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O Começo Depois do Fim – Cap. 402 – Uma troca sem sangue

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POV ARTHUR LEYWIN

— Você está fazendo a coisa certa.

Disse Jasmine, sua voz firme se erguendo acima do barulho das multidões que circulavam abaixo.

Linhas de soldados Alacryanos desarmados faziam fila na frente das fileiras de portões de teletransporte tripulados por Dicatheanos leais. Nós dois achamos um telhado plano para ver os soldados de Vanessy trabalharem lá de cima.

Soltei um suspiro pesado.

— Eu sei.

A resistência ao meu plano tinha sido mais rígida aqui do que em Blackbend. A hostilidade entre os dois lados pairava no ar feito uma névoa viscosa. Muitos dos soldados Alacryanos não entendiam por que seus líderes haviam cedido com tanta facilidade e ainda ansiavam por uma luta. O controle deles aqui fora revestido de ferro e os cidadãos sofreram sem nenhum outro lugar para ir.

A cidade parecia um barril de pólvora e faíscas voavam em todas as direções. Enquanto observávamos, vi um aumentador empurrar um Alacryano desarmado quando ele não avançou para fechar o vão em sua fila. O homem girou e puxou o punho para trás, brotando espinhos de pedra; o aumentador, porém, pressionou a ponta da espada contra o peito do outro.

— É só dizer.

Falou Regis, tirando uma perna da borda do telhado.

 — Eu posso espalhar a Destruição neles para que aprendam.

Senti o mesmo desejo de intervir. Não era da minha natureza assistir à disputa e não fazer nada, ainda mais porque eu poderia terminá-la com um aceno de mão.

— Você transferiu a gestão da cidade para a comandante Glory e os Helsteas por uma razão.

O olhar perceptivo dela notou a ligeira mudança na minha postura.

— Intervir agora é mostrar que não confia neles.

Me forcei a relaxar.

— É verdade.

Como se fosse invocada pelas palavras de Jasmine, Vanessy apareceu através multidão e separou os dois, prometendo aos gritos justiça rápida a qualquer Alacryano que brandisse uma arma ou feitiço.

Me levantei, deixando Regis voltar ao meu corpo.

— Vamos andando.

Juntos, Jasmine e eu pulamos e marchamos pela rua larga que conectava todas as armações do portal.

A maioria deles estava ocupada, enviando um fluxo ininterrupto de Alacryanos além da Muralha para uma pequena cidade nas Clareiras das Bestas, que por acaso era o local do único portão de teletransporte sobrevivente do outro lado das montanhas. Mas, no fim, nem um único portal estava sendo usado no momento, como solicitei.

Quando passamos, vi as cabeças se virarem para nós. Cada emoção humana estava presente, escrita nos rostos e ardendo nos olhos daqueles ali reunidos, se misturando em uma alquimia incongruente de sentimentos incertos.

Mantive o foco para a frente, entretanto, deixando o medo, o ódio, o respeito e a adoração de Alacryanos e Dicatheanos serem derramados em mim sem absorvê-los.

O portão de teletransporte deu vida quando o atendente o calibrou para a cidade de Etistin e o mundo cambaleou ao meu redor quando entrei.

Era uma viagem significativa de Xyrus a Etistin, cruzando quase toda a largura de Sapin. Quando a paisagem borrada passou, me senti acomodado, deixando os problemas de Xyrus para trás.

O interior da estrutura de pedra que abrigava o portão receptor entrou em foco. Estava vazio, sem nenhum guarda vigiando ou guardando as portas com faixas de ferro que levavam a uma ampla praça além. Por uma das janelas abertas que circulavam a construção, pude ver o palácio real à distância, brilhando branco ao sol brilhante.

Jasmine apareceu atrás de mim um momento depois. Tirou as adagas, contudo, gesticulei para que se acalmasse.

Depois das portas, nada menos que cinquenta grupos de batalha estavam dispostos em toda a praça. Os soldados, parados e atenciosos, usavam seus uniformes cinza e vermelho, todavia, sem arma ou armadura.

