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O Começo Depois do Fim – Cap. 479 – Uma última palavra

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POV CECÍLIA

 

O som dos passos rápidos e confiantes de Agrona bloqueou todos os outros ruídos nos corredores do Taegrin Caelum. Eu me sentia arrastada em meus próprios passos, quase tímidos, enquanto lutava para acompanhá-lo. Ao meu lado, Nico caminhava de olhos fechados, sua atenção toda em mim, sem se preocupar com onde pisava. Por duas vezes, ele tropeçou em degraus inesperados, mas seus olhos continuavam cravados em mim como se fossem ferros em brasa.

Seus dedos fechavam-se e abriam enquanto seus dentes mordiam o interior do lábio. Por várias vezes, ele abriu a boca, lançou um olhar para as costas de Agrona, e então a fechou novamente, voltando a morder o lábio. Ele só poderia tornar mais óbvio que precisava me dizer algo se tivesse escrito a informação em runas na própria testa, mas era claro que não podia falar o que queria na frente de Agrona.

Seja o que for, vai ter que esperar, pensei, meu olhar fixado nas costas de Agrona. Estamos indo para Dicathen. Para matar Grey.

Tessia tinha se mantido silenciosa. Durante minha conversa com Agrona, senti lampejos de suas emoções, principalmente o alívio que sentia toda vez que Ji-ae falhou em localizar Grey, mas ela estava mantendo seus pensamentos afastados de mim.

Tanta coisa aconteceu tão rápido. Tessia me libertou da armadilha que Grey havia armado, permitindo que eu escapasse das Relictombs e voltasse para Agrona. Tentei não pensar na promessa que fiz a ela.

— É por isso que você está em silêncio agora? Arrependimento?

Não houve resposta, mas eu não esperava uma.

Chegamos a uma câmara de teletransporte que nunca tinha visitado antes. Sabia que ainda estávamos na ala privada de Agrona, então presumi que fosse seu tempus warp pessoal. A câmara octogonal era pequena quando comparada com as grandes salas de estar, de estudos e outros espaços semelhantes que compunham as partes da ala privada que eu havia visto. 

A luz descia de um teto inclinado para iluminar um tempus warp descansando em uma coluna de granito no centro da sala. No momento em que entramos, o tempus warp se ativou, com runas brilhantes ardendo ao longo de sua lateral.  Embora tivesse mais ou menos a mesma forma de uma bigorna, o tempus warp de Agrona era suavemente prateado, e maior do que a maioria dos que eu havia visto.

— Aproximem-se — disse ele, movendo-se para o lado oposto sem muita cerimônia.

Nico ficou à sua esquerda e eu à sua direita. Lá no fundo, senti um tumulto em minhas entranhas, e não consegui determinar se o nervosismo que sentia era meu ou de Tessia.

Agrona não deu nenhum aviso quando nós três fomos subitamente retirados de Taegrin Caelum e transportados através do mundo. Embora tenha havido uma leve sensação de deslocamento, a transição foi tão suave que quase desafiava a compreensão, evocando uma estranha sensação de fluidez no movimento. Quando meus pés se afundaram na grama na altura dos tornozelos, tropecei.

Nico me segurou mais firmemente do que necessário e me olhou com preocupação.

— Cecil? Você está…

— Estou bem — disse, tirando meu braço de suas mãos e olhando ao nosso redor.

Estávamos parados à beira de um pequeno bosque. À nossa frente, havia um agrupamento de rochas que formavam uma entrada de caverna estreita. Procurei por qualquer interrupção na mana que pudesse sugerir a presença de Grey, mas não havia nada.

— Tem certeza que ele está aqui? Ji-ae poderia ter se enganado?

Os ornamentos em seus chifres tilintavam levemente enquanto Agrona me olhava, com as sobrancelhas erguidas, incrédulo.

— Cecil, querida, não seja tola.

Meu rosto empalideceu, provocando um sorriso em Agrona enquanto ele se virava e começava a se encaminhar em direção às rochas.

