POV ARTHUR LEYWIN
A festa continuou por algum tempo. A conversa acabou se afastando de alianças, casamentos e até da aparência e linhagem do Chul. A política foi abandonada em favor de contos emocionantes de história e lendas. Por toda a extensão da longa mesa, fênix riam com leviatãs e basiliscos com dragões.
Porém, não conseguia me livrar da tensão que carregava.
Precisamos mover o mundo inteiro em direção ao futuro necessário, aliviando a pressão sobre o reino etéreo e satisfazendo a entidade etérea chamada Destino. Dicathen precisa ser protegida de se tornar a próxima civilização a cair sob o capricho de Kezess. Epheotus deve ser estabilizada e preparada para a inevitável dissolução do reino etéreo. Agora, também precisamos nos preocupar com o colapso de Alacrya em algum tipo de vórtice de mana.
— É, isso resume bem a situação — comentou Regis, mais uma vez deitado em frente à lareira crepitante, com seus sentidos voltados para as conversas ao redor da mesa. — Moleza.
Sylvie, que havia sido puxada para uma conversa com Myre, lançou-me um rápido olhar pelo canto dos olhos.
— Pelo menos sabemos o que precisamos fazer e contra o que estamos lidando. Em sua maior parte.
Em sua maior parte…
Deixei minha mente voltar para a pedra-chave, mas sem o Gambito do Rei ativo, não conseguia me concentrar efetivamente naquelas memórias. Apenas uma confusão turva e dolorosa ocupava minha cabeça, como um emaranhado de fios que só a runa divina poderia desembaraçar.
Um toque no meu ombro me arrancou dos meus pensamentos. Olhei para cima e vi um jovem, visualmente próximo da minha idade. Ele tinha cabelo escuro, olhos vermelhos e chifres de basilisco, mas, diferente dos Vritra, exibia um sorriso calmo e uma postura agradável.
— Alguns de nós estamos planejando nos retirar do jantar para conversar de forma mais descontraída — disse ele, a voz ligeiramente tensa. — Gostaríamos que você se juntasse a nós. Não podemos deixar que os grandes lordes monopolizem todo o seu tempo, não é? — Como um pensamento tardio, ele acrescentou: — Lady Sylvie, Lady Eleanor, Lorde Chul, vocês também seriam bem-vindos, é claro.
— Sempre esquecido — pensou Regis.
Pelos padrões asura, eu era apenas um jovem também, e interagir com os asuras mais jovens era algo que eu esperava fazer. Além disso, a companhia casual dos jovens lordes e damas seria um alívio para minha mente pressionada. Ainda assim, não tendo certeza sobre as normas, olhei para Veruhn. Ele apenas sorriu e deu um leve aceno com a cabeça, quase como se estivesse caindo no sono.
Pedi licença, e meus companheiros e eu seguimos o jovem basilisco para o interior da fortaleza. Ele parecia conhecer bem o lugar, o que sugeria que já havia passado bastante tempo com as fênix.
— Riven, a propósito — disse ele, apertando minha mão enquanto caminhávamos. — Riven do Clã Kothan, filho sobrevivente mais velho do Lorde Rai Kothan.
— Sobrevivente? — perguntou Ellie, inquieta e olhando para cada canto com nervosismo.
— Eu tinha um irmão e uma irmã mais velhos. Ambos morreram lutando contra o clã Vritra — anunciou com orgulho.
— Uma causa digna para dar suas vidas em serviço — comentou Chul solenemente.
Chegamos a uma sala de estar ricamente decorada, onde vários outros jovens asuras já estavam conversando e rindo enquanto bebiam um líquido vermelho escuro ou dourado. Sentados em sofás macios ou poltronas luxuosas em tons de verde, dourado e amarelo, os asuras se levantaram animados quando entrei atrás de Riven.
