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O Paladino Viajante – Vol. 01 – História Paralela – Os Blocos para Construir um Sonho

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Era lua cheia. O forte estava cheio do cheiro de morte.

Os cadáveres das pessoas estavam lá. Corpos que haviam sido cortados até a morte, esfaqueados até a morte, mordidos e espancados até a morte. Corpos cobertos de lama, sangue e tripas. Ninguém jamais seria refletido novamente em seus olhos vagos.

Os cadáveres dos demônios estavam lá. Alguns com formas tomadas depois de humanos, alguns um cruzamento monstruoso entre homem e animal. Todos esses também estão cortados ou esfaqueados até a morte.

Os cadáveres humanos e demoníacos estavam espalhados por toda parte, emaranhados, entrelaçados. Eles haviam matado um ao outro.

Alguns perderam membros. Outros tiveram um ou ambos os globos oculares arrancados. Ainda outros tinham seus intestinos pendurados para fora de seu corpo. Alguns até expiraram em pares, com suas armas enfincadas nos pontos vulneráveis um do outro.

No pátio daquele forte, que era a personificação da palavra “horrível”, duas pessoas se encaravam.

Um era um homem. Ele era um homem muito grande com cabelos ruivos, usando uma armadura grossa de couro de besta. Ele tinha um corpo musculoso e bem forjado, cabelos longos e despenteados como um leão e olhos penetrantes. Seu nome era Sanguinário. Ele era um guerreiro.

Não dizendo nada, o homem segurou sua espada de duas mãos. Sua longa lâmina era grossa e afiada.

Uma figura enorme ficou de frente para Sanguinário. Quais comentários poderiam ser feitos sobre essa coisa? Era grande. Incrivelmente grande e grosso. Sua cabeça lembrava a cabeça de um cabrito montanhês selvagem, morador de cânion, com enormes chifres e um rosto oval. Mas seus olhos não eram os de uma cabra. Seus olhos tinham pupilas cortadas verticalmente, como um réptil, e embora não houvesse emoção nelas, havia certamente uma inteligência que não podia ser encontrada em feras selvagens.

Se olhasse abaixo do pescoço, seu corpo se assemelharia ao de uma pessoa. Seus braços estavam cheios de músculos grossos e cobertos de pelos preto curto. Tinha um peito volumoso. E finalmente, quando você olhava suas coxas musculosas até os pés, tinha estrutura e cascos de cabra. Sua forma era uma caricatura perturbadora, uma mistura de partes de cabra e partes humanas.

Segurava uma cimitarra enorme e desesperadamente grossa, que também se assemelhava a uma nata japonesa ou a uma faca de açougueiro. Esse demônio gigantesco, bem maior que Sanguinário, era conhecido, se você seguisse a classificação taxonômica, seria como um “Baphomet”.

— Ei, rei da fortaleza. — Era Sanguinário que falava. — Como vai?

O Baphomet não respondeu. Apenas ficou com a cimitarra pronta. Determinara que o homem à frente não seria um adversário fácil.

— Veja… Nós guerreiros somos ensinados a dar nossos nomes e um comentário ou dois antes de batalhar. — Sanguinário deu de ombros. — Demônios… malditos selvagens.

Talvez isso parecesse um momento de fraqueza. O Baphomet correu para frente, balançando sua cimitarra na direção do oponente.

No mesmo instante, a cabeça do Baphomet voou. Sanguinário havia corrido em direção ao Baphomet com o dobro da velocidade e decapitando-o.

Ele pulara diretamente no golpe do oponente, mas como ele havia empurrado sua própria espada para o adversário e o cortou, ele não sofreu nenhum arranhão. O corpo do Baphomet, agora sem a cabeça, desmoronou de joelhos e tombou no chão.

Ter lutado com um líder demônio em combate corpo a corpo e vencido em um único golpe? Este homem claramente tinha habilidades extraordinárias de espadas.

— Demônios. Malditos selvagens. — Sanguinário deu de ombros mais uma vez.

— Se você está chamando-os de selvagens, então eles são realmente ruins. — Uma voz nova e suave. Era uma voz imprópria para um campo de batalha que fedia a sangue.