Cruzando o chão de azulejos da câmara, nossos passos eram o único som, exceto pelo canto distante de algum pássaro marinho circulando pela baía.

De pé na frente da força reunida estava a retentora Lyra Dreide, o cabelo vermelho-fogo soprando feito uma bandeira com a brisa constante do mar. Ela enrijeceu ao me ver.

— Bem-vindo, Lança Arthur Leywin.

Disse, sua voz agridoce vagando sem dificuldades por toda a praça silenciosa.

— Eu sou Lyra do alto-sangue Dreide, Retentora do Domínio Central e regente deste continente em nome do alto-soberano Agrona.

Jasmine soltou um suspiro agudo quando apareceu ao meu lado no meio do discurso de Lyra. Trocando um olhar rápido, saímos das portas largas e olhamos em volta.

Uma lacuna havia sido deixada entre duas linhas dos grupos, onde trinta cadáveres foram dispostos em ordem nas pedras. Meu primeiro pensamento, com um lampejo de fúria, foi que era mais uma manobra dos Alacryanos e fiquei com medo dos rostos que poderia ver. A roupa deles, no entanto, era de Alacrya. Atrás deles, havia pilhas de armas e armaduras.

Lyra Dreide seguiu a linha do meu olhar.

— Isso é o que acontece com os Alacryanos que não seguem ordens.

Nenhum dos restantes deixou sua atenção se concentrar nos corpos. Aqueles mais próximos, que seriam capazes de ouvir o zumbido das moscas enxameando os defuntos, fixaram os olhos firmemente para frente.

Ainda assim, permaneci cauteloso com alguma armadilha e ativei o Realmheart. Uma ondulação percorreu a multidão, como o vento agitando as folhas de uma grande árvore. Ele levantou meu cabelo loiro-trigo, senti o brilho quente nas minhas costas e sob meus olhos. O medo que sentiam brilhava em seus olhos, refletido de volta para mim na forma das runas violetas.

Não pude deixar de me perguntar como os habitantes daquele continente distante e alienado me viam. Me tornei um símbolo de misericórdia, ou apenas me consideravam uma personificação da morte?

E, talvez mais importante, independentemente de qual fosse a resposta, seria suficiente para dominar seu medo dos Asuras que os controlavam?

— O que é tudo isso?

Perguntei, voltando minha atenção para a Retentora.

Ela levantou a mão e todos os soldados se ajoelharam e inclinaram a cabeça. Devagar, ela os seguiu, embora não tivesse curvado a cabeça e mantivesse um contato visual inabalável.

— Esta.

Contou com uma enunciação lenta e exagerada.

— É a minha rendição.

Um movimento sutil à minha esquerda me fez virar. O punho de Jasmine estava branco em torno de uma adaga e ela estava mastigando o interior da boca. Para a maioria das pessoas, teria sido pouco mais do que um leve tique-taque, mas consegui ler a sua surpresa, cautela e desconfiança com clareza.

Dei um passo mais perto da Alacryana e olhei para baixo até avistar seus olhos rápidos e curiosos.

— Quais são os termos desta rendição?

Considerando a melhor forma de responder, a sua língua disparou. Depois de um longo momento, disse:

— Não vim para negociar ou implorar a você, regente Leywin. Não há termos. As forças de Alacrya em Dicathen se rendem.

— Então, o que me impede de te matar agora? Ou esses homens?

Ela me deu um sorriso.

— Você deixou homens que estavam tentando te matar irem embora e ainda assim mataria aqueles que agora estão diante de você, desarmados e à sua mercê?

— Eu falei que você estava começando a ser previsível. — apontou Regis.

— Não é necessariamente uma coisa ruim. — argumentei.

Jasmine deu um passo mais perto de mim.

— Talvez executar a Retentora tornaria a saída deles mais simples?

— Regente Leywin, eu… — Pigarreou.

