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O Tempo com Você – Cap. 07 – Descoberta

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Sou um jovem de dezesseis anos do ensino médio. Qual seria um bom presente de aniversário para uma mulher que está completando dezoito anos?

Apertei o botão de POSTAR, e, depois de uma pausa curta, algumas respostas imediatas apareceram. Sempre é possível contar com o Yahoo! Respostas.

    • Resposta 1: Simplesmente jogue-a na cama
    • Resposta 2: Dinheiro. Dez mil dólares, no mínimo.
    • Resposta 3: Um apartamento
    • Resposta 4: Se você precisa perguntar na Internet, já fracassou nisso.

Hmm…

Nenhuma Melhor Resposta aqui. Se eu precisasse escolher uma, seria a número quatro. Na realidade, eu estava começando a perceber que não havia respostas para a vida na Internet. Enquanto eu me preocupava com o que fazer, ouvi várias garotas rindo, então tirei os olhos do celular.

Nagi tinha feito um gol.

Nós estávamos na quadra de futsal sob um trilho de trem elevado, e Nagi estava em uma partida de treino.

— Belo chute, Nagi!

— Nagi sempre faz o gol!

Os colegas dele correram até ele, e ele fez um bate aqui enquanto passava por eles. Que cara otimista e popular. Nos últimos tempos, eu não tinha nada além de respeito por esse dínamo de dez anos que não mostrava favoritismo. Eu vim aqui porque queria um conselho dele.

— Um anel, é claro. — disse Nagi, com convicção.

— Espere, é sério? Um anel, do nada?! Huh? Não seria pressão demais? — Chocado, perguntei novamente.

A partida tinha terminado, e nós estávamos sentados nos assentos dos espectadores da quadra.

— É um presente de aniversário para a Mana, né?

— Sim. Eu fiz algumas pesquisas e perguntei para outra moça, mas… — Eu me lembrei da resposta de Natsumi.

“Huh? O que eu gostaria de ganhar? Vejamos… Um abraço, um beijo, dinheiro, um namorado decente e… oh, e um emprego!”

— Ela foi de zero ajuda. — suspirei. Não havia muito o que escolher entre ela e o Yahoo! Respostas. — Um anel, huh…? Hmm…

Enquanto pensava sobre isso, várias garotas do ensino fundamental saíam da quadra, acenando e gritando:

— Tchau-tchau, Nagi!

Nagi acenou de volta, confiante.

— Você gosta da Mana, não é, Hodaka?

— Huh? — Por um segundo, não consegui processar o que ele me disse, até que consegui e fiquei agitado. — É o queeeeeê?! — Fiquei quente até a ponta das orelhas, como se ele tivesse derramado água fervente sobre mim. — Não, não, não, não acho que gosto dela, exatamente… Huh? Espere, eu gosto? Talvez? Mas não, não, não, desde quando? Desde o começo, talvez? Dweeeeeeeeeeh?!

Enquanto eu estava tendo um colapso, Nagi revirou os olhos.

— Ouça, homens precisam deixar as coisas claras. Deixar tudo confuso é a última coisa que você quer.

— Huh? S-Sério?

— A regra é: antes de começar a sair, já deixe tudo claro logo no começo, e depois, quando estiverem juntos, mantenha as coisas vagas. Entendeu?

A epifania me atingiu como um tijolo na cara. Bam! Qual era a desse sistema de valores?! Como ele consegue ser tão estratégico sobre essas coisas?!

— Uou…! — Tóquio é mesmo algo em outro nível, pensei pela primeira vez em algum tempo, e realmente achava isso. — Posso te chamar de Mestre Nagi?

Nagi respondeu com um sorriso, então, de repente, olhou para o longe.

— Desde que a nossa Mãe morreu, a Mana tem trabalhado em empregos de meio período. Tenho certeza de que ela está fazendo isso por mim, pois sou apenas uma criança.

— …

À medida em que Nagi explicava, ainda sorrindo, eu sentia a mim mesmo sentando mais reto. Se Nagi estava se chamando de criança, já devia ser muito maduro.

— Então… eu gostaria que ela fizesse mais coisas que adolescentes normais fazem. — disse ele, brincando, então estendeu o punho para mim.

Eu bati o meu punho contra o dele.

— No entanto, a decisão cabe a você, Hodaka. — O meu novo mentor sorria.

— Muito obrigado!

