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O Começo Depois do Fim – Cap. 310 – A Montanha

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— Grey. Não vou fingir que sei que tipo de costumes e rituais que essas tribos podem ter. — Caera tocou o sangue de Swiftsure, que estava espalhado sobre suas roupas e parte de seu rosto.— Mas isso parece o tipo de coisa que seria universalmente desrespeitosa.

— Pare de se incomodar. — respondi, espalhando um pouco do sangue para que parecesse mais natural.

— Ah, que visão fofa. — Regis entrou na conversa, deitado no chão nevado próximo com um sorriso divertido. — Nada significa amor como pintar um ao outro com o sangue de seus inimigos.

— Nada sobre isso é “fofo”, e não é certo que Swiftsure fosse um inimigo. — Caera bufou.

Esfreguei a neve entre minhas mãos manchadas de sangue para limpar um pouco.

— Apenas ignore quando ele disser merdas estúpidas como essa. Isso só vai encorajá-lo.

— Ei! Não sou um “cachorrinho” que precisa ser treinado! — Regis latiu, sua crina em chamas tremulando.

— Você tem razão. — virei-me para Regis e sorri pacientemente. — Um cachorro teria pelo menos a decência de ficar de mau humor quando fosse repreendido. — Caera soltou uma risada quando Regis estalou em frustração.

Percebendo sua crina tremendo ainda mais loucamente com os ventos crescentes, olhei para cima para ver que o céu estava quase totalmente cinza agora.

— Ei! Ainda estou falando com você, princesa! Eu sou o amálgama de vários seres Asuranos poderosos o suficiente para—

— Vamos andando. — disse, interrompendo-o. — Eu não acho que temos muito tempo até que isso se transforme em uma tempestade de verdade. — Regis olhou para mim antes de pular de volta para o meu corpo.

Estendi minha mão para Caera.

— Vamos nos teletransportar passando pelo cume da montanha onde avistamos a aldeia dos Garras Sombrias. Não quero arriscar usar éter em qualquer lugar mais perto.

Ela pegou minha mão, mas estava balançando a cabeça sem acreditar.

— O fato de que posso aceitar tão casualmente que iremos nos teletransportar me faz sentir como se tivesse perdido algo…

Puxando-a para perto, acionei Passo de Deus, seguindo o caminho etéreo que havia traçado mentalmente em nossa primeira corrida. No intervalo de vários segundos, estávamos parados na borda afiada de pedra que cercava o santuário escondido da tribo.

De lá, viajamos a pé. Não foi uma escalada difícil, mas demorou, e fomos fustigados por ventos gelados e cegados pela neve que caía antes de chegarmos a uma alcova rasa olhando para as cabanas de tecido agora claramente visíveis, mesmo em meio à tempestade crescente. A última parte do plano exigia que não apenas nós dois, mas Regis também estivesse visível.

— Como planejamos. — sussurrei.

— Não que eu me importe em posar com força e intimidação, mas não vejo como minha presença nos ajudará. — disse Regis suavemente.

Caera acenou com a cabeça.

— Também estou curiosa.

— Eu só percebi que lobos e leopardos são… próximos o suficiente. — encolhi os ombros, mantendo um olho na aldeia. — Vai saber. Talvez você faça alguns amigos.

— É difícil argumentar contra essa lógica. — disse Regis sarcasticamente.

Imbuindo éter em meus olhos para complementar minha visão naturalmente aprimorada, estudei os detalhes e as atividades que aconteciam na aldeia. As cabanas de tecido em que moravam os Garras Sombrias tinham a forma vagamente de colmeias e eram feitas de camadas sobrepostas de grama trançada cor de palha. Cada estrutura era equipada com uma porta simples tecida em uma moldura feita de varas tratadas.

Embora o vento ainda uivasse, a aldeia estava protegida do pior. Na verdade, toda a cavidade em que foi construída não tinha neve. Um punhado de árvores pequenas e retorcidas com folhas largas e escuras decoravam os caminhos de terra compactados entre as casas, uma grama densa e profunda crescia em todos os outros lugares.

