Dark?

Otomege: O Mundo dos Otome Games é Cruel Para Mobs – Vol. 02 – Prológo

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Amizade feminina é passageira, não é?

Ou assim pensei.

Se você está se perguntando quem sou eu, meu nome é Leon Fou Bartfort. Sou um cara que morreu e reencarnou em um mundo de jogo otome. Sendo mais específico, um jogo otome estúpido que joguei um pouco antes de chutar o balde.

Por que estúpido, você pergunta? Porque este mundo era incompreensivelmente injusto com os homens enquanto favorecia as mulheres. Na verdade, neste mundo os homens só existiam para servir às mulheres. Preferia que fosse um mundo de fantasia com magia e espadas, ainda mais se desse aos homens um tratamento justo.

Quando reencarnei, também não tive um papel especial no mundo. Sou apenas um em meio às massas — um mob, um personagem de fundo. Até minha aparência era mediana. Com cabelo e olhos pretos, não me destaquei em nada. Resumindo, era um estudante de ensino médio que desabrochava tarde, mas decente.

Ok, este mundo não tinha de fato uma escola, porém tinha uma academia onde poderia ganhar uma educação apropriada para um mundo de fantasia. Talvez fosse compreensivelmente baseado em uma escola secundária japonesa, então meu segundo semestre aqui consistiu em uma série de eventos escolares que me lembrava do meu mundo anterior — por exemplo, o festival escolar.

— Hey pessoal, movam essa mesa um pouco mais para a direita.

Três de nós trabalhamos nesta sala vazia: meus dois melhores amigos, Daniel Fou Durland e Raymond Fou Arkin, e eu. Carregamos mesas e cadeiras em preparação para o festival. Os profissionais já tinham feito a verdadeira remodelação, e agora tinha todos os elementos necessários para o transformarmos em um café.

O café que estávamos montando estava em um nível bem diferente do que seria em festivais de escolas japonesas, em especial porque a nobreza comparecia a este lugar. Não me importava com a ideia de usar mesas baratas, contudo a academia teria desaprovado tal coisa. Assim, é natural que nossos móveis tivessem de combinar com nossa clientela.

Sem outra escolha, usei meu próprio dinheiro para montar nosso café e gastei meu tempo projetando meticulosamente nosso interior, bem como os conjuntos de chá, folhas e canapés que forneceríamos.

— Hey, Daniel! Cuidado com o jogo de chá. É caro!

— Se é tão caro, não deveria usá-lo para o festival da escola! — disse Daniel preocupado comigo.

— Você me deixou nervoso, agora minhas mãos estão tremendo.

Raymond ajustou seus óculos enquanto examinava a sala de aula.

— Não acha que esbanjou um pouco demais com isso? Creio que a maioria dos alunos não esteja sendo tão extravagante. Vai acabar ficando no vermelho.

Eu meramente balancei minha cabeça para eles como se dissesse: Vocês dois não entendem mesmo, não é?

Os dois franziram a testa, irritados com a minha atitude.

— No vermelho? E daí? Sou rico. Alguns idiotas de uma academia encheram meus bolsos com sua estupidez. Por que não investir um pouco de volta na escola?

— Vejo que sua personalidade está tão terrível como sempre. Sem surpresa, é justo por esse motivo que a maior parte do corpo discente te odeia agora — disse Raymond, exasperado.

— Sim, é melhor não esquecer que muitas pessoas se ressentem do que fez. Todos que pensaram que você iria perder para o Príncipe Julius e os outros naquele duelo levaram um grande golpe quando perderam — Daniel complementou.

Infelizmente, eles estavam certos. Sou a pessoa mais odiada da escola. A razão? Chutei a bunda do merda do Príncipe Julius — um dos interesses amorosos do jogo — em um duelo.

Tanto faz. Bati nele porque acabou me irritando.

Os alunos decidiram apostar no jogo por conta própria. Tinha certeza de que venceria, então apostei uma fortuna em mim mesmo. Meus dois amigos aqui também apostaram em mim, então ganharam algumas moedas também. No entanto, uma boa parte dos idiotas apostou na vitória do Príncipe Julius e até se endividaram por isso. Alguns daqueles idiotas haviam até mesmo jogado toda a sua fortuna em nosso duelo, mas a haviam perdido, e agora, todos tinham rancor de mim.

