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O Começo Depois do Fim – Cap. 393 – Disputa de Soberanos

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POV CAERA DENOIR

Os passos suaves da Foice Seris não emitiam som algum sobre os degraus de pedra à minha frente, e os de Cylrit deixavam um leve som abafado para trás, fazendo os meus soarem como tambores de guerra na longa e sinuosa escada sob sua propriedade de Sehz-Clar.

As paredes eram de uma pedra cinza escura, o que fazia a escadaria estreita parecer ainda mais apertada e claustrofóbica. Era como se eu pudesse sentir o peso do penhasco pairando acima de nós, toneladas e toneladas de rocha, solo e arenito, todos apoiados no topo dessas escadas impossivelmente longas e apertadas…

— Seu silêncio me surpreende.

Disse a Foice Seris por cima do ombro.

— Tenho certeza de que tem perguntas.

Sua presença composta parecia desacordar com a natureza apressada e furtiva da minha visita a Sehz-Clar, o que só aumentou o nervosismo e preocupação em mim.

— Muitas.

Apesar de não ter nada além de perguntas girando feito um bando de halcyons na minha cabeça desde o Victoriad, as omiti, achei difícil desembaraçar uma da outra para perguntar a eles.

O que é que preciso saber? Quais das minhas perguntas são mais do que mera curiosidade?

— Grey é mesmo do outro continente?

Enfim questionei.

— Sim. — respondeu indiferente.

Mordi o lábio ao considerar esse fato. Era a resposta que esperava depois de tudo o que meu sangue descobriu, mas só serviu para confundir ainda mais minhas muitas outras perguntas.

— Você sabia o tempo todo?

— Sim.

— Isso não coloca você e todos nós, em perigo?

Não era de fato o que pretendia saber, porém escapou com um tom de descrença.

— Sim.

Mal consegui conter um suspiro cansado.

— Você vai responder a alguma das minhas perguntas com mais de uma palavra?

— Vamos ver.

Uma ponta de humor era presente em sua voz.

Atrás de mim, Cylrit sufocou uma risada, lhe lancei um olhar aborrecido. Apesar deste diálogo não estar oferecendo quase nenhuma informação nova, era claro que, apesar de suas provocações, ela não tinha intenção alguma de dizer tudo ainda.

Só podia assumir que eu estava presente em Sehz-Clar por uma razão, então escolhi ficar quieta e paciente até que ela revelasse o propósito.

Não houve mais interrupções quando chegamos às profundezas. Após um tempo, a escada terminou em um grande quadrado de ferro inserido na parede em sua base. Parecia uma porta, mas sem maçanetas ou dobradiças, somente um cristal de mana incandescente na parede. A Foice Seris não perdeu tempo e levantou uma mão para o cristal azul-petróleo e empurrou mana nele antes que Cylrit e eu descêssemos o último degrau.

A parede zumbiu antes de fazer um barulho parecido mais com um impacto do que ruído, a porta começou a se levantar do chão para uma lacuna acima dela.

Me aproximei da minha mentora e olhei para a sala além.

Uma série de tubos de vidro do chão ao teto preenchiam um enorme espaço industrial, cada um deles emitindo um azul elétrico que refletia nas paredes brancas, o chão e o teto, o que dava à câmara um ar surreal.

Ela entrou e se aproximou do tubo mais próximo. Conforme seguia, vi que, em um vão ao redor da base do tubo, era aquecido por pilhas de pedras laranja brilhantes que emitiam um fedor sulfuroso e calor suficiente para me manter bem para trás. Bolhas translúcidas surgiam através de qualquer líquido que estivesse dentro.

Tubos de vidro tão finos quanto meu dedo mindinho deixavam o artefato em uma dúzia de lugares diferentes; alguns se conectando a artefatos adjacentes idênticos, outros correndo ao teto ou paredes; alguns indo ao longo de uma parede em direção a um painel de dispositivos no meio da sala: medidores, painéis de projeção e cristais de mana, cujo propósito era um mistério para mim.

No entanto, uma coisa era certa.

— Tanta mana…

O líquido azul brilhante irradiava mana mais intensamente do que as rochas laranja irradiavam calor.

— É algum tipo de… Dispositivo de armazenamento? Como… Cristais líquidos de mana?

— Sim, é exatamente isso.

Disse sem uma gota de orgulho.

— Só que essas baterias são infinitamente mais expansíveis e podem ser fabricadas em massa com os recursos apropriados.

Fechei os olhos e deixei meus sentidos vagarem, aproveitando o brilho da mana compactada nadando dentro dos dispositivos.

— É incrível.

— É… importante.

Uma nota de hesitação estava presente em sua voz.

