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O Começo Depois do Fim – Cap. 363 – Ódio não resolvido

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O punho de Valen disparou em um golpe certeiro no nariz de Seth. Em vez de cambalear como antes, o menino magro se moveu para o golpe, retirando qualquer força. Seu joelho atingiu as costelas de Valen, mas este o bloqueou com a palma da mão antes de se inclinar para frente e jogar o ombro no peito de Seth, fazendo-o cambalear para trás.

Uma rasteira giratória nas pernas de Seth, já mal posicionadas para se equilibrar o enviou com força contra o tapete.

— Muito bem, vocês dois.

Aphene estava dizendo, voltei minha atenção para os papéis na minha frente com um suspiro.

Cada professor participante recebeu documentos explicando o Victoriad. Devido à natureza do evento, a adesão à tradição e ao protocolo era de extrema importância e, portanto, as informações fornecidas eram completas ao ponto de dar tédio. Sabia que era necessário memorizar isso, mas minha mente ficava vagando de volta aos meus próprios planos para o evento.

Estava mais forte agora do que quando era uma Lança de núcleo branco, mesmo que tivesse perdido algumas das armas do meu arsenal. Ainda assim, queria usar este evento para medir minha força contra a de meus inimigos, sem revelar minha identidade, se possível.

Com a reputação que construí aqui como professor e ascendente, queria testar minha força se não contra uma Foice, pelo menos contra um retentor. Tanto Caera quanto Kayden mencionaram que era incomum, mesmo para retentores, receber um desafio, mas depois de ler este documento, ficou cada vez mais claro o quão raro era.

Esqueça desafiar uma Foice, até mesmo solicitar um duelo de um retentor exigia o consentimento de sua Foice de antemão. Caera mencionou que, como havia duas posições de Retentor abertas desta vez, as pessoas especularam que haveria muito mais probabilidade do que o normal.

E uma vez que tanto as Foices quanto os Retentores poderiam recusar um adversário se descobrissem que tal competição estava abaixo deles, seria difícil para mim até mesmo lutar contra um retentor.

Na pior das hipóteses, se nenhum dos retentores aceitasse meu desafio, teria que assistir aos duelos de longe.

Normalmente é aqui que Regis teria interferido com alguma avaliação direta, mas irritantemente precisa dessa situação, mas essa resposta não veio.

Estava quieto na minha cabeça sem o lobo flamejante sarcástico. Embora ainda pudesse senti-lo, conectado a mim por um fio fino que se estendia alto na encosta da cordilheira mais próxima, seus pensamentos estavam protegidos de mim, seu foco inteiramente em si mesmo. Mas breves pulsos de excitação ou frustração que não eram meus surgiam ocasionalmente, sabia que ele estava crescendo. Podia sentir sua força.

Tinha me acostumado a ter minha mente só para mim, mas isso não significava que era pacífico. Tinha esquecido o quanto meu cérebro girava sem Regis para me interromper.

Percebendo que havia perdido completamente a linha do que estava lendo, deixei o pergaminho de lado para assistir ao próximo treino.

Aphene trouxe mais dois alunos para treinar enquanto Briar conduzia o resto da classe em uma série de exercícios. Marcus e Sloane estavam trocando uma série de socos e chutes brutais quando as portas da sala de aula se abriram e vários homens blindados entraram.

Sloane os viu primeiro e errou um bloqueio, levando uma cotovelada em seu queixo que o deixou deitado. Isso atraiu a atenção do resto da classe, os alunos explodiram em uma rodada de conversas surpresas. Briar e Aphene foram rápidas em erradicar isso, seus olhos ficando à espera de respostas em minha direção.

— Posso ajudá-los?

Disse, levantando-me do meu assento no painel de controle da plataforma de treinamento e subindo no meio da escada em direção aos intrusos.

— Estamos no meio da aula.

Uma figura familiar avançou, coçando a barba aparada e me dando um sorriso estranho.

— Desculpe, Grey, mas temo que você terá que vir conosco.

Fiz uma careta para Sulla, chefe da Associação de Ascendentes em Cargidan.

— Isso pode esperar até—

— Receio que não.

Disse ele com firmeza.

