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O Começo Depois do Fim – Cap. 414 – Dia Letivo

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POV Eleanor Leywin

— Seria muito mais fácil se apenas voássemos.

Disse Mica mal-humorada, tirando um pedaço de um escuro lodo esverdeado do rosto, um resquício de outra besta que nos atacou.

— Você não pode simplesmente ignorar os rigores das relictombs.

Apontou Lyra, soando como um professor escolar.

— O ponto está em ascender derrotando os seus desafios, não os contornando. Caso contrário, você não ganha nada. Além disso, o voo é intensivo em mana e você precisará aprender a conservar a força.

— Oh, me desculpe.

Zombou Mica.

— Eu não sabia que era uma excursão da nossa escola maluca.

Algo caiu na lama à nossa direita, atraindo o meu olhar nervoso. A luz na zona era difusa e nebulosa, dificultando a visão. A escuridão verde escondia as paredes e o teto distantes, dando a desconfortável impressão de que o lugar era infinito. Também engolia o som, tornando difícil para mim, dizer se o barulho foi bem ao nosso lado ou do outro lado da zona.

Contudo, o cheiro era o pior: ovos podres fervendo em estrume mofado e animais em decomposição…

— Esta pode ser a primeira vez que eu não gostaria de ter os seus sentidos aprimorados, grandalhão.

Murmurei, dando um tapinha nas costas de Boo. Ele ressoou de volta, concordando.

Meu vínculo com Boo me fazia ser a melhor batedora e vigia. Estava sentada nele, examinando o horizonte em busca de qualquer possibilidade de saída e observando sinais de gêiseres explodindo ou sanguessugas-terrores, um nome que eu mesma inventei, atacando por baixo das poças ácidas.

— Eu não precisaria conservar mana se Arthur nos mostrasse o caminho deste lugar.

Continuou Mica, os dedos rangendo de modo audível ao redor do cabo do martelo.

— Pense nisso como o seu primeiro teste.

Respondeu ele sem humor.

Ao avistar um vislumbre sombrio através da escuridão, apontei para os outros.

— Acho que aquela coisa brilhante ali pode ser um portal.

Mica flutuou do chão e estreitou os olhos naquela direção.

— Mica não… Eu não vejo nada.

Regis riu de diversão.

— Isso significa que fizemos a escolha certa ao fazer da olhinho-de-águia aqui a nossa batedora.

— Ah, L-Lyra!

Exclamei, avistando uma bola carmesim de lodo se rastejando pela parte de trás da bota dela.

Alerta, procurou o que era e logo seguiu a linha do meu olhar arregalado para a lesma de sangue. A sua mão ceifou com uma lâmina de vento a coisa no pé dela, a esmagando e emitindo um som abafado de pancada. Um círculo de sangue borrifou no seu pé feito uma aureola sangrenta.

— Vocês estão se distraindo.

Disse Arthur, os braços cruzados e uma sobrancelha erguida em julgamento.

— Foco.

A Retentora assentiu profundamente, quase como uma reverência.

— Claro, regente Leywin. Você tem razão. Durante uma ascensão, um membro da equipe deve sempre receber a autoridade de líder mesmo em grupos recém-formados. Eu sugeriria…

Mica bufou pela centésima vez e girou em direção a Lyra, todavia, antes que pudesse falar, um enorme tentáculo saiu da poça de ácido que ela estava pairando acima. Ofeguei e me atrapalhei com meu arco enquanto aquilo envolvia a perna dela.

— Raizinha, saia de cima de mim!

Ela reclamou, golpeando com seu martelo conjurado o tentáculo viscoso.

Em vez de estourar, pareceu esticar, absorvendo o impacto. À medida que se esticava, derretia, se desfazendo em fios pegajosos que obviamente desafiavam as leis normais da natureza e que depois se solidificavam em um laço ao redor do martelo, prendendo tanto a arma quanto Mica. Gavinhas de fumaça subiam de onde quer que o tentáculo ácido a tocasse.

Puxei a corda do meu arco, a mana se formou em um feixe branco de luz. Com a vibração do disparo, a flecha fez uma linha brilhante no ar sombrio e atingiu o tentáculo com uma batida úmida.

Mica tentou voar para cima e quebrar o aperto daquilo, que, de alguma forma, resistiu até mesmo à força de uma Lança.

Picos de pedra subiam de baixo da superfície da água, cada um apontando em uma direção um pouco diferente e muitos perfurando o tentáculo de aparência não muito real. Ele continuou segurando.

O ar passou a vibrar. O barulho emitido era tão baixo que eu duvidava que alguém, além de mim, pudesse ouvi-lo. Por um segundo, me perguntei que tipo de nova monstruosidade estava nos atacando e prendi a respiração. Então senti a mana saindo de Lyra e entrando no tentáculo, o explodindo e criando uma chuva de pedaços nojentos e escorregadios.

