Como Naesia havia prometido, levou apenas algumas horas para completarmos a subida pelos penhascos. Embora extenuante, o restante da escalada foi tranquilo. Por duas vezes, bestas de mana voadoras circularam a fim de investigar nosso grupo de caça, mas foram mantidas afastadas por sinalizadores de mana. A montanha em si, que havia gerado golens para nos testar, permanecia silenciosa.
No topo, as quatro fênix começaram a gritar e a cantar, suas vozes ecoando no ar rarefeito e nas ravinas das altas montanhas, dando as boas-vindas a cada membro do nosso grupo de caça. Quando todos chegamos ao vale, nosso grupo de vinte caçadores parou para observar além da borda do penhasco. Era impossível ver a altura que havíamos subido, pois as nuvens cobriam a superfície de Epheotus bem abaixo de nós. Um grupo de arraias celestiais emergia e mergulhava nas nuvens, girando sobre, sob e ao redor umas das outras de forma brincalhona.
Regis se manifestou a partir da sombra escura de Ellie, e a armadura que a revestia derreteu, retornando ao éter. Ela imediatamente envolveu os braços ao redor do corpo quando um arrepio percorreu seu corpo.
Chul bateu em meu ombro com força suficiente para que eu tivesse que dar um passo à frente para manter o equilíbrio.
— São iguais as arraias abissais que enfrentamos nas Relictombs, não é, meu irmão?
— Não me lembro de aquelas serem tão fofas assim — disse Sylvie, ajoelhando-se perto da borda. Ela pegou uma pedra lisa, esfregou-a entre os dedos e a lançou casualmente para fora do penhasco, observando-a despencar na névoa.
Riven Kothan ofegou e segurou seus chifres com horror.
— O que você está fazendo? Isso pode matar alguém!
Sylvie congelou, seu rosto pálido de culpa.
— Eu…
Os asuras começaram a rir, sendo Riven aquele que ria mais alto.
— Estou só brincando! Você pode ser arconte no nome, Sylvie, mas tem a rigidez de um dragão.
Os dragões entre nós pararam de rir.
— A rigidez de um basilisco, você quer dizer — disse um dos Indraths.
Em vez de se ofender, Riven e seus companheiros basiliscos voltaram a rir com a provocação.
Vireah Inthirah arqueou as costas em um profundo alongamento, seus longos cabelos rosados quase tocando o chão. Ao se endireitar, ela se virou para longe do centro das atenções e olhou para o pico da montanha.
— A luz está diminuindo rapidamente — alertou ela. — Devemos montar acampamento.
Naesia Avignis, que liderava o caminho por tradição, apontou para a faixa verde e densamente arborizada esculpida na montanha e disse:
— Não teremos bestas voadoras fungando em nosso cangote se subirmos até a linha das árvores. Caso contrário, escolham um lugar!
— E se quisermos algumas bestas voadoras fungando em nosso cangote? — provocou Regis com uma risada rouca.
— Então sugiro que faça isso de forma privada atrás de uma árvore para que ninguém o julgue — disse um dos amigos basiliscos de Riven, rindo.
As bochechas de Naesia ficaram intensamente vermelhas, e seus olhos de citrino se arregalaram enquanto saltavam entre os membros de nosso grupo de caça. — Não foi isso que eu quis dizer…
Suspirei.
— Apenas ignore o Regis. Seu constrangimento só vai encorajá-lo.
Apesar da exaustiva subida do dia, a maioria dos asuras começou a correr, competindo pelos melhores lugares e gritando que queriam os melhores espaços primeiro. Chul se juntou a eles, esquecendo-se da própria situação, mas deixei que fosse. O guerreiro sorridente estava em boa companhia enquanto ele e um dos basiliscos se empurravam e ombro a ombro, rindo o tempo todo.
O restante do meu clã ficou próximo, e tanto Zelyna quanto Vireah ficaram para trás com seus próprios grupos. Seguimos nosso caminho mais devagar, com calma.
