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O Paladino Viajante – Vol. 01 – Prólogo

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Minhas lembranças da morte eram confusas e turvas. Eu passei a maior parte dos meus dias em um quarto escuro. Tinha estragado tudo. Em algum lugar, eu estraguei alguma coisa. Tornou-se quase impossível para eu sair de casa.

As interações da minha família comigo não eram lá grandes coisas. Eles não repreendiam, nem se lamentavam. Eles simplesmente me davam sorrisos vagos e olhares perturbados. Davam discursos vazios e agiam como se tudo estivesse bem. Talvez fosse gentileza, ou tudo o que eles sabiam fazer. Mas o que quer que fosse, para mim, era veneno.

Logo depois, um sentimento de inquietação começou a me consumir por dentro. Quando chegou ao ponto de eu querer me abrir e arrancá-lo… Minha casa e meu quarto, que me proporcionaram um pouco mais de conforto do que incômodo; o medo e a angústia que o mundo exterior inspirou; e minha família tolerante, que permaneceu sempre gentil, juntos, eles me fizeram hesitar em dar esse único passo em frente.

Eu poderia ser capaz de começar de novo… no dia após estragar tudo, ou no dia seguinte. Até uma semana, um mês, um ano, uma década depois. Se eu tivesse dado esse passo, algo poderia ter mudado. Mas não dei. Não pude.

Eu não tive coragem de dar esse passo. Era como se estivesse faltando algo que eu precisava, algo que me daria um empurrão. Ou talvez fossem apenas desculpas. Cada momento de hesitação me dava outro motivo para desistir.

— É tarde demais. O que se foi se foi. Eu não sei mais o que fazer. Eles só vão rir de mim se eu começar agora.

A inquietação cresceu dentro de mim, mas tudo parecia precisar de muito esforço. Eu queria agir, mas estava muito apavorado para aceitar. Eu queria fazer alguma coisa, mas não tinha ideia do que fazer. A vida estava difícil, mas eu não tinha o ardor que alguém precisava para morrer.

Comia a comida que me davam, consumia entretenimento barato e vivia na inércia. Eu era como a água que ficou estagnada. Com medo do fracasso, desviei os olhos do meu destino e me entreguei à insensatez, meio ciente da decisão que tomei.

A razão pela qual minhas lembranças da morte eram tão obscuras, era, com certeza, porque minha própria vida foi extremamente confusa e indistinta. Um quarto escuro. Uma vida onde dia e noite eram invertidos. A luz de um monitor. O taque-taque de um teclado. Fragmentada e caótica, as memórias iam e vinham.

E… essa memória, que era ligeiramente mais nítida que as outras. O som de um motor. Um carrinho de mão passava levando um caixão branco. Um som frio e mecânico acompanhava o fechamento lento e inflexível da porta do incinerador. Era uma das poucas imagens vívidas deixadas na minha vaga memória: a morte dos meus pais. Perguntei-me se tinha derramado lágrimas enquanto estava lá, com meus pais reduzidos a fragmentos de ossos e cinzas. Tudo estava envolto de névoa. Havia uma coisa daquela memória que eu conseguia entender. Aquele evento chegou tarde demais para ser meu trampolim. Os dias ficaram turvos de novo. Em algum momento, eles chegaram ao fim. As lembranças da minha morte eram confusas e turvas. Deve ter sido porque minha própria vida foi extremamente confusa e turva. Memórias iam e vinham. A dor rasgou meu coração por dentro. Lágrimas caíram. Eu soltei um gemido. Logo, a dor parou.

Tudo ficou preto.

E no meu último suspiro, pensei ter visto uma chama fraca.

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— Ahh…

Acordei de minhas lembranças confusas e turvas.

Vislumbrei um teto lúgubre… e das sombras, um crânio apareceu diante de mim. Chamas azuis habitavam suas órbitas oculares vazias. Com o queixo fazendo barulho, o esqueleto esticou a mão lentamente em minha direção.

Eu gritei involuntariamente. O som que saiu de mim parecia anormalmente agudo.

Como uma criança pequena, pensei. Para começar, percebi que minha voz não era a única coisa que parecia estranha. O braço que movi instintivamente diante de mim, era curiosamente pequeno e curto. Na verdade, era rechonchudo, curto e pequeno. Era um braço que pertencia a um bebê.