Meus olhos saíram do pequeno transe e a encarei, preocupada. Nos olhamos por um momento, e depois ela lançou um olhar para Cylrit, fazendo um pequeno gesto de mão. Ele se curvou, virou-se e saiu da sala.

Um momento depois, a porta desceu devagar de volta ao seu lugar.

A Foice Seris apertou as mãos atrás das costas e começou a andar sem pressa ao redor da lateral da sala. A segui, a observando com cuidado, o nervosismo arrepiante que sentia desde que cheguei à cidade de Aedelgard retornando de repente.

— Você sabe o que são as Assombrações, Caera?

— Guerreiros Vritra meio-sangue protegendo Alacrya em segredo dos outros clãs Asura. — respondi de imediato.

— Sempre assumi que eram apenas uma história assustadora para as crianças.

Ela me deu um sorriso raro.

— Receio que sejam bastante reais. O exército secreto de Agrona, os filhos de Basiliscos do clã Vritra e Alacryanos de meio-sangue. A reputação deles de “bichos-papões” é intencional da parte de Agrona. Não para assustar os Alacryanos; ele não precisa disso para manter a ordem neste continente, mas para construir um muro de incerteza entre ele e os Asuras.

No início, não entendi de que forma essas Assombrações causariam medo nos Asuras de sangue puro, que nem os Soberanos ou o próprio Agrona. Mesmo uma Foice como Seris não era párea para um Soberano, ela mesma me dissera, então quão fortes poderiam ser essas Assombrações?

E aí assimilei suas palavras.

— Um muro de incerteza? Você está sugerindo que de fato são “espantalhos”? Bichos-papões, como você disse. Uma força destinada a assustar os outros Asuras, não necessariamente combatê-los.

— Até pegaram o nome de uma antiga lenda Asura.

Contou, observando as bolhas rolando através dos tubos de contenção de mana azul.

— Um pouco óbvio por parte de Agrona, se me perguntar, mas eficaz. No entanto, não confunda com falta de força. Eles são assassinos de Asura treinados. Um esquadrão forte é capaz de derrubar até mesmo um guerreiro Asura talentoso.

Senti arrepios subindo na parte de trás do meu pescoço.

A Foice Seris parou em frente ao painel de dispositivos e tubos de vidro.

— E Agrona enviou um desses esquadrões para Dicathen, a fim de caçar e capturar Grey, se possível, ou matá-lo, caso não houvesse alternativa.

Meu coração afundou e olhei para ela, apavorada, porém antes que pudesse responder, ela acrescentou:

— Mas eles falharam. E então, já que ele não é nada mais além de um exibicionista, surgiu pelo portal no coração de Vechor, destruindo toda uma base militar, matando algumas centenas de grupos e batalhões de guerra.

Me inclinei na parede e descansei minha cabeça nela, chegando à conclusão de que superestimei toda a minha compreensão do mundo em que vivia. Parecia quase impossível Grey derrotar não só uma, mas duas Foices, até que ele fez isso e escapou do próprio Alto Soberano. Entretanto, matar cinco Assombrações…

— Se Agrona está tentando capturá-lo, ele deve querer respostas de algum tipo. Sobre o éter.

Esse pensamento foi confirmado na hora pelo olhar terrível no rosto dela.

— Mas ele não vai deixar que sua ganância por conhecimento interrompa seus outros planos.

Disse, sacudindo um dos pequenos tubos e as bolhas indo junto.

— Ele está cansado do conflito em Dicathen e está pronto para abandonar seus planos iniciais para subjugar e utilizar a população do continente.

— Ele vai acabar com todos eles.

Falei, olhando para os meus pés.

— E Grey.

Havia uma coisa que não conseguia descobrir por mim mesma. Era uma pergunta que tinha medo de fazer, contudo precisava saber o propósito dela.

— Por que arriscar a pior das mortes escondendo a identidade de Grey, trabalhando com ele? Você está se opondo diretamente ao próprio Alto Soberano. Isso não é… Traição? Trair Alacrya?

Ela soltou uma risada amarga que me assustou.

— Estamos salvando Alacrya, criança. É por isso que você está aqui.

Dei a ela um olhar questionador, ela pegou a minha mão.

— É minha vez de fazer uma pergunta para você, Caera. Sabendo agora quem é Grey, ainda pode apoiá-lo? Se ele estivesse aqui agora e pedisse, você ofereceria lealdade?

Hesitei. A verdade era que ainda não possuía certeza. Meus sentimentos em relação a ele já eram complicados, saber que ele mentiu sobre quem era o tempo todo que o conhecia não ajudou nisso. Mas… também não tinha certeza do que mudou.

