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O Paladino Viajante – Vol. 02 – Cap. 01.2

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O resultado: ninguém morreu.

Depois de derrubar Menel, consegui neutralizar o resto de seus dez fortes bandidos com relativa facilidade usando as Palavras do Sono e Paralisia. De um jeito ou de outro, um ataque terrível fora evitado e, embora houvesse algumas pessoas feridas, não tive problema em curá-las com minha bênção.

Por causa disso, recebi muitos agradecimentos das pessoas da aldeia como “um guerreiro sagrado de bom coração”, mas quando o sol começou a subir na praça da vila em sua periferia, meu rosto demonstrava nada além de desprazer.

No centro da praça havia algo como um pequeno santuário, onde uma pilha de pedras de formas irregulares fora empilhada. Era um santuário dedicado aos deuses bons. Eu poderia imaginar que ele foi criado empilhando pedras que os aldeões haviam desenterrado enquanto cultivavam os campos e não sabiam o que fazer. Nesse sentido, provavelmente era também um monumento aos seus esforços agrícolas.

Se o costume aqui era o mesmo que Gus havia me ensinado, discussões importantes eram frequentemente realizadas diante dos deuses em pequenas aldeias como esta, às vezes, enquanto faziam juramentos para eles. Mesmo no meu mundo anterior, havia muitas regiões que realizavam assembleias e votações importantes diante de seu deus. Neste mundo, no entanto, onde os deuses podiam exercer sua influência sobre a realidade, esse costume carregava um significado ainda maior.

Neste exato momento, nesta praça com seu santuário, os homens da aldeia estavam discutindo sobre como lidar com os agressores da aldeia, que foram paralisados e amarrados.

— Pela centésima vez…

— Pendure os vermes! Fim de discussão!

— Ouça o que eu falo para você!

— Primeiro, ei! Eu disse primeiro…

— Eles de repente vieram e nos atacaram!

— Olha, isso não é o mais importante aqui!

Que bagunça. Na verdade, parecia que todo mundo estava apenas gritando um com o outro.

Isso era horrível.

Por um momento, fiquei imaginando por que eles estavam se comportando assim, e então de repente percebi algo sobre os aldeões. Eles tinham tons de pele diferentes, cada um tinha um sotaque diferente, e em sua agitação, alguns estavam gritando furiosamente vocabulários grosseiros que eu não tinha ouvido nenhum outro aldeão falar.

Quando percebi isso com surpresa, um homem de meia-idade se aproximou de mim.

— Descurpe, sinhô, pela exibição vergonhosa. Sô muito grato. — Ele inclinou a cabeça para mim. Percebi que esse era o mesmo homem que encontrei antes, um dos dois que haviam sofrido o primeiro ataque de Menel. — Sô John, sinhô.

— Ah, de nada. Hmm… Meu nome é William. Uhh… Então…  — Ignorando as pessoas gritando um com o outro por enquanto, tentei entender melhor as coisas através de John.

Assim como eu tinha ouvido falar de Menel ontem, eu estava atualmente na Floresta das Bestas, Southmark. As florestas eram profundas e expansivas, com criaturas ferozes e “bestas” ainda mais perigosas correndo soltas. Como resultado, John explicou, a influência do Reino Fértil que governava esta área não se estendeu até aqui.

— Vamo dizê, nóis tem muitas personalidades… interessantes…

Criminosos, servos fugitivos, aqueles que fugiram das nações caídas, aspirantes a aventureiros ainda tentavam fazer seus nomes caçando nas ruínas, todos os tipos de pessoas que, por uma razão ou outra, não podiam viver na cidade naturalmente se reuniram e formaram esta aldeia. Aparentemente, havia várias aldeias espalhadas por essas florestas.

Naturalmente, os lugares de origem dos colonos, suas normas e suas percepções do direito variavam enormemente. Não é de admirar que eles estivessem assim quando tentaram realizar uma reunião. Eu simpatizava com a situação difícil deles, mas ao mesmo tempo…

Fico pensando o que vai acontecer com eles. Olhei para Menel. Ele estava preso pelas Palavras de teia e paralisia e deixado no chão; não conseguia ver a expressão dele de onde eu estava.

