— Peço desculpas pela visita repentina.
— De jeito nenhum. Obrigado por ter vindo.
Eu estava na sala de estar de uma das maiores mansões do Distrito dos Anões. Essas primeiras palavras solenes vieram de um anão digno com uma careca lisa e uma barba cinza-aço cuidadosamente trançada. Ele era Agnarr, o anão com maior influência na cidade.
Ao lado dele estava um anão velho com cabelos brancos e lustrosos. Eu não o reconheci. Meu primeiro palpite era que seus olhos pareciam muito cansados.
— Este é Grendir. Ele representa os migrantes que se mudaram para esta cidade recentemente e também é meu tio-avô.
— Prazer. — Curto, ele baixou a cabeça para mim.
— Meu nome é William. Foi-me confiado o governo de Floresta das Bestas por Sua Excelência Ethelbald, Duque de Southmark. — Coloquei minha mão direita sobre meu coração, trouxe meu pé esquerdo ligeiramente para trás e me curvei em resposta a ele. Se ele representasse um grupo inteiro, não poderia me dar ao luxo de tratá-lo levianamente.
Grendir respondeu com o mesmo gesto, executado com incrível fluidez. Isso significava que ele conhecia a etiqueta antiga? Se ele…
— Por favor, sente-se. — Meus pensamentos foram interrompidos por Agnarr me oferecendo o assento que estava reservado para os convidados mais importantes.
— Muito obrigado. — Dada a minha posição, eu não poderia recusar, então suprimi o desejo de ser educado e me sentei.
Depois de um tempo, a esposa de Agnarr trouxe um pouco de chá.
Existem muitas histórias sobre mulheres anãs. Alguns dizem que são lindas e parecidas com fadas, enquanto outros discordam e dizem que são incrivelmente robustas e musculosas e têm barbas. Mas eu descobri depois de conhecê-los pessoalmente que a resposta correta seria “todas as alternativas acima”.
Na juventude, as mulheres anãs eram um pouco rechonchudas e bonitas como os espíritos da floresta. Mas talvez porque não se importassem muito com aparência, uma vez que se casavam, rapidamente se tornavam mulheres rudes de meia-idade. E os anões não estavam muito preocupados com essas mudanças.
Além disso, parecia fazer parte da cultura dos anões esconder suas mulheres de estranhos e não deixá-las sair em público. Suspeitei que vislumbres coincidentes de anãs tinham sido a única fonte de informação de forasteiros, e o que resultou foram as histórias extremas de todas elas serem como fadas ou terem barbas.
Quanto a saber se a esposa de Agnarr se enquadra na categoria de fada ou barbuda, recuso-me a comentar.
Tomei um gole do meu chá de ervas e pensei em como deveria proceder. O tema do País do Ferro era um assunto próximo a seus corações, então, em vez de perguntar sobre isso logo de cara, achei que seria melhor ter uma conversa amigável com antecedência para quebrar o gelo.
Sentindo o aroma único e o gosto amargo do chá de ervas, fiz uma pergunta segura.
— Então, Grendir, por que você e seu grupo vieram para cá?
— Para morrer!
Uma resposta terrível veio, e eu tive um ataque de tosse, quase cuspindo meu chá.
— Aham. Desculpe.
— Grendir, você vai chocá-lo por ser tão direto, — Agnarr disse, repreendendo-o levemente.
Grendir fez uma cara preocupada e ficou quieto por um tempo. Sentei-me ereto e esperei.
Ele passou alguns minutos organizando seus pensamentos, então começou a falar com uma voz composta.
— Não temos muito tempo pela frente. É nosso desejo morrer olhando para a nossa pátria.
— Sir William, para sua informação, Grendir é um sobrevivente das montanhas a oeste.
Agora as coisas faziam um pouco mais de sentido. Imaginei que, quando envelhecesse e meus últimos dias se aproximassem, gostaria de morrer olhando para a colina onde ficava aquele templo.
— As montanhas de nossa antiga pátria não são mais nossas, e a terra na base da montanha foi transformada em uma floresta repleta de bestas. Mas depois que ouvimos os rumores de que um herói havia recuperado aquela terra…
Mas isso ainda não significa que eu entendi tudo que Grendir estava sentindo. Eu me perguntei o quão poderosos esses sentimentos deveriam ser.
