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O Começo Depois do Fim – Cap. 428 – Oposição

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N/A: Faz quatro semanas que o Livro 10 terminou e a primeira vez que fiz uma pausa por tanto tempo (sem contar meu problema de saúde alguns anos atrás). Enquanto muitos de vocês expressaram que eu deveria manter meu Patreon ativo apesar do meu hiato, e até me disseram para fazer uma pausa mais longa, optei por não o fazer para poder me sentir menos culpado durante minha pausa haha. Mesmo assim, sou muito grato por meus fãs mais próximos serem tão pacientes e atenciosos (mesmo quando vejo todos vocês tendo sintomas de abstinência no chat do Discord) e estou animado por estar de volta.

Aproveitem o capítulo e espero ver vocês aqui no restante dessa jornada que é TBATE.

Com amor, TurtleMe

 

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POV SERIS VRITRA

Aconteceu lentamente no início. Olhos arregalados e injetados se voltando para mim, sondando a escuridão em busca da fonte da aura que eles sentiam entorpecer seus sentidos e tomar conta de seus corações. Quando me viram, seus olhares atordoados, um por um, foram inevitavelmente atraídos para o artefato sangrento que segurava em minha mão direita. Bocas se abriram de horror, mas quaisquer palavras que pudessem ter dito se alojaram em gargantas contraídas. Ferramentas escorregavam de dedos flácidos para cair no chão, esquecidas, um tremor percorreu a consciência coletiva de um povo despreparado para entender o que via.

No centro dessa tempestade de atenção, movi-me com propósito sem pressa, o caminho áspero rangendo sob meus pés, minhas vestes brancas esvoaçantes brilhando como um farol na escuridão industrial.

Cada minerador, trabalhador e fazendeiro wogart por quem passei congelou, antes de se separar rapidamente diante de mim. Os mais próximos recuaram, instintivamente colocando distância entre eles e a força palpável que emanava de mim, enquanto outros foram atraídos por ela como mariposas para chamas, esquecendo suas tarefas mundanas enquanto a curiosidade e o temor subjugavam seu senso de autopreservação.

Uma mulher corpulenta com cabelos ralos e poeira cinza sujando seu rosto soltou um grito de alegria irregular. Quando meus olhos pousaram sobre ela, os mais próximos correram para recuar. Não sorri, mas permiti um segundo de contato visual, olhando profundamente para ela, assegurando-lhe que ela tinha sido vista.

Outros não conseguiam esconder a hostilidade de seus rostos, aqueles que eram leais a Agrona ou que acreditavam na propaganda mal concebida que foi transmitida sobre mim, mas nenhum deles teve a coragem de expressar seus sentimentos ou impedir meu progresso.

Alguns, os mais inteligentes deles, correram.

No momento em que alcancei os portais para o segundo nível, eles já estavam um caos. Os guardas estavam lutando para encontrar seus grupos de batalha e manter qualquer coisa parecida com uma formação. Eles estavam gritando um com o outro, ninguém aparentemente disposto a aceitar a responsabilidade do comando. Oficiais das relictombs, os funcionários e assistentes encarregados de monitorar os portais, estavam de pé ao lado, torcendo as mãos e olhando nervosamente.

Quando minha intenção os atingiu, todos diminuíram a velocidade até paralisar. Alguém fez uma oração aos Vritra.

Querendo que eles me ouvissem e me entendessem, controlei minha aura e me aproximei para ficar a uma distância de fácil audição. A coisa em minha mão se torceu ligeiramente quando parei, olhando de soslaio para os soldados e guardas. Metade deles olhou para mim, suas armas seguradas nervosamente diante deles, mas metade não conseguia desviar os olhos do artefato.

Um dos assistentes, um homem mais velho, careca, com um longo bigode grisalho e vestindo as vestes oficiais de um escriturário das Relictombs, encontrou coragem. Ele deu alguns passos trêmulos em minha direção e ergueu o queixo, seus olhos evitando cuidadosamente minha mão.

— F-Foice Seris Vritra.

Ele fez uma pausa, engolindo em seco.

