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Parasita Apaixonado – Cap. 05 – Inverno no País dos Vermes

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Os dois passaram a ter passeios juntos em um horário fixo todos os dias. Sanagi iria visitá-lo como de costume, eles primeiro gastariam cerca de trinta minutos juntos para se acalmar, então faziam os preparativos e saiam para caminhar por uma hora, retornar ao apartamento e acalmar seus sentimentos tensos de todas as maneiras que podiam.

No final do dia, eles avaliavam os resultados de seu treinamento. Sanagi testava quantos segundos ela poderia olhar Kousaka no olho, e Kousaka testava quantos segundos ele poderia segurar a mão de Sanagi.

Kousaka sentia-se cada vez melhor a cada dia que passava. Como de costume, não conseguia andar de trem sozinho, mas se fosse com Sanagi, ele conseguia até mesmo fazer uma simples visita a um restaurante. Embora tenha sido devagar, passou a lavar as mãos com menos frequência, gastar menos tempo em limpeza, e o cheiro de desinfetante no quarto enfraqueceu.

Ao ver que a germofobia de Kousaka havia melhorado, Sanagi começou a levá-lo para alimentar animais selvagens. Cisnes no lago, gatos vadios no parque, pombos na praça da estação, gaivotas na costa, eventualmente até mesmo corvos no lixão. Sanagi alimentou todos eles sem discriminação. Kousaka a observou com uma certa distância. Então perguntou a ela o que exatamente gostava nos animais, e Sanagi teve uma resposta um tanto surpreendente.

— Eu li em um livro há muito tempo que os animais não têm um senso de passado e futuro; para eles, existe apenas o presente. Assim como muita dor que experimentam, mesmo que se acumule como uma experiência, a própria dor não se acumula. Então sua primeira dor e sua milésima dor só pode ser reconhecida como “minha dor atual.” Graças a isso, eles não podem ter esperança, mas não podem cair em desespero, e simplesmente parecem permanecer nesse estado de paz. Um certo filósofo uma vez chamou de “investimento total no presente”… Mas eu admiro esse estilo de vida que os animais têm.

— Isso é meio complicado. Não poderia ser só como “gatos são fofos, então eu gosto deles”?

— É claro que os gatos são fofos — disse Sanagi como se acabasse de ser  machucada de alguma forma — Se eu pudesse ser qualquer coisa, eu gostaria de ser uma gata. Além disso, eu gostaria de ter asas como um pássaro.

— Então você quer ser um grifo?

— Isso não seria uma gata — negou com firmeza.

Enquanto os dois caminhavam pela cidade, fizeram várias descobertas. Os pontos turísticos que Kousaka sempre passava olhando direto à frente, com Sanagi a seu lado, tornou-se fonte de imaginação. “Eu me pergunto, como esse mundo parece aos olhos dela?” Seria como obter um novo conjunto de órgãos sensoriais. Como ter uma câmera equipada com uma lente totalmente nova, tudo virava assunto para reavaliação.

Talvez Sanagi estivesse se sentindo da mesma forma. Um dia, ela olhou para longe e murmurou algo.

— Andar pela cidade sozinho e andar pela cidade juntos é completamente diferente, hein?

Sanagi pintou as cores que Kousaka deixou em branco, e Kousaka pintou as cores que Sanagi deixou sem pintar, completando o mundo um do outro. Ao fazer isso, o mundo se destacou com mais clareza.

Foi mais saboroso comer juntos do que sozinhos. Foi mais divertido irem juntos do que sozinhos. Era mais bonito ficarem juntos do que sozinhos. Algo tão óbvio para a maioria das pessoas que não merecia ser dito. Mas para Kousaka e Sanagi, foi uma grande descoberta que abalou suas visões de vida. A felicidade ressoava como uma melodia.

Agora, eles sentiam que podiam entender o motivo pelo qual as pessoas gostavam de viver juntas. Kousaka não se esqueceu do aviso de Izumi. Ele obedeceu ao seu comando para “manter as coisas como estão”, tentando manter uma distância razoável de Sanagi para evitar ser muito íntimo a ela. Cada passo que ela deu em direção a ele, ele recuou, e se ela recuava, dava um passo de volta. Como uma dança.

Mas mesmo que não fosse sua intenção, a distância entre eles certamente estava diminuindo. Era simplesmente natural. Pessoas que gastaram tanto tempo juntas, compartilhando suas preocupações e compartilhando seus mundos, não poderiam negar a formação de um relacionamento.