— Eu não sou regente.

Interrompi, considerando as palavras de Jasmine e Regis.

— Lança ou general, talvez, mas…

— Com licença, regente Leywin, mas cedi autoridade sobre este continente a você.

Olhei para ela enquanto me interrompia, porém, não recuou.

— Até que você restabeleça sua própria forma de governo, acredito que isso, de fato, o torna regente de Dicathen.

— Aqui não é lugar para esta conversa.

Olhei para a multidão de magos inimigos em suas fileiras.

— Lyra do alto-sangue Dreide, você é, por enquanto, minha prisioneira. Se eu me sentir traído, você morre.

— Entendido.

Falou, calma. Era um lembrete gritante de que, em Alacrya, o preço do fracasso em sua posição sempre era a morte.

— Estes são todos os soldados em Etistin?

Me virei para o palácio real.

Jasmine e Lyra deram um passo atrás de mim.

— Não, a maior parte de nossa força aqui ainda está sendo escoltada para fora. Já que Etistin permanece sendo um foco de atividade rebelde, há muitas tropas. Mais de dezesseis mil dentro e quase o mesmo número espalhado pelo campo circundante. Atualmente, a maioria está sendo realocada para acampamentos fora da cidade.

— Não se incomode com acampamentos.

Um rosto olhou para nós da janela do segundo andar de uma propriedade bem construída: uma menina, talvez de sete anos de idade, seus olhos arregalados e azuis feito água. Quis retribuir um sorriso, talvez até um aceno, entretanto, simplesmente observei ela correndo para fora da vista.

— Todos os Alacryanos estão sendo realocados para além da Muralha até que esta guerra termine.

Continuei. Agora que estava olhando, pude ver outros movimentos dos moradores.

Ela não contou às pessoas o que estava acontecendo, percebi.

— Regente, talvez eu possa…

Eu parei e me virei, a prendendo com uma carranca sóbria.

— Qual parte do “você é minha prisioneira” que não conseguiu entender?

Ela fez uma pausa, esperando que eu terminasse de falar.

— Oferecer a você informações sobre a situação em Etistin que podem fornecer algumas opções além do seu plano atual.

Ao lado dela, Jasmine levantou as sobrancelhas de leve e tirou uma adaga parcialmente para fora da bainha. Dei a ela um aceno sutil de cabeça.

De imediato, me vi mais curioso do que irritado com a ousadia da Alacryana. Rastejando, implorando e chorando… Era o que eu esperava. De onde veio essa audácia? Me perguntei.

Quando chegamos aos portões do palácio, guardas Alacryanos armados baixaram suas armas e marcharam para longe, seguindo algumas ordens pré-determinadas. Várias pessoas curiosas nos observaram aproximar da entrada, contudo, saíram do nosso caminho.

Estive no palácio antes da Batalha de Bloodfrost, todavia, não conhecia o suficiente para saber o caminho. Jasmine e eu permitimos que Lyra nos guiasse e entrasse em uma série de solares e aposentos até chegarmos a um escritório privado.

Olhei em volta com curiosidade.

A sala estava arrumada e cheia de pergaminhos, mapas, pilhas de papéis e livros. Pegando um dos pesados e encerados pergaminhos, me toquei que era um desenho detalhado do próprio palácio. O abaixo dele na pilha era quase idêntico, no entanto, de um ângulo diferente e com um corte revelando o interior.

Pus ele no chão. Lyra e Jasmine estavam me observando com expectativa.

— Precisamos preencher o vazio deixado por sua ausência.

Disse depois de um momento.

Lyra apoiou o quadril no lado da mesa que dominava o escritório e brincou com a borda de um pergaminho.

— Muitos dos servos e cortesãos do rei e da rainha Dicatheanos anteriores ainda residem na cidade. Alguns estão presos nas profundezas daqui; outros tomaram novas vidas e carreiras. Tenho certeza de que se revelarão quando você anunciar que me rendi.