Que deprimente. Nem fiz nada de errado!

 

Em condições normais, minhas ações poderiam ter resultado na minha execução. Entretanto, graças a uma ampla doação e boas conexões, consegui me esquivar dessa bala. Na verdade, em uma reviravolta confusa, até fui elogiado e premiado com um status mais elevado por minhas ações.

O mundo com certeza é estranho.

Deixei de ser um estudante comum e passei a ser um barão cavaleiro com uma posição superior na sexta corte. No entanto, considerando que eu não queria sucesso nem prestígio neste mundo horrível, foi uma reviravolta trágica para o velho Leon.

— Não me elogie assim — bufei.

Os ombros de Daniel caíram.

— Não estava te elogiando.

De repente, duas garotas entraram na sala. Uma delas, Livia (abreviação de Olivia), usava uma roupa de empregada chique – algo que você normalmente não veria. Suas mãos agarraram o tecido de sua longa saia, levantando-a enquanto lutava para andar. Seu cabelo loiro se curvava em um estilo bob ao redor de seu rosto e a gentileza em seus olhos azuis só era superada pelo ar gentil e convidativo que emanava. Sua roupa se apertou em torno de sua cintura e estômago, enfatizando seus seios voluptuosos (o que apreciei muito).

— Não parece estranho, não é?

Livia olhou um pouco nervosa para mim em busca de aprovação, alimentando meu desejo de tranquilizá-la e protegê-la. Ela não parecia consciente de sua capacidade de enfeitiçar as pessoas, mas mesmo se estivesse fazendo isso de propósito, não me importaria.

É este o poder da protagonista de um jogo otome? Tão insuportavelmente fofa.

— Fica bem em você e o tamanho também é perfeito.

Daniel e Raymond coraram quando olharam para Livia.

Bem quando estava prestes a dizer a eles para piscarem, Angie saiu de trás de Livia, com as mãos apoiadas nos quadris.

— Tem certeza de que essas roupas estão boas? Elas enfatizam o peito um pouco demais. Acho que algo mais modesto pode funcionar melhor.

Angie (abreviação de Angelica Rapha Redgrave) também usava uma roupa de empregada doméstica. No entanto, pode parecer estranho para a filha de um duque usar tal coisa, ao que parecia, a vida como uma dama nobre era mais difícil do que imaginava.

— Você não parece nada desconfortável — Livia comentou confusa.

Angie sorriu.

— Usei uma roupa de empregada antes, embora fosse um pouco diferente desta.

— Você usou?

— Passei dois anos no palácio como uma dama de companhia.

Parece difícil.

Angie tinha características nítidas e definidas que complementavam sua personalidade obstinada. A força interior queimava em seus olhos carmesins, contudo seu rosto suavizava sempre que ela olhava para Livia.

As duas eram polos opostos. Na verdade, naquele jogo otome estúpido, elas eram rivais. Não, talvez rivais não seria a melhor descrição. Se Livia era a protagonista, Angie era a vilã. Em circunstâncias normais, ambas lutariam pelo mesmo interesse amoroso, e não como competidoras, mas como adversárias diretas.

Apesar de ser uma plebeia, Livia teve permissão para se inscrever na academia dos nobres por meio de uma bolsa de estudos. Em comparação, Angie de alta classe era filha de um duque. Agora, graças à intervenção de uma certa pessoa no enredo do jogo, as duas garotas eram melhores amigas.

E não, esse alguém não era eu, embora a fonte desse desvio também tivesse reencarnado neste mundo.

— Mas Angie, você é uma dama nobre, não é? Por que faria uma coisa dessas?

— Mulheres nobres têm suas obrigações, e isso vale em dobro para alguém com meu status. No entanto, chega de falar desse assunto. Livia também fica ótima com essa roupa. Muito inocente. Eu aprovo.

Angie jogou os braços em volta de Livia.

— Acho que posso até gostar — murmurou Livia com suas bochechas coradas.

Enquanto as observava, me peguei murmurando: — Que visão incrível.

Essas duas lindas garotas eram um fôlego de ar fresco para um coração endurecido pelo inferno interminável da busca por uma parceira de casamento.

A luz brilhou nos óculos de Raymond.

— Muito bom.

Daniel acenou com a cabeça também.

