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O Paladino Viajante – Vol. 01 – Cap. 01.3

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Deixei escapar um grito falso e corri, Sanguinário correu atrás de mim, rindo. Mesmo quando brincávamos assim, era uma oportunidade para ele me ajudar a treinar meu corpo e me ensinar todo tipo de coisa.

Como atirar pedras. Não de mãos nuas, como jogar pedras sobre a água. Algo mais útil em uma situação de batalha.

Descendo a colina, no lado oposto da cidade, passando por um campo com fileiras de lápides, havia uma floresta densa. Sanguinário e eu estávamos nos movendo agachados, cada um de nós segurando uma longa corda que tínhamos feito entrelaçando muitas longas folhas de grama. Numa extremidade da corda, havia um laço do tamanho de um dedo para evitar que escorregasse e, no meio, tínhamos tecido uma malha grande o bastante para caber uma bola de ping pong.

Era uma arma chamada de estilingue. Eu me lembrei que na minha vida anterior, pessoas como Davi do Antigo Testamento e o herói irlandês Cú Chulainn também usaram esse tipo de arma. Existia no Japão também, onde era chamado de inji-uchi.

Havia uma boa quantidade de pássaros selvagens perto da borda da floresta. Coloquei meu dedo médio no laço da corda, encontrei uma pedra adequada e coloquei na malha. Então eu pressionei levemente a outra ponta da corda entre meu dedo indicador e meu polegar. Depois de balançar o estilingue algumas vezes para aumentar a velocidade, soltei meus dedos com precisão, arremessando a pedra contida na malha. Enquanto a corda permanecia presa a mim graças ao laço em volta do meu dedo, a pedra voou em direção ao bando de codornas que bicava algo do lado de fora da floresta. Acertou uma diretamente no lado. Segundos depois, houve um tremendo bater de asas, e todos os pássaros voaram de uma só vez.

— Bom! Bom trabalho! Vá conferir! — Sanguinário gritou.

Eu olhei para ele para vê-lo jogar sua própria pedra no meio do bando que escapava. Um deles caiu do céu. Eu corri uns dez metros até a codorna que acertei, enquanto me perguntava como iria ficar tão bom.

A codorna estava se contraindo; ainda havia vida nela. Estava lutando sem sucesso para se afastar de mim, achei que sua asa poderia estar quebrada. Parecia tão lamentável que, por um momento, não pude deixar de sentir pena…

— Não deixe que ela sofra! Quebre seu maldito pescoço logo!

Estimulado por sua voz, segurei a codorna com o pano grosso que tinha preparado. Eu podia sentir ela lutando através do pano. Depois de impedi-la de resistir com o bico e as garras, apliquei pressão total. Senti a fisicalidade horrível de seu pescoço se partir e a codorna ficou instantaneamente e completamente frouxa.

A uma curta distância, Sanguinário estava pegando seu próprio pássaro. Deve ter morrido no impacto, porque não vi ele terminar o serviço.

Os grandes olhos redondos de minha codorna tinham perdido completamente o brilho. Quando Sanguinário se aproximou de mim, juntei as mãos juntas, como Maria me ensinou, e rezei para que o pássaro descansasse em paz.

— Se acostumou a matar?

— Na verdade ainda não.

Caçar e matar animais, isso também fazia parte das lições de Sanguinário. Mas matar pesava muito em mim. Eu não conseguia me acostumar com isso. Não podia matar sem emoção, sem hesitação. Eu me perguntei se minhas memórias da minha vida anterior estavam me segurando.

— Eu não quero matar. — Eu estava apenas sendo infantil?

― Hm? Você acha que eu quero?

— Huh?

Sanguinário deu um leve dar de ombros.

— Olha, se eu me deixar pensar nisso por muito tempo, eu não quero matar também. É claro que resisto à ideia de matar, seja uma pessoa ou um pássaro. Mas você precisa entender…

Sanguinário parou e cutucou meu peito com a ponta do dedo.

— Se eu precisar, posso deixar isso de lado e matar por reflexo. Esse é o caminho de um guerreiro, e é isso que estou tentando ensinar a você. Porque no campo de batalha, é uma questão de vida ou morte.

Então, ele tirou o corpo da codorna das minhas mãos. Amarrou as pernas umas com as outras e pendurou-as por cima do ombro.

— Tudo bem. Vamos pegar mais algumas.

— Vamos.

Eu podia sentir muito cuidado nas palavras e ações de Sanguinário. Mais uma vez, pensei: que pessoa maravilhosa ele é.

 

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Os pássaros que matamos estavam, é claro, destinados à mesa de jantar. Voltei depois de ter sido jogado no chão por Sanguinário e Gus para encontrar Maria já pronta para preparar a comida.