Nico segurou minha mão, seus olhos faiscando enquanto queimavam em direção às costas de Agrona. Ele esperou um momento, deixando Agrona dar alguns passos à frente, então se inclinou em minha direção.

— Eu preciso…

— Venham — disse Agrona, sua voz barítona suave vibrando em meu peito.

Apertei a mão de Nico e depois me afastei, seguindo apressadamente Agrona. Senti Nico parar antes de me seguir hesitante.

Agrona adentrou a fenda nas rochas e flutuou lentamente para baixo na escuridão. Pouco antes de sair da minha vista, ele olhou para cima, na minha direção, e seu olhar me prendeu como um cabo. Sem pensar duas vezes, entrei atrás dele. Por um segundo, mergulhei na escuridão, mas a sensação de queda evaporou quando me segurei com a mana e comecei a descer devagar.

Aterrissei em rocha áspera ao lado de Agrona. Um segundo depois, Nico pousou do meu lado. Diante de nós, havia uma caverna estéril. A única característica notável eram os restos de um enorme trono. Ele estava destroçado, e os fragmentos espalhados pelo chão da caverna.  Ainda assim, não senti nenhuma perturbação na mana, nenhum sinal revelador de uma presença etérica. Para todos os meus sentidos, a caverna estava vazia. Se Grey realmente estivesse lá, Nico não teria tido chance de localizá-lo sem ajuda.

— Revirei este lugar de ponta cabeça procurando túneis ou câmaras ocultas — disse Nico, seus pensamentos seguindo os meus.

— Simplório — murmurou Agrona. Apoiando as mãos nos quadris, ele olhou para o centro da caverna. Até onde pude perceber, ele não estava olhando para nada. — Não se preocupe com isso, pequeno Nico. A culpa não é sua. Afinal, Arthur é apenas… muito mais esperto do que você.

Nico se encolheu como se tivesse sido atingido e olhou para os pés. Senti que deveria intervir, mas minha mente estava ocupada demais com o quebra-cabeça do esconderijo de Grey.

— Então, como encontramos essa… dimensão de bolso? Não é assim que Ji-ae chamou?

— O aspecto do éter chamado spatium é, como se poderia esperar, bastante hábil em manipular o espaço físico — disse Agrona, sua voz mudando. Em vez do sarcasmo frio e provocador, ele parecia um professor entusiasmado explicando um tópico favorito. — Essas dimensões de bolso têm todo tipo de utilidades. Os artefatos de armazenamento extradimensionais tão comumente usados em ambos os continentes foram projetados com base em uma premissa semelhante. Claro, os djinn podiam fazer muitas coisas que hoje são vistas pela maioria como impossíveis.

Agrona andou em círculo ao redor da caverna, seus olhos sempre focados no mesmo ponto.

— Quando ligados a um item com runas, esses espaços são relativamente estáveis, mas quando projetado assim… — Agrona parou e deu alguns passos para trás. Embora estivesse em uma postura relaxada, ondas de mana negra começaram a irradiar para frente dele. Estrias escuras apareceram no ar quando sua mana interrompeu a atmosfera, dispersando-se pela caverna.

Uma bolha transparente e etérica tornou-se visível, revelada pelas ondas de mana. Ela cintilava, brilhando com uma luz interna que de alguma forma contradizia a mana negra que a bombardeava. Era pequena, apenas alguns metros de diâmetro, e pairava a pouco mais de quatro metros no ar. Só então, olhando-a com tanta mana a destacando, percebi a distorção que poderia ter revelado sua presença.

Uma parte de mim ficou envergonhada por não ter sentido isso antes, enquanto outra estava impressionada, e até um pouco assustada, por Ji-ae ter encontrado de tão longe, através do oceano, e com as forças de busca de Alacrya tão distantes.