Crânio! Esqueça o braço! Concentre-se no crânio! E onde eu estava? O que aconteceu?

Meus pensamentos em pânico saltaram de um lugar para outro, recusando-se a acalmar. Eu decidi tentar me aquietar por um momento. Queria permanecer calmo e observar racionalmente a situação

— ■■■■…

E então o esqueleto passou o dedo ossudo na minha pele.

— Aaaaahhhh?! — Uma parte do meu cérebro começou a me amaldiçoar. Estamos em uma situação como esta, e você espera que eu fique calmo? Eu me debati na tentativa de escapar.

Era um esqueleto ambulante. Um monstro. Uma aberração. Uma coisa que não é deste mundo.

Um encontro repentino com essa coisa teria aterrorizado qualquer um. Comigo não era diferente.

E acima de tudo isso, eu parecia ser muito menor e mais jovem do que me lembrava. Minhas lembranças eram vagas, mas achei que conseguia me lembrar de ser magro e um pouco alto. No entanto, minhas memórias não combinavam com a minha anatomia atual. Imagine-se, como adulto, sentado em um velotrol com o qual brincou quando criança. Parecia assim, mas levado ao extremo.

— ■■■■…

Aparentemente, sem ter ideia do que fazer comigo, o esqueleto me pressionou contra o peito com o braço, então começou a me balançar ritmicamente de um lado para outro. Não importava o quanto me contorcesse em seus braços, ele continuava me balançando, com uma persistência incessante.

— Ah… — Finalmente, percebi. O balançar desajeitado do esqueleto era profundamente gentil.

Foi uma experiência difícil. O esqueleto parecia ter pouca experiência com esse tipo de coisa, e seus braços ossudos estavam longe de serem confortáveis. Ainda assim, não parecia estar pensando, digamos, na melhor maneira de me comer. Bem, provavelmente não.

É claro que eu não possuía habilidade de observação suficiente para ler expressões faciais de um esqueleto. Eu não poderia confiar muito nas minhas opiniões, e nem poderia baixar minha guarda. Mas, parecia que este esqueleto estava agindo de uma forma claramente amorosa. Quando olhei de perto para as chamas azuis tremulando em suas órbitas, senti como se elas tivessem um calor amigável. Esse pensamento me acalmou um pouco.

Pensando no que exatamente estava acontecendo, desviei minha atenção do esqueleto por enquanto e foquei no meu entorno.

Minha cabeça não podia se mover livremente, mas eu podia ver vários pilares grandes e majestosos, bem como numerosos arcos. Havia um óculo no meio do teto abobadado, através do qual passava uma luz fraca. Senti-me bastante confiante de que estava dentro de casa, mas o lugar parecia terrivelmente antiquado e imponente. Lembrei do Panteão da antiga Roma, que eu já vi em fotos.

Mas eu não poderia dizer mais do que isso.

Algo que deveria estar morto estava se movendo por algum motivo, e eu parecia ter me tornado muito menor e mais jovem. Organizei o que sabia no fundo da minha mente, mas antes que pudesse embarcar em uma busca por mais pistas, meus pensamentos começaram a ficar confusos. Mover-se me cansou.

O esqueleto ainda tentava, de um jeito estranho, acalmar-me para dormir.

Meu corpo balançou lentamente, agora parecia que eu estava sendo balançado por ondas suaves.

Deixei as ondas me levarem, e lentamente adormeci.

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Quando acordei, um velho mal-humorado com o nariz adunco estava olhando para mim. Ele era azul-claro e semitranslúcido. Ou seja, eu poderia ver quase através dele. Ele era inconfundivelmente um fantasma.

Eu reprimi um grito.

Então, eu estava sendo pego. Eu olhei para cima para ver uma mulher que era só pele e ossos, cada um tão seco quanto o outro. Isto é, ela era uma múmia.

Eu retive desesperadamente o grito.

Algo estava surgindo na frente do meu rosto e olhando para ele. Era o esqueleto que eu havia encontrado antes de adormecer.

— Aaaaaaaaaaaah?! — Finalmente, meu grito saiu. Eu berrei. Chorei, chutei e lutei. Mas, talvez por causa do estado atual do meu corpo, rapidamente me cansei e fiquei com fome. A energia que eu precisava para resistir violentamente, desapareceu.