— Vamos descansar e recuperar nossas forças esta noite — disse Zelyna, andando à minha frente sem olhar para trás. — Amanhã, vasculhamos o cume em busca de nossa presa.
— O que exatamente estamos caçando? — perguntei, observando os cabelos da mulher leviatã se moverem fora de sincronia com o vento frio e cortante que soprava pelo vale.
Vireah, que caminhava ao lado de Sylvie, embora mantendo certa distância entre meu clã e ela mesma, respondeu:
— Nossa presa se apresentará a nós. Quando você a vir, saberá. — Seus olhos prateados repousaram sobre mim por um longo momento, depois desviaram, indecifráveis.
Franzi a testa com isso, mas a conversa terminou ali. Quando entramos sob os galhos enormes e retorcidos das árvores gigantes, Chul gritou e acenou para nós, indicando um espaço plano entre três troncos massivos.
— Tire um momento para se conectar com seu clã — disse Zelyna, afastando-se em direção aos outros leviatãs. — Comida e bebida serão compartilhadas depois, seguidas de conversas e histórias. Primeiro, porém, acalme sua mente.
Observei-a se afastar com uma estranha sensação de vulnerabilidade. Ela tinha uma maneira de enxergar através de mim, com uma sabedoria muito além de sua idade. Assim que terminei o pensamento, quase ri alto, lembrando que ela tinha pelo menos vinte vezes a minha idade total, talvez até mais.
— Todos eles são mais velhos do que aparentam — projetou Sylvie em meus pensamentos. — O mais jovem entre eles tem o quê, meio século?
— Vamos! Estou morrendo de fome. — Ellie agarrou meu braço e tentou me arrastar em direção a Chul.
Rindo, deixei-me ser puxado por ela. Chul já estava arrumando um círculo de pedras para fazer uma fogueira, e Ellie não perdeu tempo em retirar equipamentos de seu anel dimensional e montar o acampamento.
Por todo o vale arborizado, os acampamentos para cada grupo de quatro pessoas eram finalizados. Cada raça asura tinha suas preferências específicas. Os leviatãs, por exemplo, foram rápidos em montar tendas de cores vivas feitas de tecido denso, enquanto as fênix se empoleiraram em redes ou conjuravam camas ao ar livre. Os basiliscos compartilhavam uma única tenda grande com uma fogueira central, enquanto os dragões construíam uma pequena casa com materiais conjurados, completa com espaço interno para cozinhar e tomar banho.
Como Zelyna havia sugerido, cada grupo parecia confortável interagindo apenas entre si naquele momento.
Retirei um simples colchonete e o estendi próximo à fogueira, enquanto Chul terminava de organizar o grande círculo de pedras. Ele já havia arrastado um tronco caído e agora arrancava galhos secos com as mãos, quebrando-os em pedaços menores e empilhando-os. Cantarolava enquanto trabalhava, ocasionalmente sorrindo para si mesmo, então deixei que continuasse sem interrompê-lo.
Quando ficou satisfeito com a pilha, Chul invocou sua arma. Chamas surgiram da cabeça arredondada e rachada, como um tocha, e ele a enfiou na madeira. Ele pegou imediatamente, subindo a três metros de altura.
Acima, as árvores farfalharam ao se inclinarem em direção ao calor, deixando cair algumas folhas amarelas. Entre elas havia flores marrons que exalavam um aroma doce e sonolento.
— Flores do sonho — disse Chul, percebendo meu olhar para a copa. — Essas flores fazem um chá forte e bom, ou pelo menos foi o que aprendi no Santuário. Nunca tinha visto uma antes de hoje. Dizem que descansar sob elas faz você dormir como um morto. Tão morto, na verdade, que alguns nunca acordam. Até ouvi uma história sobre um jovem guerreiro fênix que foi devorado vivo por uma besta enquanto dormia.
Dei uma risada sombria.