A codorna, com as penas arrancadas e as entranhas removidas, haviam sido temperadas com sal e ervas do jardim ao lado do templo. Então elas foram assadas ​​e colocadas em um prato. Ainda estavam quentes e a gordura pingava delas. Minha boca se encheu de saliva enquanto o delicioso cheiro de carne cozida permeava a sala. Além disso, havia uma sopa com todos os tipos de legumes e pão multicereais grosso e lindamente colorido. Eu não podia esperar.

Maria riu baixinho.

— Não se preocupe, a comida não vai a lugar nenhum. Agradeça antes de comer.

— Tudo bem! — Era política de Maria que eu sempre sentasse e orasse antes de comer. Juntei as mãos como sempre fiz e pronunciei as palavras que me ensinaram. — Mater, nossa Mãe-Terra, deuses de boa virtude, abençoem esta comida, que por amor misericordioso estamos prestes a receber, e deixe nos sustentar em corpo e mente.

Eu estava vivendo uma agenda regular na minha nova vida, acordando de manhã, treinando com Sanguinário, aprendendo com Gus e comendo a comida que Maria fazia para mim. Era um grande desvio da minha vida passada, na qual eu acordava quando quisesse, comia o que quer que fosse, e ficava no meu quarto na frente do meu monitor. Meu relógio biológico foi bagunçado, e meu estilo de vida desleixado levou minha saúde a um declínio lento.

Só agora, renascendo, finalmente entendi como era um grande erro. Um corpo enfraquecido leva a uma mente enfraquecida. Eu não ia deixar isso acontecer novamente.

— Pela graça dos deuses, estamos verdadeiramente agradecidos.

As codornas que capturamos eram ricas em sabor e pegajosa o suficiente. A gordura as deixava verdadeiramente deliciosas. Havia muito osso e pouca carne, mas estava tão bom que eu não me importava. Ocupado demais para falar, eu sempre escolhia a carne dos ossos.

De vez em quando, eu pegava o pão, cujo sabor simples limpava perfeitamente meu paladar do sabor forte da carne. Às vezes eu limpava os sucos da carne no meu prato com ele, que também era ótimo. A sopa também era salgada apenas o suficiente e parecia que esquentava todas as partes do meu corpo exausto. Era realmente um jantar feliz.

— Isso é realmente delicioso, Maria.

Dando outra risadinha.

— Estou feliz que você esteja gostando.

No entanto, um mistério permanecia. Um grande mistério.

Maria, Gus e Sanguinário eram todos mortos-vivos. Eles não comiam. Não podiam comer. Portanto, não havia necessidade de produzir alimentos, nem de guardá-los. Na verdade, eu não tinha visto nenhum sinal de que eles tivessem cultivado campos grandes. Até mesmo o pequeno jardim aparentemente havia sido restaurado depois da minha chegada e, embora tivesse vegetais e ervas, não havia grãos crescendo ali.

As ruínas da cidade à qual este templo pertencia estavam claramente afastadas da sociedade humana, por isso não havia lugar onde se pudesse comprar ingredientes. Além de ingredientes como sal e mel, que não estragavam, qualquer comida que estivesse nas ruínas não teria acabado de apodrecer agora, mas não teria se tornado nada mais do que um pó seco ou uma mancha no chão.

Levantei a questão: de onde este pão veio? Onde eles conseguiram os grãos? O forno?

Claro, pensei na possibilidade de que eles poderiam ter feito a comida com magia. Eu já havia provado que a graxa poderia ser feita, então se você dissesse “pão” ou “carne de porco” nas Palavras da Criação, talvez a mana assumiria essa forma?

Depois de alguma investigação, a resposta foi “não”. Você poderia, Gus me disse, fazer algo parecido com comida, e faria você se sentir satisfeito se a comesse, mas estava além da capacidade humana de criar comida nutritiva com magia.

Eu lembrei a citação de Gus sobre isso, “Nenhum homem pode encher seu estômago engolindo suas próprias palavras.” parece ser muito divertido. Mas eu senti que o verdadeiro coração da questão era que nós não entendíamos completamente as Palavras da Criação, e não tínhamos informações suficientes sobre as criaturas deste mundo. Proteínas, vitaminas e outros detalhes do que constituía valor nutricional ainda não foram descobertos aqui, portanto não houve nenhum progresso na análise das Palavras relacionadas a essas coisas. Como resultado, a tentativa de criar pão só daria origem ao produto final da dieta, que parecia pão, mas continha zero calorias.

Essa explicação parecia fazer muito sentido para mim, de qualquer forma. Eu tinha ouvido falar que colocar a antiga linguagem de magia em uso médico, que obviamente envolvia mexer com o complicado corpo humano, era um campo difícil no qual pouco progresso havia sido feito. Isso pareceu apoiar minha teoria.

