POV ARTHUR LEYWIN
A história de Mordain evocou uma melancolia desconfortável que ficou como uma pedra no meu estômago. Minha interação com Lorde Eccleiah foi estranha desde os primeiros momentos até o último, e ainda não conseguia entender muito de tudo o que ele disse e fez, especialmente conhecendo esse novo contexto. Ficou claro que o velho asura queria algo de mim, mas que troca valeria o custo das Lágrimas da Mãe?
As teorias percorriam meus pensamentos, mas não tinha como confirmá-las, nem mesmo ter uma ideia geral. Apesar de saber que um jogo potencialmente revolucionário da política asura — comigo no centro — estava acontecendo em Epheotus, tinha preocupações imediatas que precisavam ser consideradas aqui em Dicathen.
A notícia de que Cecilia estava aqui não foi bem-vinda. Qualquer coisa em que estivesse envolvida provavelmente seria grande o suficiente para mudar os rumos da guerra, mas essa não era a única razão pela qual eu estava desconfortável. Não gostava da ideia de uma batalha entre o Legado e os dragões e não tinha certeza de qual resultado eu mais temia: que Cecilia se mostrasse forte o suficiente para matar até mesmo guerreiros asuras de sangue puro ou que perdesse e Tessia fosse destruída com ela.
Parecia perigoso não procurá-la imediatamente, mas sem ter um Insight do Destino, não tinha certeza de como uma segunda batalha seria diferente da primeira.
— Venha, Arthur, vamos deixar Chul descansar e completar sua recuperação — disse Mordain, acariciando o cabelo do inconsciente Chul como um avô. — Avier, faria a gentileza de cuidar dele até que ele acorde?
A coruja verde balançou sua cabeça com chifres.
— Claro.
Mordain agradeceu e dispensou as outras duas fênix antes de me levar para fora da pequena sala. Com uma última olhada em Chul, cujo corpo agora estava nadando em mana, eu o segui.
Mordain nos conduziu para baixo, caminhando ao longo das profundezas dos amplos túneis, que foram claramente projetados para voar. Saímos do ninho central e entramos em túneis menores e mais antigos, então percebi que ele estava me levando pelo mesmo caminho que tínhamos usado antes para chegar ao portal quebrado para as Relictombs. Alguns minutos depois, entramos novamente na caverna coberta de musgo, iluminada por cristais brilhantes que cresciam como estalactites do teto. Ao contrário de antes, nenhum portal brilhava dentro da moldura retangular de pedra no centro da caverna, a magia etérea tendo desaparecido.
— O que estamos fazendo aqui? — Finalmente perguntei quando Mordain se ajoelhou e passou os dedos sobre o musgo verde e dourado.
— Falando onde não seremos ouvidos — disse Mordain com simplicidade. Virando-se para mim, ele se deitou no musgo, uma ação e postura estranhamente mundanas para alguém tão velho e não humano. — Você acabou de chegar de Epheotus. Ainda consigo sentir a energia se agarrando a você.
Encostado na parede da caverna, cruzei meus braços e examinei Mordain de perto.
— Sim, eu cheguei.
— Com tanta coisa para resolver, você voltou de Epheotus e escolheu vir direto para mim. Por mais fortuito que tenha sido, só vejo uma razão para você fazer isso — disse ele, falando devagar. — Você sabe que eu tenho a pedra-chave.
Senti meus olhos se arregalarem, incapaz de esconder a surpresa do meu rosto.
— Então você admite? Um dos djinn rebeldes roubou a terceira pedra-chave e a deu a você?
Mordain pareceu envelhecer diante dos meus olhos enquanto olhava para uma visão assustadora de seu passado.
