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O Paladino Viajante – Vol. 01 – Cap. 05

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 Um vento refrescante passou.

Era madrugada e uma fina névoa matutina pairava no ar ao pé da colina. Uma cidade de pedra estava espalhada abaixo de nós, construída à beira de um vasto lago. Parecia medieval, ou até mais velho. Eu podia ver torres altas e um aqueduto construído com uma série de belos arcos.

Tudo estava envelhecido e em ruínas.

Muitos dos telhados dos prédios haviam desmoronado e o reboco nas paredes havia caído, deixando os prédios em péssimo estado de conservação. A grama crescia através das aberturas no pavimento de pedra das ruas, e grama verde e musgo se agarravam aos edifícios. A cidade estava se decompondo entre o verde, como se estivesse desfrutando de um cochilo quieto depois de toda a atividade que deve ter ocorrido aqui.

O sol da manhã brilhava suavemente sobre tudo isso.

Foi aqui, nesta colina com vista para a cidade, que decidi fazer os túmulos de Maria e Sanguinário. Eu tinha tantas lembranças dessa colina do templo, onde você podia ver o lago e a cidade em ruínas. Foi por isso que decidi enterrá-los aqui.

Eu olhei por cima das sepulturas deles em silêncio.

Eu queria voltar aqui um dia. Sabia que não seria capaz de ver Maria ou Sanguinário novamente. E sabia que eles haviam retornado ao samsara. Mas pensei que gostaria pelo menos de vir a essas sepulturas e contar como cresci.

Eu queria mostrar a eles meus amigos e minha família, como era meu sonho. Para voltar como um adulto, o tipo de adulto que eles poderiam olhar e se tranquilizar, sabendo que seu filho estava vivendo uma vida adequada.

— Então vamos ficar separados por um tempo. — Coloquei minhas mãos juntas, e rezei em silêncio por um tempo. Então, disse aos dois túmulos que eu estaria a caminho.

— Tudo pronto?

— Sim. — Assenti com a cabeça. — Então, hum… — Não existia uma boa maneira de dizer isso. — Gus… Por que você não está morto?

— Essa é uma boa pergunta para fazer a um velho em seus últimos anos! Meu neto me quer morto! Demônio!

— Demônio?! Oh, vamos lá, isso dói! Eu só estava pensando em seus tesouros e como tudo vai ser meu quando você morrer!

Aha! O demônio confessou!

Nós estávamos apenas brincando. Muitas circunstâncias colocaram distância entre nós, então esta foi a primeira vez em muito tempo que eu fui capaz de brincar com Gus assim.

— Heh heh heh, — gargalhei, fazendo a minha impressão mais exagerada de um trapaceiro conivente. — Eu estou apenas oferecendo para dar um uso ao dinheiro morto que está lá parado sem fazer nada. O que diz, meu velho?

— Hmm, um bom ponto. Pegue então.

— Hã?

O rosto de Gus de repente voltou a ser completamente sério, e ele empurrou várias bolsas para mim. Eu olhei dentro delas.

Incontáveis moedas de ouro e prata brilhavam com a luz solar refletida da manhã. Havia jóias preciosas, anéis, pulseiras, botões, broches, alfinetes e prendedores de capa. Até mesmo fitas e faixas com fio de ouro e prata entremeadas nelas.

Hã. Legal. Uma fortuna.

SANTO DEUS! — Eu quase derrubei tudo em choque, mas consegui segurá-los desesperadamente.

— Você esperava menos da minha fortuna? Vou emprestar para você sem interesse. Faça crescer. Eu ensinei como, — Gus disse, e sorriu.

— M… mas… isso é… isso é…

— O dinheiro que fica lá sem mudar de mãos é, como você diz, morto. Não gosto de dinheiro estagnado. Você disse isso, eu acredito. Viva e morra como deveria ser. O dinheiro é o mesmo, — Gus deu de ombros. — Faça o dinheiro trabalhar para você. Até que seja feito o seu trabalho, certifique-se de que mude de mãos e não fique estagnado.

Essa foi provavelmente uma atitude em que Gus se orgulhava.

— Eu não posso estar lá para ver isso acontecer mais, você entende.

— Gus… — Eu inclinei minha cabeça para ele e agradecidamente peguei o tesouro. Preparei-me para dizer adeus. Esta provavelmente seria a última coisa que eu…

— Dito isso, não vou a lugar nenhum por pelo menos mais dez anos.