— Olhando de longe a nossa querida cordilheira, sonhando que um dia nossa antiga casa será retomada. Se eu pudesse morrer assim, ficaria feliz… Todos nós compartilhamos esses mesmos sentimentos e viemos aqui como companheiros de mentes semelhantes.
O quão triste deve ser não poder retornar a sua terra natal, não importa o quanto desejassem isso?
Eles devem se sentir frustrados porque sua terra natal foi roubada deles e foram incapazes de recuperá-la?
Quanto eles devem ter passado para chegar a esse ponto, onde poderiam dizer que ficariam felizes em morrer olhando de longe para o lugar que já foi seu lar?
— Faremos qualquer trabalho que você nos pedir. Por favor, por mais problemático que seja, permita-nos ficar em algum canto da cidade.
Eu realmente não conseguia entender o que ele estava sentindo. Mas por isso mesmo, como responsável por Porto da Tocha, senti que tinha o dever de fazer uma declaração de intenções e responsabilidades.
— Por favor, não se preocupe. Eu farei tudo que puder. — Segurei uma das mãos de Grendir com as minhas, olhei em seus olhos, coloquei sentimento em minhas palavras e esperei fortemente que ele entendesse. — Eu protegerei todos vocês da injustiça.
— Ohh… — Sua mão tremia. Meus olhos se voltaram para ele por um momento e, quando olhei, vi que as lágrimas escorriam por seu rosto. Ele agarrou de volta com sua mão trêmula e disse uma palavra, de novo e de novo. — Obrigado… Obrigado…
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Há duzentos anos, aqueles famosos salões de pedra conhecidos como País do Ferro tinham um monarca. Baixinho e magro em estatura, era um pensativo senhor de poucas palavras que preferia a arte da linguagem à da luta. Ele era o governante final do País do Ferro, e seu nome era Aurvangr.
Ele herdou o país do monarca anterior e governou o reino sem problemas, mas foi dito que os guerreiros de lá lamentaram o fato de seu novo rei ser amado não por Blaze, deus do fogo, mas pelo deus do conhecimento, Enlight.
Quanto ao povo, não desgostavam de seu monarca. Ele tratava tanto aqueles que podiam lutar quanto os que não podiam igualmente e não diferenciava ninguém. Ele entendia os sentimentos daqueles que não eram guerreiros.
Os guerreiros, entretanto, não gostavam do fato de que eles, que estavam na linha de frente em constante perigo e estavam preparados para sacrificar suas vidas, fossem tratados da mesma forma que aqueles que não eram. Eles reclamavam furiosamente sobre seu monarca enquanto engoliam suas bebidas, gritando em indignação com os punhos erguidos que ele os considerava muito levianamente e que seu nome era a única parte dele que era minimamente viril ou grandiosa.
A única resposta que o monarca Aurvangr deu a essas reclamações e vozes raivosas foi uma risada.
Mesmo que houvesse uma pequena discordância, o reino estava funcionando bem como um todo. Era uma época de paz. O reino gozava de prosperidade e era cheio de felicidade e, embora houvesse pequenos infortúnios, sempre havia pessoas que podiam dar uma mãozinha. Ninguém terminava suas vidas à beira da estrada, com raiva, sofrendo e ressentido com o mundo.
Mas a tempestade chegou.
Uma catástrofe, uma invasão dos demônios do inferno. Os mais famosos países do sul da Era da União caíram um após o outro, totalmente queimados e as forças demoníacas se aproximaram do País do Ferro.
Mesmo que numerosos títulos existissem para se referir àquele rei dos demônios, não existia ninguém que conhecesse seu verdadeiro nome. Ele era chamado de Lâmina dos Mortos-Vivos, o Rei Entre os Reis, O Puro Mal, a Escuridão Inesgotável, o Cavaleiro das Tempestades, o Loquaz…
O Rei Supremo dos Eternos.
Sua derrota estava além de qualquer dúvida. Os reinos do sul de Southmark eram todos conhecidos como países poderosos, capazes de se posicionar como a primeira linha de defesa contra as forças do mal, e o Rei Supremo os derrubou com facilidade. Quantos dias eles poderiam durar contra tal inimigo, mesmo nos corredores subterrâneos das famosas Montanhas de Ferro?