— V-Você está presa por crimes contra Alacrya, por ordem do Alto Soberano!

Ele terminou mais forte, ganhando confiança enquanto falava.

Quando sorri para ele, aquela confiança se estilhaçou como dentes sob uma marreta. Recuou, tentando se perder nos outros oficiais, mas eles recuaram também, sacrificando-o na pira da minha atenção.

Mas não estava lá para intimidar ou matar magos de baixo nascimento, mesmo aqueles cegos demais para ver que eu estava do lado deles.

 — Eu não vim aqui para derramamento de sangue. Nenhum de vocês morrerá aqui, a menos que insista nisso. Saiam. Fujam das Relictombs e voltem para casa, para o seu sangue.

Ainda assim, não conseguia me sentir certa sobre a escolha que estava dando a eles. Fui uma Foice por muito tempo para não ver a armadilha nisso. Realmente, era uma escolha de como morrer. Ou eles ficam e lutam contra mim em uma disputa irremediavelmente unilateral ou fogem e esperam ser caçados e executados por forças legalistas.

Todos os não-combatentes se separaram e correram, fugindo como insetos repentina e inesperadamente expostos à luz. Os guardas trocaram olhares sombrios, mas ficaram. Eles entenderam a escolha.

Um homem alto gritou e os soldados se reuniram em seus grupos de batalha. Escudos, tanto mágicos quanto mundanos, foram levantados contra mim. Mantive minha posição.

Outro grito e os feitiços começaram a voar, iluminando a zona escura com azuis, amarelos e vermelhos brilhantes. Raios de fogo e lâminas de vento impactaram a barreira de mana que cobria minha pele e minhas vestes, desviando-se inofensivamente. Minha mana ondulou com uma sombra escura, tornando o contorno do meu corpo cinza. O fogo mágico diminuiu, então parou.

Deixei passar um segundo, então empurrei minha mão livre para frente. Uma nuvem negra saiu de minhas mãos, espalhando-se sobre meus atacantes em um instante. Ela surgiu dentro e através deles, minha magia vazia queimando a mana dentro deles.

Cada um deles desmoronou, a reação de repentinamente expulsar toda a sua mana deixando a maioria deles inconscientes. Alguns me encararam do chão, choramingando ou sufocando. Esperando morrer.

Marchei passando por eles, deixando-os onde estavam. Dar a eles uma escolha apenas sobre como morrer parecia errado. Era assim que Agrona operava. Eles escolheram se manter firmes. Talvez fossem cegamente leais a Agrona, mas talvez estivessem apenas irremediavelmente presos em um sistema no qual nasceram e viveram cada segundo de suas vidas dentro dele. Eles ao menos sabiam que havia um mundo fora das paredes muito próximas pressionando-os? Ocorreu-me que eles provavelmente não podiam ver.

Mas eu podia ver. E também podia escolher.

Lançando um rápido olhar para o campo de magos caídos, caídos, mas vivos, ativei um dos portais para o segundo nível e atravessei.

Achei o segundo nível exatamente como eu esperava.

O pátio contendo os portais de subida e descida, que coroava o final do longo bulevar que atravessava o coração da zona, era uma onda de atividade organizada.

Uma centena de magos, talvez mais, cercaram o pátio, armas em punho e feitiços ativos, isolando os portais. Outros vinte se apressavam para montar uma série de dispositivos em arco diante dos portais. Pequenos grupos de pessoas permaneciam nas bordas do pátio, fora do cordão de isolamento e nas sombras dos prédios mais próximos.

Os dispositivos eram construídos com invólucros de metal fosco e tingido de azul contendo grandes cristais de mana que haviam sido cuidadosamente esculpidos em recipientes côncavos. A fiação pesada corria de um para o outro, acorrentando-os todos juntos e, finalmente, para um tanque de vidro cheio de líquido azul borbulhante.

Vários dos magos pularam com minha aparição, virando as armas para mim.

— Foice Seris Vritra!

Um mago de cabelo preto e barba bem aparada gritou, fazendo uma saudação. O resto ficou atento e seguiu o exemplo.

