POV ARTHUR LEYWIN
Uma cascata de pedras quebradas e destroços veio desmoronando do telhado da caverna sobre Ellie e eu. Com ela em meus braços, me virei e dei um pequeno passo, deixando que as pedras caíssem de maneira inofensiva na plataforma atrás de mim.
Ellie estremeceu.
— Ah, ai ai.
Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar, sua mandíbula estava retesada pela dor. Dei uma olhada no buraco em suas roupas, logo abaixo das costelas. A pele estava limpa, com apenas uma leve cicatriz. Minha mãe tinha feito um bom trabalho ao curá-la.
Senti Regis dentro de mim, flutuando perto do meu núcleo, se alimentando ferozmente com meu éter. Não sentia nada de diferente entre nós, mesmo depois da nossa separação pelo portal. Apesar da distância em que podíamos ficar afastados ter aumentado grandemente, essa foi a primeira vez que estivemos completamente separados desde que ele apareceu pela primeira vez ao sair da pedra em minha mão.
— É bom te ter de volta, Regis.
Meu companheiro murmurou em concordância. Manter o portal aberto tinha sido cansativo, então deixei que ele descansasse e continuasse a recuperar o éter em meu núcleo.
— Nós fomos salvos!
Uma jovem elfa gritou de repente, me puxando pra longe da reunião com minha família.
Outra voz gritou.
— Nosso salvador!
Ellie recuou do grito e passou por mim, indo até minha mãe, se sentando ao lado dela. Mamãe parecia diferente. Não tão diferente quanto eu, talvez, mas mais magra, mais velha… e algo mais difícil de identificar. Havia uma resiliência nela, mesmo enquanto tremia e caia no chão.
Havia tanto para ser dito entre nós. Mesmo que tivéssemos horas ou dias, não tinha certeza de que seria tempo suficiente. Mas nós não tínhamos.
— Obrigado!
— É realmente você, Lança Godspell?
— Por favor.
A primeira mulher disse, esticando ambos os braços até mim.
— Fale com a gente!
Eu já tinha visto rostos assim, cheios de admiração e súplica, direcionados para mim quando Rei Grey, mas nunca enquanto Arthur. Era uma cena conflitante. Não queria ser louvado como algum tipo de divindade, uma substituição instantânea para os Asuras que continuavam a tentar matar essas pessoas, apesar serem vistos como deuses.
— Eu não sou seu salvador.
Disse, gentilmente removendo meu braço do aperto da mulher. Meu olhar pousou onde o corpo de Rinia descansava nos braços de Virion, quando falei novamente, podia ouvir a tristeza em minhas próprias palavras.
— Os líderes que os trouxeram aqui… eles que são.
Um silêncio tenso seguiu o meu comentário, pelo menos entre aqueles que estavam mais focados em mim do que no trabalho que ainda precisava ser feito ao redor deles.
— Eu não estou aqui para me tornar o foco da sua falsa esperança, um substituto para a fonte de admiração que os Asuras eram para vocês. Encontrem forças dentro de si, não obriguem outros a lhes sustentarem.
Pausei, olhando para longe da multidão.
— O caminho só vai ficar mais difícil daqui em diante.
Me virei na direção de Ellie e mamãe, na esperança de termos pelo menos um momento juntos, mas não era pra ser.
Madame Astera mancou até a beirada da plataforma, se escorando nela ao lado de minha mãe. Apesar de ter duelado contra ela e lutado ao seu lado quando perdeu a perna, ainda via ela como a cozinheira esforçada que eu tinha conhecido logo quando a guerra começou.
Mas o olhar em seu rosto agora não era o de uma cozinheira.
— Alice, sinto muito por dizer isso, mas ainda existem muitos feridos. Nós precisamos de você.
Minha mãe limpou suas lágrimas, manchando seu rosto com sangue, o que fez com que parecesse uma guerreira selvagem e feroz. Ela olhou em minha direção, soube que o que tínhamos para conversar podia esperar. Estava aqui para mantê-la em segurança, agora ela sabia que eu estava vivo.