— Minha lealdade é a você, Foice Seris.

Disse depois de uma longa pausa.

Alguma emoção difícil de analisar passou por seu rosto, gratidão, orgulho, surpresa, não sabia e ela apertou minha mão.

— Então preste atenção. Se esperamos ajudar Grey e Dicathen, devemos manter a atenção de Agrona em Alacrya. Muito em breve, o Soberano Orlaeth de Sehz-Clar chegará para inspecionar esta máquina que construí. Porém não é o que prometi a ele.

Senti a cor sumir do meu rosto enquanto meu coração batia forte contra minhas costelas.

— O sistema de entrada de mana para o dispositivo é uma armadilha.

Afirmou, uma luz escura piscando em seus olhos.

— Isso vai tirar sua mana, enfraquecendo-o o suficiente para que eu possa lidar com ele. Tenha cuidado com seus pensamentos, no entanto. Orlaeth é poderosamente empático, sentirá se você não controlar suas emoções.

Meu estômago afundou.

— Você espera que eu esconda minhas emoções de um Soberano?

Perguntei, o tom agudo da minha voz revelando meu medo.

Ela me soltou e deu um passo para trás.

— Eu não te trouxe aqui sem razão. Você e Cylrit, o que sentem fornecerá um barulho muito necessário para impedir que Orlaeth se concentre somente em mim.

Olhei de volta para a porta.

— Seu Retentor não sabe dessa parte do plano, não é?

— Inteligente.

Assentiu em aprovação.

— Ele está propositalmente sendo mantido cego a minhas verdadeiras intenções, para que o que ele sente contradiga o que você sente.

— E…

Hesitei, não querendo questionar seu julgamento, todavia incapaz de superar meu medo.

— E se falharmos?

Questionou, captando meu raciocínio.

— Há uma segunda opção. Orlaeth é um gênio. Minha armadilha está bem escondida, mas se ele sentir a sua ansiedade e medo, pode não morder minha isca.

Pensei ter sentido uma pitada de oscilação na maneira que a voz dela se contraiu, o que só aumentou a minha.

— Mas tudo o que preciso que ele faça é usar mana, mesmo que não diretamente na máquina. Já será o suficiente.

— Foice Seris, eu…

— Por favor, Caera. Meu nome é Seris. Depois de hoje, ninguém vai me chamar de Foice.

Segurou meu olhar, o peso de sua presença tanto um alívio quanto um fardo.

Pulei quando uma forte batida veio da porta de metal, ela ergueu uma sobrancelha.

— Está na hora. Venha.

Assim, passou por mim e nos conduziu para fora da câmara, apenas parando brevemente para abrir e depois fechar de novo a porta. Cylrit estava esperando na base da escada e juntos começamos a longa subida de volta à propriedade dela.

Sob circunstâncias diferentes, ficaria feliz em explorar a sua propriedade. Só havia vindo antes uma vez e me lembrava apenas de uma mansão esparramada que ofuscava até a casa do Alto-Sangue Denoir. Agora, não tinha mente para os detalhes, seguindo-a que nem um robô enquanto lutava para ordenar meus pensamentos e sentimentos, uma tarefa dificultada somente por uma aura que se aproximava rápido e parecia sombrear toda a cidade de Aedelgard.

Nossa marcha nos levou das escadas por uma série de corredores e aberturas arqueadas, passando por um átrio esparramado e entrando em um espaço grande e quase vazio que se abria para varandas gêmeas com vista aos penhascos que circundavam o Mar Vritra.

Dezenas e dezenas de tapetes de todas as formas, tamanhos e cores imagináveis foram dispostos por cima do piso de arenito, uma cadeira fofa, quase um trono, estava no centro contra a parede traseira, oposta ao estreito espaço entre as duas varandas.

Ao lado do trono havia outra série de dispositivos e artefatos semelhantes aos da instalação de armazenamento de mana abaixo, embora ao invés de medidores, havia uma série de cristais de mana de diferentes formas e tamanhos, várias bobinas bem enroladas de um metal azul prateado que não reconhecia.

Afastei minha atenção do painel, tentando nem pensar e nem sentir nada a respeito de sua existência. Não tinha nada a ver comigo e não sabia nada sobre.

Com certeza não sabia se minha mentora ao longo da vida estava tentando usar esse dispositivo para dominar um Soberano, pensei, incapaz de esmagar por completo meus pensamentos.

Havia pouco tempo para as preocupações aumentarem, no entanto, a crescente pressão logo atingia o pico. Apenas uma vez antes senti uma presença tão completa e avassaladora e foi o próprio Agrona nos momentos após o desaparecimento de Grey do Victoriad.