Fiquei surpreso ao ver Zelyna já presente. Ela estava conversando com Vireah, filha da nobre dragão Preah. Diferente de todos os outros, que usavam roupas elegantes apropriadas para um banquete real, Zelyna vestia couro justo, parecendo mais pronta para a batalha. O que, eu supus, de certa forma ela provavelmente estava.
Houve uma correria sequencial de apresentações. Naesia, filha do Lorde Avignis, se apresentou pela segunda vez, e também conheci duas de suas irmãs. Descobri que Riven tinha duas irmãs também. Chul rapidamente se tornou o centro das atenções quando Vireah comentou sobre seus olhos. As fênix, em particular, estavam fascinadas em ouvir tudo sobre ele, então fui obrigado a redirecionar a conversa. Felizmente, eles estavam igualmente ansiosos para falar sobre si mesmos. O interrogatório de Chul foi abençoadamente curto, e ninguém pareceu notar as inconsistências em nossas histórias.
Com seu meio sorriso, Zelyna disse:
— Estávamos discutindo algo bastante relevante para sua chegada, Arthur. — Percebi que, entre seus amigos, ela parecia agir de maneira mais jovem do que antes. Em vez de parecer sombria em contraste com a animação deles, ela quase parecia provocadora. — Não é todo dia que tantos leviatãs, dragões, fênix e basiliscos conseguem se reunir.
— Zelyna, dos Eccleiahs, acabou de nos desafiar para uma grande caçada de clãs — continuou Naesia, mordendo o lábio superior. Suas bochechas estavam coradas, e parecia que faíscas brilhavam por trás de seus olhos.
Os olhos de Chul arderam com uma luz interna, e ele me lançou um sorriso sombrio.
— Uma grande caçada nas terras dos meus antepassados? Uma excelente forma de provar a força do meu… digo, do nosso clã!
Mordi a língua, atento a qualquer reação ao seu deslize quase óbvio. Quando ninguém pareceu notar, soltei um suspiro de alívio e falei:
— Seria, Chul, se pudéssemos. Receio que essas coisas terão de esperar para outro momento. Talvez a próxima grande caçada.
— Ah, mas você tem que participar! — exclamou Riven, batendo em meu ombro. — Caçar ao lado de quatro outros grandes clãs? Não é uma oportunidade que surge com frequência! E… — Ele pausou, sorrindo timidamente. — Bem, todos nós queremos ver do que você é capaz. Um menor entre os asuras, uma nova raça! Certamente você entende.
Naesia sorriu enquanto colocava os pés sobre uma mesa baixa e longa, apoiando as mãos atrás da cabeça.
— É uma oportunidade de escapar da pressão desses velhos lordes e ladys enfadonhos por alguns dias também — disse ela.
Vireah puxou pensativamente uma mecha de seu longo cabelo rosa antes de dizer:
— Sabe, já que Lady Myre está aqui, talvez possamos garantir a promessa de um favor de Lorde Indrath para o vencedor. É uma ocasião rara, como Riven disse.
Houve muita conversa animada e comemoração com isso, e Riven rapidamente trouxe algumas canecas e copos para mim e meus companheiros.
— Um favor? — Sylvie disse diretamente em minha mente. — Isso poderia ser útil, considerando a situação.
— Talvez, mas quão grande seria esse favor apenas por derrubar alguns bebês asuras? — Regis respondeu de seu lugar próximo ao meu núcleo
Esse favor provavelmente não mudará nada, mas como um dos grandes lordes…
O pensamento se perdeu enquanto eu considerava as implicações, sabendo que ambos estavam igualmente corretos em seus argumentos.
Ellie, que tinha se sentado em um canto, afastada, sorriu para o basilisco enquanto ele lhe entregava uma bebida, mas assim que ele se virou, seu rosto caiu. Ela olhou para a caneca com uma expressão distante. Quando me pegou olhando, porém, ela tentou parecer animada. Minha dúvida deve ter ficado clara em meu rosto, porque ela disse: — Boo está irritado por ter sido colocado em algum tipo de celeiro lá fora. Ele não confia em todos esses cheiros novos.
