Otomege: O Mundo dos Otome Games é Cruel Para Mobs – Vol. 01 – Cap. Bônus 01

Era meia-noite.

Leon estava dormindo profundamente enquanto Luxion pairava em seu quarto compartilhado. A lente do olho vermelho de Luxion apontou para seu mestre.

— Leon Fou Bartfort. Homem, dezesseis anos. Afirma que foi reencarnado em um mundo de um jogo otome.

Se Leon fosse menos fascinante, Luxion teria se recusado a permitir que o homem o usasse. Na verdade, teria se autodestruído no local.

— É intrigante que também se chame de japonês. Ele viu através de todas as falsificações que apresentei.

Luxion ponderou.

Leon estava convencido de sua herança japonesa. Luxion estava cético no início, então testou seu mestre várias vezes para verificar a validade de suas afirmações. Por exemplo, quando Luxion o entregou uma ‘katana’, Leon ficou totalmente perplexo. O que isso deveria ser? Algum tipo de katana de fantasia? ele perguntou. Prova clara de que ou Leon era japonês, como afirmava, ou conhecia o povo japonês e sua cultura.

Isso tornava Leon aceitável. Assim que Luxion descobrisse que Leon estava mentindo, se voltaria contra seu mestre. Garantindo-se, as chances de Leon estar enganando-o com sucesso mesmo neste momento eram baixas, porém Luxion tinha que ter certeza.

— Então, este mundo é realmente um jogo otome?

Luxion murmurou.

Leon disse isso, de qualquer maneira.

Era verdade que o Reino de Holfort se conformava com uma espécie de matriarcado; eles mostraram o favoritismo das mulheres em relação aos homens. Uma quantidade ilógica, na verdade.

— As mulheres são a classe social dominante. As tendências matriarcais também são especialmente visíveis em certo nível da hierarquia. O que é curioso, já que não é como se a sociedade tivesse uma abundância particular de homens para descartar.

Dado que os novos humanos tinham magia, era impossível classificar o avanço tecnológico de sua civilização em comparação com os antigos humanos. No entanto, em um nível social, não seria estranho que os homens fossem favorecidos sobre as mulheres, dada sua raridade.

Além da guerra, este mundo sofria de monstros. A taxa de mortalidade para os homens era excessivamente alta, diminuindo sua taxa de população. Não era tão perceptível na academia, contudo a proporção de homens para mulheres mudou de forma drástica a favor das mulheres alguns anos após a formatura, devido à gravidade das ameaças a eles.

Entre os humanos antigos, os homens no geral detinham o poder de escolher suas parceiras, e não o contrário. Dadas as circunstâncias entre os novos humanos, faria sentido para Luxion se os homens continuassem a ter esse poder. Além do mais, os homens continuaram sendo o ganha-pão e detinham títulos e status neste mundo, e, além disso, esperava-se que os defendessem no campo de batalha.

— O presente contexto atribui propriedade e responsabilidade aos homens, então por que as mulheres são vistas como detentoras de autoridade?

Foi difícil para Luxion compreender. Ele ficou ainda mais intrigado com a situação de Leon.

Leon quase foi vendido para uma mulher de cinquenta anos. Além disso, esperava-se que os homens aceitassem condições desfavoráveis ​​para se casar e adquirir herdeiros, contudo depois precisavam lidar com o fato de que sua esposa tinha outros amantes com quem poderia ter filhos. Este mundo não tinha tecnologia para verificar o DNA, então como um homem cuja esposa gostava da companhia de outros homens poderia confirmar que uma criança de fato carregava seu sangue?

Luxion simplesmente não conseguia acreditar que isso havia se tornado uma norma de maneira natural; as regras não podiam se manter consistentes sob uma inspeção mais detalhada.

— Alguém propositalmente forçou a sociedade a favorecer as mulheres sem alterar os princípios básicos? Ou este é de fato um mundo de jogo otome estruturado de forma tão frívola? Não, é impossível.