Quê?

— Bem… quero dizer… Você entende… Há a questão do selo do Rei Supremo que precisa ser protegido. Se os demônios quebrarem, estamos acabados. — Gus me lançou um olhar sério. — Então, ontem à noite, seu deus veio com uma revelação para mim e tivemos uma pequena discussão. Recebi permissão para ficar aqui nesta cidade pela próxima década, até que o deus da morte recupere sua força.

Minha boca abriu como um peixe. Como ele tinha conseguido isso?! O que Gracefeel estava pensando?! Eu vi a necessidade, mas… realmente?!

— Eu pareço ter me tornado algo parecido com o Arauto de Gracefeel agora.

Após uma inspeção mais próxima, a sensação de “impureza” que eu sempre tive de Gus estava mais fraca agora. Ele até se sentiu mais como um espírito santo. Mas então não conseguiu…

— Eles me disseram que não queriam isso, — Gus disse, como se tivesse lido meus pensamentos. — Se eles tivessem outra década, eles se tornariam gananciosos. Eles começariam a se agarrar à vida. Depois de ficar uma década, por que não outra? E outra? Pelo menos até você morrer. Entende? Eles sabiam que começariam a pensar dessa maneira. É por isso que eles escolheram seguir em frente. Eles estavam colocando uma cara corajosa, mas em seus corações, eles estavam berrando como você.

Ouvir isso me deixou sem palavras. Eles se recusaram a trapacear até o último momento, apesar de saber o tempo todo que havia um caminho.

— Um velho excêntrico é mais que suficiente para essa posição de ganância, — Gus deu de ombros.

Eu concordei que Gus provavelmente poderia lidar com isso. Ele cumpriria seu dever como o protetor do selo com facilidade, e quando chegasse o décimo ano e chegasse a hora de partir, ele deixaria este mundo sem uma única palavra de queixa. Eu tinha certeza disso. O vovô Gus sempre foi vida loka.

— O que fazemos sobre o selo depois de dez anos?

— Aparentemente, você tem dez anos para pensar em algo. — Passando o dinheiro inteiramente, huh. Graças a deus. — Ela me disse que a fé nela diminuiu um pouco lá fora. Ela usou força considerável apenas intervindo em nossos problemas.

— Huh?

— Parece que o futuro do deus da chama é outra coisa que repousa sobre seus esforços.

Eu ainda não havia saído e sentia que mais e mais bagagem, tanto tangível quanto intangível, estava sendo empilhada em minhas costas. Então era assim que um “destino áspero” parecia!

— De qualquer forma, tenho certeza de que você vai precisar de dinheiro. Vá em frente, pegue logo.

— Sim. Parece que tenho muito o que fazer. Muito obrigado. — Enfiei o tesouro em vários lugares da minha pessoa e voltei ao meu equipamento como uma segunda verificação.

Roupas pesadas na parte superior e inferior. Luvas de couro, botas robustas. Uma mochila grande com muitos bolsos. Bolsas de cinto. Um par de botas extra. Cobertor, panela, comida com uma longa vida útil, cantil, faca de sobrevivência, machadinha, caneta-tinteiro, pergaminho, corda, uma muda de roupa e uma lona grossa para acampar. Depois havia os itens menores: um pouco de licor para usar no lugar de sais aromáticos; agulhas, fios e tecidos de vários tamanhos; um pequeno pote de sal grosso. Todos estes eram importantes.

Para a armadura, eu estava usando a malha de mithril que um dos cadáveres daqueles heróis falecidos usava na minha luta contra o deus da morte. A coisa boa sobre isso era que era extremamente leve. Era forte e, no entanto, dificilmente parecia que eu estava usando armadura. Coloquei mais uma camada no topo da armadura para escondê-la.

Depois coloquei um manto com capuz e o prendi na frente com um dos fechos de capa que Gus me deu. Eu havia costurado um talismã com Palavra de Proteção entre as camadas de pano que compunham o capuz, fornecendo à minha cabeça algum nível de proteção.

Eu agora tinha sido marcado pelo deus da morte, por isso era vital encontrar um bom equilíbrio entre o peso da minha bagagem e a força do meu equipamento. Comecei a pensar sobre meus antigos jogos de computador e como seria útil ter uma bolsa que pudesse conter itens infinitos. Infelizmente, eu não tinha nada tão conveniente, então eu teria que fazer o meu melhor sem um.