Sorrindo, a vendedora da loja estendeu um saco de papel para mim. Eu o peguei, mas fiquei petrificado ali mesmo.

— Hmm? — Depois de um momento de silêncio, ela olhou com preocupação para o meu rosto.

— É! — comecei, tomando a iniciativa.

— Sim?

— Uh… Você acha que alguém ficaria feliz se recebesse isso como presente? — perguntei, deixando os meus olhos se dirigirem ao saco de papel em minhas mãos.

A vendedora tinha um rosto gentil e um longo cabelo preto. Ela pareceu um pouco surpresa, mas então sorriu. O seu sorriso era tão amável que, por apenas um momento, os sons ao redor de nós desapareceram por completo, como se eu tivesse colocado fones de ouvido com cancelamento de ruído.

— Você passou três horas inteiras aqui tentando decidir. — A sua voz era muito aconchegante, como se estivesse conversando com um amigo — Se fosse eu, acho que ficaria muito feliz. Tenho certeza de que vai dar tudo certo. Ela vai amar!

Essas palavras aqueceram o meu peito. Com um orçamento de quatro mil ienes, eu quase fui à loucura me preocupando que tipo de anel comprar. Enquanto corria em círculos e pensava, sem chegar a lugar algum, essa moça ficou comigo por mais de três horas.

— Dê o seu melhor — disse ela, no final, com um sorriso gentil. Ao perceber que o seu crachá dizia Miyamizu, eu me curvei profundamente.

Quando deixei o shopping Shinjuku Lumine, já estava escuro, mas o agito das pessoas debaixo de seus guarda-chuvas estava barulhento como sempre. Eu percebi que tinha me acostumado com as luzes dos prédios altos conforme eles cintilavam fracamente na chuva. Tentei me lembrar da noite de dois meses atrás, quando vagava por esta mesma região, desesperado, estendendo de volta para a minha mente e tentando puxar a memória para mais perto.

Naquela época, eu não conseguia respirar tão fundo quanto consigo agora. Não conhecia ninguém nesta cidade. Me sentia tão inseguro, como se fosse o único que falava uma língua diferente. A primeira pessoa a mudar isso tinha sido a Hina, no McDonald’s.

Quando levantei a cabeça, a televisão de propaganda estava mostrando a previsão do tempo para a semana. As palavras Número de dias chuvosos seguidos agora é o mais alto já registrado na história estavam passando pela tela. Mas eu sabia que amanhã, por apenas um curto período de tempo, o local para onde Hina estava indo teria céus claros.

O trabalho de amanhã era um pedido de um pai que queria que o parque estivesse ensolarado para a sua filha no final de semana. Este seria o último trabalho do nosso negócio de Garota Sol. O dia depois desse seria o aniversário da Hina. Para mim mesmo, decidi que lhe daria o anel depois que ela, Nagi e eu comêssemos o bolo.

Deixe-me pelo menos dar um ou dois sorrisos extras a Hina, murmurei em silêncio, espiando o céu chuvoso pelo guarda-chuva.

 

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Parecia que fazia séculos desde a última vez que ouvi cigarras. A Tokyo Tower, ainda molhada por causa da chuva de mais cedo, brilhava orgulhosamente debaixo do sol, como se tivesse trocado para roupas novinhas em folha.

Este parque ficava na base da torre. A grama verde cheirosa era cercada por arranha-céus cristalinos e um grande templo. Há algum tempo, uma garotinha estava gritando tão alto que todos no parque conseguiam ouvi-la.

— Papai, faça de novo, faça de novo!

— Eu não me importo, Moka, mas tem certeza que está bem?

— Aham, está tudo bem hoje. O sol apareceu!

— Tudo bem então, vamos lá!

O Senhor Suga, dentre todas as pessoas, pegou ambas as mãos da garota e a girou em círculos enquanto ela dava uma risada de doer a barriga. Era a sua filha, Moka.

— Tudo bem, Nagi agora, Nagi faz!

— Pode deixar. Aqui vamos nós!

— Yaaaaaaugh!

Batendo na parte inferior das costas, o Senhor Suga voltou até o banco onde Hina e eu estávamos sentados. Ele sentou pesadamente, colocando-se entre nós.

— Diacho, minhas costas não servem para isso.

— Por que você nos contratou, Senhor Suga? Ei, espere, você sabia que eu estava trabalhando com isso? E ainda ficou quieto? E… Espere, você tem uma filha?!

