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O Começo Depois do Fim – Cap. 286 – Uma vez na vida

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Me senti um pouco mal.

O filho do chefe Mason, Braxton, havia vencido o torneio dos atacantes, o que significa que ele seria enviado para Cidade de Aramoor para se tornar um estudante na Academia Stormcove. Em qualquer outro dia, Braxton teria sido o centro das atenções por sua vitória e alvo da inveja de seus colegas e até mesmo dos pais deles. Não apenas Braxton, mas o status de toda a sua família aumentaria dentro de Maerin e, se ele fosse bem em Stormcove, em toda a cidade de Aramoor.

No entanto, após Cromely ter parabenizado Braxton por vencer o torneio e expressado sem entusiasmo que estava ansioso para vê-lo em Stormcove, o velho representante praticamente empurrou o pobre garoto para fora do palco e anunciou um “evento único” na vida para os cidadãos das quatro cidades reunidas aqui hoje.

A multidão rapidamente se esqueceu da exibição e explodiu em gritos quando seus dois alunos e eu entramos no palco com Cromely parado entre nós. Os trabalhadores moveram a palanque que haviam usado para a fase de luta dos alunos, já que precisaríamos de mais espaço, deixando apenas o chão de terra nivelado da arena.

— Obrigado por concordar em treinar contra nós. — Pallisun gritou a cerca de uma dúzia de metros de distância enquanto permanecia ao lado de Aphene. — Estávamos com medo de que você recusasse.

— O prazer é meu. — disse com um sorriso, ignorando o tom arrogante em sua gratidão.

Ele e sua companheira haviam tirado suas vestes mais formais. Enquanto suas armaduras pareciam mais uma declaração de moda do que roupas de batalha funcionais, suas armas já eram outra história.

Pallisun retirou um escudo caixão, que era quase tão alto quanto ele e duas vezes mais largo, de seu anel dimensional. Aphene, por outro lado, agarrou uma espada claymore com uma lâmina perolada em sua mão direita enquanto uma braçadeira de prata cobria seu braço esquerdo inteiro.

— Seguindo as regras padrão de duelos não letais, armas são permitidas, mas devem ser contundentes. — Cromely anunciou enquanto se colocava entre nós para mediar.

Os três esperaram em silêncio que eu retirasse minhas armas, mas acenei com a mão.

— Vou lutar com as mãos vazias.

Aphene deu um passo à frente, com seus olhos estreitados.

— Você quer culpar a falta de uma arma por sua derrota, Ascendente Grey?

— Nnngh! Eles são tão atrevidos. — Regis rosnou, eriçado de raiva dentro de mim.

— Prometo culpar apenas a mim mesmo pela derrota. — respondi calmamente antes de me virar para Cromely. — Agora, podemos começar?

O velho tossiu antes de começar a recuar vários passos, erguendo a mão direita no ar.

— Comecem!  — Cromely amarrou o cinto enquanto abaixava a mão.

Imediatamente, a multidão começou a aplaudir quando Pallisun ergueu seu escudo para cobrir a ele e sua parceira, enquanto me estudava de perto.

Agora que pensei sobre isso, eles não faziam ideia se eu era um conjurador, escudo ou atacante.

Após uma breve pausa, os dois avançaram. Embora ambos estivessem escondidos atrás do grande escudo, podia sentir Aphene se preparando para um ataque ao usar o éter ambiental ao redor deles.

Assumindo uma postura de duelo com os dois braços relaxados ao lado do corpo, ponderei como abordar isso. Pelas manifestações visíveis de mana emanando dos dois, era seguro presumir que seus níveis rivalizavam com o de um aventureiro de ranque A, provavelmente mais.

Com minhas reservas de éter mal na marca de dez por cento, havia apenas perigo o bastante para me manter alerta.

Pallisun levantou uma tempestade de poeira atrás dele continuando sua investida em minha direção. Esquivar-se para fora do caminho era deveras simples, porém Aphene estava esperando por isso, brandindo sua claymore.

O cabelo escuro de Aphene esvoaçava com o vento ao mesmo passo que traçava um arco amplo, seguindo com uma estocada.

Enquanto isso, Pallisun fez uma curva acentuada auxiliado por rajadas precisas de vento até que seu escudo cintilou a poucos metros de distância, como um touro empinando seus chifres.

