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Reconstruir o Mundo – Vol. 01.1 – Cap. 01 – Akira e Alfa

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O cão selvagem – se é que era um cão –  lutou para travar suas mandíbulas ao redor da cabeça de sua vítima. Preso ao chão, o garoto enfiou um pedaço de entulho entre suas presas, forçando-o com tudo que podia de seu braço esquerdo. No entanto, a besta não recuou – mordeu com força, como se fosse consumir o menino e pedaço de entulho juntos. O duro pedaço de entulho, tudo o que protegia a vida do menino, rachando sob a pressão implacável das presas.

Desesperado, o garoto disparou a pistola em sua mão livre. Com a besta à queima-roupa, as balas encontraram seu alvo – mas em vez de morrer, ela o atacou em um frenesi ainda maior. Ele disparou tiro após tiro em vão, até que a arma de fogo se silenciou.

Sem munição.

— Maldição! — amaldiçoou, batendo sua arma vazia contra o focinho da besta.

Agarrando-se aos escombros, empurrou a criatura para longe. Desistir significava a morte, então, lutou, usando todas as suas forças.

A força da besta cedeu primeiro. Mesmo enquanto morria, lutou para devorá-lo

Finalmente desabou e deu seu último suspiro. Com o que restava de sua força, o menino levantou a besta de cima dele. Então se deitou e exalou profundamente.

Em voz alta, se perguntou: — Não estou preparado para enfrentar isso? Então balançou a cabeça, como se estivesse se repreendendo por seu momento de dúvida.

 — Não! — gritou. — Eu estava pronto! Como diabos, vou desistir e virar as costas depois de um pequeno perigo!

Com uma expressão dura, o menino se sentou, acalmou sua respiração, reuniu suas forças e se levantou, determinado a que os riscos mortais que havia assumido não ficassem sem recompensa. Então esvaziou uma garrafa plástica de água sobre o rosto e a cabeça, lavando o sangue da fera que havia respingado nele.

Quando terminou, recarregou a pistola e renovou sua determinação.

— Tudo bem —, o menino murmurou enquanto retomava seu avanço nas ruínas de uma extensa cidade. — Hora de seguir em frente.

Escombros cobriam o chão entre as fileiras de prédios parcialmente destruídos. Não havia sinal de vida humana. O silêncio ao redor engoliu os sons dos passos do garoto, das pedras que seus pés chutaram, e até mesmo de seus tiros anteriores.

Ele estava explorando as ruínas apenas com suas roupas do dia a dia – muito surradas – e uma arma de mão em um estado de conservação duvidoso. Era suicídio. Somente um tolo teria corrido tais riscos com esse equipamento, ou alguém desesperadamente necessitado, como ele. Sabia disso ao partir, e agora seu encontro com a morte lhe havia dado uma ideia de primeira mão ou assim acreditava. No entanto, na verdade, ainda era bastante ingênuo sobre os perigos dessas “ruínas do Velho Mundo”.

Armas autônomas, incapazes de distinguir amigos de inimigos, atacariam os alvos indiscriminadamente. Guardas mecânicos continuaram a eliminar os intrusos, obedecendo às ordens de seus criadores mortos há muito tempo. Descendentes de armas biológicas se tornaram selvagens. No ambiente hostil, plantas e animais sofreram uma mutação após a outra. As pessoas que viviam no Oriente chamavam todos eles de “monstros”, não fazendo distinção entre o orgânico e o mecânico. E dentro das ruínas do Velho Mundo, aquelas criaturas mortais habitavam, incluindo o predador que havia atacado o menino.

Ele sabia disso, mas mesmo assim colocou os pés nessas mesmas ruínas de sua própria vontade, preparado para morrer. Algo aqui valia o risco, e seu encontro com a morte não mudou isso. Então continuou, apostando sua própria sobrevivência em sua busca por algo muito mais valioso do que a vida barata de uma criança da favela.

Seu nome era Akira.

 

Separador Tsun

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Akira estava na periferia das ruínas da cidade de Kuzusuhara, as ruínas mais próximas de sua casa na cidade de Kugamayama e as maiores dentro da esfera econômica da cidade. Nem mesmo seu encontro com o monstro poderia dissuadi-lo de sua busca.

— Nada além de sucata. — suspirou. — Não posso acreditar que arrisquei minha vida para chegar aqui. — refletindo, se perguntou em voz alta: — Será que tenho que ir mais fundo?

Akira levantou a cabeça e olhou para o coração das ruínas. Fileiras de arranha-céus preenchiam a distância nebulosa, estendendo-se até um horizonte de mais edifícios do que podia contar. Mesmo daquela distância, podia dizer que os prédios eram maiores e mais bem preservados no meio das ruínas. Essas estruturas distantes contrastavam fortemente com os destroços dilapidados nos arredores.

Eu poderia colocar minhas mãos em algo valioso se chegasse lá? Akira se perguntou. Tentado, hesitou, então balançou a cabeça.

— Não, eu nunca poderia, isso seria morte certa. — falou como se estivesse tentando se convencer.

A diferença entre o ambiente degradado e o cenário ainda magnífico à distância reside nisso: No coração das ruínas, a tecnologia avançada do Velho Mundo ainda funcionava, mantendo e reparando as torres distantes automaticamente. Muito provavelmente, então, os guardas mecânicos ao redor das torres também estavam intactos, empregando a tecnologia impressionante do passado contra qualquer intruso. Uma criança como Akira não tinha nenhuma chance de sobreviver nas áreas que as máquinas guardavam.

— Já é difícil invadi-la aqui na periferia. — continuou discutindo consigo mesmo. — Esqueça de ir mais fundo. Tenho trabalho a fazer.

Afastando seu desejo, continuou explorando as ruínas por um tempo, mas não encontrou nada que valesse a pena. Suspirando, notou um conjunto de ossos esbranquiçados. Já havia descoberto e vasculhado vários esqueletos semelhantes, mas sem encontrar nada de valor.

Nada neste também, hein? Ou alguém já havia despojado esses exploradores anteriores de seus objetos de valor, ou eles vieram tão mal equipados quanto Akira – e morreram em sua imprudência. O pensamento pesou no espírito de Akira.

O sol vai se pôr sobre mim se eu continuar assim, percebeu. Isso significaria problemas. Devo voltar por hoje? Sair vivo de uma ruína perigosa é melhor do que qualquer tesouro. Eu poderia acabar como um desses esqueletos se ficasse por muito mais tempo.

Inconscientemente, Akira fez uma careta: por todas as suas desculpas, não conseguiu apagar completamente o desejo de algo …qualquer coisa… para mostrar por seus problemas. Já havia lutado contra um monstro e quase morreu no processo. Mesmo aquele encontro com a morte teria sido em vão se voltasse agora. Sua determinação de continuar esbarrou em seu desejo por segurança.

Então Akira franziu a testa, debatendo se deveria continuar ou voltar. Como se pesasse suas escolhas em uma balança, sua mente oscilava entre as duas opções. Se alegremente continuasse suas explorações e outro monstro o atacasse na escuridão da noite, morreria e assim hesitou. A balança começou a pender a favor da retirada, embora sua decisão fosse marcada pela resignação.

Nesse momento, uma pequena e suave luz flutuava pelo campo de visão da Akira.

— O que?!