— ■■■■…? — O velho fantasma olhou para o meu rosto e fez ruídos indistintos para a múmia. Ela trouxe uma tigela contendo algum tipo de mingau branco de algum local desconhecido. Pegando um pouco com uma colher, ela levou à minha boca. Que mantive firmemente fechada, sem pensar duas vezes.

Digo, não é como se eu pudesse pensar em algum motivo bom para abri-la.

Ninguém sonha em ouvir “Abra a boca!” antes de receber um amontoado de sabe-se lá o que de uma múmia velha e seca.

O que eu estava cara a cara nesse momento parecia nada mais do que as fotos daqueles monges mumificados que você sempre acabaria vendo nos livros de história, que passaram fome para alcançar a iluminação. Ela era o estado final e arruinado da forma humana, seca como uma árvore morta.

Quem quer experimentar dizer “A”” para algo assim? Não conseguia imaginar nem uma única pessoa que quisesse. E se tal pessoa realmente existisse, eu, por exemplo, não gostaria de ser amigo dela.

Agora, depois de tudo o que disse, estava me sentindo desesperadamente faminto. E não havia outra maneira óbvia de conseguir comida na minha situação atual. Minha fome e sono eram irresistivelmente fortes, provavelmente como resultado do meu corpo mais jovem. Então eu pensei comigo: Para o inferno com isso! Então abocanhei a colher toda.

Na verdade, estava muito bom. Minha memória me dizia que comida de bebê era sem graça, mas acho que minha língua era tão subdesenvolvida quanto o resto do meu corpo.

O esqueleto acariciou minha cabeça, como se dissesse “Bom menino”.

— Hãã…?

 

Naquela hora, cheguei a uma conclusão surpreendente. Algo foi colocado na minha boca antes que percebesse. Não havia dentes nela. Não é de se admirar que minhas tentativas de falar continuassem sendo engraçadas.

Entendo. Então bebês não têm dentes. Bem, isso era novidade para mim. Se eu tivesse alguma experiência em cuidar de crianças, poderia ter usado isso para descobrir em que estágio de desenvolvimento eu estava. Aha! Sem dentes, mas sem amamentação, isso faz com que eu tenha alguns meses de vida! Algo parecido com isso ocorreria. Mas esse tipo de experiência familiar calorosa não se encontrava em lugar algum em minhas lembranças. Eu não sabia que tipo de coisas que se esperaria de qualquer adulto razoavelmente maduro.

Não há muito para mim, eu me peguei pensando.

Eu havia morrido tendo acumulado nada mais que conhecimentos superficiais e anos. Ah… é claro. Eu morri. Definitivamente morri naquela época. Apesar de todas as minhas memórias turvas e confusas, a agonia da morte ainda estava profundamente gravada em mim. Este lugar confuso, onde eu estava cercado pelos mortos-vivos, é a vida após a morte? Se Deus existir, esse era o Seu castigo?

 

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Cerca de meio ano se passou.

Eu disse “cerca” porque adormecer e acordar novamente constantemente torna a passagem dos dias um pouco confusa. Acontece que os bebês realmente passam muito tempo dormindo, depois acordam porque ficaram com fome. Parecia que eu estava em um longo e estranho sonho ou visão, e assim minha mente era capaz de sobreviver ao tédio de estar constantemente na horizontal.

A única informação que consegui ganhar, foi que a minha situação não era nem sonho nem visão. Parecia muito vívida e realista. E eu não podia imaginar o que teria que dar errado para uma pessoa começar a ter visões de ter sua fralda sendo trocada por um cadáver reanimado.

Fui forçado a aceitar que era um bebê incapaz de fazer qualquer coisa mais avançada do que rastejar, passando meus dias aos cuidados de três criaturas mortas-vivas.

Depois de algum tempo, comecei a entender o que falavam.

Era a teoria de alguns linguistas — o nome deles fugiu da minha memória — que o cérebro de um bebê não era uma lousa completamente vazia, mas em vez disso possuía desde o nascimento a capacidade de construir e aprender firmemente uma linguagem a partir dos sons ao redor. Embora minhas lembranças ainda fossem vagas, parecia que ainda conseguia me lembrar um pouco do meu conhecimento antigo.