— Alguns poucos djinn pensaram que poderiam mudar o destino de sua civilização. Mesmo entre aqueles que buscavam refúgio com meu povo, essa opinião era rara. As Relictombs não eram apenas uma grande biblioteca que continha todo o conhecimento coletado pelos djinn, mas também continha peças de conhecimento etéreo que, quando resolvidas como um quebra-cabeça, podiam permitir uma visão sobre como influenciar o próprio destino. Os djinn, coletivamente, armazenaram esse conhecimento na esperança de que alguém acabasse sendo capaz de usá-lo de uma forma que eles não foram, mas aqueles que queriam revidar estavam prontos para tentar a façanha sozinhos, mesmo que isso os matasse.
“Tentei convencê-los do contrário, pregando a sabedoria de sua coletividade, mas, tendo deixado de lado seu povo, mesmo no esforço de salvá-los, não estavam dispostos a ouvir tal coisa, nem mesmo de mim. Mas, à medida que mais deles entravam nas Relictombs e não retornavam, sua busca se tornava mais sombria e desesperada”.
Mordain pausou sua história, seus olhos se fecharam como se doessem.
— Eles pretendiam usar esse poder oculto para cortar a conexão deste mundo com Epheotus a fim de acabar com o genocídio.
— Isso teria funcionado? — perguntei, voltando minha mente pela primeira vez para como, exatamente, alguém poderia usar o aspecto do Destino para resolver os muitos problemas que agora enfrento.
Os olhos de Mordain se abriram, brilhando de raiva. Instintivamente me afastei dele, mas a emoção foi sufocada tão rápido quanto apareceu e ele soltou um longo e suspiro cansado.
— Epheotus já foi um pedaço deste mundo e, de uma forma muito real, ainda é. Se a… bolha que o cerca fosse isolada deste mundo, Epheotus lentamente morreria pela privação de mana. O mundo que os asura construíram para si desmoronaria, desapareceria e, eventualmente, as paredes que o separavam da dimensão em que está alojado se desgastariam. Acho que não preciso extrapolar o que aconteceria então.
Engoli pesadamente, entendendo por que isso seria um assunto delicado para o fênix.
— Teria sido um tipo de genocídio totalmente diferente. E você não podia permitir isso.
— Não, não podia — respondeu, com seu comportamento simultaneamente tenso e melancólico. — Quando conseguiram reivindicar essa pedra-chave, eu destruí a entrada deles para as Relictombs, o mesmo portal que, ironicamente, você consertou mais tarde. Aqueles que os seguiam partiram, decidindo que nossos objetivos não estavam mais alinhados, mas a maioria permaneceu e viveu o resto de suas vidas aqui em paz. Como o pai de Chul.
Pensei no guerreiro temperamental, filho de dois representantes de clãs pacíficos. Ele era muito diferente de qualquer um dos outros membros do clã Asclepius. E também dos djinn que tinha visto.
— Ele puxou seu temperamento de sua mãe ou pai? — perguntei, de repente desconfiado de alguma coisa.
A boca de Mordain se contorceu em um sorriso irônico.
— Ambos. Que combinação. Acho que foi exatamente esse fogo interno que os uniu. Dawn foi uma grande guerreira. Acredito que ela teria preferido que todo o nosso clã perecesse em uma gloriosa batalha contra os Indraths, mas era igualmente leal, então quando decidi levar todos que pudesse e deixar Epheotus, ela também foi a primeira na fila atrás de mim. Quanto ao pai de Chul… ele não era exatamente um membro comum da raça djinn.
— Foi o pai de Chul quem pegou a pedra-chave, não foi?
Mordain não pareceu surpreso com minha suposição.
— Foi.
— Mas ele não saiu quando os outros partiram?
Mordain ficou pensativo por vários longos momentos.
— Eu o convenci de que havia mais pelo que viver do que a crescente escuridão dentro de seus companheiros. Quase se tornou violento quando ele decidiu ficar e manter a pedra-chave, mas Dawn… convenceu os outros de que tal ação seria imprudente.
— Ele chegou a resolveu o quebra-cabeça?