Por enquanto, isso era suficiente.
Minha mãe se virou e escorregou da plataforma, indo primeiramente na direção de Angela Rose e Durden, que estavam agachados em um dos bancos de pedra que rodeavam o portal da Relictombs. Angela Rose parecia estar cuidando de sua perna, mas Durden estava parado, com os olhos abertos sem foco, um rastro de sangue descendo pelo seu ouvido.
— Regis, você poderia ajudar minha mãe novamente, mesmo que seja apenas nos casos mais críticos. Ela não vai ter forças para curar todas essas pessoas sozinha.
— Tudo que eu fiz foi puxar éter para a magia, que estava reagindo com a vivum natural na…
Regis começou a dizer.
— Certo, certo. Mas é melhor que eu ganhe algum tipo de aumento.
Olhei enquanto Regis saía de mim e pulava para onde minha mãe estava, ao lado de Durden, assustando tanto Angela quanto Madame Astera e desmaterializou, afundando no corpo de Durden.
Uma mistura de cansaço e curiosidade passou pelos olhos de Ellie enquanto olhava para ele. Quando tirou os olhos dele, seu foco se manteve no portal, que novamente estava vazio.
— Espera, cadê a Silvye?
Perguntou no tom de voz que sugeria que ela já suspeitava da resposta.
Ativei minha runa dimensional e conjurei o ovo. O brilho iridescente tinha sido sugado pela tristeza no ar, ele não parecia nada mais do que uma rocha lisa.
— Ela está aqui.
— Espera, o que isso significa?
Ellie perguntou, se inclinando para olhar a pedra em minha mão.
— Ela está bem? Porque ela—
A parei com um sorriso, apesar de ser superficial.
— Depois, tudo bem?
Sua boca se abriu, com mais perguntas prontas para sair, mas se segurou. Acenando com firmeza, se levantou sem conseguir esconder que estava abalada. Seus olhos pularam de pessoa para pessoa, grupo para grupo, acompanhei seu olhar.
Eu não reconhecia todo mundo. Parecia que a maioria eram elfos, sobreviventes que tinham fugido de Elenoir durante a invasão dos Alacryanos, presumi. Aqueles que não estava lá quando Aldir chegou.
Helen Shard, a líder dos Chifres Gêmeos, estava inconsciente, mas viva.
Boo se arrastou e ficou de pé enquanto eu o observava, ele balançava sua cabeça. A grande besta de mana ficou tensa, olhando para os lados, mas relaxou quando viu Ellie. Seus olhos escuros e lustrosos se moveram em minha direção, poderia jurar que vi ele apertar os olhos. Acenei, feliz de ver que o vínculo de minha irmã estava vivo. O urso hesitou por um momento, então acenou de volta.
Virion estava mais perto, com a bochecha descansando no topo da cabeça de Rinia e com os braços em volta dela para mantê-la contra o peito. Ele encarava o chão abaixo de meus pés, quase como se estivesse evitando meu olhar. Mas por mais que eu quisesse oferecer conforto a ele, haviam muitas pessoas que precisavam da minha ajuda.
Lutando para limpar uma pilha de pequenas pedras no fundo da sala, Gideon demonstrava um raro olhar de desespero. Seu corpo inteiro estava coberto em uma camada grossa de poeira cinza, mas ele não parecia ferido. O que significava…
Passando por baixo do retângulo vazio de pedra que era a moldura do portal, pulei da plataforma e subi em um monte de pedras até chegar ao seu lado. Gideon me olhou com olhos esbugalhados e vermelhos abaixo de suas sobrancelhas incompletas. Apesar de seu terror óbvio, ainda parou por tempo suficiente para fazer uma inspeção completa em mim.
Ele arquejou, tossindo um bocado de ar poeirento.
— Em… ily
Ele engasgou em meio à sua tosse.
Escaneei a colina de pedras e poeira, amaldiçoando minha falta de habilidade de sentir mana.
— Fique pra trás.
Disse, empurrando éter pra fora de meu núcleo e começando a moldá-lo.