Em um pedaço circular de terra arenosa, quatro Garras Sombrias pareciam estar… treinando. Quando chegamos, os dois pares estavam atacando um ao outro, embora sem suas garras. Enquanto observávamos, eles pararam de lutar, curvaram-se uns para os outros e começaram uma série de movimentos idênticos que foram claramente ensaiados.

Seu estilo de combate era fascinante de assistir. Eles enfatizavam ataques rápidos em áreas vitais e estavam sempre em movimento. Cada golpe ou balanço de uma pata os levava pelo menos três passos de sua posição inicial, e cada ataque era entrelaçado com uma manobra defensiva.

Embora não usassem ativamente suas habilidades de éter durante o treinamento, podia ver como os saltos repentinos ou os saltos metralhados foram feitos para simular sua habilidade de teletransporte. Enquanto os observava, desejei poder falar com eles e aprender sobre a manipulação do éter.

Se tudo correr bem, talvez eu tenha uma chance, pensei, repassando o que planejei dizer e fazer pela última vez.

— Prontos? — Eu perguntei aos outros, mantendo minha voz baixa. Ambos assentiram.

Tirando o cadáver de Swiftsure da minha runa dimensional, agarrei-o pelo pescoço arruinado e saltei da alcova para dentro da aldeia, pousando entre a área de treinamento circular e a parede externa. Caera e Regis pularam logo atrás de mim.

As quatro Garras Sombrias mais próximas uivaram em alarme, se afastando de nós e agachando-se. Éter flamejou ao redor delas enquanto conjuravam suas garras.

Mais vieram correndo ao redor da aldeia, irrompendo porta afora ou simplesmente aparecendo na nossa frente usando seu teletransporte etérico, cada um rosnando, garras para fora e prontos para lutar.

Levantei o cadáver rígido acima da minha cabeça, depois me abaixei sobre um joelho e me curvei para frente, deixando o corpo de Swiftsure rolar de minhas mãos na grama densa.

Ao meu lado, sabia que Caera e Regis estavam copiando meu arco, cada um de nós expondo a nuca para a multidão de Garras Sombrias. Escutei atentamente o som silencioso de uma única Garras Sombria se aproximando cautelosamente.

Espiei através da minha cortina de cabelo de trigo claro e observei enquanto a criatura parecida com um gato cutucava o cadáver, fazendo o pescoço rolar e revelando a garganta rasgada, que Regis havia mastigado para esconder os cortes finos como navalhas.

Ela dizia algo com uma voz estridente e chorosa e arrisquei erguer a cabeça uma fração de centímetro para ver melhor. A Garras Sombria era claramente velha, seu pelo branco e espesso havia perdido o brilho, as manchas pretas se transformando em cinza. Sua cabeça girou quando me movi e ela voltou para uma postura defensiva.

Muito lenta e calmamente, meus olhos no chão, eu disse.

— Por favor, não queremos fazer mal a vocês. Viemos em busca de sua ajuda. Alguém de seu povo fala nossa língua?

Outro Garras Sombrias, este mais alto que o resto, saiu da multidão, que havia formado um semicírculo ao nosso redor, e gesticulou em minha direção. Ele começou a falar em sua linguagem sibilante e chorosa, sua voz era o rosnado baixo de um leopardo furioso.

— Isso não parece estar indo bem. — disse Regis, projetando seus pensamentos em minha mente.

— Seja paciente. Eles não atacaram imediatamente, que é exatamente o que esperávamos.

Um terceiro Garras Sombrias, tão velho e curvado que andava com a ajuda de uma bengala, deu um passo à frente e respondeu ao mais alto, que me lançou um olhar furioso, fez uma reverência e voltou para trás.