Se você formasse um grupo e invadisse uma aldeia em uma área além do alcance da lei, então falhasse e fosse capturado… Eu tinha que admitir que o que aconteceria com você era meio previsível.

Menel seria morto nas mãos dos aldeões e deixado pendurado… ou algo nesse sentido, imaginei.

Isso deixou um gosto amargo na minha boca. Eu podia sentir que estava agindo de forma branda, um remanescente da minha vida passada, mas ainda havia algo que me dificultava.

Por mais egoísta que fosse, a ideia de que as pessoas que eu capturei iriam morrer, que, em essência, eu causaria a morte de outras pessoas, não era algo com que eu queria ser confrontado, nem queria a justiça brutal da máfia, foi uma das primeiras coisas que consegui ver ao entrar na civilização. Além disso, mesmo que ele fosse um bandido, não me sentia bem com a perspectiva de ver alguém que eu conhecia, alguém com quem conversei, morrer na minha frente paralisado.

Quero dizer, depois de deixar a cidade, achei que o primeiro lugar que encontraria seria uma área de periferia com lei e ordem ruins, então eu estava preparado para as coisas ficarem um pouco difíceis, mas nunca esperei que fosse ficar tão ruim assim tão rápido.

Lutar contra bandidos é um tropo clássico de aventura e história, mas agora que eu os encontrei na vida real, percebi o quanto eram difíceis de lidar. Você não poderia simplesmente mandá-los embora e não esperar problemas depois. Enquanto eu estava me perguntando se havia algo que pudesse fazer.

— Tamem num sei o que vai acontecer com eles.

— Você não sabe? — Inclinei minha cabeça. Em uma situação como essa, eu estava esperando que qualquer solução que eles resolvessem provavelmente envolveria matar os invasores.

— Eles são familiares. Nossos vizinhos, se quiser chamar assim, da aldeia próxima. Ah, eu digo vizinhos, mas eles num tão tão pertos de nóis. Tá um dia de caminhada entre nóis pela floresta e um riacho.

— Huh?

A aldeia vizinha os invadiu? No meio do inverno? Sem qualquer aviso?

— Eles num estavam bem, nóis tamem num tá, mas eles têm provisões suficientes, até onde eu sei… Eu diria que eles eram legais com as pessoas desses bosques, e pensei que nóis estava nos dando muito bem.

Hmm. Isso soou misterioso.

— O que mais, o elfo de cabelos prateado, tem uma boa reputação por perto como um caçadô. E nos ajudô muintas vezes a eliminar bestas perigosas. Muintos de nóis deve nossas vidas a ele. Num entendo isso.

Eu estava começando a ver de onde vinham as dúvidas de John e tinha apenas concordado quando notei uma mudança em todos os gritos na reunião.

— Muito bom, muito bom, — disse um velho, batendo palmas e gritando. — Tenho certeza de que todos vocês estão cansados de falar. Por que não bebemos água?

Parecia que todo mundo havia gritado até a rouquidão neste momento. O velho deve ter esperado aquele momento perfeito para participar da reunião.

Ele era baixo, com cabelos quase brancos, e usava uma bengala. Ele parecia amigável, mas tinha um olhar que me dizia que era um homem para tomar cuidado. A pequena cicatriz perto da sobrancelha esquerda era muito distinta. Parecia uma velha ferida de lâmina.

— Esse véi cavalheiro é Tom, — John me disse, prestativo. — E é o ancião da aldeia.

Enquanto o jarro de água estava sendo passado, Tom começou a falar.

— Tudo certo. Vocês não precisam parar de beber, mas gostaria que vocês ouvissem o que tenho a dizer por um momento. Primeiro de tudo, só para checar: os que estão aqui são principalmente da aldeia próxima, certo? E depois há o caçador de cabelos prateados.