— Talvez devêssemos montar guarda para garantir que ninguém durma até a morte.
Sylvie olhou de sua pequena e confortável tenda para a árvore acima, coberta pelas flores marrons.
— Talvez devêssemos descer um pouco mais a encosta… — sugeriu.
Regis olhou para cima, de onde estava farejando o acampamento.
— Não se preocupe, milady, eu garanto que seu sono de beleza não será interrompido.
Sylvie bufou e jogou um punhado de folhas amarelas caídas nele.
Ao se acomodar no colchonete próximo à fogueira alta, Ellie envolveu os braços ao redor de si mesma, tremendo.
— Esse vento é como facas através dessas roupas suadas. — Lançando-me um olhar suplicante, acrescentou: — Talvez eu pudesse ter aquela armadura de novo? Só para me aquecer…
Atrás dela, houve um leve estalo, e Boo apareceu como se tivesse surgido do nada. Ele soltou um grunhido profundo e encostou-se em minha irmã, deitando-se atrás dela. Ellie se inclinou para trás, pressionando-se contra sua pelagem.
— Ah, assim está melhor. Obrigada por esperar, Boo. Acho que você não teria gostado dessa escalada. — Ela cheirou sob o braço e fez uma careta. — Ugh. Talvez eu precise pedir emprestado o banho dos dragões também. Por que nenhum de vocês sua tanto assim?
Boo soltou outro grunhido de concordância, fazendo Sylvie e eu rirmos.
— Asuras não suam, maninha.
— Espera, sério? — Ela me lançou um olhar incerto.
— Os fabricantes de perfumes e sabonetes deste mundo estariam falidos se isso fosse verdade.
Todos nos viramos para ver Vireah se aproximando com uma cesta. Ela havia trocado os calções e as roupas de couro com os quais havia subido e agora usava um vestido simples com capuz azul-petróleo e cinza. Na cesta, havia alguns pães redondos e vários potes de vidro que tilintavam a cada passo.
— Um presente do clã Inthirah. Preparado por minha mãe pessoalmente. — Ela estendeu a cesta com ambas as mãos.
Recebi o presente com o mesmo respeito. Dentro dos potes havia mel, mostarda e geleia para acompanhar o pão.
— Obrigado.
Ela assentiu e deu um passo em direção à fogueira. Enquanto encarava as chamas, seus reflexos dançavam sobre seus olhos prateados.
— Seu clã foi bem hoje, Lorde Arthur. Aquela escalada não era uma tarefa fácil, mesmo para asuras.
Chul tirou a cesta das minhas mãos, arrancou metade de um pão e começou a mexer nos potes enquanto mastigava.
— Ooh, mel de flor de fogo. Meu favorito! — Distraidamente, passou a cesta para Sylvie e se afastou com o pão e o pote de mel.
— Não te culparia se isso tudo parecesse uma encenação para você — comentei, respondendo à observação de Vireah. — Não vou fingir que consigo ver os acontecimentos pelos seus olhos.
Sua mão direita estendeu-se à frente, como um ato inconsciente. As chamas fluíam ao redor de seus dedos, o calor torcendo-se e desviando para não queimá-la.
— Não, não vejo dessa forma. Pelo menos, é… empolgante. — Havia um tremor em sua voz, e percebi, de repente, que esta nobre dragão estava nervosa. — Esta é a primeira vez na minha vida que experimento uma mudança real em Epheotus. Talvez aqueles que se lembram da rebelião de Agrona tenham vivido algo assim.
— Não foi tão glorioso quanto parece, confie em mim — disse Riven emergindo das sombras ao redor da fogueira.
— Claro que não — respondeu Vireah rapidamente. — Não quis dizer que foi uma época de boas mudanças. Violência entre asuras nunca é bom para Epheotus.