Sem saber, Kousaka havia chegado a um ponto sem volta. Agora, eles mal estavam dentro da “zona da amizade”, logo, parecia apenas uma questão de tempo até que algo ainda maior resolvesse aparecer.

E logo essa hora chegou. A noite de 20 de dezembro, uma noite de neve.

Kousaka cochilou em sua cadeira. Não que estivesse cansado, ou privado de sono. Ele apenas gostava de dormir com Sanagi por perto. Tornou-se uma rotina diária. Quando adormecia enquanto Sanagi lia, poderia ter bons sonhos. Não houve distinção histórica, apenas uma colcha de retalhos fragmentada de imagens, e ele não conseguia lembrar-se de uma única coisa concreta depois de acordar, mas havia ainda um eco de felicidade. Esses tipos de sonhos.

Quando acordou naquele dia, o rosto de Sanagi estava em sua frente. Kousaka saltou alguns centímetros, em surpresa, mas ela demonstrou uma reação ainda mais alarmante. No instante em que ele abriu os olhos, Sanagi saltou para trás com pressa. Uma reação como uma criança fazendo secretamente algo ruim e sendo descoberta logo em seguida.

Seus olhos se encontraram. Sanagi ficou surpresa — mas foi por outro motivo além de Kousaka ter acordado de repente.

— Bom Dia.

Kousaka sorriu para Sanagi. Seu sorriso dizia “Vou agir como se não tivesse visto nada.”

Mas Sanagi não respondeu. Ela se sentou na beira da cama, olhou para um punho cerrado em seu colo e lutou contra uma confusão interna. Seus olhos, geralmente caídos indiferentemente, estavam bem abertos, e ela mordia fortemente os lábios agora franzidos.

Logo ela voltou ao normal e olhou para cima. Respirou fundo, depois falou com a voz ligeiramente rouca.

— Foi mal.

Kousaka ficou confuso com a expressão de agonia dela, como se um assassinato tivesse acabado de ser descoberto. Logo depois, percebeu com atraso o que Sanagi estava tentando fazer. Ele percebeu o ângulo de seu rosto quando acordou, e o ângulo em que ela o beijou através da máscara facial, eram uma combinação perfeita.

— Que exagero. Eu não me importo muito com isso —  disse Kousaka — E não te arranhei desta vez.

— Não — disse, balançando a cabeça com força — Eu estava quase para fazer algo do qual não tinha mais como voltar.

Com isso, ela segurou os joelhos na cama e os pressionou com mais força.

“Sem volta?” Sua mente explodiu. Havia apenas uma coisa em que poderia pensar. Ela provavelmente estava se desculpando por quase fazê-lo quebrar a regra do “não ultrapasse os limites” que Izumi ordenou.

Na verdade, foi uma decisão complicada. Mas, mesmo assim, sua reação parecia dramática demais. Mesmo que fosse através de uma máscara, ela tinha feito efetivamente a mesma coisa uma vez. No entanto, ele não pôde deixar de pensar algo como ‘’o que isso importa agora?”

Mas as palavras seguintes de Sanagi o deixaram chocado.

— Se continuarmos juntos assim, acho que vou acabar te matando um dia, Sr. Kousaka.

Ela manteve os olhos longe de Kousaka, sorrindo solitária.

Enxugando as lágrimas de seus olhos, Sanagi se levantou.

— Então, eu não vou mais vir aqui.

Sem dizer mais nada, ela saiu da sala sem hesitar.

No momento em que Kousaka se recuperou de sua confusão para ir atrás dela e sair do apartamento, Sanagi não estava mais em lugar nenhum.

Uma forte chuva de granizo caiu sobre a cidade.

E assim, Kousaka ficou sozinho novamente.

 

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Alguns dias passaram.

Kousaka sabia que chegar a uma resposta não faria Sanagi voltar, mas ele não pôde deixar de pensar sobre por quê ela ter desaparecido.

Não achava que tinha cometido nenhum grande erro. Na verdade, nos últimos dez dias, seu relacionamento tinha sido muito favorável. Estava confiante sobre isso. Ela aproveitava seu tempo juntos profundamente, sem dúvidas.

“Não é que ela tenha ido embora porque me odei”, pensou Kousaka. “Porém… como ela disse, não sei muito sobre ela. Eu tenho conhecimento apenas de seu eu superficial”.