O discurso do ancião tinha um fluxo suave que parecia me atrair. Porque ele cronometrou isso quando os aldeões estavam cansados de falar e agora estavam bebendo e pegando fôlego, todos aqueles homens que gritaram tanto não estavam fazendo nada para tentar interromper as palavras do ancião. Ele é esperto, pensei.

— John, acredito que você viu essas pessoas correndo por nossa vila ontem à noite, armadas. Isso está correto?

Todos olharam para John, que estava sentado um pouco longe dos outros na reunião.

— Sim, eu vi, Ancião, — ele respondeu calmamente, assentindo. — E fui sarvado por esse guerreiro sagrado.

— Hmm. Por favor, permita-me também expressar meus agradecimentos.

— Não há necessidade, — eu disse. — É, uh… Foi tudo graças à orientação do deus da chama.

— Então devo expressar minha gratidão a esse deus também, — Tom respondeu. Virando-se para o santuário, ele deu uma reverência informal de adoração e sorriu. Sua expressão me lembrou um pouco de Gus.

Ele rapidamente me lançou um olhar significativo, e enquanto eu ainda estava tentando entender o que exatamente isso significava, ele continuou.

— Bem, vamos ver. Por enquanto, podemos supor que enquanto estamos discutindo isso, você nos protegerá caso algo aconteça?

— Hmmm…

Parecia que Tom queria que essa conversa se dirigisse para obter uma explicação dos bandidos. Ele queria chegar ao ponto em que poderia dizer que seria seguro liberar paralisia porque eu estaria por perto para proteção se eles começassem a ficar violentos novamente. Pensei um pouco e respondi:

— Pela chama de Gracefeel, vou proteger todos aqui.

A razão pela qual mantive o objeto dessa frase vago foi apenas no caso de eu descobrir que esta vila tinha uma boa razão para ser atacada. Dependendo das circunstâncias, também posso ter que proteger os agressores.

— Então estaremos seguros, mesmo que nos ataquem de novo, — Tom disse, sorrindo levemente. Ele parecia ter percebido minhas intenções. — Todos, acho que devemos começar por levantá-los e fazer algumas perguntas. O que vocês acham?

Um dos aldeões que estava bebendo água terminou de beber com um suspiro audível de satisfação.

— Ancião, — ele disse, — num acho que seje uma boa ideia não. O sinhô começa a sentir pena deles. Coisas assim tem que ser feita rápido. Enforque logo.

Eu pude ver algumas pessoas concordando.

As pessoas distantes provavelmente estavam razoavelmente acostumadas a coisas difíceis como essa. O fato de que eles conheciam seus atacantes provavelmente tinha muito a ver com isso também.

— Certamente você deve concordar que é perigoso permanecer ignorante dos fatos? Além disso, não seria bom fazer o guerreiro santo que nos ajudou achar que temos algo a esconder. — Tom parecia ter deixado os aldeões de lado. Ele se virou para olhar para mim.

Eu acenei de volta.

Menel pode ter uma personalidade agressiva, mas não parecia uma pessoa que gostava de matar por prazer e roubar seus bens. E embora eu tivesse entretido a possibilidade, não parecia que as pessoas desta vila soubessem a razão por que merecessem ser atacadas também.

O que diabos aconteceu aqui? Qual foi a razão pela qual essas pessoas atacaram seus vizinhos?

Enquanto refletia sobre esse mistério, fui de pessoa para pessoa e desfiz as Palavras.

 

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Depois de desamarrar as pessoas da aldeia vizinha e pedir-lhes que se explicassem, uma situação apareceu que foi ainda mais terrível do que a anterior.

— Demônios. Nossa aldeia foi destruída por demônios…

— Muitas pessoas morreram.

— Eles trouxeram bestas que eu nunca tinha visto…

Resumindo o que disseram: Sua aldeia, que ficava a cerca de um dia daqui, aparentemente foi devastada por um ataque de demônios e das bestas que eles trouxeram consigo. Cerca de metade dos aldeões foram mortos, vários edifícios foram queimados, e aqueles que tiveram a sorte escapar com suas vidas não tinham para onde ir. Com mulheres, crianças e feridos para proteger, eles foram deixados para simplesmente esperar a morte na amargura do inverno, sem comida, abrigo, um teto ou uma única posse.