Voltando ao assunto, meu ponto era este. O fato de que havia comida suficiente para eu ter algo para comer todos os dias era, por si só, anormal. E, no entanto, o fato da questão era que sempre tinha algum tipo de comida aqui, todos os dias. O que significava que deveria haver algum outro fator que eu não tinha considerado.

— Ei, Maria. Este pão… De onde você tirou?

— Segredo.

Tantos mistérios.

 

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Foi simplesmente desconcertante. Não importa como eu pensasse sobre isso, não poderia chegar a outra conclusão.

Suas três histórias eram desconcertantes, a origem da comida era desconcertante e, acima de tudo, eu mesmo era um enigma. Certa vez fiz a suposição simplista de que eu poderia ser uma criança abandonada, mas até agora isso parecia suspeito e por um motivo. Eu nunca vi fumaça.

Recentemente me ocorreu o pensamento de que, nesse nível de civilização, onde houvesse um assentamento humano, também deveria haver fumaça de fogos de cozinha. Então eu estava prestando mais atenção aos meus arredores procurando por alguns, mas não importava a hora do dia, e não importava em que direção eu olhasse, não conseguia ver nada disso.

É claro que eu não sabia realmente como a fumaça visível de uma fogueira seria a distância, mas consegui lembrar o conhecimento aproximado de que havia um método para calcular a distância até o horizonte. Você deveria fazer um triângulo retângulo com um lado igual ao raio da Terra, e outro igual ao raio da Terra mais a altura dos seus olhos, e aplicar o teorema de Pitágoras. Se me lembro bem, deu entre quatro a cinco quilômetros por aí. Claro, se eu poderia aplicar isso diretamente a este mundo ou não parecia duvidoso, mas seria bom o suficiente para referência.

Aqueles quatro ou cinco quilômetros seriam ainda mais compridos, com um ponto de vista mais alto, motivo pelo qual os navios em busca de terras tinham um mirante com boa visão no alto de um mastro. Da mesma forma, coisas mais altas que o solo além do horizonte poderiam ser vistas além dele. Por exemplo, montanhas e fumaça.

Portanto, se uma criança cuja visão não fosse ruim fosse procurar uma fumaça alta do topo de uma colina, conseguiria ver pelo menos algumas dezenas de quilômetros. Mas não havia fumaça para ser vista. Em outras palavras, não encontrei nenhum sinal de habitação humana.

Quanto a como tudo isso estava relacionado à teoria da “criança abandonada”, era bem simples. Se eu fosse uma criança abandonada, então deveria ter um pai biológico ou alguém que não poderia continuar me criando. Alguém tinha que ser responsável por me abandonar.

Eu não tinha nem um ano quando percebi minhas lembranças da minha vida passada, e que os corpos de bebês eram frágeis. Se alguém fosse abandonar um bebê, provavelmente não levaria para algum lugar muito longe. Certamente não havia necessidade de se preocupar em viajar até aqui, para esta cidade arruinada habitada por mortos-vivos, claramente a dezenas de quilômetros de qualquer sociedade humana.

Um homem adulto normal podia andar em média cerca de trinta quilômetros por dia em uma estrada razoavelmente boa. Inclua a viagem de volta, e isso significava que deixar um bebê a quinze quilômetros de distância levaria um dia inteiro. Qualquer coisa além disso exigiria acampar em algum lugar remoto.

Isso não fazia sentido. Se eu realmente tivesse sido abandonado, teria que perguntar: que tipo de pais desperdiçariam mais do que um dia inteiro, mesmo acampando durante a noite, só para que o bebê deles fosse o mais longe possível?

Perante isto, fui forçado a pensar que talvez a probabilidade de eu ser abandonado fosse menor do que pensava. Mas então de onde eu vim? Passei algum tempo contemplando outras possibilidades possíveis, mas não consegui pensar em nada plausível. Eu certamente não tinha simplesmente brotado de um canteiro de repolho, então meus pais de verdade tinham que estar em algum lugar, e devem ter tido alguma história com esta cidade arruinada.

Eu não poderia ser a criança que Maria e Sanguinário tiveram antes de se tornarem mortos-vivos? Não, de jeito nenhum. Esses três provavelmente se tornaram mortos-vivos ao mesmo tempo em que a cidade caiu em ruínas. Eu estava praticamente certo disso, por causa das menções ocasionais que eles faziam na conversa diária sobre como a cidade era antes.

A cidade mostrou sinais de deterioração ao longo de um considerável período de tempo. Não era algo que poderia ter acontecido em apenas dez ou vinte anos. Os períodos de tempo não combinavam. Se eles se tornaram mortos-vivos há cinquenta ou cem anos, era impossível que o filho deles tivesse nascido há apenas oito anos.