A luz tremulava ao passar pelo ar nas sombras dos edifícios ao crepúsculo. Como a pálida lâmpada de algum inseto luminoso, menor que a ponta de um dedo, ela flutuava sozinha. A princípio desconfiado, Akira logo relaxou o que quer que fosse, não parecia com um dos monstros que habitavam as ruínas. Seguindo o brilho com os olhos, avistou uma luz mais forte saindo de trás do prédio em ruínas à frente. A fraca faísca voou pela rua até se dissolver na luz ao virar da esquina.

Enquanto Akira observava, curioso, várias outras luzes passaram por seu rosto por trás, desaparecendo na esquina do prédio. Olhou para trás, mas encontrou apenas uma extensão de escuridão e nada mais vindo em sua direção. Olhou para a frente e mais uma vez viu as luzes fracas passarem por ele em direção à esquina. Akira não sabia o que fazer com tudo isso, mas o mistério da luz nas sombras das ruínas despertou sua curiosidade.

Hesitou por um momento, então começou a avançar em direção à esquina. O que quer que tenha causado a luz, pode ser algo útil. Ele havia arriscado sua vida para chegar tão longe, e seu desejo de ter algo para mostrar por seus transtornos venceu.

Sob o feitiço de sua ganância e curiosidade, Akira espreitou cautelosamente ao virar da esquina e congelou, chocado com o que viu. Seu olhar fixo no local onde as pequenas luzes convergiram, iluminando um trecho da larga avenida. No centro dessa cena fantástica estava uma mulher. Ela parecia mística, de beleza sobrenatural

e estava totalmente nua, com cada centímetro de suas belas características e seu físico deslumbrante aberto aos olhos de qualquer um que pudesse ver.

A pele de nenhuma moradora da favela se compara à dela – mais lisa e brilhante do que o que até mesmo as mulheres de elite da cidade conseguiram com a ajuda da riqueza, da obsessão e da tecnologia do Velho Mundo. Seus membros pareciam esculpidos como uma obra de arte, e o cabelo lustroso que caía até a cintura não mostrava o menor traço de idade ou desgaste. Seu rosto, digno da adoração de homens e mulheres de todas as idades, exibia um ar de dignidade que realçava ainda mais sua aparência.

Akira estava em transe, até mesmo enfeitiçado. Um olhar para ela transformou completamente seus padrões de beleza. Sua notável beleza eclipsou a memória de todas as outras mulheres que já tinha visto, ou mesmo imaginado em sua curta vida.

 

 

Alfa aparecendo para Akira

 

Uma última faísca pálida voou por trás de Akira e pousou na ponta dos dedos da mulher, onde desapareceu como se fosse absorvida por ela. O brilho sobre ela se iluminou um pouco. Akira não conseguia tirar os olhos da cena.

Sem aviso, a mulher desviou o olhar da ponta dos dedos para Akira, e seus olhares se encontraram. Akira observou cada centímetro de seu corpo nu, mas ela apenas olhou fixamente para ele. Incapaz de quebrar o encanto, Akira devolveu seu olhar.

A mulher abriu um sorriso alegre e deu um passo em direção a ele. Instantaneamente, tudo mudou para Akira. Sua expressão extasiada deu lugar a um olhar tenso, quase temeroso. Ela era uma estranha tentando se aproximar dele, e a cautela se agitou dentro dele.

Ele ergueu a arma. — Não se mexa! — gritou.

No entanto, nada sobre a mulher era como Akira esperava. Os restos do Velho Mundo, lar de monstros mortais, ceifaram até mesmo as vidas de grandes grupos altamente treinados e fortemente armados, mas ela permaneceu sozinha e desarmada em meio às ruínas. E não estava tentando se esconder – ela nem parecia estar em guarda. Não usava roupas, nem procurava esconder seu corpo exposto. O vento, girando em torno dos prédios, levantava areia e poeira, mas não havia vestígios de sujeira em seu cabelo ou pele. E não piscou quando um estranho apontou uma arma para ela, embora pudesse ver que ele estava tremendo tanto que poderia puxar o gatilho por acidente.

De repente, a luz mística ao seu redor desapareceu. Ela se aproximou de Akira, sem um pingo de cautela ou ameaça. Enquanto se aproximava, nua e sorridente, parecia totalmente deslocada em meio ao pano de fundo das ruínas que haviam sido despojadas de fantasia e restauradas à mera escuridão. Agora Akira a via sob uma luz totalmente diferente, como um fator extremamente suspeito e desconhecido.

Quando a mulher sorridente se aproximou dele, gritou outro aviso: — Eu disse, não se mexa! Não se aproxime ou atiro! Estou falando sério!

Normalmente, Akira teria atirado sem se preocupar em dar um aviso. Aqui, porém, a mulher estava obviamente desarmada, não deu nenhum sinal de hostilidade e ele se sentiu confuso em uma situação tão estranha à sua experiência. Então conteve o dedo no gatilho. Mas sua paciência tinha um limite. Quando a mulher continuou avançando, apesar de seu aviso, seu dedo ficou tenso no gatilho.

Abruptamente, ela desapareceu. Ele nem havia piscado, mas não viu nenhum sinal de movimento. Ela desapareceu instantaneamente, completamente e sem aviso prévio. Com o rosto contorcido em confusão, Akira olhou ao redor, mas ela não estava em lugar nenhum.

Não se preocupe, não vou machucar você. Impossivelmente, Akira ouviu bem sua voz ao seu lado. Se virou instintivamente e lá estava ela, tão perto que ele poderia tocá-la. De alguma forma ela estava vestida agora. Agachando-se ligeiramente, olhou nos olhos de Akira enquanto sorria para ele.

Tão estranhos foram os eventos da noite que já excederam o poder de Akira para lidar com o desconhecido, e enquanto sua mente se esforçava ao máximo, percebeu um estranho terror que corroía sua psique. Cerrou os dentes, oscilando à beira de um pânico meio enlouquecido; as pessoas que perdiam os sentidos eram as primeiras a morrer. Mas a experiência de vida de Akira nas favelas manteve sua consciência firme.

Akira apontou novamente para a mulher, empurrando a pistola em sua mão direita em direção a ela à queima-roupa. Não deveria ter sido capaz de esticar completamente o braço – ela estava muito perto – mas ele o fez, enterrando as mãos no peito da mulher.

Ele não sentiu nada ali. Podia vê-la bem diante de seus olhos, mas tocou apenas o vazio. Em excesso, congelou, sua mente em branco, com sua arma e mãos ainda perfurando o peito dela.

E por mais que a mulher tentasse obter uma resposta dele, falando e passando a mão diante de seu rosto, Akira permanecia imóvel, com os olhos vagos.

 

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Uma vez, em uma era esquecida, uma civilização avançada dominou o mundo. No entanto, foi há tanto tempo que dificilmente se poderia  imaginar sua antiga sabedoria e glória; tudo o que restou foram suas cidades arruinadas, edifícios desmoronando em desordens e artefatos danificados. A própria chuva havia sido alterada e refeita; sobre essa vasta extensão de tempo, ela corroeu as ruínas que se estendiam até onde os olhos podiam ver. No entanto, também alimentou as árvores que se elevavam nos céus e sustentavam a vida.

Essa civilização há muito desaparecida era agora conhecida como o Velho Mundo, e sua tecnologia avançada havia deixado muitos vestígios: materiais desconhecidos amontoados em montanhas de escombros, aglomerados de arranha-céus desmoronados que ainda flutuavam no ar, medicamentos que podiam curar até mesmo a perda de um membro, e armas tão poderosas que faziam com que extinguir a vida humana parecesse uma brincadeira de criança. Estes e outros artefatos ainda estavam espalhados pelo mundo, séculos depois que a civilização que os tinha criado não existia mais. Agora eles eram simplesmente conhecidos como “relíquias do Velho Mundo”, fragmentos de sabedoria e glória passadas.