Também estava curiosa sobre como Agrona parecia identificar e manipular isso com tanta facilidade, mas, à medida que tudo se desenrolava, mostrava principalmente o quanto o ataque de Agrona a Nico havia sido injusto. Quando olhei de relance para Nico, percebi que ele ainda estava me observando, não examinando a dimensão de bolso. Dei-lhe um pequeno sorriso de desculpas, esperando que ele entendesse.

A mana que emanava de Agrona intensificou-se. Chicotes de vento do vazio golpeavam a bolha repetidamente, ficando lentamente mais fortes. As bordas da bolha estavam se desgastando, e o espaço parecia se distorcer estranhamente ao redor delas, dobrando e torcendo a mana.

— Para trás — disse Agrona de repente, fazendo um gesto com a mão.

Nico e eu rapidamente nos afastamos de onde as linhas irregulares de mana negra se chocavam contra a bolha transparente, cada golpe atingindo com mais força.

Com uma onda de ar, a bolha estourou. Dentro dela era… difícil de entender. Um espaço tridimensional várias vezes maior do que a bolha tinha sido dobrado dentro dela. Vi o espaço que estava escondido dentro como se estivesse olhando através de um vidro distorcido, suas proporções completamente fora do comum, os atributos físicos perdendo todo o significado, exceto pela presença de um brilho suave.

O que tornava a visão ainda mais confusa era o fato de que rapidamente se desdobrava enquanto se derramava para fora na caverna, fazendo a transição da dimensão de bolso de volta para o espaço normal como a vela de um navio se desenrolando.

Com o rangido de pedra e um som lento de água espirrando, o espaço escondido se instalou no centro da caverna. Um líquido brilhante deslizava para frente e para trás em uma pequena piscina, parcialmente escondida por uma névoa rosada que a cercava em paineis suaves como paredes. Enquanto assistíamos, a névoa começou a se dispersar.

Sentado na piscina, de olhos fechados, estava Grey. Uma garota com o mesmo cabelo loiro trigo estava sentada em frente a ele. Eu nunca a tinha visto nessa forma com meus próprios olhos, mas sabia pelas memórias de Tessia e pela sua assinatura única de mana que esta era Sylvie, seu vínculo dragão em sua forma humanoide.

Uma relíquia cuboide escura flutuava no ar entre eles, estalando e provocando solavancos violetas de éter.

Ambos estavam de olhos fechados. Nenhum dos dois se moveu enquanto a água da piscina se estabilizava, o suave espirrar contra suas roupas cessando. 

Eles nem sabem que estamos aqui, pensei. Apesar de estar enterrada profundamente em mim, Tessia tremia.

Nico engoliu em seco enquanto se aproximava ao meu lado, seus olhos fixos em Grey. Antes, tenho certeza de que ele já estaria em movimento, o ferro-sangue descendo sobre o pescoço indefeso de Grey. Agora, porém, não consegui ler sua expressão.

As solas das botas de Agrona rangeram contra o chão coberto de sujeira enquanto ele se aproximava da piscina com cautela. Surpreendentemente, seus olhos escuros estavam totalmente fixos na garota. Chegando à beirada, ele se ajoelhou e estendeu a mão, seus dedos apenas roçando levemente uma mecha de cabelo dela.

— Filha… — disse ele, com os lábios enunciando cuidadosamente a palavra que mal sussurrou.

De repente, ele se levantou. Seus punhos cerraram e a mana ao seu redor parecia se afastar assustada.

— Que desperdício. Que decepção. — Ele desviou o olhar e começou a virar as costas para ela, mas, como se fosse agarrado por alguma força externa, parou e olhou para trás. — Você pensa como um menor, filha. Míope e desesperada. O ato de sua mãe, vinculando você a um menor como se fosse uma besta comum, destruiu seu potencial. — Ele balançou a cabeça, e os punhos se abriram. 

Com um suspiro, ele finalmente se afastou, e seus olhos, cuja cor se perdeu dentro do reflexo da luz da piscina, se prenderam aos meus.

— Mate-a, querida Cecil. Absorva a mana dela e então podemos decidir o que fazer com seu velho amigo Grey.