Gritos interromperam nossa conversa, e nossa atenção foi atraída para uma luta repentina entre dois basiliscos. Vireah mal conseguiu salvar sua bebida quando uma mesa lateral foi derrubada, acompanhada de risadas.
— Venha, meu irmão! — trovejou Chul, envolvido pela energia e animação. Conjurando sua arma e erguendo-a acima da cabeça, ele praticamente gritou: — Não podemos recusar tal desafio!
Houve mais uma rodada de aplausos e gritos animados.
— Seu protegido está certo, Arthur. A tradição dita que você, como o clã mais jovem, não pode recusar um desafio direto — declarou Zelyna, levantando-se e brandindo seu copo como uma espada. — O clã Eccleiah exige que você honre seu lugar entre nós. Recusar seria diminuir ambos os clãs. Os olhos dela brilharam com a luz da vitória.
O que você está tramando, Zelyna? Eu me perguntei.
Um pensamento clicou, conectando tudo, e eu girei o anel dimensional no meu dedo, considerando o que estava guardado dentro dele.
— Parece que não tenho escolha a não ser aceitar, então.
A sala explodiu em comemorações, e os jovens asuras apressaram-se a falar ao mesmo tempo enquanto começavam a explicar as regras.
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Embora o sol brilhasse calorosamente, o ar rarefeito da montanha era frio o suficiente para que minha respiração se tornasse visível a cada expiração.
Subi perto da retaguarda do nosso grupo de caça. Estávamos no alto das montanhas, já a muitas milhas do Ninho Passo de Pluma, escalando uma face rochosa quase vertical por metade do dia. O vento uivava, puxando-me constantemente, como uma fera esperando que meu aperto falhasse para me arrastar para baixo. Exceto pelo ocasional som de esforço, o grupo de caça escalava em silêncio.
Uma das muitas regras da caçada era que a ascensão fosse feita sem o uso do poder de voo, pelo menos “em companhia mista”, como Riven havia explicado. Se as fênix estivessem desafiando apenas outras fênix, teriam cruzado os céus em suas formas transformadas, mas, na presença de dragões, leviatãs e basiliscos — e arcontes, lembrei a mim mesmo —, eles se desafiavam contra a montanha, como seus ancestrais mais distantes teriam feito.
Riven, Naesia e os outros não perderam tempo em organizar a expedição. Os outros grandes lordes acharam o desenrolar dos eventos divertido, mas abençoaram a caçada mesmo assim.
— Entre vocês estão o futuro de seus clãs, raças e de toda Epheotus. — Myre havia dito enquanto liderava a procissão para fora da cidade, acompanhada pelos Lordes Avignis, Kothan e Ecclieah. Muitos outros membros dos clãs os seguiam, embora essa procissão fosse quase sombria em comparação com a multidão vibrante que havia saudado nossa chegada.
Eu entendia o motivo.
Uma caçada asura não era um evento esportivo casual. Assim como os habitantes de Epheotus, as feras eram incrivelmente poderosas. Quando um aventureiro explorava uma masmorra na Clareira das Bestas, sabia que estava arriscando a vida. Uma caçada asura não era diferente.
Os jovens nobres asuras marchavam solenemente na esteira de seus lordes enquanto Myre falava:
— Cinco de nossos nove grandes clãs estão aqui representados em amizade e confiança. Contudo, os asuras sempre promoveram uma competição saudável entre nós. Os desafios que enfrentamos constroem força e cooperação. À medida que Epheotus se torna mais dócil, caçadas como essas garantem que as longas tradições do nosso povo, tanto de muitos quanto de um só, continuem a fortalecer essa força.
“Testem uns aos outros, mas, acima de tudo, desafiem a si mesmos. Em honra à sua jornada, o clã vitorioso poderá pedir um favor a Lorde Indrath e a mim, mas mais do que isso, espero que cada um de vocês lute pelo orgulho de vencer tal desafio contra competidores tão nobres.”