Boo cambaleou sob mim, se esquivando de um respingo da coisa.

— Que nojo.

Disse Mica, tremendo que nem um cachorro molhado limpando o lodo sibilante e os pedaços que estavam nela.

— Viu, Lança?

Disse Lyra com um sorriso mal reprimido.

— Tudo se resume ao conhecimento e à sua capacidade de agir de acordo com esse conhecimento sem entrar em pânico. Pude salvá-la porque—

— Eu não estava em pânico!

Ela praticamente gritou.

 — E você não me sal—

Pulei com tanta força que quase caí das costas de Boo quando um flash de luz violeta de repente encheu a zona, acompanhado por um rugido. Desviei o olhar, porém não rápido o suficiente, e de repente me vi piscando sem parar quando lágrimas surgiram nos meus olhos ardentes. Boo resmungou, recuando para longe da luz e esbarrando em Regis, que estava andando logo atrás. O enorme lobo das sombras foi empurrado, deslizando pela orla de lama que estávamos seguindo até que suas patas atingissem a gosma ardente que enchia a poça.

Me virei a tempo de ver dezenas de pedaços daqueles tentáculos explodidos se dissolvendo de volta na poça, afastados de Lyra pela explosão etérea de Arthur.

— Sinto muito!

Falei de imediato, sem saber se prestava atenção no xingamento de Regis ou na carranca de Arthur.

— Eu deveria ter visto que ainda estavam se movendo e vivos.

O lobo estava resmungando, rastejando de volta para a encosta com as patas chiando.

— Que caralh—

Arthur lançou um olhar na sua direção e a boca do lobo das sombras se fechou.

Boo resmungou baixinho e Regis balançou a cabeça em resposta.

— Eu sei, tá?

Mica já havia pousado de volta no chão, tanto ela quanto Lyra estavam olhando para Arthur timidamente.

— Por alguma razão, Ellie é quem pede desculpas, mesmo que ela esteja fazendo a tarefa que lhe foi dada.

Falou Arthur. Ele passou os dedos pelos cabelos e suspirou.

— Lyra, você já esteve nas relictombs antes, mas nunca comigo. E Mica, você está acostumada com a Clareira das Bestas, onde não há muito que você não possa lidar. Este lugar é diferente. A força dos monstros cresce com as pessoas que estão dentro e todo este lugar se adaptou à minha presença. Você não pode confiar apenas na força bruta para passar por cada encontro. Tem que ser estratégica, lutar de forma inteligente. As relictombs são projetadas para lhe testar… ou matar.

Ela ergueu o queixo e, sem vacilar, olhou nos olhos do meu irmão.

— Não tenho medo de nada que este lugar possa jogar em mim.

Lyra soltou um suspiro de escárnio, mas parou com um olhar de advertência do meu irmão.

— Mas isso é parte do problema. Você não tem ideia do que este lugar pode fazer e preciso que entenda por que está aqui. Ellie está comigo para que ela possa praticar a sua nova habilidade e Lyra precisa ser mantida perto de mim, porque não posso confiar em deixar alguém tão forte quanto ela em qualquer lugar…

— Obrigada por esse voto de confiança.

Disse Lyra baixinho, apenas para ser ignorada.

— E preciso que você fique de olho em ambas.

As sobrancelhas de Mica subiram tanto que desapareceram em sua linha do cabelo, sua boca se abriu. Parecia raro a Lança anã não ter palavras, mas estava muito tensa para ver o humor disso naquele momento.

Enquanto Arthur falava, vi outra lesma de sangue começar a subir pela parte de trás da perna dela.

— Hum, Mica? Tem uma…

Ela agarrou o nódulo vermelho pulsante com uma mão, cerrou os dentes e apertou. Polpa carmesim escorria entre os seus dedos.

— Eu entendi.

Falou, jogando os restos na poça de ácido mais próxima com um respingo pesado.

— Tudo bem, voltemos então.

Respondeu ele, gesticulando para que Mica e Lyra assumissem a liderança.

Se movendo juntos, seguiram a direção que indiquei. Arthur de imediato se iluminou com uma luz violeta fraca, os cabelos loiros levitando, examinou o nosso entorno com o Realmheart. Eu o observei com curiosidade. Mesmo que tivesse visto várias vezes, ainda era meio estranho. Ele já parecia diferente antes de desaparecer e as runas estranhas só destacavam a sua natureza peculiar.

Quando passamos pela poça, fiquei distraída com algo estranho.

A minha flecha, a que atirei no tentáculo agarrando Mica, estava flutuando na superfície do ácido. Boo, sentindo a minha atenção mudando, parou e soltou um grunhido.

