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O Começo Depois do Fim – Cap. 461 – Não sem custo

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POV ARTHUR LEYWIN

Espessas folhas de grama verde-escuro se curvavam sob meus pés enquanto caminhava debaixo das árvores de madeira do lado de fora do Santuário. Meus pensamentos estavam pesados, me mantendo com os pés no chão como âncoras. Uma mortalha mental me separava de Regis e Sylvie; eu ainda não estava pronto para ter os pensamentos de outra pessoa na minha cabeça, precisava de algum tempo para digerir tudo o que havia acontecido.

Tudo o que tinha aprendido, tanto com Kezess quanto com Mordain, passou pela minha cabeça repetidamente. Haviam muitos caminhos diferentes para seguir ao mesmo tempo e eu não tinha muita informação.

As folhas sussurravam em um galho baixo e uma criatura felpuda que poderia caber na palma da minha mão se arrastava pela parte inferior, agarrada à casca com garras afiadas. Seus olhos prateados como a lua me inspecionaram sem medo. Apesar de sua aparência fofa — uma espécie de cruzamento entre um esquilo voador, um lêmure e um morcego — eu podia sentir a mana condensada em seu corpo, o suficiente para classificá-la como uma besta de mana de classe A.

Depois de farejar por um momento, a besta de mana desapareceu de volta na árvore, atraindo meus olhos ao longo do tronco largo e imponente.

— Se nossas responsabilidades fossem proporcionais ao nosso tamanho, eu poderia deixar tudo isso para você, não é? — disse em voz alta, as palavras, em sua maioria bobagens, emitidas pelo meu cérebro sobrecarregado.

Observei de braços cruzados enquanto a criatura se arrastava ao redor da árvore, desprendendo uma folha vários metros acima de mim.

Enquanto a folha brilhante caía como as cinzas ardentes de uma fogueira, imbuí éter em minha nova runa divina. Um calor suave irradiava da minha coluna, mantendo-me com os pés no chão enquanto sentia minhas habilidades cognitivas acelerarem várias vezes. As informações que recebi e os problemas que agora tinha que resolver estavam dispostos como um baralho de cartas, claros em minha consciência, mesmo quando minha mente se dividia em várias linhas de pensamento ao mesmo tempo.

Chul enfrentou Cecilia e quase pagou por aquele encontro com sua vida, mas eu consegui curá-lo. Além disso, com aquelas pérolas, ele não apenas se recuperaria, mas seu núcleo fraco provavelmente se tornaria mais forte do que antes.

Eu tinha duas pérolas restantes. Não sabia por que Lorde Eccleiah as havia dado para mim, mas como todos os eventos e conversas da cerimônia de retorno de Avhilasha se conectavam entre si, tive certeza de que ele havia previsto os eventos da cerimônia, com seu interesse e sua atuação de “velho tio inocente” exatamente assim. Ele sabia mais do que estava dizendo, talvez até tivesse algum indício dele ter visões do futuro. Afinal, Kezess disse especificamente que os dragões raramente tinham o tipo de visão que Sylvie estava tendo agora.

O que significava que tinha recebido três pérolas de luto por um motivo muito específico, e caberia a mim decidir quando e porquê usá-las, sabendo que, para salvar uma vida, eu potencialmente condenaria outra no futuro.

Com a coroa de luz violeta brilhando do alto da minha cabeça, não visível, mas ainda bem nítida em minha mente, entendi exatamente por que tal coisa era tão valiosa e raramente usada na cultura asura.

Paralelamente a esses pensamentos, segurei outra linha para Cecilia.

A presença dela em Dicathen era um problema maior do que eu havia considerado inicialmente. Talvez, com o fracasso do assassinato de Charon, eles a tenham enviado para terminar o trabalho, mas se fosse esse o caso, não via porquê ela estaria na Clareira das Bestas. Era igualmente provável que Agrona tivesse decidido atacar Mordain, então Cecilia estaria procurando ativamente por qualquer sinal fênix quando Chul se deparou com ela.

Apesar do pacifismo de Mordain, a presença das fênix era ao mesmo tempo um coringa e uma ameaça potencial aos planos de Agrona. Isso funcionou em benefício de Agrona por algum tempo, pois Kezess havia indicado que o número ou a força dos asura presentes neste mundo haviam sido — por uma razão que eu ainda não entendia — uma barreira para que ele atacasse Agrona. Agora, no entanto, Agrona pode ter decidido que o risco não valia mais o benefício.

No entanto, o cenário mais provável era que Cecilia estivesse procurando o caminho para Epheotus para Agrona. Não tinha as informações para elaborar uma teoria sólida sobre exatamente o porquê, embora, sob os efeitos do Gambito do Rei, minha mente imediatamente especulasse sobre várias razões possíveis diferentes, cada uma igualmente provável. Mesmo assim, não tinha certeza de nada, exceto do fato de que Cecilia era a peça mais perigosa do tabuleiro, e sua presença era uma perturbação e um perigo para todos no continente, até mesmo para os dragões.

Porém, Cecilia estava tentando encobrir seus rastros, até mesmo ficando fora da luta contra Chul, o que significava que não queriam que soubéssemos que ela estava aqui. Ou eles tinham medo de colocá-la na linha de frente porque ela se tornaria um alvo ou, talvez, Agrona não tivesse total confiança nela… ou, havia uma chance de que, seja o que for que ela estivesse fazendo, pudesse ser interrompido. Tendo sido pega por Mordain, era plausível supor que ela já tivesse se retirado totalmente da Clareira das Bestas ou mesmo de Dicathen. Mesmo se ela ainda estivesse em Dicathen, eu não poderia persegui-la sem potencialmente sacrificar dias ou mesmo semanas para caçá-la pela Clareira das Bestas, e ainda assim havia uma probabilidade significativa de que ela pudesse escapar de mim. Ela tinha uma vantagem clara: ela sabia o que estava fazendo, enquanto eu não.