Além disso, a última notícia foi que havia dragões ancestrais entre as forças do Rei Supremo, e essa notícia deixou todos os guerreiros pálidos e sem palavras. Foi nessa época que apareceu um mensageiro dos demônios.
— Você servirá ao Rei Supremo? — o demônio perguntou.
Ele explicou que o Rei Supremo gostava de espadas e que ele podia fazer suas próprias forças, mas não armas. Então, fez uma oferta, dizendo que as montanhas de ferro seriam deixadas em paz se eles pudessem servi-lo com a habilidade de seus artesãos. Ele sugeriu que, se existissem guerreiros para proteger o povo, aceitar sua oferta seria a escolha certa.
Dizendo que ouviria sua resposta em três dias, o demônio partiu, deixando os anões para trás com olhares amargos em seus rostos.
Seguiu-se uma explosão de debate. Uma ordem de silêncio foi colocada, mas o rumor da mensagem do demônio se espalhou em horas, e logo todos estavam falando sobre isso. Na verdade, jogar todos em desordem pode ter sido apenas outra parte do plano do demônio.
O monarca sozinho estava em silêncio.
Os anões eram um povo insular para começar, e alguns entre eles disseram que se a única diferença seria para quem vendiam suas armas, não viam problema. As mães com bebês também faziam apelos, dizendo que seus filhos morreriam se fossem arrastados para uma guerra.
O monarca sozinho estava em silêncio.
Claro, também havia muitas pessoas que insistiam que os demônios não eram confiáveis e que eles deveriam lutar até a morte. Mas quando se tratava de como combatê-los, todos tinham uma opinião diferente e nenhuma conclusão poderia ser alcançada. Todo mundo estava no caos, e todo mundo estava emocionado, gritando e lamentando. Houve até derramamento de sangue. Ninguém sabia o que fazer.
O monarca sozinho estava, como sempre, em silêncio.
E o dia chegou, com os vassalos do monarca silencioso incapazes de decidir sobre qualquer coisa. Foi então que Aurvangr falou pela primeira vez.
— Eu vou decidir, — ele disse, e deu um passo para frente do demônio que havia retornado para ouvir a resposta deles.
— E qual é a sua resposta? — o demônio perguntou.
— Essa. — Aurvangr passou sua lâmina pelo pescoço do demônio com a velocidade da luz, decepando sua cabeça. O demônio desabou com um baque pesado.
A espada encantada Calldawn, passada de geração em geração no País do Ferro, tinha um brilho perfeito, não permitindo que o sangue do demônio manchasse sua superfície.
— Este é o aço que você queria. A arma que você queria. E você o terá! — O pequeno e magro senhor anão ergueu a espada bem alto no ar.
As pessoas aplaudiram. Os guerreiros estavam sufocados de lágrimas. Percebendo que haviam julgado terrivelmente mal seu monarca, eles prostraram-se em desculpas e vergonha por sua ignorância.
Então, a cabeça do demônio caído começou a rir. “O dragão está chegando.” Era uma voz grossa e sinistra, e uma espuma ensanguentada escorria de sua boca enquanto ele falava. “O dragão está chegando! O dragão está chegando! Valacirca! A foice da calamidade desce sobre você! ” O demônio gritou loucamente, apenas o branco de seus olhos visíveis.
— Nada vai sobreviver!
Aurvangr pisou na cabeça do demônio e o esmagou. Então, ele murmurou.
— Eu não vou deixar isso acontecer.
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Os preparativos para a batalha avançaram rapidamente. Os guerreiros anões se cercaram de ferro, com elmos, armaduras, machados e escudos.
— Vamos atrair os demônios do inferno e matá-los todos, — declarou o monarca Aurvangr. — Que essas passagens subterrâneas sejam seus túmulos.
O povo e os guerreiros obedeceram às suas palavras e fizeram preparativos para matar os demônios. Eles montaram armadilhas diabólicas e labirintos complexos, preparando-se para o cerco dos demônios.
Eles terminaram em alguns dias e, assim que terminaram, Aurvangr os reuniu no grande salão e deu-lhes uma ordem.