— Verdade. Essas garotas são mesmo dessa academia? Tem certeza de que não estamos sonhando?

Seu ceticismo não me surpreendeu; não poderia. A maioria das garotas dessa escola – principalmente as da alta classe – eram deploráveis. Por sorte, as únicas garotas ajudando em nosso café no festival eram Livia e Angie.

Embora a academia fosse semelhante a um colégio japonês, não tínhamos dever de casa e as aulas pareciam mais com as de uma universidade. Como resultado, os alunos não participavam do festival em grupos determinados por sorteios ou professores, mas sim por escolha individual. Assim como nós cinco havíamos nos reunido para abrir um café, outros grupos também estavam fazendo suas próprias coisas.

Angie voltou seu olhar para nós.

— Não havia roupas para garotos?

— Poderíamos ter comprado algumas, porém ninguém vai ficar animado em ver caras de uniforme. Estamos bem com roupas baratas — respondi enquanto dava de ombros.

Livia tinha um olhar culpado.

— Isso significa que nossas roupas custaram todo o orçamento? V-Você realmente não precisava fazer tanto só para comprar uniformes caros para nós.

Daniel riu.

— Não, só não estamos interessados ​​em usá-los. Além disso, Leon esbanjou em todo o resto também.

— Dá pra dizer que este é o hobby dele. Leon gastou muito e vai fazer qualquer pessoa que trabalha em um café parecer de terceira categoria — concordou Raymond.

Angie suspirou exasperada.

— Afinal, Leon adora chá. Ele não é o único garoto que gosta de chá, porém nunca vi um tão obcecado por isso.

Não sou fanático por chá! Apenas me encantei pela elegância e experiência do Mestre.

O Mestre era um dos professores da academia, um perfeito cavalheiro que supervisionava as aulas de etiqueta para homens. Esperava um dia viver de acordo com seu exemplo elegante e refinado.

— Ainda tenho um longo caminho para percorrer… — disse melancolicamente.

— Não estou falando sobre suas habilidades. Estou falando sobre a quantidade absurda de tempo e dinheiro que coloca nisso.

Angie me olhou friamente.

— Você nos abandonou ou não para ir com o professor comprar folhas de chá outro dia?

Daniel e Raymond balançaram a cabeça em descrença.

— Você dispensou as garotas por chá? Pelo amor, cara.

— Fiquei com tanto ciúme que quase quero te bater na calada da noite para tomar o seu lugar.

Não, vejam bem, estava comprando folhas de chá naquele dia especificamente para Livia e Angie.

Além disso, por mais triste que seja para eu dizer, não tenho chance com nenhuma dessas garotas.

Livia parecia um pouco abatida.

— Nós tomamos chá naquele dia. O gosto era incrível, contudo o verdadeiro problema eram os canapés1Canapé é um tipo de hors d’œuvre, um alimento pequeno, preparado e frequentemente decorativo, consistindo em um pequeno pedaço de pão, massa folhada ou um biscoito coberto com um pouco de comida salgada, mantido nos dedos e comido em uma mordida.. Ultimamente, tenho comido mais que… Hum…

Angie puxou a outra garota para perto.

— Acho que você está adorável com essas curvas, Livia. Sendo franca, acho que seria bom ganhar um pouco mais de peso.

Lágrimas brotaram dos olhos de Livia.

— Quero ser magra e pequena como você, Angie.

— Fico lisonjeada em ouvir isso, contudo acho que parece absolutamente deslumbrante do jeito que está. Suas pernas são lindas.

— S-Sério?

Enquanto ambas se bajulavam e se mimavam, Daniel e Raymond me lançaram olhares de inveja.

Não, sério pessoal, não há nada entre nós.

De toda a população da escola, essas duas garotas estavam fora dos limites. Não posso fazer nada a respeito. Nossos papéis – social, narrativo, e o que mais quiser – eram muito distantes um do outro.

Os alunos se esforçaram para fazer os preparativos do festival. As garotas davam ordens enquanto os garotos lutavam para fazer todo o trabalho pesado. Ver tal cena me deu vontade de chorar. Sublinhava a regra fundamental deste mundo: a superioridade social e o favoritismo de que as mulheres desfrutavam ao andar nas costas de homens trabalhadores.