Todavia, não podia deixá-la potencialmente vagar livremente pelo continente. Charon precisaria ser avisado e uma patrulha de dragões enviada para vasculhar a floresta.

À medida que surgiam mais e mais fios novos, cada novo pensamento se entrelaçando na tapeçaria de ideias congruentes, eu sentia uma coceira sutil, uma sensação incômoda no meu núcleo deixada pela ferida que Cecilia causou com minha própria espada etérea. Concentrei-me nela e, como insetos se espalhando sob uma luz, a coceira parecia tremer ao longo de cada um dos fios individuais de meus pensamentos.

Parei de canalizar o Gambito do Rei, me livrando da sensação estranha. A folha, que meus olhos estavam rastreando em seu voo, passou pelo meu nariz e continuou seu caminho até o chão.

Minha mente parecia confusa e turva, meus pensamentos desfocados. Tive que me forçar a ficar ereto e encontrei meus dedos cravando meu peito, coçando o fundo do núcleo onde a coceira já havia diminuído.

Demorou algum tempo até que pudesse me livrar dos efeitos da runa divina e me concentrar novamente no que estava ao meu redor. A criatura havia retornado, rastejando ainda mais pelos galhos, e estava me olhando com fome.

Ao respirar fundo, deixei minha mente voltar ao estado em que estava depois de acordar da pedra-chave. Meus pés saíram do chão e eu cambaleei um pouco. Instintivamente, aclimatei o insight que havia adquirido e subi alguns metros, lentamente me acostumando com a sensação. Então, com um aumento de velocidade, passei pela pequena besta de mana, atravessando os galhos estendidos e as folhas laranja-fogo da árvore, subindo ao ar sobre as copas, deixando que a sensação do vento em meus cabelos ajudasse a limpar da minha mente as últimas teias de aranha da runa divina.

Ao contrário de voar com mana, que era simplesmente uma questão de poder bruto e controle obtidos com a transição para um núcleo branco, a habilidade de voar com éter foi desencadeada por meio do meu insight do Gambito do Rei, ou melhor, parte da minha jornada para obter uma visão aprimorou minha compreensão inata da interação entre a física deste mundo e o éter atmosférico para desafiar inconscientemente a gravidade.

O efeito era o mesmo: ao me projetar através do éter atmosférico, consegui usá-lo para me empurrar para o ar e voar. Contudo, havia muito menos éter atmosférico do que mana, e não era natural tanto na sensação quanto para visualizar, era como descobrir um músculo que sempre tive, mas nunca usei. Quando me levantei, voei, com o éter me empurrando mesmo enquanto se afastava para me deixar passar.

Olhei de volta para as árvores. Vistas de baixo, pareciam torres, mas desta altura, estavam pequenininhas. Observando o vento mover a copa da floresta, notei uma sensação de esgotamento quando um efeito secundário sutil do Gambito do Rei deixou meu sistema. Precisarei ser cauteloso ao usar esse novo poder, pensei, observando como ele me fez sentir depois.

Apesar do peso de tudo que estava sobre meus ombros, não pude deixar de sorrir ao sobrevoar as árvores e me inclinar para o sul, avaliando a direção do meu destino antes de me inclinar para frente e voar sobre as copas das árvores, com o vento forte e úmido soprando sobre mim.

Então, enquanto me esforçava para voar cada vez mais rápido, projetando uma forte intenção etérea para afastar quaisquer bestas de mana mais poderosas que decidissem me atacar, retirei o véu sobre minha mente e sondei para alcançar Regis e Sylvie.

Ele voltou! — A voz de Regis soou na minha cabeça quase imediatamente.

Seus pensamentos são sombrios, Arthur — continuou Sylvie. — O que aconteceu?

Expliquei rapidamente tudo o que aconteceu desde a cura de Chul.

Para alguém que parece ter acabado de tirar a sorte grande na loteria do “fazer as coisas acontecerem”, não estou sentindo muita positividade aqui — disse Regis com seu charme habitual.

Talvez eu tenha descoberto um poder que me fará pensar em várias coisas ao mesmo tempo, mas o que realmente preciso é a habilidade de estar em vários lugares ao mesmo tempo, pensei. Tirando isso, preciso de respostas.

Regis, que havia ficado com Oludari e agora estava no castelo voador, guardando a cela do Vritra, se iluminou.

— Isso significa que você está vindo nessa direção? Eu trocaria todas as mulheres demoníacas peitudas de Alacrya para sair daqui. Acho que posso até morrer de tanto tédio.

— Todas elas? — Sylvie entrou na conversa, com a projeção mental de sua voz tilintando como um sino prateado.

Bem, Lady Caera não conta, é claro ele respondeu defensivamente.

Eu balancei minha cabeça. Achei que você se dava melhor com a centopeia de éter, não? Agora, mudando de assunto…

O ato de voar em si era estimulante, e Regis e Sylvie ajudavam a aliviar o peso de minhas muitas preocupações, fazendo com que passasse ainda mais rápido. Ainda assim, com tantos pensamentos ocupando meu crânio — e minha habilidade de processar apenas uma coisa por vez sem o Gambito do Rei ativado — fiquei aliviado quando as paredes altas e os telhados pontiagudos do castelo voador apareceram, surgindo da neblina como uma ave de rapina gigante.

O campo de distorção que antes escondia o castelo estava desativado há muito tempo, e dois grandes dragões, um brilhando como safiras e outro verde opaco como uma rocha coberta de musgo, circulavam pelo exterior. Demorou um pouco para me notarem, pois não tinha uma assinatura de mana para que sentissem eu me aproximar, mas quando o dragão verde me viu, ambos se inclinaram com força e voaram rapidamente em minha direção.

Alto, quem vem… ah, o menor com olhos dourados disse a dragão safira, batendo suas asas para se manter no lugar. Disseram que esperássemos você. Siga-me.

Dando uma volta, ela voou até uma porta de sacada aberta, a mesma que Sylvie e eu costumávamos usar para entrar e sair do castelo durante a guerra. Quando aterrissei atrás dela, ela se transformou, seu corpo encolhendo para revelar uma mulher escultural com cabelos perolados e armadura da mesma cor que suas escamas tinham em forma de dragão.