— Ei! — Um grito veio de outra fogueira. Passos largos esmagaram folhas secas no escuro, e então Naesia apareceu. Seus cabelos cinzas como fumaça caíam em uma juba selvagem, soltos de suas tranças. — Concordamos em não importunar o grande lorde sobre “você sabe quem” até todos estarem acomodados!
— “Você sabe quem?” — perguntei. Quando as palavras saíram de meus lábios, cheguei à resposta por conta própria. — Vocês querem saber sobre Agrona.
Vireah continuou fitando as chamas. Os olhos de Riven saltaram para os meus e logo desviaram, mergulhando na escuridão. Suas sobrancelhas estavam franzidas de preocupação. Naesia sentou-se na grama, com as pernas esticadas e os braços apoiados atrás de si. Em algum momento, Zelyna também havia se juntado a nós, agora encostada em uma árvore na borda da luz da fogueira
Embora não se aproximassem, eu sentia os outros asuras se esforçando para ouvir a conversa.
— Rumores se espalham como fogo sobre a derrota de Agrona nas mãos de um menor — disse Riven, tenso no corpo e no tom. — Mas até meu pai tem se mantido em silêncio sobre os detalhes.
Deixei que o silêncio se prolongasse após a declaração de Riven. Parecia estranho para mim que Kezess não tivesse espalhado a história aos quatro ventos, mas então, ele queria um Agrona vivo e consciente para exibi-lo nos lares dos clãs desses jovens asuras. Uma suspeita cresceu em minha mente de que essa conversa, que foi iniciada por uma dragão, era, de alguma forma, calculada.
— Não há muito o que contar — disse por fim. — Agrona estava profundamente ligado a uma fonte separada de poder. Eu a destruí, e ele entrou em uma espécie de coma. Lorde Indrath chegou logo depois. Agrona e eu nem mesmo lutamos.
— Ah. — O rosto de Riven caiu. Era claro que ele esperava, ou talvez desejava, uma história mais grandiosa.
Enquanto os outros pareciam apenas curiosos sobre Agrona, havia algo na expressão de Riven que mostrava um envolvimento mais pessoal. Ele havia mencionado que seus irmãos mais velhos morreram lutando contra o clã Vritra. Eu também sabia que a raça basilisco sofreu muito após a deserção de Agrona para Alacrya.
Não pude deixar de me perguntar se ver Agrona receber uma punição mais pública realmente ajudaria o jovem basilisco ou apenas reabriria feridas antigas.
— Você foi impressionante hoje, Lady Eleanor — disse Zelyna, com um tom que sugeria estar deliberadamente mudando o assunto.
— Sua magia é realmente interessante — acrescentou Vireah. — Técnicas de mana pura, certo? Não muito diferente de como os dragões usam mana. Você tem algum talento com éter, como seu irmão?
— Obrigada! — Ellie sorriu. — E não, eu só uso mana, mas tenho uma runa de feitiço.
Naesia, que havia se recostado em uma postura mais relaxada, franziu a testa.
— Uma runa de feitiço? O que é isso?
Ellie, soltando-se do pelo de Boo, virou-se e levantou a jaqueta e a camisa para revelar runa mágica tatuada em suas costas.
— Meio que… me marca com um feitiço? Posso usar um tipo diferente de magia canalizando minha mana nela.
Os asuras ficaram fascinados e começaram a bombardear Ellie com perguntas.
Depois de um ou dois minutos, ela deu de ombros, nervosa.
— Honestamente, não sou especialista. Temos um mestre inventor, Gideon, que entende tudo sobre isso e meu irmão também. Os alacryanos as usam, mas foram inventadas pelos djinn.
Percebi imediatamente que nenhum dos asuras reconhecia o termo.
— Nunca ouvi falar dos djinn. É outra das suas raças menores? — perguntou Riven, coçando distraidamente o couro cabeludo ao redor de um dos chifres.
Senti meus dentes se apertarem antes de eu me controlar. Eles não faziam ideia de que toda a sua civilização foi construída sobre as cinzas de uma dúzia de outras.