Sua proprietária era uma mulher, que tinha o cabelo loiro luxuriante em um coque trançado. Sobre as vestes de sacerdote branco e verde, ela usava um cinto de espada, preso ao qual havia uma espada de uma mão e um pequeno escudo. A armadura de couro aos poucos que ela usava era ligeiramente malparada para ela, mas ela usava com confiança. Ela provavelmente tinha um certo grau de conhecimento das artes marciais.

Seu nome era Maria. Ela sorriu docemente para Sanguinário com seus lindos olhos verdejantes.

— Você está ciente da frase ”o pote chamando a chaleira de preto”?

— Ei, não mereço isso. Eu tenho estilo.

— Estilo. O homem cujo maior contentamento é se afogar em bebida, colocar carne em sua boca e ter um grande soco diz que tem estilo.

— Se isso não é estilo, o que é?

— Você está abrindo novos caminhos, Sanguinário. Infelizmente, na direção errada.

— Sanguinário, o pioneiro! Caramba, gostei disso. Ei, não me dê o tratamento silencioso.

Antes que suas brincadeiras amigáveis pudessem ir mais longe, o céu ao sul se iluminou com uma luz ofuscante. Momentos depois, aconteceu um som estrondoso e o chão tremeu sob eles.

Sanguinário assobiou.

— Parece que o time do Velho Gus conseguiu.

— Sim, é verdade, — Maria assentiu.

— Eu derrubei esse também. Eles não terão problemas para sair.

— Eu ainda não consigo acreditar que você derrubou uma fortaleza inteira sozinho. É honestamente ridículo, mesmo que fosse pequeno.

— Ah, que pena.

— Isso não foi um elogio. De qualquer forma… Eu vou dar a eles um funeral simples e evitar que eles se tornem mortos-vivos. É por isso que estou com você, afinal de contas. — Maria começou a fazer uma oração aos mortos ao seu redor. — Mater nossa Mãe-Terra. Gracefeel, deus do fluxo… Não deixe as almas dos mortos vagarem. Que não se demorem sob a proteção do deus da morte, enchendo o mundo…

Quando Maria ficou em pé, orando neste lugar infernal, Sanguinário a observou com um sorriso. Então riu e fechou os olhos.

— Ufa. Isso já está bom.

— Ótimo. Bom trabalho.

— Só… — Sua expressão era desanimada. — Quantos dias você acha que quebrar a ponte do desfiladeiro vai nos comprar?

— Bem, ou eles têm que sair por aí, criar uma magia em grande escala para remodelar o terreno, ou… o Rei Supremo poderia montar uma criatura voadora, então fazer mais tropas do outro lado. Eu diria alguns dias no máximo. — Sanguinário deu de ombros.

Maria respondeu com silêncio abatido.

— Sim, estamos praticamente ferrados, a menos que matemos o Rei Supremo.

— Eu ouvi dizer que Gus tem algo planejado… — Maria disse, sem parecer esperançosa.

Sanguinário assentiu.

— Você pode apostar que será uma passagem só de ida. Não vai ter volta. — Ele fez uma pausa e cruzou os braços. — E você não vai.

— Bem, isso veio do nada. — Maria revirou os olhos. — Eu sou um trunfo poderoso para você, se eu mesmo disser isso.

— Eu sei disso. Mas você ainda não vai. Não vou deixar você morrer. Só de pensar nisso me faz ficar mal. — O homem ruivo fez uma careta, como se tivesse imaginado tudo muito vividamente.

A sacerdote loira olhou carinhosamente para ele.

— Por que você não tenta pelo menos acrescentar ”Porque eu te amo”? — Ela brincou. — Mulheres gostam disso. Eu principalmente.

— Uma frase tão doce assim? Você quer que eu vomite arco-íris?

Maria deu uma risada resignada, seus olhos verdes brilhando.

— Você é realmente impossível… Tudo bem, e se eu insistir em ir?

— Eu vou mandar você de volta, mesmo que eu tenha que apagar suas luzes primeiro. — A voz de sanguinário era dura e fria. Ele havia feito claramente uma decisão firme. — Só você sabe, eu já recebi permissão do Velho Gus para isso.

— Entendo. Não adianta resistir, então. — Maria deu de ombros.

— Você é muito hábil, eu não vou mentir, mas você não é párea para o grande Sanguinário.

— Não, eu não sou.

Eles se conheciam há muito tempo. Algo assim era óbvio para os dois.