No entanto, agora ele podia entender um pouco. Houve “algo” mais devastador do que a escopofobia que reside nela, e isso impedia a interação com outras pessoas. Enquanto ele não tinha nenhuma prova, estava instintivamente certo disso. Escopofobia era apenas um sintoma resultado de algo ainda pior por trás…

Foi extremamente decepcionante, mas quando considerou como as seis pessoas que pediram para fazer este trabalho antes dele falharam, parecia apenas natural que Sanagi fugisse dele. Talvez este fosse um jogo impossível desde o início.

Havia apenas uma coisa que não entrava em sua cabeça. O que ela queria dizer com “acho que vou acabar te matando um dia, Sr. Kousaka.”?

‘’Devo interpretar como uma expressão exagerada para me incomodar, ou interpretá-la literalmente?… Não, eu deveria parar. Pensar em coisas que já foram feitas não faz nenhum bem.’’

A vida de Kousaka voltou a ser como era antes de conhecer Sanagi. No início, sentiu que não tinha nada para fazer passando a tarde sozinho, mas rapidamente se acostumou novamente. E não esqueceria facilmente os rituais que ele manteve por mais de cinco anos. Kousaka limpou o quarto completamente, limpou as manchas de sangue de Sanagi e perfumou tudo para afastar seu cheiro.

 

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24 de dezembro, 16h. Faltava menos de uma hora para a ativação da criação de Kousaka, SilentNight. Não estava claro como muitos dispositivos foram infectados, mas não poderia ser menos do que alguns mil como uma estimativa baixa. Porque o malware que criou era bastante distinto do malware móvel que havia sido feito antes.

Kousaka, o autor, não estava muito ciente disso, mas SilentNight era um malware móvel extremamente revolucionário. Já existia um ou outro malware anterior que desabilitou as funções de comunicação de telefones. SilentMutter e Radiocutter descobertos em 2009, por exemplo. Mas, de qualquer forma, dos malwares móveis reconhecido em 2011, a maioria eram trojans devido a razões técnicas. SilentNight, por sua vez, era um worm móvel que infecta a rede e pode se auto-replicar, então sua capacidade de difusão era incomparável com os malwares móveis anteriores. E pelo menos atualmente, nenhum programa antivírus detectou esse malware.

Um poderoso vírus que atingiu em 1999, Melissa, disse ter causado mais de 80 milhões de dólares americanos em danos. Além disso, um vírus que surgiu no ano seguinte, Loveletter, custou mais de alguns bilhões de dólares. Mesmo este malware criado por indivíduos poderia lhes dar um golpe inédito no mundo se conseguisse entrar nos eixos. Se tudo corresse bem, mesmo que não abalasse o mundo, SilentNight poderia chamar a atenção de muitas pessoas por dois ou três dias.

Mas Kousaka não estava com muita vontade de ver isso acontecer. No entanto, a criação de malware do qual ele vivia, agora, parecia vazio. O próprio Kousaka não sabia se isso era devido a Sanagi ou não.

“Vou me entregar antes da mudança de data” Kousaka silenciosamente decidiu. Ele não estava contabilizando o fato de que se entregar iria resultar em algo mais leve do que Izumi fazendo isso por ele. Kousaka simplesmente sentiu que era o certo.

Ao se equipar e ficar na porta, a campainha soou. Sabia que não era Sanagi. Ele imaginou que provavelmente seria Izumi, mas a intuição de Kousaka também estava errada.

Parado na porta estava um entregador. O homem sem rodeios entregou-lhe uma caneta e papel. Kousaka assinou, e o homem entregou-lhe um saco de papel e saiu rapidamente.

Voltou para a sala para abrir a bolsa. Dentro estava um cachecol vermelho-vinho. Quando desenrolou o cachecol dobrado, algo caiu. Era um papel de carta com um design simples e um envelope. O conteúdo do envelope estava ligeiramente saliente após a queda: uma pilha de notas.

Kousaka pegou o papel de carta e enfiou no bolso do casaco. Ele não parou para contar as notas. Sabia quanto era, e a razão pela qual haviam sido enviadas.

Sanagi provavelmente pegou metade do pagamento de Kousaka como uma condição para se tornarem amigos porque ela queria estar em igualdade com ele. Ela absolutamente não queria que ele se sentisse como se estivesse trabalhando por dinheiro. Agora que seu relacionamento havia falhado, não era mais necessário manter essa igualdade.