Essa era a situação em que estavam quando…

— Fui eu quem sugeriu saquear, — Menel disse baixinho, cabisbaixo. — Eles não teriam chance de derrotar demônios apoiados por bestas. Em vez de simplesmente deitar e morrer, sugeri que fossem buscar algo em algum lugar próximo, encher a barriga e ir para outro lugar. Qualquer outro lugar.

Aparentemente, Menel passou por aquela aldeia enquanto rastreava o javali e rapidamente entendeu sua situação. Então ele caçou o javali para satisfazer suas necessidades imediatas e voltou com a carne congelada. Foi quando ele sugeriu saquear e reuniu os homens para realizar um ataque noturno.

Do ponto de vista deles, essa aldeia provavelmente não podia se dar ao luxo de receber muitos refugiados e, mesmo que tentassem pedir ajuda, eles poderiam ver a rejeição chegando. Se a aldeia estava preocupada com eles se tornarem ladrões, poderiam até ser atacados. Nesse caso, poderiam muito bem se tornar ladrões, atacar antes que a aldeia entendesse a situação, pegar as mercadorias e fugir dos demônios.

Em um lugar onde o poder do reino não alcançava, certamente era uma decisão lógica em uma crise. Mas então, Menel…

— Você não morava naquela aldeia, certo? — Perguntei. — Por que você fez tanto por eles?

— Marple, a velha senhora da aldeia, — ele disse brevemente. — Ela fez muito por mim.

— O que aconteceu com Marple? — Tom perguntou, franzindo a testa.

— Eles disseram que ela morreu.

— …Entendo. — Ele assentiu em silêncio.

— Fui eu quem sugeriu isso. Me enforque. Conduzi os outros para o caminho errado. Deixe eles irem. Por favor.

A discussão foi lançada na desordem. Gritos e berros começaram a ser trocados de um lado para o outro: alguns chorando, — O caralho que podemos fazer isso, enforquem todos, — outros diziam que eles deveriam encontrar alguma maneira de oferecer proteção a velhos conhecidos, enquanto outros insistiam que não podiam fornecer nada.

John e Tom usavam expressões impiedosas.

— Ancião…

— Hmm.

Eles estavam em uma situação em que os demônios destruidores das aldeias estavam bem próximos, mas antes que a discussão pudesse começar, primeiro tinham que julgar essas pessoas, que eram seus vizinhos e originalmente vítimas. Deve ter sido frustrante.

— Temos uma dívida com o caçador, e eu simpatizo com a situação de nossos vizinhos… No entanto, — ele disse dolorosamente, — eles devem ser enforcados.

Mesmo que os aldeões os libertassem, eles ainda não teriam nenhum lugar para ir e provavelmente planejariam outro ataque. O que significava que agora que haviam atacado, a aldeia não tinha escolha a não ser matá-los, tanto para sua própria proteção quanto para salvar a sua honra.

Mesmo que circunstâncias inevitáveis levassem os invasores a isso, os aldeões ainda os matariam por segurança; eles não tinham nem os métodos nem os recursos para salvá-los. Os atacantes também sabiam que, mesmo que tivessem pedido ajuda, nenhuma misericórdia ou tolerância lhes seria concedida, e foi por isso que não tiveram escolha senão optar por métodos violentos desde o início.

Ser racional significava ser cruel. Essa era a preocupação exata que meus pais tinham expressado sobre o mundo exterior. O estado das coisas aqui fora era de fato tenebroso.

Muitas pessoas teriam chamado isso de situação sem esperança. Eles teriam dito que esse era o tipo de violência e crueldade frequentemente encontrado em lugares remotos, e nada de bom poderia vir de se juntar a ele.