— Você vai ter que fazer mais do que apenas se esquivar! — O estudante empunhando o escudo rugiu.

Seus movimentos eram bem treinados e sem aberturas gritantes. Aphene usou Pallisun como proteção, e uma obstrução para limitar minha visão sobre ela, enquanto lançava uma série de ataques. Com os dois lutando assim juntos, não duvidaria se sua capacidade rivalizasse até mesmo com um aventureiro veterano de ranque AA.

Infelizmente, com minha experiência complementada pelos reflexos desumanos que herdei, eles poderiam muito bem estar gritando seus movimentos.

Girando no meu pé da frente, redirecionei a próxima estocada de Aphene com minha mão contra a parte plana de sua lâmina. Ao mesmo tempo, bati meu pé de trás no chão no momento em que Pallisun estava prestes a me enfrentar.

Com meu pé obstruindo a investida de Pallisun, voou por cima do meu ombro, mal conseguindo segurar o escudo. Aphene colocou a maior parte de seu peso naquela estocada, fazendo seu corpo balançar para frente quando seu ataque errou o alvo. Fazendo uso de seu desequilíbrio, eu a acertei com uma palma aberta em quadrado na sua manopla.

Aphene caiu no chão mal conseguindo rolar para ficar de pé. Pallisun se saiu melhor com sua magia do vento que lhe permitiu se reposicionar no ar para pousar habilmente em seus pés.

Parecia que a magia estruturada estampada em suas costas na forma de uma crista ou emblema permitia ao aluno de constituição ampla criar rajadas de vento rápidas e precisas.

Meu olhar se demorou nos dois alunos ingênuos quando suas expressões mudaram para a de raiva emoldurada nitidamente com o rubor de vergonha.

POV APHENE MANDRICK

— O que há com esses rostos? — O ascendente inclinou a cabeça. — Vocês deveriam ter esperado isso de um ascendente, certo?

Estudei o homem que tinha acabado de se opor completamente a todos os nossos movimentos. Apesar de seu corpo tonificado, porém esguio e estado desarmado, não pude deixar de começar a temer este homem. Seus olhos dourados, expressão indiferente e conduta charmosa deveriam ter soado amáveis, mas ele tinha todo o calor de um predador procurando sangue.

Não querendo mostrar qualquer fraqueza, engoli minhas emoções.

— Não queríamos machucar você acidentalmente. Minhas desculpas por subestimar sua destreza. — me levantei e falei com os dentes cerrados. — Isso não vai se repetir.

Pallisun, ao meu lado, abandonou seu escudo como se para acentuar meu ponto. Percebendo que nosso oponente era claramente um atacante, retirou as duas manoplas que havia herdado como o próximo na linha de sucessão do sangue Blather.

O vento zumbia e sibilava enquanto ele fechava os dedos em punho antes de sair correndo ao mesmo tempo em que eu o seguia logo atrás.

Pallisun balançou seu punho coberto pelo vento, atingindo o ar enquanto o ascendente facilmente recuava antes de chutá-lo no peito. Apesar da diferença de peso entre Pallisun poderosamente constituído e o ascendente, meu parceiro se dobrou, ofegante.

Não querendo dar ao ascendente nem mesmo a mínima chance, pulei sobre Pallisun e balancei Harmony para baixo em uma finta. A lâmina cintilante da minha espada assobiou ao cortar o ar bem à frente do ascendente antes de eu canalizar uma torrente de mana para o braço da espada a fim de mudar a trajetória da minha lâmina no meio do movimento.

O movimento da minha própria espada foi um borrão e até eu mal fui capaz de acompanhá-lo, mas de alguma forma, sua mão pálida agarrou meu pulso no ar.

— Nada mal. Apesar de quão fina e bonita sua mão pareça — segurou meu pulso em um aperto de ferro, esquivando-se despreocupadamente quando peguei Harmony com minha mão livre e golpeei.

— Tente de novo. — disse como se fosse meu instrutor e não meu oponente. O ascendente soltou minha mão, então me empurrou em cheio no ombro.

Meu corpo inteiro estremeceu com a força repentina antes que eu girasse com o impacto.

Pallisun conseguiu sair do caminho antes que eu tropeçasse nele. Enquanto nós dois nos recuperávamos, ficamos lado a lado com armas erguidas para defender. No entanto, o ascendente meramente ficou lá com aquela expressão indiferente, quase entediada.

