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Princesinha na Floresta Feérica – Cap. 14 – Epílogo

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O CASTELO de Reverfeat voltou às mãos de seu legítimo herdeiro.

— É chegada a hora — ressoou uma voz.

— Fada-Madrinha!

— Fico feliz em vê-la novamente, Dama do Alvorecer.

Assim como seu nome sugere, a Fada-Madrinha aparecia ao alvorecer. Ela sempre nos surpreendia. Desta vez, estava menor do que da primeira vez que a vimos, mas estava significantemente maior do que quando partimos. Seu tamanho mudou pouco, mesmo depois de consertar as ruínas devastadas da sala do trono.

— Isso é muito mais simples do que formar uma barreira de proteção. — Em seguida, ela passou um dedo flexível ao longo de minha espada quebrada, e ela voltou ao normal.

— Muito obrigado… — murmurei.

Deste dia em diante, este reino não rejeitará mais os fracos. Taxas serão usadas para consertar pontes e casas que foram devastadas. Acho que você pode resumir tudo dizendo “E tudo voltou ao normal”, mas, na realidade, levará muito tempo para que tudo realmente “volte ao normal”.

Convocar os vassalos e empregadas que se espalharam silenciosamente por todo o país ajudou o castelo a recobrar sua antiga vivacidade. Como se fosse uma pequena mudinha nascendo de uma árvore queimada.

A Princesa provavelmente herdará a coroa e se tornará a nova Rainha.

No entanto, antes de isso acontecer, o dragão e eu, depois de termos completado nosso dever, sairemos de cena.

Um homem que se tornou um com um dragão não pode ficar em apenas um lugar. O mesmo também se aplica ao dragão. Nosso poder excessivo traz distorções ao mundo dos homens.

— Gideon, não vá. Eu quero ficar com você, Senhor Dragão. — Prestes a chorar, a Princesa alternava entre abraçar eu e o dragão. — Quero voltar para a floresta, para a casa na árvore.

— Não faça essa cara. Este é o seu lar, não é?

— Kyawawawa. Kyawa. Kyawawa

Ouvi vozes fracas e indistintas. Vozes delicadas que faziam eu querer baixar a cabeça.

— Ei, você disse alguma coisa?

Olhei ao redor, mas não havia ninguém. O dragão assentiu com um olhar satisfeito e falou com pompa imponente: — Os Pequeninos sim.

— Pequeninos?

— Talvez eles tenham se agarrado em você para voltar para cá.

— Em mim? — Eu estava confuso.

— Porque a Princesa está aqui.

Ela sorriu.

— Entendi… Os Pequeninos ficarão aqui, comigo.

— Onde eles estão? — perguntei enquanto olhava ao redor.

— Você não será capaz de vê-los se tentar. — Lágrimas se formavam em seus olhos, a Princesa nos mostrou um largo sorriso enquanto recuava. Ela ficou com as costas retas, seu rosto tornou-se sereno. — Confio meu cavaleiro a ti, Escamas Bravias, poderoso dragão de escamas de rubi e protetor da Floresta Negra. — Ela falou na maneira respeitosa de sua linhagem real.

Suas sardas se destacaram ainda mais em suas bochechas coradas, mas Lala Lilia permaneceu firme. Servos moveram-se atrás dela e os leais soldados sobreviventes que fugiram após a morte de seu pai ficaram em formação de proteção ao nosso redor.

Ahh. Apenas me lembrar deste rosto me manterá firme até o fim de minha vida. Não importa o quão escura ou fria seja a noite que eu enfrente, sobreviverei mais um dia.

— Ei! Por que ele é responsável por mim?! — gritei depois de pensar um pouco mais no que ela disse.

O dragão olhou para mim.

— Sou o responsável, então é claro que eu estaria no comando. — Ele virou o nariz para cima. — Os imaturos devem ouvir os mais velhos.

— Ei, o que você quer dizer com isso?!

Lala sorriu serenamente, pequenas lágrimas escorreram por sua bochecha.

— Cuidem-se, vocês dois!

Ignorei o bufar do dragão e encarei a futura Rainha.

— Nós voltaremos no dia mais feliz da sua vida para presenteá-la com o buquê mais lindo de todo o mundo.

— Você promete, meu cavaleiro? Você promete, Senhor Dragão?

