes, apesar de observarem os mesmos resultados. Um lado viu um vislumbre de esperança, enquanto o segundo viu tudo como um fracasso, e ambas as conclusões eram lógicas até certo ponto. Realisticamente falando, um orbe que tinha problemas com cada teste não era confiável. Claro, ainda não havia um primeiro protótipo perfeito, então era esperado vários problemas.

Mas acidentes graves tão frequentes eram sem precedentes. Com base no que entenderam dos relatórios, parecia que Degurechaff estava por um triz. E apesar de arriscar a vida nesses experimentos, ela mal conseguia operar o orbe.

Isso por si só foi anunciado como uma melhoria notável em relação aos avanços existentes, mostrando quão “bem” as coisas estavam indo. Com isso, quando alguns soldados estavam para começar a protestar, quanto ao enorme gasto de dinheiro, um certo Oficial Intermediário do Despertamento de Pessoal que estava na reunião fez uma pergunta de uma perspectiva ligeiramente diferente.

— Estou na dúvida, por que ela?

Parecia uma pergunta inocente, mas, por outro lado, era um ponto intrigante. A carreira da Segundo-Tenente Feiticeira Tanya Degurechaff não era ruim, mas havia muitos soldados melhores e com mais méritos. Talvez se a comparasse com o testador anterior para entender o porquê ela ser a única a ter sucesso, encontrariam a resposta. Quando pensaram nisso, entenderam o valor de se aprofundar nesta questão.

— Não, seu raciocínio está errado. Devemos nos concentrar em por que ela conseguiu.

Neste ponto da conversa, o diretor do Quartel-General de Suprimentos e Logística, que estava presidindo a reunião, levantou uma das questões mais óbvias de todas.

— Por que ela foi selecionada? Quem a escolheu?

Sem dúvida, a Divisão de Pessoal do Quartel-General de Suprimentos e Logística aprovou, então alguém deve ter deixado a papelada. E essa papelada deveria ter incluído a razão por trás de sua escolha.

À pergunta de seu superior, os administradores mais jovens folhearam os documentos e encontraram o formulário de atribuição de função. Tinha passado despercebido até agora, mas continha todas as respostas.

— O engenheiro-chefe von Schugel a escolheu pessoalmente. Aparentemente, ele alegou que Degurechaff tinha a maior chance de conseguir operar o orbe com sucesso.

— Como ele saberia disso?

Dado todos os fracassos dos testadores anteriores, tinha que haver algo que o fez considerar que a Segundo-Tenente Degurechaff daria conta do trabalho. Por que ele queria alguém da linha de frente como essa garotinha? Era algo único nela? Suas habilidades? Alguma outra coisa? Era uma pergunta intrigante.

Mas a resposta que Schugel escreveu no formulário era bem simples. Diz que ela não trataria o protótipo como outros soldados tratam, pois não está muito apegada aos orbes convencionais.

Bem, o orbe era novinho em folha. Sua lógica era perfeitamente racional. O sistema de sincronização de quatro núcleos era um modelo diferente, então tentar conduzir mana da mesma maneira que antes seria difícil.

Foi preciso a maleabilidade de uma criança para entender que, mesmo que a condução da mana parecesse estranha, não deveriam lutar contra. Alguém precoce como Degurechaff teve um bom senso e compreendeu a lógica por trás, e não apenas isso, ela poderia conseguir botar em prática. A lógica estava correta.

Supondo que eles entenderam tudo até este ponto, essa foi exatamente a razão pela qual toda a fila de participantes soltou o mesmo suspiro. Era o suspiro emitido diante de uma verdade desagradável.

— Ei, não há muitos feiticeiros habilidosos por aí que não estejam acostumados com os orbes de operações convencionais.

Isso era óbvio. Mesmo que virassem os recursos humanos de cabeça para baixo em busca de tais feiticeiros, haveria poucos que atendessem a essas condições. Naturalmente, o requisito mínimo para que o orbe fosse lançado como modelo padrão da próxima geração era se a maioria dos feiticeiros existentes pudessem operá-lo. Se não conseguisse atingir a capacidade operacional total, não tinha sentido.

As implicações eram que o uso do Modelo 95 era um obstáculo muito alto. Até que o sistema de treinamento pudesse ser revisado e todos os feiticeiros da ativa fossem treinados novamente, o modelo da próxima geração seria inútil. Também era mais difícil de usar do que o orbe de operação existente, então os treinamentos para os novos recrutas também precisariam ser reavaliados.

Supondo que eles pudessem realizar tudo isso, a eficácia, confiabilidade e custo do orbe eram suficientes para eles pensarem duas vezes sobre a distribuição em massa. Considerando o nível de perícia que os dispositivos exigiam para funcionar, seria de se esperar acidentes.

— Não temos um orçamento infinito. Estamos colocando muita ênfase na versatilidade?

— Já alcançamos inovações em mecanismos de segurança dos orbes e algumas outras coisas. Não acham que está na hora de pararmos?

Concluindo, talvez fosse sensato cancelar o desenvolvimento ou, pelo menos, reduzi-lo. Não foi surpresa quando essa opinião começou a dominar a sala de conferências.

Não importava o quão sedutora fosse a tecnologia, o exército não tinha escolha a não ser abandonar o projeto caso não pudesse ser implementado em um futuro próximo. O Exército Imperial não tinha orçamento, mão de obra ou recursos para gastar à toa.

— A amplificação de poder de fogo é muito atraente. Não daria certo com núcleo duplo em vez de quatro? — Aqueles que se arrependeram de interromper o desenvolvimento ainda não conseguiram se livrar de seu apego, naturalmente.

— Bom ponto. Se utilizar dois núcleos, não facilitaria muito a sincronização?

— Relativamente, sim. — Em comparação com a sincronização de quatro núcleos, acoplar apenas dois núcleos juntos seria mais fácil. Ironicamente, a solução veio de um membro do departamento de tecnologia que era a favor do desenvolvimento. — Mas mesmo assim, acreditamos que devido à sua estrutura complexa, eficácias operacionais medíocres seriam inevitáveis.

A mecânica de sincronização era inovadora e complexa desde o início. Eles não podiam esperar por uma eficácia melhor.

— Nesse caso, seria mais rápido os feiticeiros carregarem dois orbes de operação.

— Seriam inúteis no front caso a operação do orbe não fosse boa. Pelo que parece, ainda não estamos prontos para a tecnologia de sincronização.

Decidiram parar o desenvolvimento. Nesse ponto, foi uma decisão natural.

 


 

Tradução: Rlc

Revisão: Castro

QC: Pride

 

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