No reino intermédio, onde eu havia lutado contra Taci, o éter tinha reagido à minha vontade instantaneamente e de maneiras que eu não compreendia completamente, como por exemplo quando formava plataformas que apareciam consistentemente onde eu precisava delas. Apesar disso, agora que eu estava no mundo real, sentia a mesma dificuldade que sempre havia sentido.
Mas tinha visto o que era possível.
Visualizando o formato em minha mente, me movi para o lado e liberei um pulso de éter sobre a superfície do amontoado de pedras, cuidadosamente moldando a energia para apenas remover os primeiros centímetros de pedra. Quando vi que tinha funcionado, emiti novamente e depois uma terceira vez, revelando a superfície arranhada de um banco de pedra.
Uma rajada de vento explodiu para cima, girando de forma que a poeira e cascalho restante foram suspensos em um funil de ar sobre três figuras amontoadas.
Jasmine estava deitada em cima de Emily Watkins, minha velha amiga da Academia Xyrus e aprendiz do Gideon, de uma garota que eu só conhecia das minhas visões de dentro da relíquia. Todas as três pareciam estar engasgadas com poeira e semi sufocadas, com os rostos cheios de manchas vermelhas e uma pasta de poeira e suor. Jasmine deve ter protegido as duas jovens quando o teto caiu sobre elas.
Com um movimento do braço, Jasmine fez com que os destroços que giravam no ar caíssem com um estrondo em um círculo ao redor de nós. Ela se escorou em um banco e descansou a cabeça contra a pedra fria. Fiquei surpreso quando seus olhos se abriram em uma fresta e me encararam. Eu quase tinha me esquecido.
Gideon levantou Emily e começou a bater para limpar a poeira de suas roupas. Seu cabelo verde estava uma bagunça, seus óculos estavam tortos em seu rosto. Uma lente estava rachada, ela tinha uma ferida sangrando em seu nariz, que provavelmente estava quebrado. Além disso, não parecia ter nenhuma ferida séria.
Segurei a terceira garota, uma elfa que parecia um pouco mais jovem que minha irmã, ajudei a se levantar. Ela saiu de perto de mim para se escorar em Jasmine, que tremeu um pouco. Só então que vi uma ferida profunda na lateral de Jasmine, um corte limpo que havia fatiado o couro preto da sua armadura e a carne abaixo.
Ela seguiu meu olhar, encarando a ferida como se apenas agora tivesse notado que estava lá. A garota elfa fez o mesmo, choramingando baixinho.
— J-Jasmine…?
Minha antiga mentora e amiga acariciou a cabeça da garota e bagunçou seus cabelos, algo não característico para Jasmine.
— Vou ficar bem.
Seu olhar escarlate voltou para mim.
— Então, enquanto estávamos aqui lutando pelas nossas vidas, você estava ocupado pintando o cabelo, é?
Soltei uma risada. Ela ressoou pela caverna com estranheza, colidindo contra os barulhos de dor e remorso que me cercavam.
— Fico feliz que tenha me reconhecido.
Jasmine deu de ombros.
— Você podia ter voltado com pele verde e três cabeças, mesmo assim eu ainda saberia que era você. Eu… estou feliz que você não esteja morto, Arthur.
— E eu estou feliz que você descobriu como usar a língua enquanto estive fora.
Disse, cutucando o pé dela com o meu.
Emily esticou o braço e me tocou, como se quisesse garantir que eu fosse real.
— Art? Será mesmo…
Ela pausou e percebi que seu rosto estava com uma coloração verde que combinava com seu cabelo.
— Hmm, espera um…
Se virando, ela correu pra longe, se curvou, e vomitou.
— Fiquem aqui, vou buscar minha mãe.
Disse, observando Emily com um olhar de preocupação esculpido em meu rosto.
— Estou bem.
Jasmine repetiu insistentemente. Então olhou para as costas de Emily.
— Mas ela talvez tenha batido a cabeça.
— Tudo bem, só esperem aqui.
Disse, procurando na sala pela minha mãe.