Mesmo assim, gostei da atmosfera. Havia algo de novo, até divertido, em ver todos se reunindo para o evento. Só uma coisa poderia arruinar as festividades… E, para minha infelicidade, aquela coisa tinha que aparecer justamente no meu café.

Essa precursora da miséria, também conhecida como minha irmã mais velha, Jenna, é obcecada pela capital e suas últimas tendências. Agora, ela sentou em uma cadeira e debruçou sobre a mesa na sua frente. Seu amante, um escravo demi-humano alto com orelhas de gato e vestido com um terno caro, pairava logo atrás.

A maioria das garotas de alta classe tinha um amante que as atendia com pés e mãos, e ninguém piscava para as garotas valsando com seus servos/escravos a reboque. Uma visão trágica de se ver, preciso dizer.

Quando Jenna entrou e se sentou, Lívia e eu tínhamos nossas mãos ocupadas limpando o café. Mal conseguia esconder meu desgosto.

  — O que você quer? Apresse-se e vá embora, seu incômodo.

  — Leon, você não pode falar assim com sua irmã! — Lívia me repreendeu.

Jenna parecia triunfante com uma aliada para apoiá-la.

— Isso mesmo! Deveria estar me atendendo. Não tem pelo menos um pouco de chá por aqui?

Que atitude horrível.

 

Infelizmente, sendo este um mundo matriarcal e tudo mais, Jenna tinha mais autoridade do que eu. E isso mal arranhava a superfície de como poderia ser realmente terrível.

— Então se apresse e me diga o que quer. Tenho coisas para fazer — retruquei.

Jenna ficou amuada, mas cedeu e explicou: — Sabe… Minha melhor amiga e eu brigamos.

Fiquei chocado até por ela ter uma melhor amiga. Claro, se tivesse dito em voz alta, começaríamos a criticar um ao outro e a conversa não iria a lugar nenhum, então segurei minha língua.

— Uma briga? Então é fácil. Vocês duas apenas precisam se reconciliar — disse Livia com um sorriso.

— Até parece. Estamos brigando por um homem — bufou Jenna.

— Um… Um homem? Uh, hm…

Livia olhou para mim em busca de ajuda, não tendo nenhuma experiência com relacionamentos românticos por si mesma.

— Estão competindo por um cara?

— Não posso evitar. Ele é filho de um visconde e de repente ganhou uma fortuna.

— O que quer dizer com “de repente”?

Jenna explicou que o homem em questão era herdeiro de um visconde. Sua família era tão pobre que nenhuma das garotas jamais o considerou. No entanto, a família tinha acabado de descobrir uma nova mina em seu território, localizada no continente do Reino Holfort. Agora receberam apoio financeiro do reino para ajudar no desenvolvimento da mina. Em outras palavras, a família do cara tinha acertado o jackpot metafórico. De repente, todas as meninas que o desprezavam viram uma nova presa para cravar os dentes.

— Ele sem dúvida ficará rico quando herdar o título de seu pai. Nenhuma garota poderia deixar de perseguir um alvo como este.

— Mas e quanto ao amor? Você tem sentimentos por ele ou…? — Livia perguntou.

— Os nobres não precisam de amor para se casar. Tudo o que importa é se seu parceiro pode ou não ganhar a vida. Se uma garota quer amor ou romance, pode encontrar um amante, como Miauler aqui. No entanto, para aproveitar o tempo com o amante, vai precisar de um marido rico. Entendeu agora?

Não, e não quero “entender”. Queria mesmo era bater na cabeça dela. Sim, sim, é errado bater em garotas, porém Jenna não era uma garota, era minha irmã. Com certeza nenhum júri no mundo…

— Você está tão podre como sempre — murmurei.

Mais importante, nunca a tinha ouvido dizer o nome de seu servo com orelhas de gato. Não que sequer me importasse em saber para começar, então, sendo honesto, tanto faz.

— De qualquer forma, está dizendo que sua amiga tentou roubar esse cara no qual você estava mirando, certo? Sua atitude está absolutamente certa. Só uma canalha iria atrás da pessoa que sua amiga gosta.

Traição, infidelidade, roubar o amor de outra pessoa, como queira chamar isso, não dá para perdoar.

— Não, não é isso.

— Hã?

— Ela foi atrás dele primeiro. Só comecei depois de perceber que ele estava sentado naquela fortuna.

Mas que diabos? Então é você quem está tentando roubar o homem da sua amiga?