Mordain respondeu com um pequeno aceno de cabeça e nós caímos em silêncio. Meus pensamentos estavam teimosamente quietos; sentia-me como se fosse uma criança lendo uma história para dormir, meio adormecida e incapaz de acompanhar completamente o que estava acontecendo.
Ao me sacudir um pouco, tentei me forçar a entender no momento quando olhei fixamente nos olhos de Mordain.
— Você sabia que eu estava procurando as pedras-chave e estava com uma esse tempo todo. Por que escondeu isso de mim?
Sua expressão não mudou enquanto ele refletia sobre minha pergunta.
— Não é fácil dar a uma pessoa, seja ela quem for, a capacidade de reescrever a verdade do poder neste mundo. Como alguém poderia ter em suas mãos a chave do destino e não sucumbir à inevitável corrupção de tal coisa? Então achei que fosse melhor que o quebra-cabeça nunca fosse resolvido, e não tenho certeza se minha opinião mudou muito, mas…
Ele se sentou ereto e me olhou seriamente.
— Ao menos dois mundos estão presos entre as maquinações de Kezess e Agrona. Começo a acreditar que uma mudança no equilíbrio de poder é exatamente o que este mundo precisa, mas mesmo assim…
Não pude evitar o sorriso irônico que cruzou meu rosto.
— Como pode saber se eu sou realmente a pessoa que deveria exercer esse poder?
— Como, de fato — ponderou Mordain, com os olhos voltados para a moldura do portal. — Em parte, é por isso que permiti que Chul o acompanhasse. Ele é um espírito puro, apaixonado, mas às vezes quase… infantil. Pensei que, se alguém pudesse ver o seu coração, seria Chul. Ele não sabia — acrescentou rapidamente. — Não o mandei para espionar você, apenas para te conhecer. Através dos olhos dele, queria ver quem você realmente é, Arthur Leywin. E… agora eu sei.
Esperei que ele continuasse, sem me surpreender com o que tinha a dizer sobre Chul, mas curioso para saber para onde isso estava indo.
— Você veio até mim hoje com questões de importância mundiais sobre seus ombros, mas, apesar de não conhecer Chul há muito tempo, deixou de lado todas as outras preocupações e pensou apenas nele, oferecendo tudo e qualquer coisa disponível para salvá-lo sem hesitar, até mesmo um artefato de riqueza incalculável. — A voz de Mordain ficou levemente rouca e fez uma pausa. — Sentindo o conflito entre as Assombrações e os dragões, sabia que as coisas estavam escalando. De repente, pareceu urgente falar com Chul, olhar em seus olhos e entender a verdade de sua experiência. Porque somente alguém igualmente focado e altruísta tem a chance de tocar o próprio destino e não sucumbir ao desejo interno de poder.
“No entanto, mesmo assim, podemos ver o funcionamento do destino, pois se não tivesse chamado Chul, esse ataque não teria ocorrido, e você, Arthur, não poderia ter provado seu valor. Por sua vez, eu poderia não ter confiado o suficiente em você para abrir mão da pedra-chave… e nisso, vejo a prova de que preciso. O próprio destino parece querer que você o encontre, Arthur, mas antes que eu possa, em sã consciência, contribuir para o seu sucesso nessa missão, preciso saber uma coisa: o que você fará com o poder, se puder reivindicá-lo?”
Afastei-me da parede e me aproximei de Mordain, caindo em uma posição de pernas cruzadas a seus pés. Ele mudou sua própria postura, espelhando-se em mim.
— Como posso responder a essa pergunta? — perguntei, minha voz firme e minha mente limpa. — Para dizer o que farei com o aspecto do Destino precisaria entendê-lo, mas não o entendo. Não consigo tomar uma decisão até obter a visão que essas pedras-chave estão me conduzindo. — Segurei o olhar em Mordain com firmeza, como se eu fosse o ancião e ele estivesse confiando em cada palavra minha. — Você pede demais e, ao fazer isso, condena o mundo a cair na visão de Kezess Indrath ou de Agrona Vritra. Seu medo o paralisou e, portanto, em vez de se arriscar e falhar, você escolheria falhar sem tentar. Esse é o custo de escolher ser passivo em uma guerra em que perder significa o fim de tudo.