Leon afunda em seu sono. Ele parecia estar descansando em paz. Convencido de que este era apenas um mundo de jogo otome, Leon não se preocupou em questionar por que a sociedade funcionava daquela maneira.

— Este é sem dúvida um mundo divertido. Acho que vou continuar a assistir ao lado de meu mestre.

Luxion tinha pouco interesse genuíno no mundo agora que os velhos humanos haviam morrido. A única coisa que chamou sua atenção foi Leon.

— Ah, mas meu mestre com certeza é um tolo.

Afinal, a maneira como Leon via as situações era muito ingênua.

— A maioria das pessoas não se aventuraria na minha ilha sozinho só porque estava prestes a ser vendido. Se teve a coragem de fazer algo assim com sucesso, por que não fez um movimento antes?

Leon não era incompetente. Na verdade, ele tinha a reputação de estar ‘ligeiramente acima da média’, a ponto de quase parecer que estava intencionalmente mirando nas pontuações medianas que alcançou. Luxion tinha certeza de que, se se esforçasse um pouco, Leon poderia estar no topo do seu grau.

Por infelicidade, Leon não tinha a qualidade essencial necessária para isso: motivação.

— A única coisa pela qual tinha alguma motivação para buscar é o chá.

Luxion olhou exasperado para o jogo de chá caro e as folhas de chá de alta qualidade espalhadas pela sala. Se você é mesmo japonês, deveria estar mais interessado na cerimônia do chá do que neste tipo de chá!

Em suma, Leon era competente, mas preguiçoso. No entanto…

— Ele não é mau. Embora seja um pouco… Difícil chamá-lo de ‘bom’.

Leon não era uma pessoa ruim. O fato de que insistiu que não se envolveria com Olivia ou Angelica, mas ainda interveio quando elas foram intimidadas era prova disso.

— Tenho certeza de que poderia tê-lo feito de uma maneira melhor.

Afinal, Leon tinha Luxion. Havia muito mais que poderia ter feito. Se tivesse se concentrado em reunir informações desde o início, teria antecipado a situação de Marie antes. Então não teria havido necessidade de intervir e sujar as próprias mãos. Leon se envolveu porque seu adversário, inadvertidamente, colocou-se no caminho para alcançar seus próprios objetivos em detrimento dos dele.

Leon deu desculpas — tantas desculpas, porém era apenas uma pessoa bem-humorada. Ele queria ajudar Olivia e Angelica. Marie, entretanto…

— Segundo o mestre, ela também reencarnou neste mundo. Eu me pergunto o que Marie vai fazer daqui em diante?

Luxion desviou o olhar para a janela, observando a lua pendurada no céu. Uma coisa era seu mestre perceber a verdadeira natureza de Marie, mas isso não a impediu de roubar o local que Leon via como legitimamente de Olivia.

Se o que Leon disse fosse verdade e a história continuasse do jeito que estava, o Reino Holfort logo seria pego em uma guerra. Como as coisas aconteceriam quando isso acontecesse? Olivia não tinha interesses amorosos para apoiá-la. Pior ainda, Marie havia tomado todos os cinco homens como reféns e, sendo os idiotas que eram, haviam jogado fora suas heranças por ela. Ao mesmo tempo, Leon tinha Angelica e Olivia ao seu lado. As coisas estavam indo muito diferente do que Leon disse que aconteceria.

Quando Luxion observou seu mestre adormecido, ele se convenceu de que Leon não estava pensando muito nas repercussões desses eventos. Ele passou tão pouco tempo contemplando o futuro.

— Bem, suponho que não importa. Se algo imprevisto ocorrer, ele e qualquer outra pessoa com a qual está envolvida podem entrar a bordo de mim para escapar. Essa foi a razão pela qual me procurou para começar. Vou protegê-lo, não importa o que aconteça.

Luxion voltou seu olhar para a lua.

— Embora… Me pergunto se meus camaradas realizaram sua missão com segurança.