A aldeia ficou em silêncio, exceto pelo barulho do vento batendo nas paredes de pedra. Resisti ao desejo de me vestir com éter enquanto esperava que algo acontecesse. Mesmo se não nos atacassem, não sabia qual era sua capacidade de comunicação, ou se nos dariam seu pedaço da moldura do portal, uma vez que os fizéssemos entender nosso propósito.

Se nos atacassem, eu estava confiante de que poderia lutar contra eles, mesmo considerando nossa posição estratégica ruim, mas eu realmente esperava que não fosse esse o caso. Quanto mais eles esperavam, porém, menos provável parecia uma luta.

Finalmente, a Garras Sombria que veio inspecionar os restos mortais de Swiftsure disse algo, e outros dois correram para recolher o corpo, levando-o para fora de vista. Então a criatura parecida com um gato se sentou na minha frente, as pernas cruzadas. Com uma pata, ele gesticulou para que eu me sentasse.

Movendo-me, sentei-me na grama, cruzando as próprias pernas e apoiando as mãos nos joelhos, com as palmas para cima. Atrás de mim, ouvi Caera e Regis arrastando os pés também.

Os olhos do Garras Sombria brilhavam como ametistas, embora eles não parecessem estar olhando para mim diretamente. Em vez disso, olhava ao meu redor, seu olhar viajando pelas bordas da minha forma física como se pudesse ver o calor irradiando do meu corpo.

Ou meu éter, percebi.

Lentamente, muito lentamente, uma larga pata estendeu-se em direção à minha palma voltada para cima. Não havia malevolência no movimento, então fiquei imóvel, observando, profundamente curioso sobre o que aquela criatura poderia fazer.

A almofada macia da pata da Garras Sombrias tocou minha mão e, por um momento, nada aconteceu. E então tudo mudou.

A pacata aldeia de cabanas tecidas nas montanhas havia desaparecido, assim como as pequenas árvores frutíferas atrofiadas e a multidão de gatos preocupados. Até mesmo o sopro constante do vento havia desaparecido.

Me sentia como se estivesse flutuando no espaço, embora não estivesse exatamente flutuando. Eu realmente não era nada. Antes que o medo pudesse se instalar, no entanto, cor e luz vazaram do vazio, transformando-se em imagens em movimento, como se eu tivesse fechado os olhos e estivesse visualizando uma lembrança favorita.

Exceto que não era minha memória. Assisti enquanto dois gatinhos Garras Sombrias perseguiam um ao outro pela vila. Um, o perseguidor, uivava com raiva. O outro pegou alguma coisa. Enquanto eles corriam em direção à piscina, de repente eu estava na frente deles, forçando os dois gatinhos a parar.

Calmamente, peguei o objeto, um pequeno galho com um punhado de frutas roxas nele, arranquei as frutas uma a uma do galho e dei a cada criança um número igual.

— Sejam gentis um com o outro e compartilhem. — disse simplesmente, embora minhas palavras saíssem na linguagem das Garras Sombrias.

Então a visão se desfez e foi substituída por outra. Desta vez, estava olhando para mim mesmo, curvando-me, o corpo de Swiftsure deitado desajeitadamente diante de mim. Revivi os momentos após nossa chegada à vila novamente, embora desta vez fosse da perspectiva desta Garras Sombrias.

Embora eu ainda não tenha ouvido as “palavras” como palavras, entendi seu significado quando o alto Garras Sombrias, Left Tooth, falou, se dirigindo a mim.

— Three Steps, está claro que deve ser alguma armadilha dos diabólicos Bicos de Lança. Devemos matar essas criaturas rapidamente antes de cairmos sob seu poder.

O outro Garras Sombrias, Sleep-in-Snow, saiu da multidão e disse:

— Tome cuidado, Left Tooth, para que seu medo não faça crescer penas e um bico. Deixe-nos ver suas mentes e saber seu propósito.

Então a visão se desvaneceu e tudo ficou escuro e branco novamente. Tive uma sensação de… expectativa.

Pensei ter entendido o que a criatura queria. Ela não falava minha língua, mas compartilhando nossas memórias, podíamos nos comunicar. Poderia explicar para que viemos.