Dispensei a formalidade.

— Sulla, as coisas correram conforme o planejado.

O Alto Hage do Salão de Ascendentes de Cargidan assentiu vigorosamente.

— Sim, foice Seris. A resistência foi limitada.

Ele acenou com a cabeça para alguns corpos dispostos nas proximidades.

— A luta tem sido pior em outro lugar, eu sei, mas nossos esforços para preparar o seu… o que quer que seja… foram desimpedidos e estão quase completos.

Outro homem, que não usava armadura ou traje de batalha e andava de peito nu, exibindo orgulhosamente sua pele de bronze e forma esculpida, correu e fez uma reverência rapidamente.

— Timing perfeito, como esperado, Djimon do Sangue Nomeado Gwede, Alto Mago em Itri.

Disse com sua nitidez habitual.

— Todas as plataformas de tempus warp na cidade foram destruídas, como você ordenou, exceto uma atualmente sendo defendida pelo Alto Sangue Rynhorn. A luta é feroz lá, mas eles não podem resistir. Mais dez minutos e os corpos de seus soldados se espalharão pelo chão das Relictombs enquanto meus Conjuradores cuidam da plataforma.

— Com as plataformas de recebimento destruídas, essa será nossa única maneira de entrar e sair. Sulla acrescentou, apontando para a série de portais permanentes que permitiam o trânsito entre o primeiro e o segundo nível. Eu poderia dizer que ele estava buscando garantia de que o plano não resultaria em nós sendo presos ou invadidos.

— Não é a única maneira.

Disse em vez de tentar aplacar o homem. Meu olhar seguiu a linha do bulevar central até onde eu podia ver o brilho distante do portal de ascensão primário mesmo daqui.

O som de passos blindados se aproximando fez minha cabeça girar, principalmente devido ao leve empecilho em cada passo. Cylrit curvou-se ligeiramente e os dois ascendentes deram um passo para trás, dando-nos espaço, com os olhos no chão. Meu Retentor tinha sangue respingado em seu rosto e armadura.

— Você gostaria que eu pegasse isso, Foice Seris?

Ele perguntou, seu tom uniforme. Tinha certeza de que apenas eu notaria a rigidez em sua voz e postura.

Estendi o item que havia carregado no primeiro nível das Relictombs: uma cabeça decepada, mandíbula aberta congelada pelo rigor mortis, língua negra e enrugada como uma lesma salgada.

Cylrit não demonstrou escrúpulos ao aceitar o item oferecido. Ele o ergueu para olhar nos olhos mortos e fixos, então foi até a bateria de mana que alimentaria os artefatos que eu havia projetado.

O resto dos magos recuou, seu trabalho feito. Tudo estava pronto.

Cylrit baixou a cabeça no líquido, que imediatamente começou a brilhar, então rapidamente se retirou da matriz.

Os cristais esculpidos de cada dispositivo começaram a emitir um zumbido ressonante, depois a brilhar em um tom correspondente ao líquido azul e, finalmente, a projetar ondas visíveis de mana no ar, bombardeando os portais com energia bruta.

O efeito foi imediato. Os portais cintilantes saltaram e estremeceram, suas superfícies sutilmente móveis subitamente vivas com ondas de choque e estrias multicoloridas. As ondulações e estrias rolaram da moldura do portal, colidiram e ricochetearam em todas as direções ao mesmo tempo em todos os portais.

— E você tem certeza de que…

Djimon se interrompeu no meio da pergunta.

Sabia que não precisaríamos esperar muito para ver a prova de que os artefatos estavam funcionando. Os ascendentes ao redor voltaram seus olhares para dentro, observando. Fui acompanhada por alguns outros indivíduos de alto escalão, Anvald do Sangue Nomeado Torpor, Harlow do Alto Sangue Edevane, que eram ambos Altos Magos de suas respectivas facções da Associação dos Ascendentes em Aedegard e Nirmala, bem como o Alto Sangue Frost e sua neta Enola, mas eles ficaram em silêncio, simplesmente observando, esperando.