— Bastardo arrogante. — Meu parceiro cuspiu no chão e se endireitou quando redemoinhos de vento envolveram seu corpo inteiro. Me deu um olhar cúmplice e eu balancei a cabeça em compreensão.

Exatamente como temos praticado.

Nós avançamos mais uma vez no ascendente em diferentes ângulos. Cravei meus calcanhares e me preparei para empurrar a ponta de Harmony para ele à alguns poucos passos de alcançá-lo enquanto Pallisun se abaixava e apontava para as pernas.

No entanto, assim que comecei a canalizar o raio através de meu braço e em minha lâmina, o ascendente passou por Pallisun e estava bem na minha frente.

Movendo-se com grande precisão, se esquivou da minha estocada. Então o mundo de repente girou quando me vi no ar.

— Aphene! — A voz de Pallisun soou, tirando-me de meu devaneio.

Uma rajada de vento me orientou o suficiente para poder mirar o feitiço que eu estava canalizando. Soltei a lança voltaica da ponta de minha lâmina enquanto descia.

No entanto, mesmo o elemento mais rápido de todos não poderia pegar o ascendente desprevenido enquanto virava um borrão para longe de vista.

No momento em que meus pés haviam tocado o solo, o ascendente havia tropeçado, girado, batido e enfiado o punho no peito do meu parceiro. Felizmente, Pallisun conseguiu levantar os braços em uma guarda cruzada, mas a pura força do impacto rachou o chão de terra.

Imediatamente, eu chutei para trás para manter minha distância ao invés de tentar lutar de perto contra este monstro.

Balancei Harmony em um arco amplo. Uma onda de choque de relâmpagos arrancou da minha lâmina e se arqueou em direção ao ascendente que estava no topo de Pallisun.

Eu não parei por aí. Concentrando mais mana em meu emblema, desejei que a crescente voltaica se dividisse em mais de uma dúzia de projéteis separados. Levei toda a minha concentração para controlar a natureza caótica do relâmpago na forma que eu queria, mas naquele espaço de tempo, o ascendente arrancou Pallisun do chão e o ergueu para usar como escudo humano.

— Covarde! — Amaldiçoei, dispersando o feitiço pouco antes de atingir meu parceiro.

— Sou eu quem está lutando desarmado. — O ascendente de cabelo de trigo franziu a testa enquanto espiava a cabeça por trás do corpo inconsciente de Pallisun. — Mas estou confuso. Você é uma atacante ou conjuradora?

Ele não está nem mesmo levando isso a sério?

Pallisun e eu tínhamos passado do limiar de um mago de alto nível, ele como escudo e eu como atacante. A evolução de uma das minhas cristas em um emblema me permitiu até mesmo disparar relâmpagos à distância.

Ainda assim, este ascendente que parecia estar usando apenas mana pura, estava nos deixando no chinelo como se fôssemos crianças mal conseguindo andar.

O olhar do ascendente se voltou para Pallisun.

— Você já está consciente?

— Vai se foder! — Meu parceiro rugiu, liberando uma cúpula de aura ao redor deles. O terreno irregular se achatou enquanto eu sentia a força da gravidade pesando sobre mim.

O primeiro emblema de Pallisun teve um grande impacto sobre ele com sua capacidade atual de mana. Se havia decidido usar isso também, eu tampouco poderia me conter.

— Espere! — gritei quando Pallisun se libertou do aperto enfraquecido do ascendente.

Meu parceiro e o ascendente começaram um combate a curta distância. Mas mesmo dentro do campo de gravidade que deveria estar diminuindo seus movimentos, o ascendente parecia desimpedido.

Sem perder tempo, acendi meu segundo emblema.

— Aphene, pare! — ouvi a voz preocupada do meu avô em uma fala arrastada enquanto o mundo inteiro mudava para câmera lenta.

Meu corpo protestou qquando minha mana percorria meu emblema, liberando mana voltaica que pulsava em minhas veias como milhares de pequenas alfinetadas. Podia sentir cada centímetro do meu corpo eletrizado pela energia, renovando minha confiança.

De certa forma, as capacidades do ascendente funcionariam a nosso favor.

Com a filmagem que nosso artefato capturou desta disputa, Pallisun e eu certamente seríamos capazes de entrar em uma academia de ascendente no domínio central.