Ela tinha saído de perto de Durden e estava com um grupo de elfos amontoados. Uma idosa estava no chão entre eles. Podia ver Regis dentro dela, se movendo pelo seu corpo e atraindo o éter para si. O éter parecia ignorar suas feridas, minha mãe estava balançando a cabeça.
Fechei meus olhos e respirei fundo para me recompor. Mesmo com magia, era impossível salvar a todos.
Quando abri os olhos, mamãe estava olhando em minha direção. Acenei com a mão e apontei para Emily e Jasmine. Ela fez um gesto com a cabeça e levantou um dedo, então se virou novamente para os elfos.
Com Jasmine e Emily fora de perigo imediato, comecei a me apressar pelos bancos superiores, procurando por alguém que parecesse precisar de ajuda. Enquanto fazia isso, muitos olhos me acompanhavam, cheios de esperança, medo e a admiração que eu inspirava neles estava óbvia em seus rostos empoeirados.
Passei por um elfo mais ou menos da minha idade. Ele estava sentado no chão entre dois corpos, com a cabeça entre as mãos. Ambos os corpos estavam quase divididos em dois, um dos ataques à distância de Taci que eu não tinha conseguido evitar.
Mas quando ele olhou para mim, não vi meu fracasso refletido nele. Ele se apressou para a frente, se curvando.
— O-obrigado.
Gaguejou.
— Justiça para os c-caídos.
Quando ele olhou para cima novamente, seus olhos estavam sérios e cheios de energia.
— Que todos os Asuraa queimem, como as árvores de Elenoir.
Eu não pude deixar de pensar que suas palavras e sua voz pareciam muito velhas para ele, como se a guerra o tivesse envelhecido além da sua idade.
Acenando, continuei, me mantendo em um trajeto curto na caverna com a mente e espírito pesados.
Perto da porta arqueada, que nos levava até um corredor cheio de gravuras, haviam vários corpos massacrados. Guardas, pelo visto. Não vi nenhum rosto familiar entre eles, até que—
— Albold
Murmurei, me apoiando em um joelho ao lado do jovem guarda elfo que eu tinha visto pela primeira vez no castelo voador. Sua pele estava pálida e fria, seus olhos sem vida encaravam o teto instável.
Onde seu peito costumava estar, havia agora apenas um buraco sangrento.
Fechei seus olhos, curvando minha cabeça sobre ele, mas apenas por um momento. Haviam mais vivos do que mortos, precisava garantir que continuasse assim.
Vai haver tempo para luto depois, disse a mim mesmo.
Não muito longe da entrada, uma mulher mais velha com um rosto cheio de sangue segurou minha mão, puxando insistentemente. Quando tentou falar, percebi que sua mandíbula estava quebrada, mas ela estava sentada sozinha e ninguém mais pareceu notar. Quando me abaixei para levanta-la em meus braços, houve um barulho áspero e uma nuvem de poeira no teto acima de nós.
Eu a peguei e usei o Passo de Deus, deixando que os caminhos me guiassem pela sala, apareci ao lado da minha mãe. Sem dizer nada, coloquei a mulher no chão, então usei novamente o Passo de Deus e voltei para onde o teto estava desabando.
O éter correu até minha mão e então saiu em uma explosão de energia, destruindo a pedra que caía.
Meu olhar passou pelos bancos e destroços enquanto arcos de eletricidade roxa ainda corriam pelos meus membros, mas todos os outros haviam sido rápidos em fugir do desmoronamento.
— Uma verdadeira divindade
Disse um dos que ainda me observava, com uma voz quieta e cheia de reverência.
— Lança Godspell!
Alguém gritou, e vários outros o imitaram.
Mas uma voz diferente cortou por cima dessas, cheia de frustração e raiva, atraindo minha atenção para a plataforma no meio da caverna.
De pé em frente ao portal, Madame Astera estava sem jeito, com o pé da sua perna prostética destruído, fazendo com que ficasse alguns centímetros mais baixa que a outra. Seu dedo estava apontando para Virion, seu tom de voz era o de alguém que brigava com uma criança.