Em alguns minutos, um dos portais mudou. Ele se esticou, suavizando momentaneamente, as ondulações se dissipando, e uma figura apareceu dentro dele.

Dragoth, sua forma larga preenchendo todo o portal, carrancudo, seu rosto tenso, fora do bombardeio de mana, mas partiu novamente quase assim que apareceu. Um minuto se passou e ele apareceu de novo, entrando e saindo de outro portal tão rápido que piscar significaria perdê-lo.

Ele repetiu suas tentativas inúteis com cada portal por vez, mas os portais foram desestabilizados pelo bombardeio de mana e não mantinham uma conexão forte o suficiente para completar a transição. Assim que chegou ao segundo nível, já estava sendo atraído de volta ao primeiro.

Não havia como passar pelos portais enquanto meus artefatos permanecessem no lugar, fortalecidos pela mana restante de Orlaeth.

Outros começaram a aparecer também, vários de uma vez em cada moldura do portal. Depois de apenas um minuto, uma ondulação correndo pela superfície de um dos portais cruzou um homem assim que ele apareceu, esfolando a pele do lado direito de seu rosto. Ele se foi novamente em um instante, e as tentativas de romper os portais cessaram abruptamente.

Uma torcida começou, liderada por Enola do Alto Sangue Frost.

Fiquei junto aos portais algum tempo depois, parabenizando todos que vinham relatar e dando ordens quando necessário. Uma lenta procissão de Alto Lordes de meus aliados Alto Sangues chegou quando tiveram certeza de que a luta havia terminado e os portais foram desativados, procurando expressar sua gratidão com o mesmo punhado de banalidades enquanto bajulavam garantias de que eu de fato sabia o que estava fazendo.

Eventualmente, chegaram notícias de que a última das plataformas receptoras havia sido destruída, o que tornou impossível para qualquer um usar um tempus warp ou portal dedicado para nos alcançar. Meu plano tinha sido um sucesso.

Virei meu rosto para o céu sem sol, aproveitando o calor que projetava em minha pele. Tantos desses últimos meses foram gastos no subsolo em laboratórios ou bunkers que era bom ficar sob o céu aberto, mesmo que fosse uma construção mágica.

Um punhado de Imbuidores permaneceu com o equipamento, bem como dez grupos de batalha para garantir que ninguém tentasse qualquer tipo de sabotagem. Eventualmente, éramos apenas esses guardas, eu e um paciente Cylrit deixados no pátio, os ascendentes e nobres tendo cumprido outras obrigações ou se retirado para suas propriedades e pousadas para comemorar e descansar.

Cylrit se arrastou na perna dolorida, claramente desconfortável. Esperei que ele quebrasse o silêncio entre nós.

— Você tem certeza disso?

Ele finalmente perguntou, sua voz baixa.

Comecei a andar e fiz sinal para que ele me seguisse. Descemos a larga avenida central que continuou ininterruptamente até o portal de ascensão principal para o resto das Relictombs. As pessoas nos observavam passar de vitrines e varandas de pousadas, sem saber o que estava acontecendo.

Não conseguimos garantir que apenas meus apoiadores estivessem dentro da zona, é claro. Meu povo fez o melhor que pôde, com a Associação dos Ascendentes reduzindo propositalmente o fluxo do tráfego enquanto os nobres espalhavam boatos encorajando aqueles que não eram nossos afiliados a sair, mesmo que temporariamente, mas muitas das pessoas que viviam dentro da zona, aqueles que serviam na economia que cresceu em torno das subidas, eram neutros ou mesmo ignorantes de nossos esforços contra Agrona.

Alguns eventualmente se mostrariam totalmente hostis a nós. Eu sabia.

— Há muito aqui, fora de nosso controle.

Continuou Cylrit, sua atenção mudando constantemente enquanto, por hábito, observava qualquer ameaça em potencial.

— Formas como isso pode dar errado que ainda nem consideramos.

— Eu sei.