O único outro cenário, era que Maria poderia ter tido relações sexuais com Sanguinário e engravidado enquanto ambos já eram mortos-vivos, parecia… ainda menos plausível. O que significava que qualquer um dos três definitivamente não era meus pais verdadeiros, me levando de volta à minha conclusão original: que eu não fazia ideia do meu próprio passado.

Talvez fizesse mais sentido pensar que um casal irresponsável que vive na estrada me deixou aqui? Mas não, isso também parecia errado. Afinal, nem um único viajante humano havia passado por este lugar nos últimos sete anos. Eu pensei e pensei, mas nenhuma resposta veio.

Quem eu sou!?

— Will?

— Wagh! — Quase pulei. Eu me perdi em pensamentos.

— É algo importante? Você parou.

— Desculpe, Maria. Estava pensando um pouco.

Maria não me repreendeu. Ela apenas sorriu gentilmente. Tenho certeza de que ela teria ficado bonita se ainda estivesse viva, mas agora… Eu não pude deixar de sentir um pouco de medo de uma expressão como essa. Já me acostumei com a sensação até agora.

— Alguns pensamentos? Mas você não acha que está quente hoje? Por que não terminamos aqui e você vai pensar lá dentro, onde é mais refrescante.

— Tudo bem. — Assenti a cabeça e levantei a enxada novamente.

Descobri que o solo tendia a ser muito pesado e duro. Lavrar era trabalho duro para uma criança como eu. No começo, eu não conseguia pegar o jeito da enxada, e só consegui fazer a lâmina penetrar a uma curta distância no chão. Agora, estava indo bem fundo, dado o meu tamanho.

Nós estávamos na horta do templo. Era verão, então tomates e berinjelas de cores vivas cresciam ali. O jardim aparentemente foi negligenciado por um longo tempo, mas eles haviam recolhido alguns vegetais silvestres e similares, e começaram a manter o jardim mais uma vez para mim. Ervas como tomilho, erva-cidreira, hortelã e lavanda foram plantadas nas bordas do jardim, onde também serviam como repelente de insetos. Seus aromas fortes individuais misturaram-se com o cheiro do solo.

Uma área do jardim foi deixada sem uso até agora, e era isso que eu estava ajudando Maria a arar. Ela queria usá-la para cenouras, que precisavam ser semeadas durante o verão, e também para as batatas e cebolas do outono.

Os nomes, as aparências e as estações de plantio de todos esses vegetais e ervas, bem como a maneira de colhê-los, eram tudo o que aprendi com Maria.

Eu estava recebendo minha educação acadêmica de Gus e aprendendo a lutar com Sanguinário, mas tive a sensação de que Maria era a pessoa com quem eu mais aprendi. Como se vestir adequadamente, como usar o banheiro, etiqueta apropriada, contos de fadas infantis clássicos, histórias do passado, como cultivar vegetais, como manter ferramentas agrícolas, como dobrar tecidos, como lavá-los e como limpar a sala. E quando eu andava em torno de Maria, ela explicaria tudo com paciência, educação e apropriadamente desde o início.

Em minha vida passada de conveniências, levei um estilo de vida fracassado e, portanto, quase não tinha conhecimento adequado sobre a vida, por mais embaraçoso que fosse admitir. A esse respeito, Maria tinha uma compreensão firme sobre as coisas. Ela era claramente mais adequada para fazer isso no mundo, mais até do que Gus e Sanguinário, que estavam fora de contato e um pouco selvagens demais (respectivamente).

Ela ia para a cama e se levantava em horários regulares, e todos os dias limpava o jardim, arejava os cobertores, limpava o templo e executava uma série de outras tarefas. Ela estava me educando para ser capaz de fazê-las também. Se Maria não estivesse aqui neste templo, eu poderia ter virado um inútil de novo.

No entanto, até mesmo Maria era misteriosa. Algumas vezes por dia, ela se isolava no salão principal do templo. Disseram-me para não entrar lá durante esse tempo. Ela me disse que estava orando. Enquanto isso estava acontecendo, Gus e Sanguinário não eram nada sutis ao meu redor, e não me deixavam entrar no corredor.

Talvez ela estivesse apenas orando em silêncio e queria se concentrar. Mas havia tantos mistérios se acumulando em cima uns dos outros, parte de mim não podia deixar de pensar que isso tinha que estar relacionado a um deles.

Enquanto cavava o chão com a enxada, decidi: ia checar. Havia uma chance de encontrar uma pista para resolver todos esses mistérios.

E encontrar uma maneira de resolver os mistérios era a única coisa dentro da minha cabeça.

 

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Eu decidi fingir estar doente.

Durante meu treinamento com Sanguinário, agi como se não estivesse me sentindo bem, e disse que queria descansar um pouco. Talvez por causa de quão diligentemente eu estava treinando antes disso, Sanguinário acreditou sem nenhum sinal de suspeita, e me disse para ir descansar na minha cama.