Eu não tinha motivo para intervir nesse incidente nem dever de me envolver para começar. Poderia apenas fingir que não tinha visto nada e continuar indo para a cidade ao norte. Eu tinha certeza de que encontraria uma maneira de me encaixar se encontrasse uma área urbana um pouco mais civilizada. Não havia sentido em me envolver em cada dificuldade que encontrasse.

Eu sabia que seria a decisão sábia.

Mas.

Minha mãe me disse que queria que eu fizesse o bem, amar as pessoas sem ter medo da perda. Meu pai me disse para sempre seguir em frente e ter confiança no resultado, para não deixar minhas preocupações me segurarem. E as palavras deles ainda estavam no meu coração.

E então decidi dizer:

— Foda-se ser sábio, — e dar um pequeno, mas ousado passo à frente.

— Com licença!

Por causa das palavras que meus pais me deixaram, para manter o juramento que fiz ao meu deus, eu tentaria mudar a “situação sem esperança” diante de mim.

 

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Levantei minha voz o mais alto possível, e para meu alívio, todos se viraram em minha direção. A enunciação era importante para usar a magia das Palavras de forma eficaz. Eu estava usando o treinamento que Gus tinha me dado ao máximo.

Espalhando meus braços exageradamente para chamar ainda mais a atenção, escolhi minhas primeiras palavras cuidadosamente…

— Isso pode ser resolvido com dinheiro?!

Os olhos dos aldeões pareciam como se pudessem sair de suas órbitas. Continuei, tentando ficar um passo à frente de sua compreensão.

— Compensação. Dinheiro de indenização. Vocês têm esse tipo de costume?

De acordo com Gus, era costume em muitas regiões que quando algum tipo de erro fosse cometido, o assunto poderia ser resolvido com um pagamento de prata ou gado em vez de sangue. O conhecimento que eu tinha da minha vida anterior apoiava essa afirmação. Tais costumes eram seguidos em regiões de todo o mundo, da germânica à celta, ao russo e ao escandinavo. Eu li em algum lugar que ainda existia em algumas áreas islâmicas dos dias modernos, onde você poderia escolher entre qisas ou diya… retaliação ou compensação.

Nesse ritmo, o sangue seria derramado. Se pudesse resolver isso com dinheiro, então era isso que eu ia fazer. Eu podia imaginar o que Gus diria: “Como o dinheiro é maravilhoso… pode até comprar sangue e retribuição!”

— Es… Espere, espere! Claro, nós fazemos isso, mas quem diabos vai pagar?

— Esses caras não têm mais do que as roupas em seus corpos!

Eu tenho uma resposta. Além do mais, não era “dinheiro de indenização?! Como você se atreve!”, mas sim uma questão prática de quem pagaria. Se eles tivessem rejeitado a ideia, as coisas ficariam complicadas, então agradeço muito pela oportunidade que me deram.

Dentro da minha cabeça, a maquinaria mental que Gus havia me equipado estava sendo acionada.

— Eu vou pagar!

Murmúrios novamente se espalharam pela multidão.

— Acalme-se, todos. — Tom acalmou os aldeões, então me perguntou: — Por que, guerreiro sagrado?

— É porque os demônios são meus inimigos mortais e causaram a morte de meus pais. — Enquanto eu exagerava um pouco para parecer mais convincente, não era mentira. Era verdade que Maria e Sanguinário morreram, pois enfrentaram as forças demoníacas. — E eu sou um sacerdote que tem a proteção de meu deus. Fiz um juramento ao meu deus, o deus da chama, para afastar o mal e trazer a salvação para aqueles que estão tristes. Se demônios malignos fizeram mal a essas pessoas, então essas pessoas terão meu auxílio.

Eu declarei minha posição enquanto me levantei e gesticulei dramaticamente. Esses truques falados também vieram de Gus.

— Além disso, os demônios não podem ser deixados de lado e ocupar aquela aldeia. Eu vou lá para acabar com eles. Sendo esse o caso, você, o homem ali… — Eu apontei para Meneldor. Ele estava olhando para mim, estupefato. — Você é um caçador talentoso que conhece a floresta, não é? Eu gostaria de contratá-lo para rastrear os demônios. Você será bem pago.

