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O Começo Depois do Fim – Cap. 361 – Resultados e Atenção

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POV ARTHUR LEYWIN

O sol tinha acabado de nascer, cobrindo o campus com um manto de âmbar e violeta. Eu me acomodei novamente no topo do telhado plano com ameias da Torre Oca, saboreando a vista e a brisa fresca que eu não poderia ter em meu quarto. Embora tivesse sido construída como uma torre de vigia há muito tempo e mantida como um lugar para meditar, edifícios mais novos e sofisticados haviam deixado essa estrutura praticamente abandonada.

Soltando um suspiro pesado, retirei a pedra angular e a virei, examinando o cubo preto simples. Sua superfície era lisa e fosca; seu único traço físico notável era o peso.

— Quem diria que essa coisa simples contém uma percepção capaz de reescrever o mundo.

Murmurei. Mesmo sabendo de tudo o que fazia, ainda achava difícil acreditar que algo tão pequeno e… tangível continha os segredos que poderiam permitir que alguém obtivesse uma percepção sobre o próprio Destino.

Regis saltou do meu corpo e cheirou a relíquia.

— Podia haver pelo menos algumas runas brilhantes ameaçadoras ou algo para lhe dizer o quão importante é.

Virando-se de costas para mim, cruzou o telhado e colocou as patas no parapeito.

— De qualquer forma, divirta-se com isso.

Seu corpo se tensionou para pular.

— Espere. — disse rapidamente.

— Aonde está indo?

Respondeu ainda de costas para mim.

— Tenho meu próprio treinamento para fazer.

— O treinamento é separado da absorção do éter? Por que tão de repente?

Perguntei, movendo-me para ficar ao lado dele.

Regis enrijeceu, mas se recusou a olhar para mim.

— Porque. Fui trazido a este mundo para ser sua arma, seu protetor, mas ultimamente parece que não estou fazendo nada disso. Devíamos ser parceiros, mas você fica cada vez mais forte aprendendo novos editos do éter. Eu não quero apenas assistir enquanto a lacuna entre nós aumenta.

Pela primeira vez em algum tempo, não sabia o que dizer ao meu companheiro.

Fiquei em silêncio, observando o lobo escuro, quando um pássaro de quatro asas pousou no parapeito próximo, estalando o bico e nos observando com expectativa. Retirei minhas rações embaladas, um hábito que mantive apesar de raramente precisar comer, e tirei uma fatia de carne seca e apimentada, jogando-a para a criatura. Ele saltou para o telhado de pedra e agarrou seu prêmio antes de disparar, suas quatro asas levando-o rapidamente para fora de vista.

— Eu… não percebi que isso te incomodava tanto. — finalmente concordei.

— Bem, você pode agradecer a Sylvie por essa atividade irritante de manter sua bunda viva. — Regis zombou.

Soltei uma pequena risada e cutuquei o lobo das sombras.

— Tudo bem, apenas tome cuidado lá fora. O mundo é um lugar assustador para um cachorrinho.

Ele virou seus olhos brilhantes para mim zombeteiramente.

— Ha. Ha. Hilário.

Então, em uma manobra que eu nem tinha certeza de que ele conseguiria, Regis saltou da lateral da torre. Assisti enquanto despencava em direção ao chão, chamas roxas se arrastando atrás dele como uma bandeira antes que se tornasse incorpóreo e afundasse ligeiramente no chão.

Assim que ficou sólido novamente, Regis disparou para o norte, saindo do campus em direção às montanhas. Ele, é claro, fez um esforço extra para passar por uma pequena multidão de alunos, causando um coro de gritos, antes de desaparecer de vista atrás de outro prédio.

Segui seu progresso por um tempo, ainda capaz de senti-lo mesmo enquanto a distância entre nós aumentava. Parecia estar indo para as montanhas. Me perguntei brevemente se a energia que nos unia o permitiria ir tão longe, mas nós dois sentiríamos se ele começasse a alcançar a distância máxima que poderia estar longe de mim. Já que não tínhamos testado esse aspecto de nosso relacionamento desde a zona da ponte que atravessei com os Granbehls, realmente não sabia até onde ele poderia ir.

Tenho certeza que ele vai ficar bem, disse a mim mesmo, me concentrando de novo na razão pela qual eu havia subido nessa torre em primeiro lugar.

