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O Começo Depois do Fim – Cap. 325 – Cara a Cara

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Petras se inclinou na minha frente, seu hálito rançoso uma forma de tortura por si só.

— Esfaqueie, esfaqueie, esfaqueie. — cantou, seguindo cada palavra com um golpe rápido de sua faca em uma parte diferente do meu corpo.

Fazia uma semana que Caera e eu tínhamos deixado as Relictombs, e todos os dias eram quase exatamente iguais.

— Isso está se tornando tedioso, Ascendente Grey. — Matheson disse atrás do torturador. — Certamente você pode ver a escrita na parede. Salve-se de mais duas semanas de dor e admita os assassinatos dos Senhores Kalon e Ezra.

Embora o mordomo dos Granbehls mantivesse o rosto passivo, repetidamente se atrapalhava com os punhos das mangas. Na última semana, decidi que esse era o sinal de Matheson para quando estivesse ficando frustrado.

— Ou. — eu respondi calmamente, batendo meus cílios enquanto olhava para o velho com olhos de corça. — Você poderia ser um querido e me deixar ir.

Dentro de mim, Regis soltou uma gargalhada.

Matheson retribuiu meu olhar com um brilho próprio, ajustando as mangas mais uma vez antes de se voltar para Petras.

— Passe mais algum tempo com ele. Lorde Granbehl tem estado muito… desapontado com o seu serviço ultimamente. Ele espera resultados.

Se virou e saiu da cela, deixando-me acorrentado à parede. Petras, que estava tão perto que praticamente encostava em mim, ficou olhando para o mordomo por um longo tempo.

— Bem, ele disse finalmente. — sua voz estridente mais baixa e sombria do que o normal. — Você ouviu Mestre Matheson. Podemos passar um tempo extra juntos hoje.

 

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Depois de mais uma hora de queimaduras, cortes e o fedor do hálito de Petras, o magro Alacryano pareceu desistir. Saiu sem dizer uma palavra ou mesmo olhar para trás, os braços caídos ao lado do corpo e seus passos lentos e pesados.

— Na verdade, estou começando a me sentir mal por ele. — disse Regis, depois que o torturador foi embora. — Jogue um osso para ele… dê a ele um grunhido ou um estremecimento, pelo menos.

Estiquei meus braços e pernas enquanto as feridas cicatrizavam rapidamente. Ao passar algumas horas todos os dias concentrando-me em absorver o éter da atmosfera, fui capaz de compensar o custo de curar as muitas feridas deixadas pelo torturador dos Granbehls.

— Então, mais um dia estimulante gasto olhando para aquele seu brinquedo? — Regis perguntou enquanto eu reclinava em minha cama e puxava o brinquedo parecido com uma fruta seca. — Estou morrendo de vontade de sair e esticar as pernas.

— Você sabe que não podemos fazer isso agora. — disse a ele pela décima vez.

Uma garra violeta cresceu do meu dedo e eu a deslizei na fenda na base da fruta seca. Depois de sacudir a semente por dentro até que descansasse sobre o buraco deixado pelo caule da fruta, puxei com a garra.

O éter segurou por um momento antes de se dobrar e perder sua forma como argila úmida.

Suspirei antes de reformar a garra e tentar novamente.

Quando Three Steps e eu treinamos Passo de Deus juntos, ela foi capaz de me mostrar como mudar meu foco e ver o mundo de forma diferente. Tinha certeza de que também devia haver algum tipo de “truque mental” para usar o éter para tomar uma forma física, mas me senti preso no mesmo padrão, fazendo a mesma coisa indefinidamente.

Ainda assim, isso acalmou minha mente para me concentrar inteiramente em invocar a garra de éter. Passei horas tentando arrancar a semente e, embora todas as tentativas falhassem, não fiquei frustrado com isso. Parecia certo de alguma forma, como se isso fosse o que Three Steps pretendia.

Eventualmente, entretanto, tive que admitir quando fiz o suficiente por um dia e guardei o brinquedo de volta na runa dimensional.