— O que foi?

Perguntou Regis olhando para a poça, talvez esperando que alguma outra coisa saltasse para nós.

— Nada, é só…

Na mente, alcancei a flecha. Dava para sentir a mana ainda compactada na forma. A minha regalia formigou e percebi que a flecha ainda estava presa a mim pelo feitiço pré-definido, ou somente molde mágico. Soltei a ligação de propósito e a flecha se dissolveu, dispersando a mana.

— Isso é estranho.

Boo ganiu, me informando que os outros haviam seguido em frente.

— Vá em frente.

Sempre tive um talento para moldar mana pura em formas fora do meu corpo. Embora não fizesse com frequência, praticar com o Arthur me ajudou a ampliar o alcance e o poder das flechas. E Helen me ensinou a atirar uma flecha de mana que criava um escudo protetor ao redor do alvo ao invés de machucá-lo. Mas todas as habilidades que já havia aprendido exigiam que me concentrasse e continuasse canalizando mana, caso contrário, o efeito acabaria.

Estendendo a mão, imaginei uma bola. Quando mana fluiu do meu núcleo para a palma da mão, ela surgiu, formada por mana branca brilhante. Joguei em uma das poças, ela balançou para cima e para baixo por um momento antes de ser empurrada para o lado por um tentáculo na superfície do ácido.

— Não perturbe as poças.

Disse Arthur por cima do ombro, sua voz vibrando com a energia canalizada por Realmheart.

— Desculpe.

Disse imediatamente, mordendo meu lábio.

Em minhas mãos, conjurei outra bola, tirando meu foco da primeira, mas tive o cuidado de não descartar toda a conexão inata que a minha regalia mantinha com ela. Mesmo que meu foco estivesse na das minhas mãos, ainda sentia a outra flutuando no ácido.

Em algum lugar à frente, Lyra gritou e Mica derrubou uma sanguessuga-terror com o seu enorme martelo.

Dispensando a esfera em mãos, me virei em Boo para ver melhor a outra bola, que estava agora cerca de quinze metros atrás de mim. A extração da minha mana era quase imperceptível, porém a forma não aparentava estar afetada pela falta de foco. Interessada, tentei manipular a estrutura física dela.

A mana implodiu, causando uma explosão de energia que enviou ácido pulverizando no ar como um gêiser em miniatura.

Me sentindo culpada, voltei o olhar para Arthur. Ele descartou o barulho depois de ver por cima, aparentemente confundindo com um dos muitos gêiseres naturais.

— Isso foi bem legal.

Afirmou Regis, se esforçando para caminhar ao lado de Boo quando o caminho se alargou um pouco.

— Você usou o seu molde mágico, certo?

— Ah, hum, sim.

Disse, me sentindo estranha.

— Não tenho certeza do que ele está fazendo ou o que estou fazendo com ele.

O cheiro de ovo podre se intensificou, me atraindo para pequenas bolhas se formando na superfície da piscina ao nosso lado.

— À nossa esquerda!

Uma parede de barro brotou do chão, se curvando sobre nós. Escutei o jato de água lamacenta do outro lado.

— Obrigada.

Disparou Mica por cima do ombro.

— Tente de novo.

Sugeriu Regis após o barulho passar.

Pensei no que queria fazer por um momento, então moldei a mana. Quando terminei, joguei no caminho atrás de nós, mas mantive o foco ativo, tentando continuar manipulando a forma para que ela se movesse conosco.

Uma pequena bolha com quatro tocos trotou com rigidez atrás de Boo e Regis, brilhando branco na luz fraca.

Me virei para não olhar para a figura conjurada e examinei nossos arredores. Quando encontrei o que estava procurando, puxei o arco, conjurei uma flecha e disparei. O feixe branco de mana atravessou uma lesma de sangue gorda que estava escondida na beira do caminho, pronta para se agarrar à primeira coisa que se aproximasse o suficiente.

— Belo tiro.

Disse Lyra, chutando os restos pela borda.

Olhando rapidamente para trás, vi que a bolha de quatro patas tinha parado de se mover. Ainda estava lá, congelada com as pernas grossas levantadas como se estivesse no meio de um passo, mas não estava mais nos seguindo. Tentei mexê-la de novo, mas como a esfera na poça, ela explodiu, criando uma nova de mana que se expandiu por vários metros antes de se dissipar.

— A mana mantém a forma depois que paro de me concentrar nela, mas não pareço conseguir me reconectar com ela. Quando tento mudar a forma, entra em colapso.

Disse a Regis, feliz por ter alguém para conversar.

— Colapsa… ou explode.

Ele disparou de volta, dando um sorriso lupino.