— Ba… Ba… — Tentei usar minha língua e garganta para produzir uma palavra, mas eu ainda tinha que dominar esses órgãos, então não estava indo muito bem.

Não conseguia me livrar do jeito que controlava meu corpo antes de morrer. Os dois estavam se chocando dentro da minha cabeça. O poder da fala, algo que eu havia dado como certo antes, era agora algo com o qual eu lutava. Da mesma forma, eu ainda não conseguia andar corretamente.

E se eu fosse ficar assim para sempre, incapaz de andar ou falar com satisfação? Esse medo me assombrou.

— Pronto, pronto. Quer um abraço? — Possivelmente percebendo minha ansiedade, a múmia sorriu, tentando me tranquilizar.

Ela usava um robe velho e surrado semelhante aos usados ​​pelos antigos sacerdotes, e os dois ao seu redor a chamavam de Maria.

Enquanto eu estava um pouco hesitante em julgar a beleza de uma mulher, para não mencionar uma múmia, senti que ela provavelmente era uma bela dama quando viva. Ela tinha um corpo esguio e um porte gracioso, com os olhos sempre voltados para baixo. Sua pele era como a casca de uma árvore morta, mas não possuía cicatrizes. A partir disso, senti que podia inferir as características faciais perfeitas que ela devia ter quando viva. Seu cabelo loiro ondulado tinha, reconhecidamente, crescido sem graça com a passagem do tempo, mas era volumoso e lindo.

— Por que não fazemos uma caminhada hoje?

Você vai me levar pra fora?!

— Hehehe, isso colocou um sorriso em seu rosto. — Ela podia perceber. Eu estava curioso sobre o que existia fora deste… templo?

No entanto, com este corpo, dificilmente poderia ir dar uma olhada. Eu estava esperando por uma oportunidade de ser levado para fora.

— Vamos lá! — Ela me pegou. Eu detectei algum tipo de fragrância leve e flutuante. Não era um odor desagradável. Uma espécie de madeira? Isso me lembrou do cheiro de perfume que se poderia esperar de uma velha senhora gentil.

Um pouco calmo, permiti-me apreciar a fragrância.

Maria me carregou em seus braços enquanto caminhava lentamente pelo templo mal iluminado.

Seu chão era um tabuleiro de xadrez de pedras quadradas. A luz suave entrava pela claraboia ocular no topo do vasto e imponente teto abobadado do templo. Havia alcovas nas paredes, que davam a impressão de um santuário japonês, e dentro delas havia esculturas do que supostamente eram os deuses desse templo.

Uma por uma, elas passaram pelos meus olhos enquanto caminhávamos.

Uma mostrava um homem imponente com um ar de seriedade, no auge da vida, portando uma espada em forma de raio em sua mão direita e uma balança na outra.

Outra era uma mulher corpulenta, com sorriso afetuoso, um bebê e um pacote de espigas de arroz segurados em seus braços.

Havia um homem bigodudo de estatura curta e corpulenta, com chamas surgindo de suas costas, e as mãos segurando um martelo e um alicate.

Um jovem andrógino sorria amigavelmente, segurando uma taça de vinho e várias peças de ouro, e rodeado pelo que pareciam ser pictogramas representando o vento que soprava.

Uma jovem bela, vestida com um tecido fino, submergia até a cintura em um riacho, segurando um arco com uma das mãos e estendendo a outra mão para o que parecia ser uma fada.

Um homem velho de um só olho que irradiava inteligência estava na frente de algum tipo de inscrição, segurando uma bengala e um livro aberto nas mãos.

Provavelmente os representantes de um panteão religioso politeísta, pensei. De alguma forma, senti que poderia dizer que tipo de crenças estava por trás de cada um desses deuses apenas olhando para suas estátuas.

Mas eu não tinha ideia sobre a próxima.

Não havia fundo. Talvez isso representasse a escuridão? A figura usava um manto com um capuz que cobria os olhos. Um clima obscuro e melancólico pairava sobre ele.

Sua única característica notável era o longo bastão que segurava, na extremidade do qual pendia um lampião. Francamente, esta estátua me deu a impressão imediata de um deus da morte.

 

 

 

Eu me senti estranhamente atraído por seu lampião.

Claro, não tendo como saber os pensamentos do bebê em seus braços, Maria continuou andando. Meus olhos seguiram a estátua até que deixou meu campo de visão.