Cylrit me segurou firme por um braço, percebi que estive parada congelada no meio da sala. Ele me deixou ao lado do trono longe dos artefatos estranhos, não podia pensar em nada além de deixá-lo.

Seris se moveu com uma elegância despreocupada para a varanda e esperou que a fonte dessa presença chegasse.

Quando parou na varanda em frente a ela, no entanto, não caiu como um meteoro, mas mal tocou na sacada antes de entrar na sala, a irritação tão palpável que senti como um chicote nas costas.

Nunca vi o Soberano Orlaeth em carne e osso. Retratos que via nos estudos obrigatórios que toda criança Alacryana fazia eram as únicas coisas que me faziam ter uma noção da sua aparência.

Isso não me preparou para vê-lo.

O homem, se um termo tão simples era apropriado para um dos Asura, era alto, mas não desumano, e magro até demais. Entretanto era difícil registrar qualquer coisa além de suas cabeças, pois ele tinha duas delas.

Apesar do medo, que parecia estar borbulhando de algum lugar profundo dentro de mim em um poço sempre agitado de incerteza e dúvida, não pude deixar de ficar fascinada pela visão.

As duas cabeças estavam cobertas por um cabelo escuro, cada uma possuía dois chifres. Os chifres inferiores apontavam para os lados; o par superior, para cima, antes de se curvar de leve. Por trás do cabelo despenteado da cabeça esquerda, estavam os tocos de mais dois chifres, não pude deixar de me perguntar se de alguma forma havia os usado para criar a outra cabeça.

As duas faces pareciam quase idênticas, embora fossem deslocadas, sugerindo ainda que a cabeça à direita foi anexada depois. As expressões, contudo, não podiam ser mais diferentes. A da direita nos observava de uma maneira fria e calculista. Os dois olhos vermelhos, um pouco mais escuros do que os outros, permaneciam em mim, e tudo o que senti no Victoriad surgiu com tanta força que me engasguei.

Do nada, algo fez sentido. O poder, a dúvida e ansiedade… não era inteiramente eu. Senti essa sensação desde que desci as escadas ao laboratório; um efeito do Soberano. Ele estava, no sentido literal da palavra, colocando minhas emoções para fora.

Assim, as lia com mais facilidade. Engoli em seco e tentei endireitar a postura e acalmar o coração. Seris confiava em mim. Não falharia. Não com ela.

A cabeça esquerda não olhava para nenhum de nós e a carranca furiosa focou no painel de artefatos do outro lado do trono.

— Soberano Orlaeth.

Disse a Foice em respeito.

— Obrigada por…

— Você disse que os sistemas estavam prontos para examinar, Seris.

A cabeça mais à esquerda grunhiu. Então, como se falasse com a cabeça da direita, acrescentou:

— A situação em Vechor é tênue. Primeiro o Victoriad, agora aquele ataque. Kiros parece fraco. Ele pode atacar Sehz-Clar de novo se o Alto Soberano abandonar o outro continente. Com o tratado com Epheotus quebrado, é só questão de tempo até atacarem. Se esse reencarnado menor pode atacar no meio de nossos Domínios, então Indrath com certeza pode. Podem até decidir nos atacar em vez do Alto Soberano, para enfraquecê-lo antes da guerra de verdade.

— O Alto Soberano tem superado Indrath a cada instante.

Respondeu a cabeça direita.

— Com nosso presente, provaremos nossa lealdade e utilidade. Ele ficará do nosso lado contra Vechor, se necessário, e garantirá que sejamos protegidos dos outros clãs.

— Supondo que a menor tenha tido sucesso em sua tarefa.

A da esquerda estalou mais uma vez. Ambas se viraram para Seris, uma irritada e sem paciência, e a outra erguendo as sobrancelhas com curiosidade.

Ela se curvou profundamente.

— Perdoe o atraso, Soberano. Descobrimos que o componente que precisávamos estava escondido sob o deserto em Dicathen: um mineral peculiar que reúne e condensa mana de atributo de fogo. Com isso…

— Comece a demonstração.

Rugiu a cabeça esquerda, não pude evitar o gemido baixo que escapou dos meus lábios com sua raiva.

A mandíbula de Seris apertou por meio segundo. Se recuperou quase que instantaneamente e deu vários passos até mim.

— Caera, talvez você ficasse mais confortável no átrio…

Notei que ela duvidava de mim e parecia que um punho esmagou meu coração. Nós mal começamos, o plano dela ainda nem começou, e já falhei.

— Não.

Falou firme a cabeça direita.

— Ela fica.