Seu olhar permaneceu sobre mim por um momento mais longo que nos demais.
Nossa ascensão havia começado algumas milhas fora da cidade. Lá, as fênix, cercadas por fogos cerimoniais brilhantes, cantaram novamente uma longa canção sem palavras. Esperamos em silêncio enquanto a música crescia, tornando-se feroz e selvagem. Os outros times se encheram de vida sob o abraço daquela melodia, explodindo em energia, luz e uma sede por glória.
— Que o maior desses grandes clãs dê o golpe final! — chamou Myre, sua voz ecoando pela montanha e se misturando à canção das fênix.
Com um coro de gritos de batalha, os caçadores asuras se lançaram montanha acima a uma velocidade incrível.
Agora, nos movíamos mais lentamente, com uma escalada constante em vez de uma corrida frenética.
À minha frente, Ellie fazia uso eficiente de sua mana, cobrindo as mãos e os pés com energia e, em seguida, empurrando-a para as fissuras e dobras da rocha, fixando-se com firmeza. Ela brilhava com radiância interior, sua mana mais potente e responsiva à sua vontade do que eu já havia visto antes.
Sylvie subia logo à frente de Ellie, indicando o caminho e mostrando onde colocar as mãos e os pés. Chul vinha logo atrás de mim, a imagem absoluta de concentração.
Cada clã exigia quatro caçadores. Houve uma discussão sobre se Regis deveria ser considerado uma entidade independente ou uma manifestação do meu poder. No fim, Vireah e Naesia decidiram juntas que ele era algo semelhante às bestas guardiãs dos titãs, parte de mim, e, portanto, não contava no número de membros do meu clã.
Em vez disso, minha irmã foi, necessariamente, o quarto membro do grupo de caça do Clã Leywin.
— Tem certeza? — ela perguntou quando contei minhas intenções pela primeira vez. — Você vai passar o tempo todo me protegendo… e se perdermos por causa disso? — Ela suspirou, inquieta. — Só queria poder, você sabe, te ajudar. Você já fez tanto e me deu tantas oportunidades de treinar e ficar mais forte, mas ainda sou apenas algo que você precisa proteger.
— “Vencer” significa sobreviver, então foque nisso. Você conquistou seu lugar aqui, e quero que esses asuras vejam como suas técnicas de mana são únicas. — Minha expressão se suavizou. — E talvez eles possam te ajudar a ficar ainda mais forte de um jeito que eu não consigo.
— Você percebe que provavelmente é um dos magos mais fortes da sua idade em toda Dicathen? — Sylvie acrescentou, segurando o braço de Ellie.
— O que ainda me faz a pessoa mais fraca em Epheotus… — Ellie respondeu com um tom sombrio. Ela deu dois tapas no rosto e assumiu uma expressão determinada. — Mas não vou ficar de autopiedade. Você tem razão. Vou dar o meu melhor.
Ainda assim, mesmo com nossas palavras de encorajamento, Ellie ficou olhando para a pequena esfera brilhante de poder condensado em sua mão por vários segundos antes de finalmente colocá-la na boca. Seus olhos quase saltaram da cabeça um momento depois, quando os efeitos do elixir a atingiram.
Foi a lembrança do elixir de Windsom, aquele que acabou salvando a vida de Tessia da corrupção do Guardião de Elderwood, que me estimulou a procurar Novis. O lorde fênix foi atencioso, apressando-se para conseguir um elixir que atendesse às minhas necessidades.
Em Dicathen, magos abastados costumavam usar elixires para acelerar a purificação de seus núcleos ao longo de muito tempo e prática. Este elixir não aceleraria a clarificação do núcleo de Ellie, mas o preencheu com uma quantidade tremenda de mana altamente purificada, proporcionando um grande impulso temporário, pelo menos até que toda a mana fosse consumida. Combinado com a habilidade dela de condensar e armazenar mana em bolsões semelhantes a núcleos por todo o corpo, funcionava como um amortecedor temporário para ajudar a diminuir a diferença entre ela e os outros caçadores.