— Todos aqueles que não são guerreiros e todos os guerreiros que são jovens e inexperientes: deixem as Montanhas de Ferro agora.
Quando o povo ouviu isso, houve um clamor. Eles pretendiam morrer com seu monarca. Ele pensava neles como um peso morto? Eles queriam ter permissão para ficar.
Apesar do barulho de raiva, decepção e vozes suplicantes da multidão, Aurvangr permaneceu quieto. Ele permitiu que as pessoas falassem por um tempo, e assim que o rugido da multidão pareceu ter diminuído, ele bateu no chão com a ponta da bainha de Calldawn. O som ecoou e o barulho tornou-se um murmúrio.
Tendo encontrado o momento certo para continuar, ele pousou as mãos na ponta do cabo da espada, ergueu a cabeça e disse:
— Meu povo: vou morrer. Todos os guerreiros que ficarem para trás provavelmente morrerão também.
Todos ficaram em silêncio. As palavras de Aurvangr foram as palavras de um homem moribundo.
— Mas não devemos permitir a morte do País do Ferro. — Suas palavras estavam cheias de determinação silenciosa. — Meu povo: penso em vocês como meus próprios filhos e, portanto, rasga meu coração dar-lhes uma ordem tão egoísta. Mas devo fazer isso: viva!
O monarca falou sem parar.
— Mesmo se você perder sua pátria e ficar manchado de humilhação e arrependimento, eu ordeno que desça a montanha e continue vivendo! Essa é a batalha que ordeno a vocês! Você não está fugindo hoje, está assumindo o comando de um campo de batalha diferente!
Sua voz ecoou por todo o grande salão.
— Como lordes e guerreiros, devemos proteger nosso orgulho, proteger nossos nomes e morrer nessas montanhas onde os espíritos de nossos ancestrais dormem! E você vai abandonar o seu orgulho e colocar todo o seu ser na vida! Você nunca deve permitir que o fogo da fornalha morra!
Ele respirou fundo e gritou mais uma vez.
— Homens, vivam! Viva e lute! Até que voltemos à glória novamente! Esse é o meu pedido final!
Essas foram as últimas palavras que os sobreviventes ouviram faladas pelo governante final do País do Ferro.
Ele pegou os guerreiros e deixou o grande salão, e depois de se preparar para a batalha, eles enfrentaram o tremendo exército de demônios e o dragão ancestral sem medo. Cada um lutou bravamente e todos morreram.
Os anões que desceram a montanha e os guerreiros que os protegiam perderam sua terra natal e se tornaram um povo errante. Eles cruzaram para o norte com muitos refugiados, vivendo vidas cheias de sofrimento e humilhação. Mas, apesar de tudo, eles cerraram os dentes, mantiveram as palavras de seu senhor em seus corações, e pelos próximos duzentos anos, alguns como artesãos, outros como mercenários, eles sobreviveram.
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— Esse é o nosso segredo, a história transmitida ao povo das Montanhas de Ferro, — o anão careca Agnarr disse, com o rosto vermelho de álcool. — Eu não nasci na época. Quanto ao Grendir…
Grendir, o anão de cabelos brancos, estava chorando. Provavelmente metade era porque ele tinha um pouco de aguardente forte dentro dele, mas mesmo assim, ele realmente estava uma confusão de lágrimas.
Perguntei se falariam comigo sobre seu passado, e eles silenciosamente acenaram com a cabeça e me contaram sua história.
— Eu… Tínhamos acabado de ser nomeados guerreiros do rei na época… — Grendir fungou como uma criança. — Não podíamos nem lutar ao lado dos guerreiros que vieram antes de nós… Só tínhamos que obedecer à ordem e… fugir com os outros… — Ele começou a soluçar. Agnarr o olhava com incerteza.
Eventualmente, ele continuou.
— E isso não foi fácil. Estava frio… e era uma jornada muito difícil para as crianças… Ah, as crianças… Elas continuavam morrendo. Havia um menino inteligente, sempre sorrindo e incentivando todos ao seu redor a continuarem, e ele foi ficando cada vez mais exausto, até que mesmo um sorriso era mais do que conseguia fazer… Ele era uma casca de si mesmo, e então um resfriado o tomou, ele parou de se mover, mesmo, e… simplesmente morreu. Ele morreu nas minhas costas enquanto eu o carregava!