As pessoas haviam reunido esses fragmentos e, ao longo das gerações, reconstruído a sociedade. O que quer que tenha destruído o Velho Mundo – uma civilização tão evoluída que sua tecnologia era indistinguível da magia – ainda não conseguiu acabar com a raça humana à qual aquele mundo havia pertencido.

O Oriente, como era chamado, formava uma parte da área habitável por pessoas.

Era o lar de inúmeras cidades sob o domínio das corporações governamentais. Kugamayama era uma dessas cidades. Muralhas maciças protegiam parte dela e, embora os bairros dentro e fora das muralhas fizessem igualmente parte da cidade, era possível encontrar uma diferença inequívoca entre eles.

As muralhas abrigavam o distrito da elite, o santuário dos executivos corporativos e outros que detinham riqueza e poder, e o distrito médio, lar de uma população relativamente abastada. Fora das muralhas ficava o distrito inferior, habitado por aqueles que, principalmente por razões econômicas, não podiam viver dentro da proteção das muralhas. E, finalmente, mais próximo do deserto e seus perigos, espalhavam-se as vastas favelas.

Aqui vivia Akira, uma das incontáveis crianças das favelas. Como todos eles, ele era fisicamente normal: sem implantes ciborgues, sem órgãos aprimorados, sem melhorias de nanomáquinas ou outras tecnologias mais sutis. Também não tinha nenhuma habilidade especializada ou educação formal. Não tinha pais, tutores e dinheiro, e nunca tinha o suficiente para comer. As favelas estavam lotadas de crianças como ele. Sua morte atrairia pouca atenção e muito menos surpresa.

Os monstros do deserto às vezes atacavam a cidade, e seus primeiros alvos eram sempre as favelas e os moradores das favelas mais próximos de sua morada no deserto. Akira sobreviveu a três ataques de monstros. Ele passou pelo primeiro e segundo apenas correndo de forma irregular e se escondendo atrás de qualquer cobertura que pudesse encontrar. Akira tinha sobrevivido porque outros, pessoas cujos nomes ele nem sabia, tinham lhe dado tempo ao serem atacados, mortos e comidos em seu lugar.

O terceiro ataque ocorreu de forma diferente. Akira não conseguia se livrar do pequeno monstro parecido com um cachorro; no final, lutou até a morte, com apenas uma arma que encontrou por acaso. Milagrosamente, acertou três tiros na cabeça do monstro. Mas suas balas não mataram a fera, que correu para ele, de boca aberta, para devorar sua presa.

Antes que as mandíbulas do monstro, anormalmente grandes para uma criatura tão pequena, pudessem se fechar ao redor do braço de Akira, instintivamente enfiou a arma entre os dentes e puxou o gatilho. A bala, disparada de dentro da boca da criatura, evitou seu duro crânio externo e atingiu a cabeça por dentro, destruindo o cérebro e matando a fera. O monstro demorou alguns instantes para morrer o suficiente para afundar seus dentes profundamente no braço de Akira. Mesmo assim, ele de alguma forma evitou perder a vida ou um membro.

Depois disso, Akira tomou a decisão de se tornar um caçador, pela oportunidade que ofereceu de melhorar sua condição de vida. Ele estava vagamente consciente dos riscos que corriam os caçadores profissionais, mas sua própria vitória, sem ajuda, lhe deu confiança e esperança.

Os caçadores buscavam riqueza e fama nos desertos fora das cidades. É verdade que o deserto fervilhava de monstros e outros perigos que faziam até as favelas, sem lei e repletas de armas de fogo baratas, parecerem seguras em comparação. Mas o deserto também prometia riqueza e poder fabulosos, pois abrigava as ruínas e relíquias do Velho Mundo.

Até mesmo os próprios monstros hostis eram considerados relíquias valiosas. Monstros orgânicos eram frutos da bioengenharia avançada; monstros mecânicos serviram como tesouros de componentes valiosos. Ambos atingiam somas consideráveis nas cidades. Caçadores bem-sucedidos às vezes ganhavam fortunas grandes o suficiente para comprar suas próprias cidades. E aquele que assumisse o controle total de uma ruína do Velho Mundo que permanecia funcional, especialmente uma instalação militar, poderia até mesmo fundar uma nação.

Um caçador capaz ganhava riqueza e poder que eram ordens de magnitude maiores do que qualquer pessoa comum jamais sonhou. Sua fortuna e força cresciam com cada relíquia preciosa que eles traziam de volta, permitindo que voltassem suas atenções para ruínas ainda mais perigosas e lucrativas. Os mais bem-sucedidos, portando armaduras e armas do Velho Mundo, às vezes adquiriam autoridade e poderio militar em uma escala que nem mesmo as cidades podiam igualar.

Naquele dia, Akira decidiu se tornar um caçador. Até agora, ele havia matado um monstro sem ajuda, mas isso significava apenas que suas chances de retornar vivo do deserto infestado de monstros não eram mais zero. Essas chances ainda eram suficientes para apostar: se continuasse morando na favela, mais cedo ou mais tarde morreria lá. Se queria sair rastejando, então o jogo era sua única opção, apostar em uma caçada para um amanhã que fosse melhor do que hoje.

 

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Deslumbrado por seu encontro com a misteriosa beleza, Akira permaneceu atordoado. Imperturbável, a mulher esperou pacientemente que ele voltasse a si.

Depois de algum tempo, Akira se mexeu. Embora ainda se sentisse confuso, percebeu que nada lhe fizera mal. Seus olhos focaram mais uma vez na mulher.

Vendo o retorno de sua consciência, ela sorriu novamente.

Você está bem agora? ela perguntou. Você pode me ver claramente? Você pode me ouvir?

Onde estamos e quem é você?

Um olhar de suspeita surgiu em seu rosto. — Eu posso te ver e te ouvir.

— Estamos nas ruínas da cidade de Kuzusuhara e eu sou Akira.

Graças a Deus. Ela parecia encantada. Eu sou  Alfa e é um prazer conhecê-lo.

Aos poucos Akira começou a se acostumar com Alfa. No momento, ela parecia segura – enigmática, é verdade, mas não hostil. A cautela extrema era melhor reservada para monstros e outras ameaças diretas, ele achava.

— Srta. Alfa, eu não posso tocá-la. Você não é um… — hesitou. — Um fantasma?

Não, eu não sou, embora eu estaria em apuros se você me pedisse para provar isso. Esta é uma explicação um tanto equivocada, e não espero que você a entenda totalmente, mas o eu que você está vendo é um tipo de realidade aumentada.

Ainda sorrindo, Alfa lançou uma explicação detalhada para Akira, embora fosse em grande parte sem sentido para ele. Seja por natureza ou artifício, seu cérebro podia enviar e receber informações, dados,  telepaticamente. Ao transmitir as informações corretas para os processos neurais de visão e audição, Alfa fez com que Akira a percebesse como se ela estivesse realmente presente. O que Akira considerava uma conversa era na verdade uma troca de sinais entre seu cérebro e suas cordas vocais, e dados de áudio inseridos em seu sentido de audição, sem quaisquer ondas sonoras físicas. Um processo semelhante permitiu que eles se vissem também.