Por um tempo, ele me vigiava enquanto eu ficava ali, mas logo depois murmurou algo sobre pegar alguma coisa revigorante e desapareceu na direção da floresta. Percebi que a personalidade de Sanguinário não permitiria que ele ficasse ao lado da cama por muito tempo.

Saí do quarto na ponta dos pés, tomando cuidado para não ser pego por ninguém, e secretamente fui para o corredor. Tentando não fazer nenhum barulho, abri a porta o mais devagar que pude e olhei para dentro. No instante em que fiz isso, segurei minha respiração.

Maria estava engolida pelas chamas.

Com uma bandeja de prata no chão à sua frente, ela estava ajoelhada ali, no meio de um monte de luz fraca vindo da clarabóia, de frente para uma escultura de um dos deuses, suas mãos estavam juntas em uma postura de oração fervorosa.

Ela estava inconsciente das chamas brancas que cobriam seu corpo e da nuvem espessa de fumaça que a cercava.

Minha mente ficou em branco.

Eu corri para dentro gritando, mas Maria não mostrou nenhum sinal de ter me notado. Sua postura estava absolutamente intacta, como se tivesse se tornado uma estátua de pedra, Maria continuou rezando.

O pânico deu pane no meu cérebro. Suor estava por todo meu rosto. Meus ouvidos estavam zumbindo. Minha garganta doía e só então percebi o quão alto gritava. Mas mesmo estando ao lado dela, não provocou nenhuma reação.

Desesperado para fazer qualquer coisa, estendi a mão para ela. Ela ainda estava coberta de chamas. Seu corpo estava horrivelmente queimado e tinha a aparência de carvão incandescente. Eu a toquei com a palma da mão. Ferveu e queimou.

Por causa da dor intensa quase puxei minha mão para trás por reflexo. Eu suprimi, internamente gritando para o meu corpo que não me importava. Não importava se me machucasse ou não. Maria estava em perigo. Ela estava em perigo!

O pânico fritando meu cérebro paralisou todas as outras sensações. Gritei enquanto a sacudia repetidamente.

—Sanguinário! Gus! Socorro! Maria, Mariaaaa!

 

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— Quantas vezes eu te disse… — Gus disse, franzindo o cenho para Sanguinário e Maria.

— É minha culpa. Fui descuidado, — Sanguinário disse, cabisbaixo em desculpas para os outros dois.

— Não… eu sou a única culpada por manter isso em segredo dele por tanto tempo. — Maria estava pendendo a cabeça desanimada. Seu corpo, que estava tão queimado, agora estava, de alguma forma, completamente de volta ao normal.

Eu estava no meu quarto, deitado na cama simples, mas confortável, cercado por paredes de pedra. Minha cabeça estava girando e minhas mãos doíam. Machucadas mesmo. Eu gemi, abracei o cobertor e tentei o máximo que pude suportar a dor.

Minhas lembranças do evento estavam um pouco vagas, mas eu percebi que Gus tinha ouvido meus gritos e veio voando através da parede. Aparentemente, eu estava sacudindo Maria quando ela se recusou a se mover, e gritando freneticamente, nem mesmo se importando com meus braços queimando. Gus me arrancou imediatamente dela e me deu alguns primeiros socorros magicamente aumentados, mas, como seria de se esperar, acabei com queimaduras nas palmas das mãos e nos braços.

Ouvi dizer que as queimaduras doem muito, e quem diz que não, está brincando. Ambos os meus braços estavam latejando e doendo intensamente. Às vezes, as pessoas que recebem tratamento médico para queimaduras graves em todo o corpo imploram às pessoas ao seu redor apenas para matá-las. Senti como se pudesse entender essas pessoas agora. Senti vontade de dizer isso.

— Uh, sobre as mãos de Will… Acha que ele vai se recuperar por completo?

— Uma pergunta complicada. Felizmente, seus dedos não ficaram grudados, pelo menos. Se ele ficasse sem algum grau de cicatrização, eu ficaria muito surpreso.

Eu podia ouvir uma conversa assustadora acontecendo ao meu redor. Cicatriz? Sim, eu acho que sim. Naquele momento, minhas mãos pareciam que eu havia pegado um pedaço de carvão queimado e, além disso, não soltado. Elas estavam atualmente envoltas em um pano limpo, mas eu poderia dizer que algum tipo de fluido estava saindo de mim e encharcando. Tinha certeza de que, se eu visse, o horror me faria querer cobrir os olhos.

Isso pode até interferir na minha capacidade de abrir minhas mãos apropriadamente ou de segurar as coisas. O pensamento era francamente assustador. Mas por alguma razão, eu me senti estranhamente calmo.

— Will… me desculpe, Will. Eu deveria ter… eu deveria ter apenas…

— Não. É minha culpa por mentir e espiar.