O cubo preto caiu pesadamente em minhas mãos olhando para ele. Um minuto se passou e depois outro quando ainda analisava a pedra angular.

Com um suspiro, a armazenei de volta na minha runa dimensional. Deveria estar mergulhando direto na pedra angular, treinando, absorvendo éter, fazendo algo para ficar mais forte. Mas minha mente não estava lá. Não conseguia dar meu máximo a todo momento acordado, ainda mais depois de voltar de uma das ruínas dos djinn.

Em vez disso, retirei a relíquia de observação, traçando as facetas pontiagudas enquanto pensava nas mesmas pessoas que me motivariam a seguir em frente.

Ativei a relíquia e fui transportado pelo mundo, ampliando até que me encontrei na caverna subterrânea escura do santuário djinn. Ellie estava com água até a cintura no riacho, espirrando água em Jasmine, que estava segurando uma criança élfica que eu não conhecia como escudo, rindo.

Um nó se formou em meu peito quando notei minha mãe, Helen, e o resto dos Chifres Gêmeos sentados ao redor de uma fogueira na beira do riacho, observando com sorrisos cansados. Atrás de todos eles, Boo estava agachado protetoramente sobre uma pilha de peixes brilhantes.

Cravei minhas unhas em minhas mãos, segurando o nó crescente na minha garganta enquanto eu mesmo forçava um sorriso. Afinal, eles estavam todos bem e riam e sorriam.

Isso bastava.

Com uma respiração estremecida e um sorriso vazio, me retirei da relíquia e a troquei pela pedra angular novamente.

O cubo preto do tamanho da palma da mão era muito menos denso em éter do que a relíquia anterior, mas fora isso quase idêntico.

— Tudo bem, vamos ver o que você tem para mim.

Liberando o éter do meu núcleo, canalizei-o pelo braço até a pedra angular. Minha consciência parecia segui-lo enquanto eu era puxado para fora do meu próprio corpo e para dentro da relíquia dos djinn. Primeiro, encontrei uma parede de nuvens roxas, como esperado. A parede estremeceu com a minha abordagem e passei facilmente.

Esperava encontrar outro quebra-cabeça, algo para manipular ou trabalhar como na última pedra-chave, mas em vez disso…

Escuridão.

Escuridão completa e absoluta.

O pânico tomou conta de mim quando fui repentinamente sacudido de volta para o telhado da torre, segurando o cubo preto, o suor escorrendo pelo meu rosto e deixando minhas mãos escorregadias. Minha respiração veio rapidamente, e então eu percebi o porquê: o interior da pedra angular parecia exatamente como aquele lugar intermediário depois que meu corpo foi destruído e antes de eu acordar nas Relictombs. Como se minha mente fosse a única coisa que existisse em todo o universo.

Flutuando em um campo de preto opaco, me lembrei. Mas não é a mesma coisa. Eu ainda estou aqui, desta vez. Nada mudou.

Respirando fundo várias vezes para me acalmar, tentei novamente.

Desta vez, a súbita ausência de qualquer coisa, exceto eu, foi menos surpreendente, mas o interior da pedra angular não era menos assustador. Vaguei por um tempo, sem saber se estava realmente me movendo ou apenas tentando, nunca batendo em uma parede ou qualquer tipo de objeto mental, como o mar de formas geométricas que eu tive que manipular dentro da pedra angular de Requiem de Aroa.

Era esquecimento.

Mesmo o tempo não tinha significado dentro da pedra angular, eu não tinha como saber por quanto tempo fiquei à deriva. Em algum momento, comecei a me preocupar se poderia perder minha aula, mas quando parei de canalizar éter e deixei o espaço escuro, apenas alguns minutos se passaram. E então eu me empurrei de volta e continuei a vagar pelas profundezas vazias.

Era como nadar no fundo do oceano, onde a luz não alcança. Para cima, para baixo, para a esquerda, para a direita… a direção perdeu sentido, embora eu continuasse a experimentar a sensação de movimento. Tentei empurrar com o éter em direções aleatórias, ou ao meu redor, mas nada aconteceu. Tentei me imbuir, ou o que quer que eu existisse naquele espaço com éter, mas novamente isso não resultou em nada.

Então eu apenas me permiti flutuar. Meus pensamentos vagaram por um tempo, depois pararam e foi como dormir.