— Talvez seja apenas porque eu sou uma arma que anda e fala, mas me pergunto… Você pode fazer algo estourar com mais energia do que isso? Talvez se compactar uma quantidade maior de mana na forma? Ou forjar com a intenção de que, você sabe, exploda?

Ri da empolgação no tom dele, no entanto fiquei quieta quando Arthur inclinou a cabeça, voltando o ouvido para mim.

É mesmo o melhor momento para brincar com o seu poder? Me perguntei com a voz dele. E se eu fizesse mais um monte desses monstros? Ou algo daria errado, como Lyra disse e eu tivesse o efeito rebote?

Ao considerar isso, notei o brilho dourado que emanava da parte inferior das costas de Arthur ficando mais forte.

— O que ele está fazendo?

Perguntei em voz alta, mais para mim mesma.

— Meditando.

Respondeu Regis.

— Ele tem se concentrado em Dicathen e não fez muito esforço para continuar melhorando ultimamente. Esta não é uma chance apenas para você e a anã louca treinarem, é dele também.

Se até o meu invencível irmão matador de deuses estava fazendo o que podia para treinar e se fortalecer, eu também tinha que fazer.

Não me preocupei muito com a forma física, apenas moldei a mana em uma espécie de disco áspero, plano e muito denso.

Quando fiquei satisfeita, joguei para trás de nós. Aterrissou na terra dura com um baque silencioso. Dentro da minha cabeça, desengatei meu foco da mana, mas deixei a ligação com a regalia intacta.

Desta vez, esperei até que estivéssemos a quase trinta metros de distância. Havia uma sensação de dor maçante vindo do molde mágico até então. Estava me aproximando do alcance máximo. Bom saber.

Em vez de apenas tentar mudar o formato da mana, tentei forçá-la para fora, a imaginando como uma explosão violenta.

Um enorme estrondo sacudiu o chão e despedaçou a orla levantada, a colapsando nas poças ácidas de ambos os lados. Três gêiseres explodiram um após o outro, desencadeados pela explosão e várias sanguessugas-terrores e enormes tentáculos explodiram e deslizaram em direção aos destroços.

— O que foi isso?

Perguntou Mica, voando de volta sobre nós e pairando entre mim e o local da explosão.

— D-Desculpa! Não pensei que seria tão… tão…

Falei, a voz fina devido ao coração palpitando forte. Em pânico, apontei para Regis.

— Foi ideia dele!

O lobo das sombras soltou uma risada alegre e maníaca.

— Claro que foi.

Arthur estava rastreando o trecho da trilha desmoronada ao meu lado, uma mão apoiada em Boo. Ele parou de canalizar as suas runas e a luz que o havia infundido se foi.

— Você fez isso? Como?

Um pouco hesitante, expliquei o que havia notado sobre a flecha e as descobertas originadas a partir dessa observação. Quando terminei de falar, ele ativou o Realmheart de novo e me observou com cuidado.

— Crie algo

Fiz outra bola, mas parei antes de fazer qualquer coisa com ela. Inclinando a cabeça um pouco para o lado, escutei algo.

— Alguém mais sente isso?

De repente, o chão que minha mina de mana tinha destruído se agitou como se estivesse sendo invadido por tubarões-de-areia-darvianos. O punhado de sanguessugas-terrores que ainda circulava pelo local desapareceu no chão, onde seus corpos foram pulverizados por algo que eu ainda não conseguia ver.

Lyra correu para o lado de Mica, entre mim e o barulho cacofônico. Regis começou a avançar com eles, porém parou, lançou um olhar questionador a Arthur e deu de ombros.

Quando o chão cedeu, algo surgiu debaixo dele. Um corpo parecido com um verme subia cada vez mais, rios de ácido lamacento escorrendo por sua carapaça carmesim brilhante. Era tão alto quanto uma árvore de Elshire antes de parar de crescer e tive que me perguntar quanto dele ainda estava escondido sob o solo. Aquilo não tinha uma cabeça, apenas um enorme buraco no lugar dela, cheio de fileiras de dentes triangulares que giravam dentro do abismo da sua boca, como uma das invenções do mestre Gideon.

Mesmo Mica não tinha nada irreverente a dizer enquanto todos nós olhávamos para o monstro gigantesco.

A boca aberta se inclinou na nossa direção, soltando um rugido tão alto que tive que cobrir os ouvidos. Três tentáculos saíram dela, cada um coberto com dezenas de mandíbulas menores e cheias de dentes, assim como as sanguessugas-terrores. Esses tentáculos balançavam para frente e para trás, cada um soltando um ruído baixo e irritante.

— Cooperem.

Disse Arthur.

— Ellie, você fica para trás. Regis estará ao seu lado.

— Vamos, então.