O olhar de Mordain caiu no musgo dourado e verde entre nós. Distraidamente, seus dedos roçaram a superfície áspera. Então, inesperadamente, ele deu uma pequena risada.
— Você oferece insultos quando convém ser político, mesmo que tenha que inventar seu raciocínio. Um homem menos honesto alegaria trabalhar pela paz e pela prosperidade de todos ou de alguma outra reivindicação calculada, mas sem peso nenhum. Você, no entanto… fala sua própria verdade, e fala com sabedoria. Eu me mantive fora do tabuleiro por muito tempo. Não vou lutar essa batalha por você, Arthur, mas também não vou mais ficar no seu caminho. Pode ficar com a pedra-chave.
Ele acenou com a mão e a mana varreu o chão na base do portal. Sem saber o que esperar, fiquei surpreso quando a mana descobriu um esqueleto enterrado vários metros abaixo do retângulo de pedra. Havia uma tonalidade azul nos ossos identificando-os como algo diferente de humanos.
Um cubo escuro fosco idêntico às outras pedras-chave flutuava suavemente, livre dos dedos agarrados do esqueleto e saiu do buraco, depois o solo voltou para o túmulo escondido e a pedra-chave flutuou até minhas mãos.
Apesar do peso e da superfície fria e levemente áspera, fiquei desconfiado. Apesar de tudo, conseguir tão fácil o mesmo item que passei tanto tempo procurando… precisava ter certeza.
Com uma sondagem de éter, imbuí a relíquia cuboide.
Minha mente mergulhou na pedra angular, descendo até o esperado véu de energia violeta. Eu me inclinei nela, empurrando a parede até me manifestar do outro lado. Dentro do reino da pedra-chave, me vi cercado por… não tinha certeza do que eram.
Pareciam arranhões no ar, marcas etéreas que queimavam nas bordas. Cada uma era diferente, os arranhões se cruzavam como runas, mas quando focava minha atenção em uma, ela desaparecia, revelando ainda mais nos cantos da minha vista.
Minha mente consciente desencarnada girou, revelando que o reino da pedra-chave estava cheio dessas marcas etéreas, mas em todos os lugares em que me concentrava, elas desapareciam, enquanto as da minha visão periférica brilhavam ainda mais intensamente.
Fazendo uma pausa, levei um momento para deixar minha mente se estabilizar, permitindo ativamente que ela se desconcentrasse. Olhando não diretamente, procurei significado nas marcas ao redor com minha visão periférica. No início, tive dificuldades, incapaz de focalizá-las sem olhar diretamente. Eram pouco mais do que formas borradas pairando no ar etéreo do reino da pedra-chave.
Com meus anos de experiência meditando, deixei minha mente mergulhar mais fundo nesse estado de relaxamento, deixando-me ver sem ver, sem tentar ativamente entender, mas esperando que a compreensão chegasse até mim enquanto meu subconsciente decifrava as formas.
Família, percebi, reconhecendo uma das formas como uma runa esculpida. Proteger. Incentivar. Forma. Futuro…
Eram todas runas. Quando percebi isso, meu olhar se voltou para a runa que dizia “Futuro” e ela desapareceu. Comecei de novo, entrando nesse estado meditativo e lendo as runas. Algumas se repetiam e havia muitas outras além das primeiras, mas não tinha certeza. Quando concluí a primeira pedra-chave, o quebra-cabeça, quero dizer, a ação que eu deveria realizar, parecia relativamente simples, mesmo que a solução não fosse, mas aqui, enxergava as peças com bastante clareza, mas não tinha contexto sobre o que fazer ou como seguir em frente.