Os pensamentos sobre Tessia começaram a flutuar no momento em que parei de me concentrar. Não tinha intenção de confrontar esses pensamentos agora e procurei outra coisa para me manter ocupado.

O hábito me fez retirar a relíquia da visão. Estava enfadonha e sem vida; eu a usei novamente apenas um dia atrás para verificar minha irmã e minha mãe. Primeiro, tentei encontrar Tessia novamente, mas falhou, como antes. Depois disso, observei Ellie treinar com Helen até o poder da pedra desaparecer.

— Aí está aquele sorriso bobo de novo. Você está pensando na sua irmã de novo, hein? — Regis perguntou, invadindo meus pensamentos.

— Sim. Ela está se tornando uma maga muito talentosa, sabe? E corajosa…

— Mesmo assim, você ainda se preocupa com a vida amorosa dela. — resmungou Regis.

Soltei um gemido.

— Já chega de todo o rótulo de irmão superprotetor. Eu ficaria… feliz se ela encontrasse um cara legal que a fizesse feliz.

— Diga isso para a cama que você acabou de dobrar com a mão nua.

Olhei para baixo para ver que o tubo de metal usado para sustentar a cama estava amassado.

— Isso não diz nada. — retruquei, endireitando a grade densa.

— Apenas prometa não forçar os aspirantes a pretendentes de sua irmã a vencê-lo em um duelo ou alguma merda assim…

— Isso realmente não é uma ideia ru—

Passos hesitantes na escada interromperam nossa conversa, e rapidamente guardei a relíquia e me levantei, de frente para o corredor sombrio.

A pessoa que estava do outro lado era familiar, mas ela mudou muito desde a última vez que a vi.

— Olá, Ada. — disse, mantendo meu tom e expressão plana e calma.

A irmã mais nova dos Granbehl tinha cortado seu longo cabelo loiro, então era mais curto que o meu. Ela havia perdido peso também, tornando seus traços de menina mais nítidos e maduros, mas também magros e meio… assombrados, de certa forma.

O fato de ela ter vindo me ver não foi tão surpreendente; estava esperando por isso. A morte de seus irmãos e de sua melhor amiga nas Relictombs foi horrível, mas embora tivesse me culpado na época, sabia que eu não matei Kalon, Ezra ou Riah.

A garota Alacryana não respondeu, apenas me observou com seus olhos brilhantes e frios.

— Ela só vai, tipo, ficar olhando para você, ou o quê? — Regis perguntou. — É meio assustador.

Dei um passo lento em direção à porta, tentando parecer o menos ameaçador possível. Ada recuou de qualquer maneira.

— Ada, ouça—

— Não. —disse, sua voz rouca. — Não quero ouvir nada que você tenha a dizer!

— Então, por que está aqui? — perguntei simplesmente. Se eu pudesse falar com Ada, então o sangue dela teria que abandonar as acusações.

— É sua culpa…

Eu respondi com um aceno suave de minha cabeça.

— Eu não os matei, nenhum deles. Você sabe disso, Ada.

— Mas você matou! — sua voz falhou, e eu não pude deixar de me perguntar se ela não a tinha usado muito desde que voltou das Relictombs. — Você nos levou para aquele lugar. V-você sabia que isso iria nos matar!

O rosto magro de Ada se contorceu em uma careta enquanto suprimia as lágrimas que cresciam em seus olhos.

— Você sabia… — repetiu, sua voz quase um sussurro.

Respirei fundo. A verdade é que eu sabia que minha presença tornava as Relictombs mais perigosas para os ascendentes regulares. E talvez eu realmente não tenha me importado com o que isso significava na época. Esses Alacryanos eram, são, eu me lembrei, meus inimigos. Realmente importava se alguns morressem no caminho porque não conseguiram me acompanhar? Meu objetivo não era fazer amigos ou cuidar de um bando de magos que imediatamente tentariam me matar se descobrissem quem eu realmente era.

Pensei no sorriso amigável de Kalon e na postura protetora de Ezra e no olhar desconfiado. Sua família, seu sangue, era o tipo de pessoa que mantinha um torturador na equipe e nas celas do porão.