Kousaka desligou o smartphone do carregador que estava sempre conectado, enfiou o cachecol na bolsa e saiu de casa. Estava indo para a delegacia. Ele não sabia o porquê, mas sentiu que para se entregar, deveria fazer indo diretamente para lá em vez de ligar.

Não usava luvas ou máscara. Foi uma punição pobre para ele mesmo.

No caminho, Kousaka tirou o papel de carta do bolso e o leu.

‘’Devo ter te assustado de repente, saindo do jeito que fiz. Não tenho desculpas para isso. Eu realmente gostaria de me explicar, mas não posso dizer nada. Porque quanto mais palavras eu tentasse usar, provavelmente apenas iria aprofundar sua confusão. Uma coisa que posso dizer com certeza é que você não é responsável por nada, e o problema está inteiramente comigo. Eu estava errada em ter um desejo que estava totalmente além de mim.”

Ela tinha uma letra elegante para sua idade. Sua escrita também era diferente de seu tom informal costumeiro. Mas, estranhamente, nada sobre isso parecia errado. Ele sentiu que as palavras que ela escreveu na carta eram mais próximas do interior de Sanagi do que as palavras que ela falaria.

Kousaka olhou para a segunda folha de papel.

‘’Sr. Kousaka, gostava de ficar na sua casa, não fazendo nada importante, apenas ocupando espaço. Foi a primeira vez que experimentei tal sentimento de paz desde que nasci. Eu acho que foi graças a ter alguém de quem gosto lá. Obrigado pelos momentos maravilhosos que passamos juntos.”

Seguindo o espaço em branco com um período de silêncio, Kousaka olhou na terceira folha.

“Não é exatamente um reembolso, mas eu mandei para você um cachecol que fiz. Sim, este é o “passatempo feminino” que eu estava escondendo. Se não te agradar, eu não me importo se você jogá-lo fora. Para falar a verdade, eu simplesmente queria tentar dar um presente a alguém uma vez.’’

A quarta folha.

‘’Eu pedi diretamente a Izumi para deixá-lo livre, Sr. Kousaka. Ele é sempre incrivelmente indulgente comigo, então tenho certeza que fará o que eu disse… Eu na verdade planejava enviar apenas esta parte, mas eu continuei e continuei escrevendo coisas em excesso. Desculpa.”

E foi assim que ela embrulhou sua carta:

“Este será meu contato final com você, Sr. Kousaka. É o suficiente para limpar completamente meu eu de sua mente. Adeus.”

Quase ao mesmo tempo que Kousaka terminou de ler a carta, ele chegou à delegacia. Kousaka parou. O relógio de dentro marcava 17h.

Ele guardou o papel de carta no bolso, tirou o cachecol de sua bolsa, e segurou-o na frente dele. Era algo perfeitamente tricotado, facilmente confundível com um produto comercial.

Kousaka vestiu o cachecol. Ele fez isso, sabendo que era feito à mão. Ele próprio achou estranho. Aquele que odiava o “feito à mão’’ — ou qualquer coisa tocada pela mão de alguém — deveria normalmente ficar enojado com o presente, mesmo que Sanagi o tivesse feito especialmente para ele. Era algo que não podia ser suavizado com um apenas “está frio o suficiente para que eu precise de proteção”.

Do lado de fora da estação, Kousaka enterrou o rosto no cachecol, olhando para lâmpadas vermelhas cintilantes.

Ele não tinha certeza por quanto tempo fez isso.

De repente, ocorreu-lhe como ele estava desesperadamente apaixonado por Hijiri Sanagi.

Foi seu primeiro amor, aos 27 anos.

E ela era uma garota de 17 anos.

Mas ele não conseguia ver isso como vergonhoso. Pessoas estranhas acabam tendo sua estranheza em comum e, no final, se apaixonam estranhamente. Logo, não havia nada de estranho nisso.

Deu as costas para a delegacia. Ele não se sentia mais como antes.

Suas ações depois foram rápidas. Kousaka ligou o seu smartphone pela primeira vez em dias. Ligou para o número de Sanagi, mas o som da chamada foi cortado após um toque. Foi um jeito estranho para uma chamada ser interrompida. Tentou várias vezes. O mesmo resultado. Não parecia que seu telefone estava desligado ou ela estava em algum lugar sem sinal. Ela estava rejeitando suas ligações?