Quando Alfa terminou, viu em seu rosto que ele não havia entendido nada do que ela disse. Então tentou novamente, apresentando a ele apenas as informações mais básicas. Só você pode me ver, e só você pode ouvir minha voz. Então você terá que ter cuidado, ou as pessoas vão pensar que você é um esquisito que fala com o espaço vazio. Isso é tudo que você precisa saber. Ah, e você não precisa me chamar de “Srta“. Vou te chamar de “Akira” também.

Durante todo esse tempo, o sorriso de Alfa nunca saiu de seus lábios. Era um sorriso sem traços de desprezo, cautela ou piedade por uma criança imunda da favela. Um sorriso, isso era o  que fazia Akira inconscientemente se sentir mais à vontade perto dela.

— Entendo —, ele disse finalmente. — Então, o que você está fazendo em um lugar como este, Alfa?

Preciso que alguém me faça um pequeno favor, então estava procurando por alguém que pudesse me perceber – alguém com quem eu pudesse pelo menos conversar. O sorriso dela assumiu um tom triste. Eu teria preferido um caçador, mas, bem, acho que era pedir demais.

Confuso, Akira refletiu e então se perguntou em voz alta: — Por que você esperava por um caçador?

Porque você poderia dizer que o favor de que preciso envolve o tipo de trabalho que os caçadores fazem. Oh, mas não é como se apenas um caçador pudesse me ajudar, então espero que você me ouça. Você poderia por favor?

Aquele sorriso perfeito voltou ao rosto dela, e ela teria dito mais se Akira não tivesse, após um momento de indecisão, hesitantemente interrompido,

— Bem, eu sou tecnicamente um caçador.

O que?! Um caçador, na sua idade? Alfa começou rapidamente.

Há quanto tempo você está no ramo, Akira?

— U-Um…

Um ano?

Akira fez uma pausa antes de responder.

— Um dia. Este é meu primeiro dia como caçador.

Alfa parecia ter dúvidas, e um longo silêncio caiu entre eles.

— Desculpe, Akira — finalmente disse. — Esqueça o que eu disse.

Como ele já havia decidido se tornar um caçador, não queria esconder sua profissão escolhida. Mesmo assim, percebeu que talvez não quisesse se apresentar como um caçador até que pudesse fazê-lo. Tendo retratado sua reivindicação, Akira se virou para ir embora, assumindo que Alfa não teria nem um interesse em um caçador que não ganhou renome.

Alfa, no entanto, sorriu novamente e o chamou. Não diga isso. Você ao menos me ouviria? O destino nos uniu: vamos aproveitá-lo ao máximo.

Ele não tinha habilidade para se considerar um caçador adequado, e ela sabia disso. Mas ela também não conhecia nenhum outro humano que pudesse vê-la ou ouvi-la. E com tempo suficiente, a atual falta de habilidade de Akira não seria um problema para ela.

Quero que você conquiste uma ruína que indicarei – em total sigilo, continuou avidamente. Em troca, fornecerei a você uma ampla gama de suporte; você receberá essa parte de sua recompensa antecipadamente. Depois de dominar as ruínas, também lhe darei um bônus de conclusão: relíquias altamente valiosas do Velho Mundo.

— Você está falando sério?! — Assustado, Akira levantou a voz apesar de si mesmo.

A mulher escondia um sorriso malicioso; por fora, usava um olhar que dizia ter toda a confiança nele. Sim, ela respondeu. E se me perdoa a franqueza, parece-me que você esgotou o suprimento de boa sorte de uma vida inteira para chegar a esta oportunidade, então você vai precisar da minha ajuda daqui para frente. Se você quiser sobreviver, de qualquer forma.

— O que você disse?

A parte teimosa de Akira exigia que duvidasse de suas palavras, mas não via nenhuma evidência de que ela estava tentando enganá-lo.

Além disso, qual seria o sentido de enganar uma criança como eu? Akira se perguntou. Ela deve ver que estou quebrado só de olhar para mim. Ou ela está apenas tirando sarro de mim? E mesmo que esteja dizendo a verdade, devo realmente aceitar um trabalho de alguém que eu conheço tão pouco?

Então Akira teve um lampejo de percepção que o fez reconsiderar. Nenhuma pessoa normal daria a ele tanta atenção. Somente porque Alfa era um mistério, porque ela tinha algo a esconder, trouxe esta oferta para ele. Nesse caso, Akira determinou, ele deveria aproveitar ao máximo sua oportunidade.

— Tudo bem, — concordou, surpreendendo-se com a firmeza com que aceitou sua primeira missão como caçador. — Não sei o quanto posso fazer por você, mas vou aceitar o seu trabalho.

Alfa sorriu para ele. Nós temos um acordo. Nesse caso, darei início ao pagamento antecipado do seu suporte. Sua expressão tornou-se abruptamente mortalmente séria. Se você não quiser morrer, mergulhe no prédio à sua direita em dez segundos.

— Do que você está falando? — Desconfiado mais uma vez, Akira começou a exigir detalhes, mas parou quando viu que a expressão sombria de Alfa não admitia discussão.

Alfa estava fazendo contagem regressiva. Oito, sete, seis… A menos que ela estivesse mentindo, ele percebeu, ele morreria se ficasse ali. Um momento depois, estava correndo para o prédio o mais rápido que suas pernas permitiam.

Alfa observou-o partir, insatisfeito. Tão lento. Ela suspirou. O tempo de reação dele não estava de acordo com os padrões dela. Ainda assim, eles tinham acabado de se conhecer, e ele não tinha tecnicamente se atrasado, então ela lhe deu uma nota de aprovação por enquanto.

Exatamente dez segundos após Alfa ter iniciado sua contagem, uma ogiva de artilharia vinda das profundezas das ruínas atingiu o local. Uma explosão de fogo engolfou sua figura enquanto os destroços se espalhavam em todas as direções. Quando a poeira baixou, Alfa não estava em lugar nenhum. Ela não explodiu, nem escapou no último momento, ela nunca esteve realmente lá em primeiro lugar.

 

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Quando Akira mergulhou no prédio, uma explosão soou atrás dele. A onda de choque, misturada com fumaça, passou por si. Se virou, assustado, e viu que o ataque de artilharia demolira parcialmente o local onde estivera momentos antes. Fissuras marcaram o duro chão e marcas de queimado desfigurou a paisagem. Não tinha dúvidas de que, se tivesse ficado lá, teria morrido.

Mais atordoado do que assustado, Akira caiu em si quando Alfa apareceu à sua frente sem aviso prévio.

— O-O que foi-?

Mais uma vez, o olhar sombrio de Alfa interrompeu sua pergunta. Ela apontou para a escada. Em seguida, suba as escadas. Oito, sete, seis…

Akira correu em direção aos degraus e subiu desesperadamente. Outra explosão rugiu atrás dele, as suas ondas de choque passou por ele através das escadas. Quando chegou ao topo da escada, Alfa o encontrou no patamar. Ela apontou para cima.

Apresse-se para o andar de cima. Cinco, quatro…

Ignorando seus pulmões e pernas gritando, Akira correu escada acima. Alfa o observou, um leve sorriso brincalhão apareceu em seus lábios. O menino estava agindo muito mais rapidamente agora.