Venha, vou levá-lo até o Guardião Charon e o prisioneiro disse rigidamente, com seus olhos azuis profundos, salpicados de manchas brancas brilhantes, me estudando com cautela.

Eu sei o caminho. Eu passei por ela, indo para um salão próximo. Houve algum problema?

Ela se apressou e logo estava andando ao meu lado.

Alguns dos batedores se depararam com um incêndio florestal, provavelmente a visão de uma intensa batalha mágica, mas não encontramos a fonte.

Ao reconhecê-la com um aceno de cabeça, vasculhei automaticamente o castelo, sentindo as poderosas assinaturas de mana irradiando força. Charon e Windsom estavam nas profundezas, onde eu sabia que ficava a prisão: a mesma prisão que já prendeu os detentos Uto e Rahdeas, o anão traidor que ajudou Nico a se infiltrar em Dicathen sob a personalidade de Elijah.

Não pensava em Elijah com frequência e não me permitia fazer isso agora. Era muito estranho, e muito doloroso, saber que meu melhor amigo neste mundo nunca existiu, mas sim uma invenção da mente distorcida de Agrona.

Ao todo, senti outros cinco dragões além de Charon e Windsom, bem como a assinatura familiar de um asura da raça titã. Não sabia o que Wren Kain estaria fazendo lá, deveria estar de volta em Vildorial, terminando o projeto em que ele e Gideon estavam trabalhando, mas descobriria em breve.

Enquanto descia pelo castelo, minha escolta e eu entramos em um amplo corredor que me trouxe lembranças do passado. A lembrança da minha última vez no castelo veio à tona com uma violência repentina, e lembrei-me de corpos espalhados pelo chão, meio presos nos escombros que os haviam esmagado.

Isso realmente não tinha me ocorrido antes, mas essa foi a primeira vez que voltei ao castelo voador desde então. Desde Cadell.

— Foi consertado — disse em voz alta, falando comigo mesmo.

— Sim — disse minha escolta com firmeza. — Este castelo voador estava em mau estado e exigiu um trabalho significativo para torná-lo adequado para os dragões do clã Indrath.

Coloquei minha mão contra a parede restaurada, com uma pontada de indignação surgindo ao pensar que qualquer vestígio de Buhnd e de todos os outros que lutaram e perderam suas vidas aqui havia desaparecido.

Chegando ao nível da prisão, minha escolta me permitiu entrar na masmorra trancada e protegida, mas não me seguiu até dentro. Na sala da guarda do outro lado, encontrei Charon, Windsom e Wren Kain esperando por mim. Regis, pude sentir mais profundamente, mantendo um olho em nosso prisioneiro.

Charon me olhou com claro interesse.

— Ah. Arthur. Windsom está nos contando sobre sua jornada para Epheotus.

— Que pena a jovem dragão — disse Wren, com um tom vazio de qualquer tristeza real. — É claro que seu clã receberá mais recompensas por sua morte do que as famílias combinadas de todos os menores que a batalha destruiu, então suponho que é isso.

Examinei o olhar de Wren, procurando significado nos olhos escuros meio escondidos sob seus cabelos oleosos.

Minha expressão deve ter revelado meus pensamentos porque Wren deu uma risada aguda.

— Charon me convidou para falar com o basilisco.

— Não sabia que vocês dois se conheciam — respondi, olhando para o dragão cheio de cicatrizes.

— Ah, sim, Charon e eu nos conhecemos há muito tempo — respondeu Wren com uma brincadeira simulada. — Ele não é ruim… para um Indrath.

Windsom olhou para Wren, mas Charon apenas riu.

— De qualquer forma, estou ajudando, ou tentando ajudar, os dragões a entenderem Oludari, mas ele está propositadamente obtuso desde que você partiu. — Wren cruzou os braços, uma ação que tornou sua postura curvada mais exagerada. — Para um suposto gênio, ele com certeza aparece como um idiota lunático.

Eu considerei isso. O fato de eu estar colocando a palavra de um basilisco lunático que tinha todos os motivos para mentir e me manipular contra o senhor de todos os asuras — meu aliado — não me passou despercebido, mas eu já sabia que também não aceitaria nada do que Kezess disse. Cada conversa com ele era como uma partida de Disputa de Soberanos, exceto que não sabia necessariamente qual era o objetivo do jogo. Com Oludari, era muito mais claro.

— Isso é lamentável, mas mesmo assim, vim falar com Oludari. — Encontrei os olhos sobrenaturais de Windsom. — Então, de acordo com meu acordo com Kezess, você está livre para transportá-lo de volta para Epheotus.

Sem qualquer expressão, Windsom respondeu:

— Ah, e aqui eu temendo que você passasse semanas, se não meses, fazendo rodeios, como vocês menores adoram fazer. Fico feliz em ver você sendo sensato pela primeira vez, Arthur.

Quando não respondi, exceto com um olhar frio, Charon limpou a garganta e fez um gesto para que eu o seguisse. Ele conduziu nosso grupo até a própria prisão, que estava vazia, exceto por uma cela especial que havia sido redesenhada especificamente para o basilisco. Oludari estava acorrentado a uma parede com os braços estendidos para os lados, algemas de metal fosco cobertas de runas prendendo-o nos pulsos, tornozelos e ao redor da garganta. Quando se moveu, seus chifres de saca-rolhas bateram contra a pedra protegida atrás dele.

Ao me ver pela pequena janela gradeada de sua cela, ele deu um sorriso largo e seus lábios começaram a se mover, mas não consegui ouvir as palavras até que Charon enviasse um pulso de mana para dentro da porta e a abrir com facilidade.

— …para me salvar do tédio desses dragões. — Ele estava dizendo, com a primeira metade de suas palavras inaudível dentro da cela protegida. O sorriso afetado escorregou quando seus olhos brilhantes se enterraram nos meus. — Então, humano? Você recuperou o juízo? Devo ser devolvido à minha terra natal e receber a proteção do Senhor dos Dragões?