Haverá outras chances de ver de perto, eu imaginei. Dei o meu melhor para me livrar da minha estranha obsessão.

Continuamos em frente, cada vez mais longe do olho no teto, meu entorno ficou mais e mais escuro, até que eu mal pudesse ver qualquer coisa. Seus passos ecoavam na escuridão.

Depois de algum tempo, Maria parou sob um arco gravado com videiras e apoiou a mão em uma porta de ferro de aparência robusta. Quando a porta emitiu um barulho alto, um raio de luz atravessou a abertura, depois se expandiu lentamente. Quando a abertura se tornou grande o suficiente, Maria saiu.

— Ah… — Meu campo de visão se abriu de uma só vez.

Um vento refrescante soprou.

Era madrugada e uma névoa fina da manhã pairava no ar ao pé da colina. Uma cidade de pedra estava espalhada abaixo de nós, construída à beira de um lago imenso. Senti-me na Idade Média, ou ainda mais anterior a ela. Eu podia ver torres altas e um aqueduto construído com uma série de belos arcos.

Tudo estava envelhecido e em ruínas.

Muitos dos telhados dos edifícios haviam desmoronado e o reboco das paredes havia caído, deixando os edifícios em péssimo estado de conservação. A grama crescia através de aberturas no pavimento de pedra das ruas, e vinha verde e musgos se agarravam aos edifícios. A cidade estava decaindo entre o verde, como se estivesse desfrutando de um cochilo calmo depois de toda a atividade que deve ter ocorrido aqui.

O sol da manhã brilhava suavemente sobre tudo isso.

Meus olhos se arregalaram. Era uma visão de tal magnificência, que abalava a alma.

Senti como se o vento tivesse percorrido através de mim, dos meus pés para a minha cabeça. O interior da minha cabeça parecia incrivelmente claro. Meu corpo inteiro, cada célula, sentiu o mundo. Eu senti como se tivesse me lembrado de algo muito precioso, algo que havia esquecido ao longo do caminho.

Por alguma razão, senti lágrimas escorrerem. Fechei meus lábios com força, tentando segurá-las, mas não fazia diferença. Elas escorriam dos meus olhos.

Eu tinha vivido uma vida indefinidamente obscura e confusa, e eu morri naquela névoa, nunca conseguindo escapar dela. Então, quando acordei nesse mundo, suspeitei que pudesse ser um castigo de Deus.

Mas isso não era castigo.

Eu não sabia onde estava. Não sabia o que estava acontecendo.

Mas eu tinha certeza: isso era graça. Deslumbrante e maravilhosa graça. Por bondade de seus corações, alguém me devolveu o que eu havia deixado inexplicavelmente de lado. Sem nenhuma evidência acreditei, sem sombra de dúvida, que esse era um presente caloroso e feliz.

— É encantador, não é, Will? Meu querido garotinho… — A voz era de Maria.

William. Will era a abreviação. Esse era o meu nome.

Era o nome que os três haviam me dado.

Meu nome antes de morrer foi engolido pela lama. Agora esse era o meu nome. Este minúsculo corpo era meu corpo. O corpo e o nome que pareciam pertencer a outra pessoa, pareciam repentinamente se encaixar, como se fosse assim que eu sempre fui.

— Ah… Ah… — Eu tentei falar, e minha boca se encheu de lágrimas. Eu não me importei. Forcei minhas cordas vocais imaturas a fazer barulho.

Eu disse a mim mesmo… Desta vez, eu ia fazer o certo.

Enquanto Maria me carregava em seus braços, eu queimei com determinação. Nada fazia sentido para mim ainda. Não sabia que tipo de mundo era esse, ou porque nasci aqui. Mas possuía tempo suficiente para entender essas coisas.

Meu conhecimento era escasso e eu não possuía habilidades, mas tinha todo o tempo que precisava para aprender. Tive o suficiente de estagnar, de ceder e abraçar meus próprios joelhos. Não me importaria de falhar. Não me importaria de me atrapalhar. Não me importaria o quanto de lama eu teria que atravessar.

Desta vez… desta vez, eu ia viver. Eu ia viver neste mundo! Gritei minha decisão com o gemido de um bebê recém-nascido.

 


Tradução: Erudhir

Revisão: Kakasplatt e Merciless

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