Eu olhava para ele. Ao invés de me responder, o Senhor Suga apenas olhou para mim, triunfante, então trocou um firme aperto de mão com Hina.

— Isso foi inacreditável! Sério mesmo, a previsão do tempo dizia que havia cem por cento de chance de chuva!

Hina sorriu para ele, o que me aborreceu por algum motivo.

— A minha filha tem asma, sabe. Ela vive com a sua avó no momento, e eu não consigo a ver em dias de chuva.

O Senhora Suga a observava, os seus olhos se apertaram com um sorriso genuíno enquanto Moka perseguia o Mestre Nagi pela grama. Isso foi um tanto inesperado; eu não sabia que ele poderia fazer uma expressão dessas. Eu conseguia ver o porquê, no entanto; aqueles dois formavam uma bela imagem juntos conforme corriam debaixo da luz.

— Cara, é ótimo ver o céu azul… — murmurou o Senhor Suga.

Eu olhei com mais atenção para a sua mão esquerda e percebi um anel de prata nela. Ele estava tocando aquele anel com os dedos rugosos da sua mão direita. Só então eu vi o quão velhos eles se pareciam.

— Então você é o chefe do Hodaka, Senhor Suga? — disse Hina.

— Sim! E o cara que salvou a vida dele! — respondeu ele, orgulhoso. Parando para pensar nisso, eu tinha me esquecido desse detalhe. O Senhor Suga colocou um braço ao redor dos meus ombros. — E, ei, não me parece que você ganha muito respeito dela. Né? — perguntou ele, soando entretido.

— Huh? Bem, a Hina é dois anos mais velha do que eu…

— Hmm? Você tem o quê, quinze? Não, dezesseis? Então ela tem dezessete? Dezoito? Não é uma diferença grande.

— Eu sei, tá bom?! — Eu disse.

Até que Hina disse:

— É sim.

— Oh, lá estão eles. Eeeei! — gritou alguém.

Quando olhei para ver quem era, vi Natsumi correndo na nossa direção, acenando.

— Agh! — Me virei para o Senhor Suga com um sussurro em pânico — Espere, Senhor Suga, está tudo bem isso?

— Huh?

— Então, quero dizer, a sua esposa e filha… A Natsumi…?

O Senhor Suga me bateu nas costas, segurando uma risada, enquanto Natsumi corria até o banco, confusa.

— O quê? O que foi?

— O Hodaka aqui pensou que você e eu éramos—

— Ei…! — Justo quando eu estava prestes a lhe dizer para parar, o Senhor Suga falou.

Os olhos de Natsumi se arregalaram, e ela gritou:

— Amantes?!

Fiquei vermelho e baixei a cabeça. Ao ver o meu próprio suor pingando no chão, tentei explicar:

— Bem, ninguém me disse que vocês eram tio e sobrinha… E, Senhorita Natsumi, no começo você me disse que era exatamente o que eu pensava que era…

— Hodaka, ninguém quer ser amigo de pessoas que têm fantasias como as suas. — Natsumi olhou friamente para mim, e o Senhor Suga sorriu.

— Se você usar o senso comum e pensar um pouco, fica bem óbvio.

Quando olhei para Hina, na esperança de receber ajuda, ela também me encarava.

— Você tem uma mente suja, Hodaka. — murmurou ela.

Que pesadelo.

— Hodaka, ouça…

Ao ouvir o meu nome, olhei para Natsumi. Ela estava se inclinando para frente, e a gola da sua camisa estava baixa.

— Você acabou de olhar para o meu peito, não é?

— Eu não! — Ei, isso foi uma armadilha!

Natsumi deu uma risada melodiosa.

— Oh, Natsu! — Moka balançava o braço todo para nós, acenando.

— Hiya, Moka. — Natsumi acenou de volta.

Okay, então essas duas são primas.

— Papai, fiz uma coroa de flores. Aqui!

A expressão do Senhor Suga se desfez, e ele se levantou do banco.

— Uau, para mim?!

— Qual é, Hodaka, você também! — gritou o Mestre Nagi.

— Oh, o meu mentor está chamando… Preciso ir. — murmurei enquanto caía fora.

— Hehe. O Hodaka é hilário, não acha? — Ouvi Natsumi dizer para Hina enquanto eu saía.

 

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 Ela era uma garota totalmente normal.