Naesia e suas irmãs lideravam a escalada. A tradição ditava que o clã anfitrião da caçada, neste caso, os Avignis, já que a montanha era território deles, ocupasse a posição de maior honra e perigo. Vireah, filha de Preah do clã Inthirah, vinha logo atrás com três Indraths ao redor. Riven trouxe uma de suas irmãs e seus dois amigos mais próximos. Zelyna e os Eccleiahs escalavam pouco à frente de nosso grupo.
— Só mais quatro ou cinco horas nesse ritmo! — Naesia gritou de sua posição à frente. — Vamos acampar no vale acima!
Tentei enxergar onde as dobras e saliências do penhasco davam lugar a esse vale de que ela falava, mas a pedra cinzenta parecia subir para sempre.
— Só… mais… quatro horas… — Ellie disse entre respirações concentradas.
Quase como em resposta ao grito de Naesia, a montanha gemeu sob nós. Houve uma carga repentina no ar, como se um raio estivesse prestes a cair do céu azul claro. A tensão tomou conta dos asuras.
— Movam-se! — Zelyna gritou.
A montanha rugiu em resposta.
Um punho de pedra crua emergiu do lado da montanha e agarrou o tornozelo de Vireah. A garra rasgou a carne da asura, fazendo gotas de sangue brilhante choverem de cima, e então a jovem dragão foi puxada da face do penhasco.
Um dos Indraths a pegou, lançando-a de volta ao penhasco e para os braços de outro.
O aço brilhou, e o membro de pedra explodiu em uma chuva de rochas e poeira que caíram sobre nós.
— Golens da montanha! — gritou uma fênix.
À minha direita, uma cabeça, ombros e um braço longo emergiram da rocha. O golem não tinha olhos, nariz ou boca, mas cada movimento seu gerava um som áspero e hostil, como o ranger de pedras. O braço balançou em minha direção como um porrete. Levantei o antebraço para bloquear o golpe, e as escamas escuras da minha relíquia de armadura se espalharam sobre minha pele.
Uma lâmina de éter se formou ao meu lado e subiu, atravessando o braço de pedra antes de descer novamente sobre o pescoço do golem. A figura se rompeu, suas partes despencando na névoa abaixo.
Flexionei a mão, que latejava devido à força do impacto.
— Fiquem atentos! Esses monstros acertam com força — gritei.
Golens apareciam de todos os lados, às vezes eram apenas membros; outras, figuras humanoides de pedra escalando com movimentos desajeitados, agarrando-se aos asuras para tentar derrubá-los da montanha.
Acima de nós, o torso de um golem lutava contra um leviatã, arrancando-o da parede do penhasco com as garras. Os dois se lançaram para trás, caindo como um meteoro em direção ao vale milhas abaixo.
Sylvie lutava contra um punho de pedra que a estrangulava. Ela agarrou o pulso do golem, e uma luz branca brilhante emanou de sua mão. O braço se estilhaçou, mas não antes de deixar marcas profundas em ambos os lados do pescoço dela.
A montanha se rompeu com a força de uma cachoeira que jorrou das fissuras. A água envolveu o leviatã em queda. Vários dardos voaram, não consegui ver de onde, e o golem foi despedaçado. A cachoeira lançou o leviatã de volta à parede, e, como um só, o clã Eccleiah começou a escalar ainda mais rápido, ultrapassando os Kothans.
Ao meu lado, os olhos de Ellie escureceram enquanto ela ativava sua vontade bestial. — Consigo sentir os movimentos deles dentro da rocha! — Hesitando, ela se moveu de lado quando um braço rochoso se desprendeu da parede e tentou acertá-la.
Firmando os pés no ombro exposto do golem, Ellie saltou para o ar e encontrou uma nova fenda para se segurar mais acima. Dois orbes de mana ficaram para trás, explodindo e abrindo buracos na pedra, mas não conseguindo destruir o membro atacante.