O que ela disse era verdade, mas sabia que não poderia tirar um cortesão da prisão e dizer que estavam no comando da capital de Sapin. Não, precisava de pessoas que conhecessem bem a cidade, que entendessem a política e que tivessem apoio imediato do público.

— Espere aqui.

Fui à runa de armazenamento extradimensional.

O pesado e metálico tempus warp apareceu em minhas mãos e com cuidado o coloquei ao lado de uma estante cheia. O calor inundou meu corpo ao ativar o Realmheart de novo, usando éter para manipular a mana necessária para calibrar o dispositivo a Vildorial.

Após um momento, um portal brilhou.

— Se importaria de trazer os Glayders aqui para mim?

Perguntei a Jasmine.

Ela assentiu antes de desaparecer sem hesitar.

Lyra se afastou da mesa e se aproximou do tempus warp, se ajoelhando para examinar mais de perto.

— Impressionante. Somente o alto-soberano tem permissão para comissionar artefatos capazes de teletransporte de longo alcance.

Continuei a examinar as pilhas de pergaminhos.

— As Assombrações que matei trouxeram com eles. Uma rota de fuga de emergência no caso das coisas correrem mal, presumo.

Ela deu uma risadinha, se colocando de pé e fixando os olhos de lavanda em mim.

— Certamente saiu pela culatra, não foi?

Contra uma prateleira, olhei para ela de braços cruzados.

— Você sabe muito sobre o que está acontecendo. Em ambos os continentes, ao que parece.

— Esse é o meu trabalho. — Respondeu.

Saber as coisas. Por exemplo, talvez tenha ocorrido a você que a defesa de Dicathen foi bastante desajeitada e ineficaz? Bem, talvez tenha interesse em saber que a atenção de Agrona foi forçada a voltar a Alacrya. Traição dos maiores e talvez até mesmo uma guerra civil.

Regis se manifestou das sombras profundas ao meu redor, os olhos arregalados de interesse.

— Ooooh, conta a boa.

Não dando outra indicação de que estava surpresa com Regis além de um passo para trás, ela arrancou um pergaminho da mesa e o jogou para mim com um sorriso forçado.

— A Foice Seris Vritra de alguma forma derrotou ou removeu um dos soberanos e reivindicou metade de Sehz-Clar para si.

Desenrolei o pergaminho. Era uma missiva detalhando os eventos da rebelião em Alacrya. Então ela enfim se moveu, pensei.

— Mas, mesmo que tivesse o apoio de todos os Alacryanos, não pode vencer uma guerra civil contra o clã Vritra.

— Parece uma maneira desnecessária de fazer com que ela e todos os seus seguidores sejam mortos.

Respondeu, mudando a postura.

— A menos que…

Segui a linha de raciocínio dela.

— A menos que não esteja tentando ganhar. Quando exatamente essa rebelião começou?

— Quase imediatamente depois que você destruiu uma instalação militar secreta no domínio de Vechor.

Fazia uma semana desde que as Assombrações me emboscaram, era tempo mais do que suficiente para Agrona responder à derrota deles. Tornei mais difícil para ele enviar soldados a Dicathen, porém, não impossível. Nem eu tinha condições de lutar contra todas as suas forças, ainda mais se enviasse mais Assombrações ou Soberanos.

Um fato que Seris sabia bem.

Me lembrei do nosso primeiro encontro, quando olhei para cima, ensanguentado, arrebentado e sem mana, do fundo de uma cratera com Sylvie ao meu lado, presa ao chão pelos espinhos de Uto. Antes de nos conhecermos, Seris me protegeu dos servos de Agrona.

Era isso que estava fazendo agora? Não parecia existir outra explicação provável.

— Se importa que eu pergunte o que vai fazer a seguir? Com Vildorial, Blackbend, Xyrus e Etistin sob seu controle, é apenas uma questão de tempo até que o resto de Dicathen volte para você.

— Estou esperando certas pessoas depois disso.