Eu estava esperando alguém menos acessível, tipo uma sacerdotisa de santuário ou de Shinto, uma astróloga ou uma estrela do rock carismática — estoica e inspiradora, mas Hina era apenas uma adorável adolescente, sorridente e animada. O seu cabelo era de um preto lustroso natural, enquanto a sua pele e lábios eram macios como os de um bebê. Hodaka e Hina são tão jovens, eu pensei, com um pouco de inveja.

— Hodaka ainda é uma criança, não é? É vergonhoso. — disse Hina, perto de mim, um pouco irritada. Os seus olhos estavam voltados para ele.

Ah, então é esse tipo de relação que eles têm, pensei, sorrindo para mim mesma. Hodaka era do tipo irmãozinho por completo.

— Me diga, você não acha que aqueles dois são parecidos? — perguntei para ela.

— Você se refere ao Hodaka e ao Senhor Suga?

Kei dava saltos em seus passos, enquanto Hodaka coçava a cabeça à medida em que se aproximava de Moka e Nagi.

— Aham. O fato é que Kei também fugiu para Tóquio quando era adolescente.

— Huh?

— Os Sugas são uma família distinguida do lugar que ele veio. Eles têm sido legisladores por gerações. Pelo que ouvi, os pais do Kei tinham expectativas muito altas sobre ele também, mas o seu irmão mais velho era brilhante. Ele se graduou na escola de preparação para a universidade local como o melhor da turma, entrou direto na Universidade de Tóquio, então foi fazer intercâmbio no exterior, e agora ele é um oficial financeiro para o governo. E também é o meu pai. — Eu ri um pouco. — Sabe, também não me dou tão bem assim com o meu pai, mas, por algum motivo, o seu irmãozinho Kei e eu sim. É por isso que eu estive trabalhando na casa dele esse tempo todo.

Huh? Enquanto eu estava falando, comecei a pensar por que estava contando tudo isso a Hina.

— Bem, de qualquer forma—

Talvez houvesse uma energia maravilhosa ao redor da Hina, afinal. Os seus grandes olhos estavam fixos em mim, e parecia que ela estava sugando os meus sentimentos para a superfície.

— Quando o Kei fugiu para Tóquio, se encontrou com a Asuka aqui. Ela é a mulher que, no fim, tornou-se a sua esposa. Teve muito drama sobre a relação dos dois; ambas as famílias estavam brigando entre si e tudo mais. Mas, no final, eles se casaram, começaram uma empresa de edição juntos, então Moka nasceu. Eu também fiquei feliz naquela época.

Eu recém tinha começado no ensino médio. O temor e o algo agridoce que sentia quando vi o bebê no hospital transformaram-se em algo gentil e pacífico, como o aroma da minha flor favorita.

— A esposa dele faleceu em um acidente havia muitos anos, mas—

Essa história era um pouco complicada demais. Um pouco pesada demais. Mesmo depois de todo esse tempo, doía um pouco mais do que eu podia aguentar. Eu sorri, mudando de assunto.

— Ele não aparenta isso, mas o Kei é surpreendentemente dedicado, mesmo agora. Não acho que seja porque ele não consegue arrumar uma namorada ou algo do tipo.

Quando olhei para o grupo de Kei, eles estavam trabalhando com grande seriedade nas coroas de flores, as suas testas estavam juntas. Moka estava com as mãos na cintura e os comandava. Eu podia ver a alegria nos olhos do Kei.

— O Hodaka me disse algo a um tempo atrás — disse Hina, de súbito. — Ele comentou que você e o Senhor Suga eram super-maneiros. Disse que nunca tinha se encontrado com adultos como vocês, que tratavam qualquer pessoa de maneira justa. Ele disse que você era bonita, e que todos que você encontrava se apaixonavam. Eu sempre quis me encontrar com você algum dia também—

— Huh…

— E por isso estou tão feliz hoje. Você é bem como o Hodaka descreveu.

De alguma forma, eu sabia, sem sombra de dúvidas, de que Hina não estava dizendo isso apenas por dizer. Era o que ela realmente pensava. Estranhamente para mim, as palavras me fizeram chorar um pouco.

— Eu também. — Apertei as mãos dela — Eu sempre quis te encontrar. A garota cem por cento sol; isso é incrível!

Hina olhou para mim, talvez estivesse um pouco surpresa.

— O fato é que passei muito tempo perseguindo os rumores sobre as mulheres do sol. Conversei com diversas pessoas que disseram ter te encontrado também. Todos estão felizes; graças a você, a vida deles está ficando mais alegre, pouco a pouco!