— Que tal isso, então? — Maria lentamente estendeu seus dedos indicador e médio. — Se você me deixar para trás, — ela descansou os dedos contra o pescoço como uma lâmina… — Eu vou me matar no local com a minha própria espada. — Seu sorriso era ofuscante.

A expressão de Sanguinário congelou. Não era um sorriso brincalhão. Era mortalmente sério.

— Vo… Você está…

— Você não me ouviu? Eu disse, se eu não posso ficar com você, vou me matar. — Ainda sorrindo, Maria caminhou até Sanguinário e olhou para o rosto dele. — Você vai me levar com você, não vai? — Ela inclinou a cabeça e sorriu para ele, aguardando uma resposta. Seu olhar era tão adorável quanto firme.

As bochechas de Sanguinário formaram uma careta horrível.

— Tão manipuladora…

— Isso é mulheres para você, Sanguinário. Você pode ser o homem mais forte que existe, mas um homem não pode superar uma mulher. É melhor você se acostumar com isso.

— Que negócio ruim. — Sanguinário inclinou o pescoço para trás e olhou para o céu. — Nunca conheci ninguém tão teimosa. Droga. Que bom, Sanguinário, você viu um pesadelo em roupas femininas.

— Oh? Você não fez um único movimento em mim e eu já sou sua?

— Isso é homem para você. — Um suspiro. — Ei… Maria.

— O que é? — Maria inclinou a cabeça ligeiramente para o lado novamente.

Sanguinário segurava as pontas finas dos dedos de Maria em suas mãos ásperas e olhava intensamente para seus olhos verdes.

— Se conseguirmos voltar vivo, vamos nos mudar para algum lugar e nos casar.

Ela deu uma risadinha refinada e silenciosa.

— Com prazer.

— Eu gostaria de encontrar um lugar em uma colina com uma bela vista ou algo assim. Em algum lugar quieto.

— Oh, parece legal. Eu posso imaginar a brisa agradável. Talvez pudéssemos ter uma horta, — Maria riu.

— E quando o nosso filho nascer, vamos fazer Velho Gus dar aula em casa.

Outra risadinha.

— Eu espero que o Velho Gus não fique feliz com isso. Ele vai concordar de qualquer maneira, é claro, ele só vai resmungar primeiro.

Ambos entenderam. As chamas de suas vidas quase se apagaram.

— E se ele for menino, vou ensinar artes marciais para ele! Ele terá minhas habilidades de luta, além da magia do Velho Gus. Ele será ultra-mega-forte, ainda mais forte que eu! O que você acha disso?!

— Tenho certeza que ele acabará sendo uma pessoa muito forte e inteligente que não tem ideia de como funcionar na sociedade humana.

— Oof! Isso machuca…

— Vou ter que ensiná-lo todas as pequenas coisas que ele precisa saber.

Eles próprios entendiam melhor do que ninguém que não tinham esperança de voltar vivos. Então isso era um sonho.

— Mas tenho certeza que nosso filho será adorável.

— Sim.

Apesar de saber que isso nunca aconteceria, eles criaram algo particular dentro de seus corações. Um desejo sincero. Uma felicidade que poderia acontecer. Algo cintilante, algo quente. Como crianças pequenas, rindo inocentemente ao fazer um castelo com blocos coloridos, eles construíram um sonho pequeno e ocioso.

— Aí sim. Que nome você gostaria de dá-lo?

— Já decidi se ele for um menino.

— É melhor não ser nada estranho.

— Eu faria isso? Há muito tempo, o Velho Gus me deu uma aula sobre as origens dos nomes, entendeu?

— E você gostou disso naquela época?

— Sim. Ele é nosso filho. Sem dúvida, ele vai ter uma força de vontade teimosa. — Sanguinário sorriu. — Então nosso garoto vai se chamar ‘William’. O que você acha? — Ele perguntou, e Maria sorriu de volta para ele.

— É um bom nome. Gostei também.

Will. William. Meu filho.

Como Maria cantarolou para si mesma, Sanguinário começou a andar, a mão dela ainda segurando a dele. Os dois partiram em direção à morte e à destruição, deixando para trás os blocos de construção de um sonho efêmero e ingênuo.

Ninguém sabia. Muito além de sua morte, destruição e anos após anos, dos resquícios de um sonho suave e cintilante, surgiria o pequeno e primeiro choro de uma criança.

— Fim —


 

Tradução: Erudhir

Revisão: Merciless

 

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