Sentindo que estava sendo puxado em vinte direções diferentes de uma vez, desci as escadas e fui na direção da plataforma. Astera se virou ao som da minha chegada, com as sobrancelhas levantadas.
— É verdade então? É você, Lança Arthur Leywin?
Eu olhei sério para ela.
— É. Agora, o que está acontecendo?
As sobrancelhas da mulher mais velha se franziram, sua mandíbula se retesou de raiva. Depois de um momento, no entanto, respirou fundo e deixou que a tensão diminuísse.
— Coloca juízo na cabeça dele, então. Nós precisamos de um plano, Arthur, e precisamos nos mover.
Astera desceu os degraus mancando e balançando a cabeça, mas minha atenção estava em Virion.
Ele não olhou para mim até que me sentei ao seu lado. A mulher em seus braços era Rinia, sabia disso, mas parecia tão velha, como se estivesse vivendo dez dias para cada um que passava.
— Ela estava usando muito seus poderes.
Virion confirmou, como se pudesse ver meu pensamento.
— Ela viu Taci chegando, mas não conseguiu visualizar como escapar dele.
Ele fechou os olhos e balançou a cabeça amargamente.
— Eu falhei com ela, Arthur. Eu não estive lá quando ela precisou de mim.
Senti uma pontada de dor ao relacionar o remorso e a dúvida de Virion aos meus sentimentos. Esticando meu braço, segurei o dele com firmeza.
— Ela fez o que precisava fazer, Virion. Rinia sabia melhor do que qualquer um de nós o preço de usar seu poder e ela o fez mesmo assim.
Gentilmente coloquei de lado uma mecha de cabelo cinza claro que tinha caído sobre seu rosto.
— Minha mãe e irmã estão vivas por causa de Rinia. Novamente…
Rinia Darcassan sempre tinha sido uma pessoa enigmática em minha vida, frequentemente distribuía conselhos misteriosos e com palavras vagas, ao mesmo tempo que omitia qualquer detalhe real sobre o futuro. Ainda assim, quando as coisas estavam no pior momento, ela aparecia do nada, como um fantasma vindo das sombras, para entregar a salvação.
Um eco de suas palavras de tanto tempo atrás veio até mim, quase como se estivesse ouvindo pela primeira vez.
Ela tinha me dito para ter uma âncora, definir um objetivo para mim, pensei que eu tivesse: poder, o suficiente para manter aqueles que eu amava em segurança, mas…
Olhei para ela e então para a caverna destruída.
Nunca tinha sido o suficiente.
O que, imagino, era o porquê de ela ter me dado outro conselho depois:
— Não volte para seu jeito antigo. Como você bem sabe, quanto mais fundo você mergulhar neste poço, mais difícil será sair dele.
Tinha muito a escalar para ser a pessoa que eu queria ser. Os calos que eu havia construído ao meu redor para sobreviver em Alacrya não desapareceriam em um dia, mas eventualmente sim, caso eu permitisse.
— Assim que minha mãe curar quem ela puder, nós temos que nos mover.
Disse, observando Virion com cuidado. Não tinha como saber pelo que ele tinha passado desde que havia desaparecido, mas ele parecia muito perto do seu ponto de quebra.
— Talvez nós pudéssemos organizar um marco de túmulo ou—
— Não.
Virion disse, com os olhos piscando.
— Eu não posso, não vou deixá-la aqui embaixo.
Acenei compreensivo, mas olhei para vários outros corpos, claramente visíveis entre os destroços.
— Eu entendo, Virion. Vou retornar para coletar os corpos depois. Para que eles possam ter enterros apropriados.
— Eu…
A voz de Virion sumiu, e deu de ombros.
— Muito bem então. Eu… Eu não entendo isso… como você está aqui…, mas eu estou feliz por você estar vivo, Arthur. Estas pessoas precisam de um líder forte.
Descansei a mão em seu ombro, olhando fundo em seus olhos.
— Eles já têm um.
Como se esperando por algum sinal, Astera reapareceu com Helen, Gideon e uma elfa de meia idade que eu não conhecia.