Percebendo sua adição nada sutil de proteção às suas demandas, entrei na cela e olhei em volta.

Regis estava enrolado em uma grande bola na pedra dura do chão. Seus olhos se abriram preguiçosamente quando olhei para ele e ele piscou.

— Estou com o basilisco neste caso. Por favor, salve-nos do tédio da companhia um do outro.

Oludari estalou sua língua.

— Acho que prefiro você, que é mais interessante do que o resto desses asura presunçosos. É de partir o coração que você não compartilhe esse sentimento.

— Deixaram você ficar na cela com ele? perguntei mentalmente à Regis, sondando sua mente sobre sua experiência nos últimos dois dias.

— Eles não “permitiram” que eu estivesse presente nos interrogatórios — respondeu Regis, evitando cuidadosamente olhar para Windsom e Charon atrás de mim. — Mas eles reclamaram em voz alta e com frequência sobre o quão irracional e “insano” Oludari é.

Você não acha que ele é louco?

 — Algo como raposa e galinheiro — pensou Regis suavemente.

Ao me aproximar do Vritra acorrentado, deixei meu olhar percorrer ele, permanecendo nas algemas.

— Falei com Lorde Indrath e ele concordou em permitir que você retorne a Epheotus como prisioneiro, mas quanto aos detalhes desse retorno… como quanto tempo você permanecerá em nosso mundo, um alvo para seu Alto Soberano, foram deixados para mim. Seu futuro depende de você responder minhas perguntas, de forma completa e sem nenhum jogo. — Eu parei e o deixei digerir minhas palavras. — Não esqueci minha ameaça anterior: impedir que Agrona ponha as mãos em você ainda é minha prioridade, e se faz mais sentido matá-lo do que mandá-lo para Epheotus, não hesitarei em fazê-lo.

Windsom se moveu atrás de mim, mas Oludari ficou impassível, respondendo apenas com um aceno de compreensão.

Eu teria preferido questioná-lo ainda mais sem a presença de Windsom e Charon, mas não dei a eles o poder de recusar, pois já sabia a resposta deles.

Cruzando meus braços, ampliei minha postura e fiz uma demonstração de reflexão sobre minhas palavras. Sabia o que queria descobrir, mas extrair as informações de Oludari sem fazer com que ele ou os dragões suspeitassem era uma operação delicada.

— Por que Agrona quer tomar Epheotus? — perguntei depois de vários longos segundos. — Qual é o objetivo dele em tudo isso? Uma simples vingança contra Kezess e os outros grandes clãs?

Oludari franziu a testa levemente, seus olhos percorrendo rapidamente minhas feições. Ele parecia estar conectando as peças em sua cabeça. Finalmente, ele respondeu:

— Uma boa pergunta, por que razão o Alto Soberano precisaria controlar Epheotus? Estar cercado por asuras de outras raças, muito mais velhos e magicamente mais poderosos do que ele? Retornar à nossa terra natal seria, imagino, o pior pesadelo de Agrona. Ele não passou esses últimos séculos se cercando de menores e mestiços sem razão.

Ele fez uma pausa, seu olhar agora voltado para os dois dragões atrás de mim.

— Quem lhe disse isso está, talvez, tentando distorcer sua visão do quadro geral desse conflito. Ou seja, o maior conflito entre Agrona e Indrath.

— Tolice — zombou Windsom. — É claro que Agrona está tentando retornar à nossa terra natal. Não há outra razão para travar uma guerra contra Epheotus como ele fez. Todo o seu esforço para tomar Dicathen à força foi simplesmente para preparar o cenário para um conflito maior, como bem sabemos. — Seu tom era rígido, quase forçado.

Levantando minha mão em silêncio, olhei por cima do ombro.

— Eu gostaria de adiar os comentários extras. Preciso me concentrar. — Preparando-me para a enxurrada de estímulos, ativei Gambito do Rei.

Nos olhos de Oludari, vi a luz inchar ao meu redor, se acumulando e se fundindo até que uma coroa de muitas pontas de puro brilho pairava sobre meu cabelo, transformando o loiro pálido em um branco brilhante.

A dobra de suas narinas embranqueceu quando elas se dilataram, e suas pupilas, focadas inteiramente na coroa brilhante, dilataram-se em uma fração de segundo. A pele ao redor de seus olhos se enrugou levemente quando apertou os olhos contra a luz.

O ar se deslocava ao passar por uma fenda na pedra em algum lugar, fazendo alguns fios do cabelo despenteado de Oludari ondularem.

— Há uma fresta na pedra em algum lugar. — Minha voz tinha uma qualidade oca em meus próprios ouvidos, pois era filtrada pelos aspectos que aprimoram a mente do Gambito do Rei, tanto quando falava as palavras, quanto novamente ao ouvi-las vibrar no ar.

Sob o cheiro de poeira, pedra e, mais sutilmente, da flora distante da Clareira das Bestas, Oludari tinha um odor de queimadura metálica de ozônio e um leve traço de suor nervoso. Charon cheirava a couro velho, óleo de lâmina e sangue de uma matança fresca. O branco Windsom se perfumou com algum tipo de perfume floral que não conseguia esconder a fragrância distante e terrosa do Monte Geolus.

Ugh, por que de repente estou me cheirando? E por que eu cheiro a pãezinhos de enxofre e canela? — Regis se projetou, balançando levemente a cabeça enquanto meus pensamentos amplificados pela runa divina fluíam livremente entre nós.

Atrás de mim, senti Charon se virar para olhar para Windsom, cujas sobrancelhas estavam franzidas e mandíbula tensa enquanto olhava para minhas costas.

— Você disse antes que Agrona está tentando concentrar o poder. Que ele sabia alguma coisa e esse conhecimento estaria conectado às dimensões em camadas que compõem esta realidade. Você disse que me contaria tudo o que sabia. — Minhas palavras o atacaram como a ponta de uma lança. — Se meu entendimento atual é falho, então corrija-o.