A longa fila de refugiados sofreu ataques aleatórios de demônios. Houve dissensão sobre seu escasso suprimento de alimentos. E mesmo quando eles chegavam a uma cidade, havia mais deles do que as cidades podiam suportar. O mesmo quando eles cruzaram para o norte; eram apenas um grupo de muitos na mesma situação e tinham muita dificuldade em encontrar empregos.
— Já não me lembro quantos morreram. Sorver lama e roer raízes de árvores não era o pior. Jovens moças se vendiam por tigelas de mingau para seus filhos. Alguns dos homens que não aguentaram mais começaram a roubar e foram espancados até a morte por isso. Éramos pele e osso, reduzidos a mendigar…
Eu o ouvi falar baixinho e percebi que a bravura do senhor anão e a angústia do povo já me enchiam de lágrimas.
— E ainda assim nós vivemos… Nós vivemos. Superamos aquela era de caos e vivemos os duzentos anos seguintes. De alguma forma, nós sobrevivemos… — Grendir falou baixinho. — E então você, William, você devolveu esta terra para as mãos das pessoas. Não só isso, você até chora com a gente.
Grendir olhou na direção das Montanhas Ferrugem, não, as Montanhas de Ferro.
— Algum dia, poderemos voltar. Algum dia, seremos capazes de fazer tudo voltar ao que era antes. Algum dia, seremos capazes de alcançar o que nosso governante ordenou… — Sua voz estava tremendo. — Como é precioso poder acreditar… Como somos gratos…
Enquanto Grendir me agradecia repetidamente, ele lentamente caiu em um sono induzido pelo álcool. Ele estava engolindo bebida após bebida forte para ajudá-lo a falar sobre suas memórias dolorosas, então era natural.
— Grendir deve ter ficado feliz em abrir seu coração para alguém, — Agnarr disse, sorrindo. — Essa é a nossa história. Eu espero que você possa entender.
— Muito obrigado. Isso deve ter sido incrivelmente difícil para vocês dois.
— De nada.
Houve mais algumas palavras para encerrar as coisas, e então parti da mansão de Agnarr.
Eu estava tão absorto em sua história do passado enquanto todos bebíamos juntos que não tinha percebido quanto tempo havia se passado. Quando saí, já era noite. Os anões haviam terminado seu trabalho e estavam voltando para suas casas ou parando em tavernas.
Quanto a mim, estava pensando muito. Pensei nessas montanhas de ferro, nos anões que foram deixados para trás, nos sentimentos do então monarca Aurvangr. Pensei em Sanguinário, Maria e Gus, que viveram naquela época; o temível Rei Supremo; e a Era da União, quando o mundo era próspero e pacífico. Também pensei na profecia do Lorde de Azevinho.
E enquanto eu caminhava sem rumo com meus pensamentos vagando por todas essas coisas, de repente percebi o quão escuro tinha ficado. Já era noite. Porque não havia muitas luzes aqui, a noite era muito mais escura neste mundo do que no meu anterior.
Enquanto eu estava confuso em frente a uma fileira de casas indefinidas, me perguntando em que rua eu estava, a luz de uma taverna chamou minha atenção. Decidi ir até lá. Tinha certeza de que se desse uma olhada na placa pendurada do lado de fora, pelo menos seria capaz de descobrir que rua era essa. Esta “cidade” era pequena o suficiente para que funcionasse.
Então, ouvi algum tipo de comoção e o som de alguém sendo socado. Estava acontecendo uma briga de taverna? Apressei o passo e alguém saiu correndo pela porta da taverna. Eu rapidamente o peguei. Seu cabelo preto trançado esvoaçou.
— Ah!
Era aquele anão que veio ver meu treinamento matinal. Ele parecia ter sido espancado.
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Depois de pegá-lo, congelei por um segundo de surpresa. Ele também pareceu surpreso, mas se recuperou antes de mim. Fazendo uma reverência rápida, ele voltou direto para a briga dentro da taverna, gritando:
— Pare com isso!