A comparação surpreendente do espaço vazio à minha frente com a segunda pedra-chave interrompeu meu estado meditativo e senti uma onda de preocupação. E se eu não estivesse vendo o quebra-cabeças inteiro e, como antes, algo estiver faltando porque não tenho a mesma noção que o djinn tinha? Mas meu senso de mana havia retornado à medida que meu Insight sobre Realmheart se fortalecia e, de qualquer forma, percebi que isso parecia intencional. Só precisava descobrir qual era essa intenção.
Pensei em sair e voltar à minha conversa com Mordain, mas o significado parecia estar a apenas alguns passos da minha compreensão. Só mais alguns minutos, disse a mim mesmo, voltando à meditação.
Fardo. Insight. Evoluir. Família. Aprender.
Li cada palavra uma a uma sem me concentrar nas runas, procurando algum padrão ou significado. Proteger a família. Aprenda um insight. Moldar o futuro, pensei, tentando combiná-las para o caso de meus pensamentos provocarem alguma mudança em meu ambiente, mas nada aconteceu. Em seguida, usando o que aprendi com a primeira pedra-chave, enviei dedos de éter em direção às runas emparelhadas, tentando talvez conectá-las por meio de meu poder, mas quando meu éter atingiu as runas, elas desapareceram.
Tentei esse experimento algumas vezes com diferentes pares de palavras, depois com palavras combinadas e, finalmente, com uma sequência totalmente aleatória das runas, mas todas as tentativas tiveram o mesmo resultado.
Deixando isso de lado, voltei à meditação para reassentar minha mente. Só mais um minuto, depois eu sairei, assegurei.
Sem tomar uma decisão consciente de fazer isso, meus pensamentos se voltaram para Ellie e minha mãe. A runa da Família flutuou ao meu redor e queimou contra a escuridão, acho que não era de se admirar, mas ao pensar nelas, esperando que estivessem bem e me perguntando que tipo de treinamento Ellie estava fazendo com Gideon e Emily, meus pensamentos se projetaram visivelmente no espaço vazio para onde o centro desfocado da minha visão estava voltado.
Minha mãe e Ellie, ambas aparecendo como as via em minha mente, uma espécie de mistura entre sua aparência há dez anos e sua aparência no presente, pairando naquele espaço central, emoldurado por runas. Contudo, algumas runas estavam desaparecendo, e foi preciso um esforço concentrado de vontade para não desviar meu olhar e ver quais.
Em vez disso, mantive essa imagem clara em meus pensamentos e tentei fixar meu olhar para que pudesse extrair o significado das runas flutuantes da minha visão periférica, como havia feito antes.
Família. Proteger. Guiar. Amor. Insight. Incentivar. Crescer. Aprender. Fardo.
Meu foco mudou para essa runa final, e ela desapareceu, assim como a imagem de Ellie e mamãe. Todas as palavras que faltavam reapareceram nas bordas da minha visão.
Quando li Culpa, a palavra brilhou da escuridão muito mais do que todas as outras. Uma conexão subconsciente, talvez, ou a pedra-chave reagindo às minhas próprias emoções? Minha família não é um fardo, pensei com força, sem esperar nenhuma resposta da pedra-chave.
Porém, tinha aprendido alguma coisa e precisava ver se conseguia repeti-la.
Pesquisando as runas na minha visão periférica, deixei minha mente vagar pelo nexo de seu significado. Desta vez, conjurei uma imagem das Lanças restantes: Mica Earthborn, Bairon Wykes e Varay Auray. Na imagem, elas estavam em seus uniformes, brancos, dourados e vermelhos, ainda não ensanguentados por anos de batalha, e com as feições intactas. Assim como estavam quando suas imagens foram projetadas acima das ruas de Xyrus para que todos pudessem ver.
Enquanto pensava nelas em minha consciência, observei algumas runas desaparecerem e outras entrarem em foco na minha visão periférica.