Minha mente começou a correr enquanto considerava para que eles poderiam estar ali.

A expressão sombria de Sulla deixou claro que sua visita não era de natureza social. Mas como se tratava da Associação de Ascendentes e não dos guardas da academia ou da polícia local, não tinha certeza de qual poderia ser o problema. Se minha identidade tivesse sido comprometida, uma possibilidade da qual sempre tive consciência, então teria sido Nico ou Cadell batendo na minha porta.

Então, e aí?

Me virei e encontrei os olhos de Briar.

— Você e Aphene terminam a aula. Não vou demorar.

Subindo as escadas, observei as mãos e os olhos do grupo em busca de qualquer sinal de que estavam preparados para atacar. Os homens estavam tensos e vigilantes, talvez até um pouco nervosos, mas também percebi um tipo de frustração rebelde em suas sobrancelhas semelhantes.

— Desculpe por isso.

Murmurou um deles, acalmando-se imediatamente quando Sulla lhe lançou um olhar de advertência.

O próprio ascendente chefe tinha a aparência rígida e desajeitada de um homem fazendo algo contra sua vontade. O que quer que estivesse acontecendo, esses ascendentes não ficaram entusiasmados com isso.

Então não resisti, deixei que me levassem para fora do prédio e pelo campus. Tomaram posições ao meu redor, mas ninguém sacou uma arma ou preparou qualquer feitiço, pelo menos que eu pudesse detectar. A maioria dos alunos estava em aula, mas ainda passamos por muitas dezenas de pessoas em nosso caminho para fora do campus, já podia sentir meu nome no meio de uma centena de conversas sussurradas atrás de mim.

Felizmente, o Salão da Associação de Ascendentes estava por perto.

Segui Sulla até seu escritório, que dava para o andar principal do prédio. Os outros ascendentes postaram-se do lado de fora das portas, que fechou atrás de nós.

Sentei-me sem ser convidado e esperei. Sulla pegou uma bolsa de couro atrás de sua mesa, observando-me com atenção. Então, com uma onda repentina de raiva frustrada, bateu a bolsa em sua mesa e caiu em sua cadeira.

— Droga, Grey, você ao menos entende o quão perto da morte você ficou?

Virei minha cabeça ligeiramente para o lado e fiz um show ao olhar ao redor do escritório.

— Parece que não estou com uma faca no pescoço, então não, realmente não tenho.

Sulla deu uma zombaria sem humor.

— Parece improvável que você se preocupe com pequenas coisas como facas.

Agarrando o fundo da bolsa, ele a virou, derramando uma pilha de pergaminho sobre a mesa.

— Você sabe o que essas coisas são?

Ainda observando Sulla, peguei uma página solta que flutuou sobre a mesa na minha direção. Ele continha um colchete com cada um dos meus próprios alunos emparelhados com um nome desconhecido. O torneio Victoriad, percebi.

— Não entendo o problema.

Disse, fingindo indiferença e jogando a página de volta na pilha da mesa de Sulla.

Seu olho esquerdo estremeceu. Com os dentes cerrados, disse:

— Então, por favor, permita-me educá-lo, professor.

Ele teve que esperar um momento antes de continuar, durante o qual folheou as páginas. Quando encontrou o que estava procurando, o ergueu para que eu visse.

— Este é um relatório sobre os combatentes Victoriad da Academia Bloodrock em Vechor, ou pelo menos, aqueles que estarão competindo especificamente nos duelos não mágicos e desarmados.

A largou com força e pegou outra página.

— Isso fornece alguns detalhes muito específicos sobre um dos melhores lutadores de Bloodrock. Listas de runas, tipo de mago, estilos de combate preferidos… pelos chifres dos Vritra, Grey, até nomeia quais membros de seu sangue podem ser ameaçados ou subornados para influenciar seu desempenho.

Ele passou por mais algumas páginas, que continham detalhes semelhantes sobre outros lutadores de alto desempenho de uma variedade de academias.

— Ótimo, isso parece uma pesquisa muito completa.

Disse finalmente, interrompendo-o quando começou a explicar outra página.

— Mas o que isso tem a ver comigo? Essas coisas não são minhas.