— Nós os chamamos de “magos antigos”. Eles não estão mais aqui, mas boa parte de sua magia ainda permanece em nosso mundo. — Lancei a Chul um olhar de advertência para que não explicasse mais.
Zelyna finalmente se aproximou, agachando-se ao lado da fogueira. As cristas azuis ao longo de suas têmporas brilhavam de forma iridescente sob a luz do fogo. Voltando-se para minha irmã, ela perguntou:
— Notei que você não utilizou a Silverlight durante a subida. Por quê?
Ellie retirou o arco sem corda, causando murmúrios surpresos entre os asuras.
— Não consegui usá-lo.
— Como uma garota humana veio a possuir uma arma asura? — questionou Vireah, lançando olhares aos seus pares. — E não qualquer arma, mas a do General Aldir.
— Ela a escolheu — respondeu Zelyna de forma desafiadora. — Quaisquer rumores que tenham ouvido, saibam que Aldir de Thyestes deu tudo de si pelo bem de Epheotus e do mundo dos menores. — Seu olhar percorreu os outros asuras, encontrando os olhos de cada um como um desafio que nenhum deles estava disposto a aceitar.
— Seu clã realmente é cheio de surpresas — comentou Riven após uma pausa constrangedora. — Uma pena não termos titãs entre nós. Eles são especializados nesse tipo de coisa.
Vireah soltou uma risada de desdém.
— Eles não são os únicos conhecedores disso. — Contornando a fogueira, sentou-se ao lado da minha irmã, ignorando o rosnado de alerta de Boo. — Aqui, deixe-me ver.
Em silêncio, Vireah começou a instruir minha irmã nos métodos usados pelos dragões para dominar tais armas.
Nossa conversa se transformou em uma confortável conversa leve regada a algumas piadas. Riven e Naesia fizeram muitas perguntas sobre meu mundo, e eu fiquei feliz em responder a maioria delas. Quanto mais os asuras soubessem sobre Dicathen e Alacrya, mais reais esses lugares se tornariam para eles.
Comida e bebida foram compartilhadas generosamente. Eu beliscava um doce coberto de glacê enquanto a irmã de Riven dava uma aula improvisada sobre a culinária basilisco.
Por fim, um grito amigável vindo do acampamento dos basiliscos atraiu Riven e sua irmã, depois disso Naesia nos deu boa noite e também voltou para seu próprio povo. Chul a acompanhou, ansioso para passar mais tempo com as fênix de Epheotus.
Zelyna permaneceu, embora tenha se afastado para as sombras. Por um tempo, ouvimos em silêncio as instruções de Vireah, mas, após alguns minutos, Zelyna acenou para que eu me aproximasse.
A mente de Sylvie tocou a minha.
— Estou me sentindo… cansada, Arthur. Vou descansar.
Lancei um olhar preocupado à minha companheira, mas ela afastou minha preocupação com um gesto, seus olhos voltando-se para Zelyna. Assenti.
— Você considerou o que os grandes lordes disseram no jantar? — Zelyna perguntou sem rodeios quando me juntei a ela.
Estava frio à luz da fogueira. O vento, embora suave, era constante e trazia o frio das montanhas mais altas. Virei o rosto contra ele, fechando os olhos e apreciando a mordida gelada na pele.
— Tivemos uma longa escalada hoje, durante a qual não houve muito mais o que fazer além de pensar — respondi, desviando da pergunta.
— Você está desconfortável com a ideia.
Encontrei seus olhos com o canto dos meus.
— Eu… já tenho alguém.
Zelyna cruzou os braços, franzindo a testa.
— O que isso tem a ver? Você é um grande lorde, Arthur. Mais do que isso, é o fundador de uma nova raça e regente de seu mundo inteiro. Precisa solidificar sua posição, formar alianças fortes. Talvez até gerar herdeiros.
Tossi, surpreso.
Ela mordeu o lábio, hesitante.