O fato de que Maria estava de volta ao normal provavelmente significava que era uma ocorrência regular, e ela estava escondendo de mim para que eu não me preocupasse. E eu fui e me machuquei o bastante para deixar uma cicatriz, tentando ajudá-la quando ela nem precisava.

— Não há nada para você se desculpar, — eu disse. — Estou feliz que você esteja bem.

Foi um comportamento imprudente, nascido da ignorância. Eu tinha certeza de que algumas pessoas teriam me chamado de idiota por isso. Mas tudo o que senti foi alívio. O que fiz pode ter sido completamente inútil, mas o importante era que Maria estava segura. A mulher que tão gentilmente me alimentou neste mundo desde o nascimento estava segura.

E quanto a mim, consegui agir. Eu agi pelo bem de Maria, sem nunca olhar para trás, sem nunca deixar o egoísmo ou a autopreservação atrapalhar. Não fiz o que meu eu teria feito. Não deixei o medo me dominar, e não dei qualquer tipo de desculpa para parar o meu caminho.

Bem…

— Não se preocupe tanto com isso, certo? — Eu poderia sorrir para Maria do fundo do meu coração.

Você não tem nada para se desculpar, pensei. Estou tão feliz por você estar segura.

— Will… — Maria estava olhando para o chão e tremendo. Eu não estava acostumado com ela assim, e achei difícil adivinhar o que estava pensando. — Obrigada, Will… Obrigada.

Ela segurou minha cabeça com força enquanto eu estava deitado na cama. Eu podia sentir o cheiro dela, como madeira perfumada queimando. Era calmante e agradável.

— Então. — Sanguinário estava claramente esperando Maria se acalmar antes de me questionar. — Você quer me dizer por que fingiu estar doente só para que pudesse espioná-la no meio de seu ato de adoração?

Ele estava falando com uma voz séria. Aparentemente, eu estava levando um sermão.

Eu não podia culpá-lo. É um pouco estranho eu dizer isso, acho, mas quaisquer que tenham sido as circunstâncias, me machuquei fazendo algo que fui proibido fazer, então merecia receber uma bronca adequada por isso.

— Sempre quis saber por que vocês três estão aqui. E por que estou aqui, porque sou o único vivo aqui. E… pensei que se eu a espiasse adorando, mesmo que você me dissesse para não… Poderia encontrar algum tipo de pista…

Isso trouxe à minha mente o fenômeno da “reatância” na psicologia, e o que nós no Japão chamamos de tabu “não olhe”, que frequentemente aparecia nos contos populares. Há momentos em que algo sendo proibido é precisamente o que atrai você. Dito isso, eu pretendia apenas dar uma olhada e nada mais. Se Maria não estivesse no estado em que estava, eu não teria… não, isso era apenas uma desculpa.

— Não te disse que eu falaria com você sobre isso um dia quando você fosse mais velho? — A postura de Sanguinário mudou, como se estivesse suspirando. — Você acha que somos o tipo de gente que proíbe você de fazer algo sem uma razão? Acha que somos mentirosos? Will, você é uma criança inteligente. Você sabe que, se estamos proibindo você de fazer alguma coisa, há uma boa razão, certo?

Sim, absolutamente eu sei. Só não tinha paciência. Não havia outro jeito de falar isso.

— H-hum, Sanguinário, eu não acho que você precise ser tão duro com Will. Era apenas sua curiosidade infantil.

— Maria, você fique quieta por um minuto. — Ele parou suas tentativas hesitantes de me cobrir, e me perguntou de novo quando olhou para mim. — Will. Você tem algum outro motivo ou desculpa?

— Não, não tenho. Sinto muito.

Eu mal havia terminado de dizer isso antes que Sanguinário erguesse o punho ossudo e batesse com força na minha cabeça. A força bruta do impacto me abalou. Minha cabeça girou com o impacto. Lágrimas brotaram nos meus olhos. Eu não queria chorar, mas aconteceu por reflexo.

— Da próxima vez, converse comigo ou com Maria ou mesmo com Gus, antes de pensar em fazer algo assim. Eu não suportarei você aleatoriamente vagando sem nos dizer. Há ruínas por aqui e… bem… é perigoso.

Eu assenti humildemente. O pensamento passou pela minha cabeça que não conseguia lembrar da última vez que fui repreendido tão duramente. Deve ter acontecido poucas vezes em minha vida passada. Afinal, todos tinham desistido de mim no final. Eles sabiam que me dar sermão não seria de nada e tomavam o cuidado para não se envolver.

Mas aqui, Sanguinário estava se tornando o cara mau para me ajudar. Por ficar com raiva de mim, ele estava fazendo o que era melhor para mim, aceitando totalmente o risco de eu desenvolver medo dele ou querer ficar longe como resultado. Parecia meio estranho ficar feliz por ser repreendido.