Os olhos de Oludari pareciam… flexionar, como se os estivesse forçando a se encaixar, impedindo que passassem pelo meu ombro direito até Charon.

— É claro, Vossa Majestade — disse, tentando colocar muita diversão em sua voz, provavelmente para esconder a tensão que agora assolava sua garganta e fez com que suas palavras saíssem tensas. — Sim, como eu disse, ele busca poder. Não para se tornar um senhor da guerra e governar Epheotus, mas para consumir tudo. Como o leão mundial, ele comeria até mesmo seus próprios filhotes, o povo de Alacrya, por dominação. Porém, só depois de ter vasculhado Dicathen e Epheotus.

Comparei suas palavras e seu tom com o que ele disse e como havia falado antes, dissecando o significado e o timbre ao estabelecer uma linha de base para estabelecer a verdade versus as mentiras.

Regis se sentou e seus olhos tremeram, ficando cruzados.

— Não, não posso… ah, isso é horrível. Acho que vou explodir em pedaços… — Sua mente se soltou da minha, uma barreira abrindo caminho entre nós. Eu podia sentir as bordas da parede, as rachaduras dentro dela, e sabia que poderia perfurá-la se necessário, mas não havia necessidade de forçar a participação de Regis na conversa, mesmo que a perspectiva dele pudesse ajudar a ampliar a minha.

Em algum lugar distante, senti a mente de Sylvie se proteger da mesma forma. Os efeitos da runa divina não se estendem aos meus companheiros, observei.

— Por mais que eu prefira não ser vítima desse canibalismo planetário — continuou Oludari —, acho extremamente divertido que você segure tão alegremente a cauda do dragão, deixando Lorde Indrath arrastá-lo para onde quiser, considerando que seus próprios crimes são igualmente graves, não é?

— Cuidado com a língua, Vritra — retrucou Windsom, dando um passo à frente ameaçadoramente enquanto Oludari falava mal de Kezess.

Senti o desejo de franzir a testa, mas interrompi antes que a expressão pudesse se manifestar. Havia uma qualidade elevada na voz de Windsom, um toque que sugeria… uma resposta premeditada?

— Conte-me mais sobre essas camadas — disse a Oludari, segurando Windsom à distância com um rápido olhar sobre meu ombro.

A língua de Oludari se arrastou pela parte de trás dos dentes e seus dedos ficaram tensos, mas ele os impediu de tremer. Ele tinha um bom nível de autocontrole físico, uma habilidade que antes não havia se apresentado enquanto era mantido refém pelas Assombrações. Isso sugeria um medo profundamente arraigado de danos físicos à sua pessoa ou até mesmo da morte. Embora tenso, ele atualmente não temia por sua vida.

— Você mesmo vem de um mundo diferente, correto? — Ele disse. — Vocês têm um tipo diferente de magia lá, o ki, pelo que fui informado. Mas nenhum dos outros reencarnados conseguiu canalizar ki quando veio a este mundo, porque é um tipo de magia diferente da mana, exigindo uma atmosfera e biologia diferentes.

Wren ajustou sua postura, causando um tilintar abafado de dentro do casaco, como dois elos de uma corrente se chocando.

Oludari falou mais rápido enquanto continuava, inclinando-se para a história que estava contando.

— Outro mundo. Uma estrutura mágica totalmente diferente. Imagine só. As pessoas de Alacrya geralmente estão limitadas a um único feitiço e suas formas variáveis; as pessoas do seu continente à apenas um elemento de mana. Meu próprio povo pode controlar todos os quatro elementos primários, mas somente através da lente de nosso próprio entendimento, que você chama de atributo decadência. Os dragões podem usar mana pura e brincar com suas pequenas artes etéreas, enquanto os djinn escreviam com éter como se tivessem descoberto a língua nativa da realidade.

Ele soltou um suspiro de admiração, como se tivesse acabado de dizer algo profundo. Notei o padrão dele me contar apenas coisas que eu já sabia e, ao fazer isso, senti a coceira novamente. Não estava no meu núcleo, mas rastejando ao longo do fio do pensamento em si, nas profundezas do meu cérebro.

— Essas são as camadas de que falei: mana, éter e até ki. Talvez também existam outros tipos de magia. — O tom de sua voz era levemente modulado e seus olhos repetiam a flexão tensa e sem foco de antes. — Apesar disso, Agrona nunca ficou satisfeito com a sorte dos basiliscos na vida. Por que só seríamos eficazes na utilização de artes de mana do tipo decadência quando deveríamos ter tudo?

Essa explicação não estava de acordo com suas declarações anteriores. Tangencial e talvez até verdadeiro, mas ainda assim uma ofuscação.

— Vocês são inimigos de Kezess há muito tempo. Está ciente do que aconteceu com os djinn. Diga-me, qual você acha que é o objetivo principal de Kezess?

A carranca de Windsom era audível.

— Arthur, essa não é uma linha de questionamento apropriada…

Oludari bufou em zombaria e interrompeu Windsom. — Ele está bancando o “Rei da Montanha”, obviamente.

— Este basilisco está tentando confundi-lo e colocá-lo contra Lord Indrath — disse Windsom, muito rápido. — Eu recomendaria que não se envolvesse mais com ele.

Desta vez eu tinha mais certeza. Suas palavras podem não estar escritas, mas foram premeditadas.

Vários fios emaranhados de pensamento se enrolavam um no outro, e cada um amplificava a coceira ondular, semelhante a um inseto, que vibrava do meu núcleo para a minha mente. A coceira ecoava de cada pensamento simultâneo, não mais do que só um pouco irritante, mas quanto mais canalizava o Gambito do Rei, e quanto mais linhas de pensamento simultâneas ativava, mais intensa a sensação se tornava.

Charon limpou a garganta e colocou a mão no meu ombro.

— Arthur, talvez devêssemos fazer uma pausa. Você parece… tenso.