A escuridão ondulou de repente, uma distorção visual dentro do vazio de preto sobre preto, como se algo tivesse se movido dentro dele. Estendi a mão com o éter, tentando interagir com o fenômeno, mas nada aconteceu.

A porta do telhado se abriu com um rangido, um ruído vago ouvido no limite da minha consciência, me afastei da pedra angular com irritação. Esse lampejo de frustração rapidamente se transformou em curiosidade quando um rosto familiar olhou para mim da porta.

— Valen?

Disse rigidamente, olhando para o jovem alto sangue, que estava parado emoldurado na porta escura, uma mão ainda na porta. Seus olhos permaneceram na pedra angular enquanto eu a devolvia à runa de armazenamento extradimensional.

— Você se perdeu?

Os olhos de Valen varreram nervosamente o telhado da torre, mas não se afastou da porta ou mesmo a deixou fechar.

 — Eu… hum…

Ele limpou a garganta.

— Eu estava procurando por você, professor.

Levantei uma sobrancelha para o menino, franzindo a testa.

— Como descobriu que eu estava aqui?

Valen olhou rapidamente para trás, para a escada da porta atrás dele, respirou fundo e se afastou da porta, deixando-a fechar.

Limpou a garganta novamente antes de falar.

— Acontece que encontrei Seth no caminho para a sua sala de aula… acho que ele estava procurando por você também, mencionou que viu você vir aqui algumas vezes, então pensei…

Ele estremeceu, deixando o pensamento morrer.

— Do que vocês precisam?

Perguntei asperamente, então me lembrei que a cerimônia de concessão havia ocorrido hoje cedo.

— Isso é sobre as concessões?

O jovem alto se recostou sobre a porta pesada, deixando sua cabeça descansar contra ela com um baque sólido. Seus olhos escuros olharam para o céu claro. Quando eu estava prestes a repetir minha pergunta, ele disse.

— Recebi um emblema.

Um emblema era o segundo nível mais alto de runa para um mago alacryano. Pelo que eu entendi, receber uma runa tão poderosa em uma idade jovem era uma mudança de vida, mesmo para os altos sangues.

Levantei uma sobrancelha.

— Tem certeza disso? Eu te parabenizaria, mas você não parece muito satisfeito com isso.

Valen soltou uma gargalhada sem humor.

— Meu pai está em êxtase, é claro. Meu sangue parece pensar que sou algum tipo de prodígio agora…

Soltei um suspiro impaciente enquanto me recostava no parapeito em frente a ele.

— Bem, tenho certeza de que você não veio até aqui só para se gabar, então diga logo.

Ele coçou a sua nuca.

— Eu simplesmente não tinha ninguém com quem conversar. Meu sangue… eles não entendem. E meus associados—

— Associados? — zombei.

— Essa é uma maneira estranha de se dirigir aos seus amigos.

Valen me lançou um olhar severo, quebrando um pouco sua hesitação constrangedora.

— Um Ramseyer não tem “amigos” de acordo com meu pai. Apenas servos, conhecidos, associados e aliados.

Após uma breve pausa, ele acrescentou.

— E inimigos, é claro.

Balancei a cabeça em compreensão, pensando em Trodius Flamesworth e o que ele estava disposto a fazer pelo bem do nome de sua família.

— Eu não quero ser um prodígio.

Valen balbuciou com sua cabeça baixa.

— Desde que eu era um bebê, fui criado como um guerreiro, estudioso e líder, com a expectativa colocada sobre mim desde o nascimento de que me tornaria o Lorde Supremo do Alto Sangue Ramseyer. Nunca, nem mesmo uma vez na minha vida, alguém me perguntou o que eu quero fazer ou me tornar.

— E receber uma runa tão forte só terá exagerado essa expectativa. — confirmei.

Ele acenou com a cabeça sem palavras enquanto se virava.

— Bem, então, deixe-me perguntar. — respondi.

— O que você quer fazer?

Valen desinflou e, pela primeira vez, parecia a criança que era, não alguém tentando fingir que era um lorde supremo.

— Não sei, mas… gostaria de ter a chance de descobrir. Isso é tudo que quero dizer. Talvez… talvez o que meu sangue deseja de mim seja exatamente o que eu quero fazer, a longo prazo. Mas nunca vou me sentir assim, a menos que eu tenha algum tipo de escolha no assunto.