— Oh, e Will? — Sanguinário abriu seu punho e bagunçou meu cabelo. — Estou orgulhoso de você por ir lá e ajudar Maria. Essa lesão é um distintivo de honra.

Eu podia sentir os cantos da minha boca curvando para cima.

— Eu sou seu aprendiz…

— Esse carinha… Vamos, você!

Maria tinha um sorriso aliviado em seu rosto enquanto nos observava rindo e brincando juntos. Gus deu de ombros e suspirou.

Quando as coisas se acalmaram um pouco, Gus fez uma sugestão.

— Por acaso, Maria. Talvez seja a hora de contarmos a Will sobre a adoração? Admito que é difícil revelar coisas sobre nossas histórias para esse garoto. Diga a coisa errada, e ele conectará os pontos e terá a imagem completa desenhada por conta própria. Dito isso, eu preferiria não ter que suportar isso mais de uma vez.

— Sim, eu… tenho que dizer, estou com o Gus. É mais seguro.

— Sim, tudo bem, — Maria assentiu. — Isso me ensinou que manter muitas coisas em segredo pode realmente ser perigoso.

Gus se virou para mim com um olhar solene no rosto.

— Will. Isso pode te incomodar um pouco.

Incomodar?

— É sobre sua comida. Maria tem usado esse ato de adoração para invocá-la todo esse tempo, e ela queima durante o ato.

Espere, o quê?

— Você deve ter visto a bandeja de prata, certo? Quando seu ato de adoração termina, a comida aparece sobre aquela bandeja.

— Isso… isso é uma piada?

— Você honestamente acha que eu ia brincar com este assunto?

Espere. Acalme-se. É muito para aceitar.

— Conte-me mais, — eu disse, mal conseguindo dizer as palavras. Gus explicou para mim.

A arte da “bênção”, às vezes chamada de “proteção divina” ou simplesmente “milagres”, era um método para tomar emprestado os poderes sobrenaturais dos deuses, que haviam perdido seus corpos em batalha na era do mito, desaparecendo além desta dimensão. Gus havia falado sobre bênção muito brevemente em uma de suas lições, quando ele falou sobre a “proteção” que os deuses davam aos seus servos. Mas esta foi a primeira vez que ele a chamou pelo nome.

A bênção era a arte de manifestar os poderes daqueles deuses no mundo através do próprio corpo. Era o trabalho glorioso dos deuses, que poderia curar doenças e ferimentos, criar comida e bebida, como pão e vinho sagrados, e realizar outros feitos que não poderiam ser realizados por meio da antiga linguagem da magia. Os deuses podiam entregar revelações ao povo abençoado com sua proteção divina, ajudando-os em situações de risco. Quando dominada, a bênção poderia até mesmo trazer os próprios deuses para o próprio corpo terreno.

No entanto, também impõem maiores restrições ao usuário do que a magia, que usava as Palavras da Criação. Como a bênção envolvia tomar emprestado o poder de um deus, não poderia ser usada a menos que o usuário e o deus estivessem em boas condições. Requeria forte devoção e o tipo de natureza espiritual que poderia encontrar graça com esse deus. Também não podia ser usada para fazer qualquer coisa que o deus desaprovasse. Por exemplo, a bênção não permitiria que você usasse ataques altamente agressivos contra os servos de outro deus benevolente, e se você fosse perverso e impenitente, o deus retiraria completamente a bênção.

Então isso era bênção, uma arte mística que poderia ficar ombro a ombro com a magia, e com suas próprias vantagens e desvantagem. Quanto a por que não tinha ouvido falar sobre isso antes…

— Eu nunca lhe contei, — explicou Gus, — e escondi todos os livros relacionados. Se você tivesse ouvido falar e aprendido sobre, você teria imaginado que Maria poderia usá-la. Você é esperto.

Maria era devota e virtuosa, e agora que eu sabia sobre bênçãos, ela parecia exatamente o tipo de pessoa certa para usá-la. Gus estava certo. Eu provavelmente teria adivinhado.

— Em pouco tempo, você teria lido meus livros e assim por diante, ligando os pontos e descobrindo que Maria estava explodindo em chamas. Então, teria dito que não queria que ela fizesse comida para você se isso significasse que ela teria que se transformar em uma bola de fogo. E tenho certeza de que sua mente não mudaria, nem mesmo se disséssemos que somos mortos-vivos de alto nível, e que nossos corpos se recuperam facilmente de algo tão pequeno como ser queimado.

— Bem, sim, eu não gostaria, mas… por que ela pegou fogo em primeiro lugar?

— Bem…

— Porque eu me tornei morto-vivo, — Maria disse. — Porque traí Mater, a nossa Mãe-Terra.

— Maria…

Seus olhos estavam abaixados e a cabeça também. Sua expressão era de profunda tristeza.