O rosto de Hina se iluminou, e foi como observar uma flor florescer. Isso é quase algo sagrado, pensei. A alegria dela era tão brilhante quanto luz física, e os meus olhos se estreitaram um pouco. Por alguma razão, eu estava falando mais rápido.

— Isso é algo que apenas você consegue fazer, não é, Hina? É incrivelmente raro para pessoas terem uma habilidade tão bem definida assim. Na realidade, é justamente com isso que eu estou preocupada agora! Aaah, eu queria ter uma habilidade especial que pudesse colocar no meu currículo também; procurar emprego é uma droga. Sorte a sua, Hina. Uma garota do ensino médio com habilidades sobrenaturais… você é praticamente a heroína perfeita!

Hina riu de leve.

— Eu… — Ela levantou os olhos. — Eu gostaria de crescer mais rápido.

Fiquei cativada pelo seu perfil. Entendo. Sim, é claro. Era como se essa fosse a sua forma de gentilmente me repreender.

— De certa forma… isso é um alívio.

— Huh?

Peguei o meu celular.

— Na verdade, ouvi algo que me preocupou um pouco durante uma entrevista…

Olhei para o filme do sacerdote que eu tinha gravado no santuário. Mas está tudo bem, eu disse para mim mesma. Tudo bem. Hina é uma garota normal que está pensando no futuro. Ela é forte, já está olhando para frente. Está pronta para dizer com firmeza que quer crescer mais rápido. O que eu ouvi não passava de um conto comum do passado. Essa coisa de destino doloroso da sacerdotisa do tempo é coisa boba.

Decidida, apertei o Play.

 

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A fraca chuva que tinha começado a cair rapidamente retirou o calor do ar. Eu puxei o zíper da minha jaqueta até em cima. Moka estava tossindo bastante há um tempo agora.

— Moka, você se cansou um pouco?

O Senhor Suga pegou o inalador para asma e o balançou para agitá-lo. Então ergueu Moka e colocou o bocal na boca dela.

— Aqui, inspire. Um, dois, três!

Cronometrando perfeitamente, ela respirou fundo, então exalou um monte.

— Estou bem! Vou brincar um pouco mais! — disse ela ao Senhor Suga, insistente.

Nós todos estávamos em um estacionamento próximo ao gramado, com os guarda-chuvas abertos. O Senhor Suga havia deixado o seu carro ali. A Tokyo Tower ainda não estava acesa, e, com o céu escurecendo por detrás dela, ela pairava sobre nós como a sombra de um gigante.

— Nós devemos ir agora. — Hina disse ao Senhor Suga.

— Awwww! Nãããoo! Eu quero brincar mais! — gritou Moka.

— Moka, ficar com todo mundo é divertido, mas isso te deixa mais cansada, não é? É melhor ir para casa.

— Nãããoo! Eu quero ficar mais tempo com o Nagi!

Moka estava quase chorando, até que Natsumi falou, alegre:

— Muito bem então, vamos jantar juntos para encerrar!

— Ebaaa, vamos jantar!

— Mas… — Hina soava inquieta.

— Neste caso! — disse o Mestre Nagi — Eu vou com vocês um pouquinho. Pode ser?

— Mas é claro! — respondeu Natsumi, e Moka começou a correr ao redor dele.

— Ebaaa!

O Senhor Suga murmurava:

— Não posso dizer não para isso — Mas os seus lábios pareciam felizes.

— Hodaka, acompanhe a Mana até em casa. — disse o Mestre Nagi.

— Huh? — Quando olhei para ele, ele me fez um sinal de positivo e deu uma piscadinha. O meu coração acelerou.

— Hina! — Moka saltou dos braços do Senhor Suga, correu até Hina e abraçou as suas pernas com força. — Obrigada por deixar o dia ensolarado hoje! Eu me diverti um montããão!

Hina mostrou um enorme sorriso. Por um momento, fiquei encantado. Ela se agachou, colocando-se no mesmo nível dos olhos de Moka.

— Digo o mesmo. Obrigada por ficar tão feliz com isso, Moka.

Nada bom, nada bom—

O meu coração estava acelerando.