Foi delicado. Tive de trazer a memória certa sem pensar em nada que pudesse perturbar nossos anfitriões, mas não tinha como saber se o próprio tópico, nossa busca pelas peças do portal, iria irritá-los.

Primeiro, compartilhei a memória de Caera e eu parados diante da arcada quebrada e minha tentativa de consertá-la com éter. Em seguida, repassei a batalha com o Urso Fantasma, incluindo minha conversa com Caera sobre não querer lutar contra ele. Decidindo arriscar, finalmente me concentrei na memória do ancião Quatro Punhos gesticulando para que eu pegasse a peça do portal do clã.

Essa comunicação por memória foi um processo lento, auxiliado apenas pelo fato de que eu tinha muita experiência com comunicação mental por meio de Sylvie. Espontaneamente, a memória de nossos últimos momentos juntos brincou na escuridão. Assisti com horror quando seu corpo se tornou etéreo e se partiu em partículas de ouro e lavanda.

Forcei a memória para longe antes que ela se fosse completamente, como se fazendo isso eu pudesse evitar que já tivesse acontecido, e esperava que a Garras Sombrias não se ofendesse com minha memória não intencional. Tudo estava em branco e silencioso mais uma vez.

Enquanto esperava por uma resposta, fiquei ansioso, imaginando como Regis e Caera estavam. Embora meu companheiro lobo pudesse ser capaz de controlar, Caera definitivamente não tinha nenhum treinamento em comunicação mental. Se um dos Garras Sombrias decidir se comunicar com ela, nossos planos já eram.

Felizmente, a conexão foi interrompida sem problemas e o mundo voltou à existência girando ao meu redor. Three Step se desenrolou de sua posição sentada, usando sua cauda grossa para colocá-la de pé. Ela então gesticulou para que nos levantássemos também.

Olhei para trás. Caera e Regis não se moveram, embora ambos estivessem me olhando nervosamente.

— Onde diabos você esteve, hein? — Regis perguntou, tocando minha mente. — Você meio que… foi embora por um tempo quando aquela coisa tocou em você. Não pude sentir sua mente de forma alguma.

Levantei-me e ofereci minha mão a Caera, mas ela se levantou sem minha ajuda. Voltando-me para Regis em vez disso, disse apenas.

— Fizemos algum progresso.

Three Steps anunciou algo para o resto do clã Garras Sombrias, enviando uma onda através das vinte criaturas. Alguns curvaram-se respeitosamente. Vários olhares de surpresa suprimidos rapidamente, mas Left Tooth e dois outros balançaram a cabeça em descrença e pareciam que iam discutir.

Antes que pudessem, entretanto, Sleep-in-Snow bateu a ponta de sua bengala no chão congelado e falou brevemente. O que quer que tenha sido dito, parecia suprimir qualquer tensão crescente, pelo menos por enquanto.

O semicírculo de Garras Sombrias abriu, permitindo que Three Steps passasse. Ela gesticulou para que eu a seguisse, o que eu fiz. Observei Left Tooth com o canto do olho enquanto passávamos pela fila de pessoas-gatos, a maioria das quais não era mais alta do que meu ombro, mas ele permaneceu imóvel. Three Steps me conduziu pela cidade até uma casa humilde próxima à piscina de água, então segurou a porta aberta e acenou para que entrássemos, o que fizemos.

O interior era simples, assim como nas vilas Bicos de Lança e Quatro Punhos. Um tapete de grama trançada cobria grande parte do chão, enquanto uma cama redonda de grama amarela estava pressionada contra a parede oposta. Um cocar de penas brancas pendurado logo após a porta, e uma pequena pilha de pratos de ardósia estava ao lado da cama. Como a imagem que encontramos na Garras Sombria morta, a placa superior estava gravada, embora eu não conseguisse distinguir a imagem.

— O espaço é um pouco apertado aqui. — transmiti para meu companheiro. — Por que você não permanece no modo de espera enquanto recarrega?