Bastou um breve olhar para saber a maior parte do que eu precisava saber sobre o que estava acontecendo lá dentro. A taverna era uma bagunça de mesas e cadeiras tombadas, e dois clientes homens, ambos humanos, estavam lá brigando. Os dois pareciam artesãos muito musculosos e seus rostos estavam vermelhos. Eles provavelmente já tinham ingerido muito álcool.
— Ahh! Sai daqui!
— Izo naum tenada contigo! Cai fora!
Os dois começaram a esquentar, respirando pesadamente, fedendo a bebida. Os outros clientes estavam assistindo à distância e tentando não se envolver, ou deliberadamente atiçando as chamas do lado de fora. A jovem da taberna parecia preocupada.
— Por favor, pare, já falei! — O anão estava tentando separar fisicamente os dois, mas não estava dando certo. Na verdade, ele estava sendo espancado e empurrado para longe sem nenhum esforço. Eu realmente não conseguia entender. Ele parecia forte de onde eu estava.
Então tive um estalo: ele não estava acostumado a brigas físicas. Ele era tímido e a maneira como se movia mostrava que tinha medo de machucar um deles, o que colocava os artesãos acostumados a lutar e empenhados em seus golpes em óbvia vantagem.
Nesta época perigosa, era incomum ver alguém tão desacostumado a lutar. Com seus músculos e físico, o anão poderia agarrar um deles e apertar o mais forte que pudesse, e seria bastante eficaz.
— Você quer uma luta, eu vou te dar uma luta!
— Par… pmfh?!
Ai. Parece que doeu.
A propósito, havia um motivo para eu estar só parado e observando: ninguém ainda havia sacado arma. Esta não era a sociedade pacífica do meu mundo anterior; aqui, era a norma até mesmo para artesãos andar com pelo menos uma adaga em seus cintos ou escondida em um bolso interno. Eles não haviam pego armas, e mais, não estavam ficando violentos contra ninguém. Em outras palavras, embora as pessoas aqui possam estar ficando irritadas, todas estavam exercendo pelo menos um mínimo de controle pelos padrões deste mundo.
— Briguem lá fora, vocês estão atrapalhando aqui, gmf!
— Apenas feche a matraca!
— Cai fora logo!
Achei que provavelmente deveria ficar assistindo um pouco mais. Afinal, o anão estava fazendo o possível para mantê-los afastados, e eles provavelmente tinham um motivo para brigar. Se eu, o lorde, interviesse de repente, tornaria tudo um grande problema e…
— Gaaaah. Ei! Segure esse cara para mim!
— Pode deixar, vamos calá-lo. Depois a gente continua!
E então, de forma confusa, os dois que estavam brigando começaram a se juntar. O anão sempre voltava para detê-los, não importava quantas vezes eles o socassem, então parecia que haviam chegado a um acordo de cuidar dele primeiro. Comecei a me perguntar se os dois geralmente não se davam muito bem.
— Abaixe-se e fique abaixado!
Um deles o agarrou pelo pescoço, enquanto o outro começou a lhe dar joelhadas repetidamente. Pensei que provavelmente já tinha ido longe o suficiente. Eu não me importava quando eram apenas dois homens lutando entre si com as mãos nuas, mas não podia suportar que se unissem contra outra pessoa.
— Vamos parar agora, tá? — Eu disse, entrando na taberna.
—Huh?! Quem…
— Não, outro…
Os dois se viraram para olhar para mim e congelaram completamente. Ambas suas bocas estavam abertas. Os clientes que estavam torcendo por eles fizeram o mesmo.
— Vamos parar agora. Não posso continuar a ignorar isso.
A cor sumiu instantaneamente de seus rostos vermelhos. Viu? É por isso que eu queria evitar… Bem.
— Não tenho intenção de fazer uma grande comoção por causa disso. Vocês beberam um pouco demais, só isso. Estou certo? — Eu olhei cada um nos olhos, procurando uma resposta. Eles acenaram com a cabeça repetidamente. Não tinha certeza se já tinha visto alguém assentir com tanta força. — Então por que vocês não pedem desculpas às pessoas aqui, vão para casa por hoje. Não se preocupe, não vou fazer nada. — Eu sorri.
Os dois se encolheram, eu não tinha ideia de por que eles estavam tão apavorados, e começaram a se desculpar com o anão e a garota da taberna com uma energia incrível. A alegria e a embriaguez do álcool pareciam muito vazias quando você ficava sóbrio.