Embora tenha falado com Seris, seu olhar se fixou em mim de novo, senti seu poder forçando minhas emoções à superfície. De propósito afastei meus pensamentos do Soberano, de Seris, da máquina, da armadilha, do plano, de tudo isso.

Fingindo indiferença com o olhar, olhei para dentro em busca de outra coisa para me concentrar. Então, deixei minha mente prestar atenção no que mais pensava desde o Victoriad: Grey. Fiquei quase surpresa com a força esmagadora das emoções que responderam esse pensamento, como a traição. Ele mentiu, de novo e de novo. Sobre tudo.

No fundo, permaneci um pouco ciente do movimento de Seris e do Soberano.

— Claro, Soberano.

Disse Seris antes de marchar para a série de dispositivos e artefatos que notei ao entrar pela primeira vez na sala.

— Isso marcará o primeiro teste em grande escala do sistema, embora todos os testes anteriores de pequena escala tenham sido bem-sucedidos…

— Seris.

Grunhiu a cabeça esquerda

— Entendo o protocolo que desenvolvi e a defesa em questão, que ordenei que você criasse.

— Sua verbosidade desnecessária é para o benefício dos menores.

Observou a da direita.

— Seu Retentor está confuso e preocupado com a falta de informação que lhe deu, e a de sangue Vritra não manifestado está lutando para restringir as emoções, concentrando-se em…

O nariz se enrugou de desgosto

— Um homem.

Me afastei de seu olhar desumanamente penetrante. Ao meu lado, Cylrit estava estoico e imóvel feito uma estátua. Como se fosse olhado por um Soberano todos os dias. Apesar do meu coração parecer me martelar por dentro, tentei imitá-lo.

Pensei nele de novo, a melhor tentativa de distração. Lógico, não era justo ficar com raiva por causa das mentiras. Claro que mentiu, não podia me dizer a verdade de sua identidade. E nem foi ele quem quis uma parceria; eu o persegui, até o rastreei após nosso encontro casual nas Relictombs. E também não menti sobre minha identidade? Se alguém entendia sobre mentir por proteção, era eu. Quanto tempo teria mantido Haedrig se as próprias Relictombs não tivessem intervindo?

Não entendi em tudo que me meti ao fazer parceria com ele, mas sabia que tentava me manter distante e de chegar muito perto. O aceitei, apesar de não saber os detalhes de sua vida. O fato dele ter nascido em outro continente não mudou nada.

A magia de Seris explodiu ao enviar pulsos de mana em vários cristais diferentes. As luzes brincavam através dos cristais e tubos de vidro que nem o brilho de estrelas de muitas cores, refletindo nas paredes brancas e enchendo a sala de cor. Um zumbido profundo ressoou quando o mecanismo que acionava o gerador de escudo ganhou vida muito abaixo de nós e a borda de uma ondulação transparente surgiu.

Prendi a respiração, esquecendo por um momento de todo o resto.

— A flutuação da mana parece estar de acordo com as expectativas.

Murmurou a cabeça esquerda de Orlaeth.

— A potência está enfraquecendo, entretanto. A densidade do escudo está em menos da metade do que calculei.

Era lindo em seu poder bruto. E como uma bolha de sabão, a borda em expansão do escudo refratou a luz do sol e girou com todas as cores do espectro visível, dando a impressão de que aproveitava a energia do próprio sol.

E aí… O zumbido baixo se tornou áspero, a superfície do escudo derreteu em uma súbita vibração líquida, grandes e irregulares manchas se dissipando antes que toda a estrutura enfim desmoronasse com um estalo.

Voltei a respirar.

A cabeça esquerda do Soberano soltou um suspiro irritado de julgamento, ele cruzou os braços.

— Tem um problema com a saída. O conjunto de baterias está produzindo muito menos do que deveria. Uma falha da matriz de ativação para alinhar do jeito certo todas as baterias de mana.

A cabeça direita estava quieta, a expressão pensativa. Os olhos vermelhos escuros estavam desfocados e não respondiam às reflexões do outro.

— Perdoe-me, Soberano.

Falou Seris, a voz carregava uma súplica que nunca ouvi dela antes.

— Você deve estar certo, é claro. Talvez algum erro de cálculo no alinhamento…

— Quieta!

Ordenou a cabeça direita, o que forçou a boca dela a se fechar abruptamente.

Estrelas explodiram atrás dos meus olhos quando a intenção do Soberano pressionou minhas têmporas.

Inundada em um banho de minhas próprias emoções, decidi naquele momento perdoar Grey. Minhas razões para lutar ao lado dele nunca foram patrióticas, e nunca vi sentido na guerra Dicatheana. Não era uma ferramenta do clã Vritra. Grey era a fonte do poder que eu procurava. Ele conquistava o éter de uma maneira que nem os dragões conseguiam. Forçadas ou não, não podia permitir que emoções, aquela sensação simplista de sentimentos feridos, me distraíssem do que importava de verdade.