Respondi. Se esse argumento viesse de qualquer outra pessoa, teria assegurado a ela que cada variável havia sido contabilizada, cada camada do plano projetada para ser infalível, mas Cylrit entendia o que estávamos enfrentando tão bem quanto eu.

— Talvez, com mais dez anos de planejamento, pudéssemos ter aperfeiçoado esse plano. Mas esta é a guerra, Cylrit. E quando você está lutando contra deuses, o tempo não está do seu lado.

— Tudo se resume a isso, não é? Tempo…

Cylrit fez uma pausa e eu parei para olhar para ele.

— Por quanto tempo podemos alimentar o artefato de disrupção? Quando Caera voltará com Arthur? Podemos aguentar mais tempo do que levará Agrona para descobrir uma maneira de entrar?

Eu não o lembrei do que nós já havíamos conquistado, tomamos metade de Sehz-Clar, fugindo dos exércitos de Agrona, envergonhamos seu Legado de estimação, matamos um de seus Soberanos do Clã Vritra e agora o bloqueamos das próprios Relictombs e, em vez disso, o deixei desabafar seus medos.

— Corremos muitos riscos nas últimas décadas, Seris, mas isso… parece que nos encurralamos em um canto sem saída.

Cylrit respirou fundo e acrescentou:

— Minhas desculpas. Eu não duvido de você, eu…

Eu levantei minha mão e ele ficou em silêncio.

— Lembre-se, não estamos tentando vencer esta guerra. Apenas se opor a um tirano. Mas não acho que esta será nossa última posição. Tenha fé…

— Em Arthur?

Ele perguntou, franzindo as sobrancelhas na rara demonstração de frustração genuína.

— Na humanidade. No destino. Em mim. Faça sua escolha.

Sorri e acariciei seu rosto de forma provocante, como se pudesse limpar sua carranca.

— Todo mundo precisa de fé. Esses “deuses”, os Asura, dependem dele para manter seu controle sobre aqueles que chamam de inferiores. E as pessoas também precisam disso, elas precisam acreditar em alguma coisa. Se realmente queremos quebrar o domínio de Agrona sobre eles, precisamos dar a eles outro lugar para colocar sua fé, mesmo que apenas por um curto período de tempo. Apenas para fazer a transição para o novo mundo que estamos tentando construir.

— E se morrermos tentando?

Cylrit perguntou, a emoção se esvaindo dele.

— Então morremos bem.

 

POV CECILIA

Onde estou? Me perguntei, me afastando de algo que se movia abaixo de mim.

Uma cama de videiras e raízes emaranhadas se contorcia em um chão de pedra, me empurrando e fazendo meu estômago revirar. Meus olhos se arregalaram enquanto eu traçava o caminho das videiras: elas cresciam no chão, nas paredes e no teto sem começo nem fim, me envolvendo completamente. E enquanto se contorciam, elas se contraíam ao meu redor.

Apenas o caminho à frente estava aberto, embora o caminho diminuísse a cada momento. Comecei a escalar as vinhas, mas minhas mãos e pés eram constantemente puxados para o chão, toda vez as vinhas me agarravam, ameaçando me agarrar e não me soltar.

Perdi todo o contexto do tempo quando primeiro me apressei com as mãos e os pés, depois de joelhos e, finalmente, rastejando para frente de barriga como um verme. As vinhas e raízes me esmagavam, me sufocavam, meu coração batia contra o peito enquanto meus pulmões lutavam para respirar e de repente tive certeza de que morreria ali, estrangulada pelas vinhas.

Um farol verde esmeralda brilhou em algum lugar à frente. Desesperadamente, puxei-me em sua direção, agora pressionada por um gigante punho verde. Cada centímetro à frente exigia tanto esforço e energia que eu tinha certeza de que não conseguiria. Não iria muito longe. Uma videira enrolou-se em meu tornozelo, outra em meu braço direito e, em seguida, uma videira negra coberta de espinhos alcançou minha garganta.

Uma mão se estendeu da luz. Sua força delicada parecia familiar, parecia olhar em um espelho, a agarrei com uma força frenética.