Disse Mica. Recostando o braço, ela arremessou o martelo em uma velocidade incrível, que atingiu um dos tentáculos, o arrebentando, apenas para se virar no ar e zumbir de volta para a sua mão.

— Hã, talvez não seja muito difícil depois de… tudo…

À medida que falava, o tentáculo cortado é uma língua? Ou talvez uma cabeça? Começou a crescer de volta, seu toco se dividindo em dois na base e formando dois tentáculos-sanguessugas-cabeças-línguas.

— Ah, ótimo.

Murmurou a anã.

Como uma só, as quatro cabeças recuaram e pulverizaram fluxos de lodo verde e ácido de todas as bocas.

Linhas pretas irregulares marcavam o ar com um ruído semelhante a pregos no vidro, nos protegendo do ataque. Onde quer que o ácido tocasse as linhas pretas, chiava e parecia ser separado em seus componentes básicos, o vapor subindo, a água clara caindo e a mana se desestabilizando.

Todo o barulho estava atraindo outras coisas também. Mais sanguessugas-terrores e lesmas de sangue estavam nadando através das poças de ácido em nossa direção vindo de todos os lados.

Com um grito de guerra, Mica se jogou no ar, se movendo como um dardo de balista. Ela girou, seu martelo inflado de mana aumentando a força da gravidade até colidir com as duas sanguessugas recém crescidas.

Elas explodiram que nem sacos de manteiga meio derretida, pulverizando ácido em todas as direções, incluindo na própria Mica. Ela ofegou de dor, porém não diminuiu a velocidade, redirecionando a uma das duas cabeças restantes. Mas escorregou para longe do golpe, errando, enquanto a outra cabeça serpenteava atrás dela.

Pelo canto do olho, vi um corte preto dividir a cabeça atacante para que se separasse no meio, caindo grotescamente. Todavia estava mirando com a flecha em uma das sanguessugas-terrores acelerando até nós. Esperando que saísse do ácido espesso, apontei para uma das muitas bocas e soltei. Meu objetivo era preciso e a flecha afundou na carne emborrachada e fora de vista. A sanguessuga continuou vindo.

— Boom.

Disse Regis, um brilho enervante nos olhos.

Seguindo a mensagem, me concentrei na corrente de mana que me conectava à flecha e empurrei para fora.

Dentro da sanguessuga-terror, a flecha explodiu. Os lados do monstro incharam com a força, depois desabaram para dentro como um odre esvaziado, ele caiu por alguns segundos antes de parar, flutuando na superfície do ácido.

Mas tudo o que senti foi um pavor crescente enquanto mais uma dúzia seguia atrás dele.

— Há muitos!

Para agravar isso, a hidra gigante passou de quatro cabeças para sete. Mica estava voando entre elas, evitando pulverizar ácido e atacando o imponente corpo do verme. Seus golpes mal pareciam causar nenhum dano.

Soltei flecha após flecha, cada uma explodindo dentro de um sanguessuga-terror. Do outro lado do caminho, Arthur passou a desencadear explosões etéreas para afastar o enxame de monstros daquela direção.

Um grito chamou minha atenção de volta para a hidra.

Uma das cabeças enfim pegou Mica, várias bocas mordendo as pernas e tronco dela. Quando puxou o martelo para trás para atacar, outra se enrolou em torno da cabeça do martelo, o segurando.

Lyra fez um corte no ar com a mão, entretanto outra cabeça se mexeu para interceptar o feitiço. O corte preto cortou a cabeça-tentáculo do corpo e mais duas cresceram no lugar.

O meu coração estava acelerado, pude sentir o pânico começar a nublar minha mente. Puxando a corda do arco, conjurei duas flechas e usei o indicador para separá-las um pouco, dando-lhes ângulos diferentes. Me concentrando em manter as duas separadas, atirei.

Os raios brancos brilhantes voaram para dentro das duas cabeças recém-formadas. Uma flecha afundou na boca que segurava Mica, contudo a segunda errou, acertando a carne grossa da segunda cabeça, que havia prendido seu martelo.

Ambas as flechas explodiram.

A cabeça mordendo Mica estremeceu e ficou mole, enquanto a segunda foi sacudida com força suficiente para liberar a arma da Lança. Sem perder tempo, Mica disparou para o ar, apenas para ser seguida por vários fluxos de lodo ácido. Girando, jogou o martelo para baixo. Mesmo a trinta metros de distância, senti a gravidade sendo alterada e observei como a arma caía cada vez mais rápido até desaparecer na massa contorcida de cabeças-tentáculos.

O chão tremeu quando o martelo impactou em algum lugar dentro da vil hidra. Ela gritou, o zumbido de suas muitas cabeças assumindo uma ressonância repugnante enquanto era amplificada várias vezes. O meu estômago se revirou, senti o meu corpo balançar sobre as costas de Boo.