— Eu quero explorar o mundo fora dos limites estreitos que meus tutores e sangue estabeleceram para mim. Mas receber este emblema apenas parece ter cimentado meu destino, em vez de me dar poder sobre ele.

Ele me observou atentamente em busca de uma resposta, boa ou ruim. Talvez esperasse que eu o repreendesse, lhe dissesse o quão afortunado ele era, o encorajasse a fazer o que sua família desejava, mas eu mantive meu silêncio.

De repente, me deu um sorriso inesperado e seus olhos focaram em algum lugar distante.

— Sabe, meu tio estava na guerra em Dicathen e me contou algo estranho. Lá, adolescentes, às vezes com apenas treze ou quatorze anos, muitas vezes partem por conta própria para serem aventureiros, lutando contra monstros e mergulhando em masmorras.

Fui pego de surpresa pela repentina menção à Dicathen, lembranças de meu tempo como o aventureiro mascarado, Note, vindo à tona. Parecia ter sido em outra vida passada agora.

— Magos são menos comuns em Dicathen, e se tornar um aventureiro é um ritual de passagem para muitos deles. Mas não é tão diferente de como Alacrya trata os ascendentes. Ou assim ouvi. —acrescentei rapidamente.

O sorriso de Valen demorou um momento enquanto pensava nisso, mas lentamente sumiu de seu rosto. Por fim, acenou com a cabeça e disse,

— Obrigado, professor. Por ouvir. Não vou tomar mais seu tempo.

Com uma reverência rígida, se virou para sair.

— Sabe, Valen.

Disse a suas costas, minha voz suave.

— Só vai ficar mais difícil ir contra a vontade deles conforme você envelhece. Se você realmente deseja viver sua vida sem arrependimento, pode ser melhor decepcionar seus pais agora do que mais tarde.

Ele congelou, meio que se virando para olhar para mim, seu rosto inescrutável. Finalmente, com um sorriso curioso, saiu e a porta se fechou entre nós novamente.

Relutante e incapaz de enfrentar as muitas linhas conflitantes de pensamento emaranhadas em meu cérebro, retirei a pedra angular novamente e a ativei, abraçando momentaneamente o espaço vazio que ela continha. Mas, em vez de me isolar de meus pensamentos, ela os desnudou, deixando-me sem nada além de minha própria mente em conflito.

Sabia que era injusto ao extremo culpar Valen ou seus colegas de classe por qualquer coisa que tivesse acontecido em Dicathen. Eles eram tão vítimas da guerra quanto meus amigos e família no meu lar e ainda assim tinham sido seus amigos e família matando os meus. Eles eram súditos de Agrona, seus servos e ferramentas, cada um deles uma arma potencial contra mim. Ou pior, contra minha mãe ou minha irmã.

Mas, cada vez mais, eu detectava uma hesitação nos Alacryanos em seguir seu suserano, especialmente entre os estudantes. No começo, presumi que a falta de respeito de Caera pelos Vritra era algo único para ela, uma manifestação de sua existência como uma Alacryana de sangue Vritra se escondendo, mas meu tempo na academia me mostrou que isso não era verdade. Além do desdém mal disfarçado do professor Aphelion pela guerra, os sentimentos dos alunos ficavam bem claros em seus rostos toda vez que Elenoir era mencionada.

Muitos jovens Alacryanos poderosos perderam tudo naquele dia. E eu não acho que todos eles culparam os Asuras por isso.

Com um suspiro de frustração, saí da pedra angular e a coloquei de lado. Estava claro que eu não iria chegar a lugar nenhum enquanto estivesse tão distraído ou enquanto minha mente estivesse cheia de incertezas.

 

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Da Torre Oca, vaguei pelo campus por um curto tempo antes de ir até a minha sala de aula. Estava relativamente adiantado, mas meus pensamentos se recusaram a se acalmar e eu não conseguia me concentrar em nada, então aumentei a gravidade várias vezes no ringue de treinamento e comecei a trabalhar o meu corpo. Embora teria aproveitado a chance de invocar a lâmina de éter, não queria explicar a ninguém que acontecesse por aparecer na sala de aula.

Não treinei por muito tempo.

O som da porta se abrindo e passos apressados descendo as escadas me tirou de repetir uma das muitas formas que Kordri me ensinou.