Naquele momento, a superfície do portal opaco estremeceu e ondulou quando Jasmine se materializou. Logo atrás, Curtis e Kathyln Glader.

Sorri ao ver a maravilha em ambos os rostos. Kathyln deu um passo vacilante em direção à mesa, a mão se estendendo devagar percorrendo a superfície lisa de mogno.

O foco de Curtis estava em mim, o sorriso iluminando seu rosto quadrado. Quando virou a cabeça, soltou um grunhido indignado e fechou o rosto.

— O que diabos ela está fazendo aqui?

Lyra, que havia voltado para o canto, se curvou para eles.

— Bem-vindos, senhores Glayders. Entendo que isso seja…

De repente, ele estava se movendo. Fogo dourado brilhou de seu punho até o comprimento do braço, que foi para trás para um golpe reforçado com mana. Entretanto, por mais rápido que fosse, Kathyln era mais.

Com um único passo, ela se interpôs entre seu irmão e a Retentora, seu cabelo preto balançando. A sua mão pressionou o peito de Curtis, o forçando a parar.

— Kat, esta é a mulher que…

— Eu sei quem é, irmão.

Disse, não entregando nenhuma emoção.

Jasmine continuou olhando para mim, talvez esperando por alguma orientação, mas apenas observei. Criaria ressentimento nos Glayders se eu os forçasse a recuar ou aparecesse do lado de Lyra Dreide. Eles precisavam resolver isso sozinhos. Além disso, Lyra era uma Retentora. Pelo que ouvi, lutou até que bem contra Varay, Mica e Aya juntas. Duvidei que pudessem matá-la.

Kathyln se virou, lançando um olhar gelado para ela.

A Retentora pigarreou.

— Eu entendo o ódio de vocês por mim, mas saibam que só fiz o que me foi ordenado pela Foice Cadell e o Alto-Soberano. Afinal, cada um de nós é apenas uma peça no tabuleiro. São os Soberanos que…

A mão de Kathyln bateu na bochecha de Lyra com um estalo agudo, jogando a cabeça dela para o lado.

— Suas desculpas são fracas e inúteis.

Disse, no completo controle de si.

— Independentemente de ter massacrado nossos pais por diversão ou só ter desfilado com seus corpos por medo da morte nas mãos de seu próprio senhor, você é um monstro e se dependesse de mim, já estaria morta.

— Ooh.

Sussurrou Regis antes de eu lançar um olhar para ele.

Curtis, o braço ainda em chamas, apontou o indicador para mim.

— Arthur, o que significa isso? Por que nos trouxe aqui? Por que a cabeça desta criatura não está em uma estaca?

Me afastei da estante e cheguei mais perto dele. Estendendo a mão, a apoiei em seu braço queimando. As chamas douradas dançaram em meus dedos por dois segundos e de repente desapareceram, deixando a sala muito mais escura e fria.

— Porque, pelo menos por enquanto, precisamos dela.

Ele abriu a boca para discutir, mas continuei falando.

— Esta cidade está em ruínas. Preciso de uma mão forte e liderança para ajudar a erguer Etistin de volta com segurança depois que os Alacryanos se forem.

— Você quer que cuidemos da cidade.

Falou Kathyln, desviando o olhar entre mim e Lyra.

— Vocês conhecem a cidade e as pessoas. Seu nome significa algo aqui e carrega uma autoridade natural.

Soltei o braço dele.

— Há muito a ser feito. Confio em você para isso.

Seus olhos se focaram em qualquer lugar, exceto em mim ou Lyra.

— E os Alacryanos? Dizem que você está enviando todos para além da Muralha.

— Sim, eu…

A Alacryana pigarreou de novo e me deu um sorriso de desculpas.

— Como tentei sugerir, não acredito que enviar tantos soldados Alacryanos para a Clareira das Bestas seja o único ou o mais sábio curso de ação, regente.

O pescoço e as bochechas de Curtis ficaram vermelhos.

— Quem disse que você pode falar, demônio?