O zumbido de conversas surgiu dos aldeões mais uma vez. Se eles pudessem recuperar sua aldeia sitiada, não haveria necessidade de lutar entre si. O rancor excepcional poderia ser resolvido com dinheiro de indenização. Todos ganham, com a única exceção de um guerreiro sagrado benevolente que ninguém conhecia de Adão, que sofreria uma perda razoavelmente grande.

Eles conversaram entre si e não demorou muito para que chegassem ao mesmo entendimento. O fato de eu ter jogado algumas moedas de ouro e prata na frente deles também deu um empurrão efetivo.

— Cê tem certeza disso, sinhô? — John me perguntou. — Esse acordo é bão pra nóis, mais naum pro sinhô…

Eu sorri de volta para ele.

— Se você ganhar com essa situação, então foi os deuses abençoando a todos por suas boas naturezas, — eu disse enquanto orava ao meu deus por um pequeno milagre. — Gracefeel, deus da chama, soberano das almas e samsara, está cuidando de suas vidas com olhos de misericórdia.

Enquanto eu falava essas palavras, o milagre que desejei apareceu. Uma pequena chama se levantou diante do santuário da praça da aldeia dedicada aos deuses virtuosos. Um suspiro baixo veio dos espectadores, que gritavam palavras de gratidão e ofereciam suas próprias orações.

Eu ajudei pessoas em uma crise derramando o mínimo de sangue possível. E embora eu possa ter exagerado um pouco na apresentação, lembrei a eles que Você existe também. Sofri uma pequena perda financeira, mas como Suas mãos, como Sua lâmina… talvez a maneira que eu superei essa situação não foi tão ruim…?

Depois que eu sussurrei isso em minha mente, tive a sensação de que em algum lugar, meu deus tinha me dado um pequeno sorriso.

 

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Conversei com todos, e nós tivemos um representante de cada aldeia participando de uma cerimônia para resolver o mal-entendido.

Assim que isso foi feito, comecei a proteger os sobreviventes da aldeia atacada por demônios que eram fisicamente incapazes de participar do ataque, como mulheres, idosos e crianças. Eles estavam amontoados ao redor de uma fogueira na floresta, tremendo de frio. Estavam com medo de mim no começo, mas depois que pedi para que Menel explicasse a situação, rapidamente entenderam.

Muitos deles ficaram feridos ou começaram a pegar resfriados, então os curei usando as bênçãos Fechar Feridas e Curar Doença. Então, pedi para a primeira vila para abrigá-los temporariamente, com a promessa de que seria apenas até que eu retome a vila que foi atacada.

Eles os abrigaram de braços abertos, embora eu tivesse certeza de que não havia um pingo de boa vontade no motivo pelo qual eles o faziam. Foi só que nós fizemos um acordo; eles provavelmente também estavam considerando o valor de mantê-los como reféns contra os homens, que eles também foram forçados a aceitar por enquanto. Dito isto, a proteção era proteção, e fiquei feliz por isso.

Imaginei o que aconteceria se eu morresse tentando recuperar a vila. Era possível que eles se tornassem incapazes de apoiar as pessoas que abrigaram e fossem forçados a matá-las. Enquanto orava pelo santuário, pensei em como eu tinha que vencer a todo custo.

Meneldor se aproximou de mim.

— Qual é o seu objetivo?

― Hm? É o que eu disse. Não estou escondendo nada. — Eu não podia ignorar a propagação dos demônios, e queria impedir que todos matassem uns aos outros. Tudo o que fiz foi tomar as medidas necessárias para que isso acontecesse.

— Oh, certo, já estou trabalhando para você. Acho que é mais fácil pedir perdão do que permissão.

Oops. Não era assim que deveria ser. Senti que era importante conseguir a aprovação de Menel.

— Posso contratá-lo para recuperar a vila e rastrear os demônios?

Ele franziu a testa.

— Uh, irmão? Eu incitei pilhagem e assassinato. Tem certeza de que não precisa julgar-me, ó guerreiro sagrado?