— Você está aqui!

Mayla gritou, correndo em direção ao ringue.

Saltando rapidamente para fora da plataforma de treinamento, pressionei um dedo contra sua testa para evitar que seus braços estendidos me envolvessem.

Mayla soltou um grito de surpresa enquanto abraçava o ar vazio entre nós.

— Boas notícias?

Perguntei, cruzando meus braços com indiferença enquanto recostava contra a base da plataforma de treinamento elevada.

A garota da cidade de Maerin estava pulando na ponta dos pés quando disse.

— Sim! É doido demais. Inacreditável! Acabei de ser adicionada a todas essas aulas de Sentinelas de alto nível e, aparentemente, as chances são tão baixas que a Academia Central não tem nenhum registro de que isso tenha acontecido antes, eles estão se oferecendo para me isentar de minhas taxas de participação e enviar este pagamento gigante para minha família em Etril se eu concordar em fazer algum estudo individual com o chefe do departamento de sentinelas aqui, e…

Ela parou, percebendo a expressão de confusão crescendo em meu rosto.

— Eu consegui outro emblema!

Ela comemorou, sua voz aumentando uma oitava em sua animação, saindo como um aperto.

— Dois em seguida, e nas minhas duas primeiras cerimônias de concessão. As chances são, tipo, próximas de zero. Eles pensaram em me tirar desta aula para me concentrar nas coisas de Sentinela, mas o diretor aparentemente realmente me quer no Victoriad agora.

Seu sorriso desapareceu e ela olhou para mim com óbvia preocupação.

— O que há de errado? Eu… pensei que você ficaria orgulhoso de mim. Disse algo que não deveria, Professor?

De repente, ela deu um passo para trás e curvou-se tão baixo que seu cabelo roçou o chão.

— Eu peço desculpas.

Enquanto ela falava, minha mente saltou dela para Valen, e depois de volta para a cidade de Maerin, onde Mayla e o menino Belmun, as únicas duas crianças com quem eu interagia intimamente, receberam runas extraordinariamente poderosas. Suspeitava antes que minha presença tivesse algo a ver com isso, mas não havia razão para pensar profundamente sobre o processo de concessão. Não sabia o suficiente sobre como os Alacryanos alocavam magia para fazer suposições, além de supor que o éter estava envolvido de alguma forma.

— Professor?

Minha atenção voltou para ela e percebi que estava com uma carranca profunda e pensativa. Deixei minhas feições relaxarem.

— Sinto muito, Mayla, estava apenas pensando…, mas tudo isso é uma grande mudança para você. Como você está se sentindo?

Quando Mayla recebeu sua runa original, ela foi recebida com emoções conflitantes. Sua irmã não tinha runas e provavelmente passaria o resto de sua vida na cidade de Maerin. Dois emblemas praticamente garantiam que Mayla seria atraída para uma vida de aventura e perigo. Se ela não se tornasse uma ascendente, certamente acabaria sendo convocada para a guerra.

E a próxima não será contra soldados de Dicathen, pensei, percebendo o que as runas avançadas podiam significar para eles.

— Estava com medo, no começo. — admitiu.

— Eu não queria sair de casa, mas agora que estou aqui há um tempo…

Ela se virou em direção à porta, onde o som de vários conjuntos de passos rápidos e várias vozes estavam se aproximando.

— Nunca me senti especial antes. Sempre achei que passaria o resto da minha vida na cidade de Maerin, como Loreni. — Seu rosto caiu.

— É errado eu não me sentir culpada?

— Não.

Respondi, embora não tivesse certeza se acreditava em mim mesmo.

— Contanto que você não tenha deixado sua família para trás em seu coração, então você não os abandonará. Tudo o que você faz agora é por eles, contanto que essa seja a sua intenção.

Lágrimas não derramadas brilharam nos olhos de Mayla, ela balançou a cabeça vigorosamente.

— Estou… muito feliz que as Relictombs trouxeram você para cidade de Maerin, Professor Grey.

Acenei para ela sentar-se sem dizer nada. Ela se mexeu, depois se aproximou. Pensei em pará-la novamente antes que pudesse envolver seus braços em volta de mim, mas apenas suspirei, devolvendo o abraço com um braço enquanto acariciava o topo de sua cabeça sem jeito.