— Nós causamos tantos problemas…
— Nunca deveria ter deixado a bebida nos controlar!
Desculpando-se profusamente, eles deixaram dinheiro para compensar pelos problemas que causaram e então partiram juntos. Então, vieram aqui juntos. Provavelmente eram bons amigos.
Eles deixaram para trás o anão cansado, a garçonete atordoada e o resto dos clientes. Agora, o que eu deveria fazer…
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O anão apanhou muitas vezes e parecia estar meio tonto, mas logo se recuperou. Especificamente, depois que eu acalmei todos, ele acordou antes que eu tivesse a chance de lançar uma bênção de reanimação nele. Ele era resistente.
— Ah… — Ele olhou em círculos e então, como se entendesse a situação, ficou de pé. — Obri-obrigado por…!
— Calma, calma. — Coloquei minha palma contra sua testa e o impedi de se curvar. — Você levou muitos golpes na cara e na cabeça. Você não deve fazer movimentos bruscos, como levantar-se rapidamente ou abaixar a cabeça.
— Ah… certo…
Expliquei a ele que mesmo quando não parecia muito, danos na cabeça podiam levar a situações que não eram brincadeira. Ele pareceu se acalmar depois disso. Pedi à garota da taberna que trouxesse uma cadeira para ele e fiz com que se sentasse.
— Além disso, uma toalha, resfriada com água do poço ou algo assim, por favor.
— Sim, senhor!
Percebi que havia muito menos clientes aqui agora. Faz sentido. Eles tinham vindo para a taberna no caminho de volta do trabalho, planejando reclamar e se soltar um pouco, e estavam apenas se divertindo assistindo uma luta que parou quando de repente o lorde apareceu e acabou com tudo. Qualquer pessoa que quisesse ficar longe de problemas obviamente encontraria outro lugar para beber.
Refleti sobre os problemas que havia causado ao lugar enquanto estendia a mão na frente dos olhos castanhos do anão.
— Quantos dedos tem aqui?
— Três.
— Tudo bem, isso é bom. Você se sente enjoado ou com frio? Dor de cabeça?
— Nada.
— Qual é o seu nome?
Ele ficou em silêncio por um momento, como se decidisse o que dizer, e então finalmente falou: — Al.
Al não era um nome muito comum para um anão. Eles geralmente soavam mais ásperos e usavam muitas consoantes. Pode ser um apelido ou algo assim.
— Al. Beleza. Você já deve saber, mas eu sou William. Prazer em conhecê-lo.
— É-é muito bom conhecer você também.
Ele não estava tendo problemas para responder, e eu não conseguia ver nenhum sintoma perigoso, como convulsões ou sangramento nasal contínuo. Eu teria que prestar atenção, mas por enquanto ele não parecia ter nenhum problema. Ainda…
— Estou surpreso que haja tão pouco ferimento com você depois de levar um soco e até mesmo tomar joelhadas repetidamente assim.
— Resistência é meu ponto forte, — o moreno Al disse, sorrindo.
A bênção não era algo para usar quando eu quisesse, então era sempre melhor se um tratamento regular pudesse resolver o problema. Dei meus agradecimentos à garota da taberna e segurei a toalha molhada contra os lugares onde ele havia sido atingido.
— Mais uma coisa. Onde está o dono da taberna? Eu gostaria de me desculpar por aumentar a perturbação.
— Ah, meu pai está… acamado no momento… — A garota quebrou meu olhar e olhou para o chão com tristeza. Então era por isso que este lugar estava tão bagunçado.
— Você quer que eu dê uma olhada nele?
— Eu, eu nunca sonharia em pedir tanto de você, senhor…!
Estar em uma posição de importância realmente era frustrante.
— Não me importo. Meu deus ficaria com raiva de mim se eu abandonasse conscientemente uma pessoa doente. E um paladino não pode se permitir ser abandonado por seu deus; isso não seria nem mesmo uma boa tragédia nos dias de hoje. — Eu dei de ombros de brincadeira, e a expressão da garota também se suavizou. — Assim que ele se curar, eu o encorajaria a visitar um local de culto e fazer uma oferta.