Logo em seguida, a arma de Chul se chocou contra a montanha, destruindo o braço e metade da rocha de onde ele saía, enviando uma chuva de pedras descendo pelo penhasco. Um corpo de pedra, esmagado e retorcido, se soltou da parede e caiu sobre ele, chutando e batendo com os membros restantes.
Uma flecha dourada de luz atingiu Chul, amortecendo os ataques da criatura. No instante seguinte, uma lâmina púrpura vibrante varreu o golem de cima dele, e o monstro se despedaçou enquanto caía para fora de vista.
Olhei para cima para encontrar o olhar da minha irmã, mas seu foco já estava voltado para a pedra enquanto ela rastreava o movimento oculto dos golens. Acima dela, os asuras começavam a se distanciar de nós.
Percebendo que minha preocupação com Ellie estava me distraindo da batalha como um todo, enviei um comando mental rápido para Regis.
Ele saiu do meu núcleo para se imbuir na relíquia de armadura. Assim como fizemos para conter o poder de Sylvie em sua primeira jornada nas Relictombs, desativei a armadura com Regis ainda dentro dela. Ele começou a se afastar de mim, arrastando a armadura incorpórea, presa em estados entre o éter atmosférico bruto e o mundo físico, em direção à minha irmã.
Demorou apenas alguns segundos, mas cada momento era um peso doloroso na minha consciência.
Ellie soltou um grito curto quando a armadura se materializou ao redor dela, quase perdendo a aderência na parede. Sylvie foi rápida em estender a mão, oferecendo apoio em suas costas.
Minha irmã olhou para si mesma, surpresa. As escamas negras da armadura eram ininterruptas, sem os detalhes dourados ou as projeções brancas de osso. Era mais elegante, mais graciosa. O elmo cobria sua cabeça completamente, deixando apenas o rosto exposto. Quatro chifres escuros se projetavam para trás, das têmporas.
— Podia ter avisado! — Ela gritou antes de retomar a escalada. Enquanto subia, Ellie passou a gritar alertas sempre que sentia um golem se aproximando através da pedra, e nós entramos em um ritmo, nós quatro nos movendo e lutando juntos como uma equipe.
Eu não conseguia focar muito nos asuras acima, pois eles continuavam se afastando. A magia deles ressoava como trovões pela face da rocha, e escalávamos por um dilúvio constante de destroços. Pelo menos um deles estava sendo arrastado inerte pelos outros, mas não consegui ver quem.
— Acho que estamos quase lá! — A voz de Naesia ecoou até nós algum tempo depois.
Ao ouvir as palavras dela, senti Ellie recorrer a mais uma de suas reservas de energia armazenada, redobrando o esforço para continuar escalando. Ela hesitou, procurando o próximo apoio para as mãos, quando a montanha sob seus dedos explodiu para fora.
Um punho grande o suficiente para esmagá-la surgiu da rocha em ruínas. Ellie já havia se afastado, voando para trás enquanto evitava o pior do ataque. Um feixe de mana puro de Sylvie encontrou o martelo de Chul e a minha lâmina de éter enquanto todos atacávamos o punho ao mesmo tempo, partindo-o ao meio.
Concentrei éter no God Step, rastreando os caminhos que ligavam minha irmã a mim, mas uma explosão de mana pura a empurrou de volta contra o penhasco, onde ela conseguiu se agarrar a Chul, envolvendo os braços em torno de seu pescoço. Ambos exibiam sorrisos largos.
Lancei-lhes um olhar severo, apagando os sorrisos, enquanto a encosta da montanha começava a se partir ao nosso redor.
Um rastro de azul e verde cortou o ar em nossa direção quando Zelyna caiu do alto, pousando na cratera deixada pelo punho. Já era possível ver a forma de outro braço se moldando, separando-se da própria montanha. Bem à direita, um segundo braço rasgava o penhasco, lançando enormes rochas para as nuvens abaixo.