Eu congelei. O esforço para desviar o olhar de Agrona para Sylvie, sua própria filha, parecia hercúleo. Eu já tinha provado sua mana pura antes. Na época, eu desejava avidamente absorver cada gota dela. Que insights sobre mana, ou até mesmo éter, um reservatório de mana completo, saudável e poderoso de um dragão me proporcionaria?

E ainda assim minha atenção se voltou para dentro, buscando profundamente onde Tessia estava. Estava esperando por seus protestos desde o momento em que Grey e seu vínculo apareceram, e ainda assim ela permaneceu em silêncio.

Ela se agitou ao sentir minha atenção voltar para ela.

— Estou em seus pensamentos, Cecília. Você já sabe o que eu diria, porque você se sente da mesma forma.

Recuei do contato mental como se ela tivesse me atingido.

— Depois de tudo, é só isso que você tem a dizer? Por que me vincular a uma promessa se não vai cobrá-la?

Ela não respondeu.

Engoli desconfortavelmente. Um leve arquear da sobrancelha de Agrona forçou minha atenção de volta para ele.

Este era um pedido injusto. Ela era sua filha, e estava indefesa. Era cruel me pedir para absorver sua mana. Se ela tivesse que morrer aqui, por que tinha que ser pelas minhas mãos?

Outra parte, mais profunda e assustada, reconheceu algo mais. Ela é sua filha, e ele está disposto a tirar a vida dela tão facilmente. A verdade era que eu tinha tentado ver Agrona como uma figura paterna, não é? Não tinha tentado ser como uma filha para ele? Nunca tive família na Terra. Apenas Nico. E Grey, reconheci com alguma dificuldade. E a diretora Wilbeck, que sempre foi gentil comigo.

— Cecília querida… — Agrona provocou, um tom perigoso em sua voz.

— Não posso — disse com um nó na garganta. — Sinto muito, Agrona. Por favor, não me peça para fazer isso.

Agrona deu um passo em minha direção. Seu rosto era impassível, tão vazio quanto se fosse esculpido em mármore.

— Você é o legado, Cecília. O caminho diante de você será repleto de obrigações exigentes. Você não pode vacilar em cada uma delas, precisando que eu segure sua mão durante todo o caminho. Nossas vontades – sua vontade – devem ser absolutas.

Minha mandíbula se moveu silenciosamente enquanto Agrona mantinha seu olhar travado no meu. Eu não conseguia desviar o olhar dele.

— Vou travar suas batalhas por você. Destruirei seus inimigos. Dominarei cada aspecto da magia asura, e farei o mundo se curvar, se isso for o que você deseja. — Soltei um suspiro trêmulo. Minhas pernas pareciam gelatina, e minhas entranhas se contorciam como enguias de fogo. — Mas, por favor, não me obrigue a fazer isso.

— Este é o seu limite? — A expressão de pedra de Agrona se rachou, mas não se desfez. Ele olhou para o vazio entre nós e soltou um suspiro suave de algo como risada, mas muito longe disso. O movimento fez os enfeites em seus chifres tilintarem suavemente. — Depois de todas as mortes que você causou, é aqui que decide não matar? Que tipo de lógica inconsistente impede você de matar minha filha? O vínculo dela com Arthur? Ou… a relação dela comigo? Não. Você tem medo do que pode acontecer a você, sabendo que eu poderia fazer isso com minha própria carne e sangue.

— Não… Sim. É que tudo isso… Eu… — Olhei para Tessia, desejando que ela me implorasse para não matar Sylvie ou Arthur. — Não vou fazer isso.

Agrona riu com desdém, um som amargo e cortante.

— Cuidado, Cecília. Veja o que acontece com aqueles que me decepcionam. — Ele apontou delicadamente para a garota imóvel na piscina.

Nico se colocou na minha frente e levantou o cajado de madeira negra que havia projetado, com seus quatro cristais de cores diferentes brilhando fracamente.