Sulla suspirou e esfregou a ponta do nariz.

— Então, por que uma testemunha confiável se apresentou e afirmou que você está tentando trapacear no Victoriad, usando esses documentos como prova.

Encarei a pilha de papéis por um momento, então soltei uma risada surpresa.

— Isso é brincadeira, não?

Sulla recostou-se na cadeira e olhou para mim como se um chifre tivesse brotado do meio da minha testa.

— Você nega que está liderando um esforço para dar aos seus alunos uma vantagem injusta no Victoriad?

— Se meus alunos tiverem uma vantagem, será porque trabalharam para isso, não porque eu intimidei a mãe de uma adolescente.

Retruquei, irritado por ter sido incomodado com esse absurdo.

— Não, eu realmente tenho coisas mais importantes para fazer—

Sulla colocou as duas mãos na mesa, jogando alguns pedaços de pergaminho no chão e se inclinou na minha direção.

— Então, alguém está tentando fazer com que você seja morto, Grey.

Olhei para o ascendente veterano com curiosidade, esperando que continuasse.

— Trapacear, adulterar ou de outra forma interromper os eventos de Victoriad resultará em sua execução como parte do “entretenimento” de Victoriad

Proclamou ele de forma ameaçadora.

— Então, se você não ordenou que todas essas informações fossem coletadas, informações que deixam claro que você pretende ameaçar ferir vários membros de altos sangues importantes, então outra pessoa o fez e apenas para fazer com que você fosse acusado de um crime que poderia acabar com sua vida.

Estava ouvindo com mais seriedade agora, mas algo no que Sulla estava dizendo não fazia sentido.

— Você disse que tinha uma testemunha? Alguém que alegou estar trabalhando comigo ou para mim ou algo assim?

Ele semicerrou os olhos pensativamente antes de responder.

— Sim. Ela me procurou por conta própria, alegando que foi forçada a fazer vários contatos entre você e a equipe da academia em toda Alacrya. Quando interceptaram esta bolsa de documentos, supostamente destinada a você, eles perceberam o que você estava fazendo e se sentiram compelidos a entregar as evidências.

Sulla fez uma pausa.

— Você deve saber, um punhado de pessoas está corroborando essa afirmação, confirmando que receberam cartas ameaçadoras suas para fornecer tudo isso.

Ele gesticulou para os papéis.

— O melhor cenário é que você está proibido de frequentar o Victoriad. O pior, bem, eu já disse a você.

Mesmo desde o momento em que Sulla e seus executores chegaram à minha sala de aula, ele parecia desconfortável. Agora o motivo estava claro.

— Por que você está tão certo de que não fui eu?

Zombou novamente.

— Qualquer um que realmente te encontrou saberia que você não precisaria trapacear. Eu ouvi sobre as concessões de seus alunos também. Não, isso cheirava a uma armadilha desde o início.

Assentindo, descansei meus cotovelos nos joelhos e me inclinei para frente.

— Então me diga quem é a “testemunha”.

Sulla hesitou, parecendo pouco à vontade.

— Eu poderia, mas se você matá-lo, isso estará fora de minhas mãos. No momento, só foi relatado à Associação de Ascendentes. Se a Academia Central ou qualquer um desses altos sangues se envolver…

— Eu não vou matá-lo, mas vou descobrir—

Fui interrompido por um dispositivo na mesa de Sulla acendendo e começando a zumbir baixinho.

Ele olhou para ele como se fosse uma sanguessuga demoníaca por vários segundos, então estendeu a mão e o tocou.

Uma voz familiar ressoou do dispositivo:

— Aqui é Corbett do Alto Sangue Denoir, entrando em contato com Sulla de Blood Drusus. Sulla?

Os olhos do ascendente de cabelos escuros se arregalaram com a menção do nome de Corbett e ele olhou para mim com algo semelhante ao pânico.

— S-sim, Senhor Supremo Denoir, aqui é—

— Você acabou de prender um professor da Academia Central chamado Grey. As acusações tolas contra ele são falsas, tenho informações que ajudarão a provar isso.