Com os olhos desfocados, observei mais duas cabeças crescendo, dividindo o tronco da que eu atirara para libertar Mica. Havia tantas que eu não podia mais contar…

Lyra se virou, enviando um olhar crítico para Arthur. Sua voz mal era audível durante os gritos inimigos contínuos.

— As lições não ajudarão nenhum de nós se estivermos todos mortos. Esta besta combina com sua força, não com a nossa!

O chão tremeu de novo. A hidra estava pulando para cima até Mica, ficando cada vez mais alta à medida que suas muitas cabeças se esticavam atrás da anã. Mica voou até que a sua pequena forma desaparecesse na escuridão e na névoa. A besta sob ela tinha dezoito metros de altura, depois vinte e quatro, depois trinta…

Arthur não respondeu, mas algo em sua postura mudou. Então ele se foi em um raio ametista.

Regis entrou em ação ao mesmo tempo, suas mandíbulas se abrindo e fogo roxo rolando sobre a horda de sanguessugas-terrores que se aproximava. Tudo o que o fogo tocou sumiu, deixando para trás nem cinzas restantes.

O meu irmão reapareceu sobre a hidra, seu corpo distante envolto em pequenos raios roxos e com um feixe de energia violeta pura na mão. Embora eu devesse estar ajudando Regis, não pude fazer nada além de assistir, todo o meu foco em Arthur. A lâmina dele girou em um arco, cortando várias das cabeças.

A enorme boca da qual todas cresciam ainda estava subindo, pude imaginar como aquelas fileiras giratórias de dentes estavam se fechando ao redor de Arthur.

No começo, pensei que era um truque da luz, porém estreitei os olhos e foquei a mana. A espada etérea estava crescendo, se alongando em uma enorme arma de duas mãos que rivalizava com o martelo de Mica em tamanho. Quando cortou de novo, várias cabeças caíram, incluindo algumas daquelas que acabaram de crescer.

Regis tinha girado para o outro lado e estava desencadeando outra explosão de fogo roxo que devorava qualquer sanguessuga-terror restante. Mica estava fora de vista, mas Lyra, assim como eu, estava apenas olhando para a luta no alto.

Quando as cabeças começaram a crescer mais uma vez, Arthur chutou um dos troncos, se lançando para fora do caminho da boca triturante. Depois ergueu a enorme lâmina, balançando para baixo enquanto caía.

Onde o martelo de Mica tinha feito pouco para o corpo blindado da hidra, a lâmina etérea cortou sem esforço pelo lado da boca aberta. Quando Arthur desceu, arrastou a lâmina pelo corpo da besta. O grito do monstro veio de novo, mas como mais e mais do corpo imponente se abriu acima do ponto de queda da luz que era Arthur, o ruído morreu em um gorgolejo grotesco.

Então, a metros da poça de ácido ao redor da base do monstro, meu irmão desapareceu em um flash violeta, apenas para reaparecer de volta onde estava segundos antes, envolto em eletricidade.

Sangue preto e ácido verde choveram do interior da hidra, ela balançando para frente e para trás. Caindo na nossa direção, as abas do seu corpo aberto foram abertas pela onda de vento.

Lyra correu de volta passando por nós, e Boo gemeu enquanto se virava e caminhava pela trilha, colocando mais distância entre nós e onde o corpo cairia.

Arthur e Regis não se mexeram.

O solo e o ácido explodiram para fora quando o cadáver atingiu o chão, esmagando a trilha que estávamos seguindo, a mais longa das cabeças caindo aos pés de Arthur. Então perdi tudo de vista quando uma parede de poeira e vapor amarelo engoliu a zona com talvez o barulho do fim do mundo.

Fechei os olhos contra a repentina nuvem de poeira, sentindo o ácido espirrando ao longo da minha pele exposta, apesar da mana cobrindo. Boo soltou um gemido preocupado e retribuí um tapinha no pescoço dele com conforto.

Uma rajada de vento afastou a névoa cáustica. Arthur e Regis estavam caminhando até mim, a hidra caída atrás deles. O fedor dela era inimaginável.

Senti Mica chegando, antes mesmo de vê-la. Saiu da nuvem, voando cansada, sua pele coberta de bolhas de todo o ácido com o qual havia sido atingida. Partes da armadura dela foram destruídas e o sangue estava escorrendo de várias mordidas.

Em vez de pousar no chão, se acomodou em Boo atrás de mim, suas costas apoiadas nas minhas. Ela estava na frente de Arthur e Regis.

— Mica acha que esse lugar é uma droga.

Falou baixinho.

— Você precisa praticar sua Rotação de Mana.

Disse ele ao nos alcançar.

— Você não usou durante toda a luta.

Senti a cabeça dela recostada no meu ombro.