— Eu já fechei o livro, pagando-lhes uma compensação. E você não fez isso por escolha, certo? Você não podia abandonar a vila… a vila que ajudou você… em sua hora de necessidade.

Eu poderia dizer que um pecado era pecado. Todos eles, inclusive Menel, tecnicamente tinha a opção de deitar e morrer sem machucar ninguém, e se fossem capazes de escolher essa opção, isso seria muito nobre.

Mas escolher roubar de outro em vez de aceitar a morte não era desprezível; era natural. Ainda mais se tivessem pessoas como mulheres e crianças, que eles sentiam a obrigação de proteger.

— Eu prefiro não julgar uma pessoa normal tomando uma decisão normal se eu puder ajudar…

Ele disse desanimado:

— Já pensou que eu poderia guardar rancor e te esfaquear pelas costas?

— Se eu morrer, são os aldeões que sofrem. — Pelo menos até eu recuperar a vila dos demônios. Eu não podia imaginar que o caçador de cabelos prateados na minha frente fosse incapaz de pesar os ganhos contra as perdas.

Menel finalmente desviou o olhar.

— Você é uma presa fácil. Alguém vai roubar você em breve, e isso será o seu fim.

— Talvez sim. — Eu não pude deixar de sorrir. Esse era um futuro que eu poderia imaginar. Lembrei-me de que não podia continuar tirando do presente de Gus; tenho que ganhar dinheiro em algum lugar para recuperar a quantia que gastei.

— Keh. Seja como for, irmão. Trabalharei para você. Preciso do dinheiro para eles, de qualquer maneira.

— Yep. Obrigado por sua ajuda.

Os lábios de Menel se curvaram cinicamente e ele assentiu.

— Sobre esse assunto, o que vamos fazer então, mestre?

— Seguir em frente, eu acho? Não podemos nos dar ao luxo de perder tempo…

Isso foi seguido por um silêncio e um olhar de repreensão.

Eu… eu tinha um plano… de sorte… Mas talvez eu devesse ter esperado que ele fosse contra isso. Talvez eu tenha sido um pouco descuidado…

— É, você está certo. — Surpreendentemente, ele assentiu. — É melhor nos movermos rápido. Quer dizer, há uma boa chance de os caras da aldeia se tornarem mortos-vivos.

Fiquei em silêncio. Eu tinha esquecido.

Assim como este mundo era preenchido com a proteção dos deuses virtuosos, ele também era preenchido com a proteção benevolente do deus da morte, Stagnate.

Era extremamente raro o deus da morte invocar diretamente heróis talentosos, fazer um contrato com eles e criar mortos-vivos de alto nível, como aconteceu com Maria e Sanguinário. No entanto, devido à natureza generalizada da proteção dos deuses, não era nada especial para uma pessoa que morreu com arrependimentos persistentes se levantar novamente como um dos mortos-vivos, e isso poderia acontecer por qualquer razão, incluindo inimizade, confusão ou simplesmente a morte vindo de repente.

— Não há necessidade de dar aos caras da aldeia uma visão de seus pais, irmãos e filhos mortos-vivos. Nós provavelmente devemos matá-los rapidamente se pudermos.

Eu balancei a cabeça em concordância.

— Tenho que devolvê-los ao samsara antes que comecem a vagar e se percam.

Eu só precisava localizá-los, e poderia devolvê-los ao samsara com a bênção do deus da chama. Mas eu não podia fazer nada sobre almas perdidas que não tinha como encontrar. Eu tinha que agir antes disso acontecer.

— Mas nós temos uma chance contra os demônios na vila? — Menel perguntou. — Se há um grupo inteiro deles, e eles também têm bestas…

— Sim.

Bem… sim, pensei. Eu não acho que essa parte será um problema, Menel. Afinal, eu estava acabando com demônios mortos-vivos dia após dia, sob aquela cidade dos mortos, então agora…

— Estou acostumado…


 

Tradução: Erudhir

Revisão: Merciless

 

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