— Hora da refeição. — o lobo das sombras disse, lambendo seu focinho antes de pular em mim e desaparecer em meu corpo.

Three Steps observou isso com atenção, seus olhos brilhantes se arregalaram quando Regis desapareceu. Então a velha Garras Sombria se inclinou para frente, olhando atentamente para o meu peito, e seus olhos se arregalaram ainda mais. Ela disse algo em sua própria língua, parou e balançou a cabeça. Apontou para onde Regis estivera, depois apontou para meu peito.

Afirmei com a cabeça.

Three Steps soltou uma risada aguda e alta, surpreendendo a mim e Caera. Ela estava sorrindo descontroladamente, embora eu não pudesse ter certeza do que ela achava tão divertido. Vendo minha expressão confusa, ela gesticulou para minhas mãos, que estendi, depois pressionei suas patas macias nelas novamente.

Não fui tirado do mundo dessa vez, embora ainda recebesse uma visão da memória de Three Steps. Seis Garras Sombrias estavam parados na área de treinamento circular do outro lado da vila. Eu estava explicando algo.

Estávamos discutindo a natureza do poder dos Criadores, como cada tribo foi dotada de habilidades únicas que atendiam às suas necessidades. Estava explicando como eles nunca deveriam parar de escalar a montanha do conhecimento porque ela não tinha pico. Só porque eles nunca tinham visto nada ser feito, não significava que não pudesse ser feito.

Após a palestra, começaram a praticar com suas garras e sua habilidade de teletransporte. Corrigi-os e encorajei-os, forneci orientação e feedback, através da memória, comecei a compreender um pouco como eles usavam o éter.

Para os Garras Sombrias, invocar o éter era tão natural quanto usar seus pulmões para respirar ou seus corações para bombear sangue. Era provável que os djinn, seus Criadores, presumi, tivessem dado a eles essas habilidades, assim como a quimera havia manipulado o éter sem saber para se mover, lutar e até mesmo se reconstruir.

A velocidade com que se teletransportaram foi impressionante. Não precisaram parar e procurar o caminho correto como eu fazia, algo que atrapalhou minha habilidade de usar o Passo de Deus em combate.

A visão terminou e Three Steps puxou suas mãos, mas eu tive uma ideia. Mudei minhas palmas voltadas para cima em direção a ela, tentando comunicar que queria me conectar novamente. Ela pareceu entender o que eu quis dizer e tocou minhas mãos.

Enviei fragmentos de memória a ela durante minha jornada pelas Relictombs. Em cada um, eu praticava alguma forma de arte do éter, tentando aprender a controlar minhas novas habilidades, aprimorá-las e melhorar seu uso.

Demorou vários minutos, mas quando interrompi a conexão, pude sentir a fome de conhecimento que emanava de Three Steps. Nossas mãos mal se separaram quando ela as pressionou de volta e outra memória encheu minha mente.

Eu estava sentado ao lado de Sleeps-in-snow, em algum lugar nos picos escarpados acima da aldeia. Estávamos conversando, dançando em torno de um assunto que eu queria abordar, mas estava nervoso para fazer isso.

Sleeps-in-snow não era tão velho tanto quanto eu o vi poucos minutos atrás. Ele ainda não tinha começado a usar a bengala.

— O que é esse pensamento que vejo escondido atrás de seus olhos, Three Steps? Ele me perguntou, seus próprios olhos roxos tempestuosos cavando nos meus.

— Qual é o nosso propósito, Sleeps-in-snow?

O velho Garras Sombrias me observou atentamente por alguns longos momentos antes de responder.

— Qual é o propósito da montanha? Ou da neve? Ou do peixe no riacho?

Esperava uma resposta como esta.

— A montanha é nossa casa, a neve nossa proteção e os peixes enchem nossa barriga quando ficamos com fome.

— É assim que essas coisas tocam nossas vidas, sim, Three Steps, mas é o propósito delas?