— Chega! — Sua voz estava mais aguda que o normal, e havia suor em sua testa. — Depois de tudo que ela fez por você… depois de tudo! Você não tem o direito de ameaçá-la, Agrona. 

Meu coração deu um salto estranho no peito, eu queria estender meus braços para abraçar Nico, protegê-lo. Entretanto, Agrona começou a rir. O som de sua risada selvagem ecoou pelas paredes e me paralisou no lugar.

— Eu tive muito tempo para pensar, e finalmente entendi —, Nico continuou, sua voz tremendo quase tanto quanto o cajado em suas mãos. Ele ainda olhava para Agrona, mas eu sabia que falava comigo. — A mesa, as runas, a transferência de energia, tudo isso.

A risada de Agrona diminuiu e ele enxugou uma única lágrima da bochecha. Ele deu a Nico um sorriso predatório.

— Ah, vá em frente. Você claramente está morrendo de vontade de ter seu grande momento, herói.

Com dificuldade, Nico começou a explicar. Lutei para acompanhar todos os detalhes técnicos. Ainda assim, o propósito era claro o suficiente: a mesa de artefatos, em conjunto com as runas que marcam meu corpo, transferia habilidades mágicas de uma pessoa para outra.

Cautelosamente, toquei o ombro de Nico, e ele parou de falar, olhando para mim com esperança desesperada.

— Nico… ele já me contou. Desculpa. Eu sei.

Suas sobrancelhas se franziram em confusão e sua boca se moveu silenciosamente. Por fim, ele disse:

— Não, você não entende.

— Sim, você me pegou! — Agrona disse, erguendo as mãos como se estivesse se preparando para que elas fossem algemadas. — Trabalho de investigação incrível, Foice Nico. Você descobriu que tenho planos de contingência. Que choque terrível para você, eu sei.

Nico se virou completamente para mim agora, colocando uma mão no meu ombro e se inclinando até nossos rostos quase se tocarem.

— Não é uma opção em caso de emergência, Cecil. É o plano todo. Ele pode tirar o Legado de você. Todo esse potencial, todo esse conhecimento… a compreensão sobre todas as artes de mana dos outros asura, tudo. — O aperto de Nico se intensificou, e seus olhos brilharam de raiva e medo. — Ele nunca vai nos mandar para casa. É tudo mentira. Tudo.

Atrás de Nico, Agrona revirou os olhos.

— Como de costume, Nico, você falha em ver o que está bem na sua frente. Você acha que você e Cecilia podem voltar para a Terra e viver uma vida aconchegante e feliz se ela ainda for o Legado?

Nico girou de volta para Agrona, novamente brandindo o cajado.

— Você me provocou, insultou e menosprezou. Atiçou minha raiva enquanto tirava tudo de mim, me enganando com promessas de trazer Cecilia aqui e depois nos mandar de volta para a Terra para termos uma vida juntos. Você nunca parou de mudar os objetivos para garantir que nada – nada! – nunca fosse suficiente para você. Mas este… este é o limite que não vou cruzar. Não vou deixar você fazer isso com a Cecília!

Olhei de um para o outro. Agrona já havia me contado o que ele e aqueles magos estavam fazendo quando acordei da minha Integração, e, com base no que Nico estava dizendo, parecia que ele havia sido sincero. Contudo, Nico estava assustado… e com raiva. Eu nunca o tinha visto enfrentar Agrona antes, e saber que ele estava arriscando a ira de Agrona para me defender…

— Basta — disse Agrona, qualquer vestígio de humor em seu comportamento desaparecendo de um batimento cardíaco para o outro. Um vento frio varreu a caverna, jogando poeira em nossos rostos. Seus olhos brilharam com um escarlate furioso enquanto ele olhava para mim, ignorando Nico. — Cecília. Estou cansado deste joguinho. Absorva a mana desse fracasso asura agora. Mate-a ou… veja Nico morrer em vez disso.

Meus ouvidos se encheram de um zumbido terrível. Uma pressão pesada parecia descer sobre meu peito, esmagando o ar dos meus pulmões.