Regis teria zombado tanto de mim se estivesse aqui…

Depois de alguns segundos, recuei e me virei para limpar minha garganta enquanto o resto da classe começava a entrar, sua energia e entusiasmo evidentes pelo barulho transbordante que produziram.

Os alunos explodiram em explicações ansiosas sobre as runas que receberam durante a cerimônia de entrega. Cada membro da classe recebeu pelo menos um brasão, como se viu, com um punhado de emblemas também. Até mesmo Deacon se afastou de seus livros por tempo suficiente para se gabar de seu novo brasão.

Passos agudos soando no corredor externo desviaram minha atenção da conversa animada assim que o Professor Irongrove, Chefe do Departamento de Combate Corpo a Corpo, empurrou a porta. Os alunos demoraram um pouco para perceber, mas um por um se calaram de repente, sua atenção voltada para o homem mais velho. Ele parou na porta, então deu um passo para o lado para permitir que duas figuras familiares entrassem antes dele.

O cabelo característico de Briar, laranja desbotando para loiro amarelo brilhante nas pontas, a tornava óbvia do outro lado do campus, muito menos estando bem na minha frente, imediatamente me perguntei o que a jovem casca grossa estava fazendo. Seus olhos castanhos encontraram os meus desafiadoramente enquanto descia os degraus rasos.

Atrás de Briar estava outro rosto familiar, embora tenha demorado mais para reconhecê-la. Uma garota de cabelos escuros, altura e constituição semelhantes às de Briar. Seus olhos rastrearam a sala de aula antes de se fixar em mim, e então me lembrei: Aphene de Sangue Mandrick. Ela era neta do Ancião Cromley, da Academia Stormcove. Tínhamos “brigado” durante a cerimônia de concessão em Maerin.

O professor Irongrove parou no meio da escada e abriu os braços para envolver a classe.

— Táticas de aprimoramento de corpo a corpo! Nossa classe estrela. Concorrentes de Victoriad, bem como os campeões da cerimônia de concessão, devo dizer.

Houve alguns gritos e uma salva de palmas dos alunos, aos quais Irongrove respondeu com um sorriso bem-humorado. Quando a classe se acalmou, encontrou meus olhos.

— Professor Grey, desculpe me intrometer, mas eu estava esperando uma conversa rápida antes de sua aula começar hoje?

Acenei com a cabeça e fiz um gesto em direção ao meu escritório. Rafferty e as duas jovens entraram no pequeno escritório e os segui. No momento em que a porta se fechou atrás de mim, a sala de aula explodiu em barulho novamente.

— Não vou mantê-lo ocupado já que você está se preparando para o Victoriad.

Rafferty começou, seu tom profissional.

— Na verdade, é por isso que estou aqui. Como você não tem um assistente de sala de aula, o diretor queria garantir que você recebesse ajuda. Um pouco de descuido que não foi visto antes, honestamente…

Limpou a garganta e seu olhar caiu para o chão por um instante.

— Essas duas jovens muito capazes se ofereceram para acompanhá-lo como professoras assistentes antes e durante o Victoriad. Mais alguns pares de olhos, e punhos, para manter os alunos concentrados, se é que você me entende.

Lancei um olhar para Briar, meus lábios se curvando em um sorriso irônico.

— Descobriu uma maneira de chegar ao Victoriad afinal, hein?

Rafferty olhou entre nós.

— Pelo que entendi, você treinou ao lado de Briar do Sangue Nadir antes. Ela é uma excelente aluna, garanto-lhe—

Eu levantei minha mão.

— Só brincando, professor. Ela é bem-vinda para ser minha assistente.

Minha atenção se voltou para Aphene.

— Estou mais curioso sobre esta.

Aphene ergueu o queixo e não pôde deixar de notar o leve tremor que a percorreu. Quando nos encontramos pela última vez, tinha derrotado ela e seu amigo, não conseguia lembrar o nome dele, em um duelo dois contra um.

— O avô de Aphene buscou o patrocínio dos Denoirs para ela frequentar a Academia Central.

Rafferty me informou.

— Os Denoirs foram bastante expressivos em sua ânsia de que ela recebesse um lugar em nossas fileiras, e o próprio Cromley me procurou para dar uma recomendação para sua neta. Ouvi a história do seu duelo em Etril. Com base apenas nisso, dois alunos lutando contra um ascendente talentoso quase até que ninguém se movesse! Tenho certeza de que você concorda que ela seria uma excelente assistente.