Sleep-in-Snow manteve o rosto cuidadosamente em branco, mas havia algo de provocador em seu tom.

Pressionei minha pata em um monte de neve em branco, em seguida, puxei-o com cuidado, deixando para trás uma marca perfeita.

— Eles próprios não têm um propósito inerente. Cabe a nós decidir seu propósito.

O Sleep-in-Snow levantou uma sobrancelha ao responder em um tom desafiador.

— E quem é você para decidir tal coisa? Você é o mestre das montanhas e das neves para dizer a eles qual deve ser o propósito deles?

Balancei minha cabeça, percebendo que havia caído em sua armadilha.

— Não, eu não sou o mestre das montanhas ou das neves.

Relaxando em um sorriso compreensivo, Sleep-in-Snow envolveu seu rabo em volta do meu ombro.

— Mentes mais claras e mais profundas do que as nossas têm ponderado a questão de nosso propósito. Somente escalando a montanha da sabedoria podemos ver mais do que está ao nosso redor.

— E se nunca subirmos o suficiente para encontrar as respostas que buscamos?

Sleep-in-Snow espreguiçou-se e bocejou, e o estalo de suas velhas juntas ecoou pela encosta do penhasco.

— Então, espere que seus alunos escalem mais alto do que você, quando for a vez deles.

Minhas pálpebras se abriram quando terminou. Nem percebi que tinha fechado os olhos, mas essa memória parecia muito mais intensa do que as outras. Não pude evitar a sensação de que algo muito particular me foi mostrado.

Three Steps observava meu rosto de perto, embora eu não tivesse ideia de quão bem ela podia ler minhas feições. O que eu sabia era que ela estava faminta por conhecimento e era possível que tivesse tanto a me ensinar sobre o éter quanto eu poderia lhe ensinar.

— Grey? — Caera disse baixinho ao meu lado, me fazendo pular. Quase esqueci que ela estava lá. — Sem querer interromper, mas qual é o plano? Somos convidados aqui? Somos prisioneiros?

Eu fechei os olhos em Three Steps antes de me virar de volta para ela.

— Somos convidados.

A nobre Alacryana soltou um suspiro, seus chifres praticamente cedendo de alívio.

— E a peça do portal… você acha que eles estão dispostos a nos dar?

— Ainda não perguntei. — respondi. — Por enquanto, acho que devemos ficar aqui e esperar a tempestade passar.

— Isso é mesmo necessário? — Caera perguntou com uma carranca. — Já passamos tanto tempo nesta zona…

Sua voz sumiu enquanto eu olhava para ela, realmente olhava para ela. Ela estava se segurando forte sem reclamar, mas Caera definitivamente tinha perdido peso e sua pele não era saudável. Suas bochechas, manchadas de sujeira e sangue, estavam afundadas, e bolsas escuras agarradas sob seus olhos por falta de sono adequado.

Ela estava me seguindo, alguém que mal precisava de comida, água ou sono para sobreviver, e o fez sem protestar.

Ela não podia reclamar, já que era ela quem mentia e se escondia para me seguir. Apesar de quem ela era e do que seu sangue implicava, uma pequena parte de mim se sentia mal.

— Vamos descansar um pouco. — eu disse suavemente. — Vou perguntar se podemos nos lavar e vou vigiar enquanto você dorme.

Caera assentiu sem palavras, mas um leve sorriso apareceu em seus lábios.

— Aguente firme. — acrescentei.

Ainda precisávamos encontrar os Urso Fantasmas e as “coisas selvagens”, então descobrir como voltar para os Bicos de Lança.

Mas antes de tudo isso, eu precisava ficar aqui. Não podia simplesmente ignorar a chance de aprender com as Garras Sombrias. Não apenas sua habilidade de se teletransportar em distâncias curtas, mas sua habilidade de conjurar suas armas mais mortais completamente com o éter.

Talvez eu não precisasse encontrar uma substituta para Canção do Amanhecer. Eu poderia apenas fazer uma.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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