Minha irmã era realmente suja.

— Ok, então você é a amiga lixo. Problema resolvido. Pode se retirar agora.

— Por que não me ajuda? Poderia consertar tudo, só o que precisa fazer é intervir e convencê-la por mim. A única coisa que você tem a seu favor é a sua força. Torne-se útil e ajude sua preciosa irmã! — Protestou Jenna.

— Preciosa? Vá procurar essa palavra em um dicionário e depois volte aqui.

O que Jenna estava pensando? Esperava mesmo que eu fosse resolver seus problemas? Além disso, como faria para que sua amiga parasse de perseguir o cara?

— Vamos lá, você é poderoso, não é? Tudo que precisa fazer é falar com os dois e dizer a eles que você quer este noivado para mim. Simples, não é?

Ela quer mesmo usar meu poder para ameaçar esses dois à submissão? Que canalha!

— Leon não pode fazer isso — Livia disse com firmeza.

— Por que não? — Jenna olhou para Lívia. Miauler cruzou os braços sobre o peito e fechou a cara. Surpresa, Lívia recuou alguns passos.

— Uh, hm…

Entrei na frente dela.

— Quer minha resposta? Um absoluto não. Recuso-me a ajudá-la. E não se atreva a intimidar Livia. Gosto mais dela do que de você, e se alguma coisa acontecer com Livia, Angie também não ficará quieta a respeito.

Jenna recuou.

— Tudo bem, meu erro. Ofender a filha de um duque não é nenhuma piada. Porém você ainda é um perdedor inútil. Venha, Miauler, vamos sair daqui.

— Sim, minha senhora.

Tudo sobre essa situação não é motivo para risos! Exceto a parte onde é ridículo.

Jenna saiu correndo porta afora e foi embora. Lívia caiu de alívio.

— Isso foi um pouco assustador.

Aquele Miauler idiota com orelhas de gato era esguio, mas musculoso, e aquele seu brilho intimidante sem dúvida podia aterrorizar. Não culpo Lívia por ficar assustada.

— Não se preocupe, se tentarem qualquer coisa, me avise. Vou socá-la no chão.

— Não tenho certeza se quero que vá tão longe, mas agradeço sua preocupação comigo — Lívia sorriu para mim e desviei meus olhos.

De repente, passos em pânico ecoaram quando Daniel e Raymond entraram na sala.

— Grande problema, Leon!

— Você tem que ver a sala de aula ao lado!

Nós quatro nos aventuramos fora da sala de aula para encontrar ninguém menos que o Príncipe Julius parado no corredor, distribuindo panfletos para um bando de garotas. Elas tinham vindo para espiar os preparativos do nosso vizinho.

— Se tiver algum tempo livre durante o festival, gostaríamos de receber seu patrocínio — Julius sorriu e as bochechas das meninas coraram.

— Ah, claro!

— Nós viremos! No terceiro dia, com certeza estarei aqui!

 — Eu também! Prometo que vou gastar muito dinheiro!

Todas elas sofreram lavagem cerebral ou o quê?

O príncipe Julius manteve aquele sorriso contagiante estampado no rosto enquanto anunciava para seu grupo.

— Estamos ansiosos para vê-las aqui na Cafeteria da Princesa!

Cafeteria agora?

— De jeito nenhum.

Os ombros de Daniel caíram.

— Eles também estão fazendo uma cafeteria? Bem ao nosso lado?

Raymond olhou ao redor.

— O comitê do festival está prejudicando o Leon? Tenho certeza de que alguns de seus membros perderam dinheiro em seu duelo, mas isso é muito injusto.

Quando o príncipe Julius nos viu, se aproximou com um sorriso significativo.

O quê, esse idiota também me odeia? Que coincidência. O sentimento é mútuo.

O Príncipe Julius era um jovem bastante bonito, tanto que quase reluzia e literalmente brilhava, onde seu cabelo azul marinho macio banhava-se sob a luz. A personificação do arquétipo de um príncipe, o interesse amoroso perfeito, o Príncipe Julius já fora o ex-príncipe herdeiro e noivo de Angie.

No entanto, também era um idiota que jogou Angie de lado por outra mulher. Na verdade, o jogo não o havia escrito nem para Angie, nem para a parceira que ele escolhera. A essa altura, deveria estar na rota certa para cortejar a protagonista do jogo, Lívia. Entretanto, graças à intromissão daquela garota podre, Marie, tudo acabou ficando estranho.