Se precisássemos de um Dicatheano para proteger Alacrya dos Vritra, que assim fosse. Havia até uma espécie de sentido nisso. Os Alacryanos foram criados como animais de estimação do clã Vritra, como wogarts e como armas. Quem entre nós seria capaz de revidar? De quebrar o domínio de Agrona sobre o continente?

Seris, percebi. Estava arriscando tudo para fazer exatamente isso. E ela apoiou Grey.

Abafei um suspiro devido ao trem de pensamentos e arrisquei olhar para as duas grandes potências deste Domínio. Orlaeth passava o dedo indicador ao longo de várias partes do dispositivo, o rosto à esquerda apertado em uma carranca pensativa. Seus lábios se moviam rapidamente enquanto murmurava em silêncio para si mesmo. Uma mão puxou o mais baixo de seus chifres incompatíveis.

A cabeça direita dele me encarava.

De repente, todo o pensamento de Grey sumiu, e tudo o que pensava era nas pontas dos dedos do Soberano traçando ao longo da matriz de ativação. Quando Seris ativaria a armadilha? Era capaz de enfraquecer mesmo um Asura? E se falhasse? Senti uma insistência intensa de que, naquele momento, não estava pronta para morrer…

— Pare.

Disse a direita, e por um momento, pensei que falava comigo. A esquerda parou, seus dedos se afastando da matriz de ativação.

— É uma armadilha.

Não, pensei desesperada, o pânico roubando o fôlego dos meus pulmões. Entreguei tudo, falhei, eu…

Meus olhos se arregalaram de horror quando as lágrimas embaçaram minha visão antes de escorrer pelas minhas bochechas. Congelada, não pude fazer nada além de murmurar:

— Eu… Ssinto muito, S-Seris. Muito…

A frustração se misturou com o terror desenfreado que me alcançava, o entendimento de que o Soberano estava forçando esse derramamento de emoção em mim claro na parte lógica da minha mente, e ainda assim era incapaz por completo de me proteger contra isso.

Amargura brotou quando considerei que Seris pelo menos se preparou para o meu fracasso, tendo um plano alternativo em vigor.

Orlaeth se levantou e deu um passo para trás.

— Sim, claro. Na minha pressa, quase não notei. Vê? As bobinas de aquisição de mana foram adulteradas, e estes cristais aqui. Uma vez que extraíssem minha mana, criaria um circuito de alta pressão em conjunto com baterias de mana vazias para extrair com força toda a minha mana e armazená-la.

— Deixando-nos impotentes para nos defender.

Confirmou a direita, o tom ficando sombrio.

Virando-se sem pressa, levantou uma mão, me senti relaxada com o fato de que pelo menos a segunda parte do plano ainda aconteceria, seja lá o que fosse.

— Alívio? Espere…

A mão congelou. Devagar, a esquerda se virou para olhar para a direita.

— Tem mais uma coisa.

Ambos os conjuntos de olhos varreram o espaço, traçando cada superfície, curva e linha. Então Orlaeth chutou um tapete para o lado, revelando uma rede de metal azul-prateado correndo entre os azulejos abaixo.

— Como esperado. Olhe. O sistema de aquisição de mana foi espalhado por toda a sala. Se usarmos mana aqui, o processo será iniciado.

A expressão da cabeça esquerda suavizou, ficando curiosa, porém o olhar da direita era feroz, o rosto tão perigoso e ameaçador que não suportava vê-lo.

— Você sempre mirou muito alto para seu posto, Seris. É uma pena que sua esperteza não tenha conseguido acompanhar sua ambição.

De repente, se virou, arrancou a cadeira pesada do chão e jogou na matriz. Vidro quebrado, metal dobrado e cortado, cristais de mana estourando e enviando faíscas pela sala.

Me afastei tarde, liberando mana no instinto para revestir a pele enquanto me preparava para me defender, porém Orlaeth não percebeu nada e eu sabia o porquê.

Eu era um inseto para ele, não mais perigoso do que uma mosca de mana…

— É uma fachada.

A esquerda contou à direita, seus dedos se contorcendo no ar, parecendo seguir as trilhas de mana pela sala.

— Todos os mecanismos necessários para a armadilha ser ativada ainda estão abaixo de nós.

A cabeça direita zombou.

— Você tem praticado sua capacidade de encobrir as emoções, Seris. Claramente, se esforçou muito nessa armadilha. Por mais que eu gostaria de quebrar seus ossos com as mãos, parece que você também contava com isso.