— Prometo, minha Princesa.

— Você tem minha palavra, minha pequena Lady.

Montei no cavalo de guerra âmbar e cutuquei minhas esporas em seus flancos para fazê-lo galopar. O dragão corria ao nosso lado. Olhei uma última vez para trás e vi que ela observava com tristeza a nossa partida. Não olharei mais uma vez…

— Quer disputar uma corrida? — comentei com o dragão, tentando distrair o desejo persistente de voltar ao lado dela. Para continuar cuidando da criança que criei por um ano. Aquela que me ensinou muito além de tudo aquilo que fiz por ela.

— Aceito o seu pedido para um duelo, meu amigo.

Ele bateu as asas uma vez e subiu ao céu azul e livre de nuvens

— Oi! Qual é! Voar é contra as regras! Sem voar!

— Noosssaaa, que imaturidade.

APERTA!

Peitos redondos e saltitantes foram pressionados contra minhas costas.

— UOU! Quando que você…

— Ei, já que seus dias de babá terminaram, quer ter um pouco de diversão, Senhoor~?

A Bruxa apareceu na sela atrás de mim. Em sua atraente forma adulta para ajudar. Uma pequena aranha colorida estava em seu ombro, esperando pelas suas ordens.

— Hoje não, este velhote está ocupado agora.

— Ahhh. Sua reação foi fraca… Estou certa em pensar que você prefere esta forma?

— Diminuir de tamanho não melhora nem um pouco! Agh! Ei! Não me abrace! Pare de subir em mim!

— Não~ Mesmo~! Estamos sentados nas costas de um cavalo a galope, sabia? Eu posso cair.

— Uggggh.

Cavaleiros não podem desafiar uma dama — esta é a regra.

— Então? Para onde está indo, senhor?

— Boa pergunta… Para as fronteiras do reino, por enquanto.

— Fronteiras do reino?

Os momentos finais do Lorde Ardiloso mostraram com clareza que punição divina aguardava por aqueles que pilhavam e tiranizavam. Mas quase sempre essa punição não vinha cedo o bastante para proteger as vítimas futuras.

— Leva bastante tempo viajar do centro às fronteiras.

E eu devia ser capaz de acelerar as coisas.

— Está fazendo isso pela Princesa?

— Sim, pela Princesa.

As sobrancelhas da Bruxa se juntaram enquanto ela semicerrava os olhos e suspirava.

— Awww, você realmente me surpreende, Velhote.

Eu conseguia ouvir o dragão rindo ao longe no céu.

 

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EU não vou esquecer:

Do peso da coroa que herdei; do fato de que todas as vidas perdias tinham um nome, um rosto; da razão de quase não haver garotas da mesma idade que eu no reino.

Não vou esquecer.

Não vou, não importa o quão banal ou quantas vezes esses atos se repitam durante a história. Não importa o quanto o mundo queira rir disso como se fosse uma “coisa natural” ou “algo que acontece toda hora”. Com coragem, declaro com a maior clareza possível: não suporto coisas malignas!

Agora tenho o poder de evitar que coisas assim aconteçam. Com a coroa mais uma vez nas mãos de minha linhagem, o poder que meu pai devia ter usado quando seu reino foi ameaçado agora repousa em meus ombros. Por isso não hesitarei.

Sou a Princesa. Este é o meu reino, e eu cumprirei meu dever, custe o que custar. Serei a Rainha que Reverfeat precisa! E deixarei Escamas Bravias e Gideon orgulhosos!

 

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— COMO posso dizer…? A Bruxa deu de ombros. O manto encapuzado que ela normalmente coloca quando viaja desapareceu sem deixar vestígios. De onde ele vinha e ia, só a aranha em seu ombro sabia. — Depois de exibirem toda aquela bravata, voltaram ao local onde tudo começou?

— Fiz um monte de outras coisas no caminho, não fiz?

— Ah, sim, sim. Você fez mesmo.

No meu caminho de volta, usei o tempo livre para destruir todos os presentes que o Lorde Ardiloso deixou para trás. Coloquei um fim em todas as pilhagens, brigas, roubos, sequestros e qualquer crime, pequeno ou grande, que ainda corriam soltos pelas ruas. Como resultado, precisei de quase um mês para chegar à nostálgica Floresta Negra. O dragão já havia retornado ao seu antigo lar eras atrás. Parei de contar com a ajuda dele e nossos corações seguiram conectados.