Proteger. Crescer. Superar. Forma. Falhar. Escudo. Aprender. Fardo.
Desta vez, mantive meu foco, não deixando que o significado superficial de nenhuma runa me distraísse. Não conseguia interagir com as runas via éter, mas tinha que haver algum outro método de interface com a pedra-chave.
Crescer. Aprender. Mantive o significado dessas palavras em minha mente, conectando-as com as Lanças. Seu significado, sua conexão, era óbvio. As Lanças precisavam crescer e aprender se seriam capazes de travar as futuras batalhas, mas também foram uma parte importante do meu crescimento e aprendizado. As runas podiam ser lidas de qualquer maneira.
Quando nada aconteceu, mudei de tática. Superar. Falhar. Ambas as palavras se aplicavam às Lanças, mas eram contrárias, contrárias uma à outra. As Lanças falharam em defender o continente contra as forças superiores de Agrona; magos do núcleo branco simplesmente não tinham chance de derrotar Foices ou mesmo Assombrações, mas haviam superado suas limitações e nunca pararam de tentar crescer.
Algo mudou na atmosfera, uma espécie de carga ressoando entre as runas Superar e Falhar.
Alcançando-as com éter, tentei novamente manipular as runas, puxando-as em minha direção. Desta vez, elas não desapareceram, mas foram atraídas da borda da minha visão diretamente para o centro da minha mente consciente imaterial, enviando disparos de Insight, como um raio, atravessando meu cérebro.
De repente, entendi. Era quase simples, um desafio para o qual eu inadvertidamente estava me preparando por meio de meu treinamento com as lâminas etéreas, expandindo para fora com minha consciência enquanto controlava e reagia a várias ao mesmo tempo. Com o esforço de todas aquelas falsas mortes, ao aprender a manipular e controlar várias lâminas ao mesmo tempo em um amplo campo de batalha, eu estava aprendendo a me concentrar de uma maneira totalmente nova.
Pensei que finalmente podia ver o que estava buscando.
Rapidamente, comecei a percorrer pensamentos que pareciam se formar no nexo de vários significados rúnicos, forjando uma imagem sólida e depois conectando as runas opostas aos significados. Era necessário não apenas considerar ideias opostas simultaneamente, mas dividir ativamente meus pensamentos para ver uma imagem de forma diferente de várias perspectivas, mantendo vários pensamentos em mente ao mesmo tempo.
É como empunhar cinco lâminas com as duas mãos.
O insight fluiu como uma torneira aberta. Dois ou três por vez, as runas desapareciam e o reino da pedra-chave ficava mais vazio à medida que minha mente parecia inchar de compreensão.
De repente, fluiu em mim um sentimento desconcertante, o reino da pedra-chave estava vazio e eu estava sendo atraído de volta pela parede de energia roxa. Meus olhos se abriram enquanto uma fina poeira negra percorria meus dedos, derramando-se no denso tapete de musgo.
Um par de olhos amarelos brilhantes encontrou os meus e Mordain deu um passo atrás.
— Arthur? Mas o que…?
Cerrei meus punhos e tentei acalmar minha respiração enquanto meu pulso acelerava.
Às minhas costas, podia sentir… a nova runa divina estava pesando em minha mente. Como antes, um nome e uma história se apresentaram para mim, séculos de criação, propósito e intenção entrelaçados na visão como uma tapeçaria.
Busquei o chão para me levantar, só então percebi que estava flutuando acima do chão coberto de musgo. O éter atmosférico parecia estar pressionando contra mim, como se eu estivesse entrelaçado nele, me segurando contra a força da gravidade. Movendo-me como se estivesse em transe, me desdobrei e fiquei de pé com firmeza, com uma repentina sensação de nostalgia se misturando com a empolgada confusão de meu sucesso na pedra-chave.