— Sim, professor Leywin.

— E vocês estavam distraídas com o que estava na sua frente, então ignoraram o que não podiam ver. As flutuações de mana da parte principal do corpo, ainda subterrânea, que aconteciam toda vez que cortavam uma cabeça deveriam ter dito onde atacar.

Seu olhar frustrado se concentrou em mim.

— Ellie, você deveria ter sido a primeira a perceber isso. Estar na retaguarda não significa simplesmente lutar pelas costas; você precisa ver a situação inteira e se comunicar com os aliados.

Senti de maneira aguda a repreensão dele, mas só pude responder com um firme aceno de cabeça, não confiando na minha voz.

A verdade era que, naquele momento, ele nem parecia o meu irmão. Não aqui, nas relictombs. O vínculo que estávamos reformando em Vildorial ficou lá. Aqui, ele era um professor frio, distante e sem emoção… o amor fraterno era um obstáculo e assim ele o estava suprimindo.

Não tinha certeza de como isso me fazia sentir. Acho que não conseguiria isolar meus sentimentos assim. As minhas emoções fazem parte de quem sou. Quem é ele, realmente, quando está assim?

— Devemos deixar esta zona rápido.

Comunicou Lyra logo à minha frente. Ela estava olhando com cautela para as poças ao redor.

— Precisamos descansar, mas este não é o lugar para montar acampamento.

Arthur gesticulou para que ela liderasse o caminho, ela o fez, continuando na direção em que eu tinha visto antes o distante lampejo de luz.

— Eu nunca vi uma besta de mana tão forte.

Falei no seguinte silêncio, tentando reduzir a tensão.

— Como os magos antigos criaram tal coisa? E por quê?

— As mentes mais talentosas de Alacrya tentam descobrir isso há centenas de anos.

Respondeu a Retentora por cima do ombro.

— Os magos antigos eram uma raça pacifista, ou assim acreditamos. Como eles criaram coisas como esta abominação… bem, parece contrário à nossa compreensão da natureza deles.

Fiquei em silêncio por um tempo, sem esperar uma resposta à minha pergunta retórica.

— Você se saiu bem, Eleanor.

Continuou.

— Com a prática, poderá aumentar o alcance e o número de criações que você pode manter. Com força de vontade suficiente, conseguirá fazer manifestações mais complexas e poderosas também, tenho certeza.

Senti Mica vir para trás de mim.

— Pensei que esse seu molde mágico era para entregar mana ou algo assim.

— Ah!

Senti uma onda de constrangimento passar por mim. Dando uma meia volta, coloquei a mão no ombro dela e me concentrei no molde mágico, empurrando mana para dentro dela. Mana saiu correndo de mim, seguindo o curso das veias de mana dela em seu núcleo.

— Desculpe, eu quase esqueci!

Ela respirou fundo, relaxando contra mim.

— Obrigada, garota. Assim está… Melhor.

Lyra se virou para olhar para nós, a peguei escondendo um sorriso enquanto olhava para frente de novo.

— A maioria das runas tem vários níveis ou fases de ativação, tornando-se mais poderosa à medida que o portador fica mais forte e ganha proficiência nos feitiços fornecidos. Emblemas e regalias muitas vezes têm potentes efeitos inatos também que não requerem ativação para fornecer seu benefício.

Mica balançou a cabeça.

— Algo que eu ainda não entendo, acho. Por que todos os soldados Alacryanos não estão se pintando com essas regalias e outras coisas? Se uma pequena tatuagem pode quase colocar uma adolescente no estágio de núcleo prata, por que vocês não têm exércitos inteiros de magos de núcleo branco? Ou mesmo magos além do branco, no estágio de Integração.

— A maioria das concessões não resulta em uma runa. E quando uma runa é concedida, geralmente corresponde às capacidades do portador. Simplesmente realizar o ritual mais vezes não resulta em mais runas. Diz-se que, nos primeiros dias de Alacrya, os Soberanos tentaram fazer como você sugeriu, forçando seus súditos a passar por anos de concessões forçadas repetidas vezes, até mesmo tatuando ou queimando as marcas em sua carne em uma tentativa de recriar os poderes dos magos antigos.

“Mas isso é pouco diferente do que aconteceria se os seus magos Dicatheanos injetassem tinta nos núcleos. A cor do núcleo de um mago é um subproduto de uma miríade de fatores, como linhagem, talento e insight, assim como a recepção de um molde mágico para um mago Alacryano.

“O que, é claro, explica por que esses esforços foram um fracasso sombrio e dezenas de milhares de pessoas morreram. Isso, pelo menos em parte, levou o Alto-Soberano a combinar as linhagens. A concessão não funciona em Asuras, mas a fisiologia dos menores pode ser aprimorada com sangue Asura, criando uma nova raça de seres capazes de lidar com mais e melhores runas.