Eu consegui dar um jeito nos crimes cometidos por humanos — pelo menos era isso o que eu queria ser capaz de dizer, mas preciso reconhecer que a Bruxa me deu uma ajudinha.

— Este lugar…

— Sim, aqui mesmo.

Desmontei de meu cavalo e caminhei cuidadosamente. Os restos mortais das pobres garotinhas que não viram muito do mundo foram enterrados pelo solo da floresta, tornando impossível saber onde estavam. Afinal de contas, esta é a Floresta Negra. Sem contar que também era verão. Esta é a estação onde plantas, pássaros, insetos, animais e outros seres vivos usam o máximo que podem de energia.

— Senhor, você esteve pensando sobre elas esse tempo todo?

— À minha própria maneira, sim.

— Hmm?

Ela não estava convencida. Levantando uma sobrancelha, eu disse:

— Mesmo que tenha sido apenas um pouco, ainda tive uma certa ligação com uma das garotas.

— Mentiroso…

— Disse alguma coisa?

— Será?

Dentro da floresta coberta pela escuridão índigo, foi uma completa coincidência eu ter encontrado. Ou talvez tenha sido boa sorte? Um laço balançava ao vento em um galho de uma muda de árvore que tinha a altura até os meus joelhos. A cor do laço havia desbotado e suas pontas estavam desfiadas. Estava em trapos, fazendo-me perceber quanto tempo imensurável existia entre ele e sua dona.

Luzes azuis-celestes levantaram de um galho e piscaram. Quanto tempo fazia que estavam ali? Desde que chegamos? Antes disso? Não tenho ideia.

— Entendo… Eles realmente não são apenas vaga-lumes.

O dragão enfiou a cabeça no espaço entre as árvores repentinamente.

— Yo, parceiro.

— Bem-vindo de volta, Gideon.

Fui até ele e coloquei minha mão em seu focinho. Um toque nostálgico. Um ser nostálgico.

— Você me trouxe o que combinamos?

— Sim, não esqueci de nada.

Levantei meu lampião. Era uma caixa retangular com alça e vidro embutidos em sua armação de metal. Precisei do pessoal da Estalagem de Attegrune para acender a vela dentro.

 

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O estalajadeiro e sua esposa já suspeitavam que sua filha havia morrido.

— Por quê? Por que nossa menina? Ela só nasceu neste reino, e recém completara sete anos.

— Por que eles a abandonaram em uma floresta? Só um pouco mais perto e ela poderia ter voltado para casa…

Seus murmúrios eram tão secos quanto folhas caídas e igualmente instáveis.

 

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AS luzes que iluminavam seus lares nostálgicos queimavam dentro do lampião; eu carregava a luz para qual as garotas não poderiam mais voltar. Abri a tampa do lampião e segurei-o sob o focinho do dragão.

— Estou contando com você, parceiro.

— Deixe comigo.

Ele assoprou gentilmente.

De seus lábios franzidos, aquilo veio bem fraquinho e silenciosamente. O sopro misturou-se com a luz dentro do lampião. Fechei a tampa, criando um pequeno vórtice laranja no lado de dentro.

— Sua vez agora. — Ele me avisou.

— Deixe comigo.

Levantei o lampião e balancei lentamente para a esquerda e para a direita. As luzes azuis flutuaram na direção dele. A primeira partícula esfregou em meu rosto — era fria.

— Está tudo bem. Não se preocupe.

Um, depois outro, e depois outro. Parecia que se moviam lentamente de forma cega, mas eu acabei cercado antes mesmo que percebesse. O ar ao meu redor parecia tão frio quanto o inverno rigoroso. Minha respiração formava uma névoa branca.

— Você não está nada bem! Gelo está se formando em seu rosto! — gritou a Bruxa.

Agora que ela mencionou, minha testa parecia pesada.

— Venham agora… Vamos para casa. — Eu disse para as luzes.

Segurando o lampião erguido, caminhei. Grama e galhos sob meus pés congelavam, eram esmagados e ficavam presos à sola de minhas botas. Gelo cobria minha barba, cabelo, roupas e tudo mais, sem exceção. No momento em que cheguei à fronteira da floresta, senti-me como um boneco coberto de gelo.