Kalon e Ezra provavelmente seriam tão ruins quanto seu pai, com o tempo.

— Ou talvez eles tivessem mudado as coisas no sangue deles, sabe? — Regis concordou descaradamente. — Quero dizer… se eles tivessem sobrevivido.

— Obrigado por isso. — atirei de volta.

— Qual é o sentido de ter uma voz na sua cabeça se isso não lhe dá uma perspectiva?

Ada, que estava me observando em silêncio enquanto eu ia e voltava com Regis, respirou fundo, estremecendo.

— E a pi-pior parte é que você nem liga. Minha me-melhor amiga, meus irmãos morreram por sua causa, e você não se importa.

Eu encarei de volta, a expressão fixa.

— Você teria se importado com a minha morte? Um completo estranho que você conheceu poucos dias antes?

— Cale a boca! — retrucou, sua voz áspera presa na garganta. — Você é um monstro… pior do que aquelas criaturas nas R-Relictombs…

— Você pode estar certa sobre isso.

— Se você não estivesse lá, Kalon teria mantido todos nós seguros! E-e se eu não tivesse tocado naquele espelho idiota… — Ada ficou em silêncio, suas mãos pequenas e pálidas cerradas em punhos e ombros trêmulos.

Soltei um suspiro, apenas sendo capaz de vê-la como uma criança ferida e não como a horrível Alacryana que teria tornado essa conversa muito mais fácil.

— Não é sua culpa. — finalmente disse.

A cabeça de Ada se ergueu, seus olhos avermelhados brilhando.

— Ninguém disse—

— Não, mas é por isso que você veio aqui, certo? Porque em algum ponto de tudo isso, você parou de acreditar em suas próprias palavras. — Meu olhar caiu quando me lembrei de ter visto tudo de dentro da pedra angular… preso e incapaz de ajudar.

As sobrancelhas de Ada franziram quando ela abriu a boca para responder, mas as palavras ficaram presas em sua garganta.

Encostei-me na parede ao lado da porta e deslizei até sentar na pedra dura.

— Ao contrário do que você pode acreditar depois de me ver nas Relictombs, consegui viver tanto tempo e chegar tão longe apenas por causa dos sacrifícios que outros fizeram por mim.

Pensei em Sylvia me empurrando pelo portal quando criança, e em Sylvie sacrificando sua vida para me curar.

— E toda vez que alguém que eu amava morria apenas para que eu pudesse viver, eu não me concentraria em mais nada além de procurar os responsáveis. Mesmo que isso significasse correr atrás das sombras.

Ada bateu o pé no chão de pedra.

— Porque você está me dizendo essas coisas? Qual é o ponto disso?

Dei de ombros.

— Porque espero que me punir pela morte de seus irmãos pelo menos ajude você a se sentir menos culpada por sobreviver.

Ada segurou uma das mãos com força na outra.

— Não estou fazendo isso por culpa! Estou fazendo isso para me vingar por eles. Pelo que você fez a eles!

Esperei, deixando-a gritar.

— Por que você está me olhando assim? — As lágrimas começaram a escorrer livremente por suas bochechas. — Por que você está me olhando assim?!

— Porque eu estive onde você está agora, e não é algo que eu gostaria que alguém tivesse que passar. — disse calmamente.

Escutei seus passos apressados enquanto ela corria pelo corredor subindo as escadas, e senti um entorpecimento preocupante tomar conta de mim.

Permanecendo no chão, me inclinei contra a parede fria enquanto seus passos ficavam mais fracos. Uma parte de mim esperava que ela voltasse, mas outra parte achou realmente mais fácil ser torturado.

Os últimos passos ecoaram pelos corredores antes que um silêncio solitário preenchesse seu lugar.

O que, nenhum comentário sarcástico, Regis?

— E interromper sua merecida auto aversão? — Regis respondeu. — Até eu sei quando não é um momento apropriado para fazer uma observação inadequada.

Levantei uma sobrancelha.

— Existe um momento apropriado para fazer uma observação inadequada?

— Claro, se você for tão inteligente e engraçado quanto eu.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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