A voz de Corbett ecoou com uma leve distorção do artefato de comunicação, mas ainda transmitia efetivamente o peso de sua autoridade.

— Exijo que ele seja libertado imediatamente.

Não pude evitar o sorriso de surpresa que surgiu no meu rosto ao ouvir o Lorde Supremo falar. Embora mantivesse um ar nobre, havia uma sutil ameaça em suas palavras também.

Caera o encarregou disso? Eu perguntei para mim mesmo. Ou nossa conversa impressionou mais do que eu pensava…

Sulla recuperou rapidamente a compostura. Embora os Denoirs devam estar mais altos na hierarquia que o sangue Drusus várias vezes, ele não parecia um homem a ser intimidado pela nobreza.

— Você diz que tem informações pertinentes a esta investigação?

Perguntou, seu tom totalmente profissional.

— Os Granbehls estão por trás disso.

Disse Corbett com firmeza.

— Eles já fizeram falsas alegações contra Grey antes e estão de volta. Acredito que um interrogatório completo de Janusz de Sangue Graeme, atualmente professor da Academia Central, revelará que ele foi pago, e muito bem, para fornecer evidências falsas contra Grey. Agora, confirme que Grey será libertado imediatamente, ou serei forçado a visitar pessoalmente a Associação de Ascendentes.

Sulla olhou carrancudo para o artefato de comunicação, com o rosto ligeiramente vermelho.

— Não haverá necessidade disso, Senhor Supremo Denoir. Estou igualmente certo da inocência de Grey e não irei acusá-lo. Ele está aqui comigo agora, na verdade, para discutir a melhor forma de lidar com esta situação.

— Oh.

Disse Corbett, seus nobres maneirismos diminuindo por apenas um instante.

— Pois bem. Já ouvi coisas boas sobre sua justiça e sabedoria e parece que esses rumores não são infundados. Grey, encontre-me no Trono de Goldeberry na Rua da Realeza em duas horas. Bom dia então.

— Bom dia, Senhor Supremo…

Disse Sulla, com uma expressão entre a frustração e o alívio.

Quando o artefato esmaeceu, sua atenção se voltou para mim.

— Então, você realmente tem amigos em lugares importantes…

— Um conhecido recente.

Disse com um encolher de ombros.

— Então, Professor Graeme…

Sulla estremeceu.

— Como eu disse—

— Ah, não se preocupe. Eu não vou matá-lo.

De pé, dei a ele um olhar questionador.

— Estou livre para sair?

— No momento, sim.

Disse com um sorriso sem humor.

— Mas essa situação precisa ser resolvida, Grey.

Balancei a cabeça, um certo tio bêbado vindo à mente.

— Então você poderia entrar em contato com alguém por mim?

 

Separador Tsun

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Duas horas depois, estava caminhando rapidamente pela Rua da Realeza, lar de muitos negócios ostentosos que atendiam aos altos sangues.

Vários cenários giravam em minha mente como clipes de diferentes filmes enquanto pensava sobre o que havia aprendido. Se o que o professor Graeme tão gentilmente me informou fosse verdade, então tudo mudava.

Meus pensamentos foram interrompidos quando fui forçado a sair do caminho de um par de jovens altos sangues caminhando lado a lado no meio do caminho, mas antes que eu pudesse pensar duas vezes, fui interrompido pela visão do lugar onde eu deveria encontrar Corbett, um café de alto sangue chamado Trono de Goldberry.

O prédio parecia mais um templo do que um café. Pilares de mármore com topo dourado enrolados em torno de uma galeria ao ar livre na frente do edifício e ao redor de um lado os entablamentos esculpidos que descansavam no topo dos pilares brilhavam com ouro incrustado e uma dúzia de cores de pedras preciosas, fazendo o telhado brilhar como uma coroa. Chamas multicoloridas subiam de braseiros sempre acesos afixados aos pilares, dando ao lugar uma qualidade mística distinta e exalando uma mistura de aromas doces que fazia minha boca encher de água e meu estômago roncar.

Vários pares de olhos me seguiram quando entrei no café, provavelmente porque meu traje não correspondia aos padrões do Goldberry. Lá dentro, o aroma quente de café e pão recém assado se misturava a uma dúzia de colônias e perfumes diferentes para tornar o ar desconfortavelmente pesado.