 

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Akira continuou a correr conforme as instruções de Alfa. Estava sem fôlego quando chegou ao telhado do prédio. Depois de uma rápida varredura da área, avistou Alfa acenando para ele da beira do telhado e foi se juntar a ela sem nem mesmo parar para recuperar o fôlego.

Ao se aproximar dela, percebeu que ela não parecia mais tão ansiosa quanto antes. Diminuindo o ritmo, se permitiu encher os pulmões vazios.

Suspirou profundamente quando chegou ao lado de Alfa.

— Alfa — , disse ele — o que foi aquilo?

Alfa sorriu para ele de sua posição na beira do telhado e apontou para baixo. É mais rápido ver por si mesmo, ela respondeu.

Olhe lá embaixo, com cuidado. Fique quieto.

Intrigado, Akira obedeceu, então fez uma careta. Abaixo ele viu monstros, as próprias feras que o atacaram, rondando o chão como se estivessem procurando.

Eles tinham uma aparência canina, cerca de dois metros de ponta a ponta, mas aí terminava a semelhança com os grandes cães. Pequenas metralhadoras erguiam-se de suas costas, e Akira até avistou alguns com o que pareciam ser lançadores de foguetes ou pequenas cápsulas de mísseis. Juntos, o bando de criaturas patrulhava a área em busca de invasores.

Akira fez uma careta, pensando o quanto os monstros se pareciam com o que ele tinha lutado antes, embora aquele cachorro não tivesse armamento.

— O que eles são? — se perguntou em voz alta.

Cães armados. espondeu Alfa.

Formas de vida artificiais originalmente projetadas para fornecer segurança em áreas urbanas. As armas podem crescer de seus corpos, mas ainda são biológicas, não mecânicas.

Quando Akira se virou para olhar para ela, ela acrescentou: Esses provavelmente foram criados para policiar a cidade e designados para proteger esta área. Cada indivíduo é diferente, mas em geral suas armas se tornam mais poderosas à medida que envelhecem. Acho que aquele com as cápsulas de mísseis é o líder deste bando.

Embora Akira suponha que suas informações possam ser úteis, esta não era a recompensa que ele esperava. No entanto, várias perguntas lhe ocorreram.

— Como pode uma arma crescer de um animal? ele se maravilhou.

— Não faz sentido.

Suas partes orgânicas também armazenam e mantêm nanomáquinas, respondeu Alfa, como se compartilhasse um pouco de trivialidade.

Eles ingerem metais e outras matérias-primas, então geram os armamentos em suas costas. Eu estou supondo que eles já se transformaram em algo muito distante de sua forma original. Talvez eles tenham se alterado para se adequar ao ambiente atual.

Esses segredos inestimáveis teriam surpreendido um especialista, mas Akira não compreendia nem seu valor nem seu significado. O que ele compreendia, por pouco, era que mesmo uma arma saindo de um animal tinha algum princípio por trás dela, algo que podia ser entendido.

Agora que o ataque havia acabado, a expressão sombria de Alfa deu lugar ao seu sorriso relaxado original. Isso ajudou Akira a se sentir mais seguro, então também se acalmou e suspirou de alívio.

Bem… Você não está feliz por ter meu apoio? Alfa perguntou com um sorriso orgulhoso.

Você teria morrido se tivesse ficado lá embaixo, sabe.

— Eu sei —, Akira admitiu relutantemente.

— Eu não teria conseguido sem você.

— Obrigado. — Sua expressão refletia uma mistura confusa de sensações: excitação e agitação prolongadas pelo ataque do monstro, respiração ofegante por correr para salvar sua vida, desconfiança teimosa nessa mulher misteriosa, gratidão a ela por salvá-lo, decisão de se recompor enquanto podia e mais além.

Alfa observou o seu rosto, sondando os seus pensamentos interiores, enquanto ela se desviava da sua cautela com os seus encantadores sorrisos.

De nada, ela respondeu. Agora que você teve a chance de provar do que sou capaz, gostaria de falar sobre o nosso futuro. Posso? O tom de sua voz sugeria que ela tinha informações vitais para compartilhar.

— Vá em frente. — Akira a olhou nos olhos e assentiu com firmeza.

Preciso que você conquiste uma ruína. Não é esta aqui, e representa um grande desafio. Você nem sequer conseguiria alcançá-la vivo, quanto mais retornar. Para ser franca, você não tem a menor chance de sucesso do jeito que você está agora; mesmo com o meu apoio, você morreria antes de terminar. E então, para começar, vou ajudá-lo a obter o equipamento e as habilidades necessárias para limpar as ruínas. Esse será o nosso objetivo por enquanto, então…

— Er, posso perguntar uma coisa? — Akira interrompeu um pouco hesitante, sentindo que Alfa estava se preparando para falar longamente.

Com certeza. Alfa deu um sorriso amigável. Se tiver dificuldade em compreender alguma coisa, não hesite em perguntar.

A estranha simpatia de Alfa surpreendeu Akira.

— Não é isso —, disse ele, incerto. — Quero dizer, isso também é importante, eu entendo, mas podemos nos preocupar com o futuro mais tarde e nos concentrar em como vamos sair daqui vivos?

Alfa sorriu e olhou para Akira em silêncio. O rosto de Akira endureceu.

Nada bom, ele pensou. Talvez eu não devesse tê-la cortado.

No entanto, os cães armados ainda estavam rondando o prédio, e Akira não poderia ficar escondido no telhado para sempre. A menos que conseguisse escapar, ele não teria futuro, e isso o deixou nervoso o suficiente para interromper Alfa. Só depois percebeu que ofendê-la poderia custar-lhe seu único meio de sobrevivência.

Alfa detectou a inquietação e o pânico surgindo na expressão de Akira, e ela sorriu amigavelmente. Tudo bem, disse. Tenho muitas perguntas que gostaria de fazer quando tivermos mais espaço para respirar, então vamos começar saindo daqui e voltando para a cidade de Kugamayama. Podemos retomar nossa discussão lá, tudo bem?

— Sim. Obrigado.

Akira soltou um suspiro, aliviado por agora ter mais chances de voltar vivo para casa. Mas a próxima ordem de Alfa, entregue com esse mesmo sorriso, esmagou-lhe uma vez mais o espírito.

Então volte lá para baixo agora.

Akira gaguejou e tossiu. Recuperando-se, olhou fixamente para ela. Imperturbável, ela se afastou e, quando ele não deu nenhum sinal de segui-la, acenou para ele.

O que há de errado? ela perguntou. Vamos lá!

— Espere! — Akira protestou, voltando à realidade.

 — Foi de lá que acabamos de fugir, lembra?! Por que voltaríamos lá? Está cheio de monstros!

Fico feliz em explicar, mas vamos caminhar e conversar. A menos que você não confie em mim, é claro. Então não há nada que eu possa fazer. Eu não vou forçar você.

Com isso, Alfa desapareceu no prédio, deixando-o para trás.

Akira lembrava-se bem de como um único cachorro desarmado podia ser perigoso, e a matilha abaixo estava repleta de armas de fogo. O medo o deteve em seu caminho. Ainda assim, quando viu Alfa desaparecer no prédio, cerrou os dentes e a seguiu. Duvidava que pudesse voltar vivo para a cidade sozinho, e antes havia sobrevivido graças a ela. Considerando tudo, então, obedecê-la parecia sua melhor chance de sobrevivência. Então desceu as escadas correndo atrás da figura enigmática.