— Bartfort, ouvi dizer que está fazendo uma cafeteria, estamos planejando fazer o mesmo. Você é bem-vindo para nos visitar. Teremos o maior prazer em atendê-lo.

Seria bem-vindo limpar aquele olhar presunçoso de seu rosto?

Lívia aceitou um dos panfletos e seu queixo caiu.

— O quê? Uma combinação de chá e lanche custa cem dhias?

Um pouco tonta de repente, quase desmaiou, mas me movi para apoiá-la bem a tempo. Peguei o folheto de suas mãos e examinei a página.

Por falar em preços exorbitantes. Não, talvez abusivos seja uma descrição melhor. Quem pediria dez mil dhias por um chá barato e um lanche? Para piorar a situação, uma dúzia de complementos inflacionou ainda mais o custo de cada visita. No intervalo de cerca de vinte minutos, uma única pessoa poderia acumular uma conta de vinte a trinta mil dhias. Já vi clubes de anfitriões menos sombrios do que este.

Daniel e Raymond ficaram tão pasmos quanto.

Da minha perspectiva, pensei que estaríamos bem com dez ou vinte dhias por cada cliente, contudo, parece que tinha esquecido: esta escola transbordava de nobres mimados. Uma grande parte deles nadava em riqueza hereditária, sendo natural esta distorção nos preços.

O Príncipe Julius olhou confuso para Lívia, inclinando a cabeça.

— É muito barato? Marie considerou esses preços adequados. No entanto, em minha opinião, gostaria de ganhar um pouco mais, se pudéssemos.

Essa definição casualmente selvagem de “barato” deixou Lívia espantada.

— Esses nobres são mesmo incríveis, Leon. Nunca teria coragem de entrar em uma cafeteria cara como esta.

— Você está absolutamente correta; nunca deve ir a uma cafeteria como a deles. Ignore-os, ignore todos eles.

Assegurei-lhe acenando com a cabeça.

Lívia cresceu em um ambiente muito diferente daquele de qualquer um de nós. Não era fácil preencher essa lacuna. Não posso culpá-la por achar isso intransponível.

O Príncipe Julius fechou a cara.

— Você com certeza está agindo de forma descontraída sobre tudo isso, todavia Bartfort, não vou perder desta vez.

Tendo dito essas palavras, ele se virou em direção à saída.

Segui-o, com a intenção de coletar informações sobre nossos oponentes. Além disso, do que estava falando quando disse que não iria “perder” para mim no festival? Engraçado. Talvez ele tivesse algum potencial cômico, afinal.

Quando entramos na sala de aula, em seguida, o príncipe saltou em choque.

— E-Ei! Por que está me seguindo?

— Bem, sabe, reconhecimento. Esse tipo de coisa.

— Que vergonha!

— Estou apenas sendo honesto. Quero saber o que estão fazendo, então estou dando uma olhada. Agora me deixe dar uma bisbilhotada, hmm?

Empurrei-o de lado, apenas para encontrar uma visão inacreditável. A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi: Isto é o inferno? Seguido por: Isto não é uma cafeteria.

Originalmente esta era uma sala de aula não utilizada, assim como a nossa, mas o Príncipe Julius e seu grupo a enfeitaram. Mesas de centro rodeadas por sofás luxuosos alinhavam-se na sala mal iluminada. Na parte de trás, Chris Fia Arclight e Brad Fou Field usavam ternos pretos, com os botões superiores abertos combinando, revelando camisas coloridas por baixo.

Não pude deixar de gritar.

— Este é um maldito clube de anfitriões!

Chris, um jovem solene com cabelos azuis e óculos, virou-se para nós, me encarando com um olhar penetrante.

— Bartfort.

Brad passou a mão pelos longos cabelos roxos.

— Tentando espionar o time inimigo? Vejo que segue tão dissimulado como sempre.

Quem está chamando de dissimulado? Que tipo de trapaceiro chama essa configuração de cafeteria?

— O sujo falando do mal lavado, isso não é justo — rebati.

Chris parecia satisfeito com minha frustração.