Em contraste, a mão tinha o tipo de força calma e implacável que eu associava a Agrona. Essa certeza pura e inabalável de confiança. Deveria ter esmagado minha própria mão, mas, em vez disso, fui puxada pelas videiras até deslizar para um pedaço de grama aquecida pelo sol.

A mão me puxou para os meus pés.

Lentamente, por algum motivo com medo de olhar, meu olhar seguiu o braço esguio até o gracioso arco de um ombro e a pele lisa e sem marcas de um pescoço, meio escondido sob o cabelo cinza-prateado. Finalmente, encontrei os olhos turquesa.

Tessia Eralith. Meu receptáculo.

— O-O que está acontecendo?

Perguntei, frustrada com a fraqueza da minha própria voz. Me senti como uma criança choramingando diante dela, mas a elfa estava completamente à vontade nesta clareira no centro de uma tempestade de trepadeiras e raízes estrangulantes.

— Onde estamos?

— Em sua mente.

Respondeu simplesmente.

— Você está sonhando e seu subconsciente está tentando transmitir o que está acontecendo dentro de nós.

Uma espiral verde-escura, parecida com uma cobra, bateu contra mim, dei um passo nervoso em direção ao centro da clareira, tendo que ficar a menos de um braço de distância de Tessia para evitar tocar nas paredes móveis. Afastei uma mecha de cabelo castanho empoeirado do meu rosto, sem saber o que dizer.

— É o Guardião da Floresta.

Continuou, lançando um olhar pensativo e triste ao redor.

— Nosso corpo absorveu seu núcleo de mana. Integração… nunca soube.

Ela balançou a cabeça maravilhada.

— Quando o núcleo se dissolveu, a vontade bestial do guardião da floresta foi liberada. Assim como, suponho, eu também.

Ela deu de ombros, como se esse segundo ponto não significasse muito para ela.

— A vontade irrestrita está se alimentando da mana agora integrada em nosso corpo. Isso está nos separando.

— Meu corpo.

Resmunguei, a palavra “nosso” esfaqueando como uma adaga em minha mente cada vez que ela dizia isso.

Um sorriso sem humor brincou nos cantos de seus lábios, mas não consegui ler a intenção por trás de sua expressão. Mesmo enquanto conversávamos, a clareira em que estávamos estava encolhendo. Um pulso como um batimento cardíaco lento corria por ela a cada poucos segundos e com cada batida ela crescia.

Tentei fechar os olhos, querendo me concentrar, mas não consegui. Um sonho, lembrei-me. — Como faço para pará-lo?

Havia fogo frio nos olhos da elfa quando respondeu.

— Você controla. Apenas…

Ela fez uma pausa, observando uma gavinha de videira frondosa se desenrolar ao lado do meu rosto.

— Você não pode. A vontade bestial do guardião da floresta não é apenas mana para você dominar. Leva tempo, foco e um pouco de sorte. Não temos tempo. Este corpo estará morto dentro de uma hora.

Rangi os dentes e dei um passo ameaçador em sua direção. Quando ela olhou para mim com pena e diversão, de repente me senti como uma criança fechando o punho para um adulto. E eu odiei isso.

— Então você também vai morrer.

Resmunguei, lutando para manter meus sentidos e não ceder ao desespero.

— Eu não acho que você…

As palavras ficaram presas na minha garganta quando me lembrei dela lutando pelo controle do meu corpo quando Gray me atacou no Victoriad.

— Eu não quero morrer.

Admitiu. À medida que as videiras pulsavam e cresciam, ela caiu de joelhos e recostou-se, sentando-se confortavelmente entre as plantas retorcidas. Em vez de olhar para ela, descobri que também estava sentada, embora não tivesse feito um esforço consciente para fazê-lo.

— Mas estou disposta. Somos combatentes inimigas, Cecilia. Se nos encontrássemos em lados opostos no campo de batalha, estaria pronta para arriscar minha vida para te derrotar. Aqui, se eu pudesse trocar minha vida pela sua, não valeria a pena?

— Isso não é…

Comecei, então parei de novo, mastigando meu lábio enquanto lutava para encontrar as palavras.