Assim que Akira entrou no prédio, encontrou Alfa bem ao lado da entrada, sorrindo como se dissesse que sabia que ele viria. Sentindo-se envergonhado e, estranhamente, como se tivesse sido derrotado, correu atrás dela escada abaixo.

Sua descida foi bastante pacífica em comparação com sua corrida anterior pelas escadas.

Alfa sinalizou para ele parar várias vezes na descida, e todas as vezes ele ficou parado até que ela acenou para ele continuar.

A certa altura, Akira perguntou:

— Por que estamos voltando? Não é perigoso?

Extremamente perigoso, Alfa respondeu sem hesitar.

Por um momento, Akira ficou em silêncio, atordoado. Então o pânico entrou em sua voz. — Espera um segundo! Quer dizer que não é seguro?!

Como isso poderia ser? Monstros estão vagando pela área.

— E-eu sei disso, mas não é isso que quero dizer. Me dê uma explicação real. Você disse que me contaria seu plano, desde que estivéssemos em movimento, lembra?

Se você quiser retornar com segurança para a cidade de Kugamayama a partir das ruínas da cidade de Kuzusuhara, você precisará escapar deste prédio primeiro. A menos que você consiga pular do telhado sem morrer, o que duvido, você precisará usar as escadas para…

Akira fez uma careta, irritado e um pouco desconfiado.

— Tudo bem — , ele interrompeu com uma pontada em sua voz.

— Apenas me diga: posso realmente voltar vivo se fizer o que você diz?

Eu acho que você terá uma chance melhor do que tentando ir sozinho, Alfa respondeu seriamente. Como eu disse no telhado, não vou forçá-lo. Se você não pode confiar em minhas instruções, retirarei meu apoio. Seria uma perda de tempo. Ela olhou para Akira, esperando para ver se ele terminaria sua parceria.

Finalmente, Akira baixou a cabeça. Parecendo enojado consigo mesmo, disse: — Desculpe. Eu estava exagerado. Farei o que você disser, então, por favor, me ajude.

Alfa sorriu mais uma vez, seu bom humor aparentemente restaurado.

Tudo bem, disse. É bom trabalhar com você novamente.

Essa foi por pouco, pensou Akira, aliviado, mas ainda inquieto.

— E, se você não se importar — perguntou cuidadosamente,— você poderia me dizer as razões para suas ordens, apenas as partes importantes, simples e fáceis de entender para que eu não fique muito nervoso?

Eu não me importo, Alfa respondeu imediatamente. Ela começou a tagarelar uma explicação.

Diferentes cães armados seguiram diferentes padrões de comportamento. Alguns perseguiam incansavelmente qualquer inimigo que encontrassem, enquanto outros permaneciam dentro de uma área fixa. Alguns continuaram a vasculhar as proximidades depois de perder um inimigo de vista, enquanto outros retornaram imediatamente aos seus postos. E assim por diante. Alfa identificou todas essas diferenças individuais e determinou que retornar pelas escadas naquele momento minimizaria o número de monstros que Akira encontraria em seu caminho de volta.

Os Cães armados, continuaram, possuíam um órgão interno especial que produzia munições para os seus armamentos, e os seus corpos só podiam armazenar uma certa quantidade de munições de uma só vez. Quando esses estoques internos se esgotavam, eles precisavam de tempo para fabricar mais e recarregar suas armas. Durante esse tempo, Akira correria um risco muito menor de levar um tiro nas costas enquanto corria, mesmo que os cães de caça o vissem novamente. Eles podiam tentar mordê-lo, mas à curta distância Akira tinha melhores chances de os derrubar, mesmo com a sua fraca pistola. Alfa pesou esses e vários outros fatores uns contra os outros antes de dizer a Akira o que fazer.

Concluindo sua explicação, Alfa acrescentou: Isso foi apenas uma breve visão geral.

      Você prefere mais detalhes?

— Não, isso é o suficiente —, respondeu Akira.

     — E eu gostaria que você tivesse me contado tudo isso no telhado. — Ele achou sua explicação suficientemente longa, embora também desejasse que ela tivesse lhe contado antes.

Em uma situação perigosa, geralmente não temos tempo para longas explicações, Alfa disse lentamente, como se tentasse convencer uma criança pequena. Se você fosse levar um tiro entre os olhos em três segundos, e eu dedico um tempo para explicar isso a você, quantos segundos isso deixaria para você sair do caminho? A resposta é zero.

— E-eu entendo isso, mas—

E se eu apenas dissesse para você descer e você parasse para me perguntar por quê? Não posso tocá-lo, então não posso derrubá-lo no chão. Se você não puder responder às minhas ordens imediatamente, você morrerá.

Com isso, Akira ficou em silêncio.

A propósito, acrescentou Alfa. Estou lhe dando uma explicação agora porque determinei que você está relativamente seguro.

Akira hesitou antes de responder com um aceno tímido e um — Entendi.

Ele entendia as razões de Alfa, mas também tinha a sensação de que quanto mais perguntasse, mais as respostas dela destacariam sua própria imprudência.

Ao chegar ao primeiro andar, a expressão de Akira tornou-se sombria ao ver as marcas dos ataques anteriores, ainda frescas. Ele imediatamente examinou seus arredores. Uma vez que determinou que parecia seguro, suspirou e sua expressão se suavizou. Seu alívio, no entanto, desapareceu quando Alfa olhou para ele severamente.

Akira, ela começou, estamos prestes a deixar as ruínas. De agora em diante, ouça atentamente minhas instruções e siga-as o mais próximo possível. Toda vez que você fizer algo que eu não mandei, suas chances de morrer aumentam. Está claro?

— S-Sim.

Nos próximos trinta segundos, corra para fora do prédio o mais rápido que puder.

     Quando estiver do lado de fora, vire à esquerda e continue correndo pela rua e não olhe para trás, não importa o que aconteça. Está claro? O tom de Alfa era duro.

— E-Entendi. — Akira assentiu, suas feições tensas com uma mistura de medo e estresse.

Até ele sabia que não havia tempo para pedir uma explicação a Alfa.

Alfa moveu-se para o lado como se abrindo caminho para ele, mantendo os olhos nele enquanto apontava para a saída do prédio. Akira olhou para fora e viu mais sinais dos ataques anteriores. Se inclinou um pouco para a frente, preparando-se para correr para um lugar do qual havia fugido recentemente em desespero. Mas seus pés permaneceram fixos no chão. Compreensão e aceitação não eram o mesmo que ação. Ele entendia as razões de Alfa e as havia aceitado, mas ainda não tinha determinação para colocar essa aceitação em prática.

Alfa começou a contar os segundos. Cinco, quatro, três…

O que aconteceria se ele ficasse sem tempo? Por um momento, Akira imaginou as consequências; depois foi-se embora e saiu correndo do edifício. Correu ao longo da ravina entre arranha-céus em ruínas o mais rápido que suas pernas permitiam, seu único pensamento era continuar, cada vez mais rápido. Logo, sua respiração tornou-se irregular e seu ritmo começou a diminuir, mas ainda corria desesperado. Seus pulmões e coração gritavam, e suas pernas gritavam em agonia enquanto batiam implacavelmente no chão duro e pavimentado. No entanto, ignorou a dor e continuou correndo.

Ele não viu nenhum monstro por perto, nem ouviu nenhuma luta. Talvez fosse seguro reduzir a velocidade agora. O silêncio ao seu redor parecia dizer que estava sozinho entre as ruínas. Coração, pernas e pulmões o amaldiçoaram, implorando por descanso.