Só então, descobriu uma possibilidade. Talvez seja culpa do SilentNight.

‘’Talvez tenha superado minhas expectativas e se espalhado maciçamente, eventualmente infectando até mesmo o telefone de Sanagi.‘’

Considerando isso agora, não era impossível.

Kousaka estava perdido. Se estivesse certo, então ela perdeu comunicação há apenas alguns minutos. Mesmo se tentasse ir encontrá-la pessoalmente, não sabia o endereço de Sanagi. Ele teria que esperar dois dias até que os efeitos do worm parassem? Sacudiu sua cabeça; não, isso não vai funcionar. Ele sentiu que tinha que dizer a Sanagi hoje, ou perderia a chance de fazer isso novamente. Não havia tempo para atrasos. Mas onde poderia procurar para encontrá-la? Ele frequentemente buscou em sua cabeça, mas não teve uma única idéia.

‘’Que irônico.’’

Kousaka riu.

‘’O verme que fiz para causar problemas aos casais, agora está me causando problemas. Então é isso que significa ‘provar do próprio remédio’.’’

Ele sentiu algo frio na bochecha e ergueu os olhos.

‘’Começou a nevar?’’

Ele ergueu a mão e esperou que a neve caísse. Quando assim fez, de repente se perguntou por que não estava usando luvas. A partir daí, sua mente saltou de uma coisa para outra. Luvas, treinamento, mãos dadas, a mão de Sanagi, fora da estação, Luzes de Natal, véspera de Natal.

‘’Então, como isso soa? Na véspera de Natal, poderei andar pela cidade sem que os olhares das pessoas me incomodem.  Sr. Kousaka, você vai será capaz de dar as mãos a alguém sem se incomodar. Se atingirmos esses objetivos, na véspera de Natal, vamos dar as mãos e caminhar pelas luzes de Natal fora da estação, então vamos ter uma bela celebração.”

Se ela estiver em algum lugar, tem que ser lá, concluiu Kousaka.

Ele correu para a estação e entrou no trem um pouco antes de partir. Havia alguns lugares vazios, mas ele não os ocupou, e ficou perto da parede recuperando o fôlego. Pegou seu smartphone, e para verificar o status da infecção do worm, verificou se alguém tinha mencionado um novo worm online na última hora. Pelo que podia ver, havia apenas cinco ou seis pessoas dizendo que seus telefones de repente perderam a comunicação. Kousaka quase sentiu alívio ao ver isso, mas logo percebeu sua estupidez. Aqueles afetados por este worm, a menos que eles tivessem outro dispositivo em mãos, não seriam capazes de ficar online e dizer qualquer coisa. Usar a internet para verificar se havia pessoas que tinham perdido a Internet era como contar as baixas de uma guerra com uma lista de chamada.

Ele desistiu de verificar o estado da infecção e colocou o telefone de volta no bolso. Provavelmente ainda demoraria algum tempo antes que os danos se tornassem evidentes.

Depois de descer do trem e passar pela bilheteria, um homem de meia-idade o chamou.

— Desculpe pelo pedido rude, mas você poderia me emprestar seu celular?  — disse — Há alguém que eu quero entrar em contato o mais rápido possível, mas parece que meu smartphone quebrou de repente mais cedo. Não consigo fazer chamadas ou enviar e-mails, mas posso verificar meu e-mail. Pensei em usar apenas um telefone público, mas como você pode ver…

Kousaka viu uma cena estranha para onde o homem apontava.

Do lado de fora de três cabines telefônicas, a alguma distância da passagem do portão, havia longas linhas sinuosas. Na frente estava alguém olhando para a tela de um smartphone e pressionando os botões no telefone público. Eles provavelmente foram todos vítimas do worm.

Kousaka engoliu em seco.

‘’Isso pode, talvez, ter sido mais sério do que imaginei…’’

Embora fosse uma corrida contra o tempo, Kousaka emprestou ao homem seu telefone. Não sabendo que este jovem generoso era na realidade a causa de toda essa comoção, ele curvou a cabeça profundamente e agradeceu.

Enquanto o homem ligava, Kousaka tentou pensar sobre meios de contato com a Sanagi. Então ele percebeu. Não haveria necessidade de fazer esse tipo de contato..