— A própria montanha se move para nos testar! — Zelyna gritou, agarrando-se às pedras instáveis com a mesma facilidade com que eu subiria uma escada. — Precisamos sair logo ou ela nos lançará para a morte!
Encontrei os olhos de Sylvie e depois os de Chul. Ambos assentiram com firmeza.
— Segurem-se! — trovejou Chul. Ellie se agarrou com força ao pescoço dele, e começamos a nos lançar montanha acima enquanto ela se agitava ao nosso redor.
— Cuidado! — Ellie gritou em alerta. Da nossa direita, outra mão gigantesca avançava contra nós, o vento de seu movimento gerando uma rajada que ameaçava nos arrancar da parede.
— Sylvie, agora!
Pressionei os pés contra a rocha, reunindo éter em cada músculo, tendão e junta. O sol desapareceu quando a enorme mão bloqueou sua luz. O feitiço de éter de Sylvie tomou forma, e o mundo ficou cinza, o tempo quase parando.
A pedra se partiu sob meus pés quando executei um Burst Step para longe do penhasco. Uma lâmina de éter se formou em minha mão e explodiu contra meu alvo enquanto eu seguia com um Golpe Explosivo.
O mundo dissolveu-se em um borrão de movimentos ultra-lentos. Não havia som, calor ou frio, apenas a sincronia perfeita entre meu éter e meu corpo. Estava no céu aberto, azul acima, cinza abaixo, e então o vento voltou a soprar, seguido pelo som estrondoso da pedra se despedaçando. Virando no ar, olhei para a face do penhasco.
O toco de um braço gigantesco agitava-se, a mão voando para longe em uma onda de fragmentos de pedra onde eu havia golpeado. O pulso desmoronava, e fissuras subiam pelo braço.
Acima de nós, vi os outros asuras, escalando, saltando e lutando ao redor da cabeça do gigante, como formigas, enquanto suas magias e armas o desgastavam pouco a pouco.
A voz da minha irmã chegou até mim novamente, de onde ela estava agarrada ao torso do golem com os outros.
— Art!
O gigante estava desmoronando. Logo, cairia completamente da montanha, levando todos consigo.
Os caminhos de éter iluminados pelo God Step me envolveram, e reapareci junto ao meu clã, com as mãos envoltas em relâmpagos de éter, enquanto eles lutavam por um apoio sólido.
Zelyna me olhava, olhos arregalados, dúvida estampada no rosto. Encarei-a de volta.
— Isso vai cair — avisei.
Ela não precisou ouvir duas vezes. A guerreira leviatã assumiu a dianteira, quase voando pela lateral do penhasco. Embora nenhum outro pequeno golem atacasse, grandes placas de rocha começaram a ceder sob nossas mãos e pés. Logo, estávamos saltando de um bloco em queda para outro, lutando por qualquer apoio sólido.
Não íamos conseguir.
O cenário oscilou novamente, escurecendo enquanto a arte etérea de Sylvie se fechava como um punho em torno do tempo. Ela estava suando muito e seus olhos estavam sem foco.
Zelyna, presa no feitiço conosco, olhava ao redor, confusa e aflita.
— Vão! — gritei, colocando o braço de Sylvie sobre meu ombro e a carregando montanha acima, saltando de apoio em apoio, com Chul logo atrás.
Só percebi que havíamos ultrapassado o corpo do golem quando segurei uma saliência fixa. No mesmo instante, a luz voltou, assim como o som, agora ensurdecedor. A queda de pedras era catastrófica, o suficiente para fazer meus ouvidos zumbirem, e o ar estava carregado de poeira.
Sylvie estava pálida, os olhos inquietos, tentando alinhar os pensamentos com nossa súbita segurança relativa.
Até o sorriso de Chul desapareceu.
— Não foi este o grande monstro que viemos caçar? — Ele gritou para ser ouvido sobre o estrondo colossal.
Zelyna riu.
— Vamos, parece que os outros encontraram um lugar para descansar. Esta caçada está apenas começando.