O inventor me estendeu a mão. Eu a apertei com firmeza, olhando na direção de Emily, que estava sentada com Jasmine, Ellie e a jovem elfa. Boo estava tão perto da minha irmã que ele praticamente estava sentado em cima dela.
— Uma concussão, mas sua mãe já deu uma olhada.
Gideon disse, com a voz áspera.
— Chegou aqui no último instante, como sempre. Gosta de fazer uma entrada dramática, não é, Arthur?
Apesar de seu tom mordaz, sabia que esta era a maneira de Gideon dizer obrigado ao mesmo tempo que colocava de lado qualquer emoção real.
— Nós teremos bastante tempo para nos atualizar e descobrir onde o Lança Arthur se escondeu por todos esses meses depois que sairmos daqui.
Astera cortou.
— Somos o que restou do conselho, pelo menos aqui. Os Glayders, Earthborns, e o garoto Ivsaar devem estar espalhados pelos túneis, esperando ouvir que é seguro saírem.
— Mas o que faremos agora?
A elfa perguntou. Ela tinha um rosto gentil sob uma teia de cabelos castanhos que estavam começando a esbranquiçar.
— Nós não podemos retornar ao santuário, comprometido do jeito que está.
Seus olhos verdes como folhas se focaram em mim.
— Qual é o seu conselho, Lança?
— Por favor, o Arthur acabou de voltar.
Helen se apressou em dizer, com um tom defensivo.
— Ele provavelmente não tem ideia de onde estava se metendo. Você não pode esperar que ele simplesmente tome a liderança de todas essas pessoas, Saria.
A elfa curvou sua cabeça em deferência.
— É claro, Srta. Shard. Eu simplesmente pensei, que dada a sua força óbvia, talvez…
— Virion, você tem algo a contribuir?
Gideon perguntou no silêncio que se seguiu às palavras da elfa Saria.
Todos olharam para o comandante, que ainda estava sentado no chão, abraçado à Rinia. Seu olhar ia de um pé para outro, nunca mais alto do que isso. E logo quando parecia que não iria responder, Virion disse.
— Eu preciso de tempo. Não esperem liderança de mim, não agora. Eu não consigo dar isso a vocês.
Saria se ajoelhou ao seu lado, estendendo a mão, mas hesitou e a puxou de volta.
— Virion. Você tem sido um herói para todos os elfos durante minha vida toda. E eu entendo a dor que você encara agora, realmente entendo. Minha própria mãe está morta a não mais do que vinte metros daqui. Mas nós não podemos nos afundar em remorso e tristeza, para não correr o risco de perder todo o resto também.
Estendi minha mão para Virion.
— Ela está certa, Vovô. Nós precisamos de você.
Virion olhou para nós, com lágrimas nos olhos, pegou minha mão. Saria repousou o corpo de Rinia no chão enquanto eu levantava Virion. Todos olhamos em silêncio enquanto Saria desfazia a faixa em volta de sua cintura e a colocava respeitosamente sobre o rosto de Rinia.
O som de garras arranhando a rocha acompanhou Regis, que vinha em nossa direção e o resto dos membros do conselho deram um passo para trás.
— Nós fizemos tudo o que podíamos pelos feridos.
Disse com cansaço na voz, então sumiu dentro do meu corpo.
Os outros me olharam, confusos, mas estavam muito cansados e sobrecarregados para pedirem por detalhes.
— Okay, vamos andando então.
Disse, já sentindo o peso combinado de sua expectativa.
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Apesar de exaustos e receosos por mais uma jornada, ninguém entre os sobreviventes estava ansioso para ficar mais tempo na caverna, que continuava a tremer e derrubar poeira e cascalho em intervalos aleatórios. Percebi muitos olhares nervosos na direção da moldura do portal, como se o temido Taci pudesse voltar de lá a qualquer momento.
Os mortos foram dispostos com o maior respeito que conseguimos no momento, mas depois fomos embora.
O túnel que levava pra longe da câmara estava completamente coberto com gravuras e esculturas como nada que eu havia visto anteriormente nas Relictombs de Alacrya. Só me restava a esperança de poder voltar aqui no futuro, como tinha prometido ao Virion, para que eu pudesse estuda-las mais de perto.