Algum sinal da crescente irritação deve ter vazado para minha expressão. Reprimi as partes do meu cérebro responsáveis pelos movimentos intencionais e subconscientes do meu rosto e corpo, forçando meu pulso a diminuir, minha expressão a se suavizar e cada respiração a sair calma e nivelada.

— Windsom, por que você deu a Ellie um urso guardião? — perguntei repentinamente, seguindo um novo tópico enquanto continuava segurando os outros.

Houve uma hesitação, uma mudança em sua respiração. Virei minha cabeça alguns graus, alinhando meu ouvido para ouvir melhor as micro mudanças em seu comportamento, que normalmente seriam abafadas por todo o resto.

— Eu estava tentando fazer você se sentir confortável para que deixasse sua família. Além disso, eu sabia o quanto você era superprotetor. O suficiente para renunciar à experiência de treinar em Epheotus se estivesse muito preocupado com sua família.

Avaliei como uma resposta honesta, mas ele teve que decidir primeiro o quão sincero seria.

— O que Kezess fará com Oludari quando voltar para Epheotus? — continuei rapidamente.

Ouvi a resposta, mas não me preocupei com as palavras em si, em vez disso, ouvi o tom, a cadência. Não era realmente em Windsom que estava focando, mas sim em avaliar a intensidade do interesse de Charon à medida que mudávamos de assunto.

Esperei, deixando o silêncio durar muito além do ponto de desconforto, assistindo e ouvindo tudo o que os três asuras faziam, até catalogando os micro movimentos de Regis.

Pela primeira vez, algo quebrou minha concentração e meus pensamentos tropeçaram: a coceira estava mais forte agora, como um enxame de formigas me roendo por dentro.

Mas eu tinha certeza: Charon havia feito algum tipo de acordo com Oludari. As respostas do Vritra foram projetadas especificamente para ofuscar certos fatos. Ele seria devolvido a Epheotus e recompensado de uma forma que eu não poderia duplicar.

Mudando de assunto para garantir que eu abordasse o outro tópico essencial antes de não conseguir mais manter a runa divina ativa, perguntei:

— O Legado… antes, você sugeriu que ela não era uma arma, mas uma ferramenta. Cecilia é a chave para a absorção de mana de Agrona diretamente dos outros soberanos, mas não só isso. Ele busca desbloquear novos poderes para si. Diga-me, ela sobreviverá a esse processo?

Um sorriso tímido apareceu no rosto de Oludari.

— Você está perguntando sobre a reencarnação ou o receptáculo?

— Você está prestando atenção. Você se considera inteligente, o que significa que se planejou para o pior. — Suprimi um arrepio e tive que segurar minha mão com força para não coçar meu esterno. — Como você lutaria contra o Legado se ela viesse atrás de você?

Oludari ergueu uma sobrancelha, com a boca ligeiramente aberta, surpreso. Ele pensou por alguns instantes, mas seus olhos nunca saíram dos meus.

— Domínio completo sobre mana. Sem núcleo, então seu corpo inteiro age e reage à mana. E ela é incrivelmente sensível à mana, que, eu acho, pode ser usado contra ela. Não é muito criativa e, portanto, não faz pleno uso de seus pontos fortes, além de ser mentalmente fraca. Se alguém sobrecarregasse seus sentidos e a fizesse recuar, deixando-a cambaleante, ela não se recuperaria rapidamente.

Enquanto Oludari falava, uma nova linha de pensamento se separou, transformando-se em uma ideia, incipiente e perigosa, mas irreprimível.

Eu precisava me aprofundar na quarta pedra-chave para resolvê-la e obter o aspecto do Destino, mas se o que Mordain disse fosse verdade, eu poderia ficar preso nela por um período de tempo desconhecido. Agrona sempre provou estar vários passos à minha frente, e eu não tinha ideia de quantos espiões ele poderia ter em Dicathen. Não podia simplesmente confiar que minha ausência passaria despercebida e tive que aceitar que o uso da quarta pedra-chave representava um momento perigoso para Dicathen. Com Cecilia já em nossas costas perseguindo um objetivo desconhecido, seria o cúmulo da tolice não se preparar.

Eu poderia simultaneamente me proteger contra uma incursão contra mim ou Dicathen enquanto estava vulnerável e garantir que Cecilia fosse neutralizada, pelo menos por algum tempo, ao mesmo tempo?

Fiz algumas perguntas complementares, com cuidado para não revelar demais nem para Oludari nem para os dragões, mas estava rapidamente chegando ao fim da minha capacidade de suportar a coceira, que aparecia na forma de milhares de insetos rastejando sob minha pele, amplificada por cada camada de meus pensamentos entrelaçados.

Quando terminei, fiquei sem palavras e passei pelos dragões e por Wren, saindo da cela e marchando pelo corredor ao lado. Só então desliguei meu controle sobre o Gambito do Rei, quando ninguém podia ver como meu rosto caiu ou o suor frio que escorria pela minha testa.

Senti a mente de Regis retornar, tentando tocar a minha e depois recuando novamente.

— Ei, chefe, você vai ficar bem?

— Estou bem — mandei de volta enquanto ainda estava sofrendo os efeitos colaterais da runa divina. Quando cheguei à entrada da prisão, me senti pelo menos capaz de falar sem confundir as palavras; parei e esperei que os outros conversassem.

— Uma perda de tempo — disse Windsom simplesmente ao se juntar a mim na câmara externa da guarda.

— Infelizmente, tenho que concordar — acrescentou Charon, externamente desapontado. — Esperava que você conseguisse tirar mais proveito dele quando ativou aquele… feitiço? — Ele fez uma pausa, olhando para mim interrogativamente.

Quase respondi de forma honesta, as palavras parando na ponta da minha língua antes de engoli-las novamente. Em vez disso, disse apenas:

— Estou satisfeito. Kezess o está esperando, e eu gostaria que esse Vritra saísse de Dicathen o mais rápido possível. Agora mesmo, na verdade. Não há razão para tentar Agrona para recuperá-lo, independentemente da minha ameaça anterior.