Minhas sobrancelhas se ergueram lentamente enquanto Rafferty falava, tive que reprimir conscientemente um escárnio surpreso com a menção de nossa luta. A jovem tinha algum talento, mas se os Denoirs estivessem envolvidos, parecia muito provável que ela seria chamada para me espionar, assim como Caera. Rejeitar o trabalho tinha seu próprio conjunto de desvantagens, no entanto, e parecia mais problema do que valia a pena.

Acenei com a cabeça em afirmação.

— As duas estão bem. Ficarei feliz em ter algumas babás por perto, enquanto me concentro nas coisas importantes.

Reprimi um sorriso quando Briar e Aphene me lançaram olhares iguais.

— Agora, Professor Irongrove, tenho certeza que você tem coisas para fazer, porque eu sei que eu tenho.

 

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O vazio estava sem nada e parado ao meu redor. A escuridão não ondulava mais e não senti mais nada, nenhuma presença, nenhuma energia dentro da pedra angular comigo.

Pulsos intermitentes de éter eram emitidos do meu corpo enquanto vagava pela escuridão. Não houve resposta. Eventualmente minha mente se afastou do vazio e voltou para o mundo real.

A classe respondeu bem à presença de Briar e Aphene. Embora Briar estivesse apenas em sua segunda temporada na academia, ela era mais velha do que a maioria das outras e tinha se beneficiado das aulas particulares de Darrin Ordin, enquanto Aphene estava se aproximando de sua última temporada. As duas jovens assumiram avidamente seus papéis, ajudando-me a preparar a classe em uma série de novas formas, ramificações do treinamento de Kordri que pensei que desafiariam eles até o Victoriad.

Foi então, quando me deixei distrair, que vi novamente: um movimento da cortina ao vento através do espaço negro como tinta.

Uma batida na porta mais uma vez me interrompeu, mas ignorei, focando nas ondulações que perturbavam o reino etéreo dentro da pedra angular. A batida veio novamente, mais alta e mais insistente dessa vez.

Retirei-me da pedra angular e guardei-a.

— Entre. — disse irritado.

A porta do escritório se abriu e Kayden Aphelion enfiou a cabeça para dentro.

— Eu não estou interrompendo uma reunião secreta de cabala ou algo assim, estou?

— Em que posso ajudá-lo?

Perguntei, impassível, sem vontade de trocar piadas sem sentido.

Em vez de ficar desconcertado com minha atitude o outro professor pareceu considerar isso um desafio. Ele saiu mancando pela porta e se acomodou no assento à minha frente.

— Na esperança de convencê-lo a não tirar minha vida por interromper esse encontro secreto, sem dúvida, da alta sociedade, havia máscaras? Sinto que haveria máscaras. E criados escassamente vestidos. De qualquer forma, onde eu estava?

— Certo

Disse ele, recostando-se na cadeira e lutando para cruzar as pernas, um ato que exigia que levantasse fisicamente uma sobre a outra com as mãos.

— Direto ao trabalho, então. Achei que você pudesse se interessar em saber que atraiu apenas um pouquinho de atenção para si mesmo, Professor Grey.

Ainda recostado no assento, recebi o olhar firme de Kayden. Seus olhos eram afiados e vigilantes, não correspondendo exatamente ao sorriso irônico que tinha.

— Fale livremente, Kayden.

Ele olhou ao redor do escritório, verificando os cantos de brincadeira, uma pantomima zombeteira de busca por espiões.

— A notícia do sucesso de sua aula durante a cerimônia de concessão viajou rapidamente e muito. Você conhece Sulla do Sangue Drusus, certo? O chefe da Associação de Ascendentes de Cargidan? Ele é um amigo meu e aparentemente recebeu cartas de todos os cantos de Alacrya perguntando sobre você, de onde você veio, etc.

Ele esperou, me olhando com curiosidade.

— Há algum motivo para você estar me dizendo isso? — perguntei.

Kayden encolheu os ombros com indiferença.

— Como eu disse quando nos conhecemos, você parece um homem que prefere manter seus negócios privados. E, no entanto, parece que metade dos altos sangues e ascendentes de Rosaere até Onaeka agora sabem seu nome. É sussurrado com frequência em Vechor, em particular, de acordo com Sul.