Cedendo um pouco, diminuiu o passo, embora continuasse correndo.

Não viu nenhum perigo à sua frente e não ouviu nada atrás. Relaxou e começou a sentir que já poderia estar fora de perigo. A dor crescente e exaustão tornou-se impossível de ignorar.

Relaxou ligeiramente. Deve estar seguro agora, sua mente sussurrou.

Hesitante, parou por um momento para recuperar o fôlego, olhando para trás para garantir que nenhum perigo estivesse atrás dele.

Apesar da insistência de Alfa, desobedeceu às ordens dela afinal.

E ele congelou. Seu olhar se fixou em um monstro gigantesco não muito longe, ereto. Estava sozinho, mas seu enorme volume fez mais para intimidar Akira do que toda a matilha de cães armados.

O monstro se parecia com os cães armados. Com um enorme canhão saindo de suas costas. Sua porção canina, no entanto, era diferente de qualquer outro que Akira tivesse visto, e toda a sua aparência era retorcida, uma afronta à elegância. Oito pernas brotaram sem levar em conta a simetria. Uma cabeça canina deformada exibia dois olhos no lado direito, um acima do outro, e um único olho no esquerdo. Os olhos eram todos de tamanhos diferentes e, montados no crânio distorcido da besta, era duvidoso que tivessem um campo de visão decente. Apesar disso, todos os três olhos estavam fixos em Akira.

O gigante abriu a boca, uivou e disparou seu canhão. Um projétil caiu perto de Akira e explodiu, espalhando escombros em todas as direções. Felizmente para o rapaz, os destroços espalhados absorveram a maior parte da onda de choque e dispersaram o resto, escapou aos ferimentos e sofreu apenas uma forte lufada de ar da explosão.

O monstro deslocou o seu corpo para atirar novamente, mas nenhum projétil veio. Sem munição. Com outro uivo, lançou-se em direção a Akira com suas pernas desequilibradas.

Ainda atordoado com a visão da besta, Akira não conseguiu se mover mesmo quando ela o atacou.

Corre!

Alfa não estava à vista, mas sua voz ecoou nos ouvidos de Akira. Ele finalmente voltou aos seus sentidos, partindo em uma corrida louca. No entanto, o monstro ganhou um terreno considerável. Desobedecer Alfa aumentou significativamente suas chances de morrer, assim como ela havia avisado.

Akira correu, mais uma vez ignorando os gritos de dor de cada centímetro de seu corpo. Os passos do monstro soavam cada vez mais altos. Suas pernas retorcidas diminuíam a velocidade, mas os tremores e estrondos que trovejavam toda vez que suas patas batiam na calçada não deixavam Akira com dúvidas quanto à sua imensidão e poder. Ele sabia que não teria chance se aqueles pés o pisassem. Cada estrondo ou estremecimento destruiu impiedosamente seu espírito.

Alfa de repente flutuou ao lado de Akira enquanto continuava seu vôo frenético, deslizando ao lado dele. Ela parecia sombria e exasperada.

É por isso que eu disse para você não olhar para trás, ela disse. Você não estava ouvindo?

— Sinto muito. — Akira implorou, com os olhos arregalados.

— Farei certo da próxima vez! Então, por favor, faça alguma coisa!

Tudo bem! Quando eu der o sinal, vire-se e dispare sua arma.

— Minha arma?! — Akira gritou com uma careta. A ordem parecia tão imprudente que ele não pôde evitar. — O que você espera que eu faça com aquela coisa com esta pistola minúscula ?!

Esquece, então, Alfa respondeu, o seu tom frígido. Eu não vou insistir.

— Por favor! — Akira gritou, gastando um precioso fôlego.

O sorriso de Alfa trazia uma pitada de satisfação. Não se preocupe em tentar mirar; apenas aponte o cano para a frente e esvazie o carregador o mais rápido possível. O tempo é tudo, então faça o possível para corresponder ao meu sinal. Entendeu?

— Entendi!

Alfa começou a contar os segundos, dobrando os dedos enquanto fazia isso.

Cinco, quatro, três…

Mais uma vez, Akira sentiu que não tinha escolha. Mais uma vez, continuar como estava só o mataria.

A voz de Alfa ecoou atrás dele. Dois, um, zero!

Akira se virou, ergueu a arma e apertou o gatilho. Ele não se preocupou em mirar, mas um dos olhos gigantescos do monstro estava bem na frente do cano. Ao atirar à queima-roupa, suas balas penetraram no globo ocular e afundaram na cabeça da criatura.

Meio enlouquecido, Akira continuou atirando, cada bala sucessivamente causando grandes danos à cabeça e ao cérebro da fera. No entanto, apesar dos ferimentos graves que ele infligiu, a besta agarrou-se tenazmente à vida, por um momento. Salva de uma morte instantânea, a besta foi, no entanto, mortalmente ferida, e só teve tempo para um uivo final antes de dar seu último suspiro. Seu grito ensurdecedor sacudiu as ruínas.

O corpo da besta morta desmoronou-se no local, mas Akira ainda manteve a sua arma agora vazia apontada, puxando repetidamente o gatilho. Só quando viu o sangue fluir da sua cabeça e do seu corpo deitado em total imobilidade é que finalmente parou.

— E-eu peguei? — Akira parou, ainda respirando pesadamente. Observou o monstro com cautela, sem saber se realmente havia acabado com ele. Então, quando se acalmou e começou a recuperar o fôlego, ele deu outra olhada no corpo maciço deitado em uma poça de seu próprio sangue. Finalmente sentiu que havia vencido.

Akira.

À beira de se afundar no chão, virou-se para a voz e o seu rosto relaxou. Estava prestes a agradecê-la e pedir desculpas quando viu que ela estava apontando para fora das ruínas com um sorriso. Sua expressão ficou tensa mais uma vez.

Nos próximos dez segundos…

Akira não esperou que Alfa terminasse de falar antes de começar uma corrida frenética. Alfa permaneceu e o observou ir até que, com um sorriso audacioso, ela desapareceu, deixando apenas o cadáver do monstro em seu rastro.

Ao fugir do monstro que avançava, Akira havia perdido o que estava acontecendo atrás dele. O monstro percebeu Alfa, que disse a Akira que ela era visível apenas para ele, enquanto ela pairava logo atrás de Akira, e tentou afundar suas presas nela. Com sua própria imagem como uma isca, Alfa levou o monstro para a posição certa antes de permitir que ele atacasse. As mandíbulas do monstro se fecharam sobre ela, mas não sentiu nenhuma presa e congelou em confusão. Naquele momento, Alfa ordenou que Akira atirasse na criatura. Graças à manipulação dela, o olho do monstro acabou no lugar certo para Akira atirar nele, permitindo que ele despachasse a fera facilmente.

Enquanto corria desesperadamente das ruínas, Akira também não conseguiu fazer outra conexão: a matilha de cães armados apareceu assim que ele aceitou o pedido de Alfa.

 

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Mal tendo sobrevivido ao encontro com os cães armados, Akira continuou correndo para salvar sua vida. Eventualmente, saiu das ruínas da cidade de Kuzusuhara para uma área que era um pouco mais segura, embora ainda perigosa.

Como se ela estivesse esperando lá, Alfa apareceu e o cumprimentou.

Descanse um pouco, disse graciosamente enquanto ele caía no chão, exausto, mas vamos continuar conversando. Vou ajudá-lo a adquirir o equipamento e a competência necessários para explorar as ruínas que eu disser. Você está acompanhando?