O escárnio se tornou um sorriso cruel.

— Mas considerando tudo, seria mais apropriado que seus servos fizessem isso por mim.

Enquanto tudo acontecia, ela recuou e agora estava de pé perto do meio do chão coberto de tapete. Apesar da fúria fria dele destruindo o ar da sala, ela passava uma imagem calma.

— Você viu através de cada uma das minhas armações, Soberano. Eu deveria saber que não poderia superar seu intelecto. Mas não vou me desculpar por tentar. Vocês, Asuras, são a doença do mundo e merecem tudo o que está vindo para vocês.

— Falou com a verdadeira língua de um menor.

A cabeça direita dele olhou por cima do ombro para Cylrit e para mim. Quando falou, foi de novo com um tom comandante semelhante à força física.

— Menores, tragam-me os chifres dela.

Me levantei e peguei minha espada. Não podia fazer nada. De repente, todas as emoções conflitantes que ele forçou a emergir estavam submersas sob uma casca de vidro de subserviência.

Cylrit foi mais rápido. A sua lâmina gravada em runas sibilou ao cortar o ar.

Orlaeth rosnou quando estendeu a mão e a pegou. A confusão interrompeu meus movimentos e só pude olhar.

Ele atacou o Soberano. Mas isso estava errado. O Soberano tinha ordenado… Que os chifres de Seris… fazer qualquer outra coisa era errado.

O pulso dele se torceu, arrancando a espada da mão de Cylrit. No mesmo movimento, a balançou feito um taco, acertando o Retentor no peito e fazendo-o cair do outro lado da sala, depois atravessando e indo para fora de vista.

A direita olhou em meus olhos.

— Traga. Os. Chifres. Dela.

Todo o meu corpo tremia conforme tentava separar quem eu era e quem era o fantoche que ele procurava fazer de mim. Uma perna deu um passo à frente por conta própria, uma mão soltou o aperto na lâmina.

— Você não vai fazer isso com ela.

A voz de Seris parecia distante.

— Ela é uma das pessoas mais fortes que já conheci. Mesmo vocês, Vritra, não podem transformá-la em algo que ela não é.

Essas palavras ecoaram em minha mente quando meu corpo meio que se arrastou em sua direção.

Em qualquer outro momento da minha vida, teria chorado de alegria ao ouvir tais palavras, contudo, agora, sentia apenas a amarga realidade de que ou ela seria forçada a me matar pela própria vida, ou me deixaria derrubá-la, porque, apesar de suas palavras, não me sentia forte o suficiente para resistir ao comando.

Mesmo vocês, Vritra, não podem transformá-la em algo que ela não é.

Meu caminho para frente abrandou ainda mais. O que essas palavras significavam? Ela queria me dizer algo? Alguma dica de como quebrar o feitiço e resistir?

Ela me deu a opção de ter uma vida própria. Quando todo o aparato Alacryano foi projetado para criar, promover e fazer uso de pessoas que nem eu, ela abriu a porta para escolher meu próprio caminho. Sem ela, toda a minha existência teria sido gasta fazendo o que ordenassem.

Me recusei ser a ferramenta de qualquer um.

Meu corpo parou, preso entre os sinais conflitantes que recebia, incapaz de avançar, incapaz de resistir.

— É o que parece, Seris. Interessante.

A cabeça direita me observou, os traços magros suavizando quando a curiosidade venceu. A esquerda pareceu assumir o controle. O disfarce de cientista gênio irritado e calmo desapareceu ao erguer a arma de Cylrit, e vi o verdadeiro poder do Asura. Eles não eram apenas uma coisa, definível por um único traço, e sim graça, força, autoridade e divindade, nunca sacrificando um aspecto por outro, incorporando cada um ao mesmo tempo.

Se não estivesse paralisada pela resistência aos poderes dele, teria rido. A morte nos faz menos filosóficos, pelo jeito.

— Então suponho que terei que lidar com você sozinho.

Afirmou a esquerda de Orlaeth, cansado, se aproximando de Seris, empunhando a lâmina.

Várias coisas aconteceram de uma vez, demorou muito para minha percepção lenta acompanhar a cena.

A espada passeou sem esforço pela clavícula dela, saindo de suas costas e manchando os tapetes sob ela com um respingo de sangue quente.

Usando um pé, ela chutou um canto de um tapete de cor de ameixa, revelando uma placa azul prateada no chão abaixo. Um pequeno espinho saltou da placa e ela pisou com força nele para que atravessasse seu pé, derramando sangue.