‘’Se a Sanagi ainda quiser me ver, ela vai definitivamente aparecer fora da estação esta noite. Isso foi o que ela prometeu. Por outro lado, se ela não quiser, então vai ser inútil, mesmo se eu pudesse ligar para ela. Minha principal preocupação agora é que, independentemente da Sanagi aparecer, não irei encontrá-la.’’

Kousaka viu um funcionário da estação colocar uma placa do lado de fora do portão de embarque e as pessoas começaram a se aglomerar em torno dele. O homem finalmente terminou a ligação e devolveu o smartphone a Kousaka, agradeceu, e foi embora. Kousaka resistiu ao impulso de desinfetar o telefone e jogou em seu bolso e deixou o prédio para ir para a praça. Se Sanagi tivesse a intenção de aparecer, esse seria o lugar que ela iria.

Parecia que havia muitos jovens solitários na praça. Certamente nem todos eles eram, mas sem dúvida pelo menos alguma porcentagem deles perderam seus meios de comunicação devido ao worm e não puderam encontrar quem pretendiam encontrar. Pessoas fumando cigarros com desagrado e olhando para o longe, pessoas sentadas em bancos e olhando em volta constantemente, pessoas inquietas andando pela praça. A cena o lembrou de uma época anterior à disseminação dos celulares.

Kousaka sentou-se em um banco ao lado do relógio e continuou assistindo as pessoas saindo da estação. Ele aguçou seus sentidos para não perder uma única pessoa que entrasse ou saísse da estação.

Mas uma hora, duas horas se passaram sem nenhum sinal de Sanagi. Cada vez que via uma mulher com cabelo curto e brilhante, olhava para cima esperançoso, mas elas eram todas a pessoa errada.

A neve piorou, e as pessoas que enchiam a praça diminuíram gradualmente em número. Antes que percebesse, havia o suficiente para contar com uma mão. Aqueles que entravam e saíam da estação tornaram-se poucos e não era mais necessário aguçar seus sentidos.

E um total de três horas se passaram.

‘’Talvez seja inútil esperar mais. Essa promessa já perdeu o sentido.’’

Ele suspirou e olhou para o céu noturno.

Seu corpo estava congelando, principalmente abaixo dos joelhos. Fazia um frio indescritível. Mas a frieza física não era o grande problema. Um calor em seu peito que parecia fazer parte dele se foi, e um pesado frio preencheu o espaço. O fraco calor que restou parecia apenas reforçar o frio.

‘’Ah, então é assim que é a solidão’’.

Kousaka finalmente percebeu, na idade madura de 27 anos. As escamas haviam caído de seus olhos. Até agora, ele estava vagamente ciente das formas do amor e da solidão, mas decidiu que eram coisas irrelevantes para si. Não devia se incomodar com isso.

‘’Talvez o beijo que Sanagi deu naquele dia reescreveu alguns de meus dados.’’

O relógio tocou, informando que eram 21h. Menos de uma hora até as luzes de Natal se apagarem.

Nesse ponto, não havia nada mantendo Kousaka lá, mas teimava. Certamente Sanagi não iria aparecer neste momento, e já estava começando a descartar suas esperanças — e de certa forma, estava certo.

Depois que o sino terminou de tocar, Kousaka olhou em volta. Quase todos na praça haviam desaparecido; tudo o que restou foi ele mesmo e uma garota solitária. Ela parecia uma garota dócil em um ambiente tranquilo. Ela escondeu o rosto em um cachecol para suportar o frio, mantendo a cabeça baixa. Provavelmente por fazer isso por muito tempo, sua cabeça e ombros estavam cobertos de neve branca.

Talvez ela fosse outra pessoa que não conseguiu encontrar aquele que ela amava. Esse pensamento encheu Kousaka de arrependimento. Agora ele podia entender seus sentimentos em um grau doloroso.

‘’Quero me desculpar com ela… Dizer que foi eu quem causou todo esse alvoroço. Que eu tinha ciúmes de todos os casais e criei um worm que fez tudo isso acontecer.’’

Claro, ela provavelmente não acreditaria nele se dissesse isso. Ela apenas pensaria que ele era louco. Mas seu julgamento há muito tinha ficado entorpecido com o frio e o desespero.

Kousaka se levantou do banco e caminhou em direção à garota. Todos seus músculos estavam rígidos, então caminhava desajeitadamente como uma marionete.

— Hum, com licença.

A garota ergueu os olhos quando ele a chamou.

Ela sorriu.