— Justo, hã? Nunca pensei que ouviria essas palavras saindo da sua boca. Acho que tivemos a ideia certa ao concordar com a proposta de Marie. Ver este olhar irritado em seu rosto me traz um grande prazer.

Então é aquela garota de novo? Ela realmente é uma dor de cabeça!

O Príncipe Julius deu um passo à frente, parecendo duplamente presunçoso.

— Como disse, vamos vencer o festival. Não fuja só porque se sente um pouco intimidado, Bartfort.

Que tipo de idiota você é? Não estamos mais fazendo a mesma coisa, nem dá pra chamar isso de competição!

Lívia balançou a cabeça para frente e para trás.

— Hum, isso é uma cafeteria mesmo? Parece mais um bar para mim, dada a atmosfera.

Brad se aproximou e abaixou o rosto perto de Lívia.

— Também tem alguma reclamação, bolsista? É melhor não falar mal da proposta de Marie. Nosso cardápio é todo composto de chá e aperitivos, nenhum sinal de álcool à vista… embora estejamos entretendo os clientes, é claro. Você apenas não entende o brilhantismo do plano de Marie.

— Hum, tudo bem… Porém ainda sinto que não está certo.

Me coloquei entre os dois, fazendo um movimento de enxotar.

— Não a toque. Vai infectá-la com seus piolhos. Suma!

A sobrancelha de Brad enrugou.

— Realmente odeio olhar para você.

Há dois meses vocês eram herdeiros de estimadas famílias nobres. Não se sentem nem um pouco envergonhados? Quero dizer, fazer um clube anfitrião em um festival escolar? Sério? Checaram se estão com os parafusos no lugar?

Enquanto isso, vindo atrás de nós, Daniel olhou ao redor da sala com interesse genuíno. Quando olhou para o menu, sua expressão caiu.

— Cem dhias por dez minutos de serviço?

Raymond compartilhou seu choque.

— Esta é uma cafeteria absurdamente cara…

Só então localizei a mulher responsável por tal insanidade atrás de uma cortina do outro lado da sala. Ela usava um vestido que combinava com os ternos dos garotos. Kyle, seu servo, estava ao seu lado.

Está planejando trabalhar como anfitriã também?

Marie Fou Lafan, filha mais nova do visconde Lafan, conseguiu seduzir vários dos herdeiros das casas mais importantes do reino, incluindo o príncipe Julius. Assim como eu, essa mulher perversa também reencarnou no mundo do jogo, ou seja, não fazia parte do elenco original. Com uma estrutura esguia e delicada, cabelo loiro que se estendia em um fluxo de ondas e cachos por todo o caminho até as costas e olhos azuis, ela era, à primeira vista, delicada e diabolicamente bonita… Eu acho? Se você for fã dos tipos tábua.

Ugh. A mera visão dela me irritou. Acho que me faz lembrar minha irmãzinha na vida passada…

— Claro que é caro — disse Marie exasperada quando veio em nossa direção.

— Caso não tenha notado, nossos membros são todos herdeiros de casas altamente distintas. Bem, ex-herdeiros, mas não faz sentido que se pague uma taxa adequada para monopolizar a atenção deles?

 Estalei minha língua depois de dar uma boa olhada no vestido que Marie estava trajando.

— O que é isso, essa imitação da realeza, Cafeteria da Princesa? Você é apenas a filha mais nova de um visconde, certo? Não é…

As bochechas de Marie inflamaram.

— Sou uma princesa no coração!

Brad saltou.

— Você sempre será nossa princesa, Marie!

— Obrigado, Brad — disse Marie e então se virou para mim: — Sabe, para um personagem de fundo inútil, sua atitude é bem rude.

— Sou tão puro que não consigo mentir.

Por exemplo: queria chutar as pernas dela.

Marie jogou seu longo cabelo por cima do ombro.

— Estou ansiosa pelo festival. Duvido que possa encontrar muitos clientes, então podemos ter pena e visitá-los durante nossos intervalos. Não se preocupe, garanto que vamos pagar. No entanto, esperamos um pouco de chá decente em troca.

Ha! Como se eu sonhasse em servir um chá abaixo da média. Não seria capaz de enfrentar meu mestre se o fizesse.

Tirando isso, não esperava que um adversário tão poderoso fizesse seu ninho bem ao nosso lado.

 


 

Tradução: Demiurgo

Revisão: Nero

 

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