— Concordo — disse Windsom, pedindo confirmação a Charon. O dragão com cicatrizes acenou com a cabeça sua aceitação.

Wren, que ouviu atentamente durante todo o meu interrogatório, especialmente quando a conversa se voltou para o Legado, veio ficar ao meu lado.

— Precisam de mim em Vildorial. Você está indo para lá também?

Eu precisava falar com várias pessoas na capital de Darv, mas, acima de tudo, queria dar uma olhada na Ellie e na mamãe.

— Eu estou — concordei.

— Reparamos algumas das funcionalidades dessa fortaleza — disse Charon atrás de mim. — Incluindo os dispositivos de teletransporte, que felizmente não foram totalmente destruídos pelos combates anteriores. Vajrakor também achou por bem realocar uma das estruturas de teletransporte de longo alcance do oeste de Darv para Vildorial, permitindo que nos movamos mais rapidamente entre locais estrategicamente importantes.

— Entendo a conveniência, mas isso é um grande risco — observei.

— Todas as precauções foram tomadas para garantir a segurança da cidade e de seu povo — assegurou-me Charon.

Acenei com a cabeça, reconhecendo que essa era uma decisão para os anões. Eu não era o governante deles.

Ele continuou falando sobre as mudanças de infraestrutura que fizeram nas maiores cidades de Dicathen enquanto eu percorria os corredores reparados até a câmara de teletransporte. Apesar do fato de mantiverem os artefatos desativados quando não estavam em uso, ainda havia um único dragão guardando a câmara, que se afastou quando nos aproximamos. Windsom e Charon pararam do lado de fora da câmara quando Wren e eu entramos pelas portas largas.

Memórias inundaram minha mente cansada, e uma emoção desconfortável, mas sem nome, agarrou meu estômago como um punho, torcendo-o. Vi, como se estivesse revivendo isso novamente pela primeira vez, soldados feridos mancando ou sendo arrastados para fora da sala enquanto eu procurava de rosto em rosto, os Chifres Gêmeos e Tessia. Tess havia retornado, mas o velho amigo dos meus pais, Adam, não.

— Arthur? — Wren perguntou quando quase esbarrou em mim por trás. Eu tinha paralisado sem perceber.

— Tudo bem — murmurei, experimentando uma forte sensação de déjà vu ao encarar Charon. — Precisarei que você coordene uma grande operação em breve, mas preciso de tempo para planejar os detalhes mais sutis. Você estará aqui ou em Etistin?

Charon olhou em volta para o castelo.

— Decidi ficar aqui e fazer desta nossa base de operações no momento. Está perto da fenda, e o sistema de teletransporte nos permite acesso instantâneo à maior parte do seu continente.

Balançando a cabeça, expliquei rapidamente o que havia descoberto sobre a presença de Cecilia, omitindo tudo sobre Mordain e as fênix e, em vez disso, fazendo parecer que Chul estava obedecendo minhas ordens quando foi atacado, e eu tinha ouvido tudo dele.

A careta de Windsom se aprofundou quando ouviu minha explicação, mas ele manteve seus pensamentos para si mesmo.

Charon, por outro lado, confiou em cada palavra.

— Isso explica o local de sua batalha, então. Vou garantir que a guarda na fenda aumente, embora não haja como ela conseguir localizá-la, se esse for realmente o objetivo deles.

Dei algumas sugestões sobre o que observar e alguns detalhes sobre minha batalha anterior com Cecilia, depois Wren e eu nos despedimos dos outros, ativamos o portal de teletransporte e o configuramos para Vildorial.

O continente passou correndo ao nosso redor em um borrão quando fomos quase instantaneamente desviados do leste da Clareira das Bestas até o coração de Darv.

Mais de uma dúzia de anões fortemente armados e blindados e um dragão em sua forma humanoide guardavam o portal do outro lado. Eles levantaram a guarda por um momento quando entramos, mas todos rapidamente reconheceram Wren e eu, e pudemos passar sem problemas.

— Quando podemos esperar que você revise o progresso de nosso experimento? — perguntou Wren, parando onde nossos caminhos divergiam.

— Em breve — respondi, olhando para trás de mim aos portões do Instituto Earthborn. — Quanto tempo falta até que você possa ter protótipos prontos para a batalha em produção?

As sobrancelhas do titã se ergueram por trás de sua franja despenteada.

— Já existem protótipos, mas cada um é individual, assim como os… — Ele olhou em volta com desconfiança. — Portadores — terminou lentamente. — Levará algum tempo para estabilizar unidades adicionais.

Senti minha mandíbula apertar e se soltar ao considerar minha resposta.

— Eu posso te dar duas semanas.

Seus olhos se arregalaram e ele olhou para o chão como se estivesse vendo seu projeto através da pedra, alojada bem abaixo de Vildorial, nos túneis mais profundos, onde olhares indiscretos não o encontrariam por acaso.

— Quase não há tempo para encontrar novos usuários, muito menos treinar e projetar…

— Precisamos de todos que você puder ter prontos — disse, estendendo minha mão para apertar a dele.

Em vez de pegar minha mão, ele estendeu algo que estava escondendo atrás de seu lado, então empurrei minha própria mão para trás como se tivesse sido queimada, olhando para o objeto.

— O pessoal de Charon o encontrou nos escombros. Quando perceberam que era feito por um asura, coletaram os pedaços.

Segurada frouxamente em seu punho estava a empunhadura da Canção do Amanhecer. Cerca de uma polegada da lâmina azul permaneceu, cinza e recortada ao longo de sua borda quebrada.

— Não foi a melhor coisa que já fiz, mas achei que você poderia querer.

Com cuidado, peguei a empunhadura, virei-a e olhei para ela, tomado pela sensação estonteante de ver um sonho se manifestar repentinamente no mundo real.

Então Wren estendeu uma pequena caixa. Quando a peguei também, ele abriu a tampa para revelar fragmentos cinzentos no interior: o que restou da lâmina.