De alguma forma, Nico parecia não ser afetado. Seu cajado cortou o ar, conjurando um escudo com os quatro elementos se entrelaçando e girando entre si. Ele falou, e embora eu reconhecesse as palavras como desafiadoras, não conseguia processá-las além do som de tambor em meu crânio. Eu queria pará-lo, protegê-lo, implorar para que Agrona entendesse, mas me sentia como se tivesse sido transformada em pedra.

Do fundo do meu ser, senti uma sensação como se estivesse mexendo meus dedos descalços na grama fria.

— Está tudo bem, Cecília. Eu estou aqui. Você sabe o que é certo e tem a força para fazer isso.

Enquanto me apoiava nessas palavras, apreciando Tessia de verdade pela primeira vez desde minha reencarnação, algo quente e úmido borrifou em meu rosto. Como um tipo de eco percebi que houve um surto de mana.

Lentamente, meu olhar caiu, das luzes cintilantes dentro dos cristais incrustados no cajado de Nico, para seu cabelo preto emaranhado, descendo pelo pescoço e ombros. Ali, meu foco se prendeu, fixado no que via, mas incapaz de processar.

Nico caiu de joelhos. 

O escudo rachou, os elementos se fragmentando e se voltando uns contra os outros enquanto a magia no ar se desvanecia. 

Em cada mão, Nico segurava uma metade do seu cajado.

Vi tudo isso de uma forma desprendida, periférica ao foco do meu olhar, que permanecia nas costas de Nico, logo abaixo de suas omoplatas, onde um espinho negro de ferro-sangue havia irrompido dele. Dezenas de espinhos menores surgiram do sangue que escorria pelo metal negro, e ainda mais cresceram desses, cada um com uma gota de sangue na ponta. Essas gotas caíam como pétalas de uma roseira, formando uma poça abaixo dele.

Minha mão se levantou, tocando meu rosto. Foi o ato de olhar para baixo e encontrar minha própria pele vermelha com o sangue de Nico que finalmente me tirou do torpor.

Respirei fundo, desesperada, e me joguei de joelhos ao lado de Nico no momento em que ele começava a cair para a frente. Puxando-o para meus braços, coloquei-o no chão com cuidado.

— Nico. Nico! Nico… — O nome dele continuava saindo dos meus lábios, minha entonação mudando a cada vez, quase como se eu estivesse recitando um feitiço.

Seus olhos escuros se voltaram para mim, brilhando de dor. Seus lábios se moveram, mas nenhum som saiu, e eu estava entorpecida demais pelo choque para ler o que diziam. Seus olhos se desviaram de mim, e eu os segui, olhando para o rosto de Agrona no momento em que seus dedos se emaranharam no cabelo cinza-metálico que sempre odiei. Com um punhado do meu cabelo, Agrona me puxou para ficar de pé e me arrastou em direção à piscina. Pensei que estava gritando, mas não tinha certeza.

Com um empurrão, caí de joelhos e mãos ao lado de Sylvie, quase aterrissando na piscina com ela e Grey. O vermelho se espalhava no líquido, tingindo lentamente a luz azulada de um roxo furioso.

 — Mate-a — exigiu Agrona friamente, sua intenção assassina pressionando sobre mim, impedindo-me de me levantar.

Virando a cabeça, olhei para seu rosto. Não havia nenhum sinal do homem que me trouxe para este mundo, que me deu a força e a confiança para ousar uma nova chance de vida, em seu olhar expectante, mas sem emoção. Agora, assim como os pesquisadores do meu antigo mundo, ele me olhava como se não houvesse dúvida de que me faria ceder. Eu faria a vontade dele como sempre fiz. Este era apenas mais um teste.

Fechei os olhos contra a dor que apertava meu coração acelerado como garras venenosas. Aceitando o que isso significaria, pronunciei uma última palavra, inesperadamente libertadora.

— Não.

 


 

Tradução: NERO_SL

Revisão: Crytteck

 

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