Não tínhamos conversado muito, nem no caminho até a Estação de Hamamatsucho ou depois que descemos na Linha Yamanote. Hina ficou ao lado das portas do trem, olhando em silêncio para as gotas de chuva na janela. Eu lançava olhares para o seu reflexo no vidro de vez em quando; a minha mão esquerda estava no bolso, apertando a caixinha. Era o anel que eu tinha comprado ontem. Nunca terei uma chance melhor que essa para dar a ela…

Quanto mais perto o trem chegava da Estação Tabata, mais intenso o pensamento se tornava. Nós ficaríamos completamente sozinhos e juntos; esta oportunidade apareceu do nada.

Quando saímos pela catraca sul, a chuva havia ficado um pouco mais forte, e a temperatura tinha caído ainda mais. Por detrás das nuvens de chuva, o céu ainda tinha os traços da luz da tarde.

Nada bom, nada bom—

O meu coração estava prestes a sair pela boca. Estou feliz que esteja chovendo, pensei. Se não fosse pelo som da chuva, tenho certeza de que a Hina conseguiria ouvi-lo. Mesmo assim, o meu corpo continuava ficando mais quente, e eu não sabia o que fazer quanto a isso, por isso diminui a minha velocidade um pouco. Um Shinkansen deslizou pelos trilhos elevados sob nós com um som sibilante. Gotas de chuva acertavam o meu guarda-chuva como um instrumento musical irregular.

Nada bom, nada bom— mas mesmo assim…

Eu parei de andar. As costas da Hina ficaram a um passo de distância de mim, então dois, três, quatro…

Eu respirei fundo. Cheirava a água.

— Hina.

— Hodaka.

Nós falamos ao mesmo tempo.

— Ah! Sinto muito.

— Oh, não se preocupe. — Hina sorriu gentilmente — O que foi, Hodaka?

— Não… nada, na realidade. E você, Hina?

— Oh, hmm—

Ela abaixou os olhos levemente, e, por um momento, imaginei ter visto algo passar pelo seu rosto. A sombra de água?

— Hodaka, ouça.

Hina levantou a cabeça, olhando diretamente para mim. Os seus olhos estavam sérios, mas a sombra de água passou mais uma vez.

— Eu—

Mais água, a qual dançava, circulando devagar ao redor dela como… peixes feitos de água?

E, então, aquilo aconteceu.

Uma rajada de vento feroz veio por detrás de mim, arrancando o guarda-chuva da minha mão. Eu me curvei.

— Ah!

Com o canto dos olhos, vi a jaqueta dela voando no ar por causa do vento. Estendi a mão por reflexo…

… Mas não alcancei. A jaqueta da Hina e os nossos guarda-chuvas foram soprados para longe, carregados em direção ao céu.

— …!

Por um momento, os observei, perplexo, enquanto ficavam menores e desapareciam em meio à névoa.

— Hina…!

As palavras você está bem? pararam na ponta da minha língua.

Não havia ninguém na minha frente. Com pressa, olhei ao redor. Ninguém estava lá. Aquilo não podia estar certo… Ela estava logo ali havia alguns segundos.

— Hodaka!

De repente a ouvi, e alívio e medo me atingiram ao mesmo tempo. Eu tinha ouvido a sua voz, mas de uma direção impossível, então olhei para cima.

Hina estava flutuando no ar acima dos postes de luz. Gotas de chuva brilhavam, dançando ao redor dela ao invés de cair como a chuva, apoiando-a. Aos poucos, como se estivesse na palma de uma mão invisível, ela desceu ao chão.

Os postes ao longo da rua de ladeira começaram a se ascender, enfim percebendo que a noite havia chegado. Hina passou na frente de um deles, e eu vi o seu rosto, rígido por causa do medo, e o seu ombro esquerdo, tão transparente quanto gelo, com a luz passando por ele.

Ela está translúcida…?

Pisquei com força. Hina já tinha passado do poste agora, e o seu ombro parecia normal no momento. Enquanto eu observava, confuso, ela lentamente desceu. As gotas de água ao redor dela começaram a desaparecer, dissolvendo-se na chuva. Quando os dedos dos seus pés tocaram o asfalto, ela caiu de joelhos. Devagar, levantou a cabeça. A sua expressão possuía surpresa, confusão e medo — e uma fraca sensação de conformação, como se já soubesse que isso aconteceria.

— Eu me tornei uma garota sol…

Mais tarde, no caminho de volta até o seu apartamento, ela me contou sobre aquilo.

— … naquele dia, um ano atrás.

 


 

Tradução: Taiyo

Revisão: Taiyo

 

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