— Nós nos tornamos mortos-vivos ao entrar em um contrato com o deus da imortalidade, Stagnate, — ela continuou. — O deus da morte é inimigo de Mater nossa Mãe-Terra. Os mortos-vivos contaminados queimam ao menor toque de sua energia divina.

Eu me lembrei da escultura no templo. Mater, a Mãe-Terra, era a mulher com o sorriso amoroso, que segurava um bebê nos braços e ficava em pé diante de um fundo de plantas de arroz.

— O que eu fiz foi além do perdão. Eu a traí e esta é minha punição.

Então por que ela continuou orando? “Por mim?”

Ela estava orando assim só para fazer pão para eu comer todos os dias? Sendo consumida pela chama toda vez? Se esse fosse o caso…

— Eu… vou trabalhar nos campos! Vou caçar! Assim…

Maria sorriu gentilmente.

— Não é assim, Will. — A melodia suave de sua voz colocou meus medos à vontade. — Oferecer orações regulares à Mater tem sido uma rotina minha desde muito antes de te conhecer.

Ela não estava mentindo. Maria não podia mentir com um sorriso assim, com uma voz assim. Sete anos passados ​​com ela me ensinaram isso.

— Mater nossa Mãe-Terra é a divindade guardiã das crianças. Depois de conhecê-lo, também comecei a orar por um pouco de comida dela, mas meu hábito de orar em si não é diferente agora, como sempre foi.

— Maria fala a verdade, — Gus disse. — Eu garanto.

— Eu disse a ela algumas vezes que talvez devesse parar, mas ela não vai tê-lo, — Sanguinário acrescentou, fazendo uma expressão que eu pensei que parecia um pouco descontente.

Gus também assentiu gentilmente.

— Por quê? — Eu perguntei confuso. Nem mesmo minhas lembranças do passado estavam me ajudando a entender. Se o que eles estavam dizendo era verdade, antes que eu estivesse por perto, Maria se queimava todos os dias em troca de absolutamente nada. — Não doeu?

— Doeu. Eu choraria de dor, se ainda pudesse. — Ela sorriu.

Sua razão era simples. Mesmo depois de traí-la, mesmo que a dor fosse sua única recompensa…

— Eu ainda reverencio Mater.

Ser capaz de sorrir através de tudo isso… Ela é linda, pensei.

Maria era uma múmia e parecia uma árvore morta, ou um monge que morreu de fome. A primeira impressão superficial dela era que só poderia achá-la horripilante ou grotesca. Mas aos meus olhos, ela parecia absolutamente linda.

Ela havia traído o que reverenciava, provavelmente não foi de bom grado, e agora era rejeitada, queimada pela chama toda vez que tentava se aproximar. Implacável, ela continuou tentando de novo e de novo, e foi recompensada a cada vez com uma dor terrível.

Com minha falta de fé religiosa e experiência de vida frágil, tanto nesta vida quanto na minha anterior, não pude começar a entender seu sofrimento, e só podia imaginar o quão difícil deve ser para ela. Tudo o que eu sabia era que era difícil. Era doloroso. Não seria uma surpresa se sentimentos indiretos de ódio e ressentimento tivessem se acumulado dentro dela. Eles teriam se acumulado em mim. Pelo menos, o velho eu. Tinha certeza disso.

Mas Maria aceitou seu sofrimento com calma. Eu nunca a vi falar mal de alguém ou mostrar ódio por alguém. Isso foi o que a fez parecer tão bonita para mim.

— Mesmo que minhas orações não sejam aceitas… Will… — Ela acrescentou meu nome suavemente. — Eu ainda acredito que a oração tem significado.

Perguntei-me se isso era verdade. Eu esperava que fosse.

— E mesmo que Mater não fale uma palavra sequer para mim… desde que te conheci, ela tem me abençoado com pão sagrado. — Mater, a Mãe-Terra estava segurando um bebê em sua escultura, e Maria tinha mencionado que ela era a divindade guardiã das crianças também.

— Mesmo que eu não possa receber seu perdão… apenas esse pouquinho de ajuda tem sido uma grande salvação para mim. E é tudo graças a você, Will! — Ela acrescentou em um tom travesso. — Sinto muito por ficar quieta por tanto tempo. Espero que você ainda coma o pão que te dou.

Meus braços estavam cobertos de queimaduras e Maria estava sendo queimada regularmente. Isso era mais do que suficiente para tornar esse pão impossível de engolir. Mas eu senti… ainda poderia lidar com isso.

— Sim, irei. Mas você pode fazer algo por mim?

— O que seria?

— Deixe-me orar com você a partir de agora.

Se fosse possível, eu queria entender Maria um pouco mais. Como as coisas pareciam para ela e como ela sentia as coisas.

 


 

Tradução: Erudhir

Revisão: Kakasplatt e Merciless

 

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