— O que aconteceu? — Mordain perguntou, com a voz firme e incerta. Para ele, percebi que deve ter parecido que fiquei catatônico por um breve período enquanto flutuava no ar.
— Eu resolvi — respondi, com a voz cheia de descrença. Depois dos longos testes das duas primeiras pedras-chave, não poderia ter ousado esperar que a terceira pudesse ser desvendada tão rápido. — Eu consegui, Mordain. O poder da terceira pedra-chave, outra runa divina…
Empurrei o éter ao longo da minha coluna até a runa divina. Um brilho dourado inundou a caverna enquanto minha mente se iluminava como uma teia infinita de luz estelar ramificada se espalhando pela eternidade de meus próprios pensamentos.
— Uma coroa — disse Mordain suavemente, com o olhar focado no topo da minha cabeça, de onde percebi que a luz dourada estava primariamente irradiando. — Uma coroa de luz…
Ao sentir hesitantemente a emanação que ele estava vendo, entendi.
— O Gambito do Rei…
Liberei a runa divina, deixando de ver os efeitos colaterais de seu uso, sem fôlego. Precisaria de tempo para entendê-la completamente e o que ela poderia fazer, mas se essa breve ativação fosse alguma indicação…
— Eu preciso ir. Distraidamente me virei para a porta. — Por favor, faça com que Chul retorne em segurança a Vildorial quando ele estiver…
Uma mão forte agarrou meu pulso, me parando.
— Arthur, antes de sair… há algo que você deve saber. — O comportamento de Mordain ficou repentinamente sério.
Forcei a mim mesmo encarar o momento com seriedade, um pouco difícil depois do que acabei de vivenciar, mas dei a ele toda a minha atenção.
— Você deve ter cuidado. Os djinn não revelaram muito dessas pedras-chave, mas aprendi uma coisa com o pai de Chul em seus últimos anos. A quarta pedra… ao entrar nela, Arthur, você não poderá sair novamente até obter o insight que ela está tentando lhe ensinar. Uma espécie de… segurança contra falhas. Se a tarefa for impossível, sua mente ficará presa na pedra-chave para sempre. E enquanto você busca uma visão, seu corpo físico ficará vulnerável.
Considerei o que ele disse, minha mandíbula cerrada enquanto trabalhava contra a crescente tensão sob minha pele. Finalmente, acenei com força para ele e depois me virei.
POV CECILIA
Pedras-chave, runas divinas, éter… Destino.
Tanta coisa havia sido revelada, tantos detalhes sobre os quais não sabia nada antes. Sobre o passado e até sobre possíveis futuros… mas nem tudo importava. Não, me concentrei nas partes mais importantes.
Arthur está procurando por um poder que lhe permita mudar o próprio “destino”, mas nem mesmo ele parece saber o que isso realmente significa.
— Mas, ele ficará vulnerável quando usar a última “pedra-chave” — ressoei baixinho, falando metade para mim mesma, metade para Tessia, que podia sentir vibrando atentamente, tão envolvida no que aprendemos quanto eu.
— Pode ser isso — disse Tessia, com sua empolgação atravessada por um forte toque de medo. — Você precisa ver isso, não é, Cecilia? Temos que ajudar Arthur a encontrá-la, seja ela o que for. Ele poderia…
Eu ri, depois fiquei quieta rapidamente, lembrando onde estava.
— Ajudá-lo? Por que eu faria isso? — Levantei do chão, voando rápido, mas com cuidado, pelos galhos mais baixos das árvores. — Esta é minha chance de derrotá-lo enquanto ele não pode reagir.
A excitação surgiu dentro de mim, vibrando logo abaixo da superfície. Percebi o quanto esperava evitar outro confronto com Grey, e agora descobri a resposta de como poderia derrotá-lo sem me testar contra sua magia novamente.
— O destino em si, Cecilia. Você acredita que Agrona pode mandá-la de volta a algum tipo de vida na Terra, mas que Arthur não, mesmo com esse novo poder? — perguntou Tessia, com descrença em seu tom.