Uma mulher matronal vestida de preto com um colete marrom trabalhava atrás de uma pequena barra esculpida em algum tipo de cristal opaco. Ela mergulhou em sua cintura em uma reverência respeitosa quando me aproximei, sua expressão perfeitamente mascarada, além da contração rápida de seus olhos enquanto me examinava da cabeça aos pés.

— Estou aqui para encontrar o Lorde Supremo Denoir.

Disse, sentindo a atenção de um punhado de clientes do café se voltando em minha direção.

— Ele já chegou?

A mulher apontou para a direita, seu olhar ainda abaixado.

— A sala privada do Lorde Supremo Denoir está localizada na esquina, terceira porta.

Balancei a cabeça e virei as costas para ela, apenas percebendo quando os clientes, muitos dos quais estavam olhando para minhas costas apenas um segundo antes, desviaram o olhar e fingiram se importar com seus próprios negócios.

A porta indicada estava rachada e se abriu lentamente quando bati de leve nela. Corbett ergueu os olhos de um diário encadernado em couro cheio de letras apertadas.

— Feche a porta atrás de você.

Disse enquanto escondia o diário.

Eu fiz e uma série de proteções que corriam ao longo da borda da porta se acenderam brevemente.

— À prova de som? — meditei em voz alta.

— Entre outras coisas. Goldberry não faz sucesso com os Altos Sangues simplesmente pela decoração pretensiosa.

Disse, apontando para uma cadeira em frente a ele.

A sala não era grande, mas seu teto alto dava uma sensação de grandeza. Uma mesa baixa feita de madeira escura e gravada com uma representação realista das montanhas Presa de Basilisco ocupava o centro, com um sofá envolvente de um lado e duas poltronas do outro. Sentei-me em uma delas, afundando no amortecimento macio.

Um fogo baixo queimava em uma pequena lareira no canto atrás de mim e uma janela deixava entrar uma luz difusa atrás de Corbett. Fiz uma careta para a janela, sem saber por que parecia tão fora do lugar, então percebi que não poderia haver uma janela nesta sala, que ficava no centro do café, sem paredes voltadas para o exterior. Olhando mais de perto, percebi que era um artefato de luz em forma de painel que agia como uma janela falsa.

— Lugar legal. — comentei.

— Bom para pensar ou ter uma conversa que não deveria ser ouvida. — disse significativamente.

— Você conseguiu localizar o professor Graeme?

— Graeme ainda está vivo, embora eu não possa dizer o mesmo sobre sua dignidade. — Respondi com indiferença.

— Mas isso está fora de questão.

O senhor supremo assentiu.

— Percebi isso e é por isso que gostaria que nos encontrássemos aqui.

— Preciso saber com que tipo de retaliação posso me safar. — disse sem preâmbulos.

— Que tipo de problema eu poderia ter se fosse atrás dos Granbehls?

Ele me olhou criticamente, pesando claramente suas palavras.

— Bem, se você fosse um Alto Sangue, ou mesmo um sangue nomeado igual aos Granbehls em estatura, você estaria inteiramente dentro do seu direito de contra-atacar.

Deu um sorriso conhecedor.

— Mas como um sem sangue, você não tem recursos fora do tribunal e já sabe bem como os corredores da justiça realmente são.

Um “recurso” implementado por Altos Sangues como você, eu queria dizer.

— Os Granbehls entendem e manipulam o sistema como um verdadeiro alto sangue. — continuou.

— Eles lançaram um ataque total a vários sangues nomeados rivais, mas até agora não cruzaram nenhuma linha que os veria despojados de seus títulos ou executados, pelo menos não em plena luz do dia. Seus inimigos parecem morrer em circunstâncias suspeitas e convenientes, incluindo um incêndio recente que matou o lorde e a dama do Sangue Rothkeller.

— Por que você acha que esses rivais não revidaram?

Corbett bateu na lateral do nariz.