— S-sim, é claro…!
— Tudo bem, então, Al. Eu já volto, então, por favor, descanse. — Fui até os aposentos da taberna.
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A doença do dono da taberna não era muito séria. Era apenas uma doença de pele. Mas como isso afetava sua aparência, era compreensível que ele não pudesse trabalhar. Ele teve que considerar as impressões que dava aos clientes e os rumores que poderiam se espalhar.
Coloquei minha palma da mão contra as áreas afetadas e orei. Melhorou imediatamente.
— Ahh…
— Muito obrigado… muito obrigado…!
— Deus da chama me deu esse poder. Então, por favor, mostre seu apreço por ela, — eu ri.
— U-hum, que tal… pagamento ou… doações… ou…
— Muito e muito, por favor.
— Huh?
— Muito e muito apreço. Dê apenas o dinheiro ou coisas que você pode dispensar; tudo que eu peço é que tudo o que você der esteja cheio de sentimentos de gratidão pelo deus da chama.
O pai e a filha riram da minha piada de mau gosto.
Isso foi algo que o Bispo Bagley me disse há muito tempo. Se você não buscasse pagamento para curar pessoas, no final das contas, não pagar se tornaria o padrão, e todo o sacerdócio seria pressionado. Sentimentalmente, eu queria curar as pessoas de graça, mas os sacerdotes não podiam sobreviver com o ar mais do que qualquer outra pessoa, então pude ver que era necessário buscar pelo menos um pouco em troca.
— Nesse caso, por que não cozinho algo para você? Agora, se você quiser!
— A comida do pai é muito boa!
— Oh, uau, eu adoraria isso. Acontece que pulei o jantar hoje por acidente…
Assim que estávamos de bom humor, voltamos à taberna e encontramos Al consertando a porta. Pensando bem, a porta quebrou, não foi, quando ele…
— Peraí, o que você está fazendo?!
— Eu estava entediado só de ficar sentado…
— Você está ferido, você deveria estar, uau!
A porta e seu trinco destruído estavam agora quase completamente consertados, apesar do fato de que ele só poderia ter usado ferramentas e materiais improvisados.
Eu tinha dezessete anos de solstício agora e já vivia neste mundo há dezesseis anos. Madeira e artesanato não estavam além da minha compreensão e eu poderia até mesmo fazer algumas coisas, mas era isso que eu sabia.
— Uau…
Sua habilidade estava em um nível diferente.
Era apenas uma solução rápida e casual, mas isso tornou a diferença na habilidade ainda mais óbvia. Em um espaço de tempo muito curto, ele fez um belo trabalho de reparo.
— Ooh!
— Já é algo.
O dono da taberna e sua filha ficaram igualmente impressionados.
— Não, não é nada mesmo… Não comparado a você, William… — Al, entretanto, falou olhando para o chão. — Você é forte e corajoso e… — Parecia que ele não tinha muita confiança em si mesmo. Por causa das minhas memórias da minha vida anterior, eu podia meio que entender como ele se sentia. Mas isso era mais uma razão…
— Você deveria parar de dizer coisas assim.
— Huh?
Eu me agachei e olhei para ele, olhando-o nos olhos. Ao me lembrar da maneira como Maria havia falado comigo, percebi que estava falando um pouco mais educadamente do que de costume. Se eu tivesse ficado deprimido assim, ela provavelmente teria dito algo como…
— Pare de se azarar chamando-se de fraco e covarde de uma forma indireta. As palavras têm poder. Poder para amarrar e amaldiçoar as pessoas.
Seus olhos castanhos vacilaram hesitantemente.
— Uma coisa é um inimigo amaldiçoar você, mas, por favor, pare de colocar essas maldições em seu próprio coração. Você não acha que pelo menos deveria ser o maior aliado do seu coração?
Na minha vida passada, eu também não tinha sido capaz de controlar isso, então eu não era realmente de falar. Mas, apesar disso, falei com firmeza e com um sorriso. Houve momentos em que era importante fingir, independentemente do que você poderia ou não ter conquistado no passado.
— C-certo!
Fiquei feliz em ver que Al parecia estar sentado um pouco mais reto.
Tradução: Erudhir
Revisão: Merciless
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