Estrategicamente, ela estava certa. Ela não era ninguém, apenas o receptáculo para minha reencarnação, enquanto eu era o Legado. Se ela se sacrificasse aqui para me destruir…

— Por favor…

Implorei em um sussurro rouco, pegando as mãos dela.

— Minha vida foi roubada de mim, tudo por causa de um acidente do meu nascimento, algo que não pude controlar. Eu nunca pedi nada disso. Eu só quero minha vida de volta. Você pode entender isso, não pode?

Tive uma ideia e comecei a falar mais rápido.

— Eventualmente, Agrona vai me mandar de volta para o meu próprio mundo, eu e Nico. Você… você pode ter este corpo de volta quando eu me for! Eu prometo. Eu vou fazer Agrona…

Tessia soltou uma risadinha musical, depois cobriu a boca e olhou para mim com uma doentia fusão de alegria e pena.

— Estrelas acima, você nem vê a ironia, não é?

Sentei-me ereta e olhei para a elfa.

— Você não entende nada. Você não tem ideia do que eu passei.

Suas sobrancelhas se ergueram enquanto a diversão em seu sorriso se esvaía, deixando apenas tristeza.

— Nada do que você já fez, nenhum pensamento que você já teve, é um segredo para mim.

Engoli em seco, incapaz de explicar o súbito frio e desespero que apertou meu peito.

— Tanto sobre Arthur faz sentido, agora, sabendo… de tudo.

Uma videira tão grossa quanto meu braço envolveu a cintura de Tessia como um abraço, e ela arrancou uma flor dourada dela, girando-a entre os dedos enquanto falava.

— Sua maturidade, sua confiança, mesmo quando criança… e eu pensei que você seria o mesmo, tendo vivido duas vidas, mas…

Ela encontrou meu olhar e o manteve.

— Você é uma criança. Alguém que não cresceu.

Comecei a responder, mas ela continuou falando.

— Você não teve duas vidas. Nem mesmo uma. É por isso que não pode ver o que está sendo feito com você. Você sabe, claro. Mas não vê.

Peguei minha mana, querendo nada mais do que queimar a alma da elfa da minha mente, mas minha magia se foi. Estava indefesa, vazia. Era o meu pior pesadelo tornado realidade.

Em meu desespero, não percebi a trepadeira envolvendo meu braço direito. Quando finalmente percebi o que estava acontecendo, me afastei dela, mas ela me segurou. Então estavam em cima de mim, essas gavinhas verdes brilhantes florescendo com flores carmesim, prendendo meus braços e pernas, envolvendo minha garganta…

E Tessia apenas observava com aquela tristeza distante. Eu queria xingá-la, implorar, mas não pude fazer nada. Estava paralisada. O guardião da floresta estava sufocando minha vida, tanto no sonho quanto fora dele. Eu estava morrendo.

Não podia acreditar. Parecia tão sem propósito, tão vazio de significado. Pelo menos minha morte na Terra foi minha escolha. A única maneira de assumir o controle. Mas isso, isso foi…

Acordei.

A sala estava escura e, à luz ondulante de uma tocha acesa, as sombras pareciam trepadeiras subindo pelas paredes. Me encolhi diante delas e meu corpo queimou. Engasguei-me de dor, e uma mão com pele de mármore acariciou meu cabelo enquanto um rosto pairava sobre mim.

Havia uma intensidade assustadora na forma como Agrona estava me inspecionando, mas eu não conseguia compreender a emoção por trás do olhar.

— O quê…?

Tentei perguntar, mas minha garganta estava seca, os músculos do meu pescoço ainda doloridos onde as videiras me estrangularam… exceto que tinha sido um sonho. Apenas um sonho.

— Silêncio, Cecil querida. Seu corpo lutou para lidar com a integração e a liberação da vontade bestial, mas você passou pelo pior.

Agrona acariciou minha cabeça, falando em um tom baixo e calmante enquanto me cutucava com dedos invisíveis de mana, massageando minha mente para ajudar a me acalmar.

— Não duvide de si mesma. Você se saiu maravilhosamente bem.