Quanta raiva, pensei, quase me divertindo.

— O que você sugere, então?

Os dentes dele rangeram quando olhou para mim, chocado.

Ela hesitou por um momento, esperando para ver se os Glayders iriam interrompê-la.

— Temos muitos navios na baía. Permita que qualquer Alacryano ou Dicatheano possa partir para Alacrya. Nós nos rendemos. Seria um sinal de boa fé e uma boa decisão estratégica também, pois a jornada é longa. Quaisquer soldados que passarem o próximo mês no mar não poderão ser usados contra você, mas também estarão a salvo da ira do Alto-Soberano.

— Um sinal de boa fé?

Gaguejou Curtis, porém Kathyln apertou a sua mão com firmeza, o silenciando.

— E…

— Continue.

— Eu sugiro que qualquer um que renuncie ao Alto-Soberano seja autorizado a ficar em Dicathen.

Ela ergueu o queixo quando Curtis bufou.

— Muitos desses homens e mulheres estão aqui há mais de um ano, lorde Glayder. Eles têm casas, famílias…

— Mentira. Como se qualquer Dicatheano formasse de bom grado uma família com um Alacryano. O que você quer dizer é que nosso povo foi forçado à escravidão, vendido, suas casas e vidas rouba—

— Não. Na verdade, o Alto-Soberano proíbe essas coisas. Nossa cultura valoriza a pureza do sangue, e os Soberanos foram firmes em sua insistência para que não houvesse mistura de sangue Dicatheano e Alacryano.

Ela sorriu, e havia um tipo perverso de brilho no olhar.

— Mas os Soberanos estão muito longe, e o amor é uma coisa estranha e poderosa.

— Amor?

Gritou.

— Como se os conquistados pudessem se apaixonar pelo conquistador, exceto pela força e pelo medo.

— Você pode ter vivido o último ano em um buraco no chão, lorde Glayder, mas eu não.

Falou ela de maneira brusca.

 — Você verá por si mesmo em breve.

— Talvez…

Disse Kathyln, olhando para mim.

— Admito que estou desconfortável com a sugestão da Retentora. Navios cheios de soldados poderiam com facilidade circundar o continente e atacar de outra direção ou esperar o tempo fora da costa até o próximo grande ataque, então estaríamos lidando com um conflito em várias frentes. Se mais dessas Assombrações viessem…

Ela tinha um bom ponto. Entendi a intenção do plano de Lyra, e seria bem mais fácil embarcar os soldados em barcos do que transportá-los à Muralha. Contudo, isso significava que estávamos devolvendo a Agrona milhares de guerreiros.

Olhei para Jasmine, que ficou em silêncio durante todo o encontro. Ela apenas deu de ombros.

Me peguei concordando com o julgamento de Lyra, apesar de ainda estar cauteloso em fazer decretos e esperar que todos concordassem.

— Vocês três trabalharão juntos nisso. Lyra se rendeu, mas suas sugestões não são sem valor. Independentemente de como procedermos, todos devem estar de acordo.

Houve uma pausa tensa. Curtis se virou para Kathyln, que continuou me observando.

— Sugiro que façamos o que a Retentora sugeriu. — disse por fim.

Esperava que Curtis discutisse, todavia, aparentava estar se forçando a relaxar, soltando os punhos cerrados e respirando fundo.

— Se vamos permitir que os Alacryanos fiquem, devemos pelo menos aprisioná-los por um tempo… Trinta dias, se não mais.

Lyra franziu a testa.

As sobrancelhas de Kathyln se ergueram enquanto considerava a proposta.

— Isso permitirá às “famílias” alguma separação para garantir que tais acordos sejam, de fato, mútuos e protegerá o povo de Dicathen e os soldados Alacryanos. É um bom compromisso.

Uma onda de força perturbou o ar no escritório, lançando um vento palpável sobre nós e fazendo com que todos nos virássemos na direção de onde veio.

— O que di—

Murmurou Curtis com a mão na espada.