— Escuta, sei muito pouco sobre como seu povo faz as coisas. Você é um homem bom por considerar os sentimentos de sua amada antes de tomar essa decisão, mas o amor entre dois pode precisar ser pesado em relação ao bem de muitos.
Sua mão disparou em um soco rápido como um raio, que eu mal consegui desviar. Seu sorriso irônico voltou.
— Eu disse antes que sua gentileza pode ser transformadora aqui… — Olhando de relance para Vireah, ela continuou em voz baixa: — Indrath nunca abrirá sua mão de ferro sobre Epheotus. A menos que alguém quebre seus dedos. Esse alguém é você, Arthur Leywin. Mas somente se você tiver a força e o apoio necessários.
Sem esperar minha resposta, ela se virou e foi para sua tenda. Sumiu na escuridão, mas eu segui a progressão de sua assinatura de mana até que ela se estabilizou.
Quando voltei para a fogueira, Vireah estava de pé.
— Boa noite, Ellie. Estou ansiosa para ver o que você pode fazer com este conhecimento.
— Eu também — respondeu minha irmã com um bocejo, os olhos pesados de exaustão.
Vireah parou para me dar uma reverência respeitosa, seu cabelo, escuro na luz tênue da fogueira, escapando do capuz. Em seguida, continuou para a cabana que havia construído mais cedo.
Sentei-me ao lado de Ellie, dando um leve tapinha em seu joelho enquanto ela se recostava em Boo, segurando Silverlight em seu colo.
— Eu amo isso — disse ela, cansada. Ao nosso redor, a noite continuava a aprofundar-se na escuridão absoluta. Não sabia quanto tempo esperei, mas, eventualmente, os últimos asuras restantes encontraram seus respectivos alojamentos, e o acampamento mergulhou em silêncio. Apenas o vento entre as folhas e o crepitar baixo da fogueira podiam ser ouvidos.
Com cuidado, ergui Ellie do lugar onde havia adormecido encostada em Boo e a levei para sua tenda. Ali, a cobri do jeito que mamãe costumava fazer. Seus olhos se abriram apenas por tempo suficiente para me lançar um sorriso sonolento e dizer:
— Obrigada, irmãozinho. — Então, seus olhos fecharam novamente, e ela voltou a dormir, sem nunca ter despertado completamente.
A tenda dela era grande o bastante para Boo caber, mas ainda assim sua cabeça ficava para fora. Ele se acomodou, pousando o queixo nas patas, e também fechou os olhos.
— Este lugar parece… intacto — comentou Regis, em tom baixo. Ele estava sentado ao lado da fogueira, sua juba flamejante dançando como uma sombra roxa escura contra o laranja do fogo. — Eu gosto disso.
— Claro que gosta — respondi com um sorriso, me deitando no colchonete ao lado dele. Percebendo seus pensamentos dispersos, dei um tapinha em suas costas, sob as chamas. — Você está inquieto. Está tudo bem, vá. Não pretendo dormir esta noite. Ficarei de vigia.
Ele virou-se para mim, a língua de fora. Havia um brilho selvagem em seus olhos.
— Tem certeza? Já faz algum tempo que não saímos juntos para fazer besteira.
Sorri, empurrando-o de leve.
— Vivemos na cabeça um do outro, Regis.
Ele se levantou e correu para a escuridão, quase vibrando de necessidade por liberdade.
— Só pense coisas bem alarmantes se precisar de mim — disse ele, enquanto sua mente conectada gradualmente se apagava na minha.
Ele estava certo sobre a montanha parecer indomada. Mas era mais do que isso. Podia sentir a borda entre Epheotus e o reino etéreo. Não era visível, como em Ecclesia, mas isso tornava tudo mais real, como se, ao alcançar o cume, eu pudesse tocar o limite do mundo.