Simplesmente assim, Kousaka não conseguia falar uma palavra.

Ele ficou tão chocado que se esqueceu de respirar por um tempo. Parecia que toda a energia havia deixado seu corpo.

— Eu estava esperando para ver quando você notaria — disse a garota.

— …Isso é injusto… Você também parece diferente. Não tinha como eu saber.

— Mas não adianta mudar se eu não mudar tanto, certo?

Sanagi lentamente se levantou e varreu a neve de seu cabelo e casaco.

Talvez ela já estivesse ali há muito tempo. Kousaka simplesmente a ignorou, e ela estava à vista esse tempo todo. Não parecia que ele tinha algo errado com os olhos, no entanto, nove em dez pessoas provavelmente cometeriam o mesmo erro.

Quando Kousaka imaginou Hijiri Sanagi, ele a imaginou pela primeira vez em um cabelo tingido. Em seguida, seus fones de ouvido, sua saia curta e seus brincos azuis. A garota à sua frente não atendia a nenhum desses requisitos. Seu cabelo era preto, ela não estava usando fones de ouvido, sua saia estava em um comprimento médio. O brinco ainda estava lá, mas ninguém saberia disso sem chegar perto.

— Eu estava prestes a desistir e assumir que você não viria. Caramba, Sanagi, você é cruel — disse Kousaka, em espanto.

— Eu estava ao seu lado. É sua culpa não perceber, Sr. Kousaka.

— Você que acha — Kousaka franziu a testa — Você tinha reparado em mim desde o começo?

— Sim. Por causa daquele cachecol —  Sanagi olhou para o pescoço de Kousaka — Eu soube instantaneamente. Fico feliz em ver que você realmente está usando.

— Certo. Hoje estava especialmente frio, então… — disse com algum constrangimento — Deixando isso de lado, usar agora seu cabelo natural quer dizer que você pretende voltar para a escola?

— Bem, é isso.

— Tem outro motivo?

— Beeem… —  o olhar de Sanagi baixou diagonalmente e ela falou enquanto brincava com o cabelo úmido de neve — Eu imaginei que você gostaria desse tipo de coisa, então…

Sanagi riu como se fosse uma piada, mas Kousaka não riu.

O núcleo gelado de seu corpo aqueceu como se uma chama tivesse sido acesa.

De repente, Kousaka abraçou Sanagi.

— Hã? — Sanagi gritou, em surpresa — Está tudo bem? — Sanagi perguntou preocupada dentro dos braços dele.

— Para falar a verdade, não mesmo —  disse Kousaka, acariciando aquela cabeça carinhosamente — Mas, por algum motivo, não me importo de ser sujo por você.

— Você é rude — disse Sanagi com uma risada e colocando os braços em volta das costas de Kousaka.

 

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Nos sete dias até o ano novo, Kousaka e Sanagi tiveram os momentos mais pacíficos e gratificantes de suas vidas. Tudo que eles perderam em suas vidas anteriores, que eles não puderam obter, que eles desistiram, conquistaram um pouco de cada vez. Felicidade para a maioria das pessoas não era algo raro, mas, para esses dois, era como um sonho irreal. Apenas segurando as mãos, apenas sendo de ombro para ombro, apenas olhando nos olhos um do outro, foram os principais eventos em suas histórias pessoais.

Nesses sete dias, Kousaka nunca estendeu a mão para Sanagi. Não por qualquer dever para com Izumi, ou porque ele achou seu corpo impuro, ou porque lhe faltou coragem para cruzar essa linha. Ele simplesmente queria tratar Sanagi com ternura. Ele poderia se dar ao luxo de esperar até que ela tivesse uma idade adequada para pensar sobre essas coisas.

Talvez sentindo essa consideração, Sanagi também se absteve de toque excessivo ou mostrar a pele, aparentemente cautelosa para não estimulá-lo mais do que o necessário. Kousaka ficou muito grato por sua atitude cooperativa. Mesmo com a diferença de idade, autocontrole era algo que poderia desmoronar muito rapidamente se estimulado demais.

Sinceramente, nos últimos dias do ano, houve bastante pânico sobre o worm móvel que causou estragos da véspera de natal à noite de Natal. O primeiro worm móvel do mundo espalhado em uma escala tão grande, SilentNight fez uma pequena gravura na história dos malwares. Mas Kousaka, que não olhou para nenhuma forma de notícias naqueles sete dias após o Natal, não tinha como saber disso.