Seguimos Zelyna e os outros até uma estreita saliência de rocha, apenas larga o suficiente para que todos nos sentássemos ou nos deitássemos. Os outros asuras comemoraram quando escalamos a borda. Ellie escorregou das costas de Chul e caiu ofegante. Havia vários cortes superficiais em seu rosto e, segundo Regis, as pontas de seus dedos estavam sangrando, mas, no geral, ela parecia bem.
— Talvez seja uma boa hora para começar a repensar algumas tradições — comentei, sem direcionar a ninguém em particular. — Primeiro, a regra de “não voar” enquanto subimos a montanha.
Riven permaneceu de pé com uma mão apoiada na parede do penhasco, encarando o mar infinito de nuvens e névoa.
— A tradição informa quem somos e de onde viemos — disse ele. — Neste caso, o desafio é o propósito. A própria montanha concorda comigo. Ela nos testou, e nós passamos.
— E você está disposto a morrer por isso? — perguntei, genuinamente curioso.
Foi um dos amigos de Riven quem respondeu:
— A morte é sempre uma tragédia, mas nunca algo a temer. — Ele estava encostado na parede, o rosto pálido e os dentes cerrados. Uma das irmãs de Naesia estava ajoelhada diante do basilisco, suas mãos irradiando calor. Só então percebi que o jovem guerreiro basilisco havia perdido o braço esquerdo abaixo do cotovelo. A fênix estava cauterizando o ferimento com fogo. — Até onde qualquer um de nós chegaria se permanecêssemos em casa, cercados por grossas muralhas e guardas nervosos, apavorados com a morte a cada instante?
— Certamente seu próprio caminho para a força não foi trilhado em segurança, foi? — Zelyna perguntou, recostando-se no penhasco com um joelho dobrado em direção ao peito e os braços em volta dele. Ela lançou um olhar para o basilisco ferido, mas sem qualquer traço de piedade. — Você ascendeu muito mais do que qualquer um aqui, começando de um lugar muito mais baixo. Não fez isso sem enfrentar desafios desesperadores.
Olhei para baixo, por sobre a borda, lembrando de um tempo, muito tempo atrás, em que eu havia caído. — Não. Minha vida raramente foi segura, mas os desafios que enfrentei raramente eram opcionais.
— É o que você diz a si mesmo — disse Zelyna. Ela dobrou as pernas sob o corpo e se inclinou para frente. — Talvez eu não conheça toda a sua história, Arthur Leywin, mas sei o suficiente. Nenhuma luta nos encontra sem que escolhamos lutar, assim como escolhemos seguir os antigos costumes das fênix e escalar esta montanha com as próprias mãos. Vidas de conforto e vazio poderiam ser nossas com um simples sussurro, mas como qualquer um de nós estaria pronto para liderar nossos clãs quando chegasse o momento?
— Nos tornaríamos fracos, lentos e tolos, banqueteando-nos com as dificuldades dos outros enquanto não devolvemos nada em troca — disse Vireah. Ela soltou o laço de seu cabelo, permitindo que os fios rosados caíssem pelos ombros com um movimento. Um dos Indraths cuidava de seu tornozelo ferido. — Em tempos de paz, sem guerras para lutar ou bestas colossais para abater, cabe a nós forjar nossa própria força.
— Isso… isso não era uma besta colossal? — Ellie perguntou.
Os asuras riram, até mesmo o basilisco de um braço só, e Riven entregou a ela uma bolsa cheia de algum líquido rico em mana. Ellie fez uma careta ao beber, mas seus olhos se arregalaram e ela tomou um gole bem mais longo.
Riven riu novamente.
— Não exagere, ou você vai acabar caindo da montanha.
Um silêncio confortável se instalou sobre o grupo de caça. Como um só, ficamos olhando para a vastidão infinita à nossa frente, cada um perdido em seus próprios pensamentos.
Tradução: NERO_SL
Revisão: Crytteck
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