Meus olhos se fecharam. Dentro da penumbra da minha própria mente, deixei a sensação daquela magia atmosférica me envolver. Ativei o Realmheart, ampliando minha percepção da mana pelo éter. Em seguida, o Gambito do Rei entrou em ação, fragmentando minha mente consciente em centenas de pensamentos paralelos. Uma única linha de raciocínio surgiu com clareza à frente.
Como alguém pode viver centenas de anos e ainda agir como um adolescente?
Era uma pergunta retórica. Maturidade dependia de necessidade, não apenas de idade. E enxergar os asuras sob a ótica da experiência humana era, na maior parte, inútil. Na maior parte, mas não totalmente.
Com base no que tinha visto e ouvido desses jovens nobres asuras, surgia outra pergunta mais importante:
Como uma criança pode crescer em maturidade se nada é exigido dela?
Não seria justo dizer que os grandes clãs não exigiam nada, mas suas expectativas diferiam muito das de um herdeiro humano. A própria palavra já indicava parte da resposta: herdeiro. Qual é o propósito de um sucessor quando os atuais lordes reinam por dez mil anos ou mais? Esses asuras estavam presos em uma espécie de estagnação, mas isso não poderia durar. Se eu queria salvar meu mundo e Epheotus, ambos precisariam mudar profundamente.
Mesmo sem o Gambito do Rei, era difícil evitar que minha mente retornasse constantemente à conversa com os grandes lordes sobre casamento. Agora eu estava começando a ver isso de uma forma diferente. O que Zelyna disse era verdade. Era uma escolha puramente estratégica, alinhada à necessidade de uma nova visão para o futuro de Epheotus, mas isso não mudava em nada o que eu sentia.
Mais importante, como Tessia se sentiria ao saber que essas conversas estavam acontecendo?
Esses pensamentos gradualmente recuaram enquanto minha consciência se focava na meditação e na mana. Sob o efeito ampliado do Gambito do Rei, ficou mais claro que a mana e o éter na montanha pareciam se assemelhar àqueles que ligavam o portal entre Dicathen e Epheotus.
Embora tivesse vislumbrado o futuro no qual aliviava a pressão acumulada no reino etéreo, nem todos os aspectos de como isso seria feito estavam claros para mim. Precisava de mais compreensão sobre as barreiras que mantinham o reino etéreo separado do mundo físico e permitiam que Epheotus flutuasse dentro dele.
God Step iluminou-se, acrescentando outra camada de percepção aos múltiplos pensamentos que se desdobravam. Minha percepção começou a se expandir para fora, como dedos sondando.
Houve um movimento da mente adormecida de Sylvie.
A primeira habilidade que aprendi com o God Step foi me mover através dos caminhos etéreos. Após muito treino e esforço, aprendi a transformar esses caminhos em armas, atacando através deles com minhas armas conjuradas, mas estava confiante de que havia mais potencial ali.
Com a fonte de Chama Eterna como inspiração, imaginei uma abertura entre o reino etéreo e Epheotus, através da qual o éter pudesse fluir livremente. No coração da fogueira do acampamento, os dedos da minha consciência alcançaram um dos pontos infinitamente interconectados.
Foi um esforço desajeitado. Como um reflexo instintivo, comecei a atravessar os caminhos etéreos enquanto simultaneamente tentava me conter. O resultado? Nada aconteceu no início. Redirecionando uma parte do foco para os ramos dispersos da minha consciência, apertei meu controle sobre o poder da runa divina e minha manipulação hesitante dela.
O éter atmosférico começou a se mover. Era apenas um filete, mas o ponto de conexão agora emitia éter. Luz roxa começou a girar entre as chamas alaranjadas. Puxei com força, e a fogueira brilhou em violeta.
Uma garra rasgou minha concentração.
Minhas mãos pressionaram as têmporas com força enquanto minhas percepções colidiam como navios em um mar agitado por tempestades. Realmheart, God Step e Gambito do Rei escaparam do meu controle mental.