Nós não andamos por muito tempo antes que Ellie puxasse meu braço e me fizesse parar.
— Tem uma… coisa à frente. Uma armadilha.
Indo sozinho na frente, encontrei a passagem inundada com éter. Podia sentir um pouco do seu efeito, me alertando a não prosseguir e me encorajando a correr com todas as forças. Alcancei esse éter, sentindo seu propósito e o formato do feitiço lançado pelos djinn há tanto tempo atrás e como se o corredor estivesse cheio de teias de aranha, o afastei com o braço.
Houve um brilho violeta no ar quando as partículas de éter afundaram novamente nas paredes, limpando a passagem.
Um suspiro coletivo veio do grupo. Ignorei, chamando-os com um gesto da mão.
— Vamos continuar andando.
Este túnel estava muito abaixo do santuário, nós marchamos por mais de uma hora sem ver nenhum sinal de vida.
Ellie, que estava andando comigo na frente, me direcionando, levantou a mão de repente, nos fazendo parar.
— Tem uma assinatura de mana à frente, logo ali.
Quando ela falou isso, um meio rosto apareceu de trás de uma bifurcação no túnel principal. Cabelos negros emolduravam um rosto pálido de porcelana, do qual um olho cor de chocolate nos encarava.
Os lábios finos de Kathlyn se abriram quando saiu para o túnel, se esquecendo de sua cautela. Ela escaneou rapidamente o grupo, mas seu olhar se fixou em mim e ela fez uma cara séria. Ela olhou para Ellie, então novamente para mim e finalmente esfregou os olhos.
— Quem… A-Art? Você é…?
— Não temos tempo.
Astera grunhiu de cima do Boo.
— Onde está o resto de seu grupo?
Kathlyn havia dado vários passos rápidos em minha direção, mas parou com as palavras de Astera e se endireitou repentinamente com o lembrete do porquê ela estava escondida.
— Nós nos abrigamos em uma caverna a vinte minutos de distância daqui. Depois de sentir que a presença do Asura sumiu, saí para esperar. Não vi mais ninguém.
Nosso grupo descansou enquanto Kathlyn corria para trazer o outro grupo de sobreviventes. Quando eles retornaram, fiquei feliz em ver quantos vieram com ela. Depois de um momento para reencontros, retomamos nossa marcha.
O próximo alerta veio de Boo que, farejando profundamente, veio correndo para se posicionar na frente de Ellie, fazendo com que Astera soltasse um grito.
— O que foi, Boo?
Ellie perguntou, pressionando sua mão em seu grosso pelo marrom.
— Ah, tem alguém vindo. Com cheiro de sangue.
Me posicionei à frente do grupo e esperei, com o éter circulando entre meus dedos no caso de eu precisar formar uma arma.
Passos lentos e irregulares ressoaram pelo túnel momentos antes de uma silhueta se formar na escuridão. Por um instante pensei que pudesse ser algum tipo de monstro, então percebi a verdade.
Um homem alto e com ombros largos se aproximava, e em seus braços estava uma figura mais magra. Seu cabelo cor de mogno estava espetado como a juba de um leão. Olhos castanhos intensos procuravam desesperadamente por algo atrás de mim.
— Curtis!
Kathlyn gritou, se separando do grupo e correndo, mas parou no meio do caminho.
— Ah, ah não…
Me movi para a frente com cuidado, focando na forma imóvel nos braços de Curtis Glayder. O cabelo loiro trançado estava manchado de sangue, seu rosto estava quase irreconhecível. Ainda assim, eu conhecia a curva de suas sobrancelhas e o formato de suas orelhas.
Curtis vacilou e eu corri para pegar o corpo de Feyrith antes que ele caísse ao chão.
Os túneis ficaram frios e silenciosos enquanto encarava o corpo de meu amigo e rival.
Eu não esperava tantas despedidas, tão cedo após meu retorno, pensei, permitindo que uma sensação fria de desprendimento contivesse minha tristeza.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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