Akira assentiu, lutando para recuperar o fôlego.

— Sim, —engasgou. — Continue.

Você pode comprar equipamentos ou encontrá-los nas ruínas. Competência você só pode obter através de treinamento e combate. Mas fique tranquilo: sob minha orientação, você receberá uma educação de elite em pouco tempo.

Akira não tinha ideia do que consistiria seu treinamento, mas Alfa parecia confiante de que seria bastante eficaz.

— Será uma grande ajuda —, disse ele, — mas por que fazer tudo isso por mim?

Não se preocupe com isso, respondeu Alfa. Tudo isso faz parte de seu pagamento antecipado. E como preciso de você para este trabalho, também é do meu interesse. Se você acha que estou lhe dando muito, talvez possa treinar ainda mais para compensar.

— T-Tudo bem. Farei o melhor que puder.

Deu um aceno firme, embora estremecesse com o sorriso inabalável de Alfa, o que sugeria o quão intenso seria seu treinamento.

Alfa retribuiu o aceno, aparentemente satisfeita. Então, por enquanto, vamos transformá-lo em um caçador lucrativo, disse ela. Por um lado, isso facilitará a obtenção de equipamentos de alto desempenho. Neste momento, você é um caçador apenas no nome – você se registrou no Escritório dos Caçadores, mas isso é tudo. Precisamos mudar isso, e logo. Pensando bem, ela perguntou: Só para esclarecer, você se registrou no Escritório dos Caçadores, não é?

Akira pegou sua identidade de caçador do bolso. Parecia um pedaço de papel barato, mas trazia a designação “Trabalhador Especial Certificado Classe Três da Liga Oriental das Corporações Governamentais”, com linhas para seu nome e número de identificação de caçador.

Alfa o inspecionou por um momento. Os IDs de caçadores deveriam parecer tão baratos? perguntou-se, imaginando em particular se teria sido falsificado. Veja bem, não estou duvidando da sua história. Isso não será um problema, desde que você possa usá-lo como um ID de caçador. Você pode usá-lo, não pode?

O pedaço de papel foi definitivamente o que o oficial deu a Akira quando ele se registrou como caçador. Tê-lo chamado de “barato” foi um golpe em sua confiança.

— Deve funcionar —, respondeu ele. — Eu acho.

Você se importaria de responder algumas perguntas para mim? Alfa perguntou. Como e onde você se registrou como caçador?

— Bem. — Carrancudo, pois sua lembrança da experiência era desagradável, Akira começou a contar a Alfa a história de seu processo de registro.

 

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Akira se registrou no Escritório dos Caçadores no distrito inferior da cidade de Kugamayama. Do lado de fora, a filial na periferia das favelas parecia uma espelunca, com letras desbotadas na placa danificada. Um logotipo desgastado do Escritório dos Caçadores era a única pista que ainda o identificava como uma filial.

O funcionário com quem Akira se encontrou havia sido rebaixado ao cargo e parecia tão motivado quanto competente. Embora os trabalhos no Escritório dos Caçadores fossem geralmente desejáveis, poucas pessoas queriam trabalhar tão perto das favelas. Assim, embora o Escritório dos Caçadores estivesse entre os empregadores mais populares do Leste, com muitos funcionários altamente competentes, Akira não teria notado ao olhar para este homem.

— Estou aqui para me tornar um caçador, Akira disse nervosamente ao oficial. — Você pode processar meu registro?

O oficial bufou de aborrecimento antes de largar a revista pela metade, claramente aborrecido por ter que ajudar uma criança da favela.

— Nome?

— Eu sou Akira.

O oficial enfiou as chaves em um terminal próximo e esperou que uma impressora cuspisse uma identidade de caçador. Ele descuidadamente pegou o papel barato e jogou em Akira antes de voltar para sua revista como se dissesse que seu trabalho estava feito.

Akira olhou frente e verso da identificação de caçador em suas mãos para o oficial, confuso. Ele imaginou que o registro seria um processo mais complexo.

— I-Isso é tudo? — perguntou, sem saber se realmente tinha terminado.

— Isso é tudo —  disse o funcionário, olhando para ele. — Agora caia fora.

— Você só vai me perguntar meu nome? Não há mais perguntas?

— Você acha que alguém quer saber sobre você? — Irritado, o oficial acenou com a mão para que Akira fosse embora. — Eu não dou a mínima para algum maldito zé-ninguém que vai morder poeira em um piscar de olhos. Eu nem perguntaria seu maldito nome se não fossem as regras, e não dou a mínima se é seu nome verdadeiro ou não.

Um lembrete supérfluo para Akira de como o resto do mundo o via. Ele deixou o Escritório dos Caçadores em silêncio.

 

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Terminando sua história, Akira olhou fixamente para sua identidade de caçador. Seus olhos mostravam que ele conhecia seu lugar no mundo, mas também ardiam com o desejo de subir mais alto a qualquer custo.

Alfa lançou-lhe um sorriso encorajador. Vamos começar seu treinamento com a alfabetização, disse ela. Adquirir informações é uma habilidade vital. E não se preocupe: com meu suporte impecável, você estará lendo e escrevendo antes que perceba.

— Entendi. Obrigado. Espere, como você sabia que eu não sei ler?

Porque o nome na sua identidade de caçador é “Ajira”.

Percebendo o quão descuidado e desdenhoso o funcionário havia sido com ele, Akira quase amassou sua identidade.

Agora, vamos voltar para Kugamayama, Alfa propôs com um sorriso sardônico. — Podemos retomar nossa conversa lá. Deixe qualquer leitura para mim até terminar de aprender a fazer isso sozinho.

Akira assentiu sem dizer uma palavra, guardou sua identidade de caçador e caminhou em direção à cidade de Kugamayama. Alfa acompanhou o passo ao lado dele.

— A propósito —, Akira perguntou casualmente, para se distrair de sua frustração, — o que era aquele monstro que matamos nas ruínas de Kuzusuhara?

Um cão armado, respondeu Alfa.

— Hã? Quer dizer que era do mesmo tipo que os outros? Parecia totalmente diferente para mim.

Esse provavelmente falhou quando tentou se modificar. É por isso que era fraco o suficiente para você o derrubar.

— Então, foi tudo latido e nenhuma mordida?

Isso depende do seu ponto de vista. Talvez tivesse apenas uma fraqueza da qual você teve a sorte de poder tirar proveito. Mas se você acha que pode vencê-lo novamente sem o meu apoio, é claro então eu diria que “só late e não morde” é uma avaliação justa.

— De jeito nenhum.

Então isso só mostra o quão incrível é o meu apoio. Você pode considerar me agradecer. Alfa sorriu, orgulhosa e maliciosa.

Akira sorriu de volta sem graça.

— Muito obrigado — , disse, e quis dizer isso. Ele devia a Alfa por cobrir seus erros, embora fosse difícil para uma criança rude como ele agradecê-la honestamente quando lhe pedia isso.

De nada, Alfa respondeu alegremente. Ela parecia entender como ele se sentia, mas ainda havia algo de provocador em seu sorriso.

 

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Assim, no primeiro dia de Akira como caçador, conheceu Alfa e, de alguma forma, o fez voltar inteiro para a cidade após sua expedição mortal nas ruínas. Assim começou a complicada carreira de Akira e Alfa.

 


 

Tradução: Nagark

Revisão: Bravo

 

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