E finalmente minhas armas. Minha lança, Lua Pálida; minha espada de uma mão, Devoradora; e meu escudo circular.

Amarrei uma bela fita ao redor da base da lâmina da Lua Pálida para personalizá-la um pouco. Era uma lâmina de um grau menor que Devoradora, mas mesmo assim, foi a primeira coisa que ganhei em batalha, era útil, e eu tinha uma queda por isso.

Devoradora, no entanto, era uma história diferente. Apesar de desempenhar um papel tão importante na minha batalha contra o deus da morte, envolvi-a em pano velho e couro. Eu me senti meio mal com isso, mas, assim como Sanguinário havia dito, essa espada era forte demais, seu efeito era muito cruel. Era um objeto perigoso, não era para ser usada, mesmo que eu quisesse. Não era o tipo de coisa para usar como minha arma principal. Era um último recurso.

Por um tempo, considerei se deveria pegar o escudo, mas isso se provou modestamente útil várias vezes, e imaginar-me sem isso me assustou. Os escudos não eram muito empolgantes, mas havia uma grande diferença entre ter um e não. Para tentar torná-lo menos pesado, coloquei um cinto para que eu pudesse facilmente carregá-lo por cima do meu ombro, mas parecia que ia adicionar um monte de peso.

Eu tinha esse kit de viagem pronto e organizado por um longo tempo. Fiquei em silêncio por um tempo, lembrando o quanto Maria e Sanguinário me ajudaram a prepará-lo.

— Will. — A voz de Gus me despertou do meu momento de melancolia. — Se você está indo para o mundo, provavelmente vai precisar de um sobrenome. O nome ‘William’ foi dado a você por eles, então eu estava pensando que seu sobrenome poderia vir de mim. O que você acha?

― Hm? É raro ouvir você dizer algo assim, Gus. Claro, se você quiser. — Eu não tinha nenhum motivo especial para recusar, então aceitei, pensando nele como seu presente final de despedida.

— Então eu acho que vou pegar emprestado de um costume usado por certas tribos de elfos e halflings.

Hã? Elfos e halflings? Por quê?

— O costume nessas tribos é que o sobrenome é determinado pelos nomes da mãe e do pai — Gus disse, com uma expressão solene. — Sanguimari. Você é William Sanguimari.

Eu mastiguei a palavra. “Sanguimari.” William Sanguimari. Estava bom. Como se fosse feito sob medida para mim.

— Leve seus nomes com você enquanto você for. Afinal, vaguei o mundo todo. Agora é hora de você vagar. Só você e seus pais. — O homem chamado Sábio Errante deu de ombros.

— Sim. Obrigado. Eu gostei muito desse sobrenome.

Eu terminei minhas verificações finais. Enrolei meu cinto de bolsa em volta de mim, pendurei minha espada, carreguei minha mochila e outras bagagens nas minhas costas, joguei meu escudo sobre o ombro e peguei minha lança na minha mão. Eu era muito forte, fisicamente falando, mas a quantidade que eu estava carregando era mais que suficiente para me fazer sentir o peso.

— Beleza. Cuide-se, Gus. Eu voltarei novamente.

— Hmm.

Troquei um pequeno adeus com Gus, desci a colina e então, me virei e gritei de volta para ele, sorrindo e acenando.

— Eu adicionarei um ‘G’ ao meu nome do meio!

— Idiota! Meu nome começa com um ‘A’! As minhas lições não te ensinaram nada, você não sabia? — Eu podia ouvir Gus rindo de volta.

— Você sempre será o Gus para mim! Vovô Augustus é basicamente um trava-língua! — Eu gritei de volta para ele, gargalhando alto.

— Hmph. Que neto sem esperança! Tudo bem então. Adeus a você, William G. Sanguimari!

— Adeus, Gus! Vejo você de novo algum dia, conte com isso! — Nós acenamos um para o outro.

Então fixei meu olhar em frente e comecei a avançar, sem olhar para trás. Havia vestígios de uma rua antiga que outrora se estendia junto ao rio, afastando-se do lago ao lado da cidade. Decidi descer e segui-la para o norte. Segui para o mundo exterior, banhado pelo esplendor do sol da manhã.

O Paladino Viajante 1: O Garoto na Cidade dos Mortos

Finis

 


 

Tradução: Erudhir

Revisão: Merciless

 

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