Nesse ponto, nada importava para ele. Kousaka sentiu como se não houvesse nada além de Sanagi digno de atenção.

Mais tarde, ele olharia para trás e se lembraria:

‘’Talvez eu soubesse em algum lugar do meu coração que esta era minha primeira e última oportunidade, para que eu pudesse gastar cada segundo com cuidado e sem arrependimentos.’’

Kousaka estava convencido de que esses dias felizes não durariam muito tempo, era como se ele tivesse visto o futuro com seus próprios olhos.

Talvez fosse apenas um sentimento percorrendo seu caminho por sua mente.

Ele optou por não perguntar a Sanagi sobre o significado de “acho que vou acabar matando você um dia.” Ele sentiu que se ela revelasse seu segredo, apenas iria encurtar o fatídico final de suas relações.

Mesmo que o adiamento da conclusão tenha sido a motivação de Sanagi para realmente querer matá-lo, ele não se importaria com isso.

‘’Se ela quiser me matar, vou deixá-la fazer o que quiser’’

Kousaka pensou consigo mesmo. Pois, se Sanagi fosse embora, sua vida não teria mais sentido.

Izumi apareceu na tarde do dia 1º de janeiro, depois que Kousaka e Sanagi fizeram uma visita a um templo para o ano novo. Não fizeram nada em especial, e, no final, simplesmente voltaram para casa e cochilaram no quarto com as cortinas fechadas. Assim, quando Kousaka estava a um momento de cair no sono, ele foi puxado de volta à realidade pelo som da campainha.

Ele gentilmente colocou Sanagi, dormindo profundamente em seu colo, na cama sem acordá-la, então respondeu ao seu convidado. Mesmo depois de ver Izumi na porta,  quase não se intimidou.

— Achei que já era hora de você vir — disse Kousaka, com seus olhos semicerrados por causa da luz.

— Hijiri Sanagi está aí? —  perguntou.

Por causa da luz de fundo, Kousaka não conseguiu ler sua expressão.

— Sim. Mas ela ainda está dormindo. Quer que eu a acorde?

— Sim. Desculpe, mas faça isso.

Kousaka voltou para dentro e gentilmente sacudiu Sanagi pelos ombros.

— Izumi está aqui — disse, e ela rapidamente abriu os olhos e se levantou.

Os dois fizeram o que Izumi mandou e sentaram no banco de trás de um carro estacionado fora do apartamento. Era um carro cinza que deixava pouca impressão e poderia ser facilmente perdido se estivesse parado em um grande estacionamento. O aquecedor estava ligado e os assentos tinham um leve cheiro aromático.

Por um tempo, depois que a viagem começou, os três não disseram uma palavra. Eles pegaram a rodovia, e enquanto estavam parados em um semáforo, Izumi finalmente falou:

— Kengo Kousaka. Vou ter que te contar um fato um pouco chocante.

— Izumi — Sanagi interrompeu — …Não.

Mas Izumi a ignorou e continuou.

— Há um novo tipo de parasita residindo em sua cabeça. Não tem um nome oficial ainda, então nós apenas o chamamos de “verme”1Usado de maneira irônica, a tradução original de ‘’verme’’ significa ‘’worm’’.. Pulando explicações entediantes, é esse “verme” o culpado por você não ser adequado para a sociedade.

Kousaka achou que devia ser algum tipo de piada.

Algum tipo de piada interna que só fazia sentido para Izumi e Sanagi.

Mas, olhando para a expressão de Sanagi, ficou muito claro que não era brincadeira.

Seus lábios tremeram, e com o rosto pálido, ela abaixou a cabeça, como se estivesse profundamente envergonhada por Kousaka ter ouvido isso.

— E esse “verme” está na cabeça de Hijiri Sanagi também — Izumi continuou. O verme em sua cabeça e o verme na cabeça de Sanagi estão atraindo um ao outro. Você pode pensar que Hijiri Sanagi é a sua parceira, mas esse sentimento foi criado pelo verme. O que você sente não é nada mais do que um ‘’amor fantoche’’.

A expressão de Izumi, vista através do espelho traseiro, parecia completamente séria.

Kousaka olhou para Sanagi, buscando palavras de negação.

Mas tudo o que saiu de sua boca foi:

— Sinto muito… por ter enganado você.

 


 

Tradução: Wiker

Revisão: Flash

QC: Axios

 

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