Certa do que fazer, agarrou o pulso dele com as mãos e puxou a espada mais fundo para dentro dela. O vermelho jorrou entre os lábios dela, manchando-os de carmesim enquanto se curvavam para cima: um leve sorriso.

Uma esfera de mana cinza escura envolveu suas mãos unidas. Sentia em meu núcleo a forma que sua magia de anulação lutava contra a onda esmagadora de mana saindo do Soberano.

— Pare!

A direita gritou, porém tarde demais.

O efeito era instantâneo.

A força do comando me levou à frente, caí esparramada no chão, minha cabeça girando de repente. Mana começou a sair do Soberano, passando em uma rede de canais que corriam ao chão sob nós.

Houve uma hora que ele tentou retirar a mana, todavia o rebote só se fortaleceu.

— Tire suas mãos de mim!

Sibilou de ambas as cabeças, lutando para ir para trás, porém a lâmina resistiu, alguma força de tração própria mantendo-a firmemente alojada no corpo de Seris, a esfera negra parecendo prender a sua mão.

Ela sorriu com sangue sob os dentes.

— Falou com a verdadeira língua de um Asura.

As costas da mão dele bateram na bochecha dela, por um instante achei que sua força falharia quando sua magia cintilou e o corpo tremeu. Ele ergueu o braço para um segundo golpe, entretanto antes que pudesse, Cylrit apareceu. O Retentor lutou para prender o braço de Orlaeth com todo o peso do corpo, os olhos piscando entre Seris e eu, determinados, procurando respostas.

Tentei me levantar, mas minha cabeça não tinha forças. Tudo o que podia fazer era assistir, à medida que mais e mais mana era tirada do Soberano. Ele aparentava estar enfraquecendo, incapaz de se livrar de Cylrit ou quebrar sua conexão com Seris. O conflito se arrastou sem parar, pensei com certeza que um lado ou o outro iria falhar, contudo percebi uma coisa.

Ela não precisava derrotá-lo, somente durar mais do que ele até que…

A maquinaria debaixo do complexo voltou à vida e, além da varanda, os escudos começaram a subir sobre o penhasco de novo.

— Olha, Soberano, os escudos estão funcionando.

Disse, fazendo com que sangue vazasse do canto da boca.

— O Alto Soberano… arrancará seu… núcleo… por isso.

A esquerda grunhiu fraco. Com o próximo suspiro, a última gota de mana deixou seu corpo.

Seris saiu da lâmina de Cylrit e tropeçou para trás, o pé deixando o espinho com um estalo molhado, e uma mão pressionada contra o peito manchada com o sangue saindo.

O Retentor torceu os braços do Soberano, forçando-o a largar a espada e depois bateu com a cara no chão.

Seris cedeu sem Orlaeth ou lâmina a segurando, notei sua assinatura de mana insubstancial, vacilando que nem uma vela em uma brisa forte. Entretanto ela não caiu.

Seus olhos miraram em mim.

— Onde está sua lealdade, Caera? E… O que você está disposta a fazer para provar isso?

— Tem que ser agora!

Cylrit gritou, tremendo de esforço enquanto o Asura lutava em seu aperto.

Avistei em silêncio a lâmina escarlate, sem brilho contra o tapete azul brilhante abaixo dela.

Empurrando mana em minhas extremidades para me dar força, não pensei sobre a maneira que segurava o cabo da espada, ou quantos passos seriam necessários a fim de fechar a distância até o Asura, ou o peso da lâmina ao levantá-la sobre mim.

— Pegue… a cabeça esquerda.

Seris soltou um suspiro trêmulo.

O instinto empurrou o fogo da alma na minha lâmina para fortalecer o golpe. Não liguei para o jeito que a lâmina entrou na carne dele, ou o som da cabeça pousando em um tapete roxo real.

A segunda cabeça soltou um grito gargarejado, seus olhos rolaram de volta para sua cabeça. O corpo espasmou, jorrando sangue da ferida aberta e Cylrit o liberou.

Orlaeth caiu, imóvel, porém ainda vivo, a mana ambiente sendo puxada como fôlego para seu corpo.

Coloquei a ponta da lâmina no chão e me inclinei contra ela, respirando pesadamente. Houve um leve zumbido em meus ouvidos quando a súbita onda de adrenalina passou e minhas emoções se acalmaram devagar. Os efeitos da presença do Soberano estavam desaparecendo, me deixando estranhamente calma, considerando o momento.

Cylrit, já de joelhos, rolou para se deitar de costas ao lado do Asura e deixou seus olhos se fecharem.

— O que fazemos agora?

perguntei desanimada.

A Foice, ex-Foice, limpou o sangue dos lábios.

— Agora… nos preparamos para a guerra.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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