O menor indício de um sorriso irônico apareceu pelo canto de sua boca.

— Eu sei o quão sentimentais vocês humanos podem ser.

— Obrigado, Wren — disse simplesmente, olhando para a Canção do Amanhecer, ou pelo menos o que restou dela.

Ele deu de ombros e se virou.

— Venha nos encontrar em breve. Há algumas coisas a serem discutidas se você quiser uma resposta em duas semanas.

Quando desviei meu olhar de seu presente para dizer alguma coisa, ele havia desaparecido no fluxo constante de pessoas que transitavam ao longo da estrada que contornava a borda da enorme caverna.

Meus pés me levaram cegamente pelos portões do instituto e por seus corredores até chegar à porta da minha mãe. Quando estendi a mão para bater, a porta se abriu para dentro para revelar o rosto esperançoso de minha mãe.

Ela parecia pega de surpresa, quase como se estivesse procurando por mim, mas não esperasse que eu realmente estivesse lá. Eu podia ver o peso de mil palavras penduradas na ponta de sua língua e praticamente podia imaginar a bronca que me daria sobre o estado de Ellie quando ela retornou pela última vez, e apenas com Chul, nada menos.

Contudo, com a mesma rapidez, a tensão e a frustração desapareceram, substituídas pelo calor maternal e por uma triste alegria. Ela me deu um sorriso caloroso.

— Bem-vindo ao lar.

 

Separador Tsun

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Mamãe bufou quando Ellie contou uma de suas muitas conversas com Gideon, e sua mão cobriu a boca de vergonha.

Ellie começou a rir e, de propósito, imitou o bufo acidental da mamãe. Mamãe jogou um pãozinho na cabeça dela, mas Ellie o pegou do ar e deu uma grande mordida, parecendo extremamente satisfeita consigo mesma. A risada seguinte durou muito tempo e pareceu uma toalha limpando meu espírito por dentro.

— Então, Ellie, eu estava me perguntando — disse minha mãe, deixando minha irmã tensa, sem dúvida esperando algum tipo de pergunta de emboscada. — Você nunca teve uma vida normal, não desde que tinha apenas alguns anos de idade. Quando seu irmão mais velho salvar o mundo e tudo voltar ao normal, ou seja lá o que for, na verdade, o que você acha que vai fazer?

— Serei uma dona de casa — disse Ellie sem perder o ritmo.

Mamãe e eu piscamos várias vezes em silêncio enquanto nos esforçávamos para digerir essas informações. Boo, que não cabia na cozinha e observava Regis com inveja pela porta enquanto meu companheiro devorava um prato de sobras, virou a cabeça quase de lado enquanto olhava para Ellie um olhar desafiador.

Ellie riu e balançou a cabeça ferozmente.

— Céus, estou só brincando! Não, acho que… — Ela hesitou, seus olhos perdendo o foco, então um pequeno sorriso apareceu no canto da boca. — Acho que talvez eu gostaria de ser instrutora de artes mana. Na Academia Lanceler, ou talvez até mesmo em Xyrus. Isso seria… meio que como ir para casa, sabem?

Conversamos por mais algum tempo, inventando cenários cada vez mais tolos sobre o que todos gostaríamos de fazer quando a longa guerra finalmente chegasse ao fim e Dicathen estivesse segura. Mamãe decidiu escrever um livro sobre minhas façanhas, alegando que ela seria uma viúva idosa rica enquanto aproveitava minha fama, enquanto eu assegurava às duas que me aposentaria, começaria a cultivar batatas e inventaria batatas fritas.

No entanto, durante todo o jantar e a conversa, meus pensamentos permaneceram sobre a Canção do Amanhecer, minha conversa com Oludari e as bases do plano que começou a se formar na minha cabeça.

Quando a conversa fiada acabou, um silêncio confortável foi deixado para trás. Apoiado nesse silêncio, retirei os restos da espada da minha runa dimensional e os coloquei na mesa. Mamãe e Ellie assistiram com curiosidade. Mamãe reconheceu a empunhadura primeiro, olhando para mim com uma surpresa silenciosa.

Dei a ela um pequeno sorriso ao abrir a caixa e jogar os pedaços cinzentos e quebrados da lâmina ao lado da empunhadura.

Regis levantou a cabeça para ver por cima da borda da mesa.

— Oh, você vai usar o Aroa para consertá-la? Você sabe, eu secretamente esperava que isso acontecesse.

Sorrindo satisfeito, coloquei os pedaços da lâmina de volta na caixa, coloquei-os sobre a mesa e coloquei a empunhadura em cima.

— Não.

Percebi que a lâmina quebrada tinha sido o ponto de virada para mim. Até aquela batalha, eu sempre saía por cima no final. Minha crença na inevitabilidade da vitória era tão certa quanto se eu a tivesse visto em uma visão. Todo o meu treinamento, toda a minha busca pelo poder de proteger aqueles que amava, tudo desabou, se despedaçou junto com a lâmina azul da Canção do Amanhecer.

Consertar a lâmina não desfaria minha derrota ou a longa série de consequências que se seguiram para definir o mundo em que vivíamos agora. Olhei da mamãe para Ellie e depois para a parede, onde estava pendurado um desenho a carvão do meu pai. Os olhos da mamãe seguiram os meus e sua mão se estendeu para pousar no meu braço.

Ellie soltou um suspiro cansado que parecia muito velho para ela.

— Mal posso esperar para essa guerra estúpida acabar. Para reconstruirmos nossas casas e viver em paz, onde nossa maior preocupação é qual roupa usar em um encontro…

Eu levantei uma sobrancelha, levando-a a sério.

— Apesar do fato de preferir lutar contra vinte Assombrações com meus braços acorrentados atrás das costas do que ver você se preparando para um encontro, prometo, El… farei tudo o que puder para que esse futuro aconteça.

— Mas vou precisar de sua ajuda novamente para fazer isso. E vai ser perigoso.

 


 

Tradução: NERO_SL

Revisão: Crytteck

 

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