— E qual seria o motivo para isso?

O sorriso de Kayden se aguçou.

— Você deve saber tão bem quanto eu que cada instante do Victoriad, cada nomeação, cada jogo, inferno, cada aperto de mão ou a falta dele é observado de perto, porque o próprio evento pode mudar a face política de domínios inteiros. A mudança de retentor ou Foice pode fazer com que sangues ascendam e caiam… a oportunidade perfeita para um ascendente de um sangue desconhecido fazer uma ascensão violenta e repentina pelos ranks de poder.

Seu sorriso sumiu enquanto falava.

— Mas não estou aqui para obter respostas, nem mesmo para compartilhar minhas conjecturas. Só desejo que você saiba, como seu auto-proclamado amigo, que está sendo observado de perto e de muitos ângulos. Quer você busque a posição de retentor de Vechor ou não, certamente gerou um turbilhão de boatos.

Não pude evitar a risada surpresa que explodiu em mim, atraindo um sorriso incerto de Kayden.

— Esse é o rumor?

Disse, praticamente engasgando com alegria.

— Oh, perfeito. Perfeito.

Kayden deve ter achado minha risada contagiante, porque começou a rir também.

— Então você não pretende desafiar para ser o retentor de Dragoth?

Balancei minha cabeça e enxuguei uma lágrima do canto do meu olho.

— Não, nem um pouco.

— Bem, lá se vai a aposta que planejei fazer. De qualquer forma, não vou prendê-lo por mais tempo, só pensei—

— Está tudo bem.

Disse, minha irritação se acalmando.

— Agradeço a informação.

Kayden mancou até a porta, movendo-se lentamente. Quando saiu do escritório, eu disse:

— Caera mencionou que você esteve na guerra. Devíamos… trocar histórias, um dia desses.

Ele faz uma pausa, seus olhos se arregalando ligeiramente.

— Claro. Talvez me convide para sua próxima reunião de cabala e contarei a você tudo sobre isso.

Ainda não estava totalmente convencido de que ele não tinha visto nada na noite em que Caera e eu roubamos a Bússola, mas se viu a estava mantendo isso escondido. Parecia mais provável que não tivesse visto nada, considerando a escuridão e a chuva e não trouxe aquela chance de se encontrar novamente, ou mesmo perguntou como Haedrig tinha se saído.

Ainda estava considerando suas palavras quando deixei o prédio naquele dia. Embora qualquer atenção fosse indesejada neste ponto, pelo menos a nobreza havia inventado seus próprios motivos para minha fama, como eu esperava. E se Agrona ou suas foices já haviam percebido minha presença, eles não haviam feito a conexão entre minhas duas identidades. Se tivessem, eu tinha certeza de que já teriam chegado em vigor.

Pensamentos de conflito com as forças de Agrona foram interrompidos quando avistei uma cabeça familiar de cabelo azul marinho apenas algumas dezenas de passos à minha frente. Me movi mais rápido para alcançar Caera, mas diminuí a velocidade quando percebi que ela lia uma carta enquanto caminhava, desconsiderando a multidão ao seu redor. Depois de um momento, jogou o cabelo para fora e começou a rasgar a carta em pedaços.

— Mais ordens para me espionar?

Perguntei, fazendo-a pular. Ela se virou, amassando os pedaços rasgados da carta em seus punhos. Suas bochechas estavam ficando vermelhas rapidamente.

— Estava brincando, mas… era, não era?

Ela olhou ao nosso redor para os alunos que passavam.

— Sim e não. Era… um convite para jantar. De novo. Já recusei, mas meus pais adotivos são persistentes…

As engrenagens em meu cérebro giraram enquanto eu pensava no conselho de Kayden sobre todos os altos sangues ficando curiosos sobre mim. Com a iminência de Victoriad, tive que considerar o que poderia acontecer depois que meu tempo como professor terminasse. Pareceu apropriado começar a plantar algumas sementes para o futuro.

Estendi um braço para Caera segurar o que ela fez com um olhar desconfiado.

— Vou precisar de ajuda para escolher minha roupa se quiser estar na presença de altos sangues tão renomados e poderosos como o Lorde Supremo e a Lady Denoir.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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