Pensei melhor, com uma sensação de náusea e culpa se contorcendo dentro de mim como as videiras do Guardião de Elderwood.
— Sei que ele não faria isso. Depois de tudo que Nico e eu fizemos, por que ele…
— Eu sei que isso não é verdade, eu sei… eu… — As garantias de Tessia desapareceram e pude sentir sua dúvida.
— Agrona pode ter querido me ver lutando contra Grey para aumentar nossa força, mas nunca permitirá que Grey reivindique esse poder.
— Estou na sua cabeça — lembrou-me Tessia desnecessariamente. — Eu sei que você sabe que isso é errado. Isso não é quem você queria ser. Em duas vidas, quantas pessoas já te mostraram gentileza, Cecilia? Não as pessoas que queriam transformar você em uma arma, ou em um monstro sob seu controle. Mas Arthur, ou Grey, ele e Nico estavam lá para você, eles ainda podem estar, Nico quer…
— Você não sabe o que ele quer! — surtei, minha voz soando assustadora pela floresta tranquila. — Nico me entende, o que está sendo pedido de mim, o que eu preciso fazer, ele vai me apoiar. Ele teve que tomar decisões difíceis, assim como eu, e eu o perdoei por elas! Assim como ele me perdoa…
Havia outra coisa à qual não me atrevi a dar voz, algo novo que surgiu enquanto pensava em Nico. Antes, na Terra, eu fiz o que fiz para que não usassem Nico contra mim, porque sabia que chegaria a esse ponto. E se eu me voltasse contra Agrona, ele faria o mesmo. Em comparação, tinha certeza de que ele podia fazer com que todos aqueles experimentos torturantes parecessem um passeio no parque.
— Agrona é… minha única chance de conseguir o que eu quero.
— Não é, você só...
— Chega! — gritei novamente, mais alto, com uma rajada de mana se espalhando ao meu redor, arrancando várias árvores pela raiz e jogando-as para longe.
Uma gigantesca fera insectoide surgiu do chão, sua cabeça com pinças estalando de um lado para o outro enquanto procurava a perturbação. Instintivamente, ataquei com um chicote de mana, e a besta de mana foi aberta de sua cabeça até o longo tronco que era seu corpo. Com um grito gorgolejante e chilreante, ela afundou no pântano.
Respirando com dificuldade, avancei ainda mais rápido, deixando minha mente se esvaziar, não sentindo ou pensando em nada, exceto a rajada de vento do furacão em meus estúpidos cabelos grisalhos. Dentro do meu crânio, havia um silêncio abençoado.
Apesar de sua afinidade em se esconder, as Assombrações não conseguiam esconder completamente sua presença de mim, foi fácil encontrá-las de novo, junto com Nico.
Não aterrissei, mantendo vários metros entre mim e o solo encharcado dos pântanos onde estavam esperando.
— Nico, precisamos voltar para Alacrya imediatamente. Há notícias que Agrona deve…
— Acho que encontrei o que precisamos! — Nico explodiu de entusiasmo, como uma criança em seu aniversário. Ele sorriu, absorto. — Decidi procurar em mais uma masmorra enquanto você estava fora e…
— Mais tarde — respondi, ansiosa para entrar em contato com Agrona enquanto todas essas informações ainda estavam relativamente frescas em minha mente.
Os olhos de Nico brilharam de dor e percebi que meu tom tinha sido muito mais nítido do que pretendia.
— Desculpe — disse rapidamente, descendo até onde ele estava olhando para mim. — Nico, descobri algumas coisas. A fenda, o plano, tudo mais terá que esperar agora. Precisamos ir até Agrona.
Acenando com a cabeça, ele retirou seu tempus warp do artefato dimensional que usava.
— Claro, Cecil.
Tradução: NERO_SL
Revisão: Crytteck
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