— Eis a questão, não é? Mas nem toda pergunta vem com uma resposta. Neste caso, tenho apenas especulações baseadas em boatos. No entanto, parece que eles de alguma forma adquiriram o patrocínio de um poderoso benfeitor, alguém cuja proteção lhes permitiu manobrar de forma mais ou menos desinibida.

Quando uma pessoa como Corbett Denoir chamava alguém de poderoso, isso realmente encurtava a lista de suspeitos. Apenas outro alto sangue de alta hierarquia poderia oferecer esse tipo de proteção, ou mesmo alguém acima dos constructos normais da sociedade Alacryana, como uma foice.

— Isso não muda o que eu preciso fazer.

Respondi, minha expressão escondida de Corbett.

— Você tem algum plano em mente, então?

Perguntou. Sua mão se moveu para a almofada do sofá ao lado dele, notei uma bolsa de veludo que estava meio escondida em sua sombra.

Meus lábios se contraíram.

— Sim, mas não é muito sutil.

— Foi o que pensei.

Disse, levantando a bolsa e enfiando a mão dentro dela. Puxou um emblema de metal e o colocou sobre a mesa entre nós.

O metal preto estava manchado e quando me inclinei sobre ele percebi que havia sido queimado pelo fogo. O próprio emblema parecia ser uma videira colocada diante de um sol nascente, uma vez de cores vivas, mas agora enegrecida e sem os pequenos detalhes.

— Sangue Nomeado Rothkeller? —perguntei.

Corbett acenou com a cabeça.

— Se um dos poucos membros remanescentes daquele sangue buscasse retribuição pela queima de sua propriedade—

— Ninguém piscaria.

Terminei, levantando o emblema e virando-o na mão. Com o polegar, esfreguei a fuligem do sol, revelando uma coloração vermelha rachada e desbotada.

— O sangue Rothkeller provavelmente negaria isso?

Os olhos de Corbett brilharam com cálculo frio.

— Se seu emblema foi plantado como uma bandeira de vitória nos destroços da propriedade de seu inimigo? O que você faria no lugar deles?

— Ponto justo.

Admiti antes de colocar o emblema de volta na mesa.

— Minha única pergunta é por que você está disposto a fazer tudo isso por mim?

Eles não ganharam nada em me ajudar além de minha própria obediência no futuro, mas se as coisas dessem errado com os Denoirs, não poderia exatamente matar todos eles, considerando sua relação com Caera. Permitir que Corbett tivesse um segredo tão perigoso certamente era um problema, mas sem nenhuma prova, seria apenas a palavra dele contra a minha.

— Curiosidade? Intriga? — Corbett meditou.

— Você é um homem com muitas camadas, Grey. E essas circunstâncias me permitem descobrir algumas delas.

— Bem, seja o que for que eu decida fazer, não teria sido capaz de fazer sem a sua ajuda.

Disse, segurando o emblema como se estivesse fazendo um brinde.

— Então, aqui está um vínculo duradouro construído a partir da destruição mutuamente assegurada, Corbett.

O lorde supremo endireitou-se um pouco mais, mas um sorriso escapou de seu comportamento cauteloso.

— É claro. Afinal, ainda há esse misterioso benfeitor com quem se preocupar.

Meus pensamentos percorreram tudo o que o professor Graeme me disse mais uma vez, mas não confirmei mais nada com Corbett. Em vez disso, perguntei:

— É possível que quem está apoiando os Granbehls vá atrás dos Rothkellers restantes?

Ele acenou com a cabeça, sua expressão inalterada.

— Totalmente, mas mesmo se morrerem, eles o fariam com orgulho sabendo que seu sangue foi vingado. Você oferece a redenção de sangue deles, evitando qualquer envolvimento pessoal, legal ou de outra forma.

Eu não concordo com a visão dos Altos Sangues de orgulho acima da vida, mas ter empatia não era difícil. Diante dos deuses como governantes, às vezes o orgulho era a única coisa que ficava sob seu controle.

Com um plano em prática e todas as peças em minha cabeça agora se encaixando, me despedi dele e fiz meu caminho para a Rua da Realeza.

Um sorriso frio apareceu nos cantos dos meus lábios enquanto esticava meu pescoço.

— Regis, volte aqui. É hora de um pequeno reencontro com os Granbehls.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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