Observei, em terceira pessoa, meus dedos cravarem no meu crânio enquanto caía de lado, encolhendo-me em posição fetal. Algo estava me puxando, absorvendo-me para dentro de si. Resistir trouxe dor, uma dor incrível. Uma dor compartilhada.
Sem palavras, Sylvie tentava alcançar a mim, a Regis, a qualquer um que pudesse ouvir e responder.
Eu relaxei, finalmente compreendendo. A dor diminuiu, e me vi deslizando cada vez mais rápido pela conexão entre nossas mentes.
De repente, estava de volta à costa perto de Ecclesia Todo o céu era um turbilhão de preto profundo e roxo escuro. Eu… não era eu mesmo. Em vez disso, era um passageiro nos olhos de Sylvie. Ela estava em pé sobre a superfície da água imóvel, olhando para o horizonte onde Epheotus se misturava ao reino etéreo.
— Sylv? O que está acontecendo?
Não houve resposta.
Seu foco começou a estreitar-se enquanto olhava para seus próprios pés. O reflexo de Sylvie na água estava virado na direção errada.
Debaixo da água, aqueles braços — não era um reflexo — agitavam-se enquanto tentavam nadar para a superfície. A cada movimento, porém, afundavam mais.
Lentamente, como se estivesse em transe, a Sylvie que estava de pé sobre a água se abaixou. Sua mão passou facilmente pela superfície. A Sylvie debaixo d’água agarrou sua mão e foi puxada para cima.
No entanto, a figura que emergiu não era o reflexo de Sylvie.
Diante de nós, com a mão de Sylvie presa na sua, estava Agrona. Ele usava calças escuras e uma camisa preta com detalhes dourados e carmesim. Correntes douradas e ornamentos com joias pendiam de seus chifres. Um sorriso reluzia em seus olhos vermelhos.
— O que é isso? — perguntou Sylvie, com a voz vazia. — Um sonho? Uma… visão? Não pode ser. Você foi derrotado.
A única resposta de Agrona foi um sorriso irônico e cheio de significado.
— Isso não é nada. Apenas produto de uma mente cansada e estressada — Sylvie disse para si mesma. Seus olhos fecharam, mas eu ainda podia ver. — Acorde.
A costa, o oceano, Sylvie e Agrona se dissolveram. Eu estava de volta ao meu colchonete, sob as flores dos sonhos.
— Sylv, você está bem?
— Estou bem, estou bem — respondeu ela imediatamente. — Você viu também?
Confirmei que sim.
— Talvez fossem apenas as flores, como disse Chul.
— É, talvez…
Sentei-me e olhei para sua tenda, que estava fechada, impedindo-me de vê-la.
— Você está preocupada.
— Foi diferente da visão sobre os Glayders, mas não parecia um sonho.
— Você tem muita coisa na cabeça — ofereci em consolo. — Todo esse papo sobre Agrona hoje claramente trouxe algo à tona. Está tudo bem, seja o que for.
— Ainda me preocupo, às vezes — admitiu após alguns segundos. — Ele implantou aquele feitiço em mim. Podia tomar meu corpo. Nunca entendemos completamente o porquê ou como. Acho que só me preocupo que…
— Que ele possa ter te corrompido de alguma forma? — completei, sentindo o medo emanando dela.
— Sou filha dele, Arthur. Há mais dele em mim do que apenas sua magia experimental. Acho que… talvez eu só quisesse ter conseguido mais respostas antes que ele… você sabe.
Não respondi, mas não era necessário. Ela sabia como eu me sentia.
— Desculpe. Estou cansada. Vou tentar voltar a dormir.
Mordendo o lábio, desejei boa noite à meu vínculo. Meus sentidos permaneceram em sua aura até que eu a senti se acalmar enquanto ela finalmente mergulhava novamente no sono.
Minha mente, no entanto, estava inquieta demais para retornar à meditação. Em vez disso, ponderei nossas opções à luz tênue de minha coroa dourada.
Tradução: NERO_SL
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