— Tanta mana… Os olhos de Lyra se arregalaram.

Logo ativei o Realmhert e um sorriso floresceu devagar no meu rosto ao reconhecer a assinatura de mana.

Fiz meu caminho à porta com Regis atrás, então parei e me virei para os Glayders.

— Isso não deve ser dito, mas Lyra Dreide é minha prisioneira. Por enquanto, ela vai ficar aqui e ajudá-los com os arranjos. Espero que ela permaneça ilesa.

Meu foco mudou para ela.

— Quando eu voltar, decidirei o seu destino. Dependendo, é claro, do quão útil você for com o passar do tempo.

Três pares de olhos piscaram para mim com incerteza; eu sabia que não poderia passar mais tempo em Etistin. A próxima fase da guerra já estava começando.

Abri a porta e me dirigi aos portões principais, Jasmine uma sombra silenciosa atrás de mim.

Uma vez que estávamos longe, parei.

— O que foi?

Perguntou enquanto eu me virava para ela.

Dei a ela um sorriso de desculpas.

— Sinto muito, mas preciso fazer a próxima parte sozinho.

Ela deu de ombros.

— Imaginei.

Então, para Regis, falei:

— Preciso que fique para tomar conta de Lyra. Fique fora de vista e a vigie. Meu instinto diz que podemos confiar no senso de autopreservação dela, mas não arriscarei a vida dos Glayders só por isso.

Senti a decepção e frustração dele exalando através da nossa conexão.

— Não sei quanto a isso, Art.

— Isso é importante, Regis. Não a conheço, mas conheço Kezess. Não estarei em perigo.

Ele suspirou antes de se virar para Jasmine.

— Sei que é estranho, mas tenho o seu consentimento para me esconder dentro do fantoche de carne que você chama de corpo?

Um arrepio percorreu suas costas quando seus olhos vermelhos se arregalaram de descrença.

— O-O quê…?

Eu teria revirado os olhos e o chutado, exceto que ele já tinha se tornado incorpóreo.

— Ele vai ficar para trás para manter todos seguros, mas eu o quero fora de vista. Lyra não pode saber que ele está aqui.

Ela demorou um momento para se recompor, endireitando sua armadura e suavizando a expressão chocada de seus traços.

— Tudo o que precisa ser feito.

Sem um som, ele desapareceu dentro de Jasmine. A mandíbula dela se apertou quando cerrou os dentes devido à bola de éter que era Regis pairando em torno de seu núcleo.

— É bem estranho.

— Ei, não é muito melhor para mim, tá bom?

Transmitiu Regis, mas, a julgar pela falta de reação dela, presumi que não pudesse ouvi-lo.

— Fique em segurança. Não devo demorar muito.

— E você seja educado.

Então estava marchando pelo palácio de novo, agora sozinho.

Lá fora, encontrei um disco oval de energia opaca pendurado diante mim. Gritos se levantaram quando as poucas pessoas que haviam saído para ver o que estava acontecendo correram para longe.

Uma silhueta branca apareceu, atravessando o disco para ficar no ar.

O portal desapareceu depois, revelando um homem com cabelos loiros platinados em um uniforme militar escuro, seus olhos de outro mundo, cada um como uma janela para uma galáxia distante, assentados em mim.

— Já faz algum tempo, Arthur Leywin.

— Já era hora. — respondi.

— Não tinha certeza se ele te enviaria, considerando tudo.

A expressão de Windsom permaneceu plácida.

— Eu sou o mensageiro de lorde Indrath a este mundo. E como tal, estou aqui para buscá-lo.

A mana endureceu para formar um conjunto cintilante de escadas que levavam até o portal.

— Venha, Arthur. Lorde Indrath quer falar com você.

Dei uma leve risada.

— É, tenho certeza que quer.

N/A: Não tenho certeza se alguém percebeu, mas esta sentença foi uma homenagem ao início do volume 5, quando Arthur diz mais ou menos isso para Windsom na prisão. 😉

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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