— Agora vocês estão livres, garotas. Estão de volta ao lar.

Lentamente balancei meu braço; o gelo que cobria minhas roupas estalou e se desfez. As luzes azuis que me seguiam se espalharam.

— A estrada noturna é escura. Levem a luz com vocês.

Abri a tampa do lampião e soprei uma vez apenas. O sopro do dragão que girava jorrou e cobriu as luzes azuis.

Cercadas por um casulo de luz laranja, as azuis — os fogos-fátuos — desapareceram dentro dos lares adormecidos que permaneciam silenciosos à noite.

— Boa noite…

Vi-as partir. No limiar entre a floresta e a aldeia, fiquei até que a última luz desaparecesse…

 

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— PARA quem você quer aparecer, seu louco?!

BAM! Algo me acertou na parte de trás dos joelhos. Ser acertado repentinamente fez com que eu caísse. Gelo quebrou-se e caiu.

— Como você consegue ficar todo sentimental e dizer “boa noite” enquanto tem cones de gelo presos à barba?! Hein? Sua vaca teimosa! Débil mental! Macaco que é orgulhoso demais para desistir! Você é a cara das teimosias de um velhote!

Por que sinto que estou sendo repreendido sem motivos aqui?

— Você sabe o que acontece se ficar em contato com almas mortas por muito tempo, hein, MUITO TEMPO MESMO?! É um milagre você ainda estar vivo! Você tem uma sorte imensa! Quase foi o idiota que morreu congelado durante o verão! Ei, pelo menos sabe o quão idiota é? Você quer ser o famigerado cavaleiro congelado que as pessoas tanto falam? O idiota que, de alguma forma, tornou-se uma estátua de gelo no meio do verão?

— É, pois é, agora que você mencionou, estava um tantinho frio.

— Que parte de “crescer cones de gelo” é um “tantinho”?! — A Bruxa agarrou o colar da armadura e me colocou de pé. Agora que parei para pensar que ela tem bastante força, percebi que ela havia virado adulta.

— E você acha que é inocente nessa?! — disse e virou a cabeça para o lado. — Por que ficou quieto e o deixou fazer isso, ESCAMAS BRAVIAS?!

— Você ainda acha que ele me ouviria se eu tentasse pará-lo?

Ela se virou para mim novamente e murmurou:

— Veja o quão roxo você ficou. Está congelando. É sério…

Fiquei preso no abraço de algo excessivamente quente e macio. Ao ter uma pequena ideia do que era, tentei me afastar, mas meu corpo estava fraco demais para se mover. Eu não conseguia escapar.

O dragão deu um looooooongo suspiro e me envolveu em uma nuvem de vapor.

— Ó, é confortável e quentinho…

Sangue fluía de meus membros gelados e amortecidos. Usando aquela energia extra para ficar de pé, estiquei o máximo que podia os meus braços.

— Obrigado, gente.

— Sério, vocês dois são… — A Bruxa cruzou os braços sobre o peito e suspirou com um dar de ombros —, idiotas sem salvação.

 

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DENTRO da profunda, escura e densa floresta, onde nem mesmo as estrelas mostravam seu brilho, um laço desbotado e esvoaçante, envolto no galho de uma arvorezinha, se desfez e desapareceu ao vento. Tudo o que restou foi uma partícula de luz, mas no fim, até ela fundiu-se com os galhos.

O tempo passou e histórias foram espalhadas para muito longe, sobre uma grande e nobre Rainha, que governou o Reino Feérico de Reverfeat com sabedoria e graça. Relatos do grande dragão de rubi e seu Cavaleiro Negro desapareceriam e se tornariam mitos e lendas. Ninguém percebeu a aparição deles no alegre casamento da Rainha, ou como eles cuidaram do reino a partir das sombras.

Mesmo assim, com a grande passagem de tempo, os descendentes daquela terra se lembrariam para sempre da lenda da Princesa de cabelos vermelhos, que ascendeu e tornou-se uma Rainha, mesmo quando tudo parecia perdido, sob a proteção de seu grande dragão rubi e poderoso cavaleiro na lendária Floresta Negra, agora conhecida como Floresta Feérica.

 


 Tradução: Taiyo

Revisão: Taipan

 

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