Inclinei-me para a sondagem mental de seu poder como um felino implorando para ser acariciado. Reconhecer esse fato me deixou enjoada, mas estava fraca e cansada demais para resistir. Em vez disso, meu olhar vagou pela sala e percebi que não estávamos sozinhos. Vários outros magos estavam de pé ao redor da mesa ou nas sombras. Estávamos em um laboratório ou em algum tipo de oficina de Imbuidores, mas não reconheci o local.

— Quem… Onde…?

Mais uma vez, meus pensamentos e voz falharam antes que eu pudesse criar um pensamento completo.

Agrona acenou com a mão e os outros magos rapidamente começaram a sair pela única porta.

— Estávamos trabalhando para manter seu corpo unido enquanto você lutava pelo controle da mana dentro de você.

Eu fiz uma careta, tentando me lembrar do sonho, a sensação de meu corpo sendo dilacerado pela vontade do guardião da floresta, o que Tessia havia dito, mas tudo estava começando a se confundir agora. Ainda assim, não consegui afastar a sensação de que algo estava errado.

— Você não está me dizendo nada.

Disse, observando o último dos magos desaparecer como as memórias esfarrapadas do meu sonho.

A expressão de Agrona suavizou, ele olhou para mim como se eu pensasse que um pai deveria olhar para sua filha.

— Você está confusa, Cecil, e não é de admirar. Você precisa de tempo para descansar e se recuperar.

Não podia discutir com ele, não agora, não sobre isso.

Algo se agitou dentro de mim. Senti sua consciência presente logo abaixo da superfície, observando, esperando, simultaneamente curiosa e cautelosa. Havia também o guardião da floresta, agora dócil. A mente de Tessia pressionava contra a minha como uma enxaqueca crescente, mas a besta pesava em meu estômago e me dava vontade de vomitar.

Por que você o impediu de me matar? Perguntei, sem saber se o espírito sem corpo de Tessia seria capaz de responder.

Houve uma longa pausa e pensei que talvez ela não pudesse ou não quisesse me responder. Então sua voz soou em minha cabeça, clara e brilhante como um sino de prata:

— Tenho uma promessa a cumprir.

Engoli em seco, mas não podia deixar por isso mesmo.

— Quando você lutou pelo controle, antes, você estava tentando nos matar. Onde estava essa promessa então?

Ela não respondeu.

— Venha agora, vamos levá-la para o seu quarto.

Disse Agrona, fazendo-me estremecer. Eu tinha quase esquecido que ele estava lá.

— O que você conseguiu é incrível, um feito que nenhum outro menor conseguiu em muito, muito tempo. E em breve, você terá a oportunidade de testar o quão poderosa se tornou.

Doendo a cabeça e revirando o estômago, deixei-me ajudar a levantar da mesa, que só então percebi estar coberta de runas indecifráveis. Pisquei várias vezes e tentei lê-las novamente, mas não eram nada que eu já tivesse visto antes. Minha pele se arrepiou ao olhar para aquilo. Algo está errado, pensei novamente. O tom de Agrona, as runas, os sonhos…

Sutilmente, retirei um pouco da mana remanescente na mesa gravada com runas, encarregando-a de manter a memória dessas runas e seu propósito. Eu não tinha núcleo para canalizar a mana, mas não parecia precisar de um.

A mana fluiu através de mim tão facilmente quanto o sangue em minhas veias. Instintivamente, infundiu meus músculos, oferecendo força ao meu corpo trêmulo. Eu estava ciente disso de uma forma que nunca tinha estado antes, como se meus sentidos se estendessem diretamente para a atmosfera, abrangendo o ar, as paredes, o chão e até a mesa em que acordei. Senti tudo como se fosse parte de mim.

Agrona esticou o braço, sorrindo calorosamente.

Passei por ele, evitando sua mão enquanto envolvia minha mente e pensamentos firmemente em mana.

Assim como meu benfeitor, as runas não decifradas pesavam muito em minha mente, sua verdadeira intenção também escondida sob uma fachada.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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Cap. 428