— Isso é tão assustador.

Murmurei, um arrepio percorrendo a espinha.

— Um continente inteiro nasceu como um experimento de cruzamento.

Respondeu Mica, seu tom sugerindo que ela estava pensando a mesma coisa que eu.

— Não é de admirar que vocês sejam todos absolutamente psicóticos.

Os ombros de Lyra enrijeceram.

— É preciso dar um passo adiante para entender o mundo ao todo. Prometo que meu orgulho em ser nomeada Retentora e Regente não era menor do que o seu quando você se tornou uma Lança, Mica Earthborn. Mas experimentar uma vida fora do controle do clã Vritra, bem…

Seu passo diminuiu, ela olhou para a escuridão e a névoa acima de nós.

— No começo, pensei que eram vocês, Dicatheanos, que estavam loucos. Sua desorganizada magia, a maneira como se ajoelham perante reis e rainhas menores, como pobres imitações de nossos soberanos… e toda essa liberdade. Como algo poderia ser feito quando todo homem e mulher estava livre para andar pela superfície do seu continente que nem insetos no escuro?

“Porém, quanto mais fiquei em Dicathen, mais claro se tornou para mim… Qual de nós éramos os loucos.

Caminhamos em silêncio por um minuto ou mais, chegando perto o suficiente da borda da zona para que todos pudessem ver a parede de pedra curva e o portal arqueado reluzente que Arthur usaria para nos levar para a próxima.

— Quantos Dicatheanos você acha que matou?

Perguntou a Lança de repente. Podia sentir seu corpo tenso contra minhas costas.

— Pelas próprias mãos? Centenas, imagino. Ao meu comando? Dezenas de milhares, no mínimo.

Já cansada e nervosa, meu estômago azedou ao pensar em toda aquela morte. Tantas pessoas foram mortas nesta guerra e para quê?

Olhei por cima do ombro para Arthur, esperando que ele interviesse para impedir que Mica e Lyra caíssem em outro ataque de brigas. Ele estava desviando o olhar de nós, sua silhueta clara contra o fundo sombrio, percebi que não estava ouvindo a conversa. Dava para ver na disposição de seus ombros, sua marcha rígida e a leve carranca nas feições afiadas dele…

Meu irmão estava a um milhão de quilômetros de distância. Me perguntava qual de suas muitas aventuras estava em sua mente agora. Com o cadáver do verme da hidra ainda visível à distância atrás de nós, parecia impossível que alguém pensasse em algo além daquela luta, mas parecia ser somente eu.

Arthur tinha passado por muita coisa, e, embora tivesse me contado muitas histórias, sabia que tinha mais que ele estava deixando de fora. Essa conversa sobre a guerra e todas as mortes desnecessárias o fizeram se sentir culpado? Provavelmente, pensei. Ele se culpa por não poder voltar mais cedo. Ele se culpa por não ser forte o suficiente.

— E você, Lança? Quantos Alacryanos matou?

— Não o bastante.

Disparou Mica de volta, hostilidade naquelas três palavras simples. Então, depois de um segundo de hesitação, ela acrescentou:

— Ou demais. Não vou saber, suponho, até que tudo isso esteja acabado.

— Chegamos

Falei.

A barreira da zona se erguia na nossa frente, a única brecha na pedra escura esculpida em um arco. O portal dentro era luminescente de modo suave, porém aonde quer que nos levasse, sabia que não era para onde estávamos indo.

Arthur pareceu voltar à realidade, marchando à nossa frente e puxando uma meia-esfera metálica de seu armazenamento dimensional.

— O caminho a seguir não está claro.

O portal opaco se tornou translúcido, como uma porta aberta e várias imagens derreteram dentro e fora de foco em rápida sucessão do outro lado.

— Tenho um mapa na minha cabeça, mas são apenas fotos. O caminho para a próxima ruína dos djinns, a próxima chave, está confuso. Pode levar algumas tentativas.

— Estamos nisso juntos

Disse, me envergonhando na hora pelo otimismo infantil que saiu na minha voz.

Mica deslizou das costas de Boo, seu olhar se movendo de Lyra para mim, depois para Arthur.

— Espero que a próxima zona ou o que quer que seja, cheire melhor do que este lugar.

A Alacryana balançou a cabeça, o cabelo vermelho-chama caindo em volta dos ombros.

— É raro as zonas se tornarem mais agradáveis à medida que ascende mais.

A anã revirou os olhos e ergueu as mãos.

— Então, as minhas esperanças de encontrar um resort completo com fontes termais e hidromel estão fora de questão?

Com um sorriso irônico e sem humor, Arthur gesticulou para o portal.

— Só há uma maneira de descobrir.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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