Meu olhar pulou para o ascendente que, mesmo enquanto lutava contra Pallisun, tinha seu olhar cravado em mim com uma expressão de surpresa pela primeira vez.

Não é surpreendente. A magia interna de raios é rara e este é um emblema de alto nível.

Desconsiderando os gritos do meu avô, me aproximei do duelo deles.

— Pallisun!

O emblema na parte inferior das costas de meu parceiro brilhava por baixo de sua túnica e a cúpula de gravidade elevada condensou-se em torno de suas manoplas para formar uma aura vítrea que turvou o espaço dentro dela.

Sabia que ele era rápido. Não havia sido nada mais que um borrão ou flash de cor durante nossas trocas anteriores. Porém mesmo com meu feitiço de relâmpago interno aumentando muito meus sentidos e reflexos, eu mal fui capaz de acompanhar seus movimentos.

Pallisun conseguiu levantar seus braços para se defender contra o ataque do ascendente, permitindo-me contornar meu parceiro e fazer uma curva em direção ao lado exposto do homem.

O mundo ao meu redor se movia em câmera lenta enquanto meus sentidos captavam tudo, a sujeira sob meus pés, o assobio da lâmina de Harmony cortando o ar e o baque retumbante do punho do ascendente acertando a manopla de Pallisun.

No entanto, antes que eu pudesse finalizar o golpe, o ascendente girou nos calcanhares, fechando a distância entre nós e meu golpe passou inofensivamente nas costas do homem. Ele prendeu meu braço com a espada sob o seu e varreu minhas pernas debaixo de mim.

Eu podia acompanhar cada momento da manobra brilhante do ascendente, desde seu trabalho de pés até sua aparente habilidade de prever a posição do meu balanço enquanto cronometrava seus próprios movimentos. Acompanhar e reagir, no entanto, eram duas histórias diferentes.

Antes que ele pudesse terminar seu movimento, Pallisun conseguiu dar um soco imbuído de gravidade por trás do ascendente.

Não foi surpreendente ver que ele era capaz de se esquivar, talvez um de seus emblemas ou uma regalia tivesse dado a ele um par de olhos atrás de sua cabeça. Desta vez, no entanto, o campo de gravidade em torno da manopla de meu parceiro se expandiu assim que passou pela cabeça do ascendente, empurrando-o apenas o suficiente para que eu me livrasse de seu aperto antes de executar um movimento lateral para me erguer.

Minha perna esquerda latejava como se estivesse pegando fogo com um simples chute, mas consegui colocar peso suficiente nela para acompanhar o ataque de Pallisun com uma varredura horizontal baixa1Seria o mesmo que dar uma rasteira com a espada. com Harmony.

O ascendente girou para trás, esquivando-se do meu ataque e, ao mesmo tempo, enganchando sua perna atrás da parte interna dos joelhos de Pallisun.

Antes que eu pudesse alertar Pallisun, o ascendente chutou a perna para trás e balançou o braço esticado bem em seu rosto.

O pescoço de Pallisun estalou para trás com a força enquanto suas pernas se agitavam no ar antes da parte de trás de sua cabeça se espatifar contra o chão de terra em um estrondo retumbante.

Um grito gutural saiu da minha garganta atacando o ascendente.

Eu consigo fazer isso. Ainda posso ler seus movimentos. Enquanto eu puder ler, posso reagir.

Ele olhou para trás por cima do ombro com um olhar impaciente, fazendo-me estremecer involuntariamente. Se virou para mim e começou a se aproximar.

Correntes de eletricidade enrolaram ao meu redor, me assegurando que eu poderia ganhar essa troca, continuava observando cada centímetro de seu corpo em busca de sinais de seu próximo movimento.

Seu ombro esquerdo se contraiu e eu respondi trazendo Harmony para defender meu lado esquerdo. Então seu ombro direito se contraiu, seguido pelo braço esquerdo se erguendo. Tentei reagir e prever todos os seus movimentos, mas quando chegou ao meu alcance, percebi que sua mão estava em minha garganta.

Seu aperto era suave, com pressão o suficiente para me deixar saber que ele havia vencido.

Ele não tinha simplesmente vencido. Ele usou completamente meu feitiço mais poderoso contra mim.

Retirando minha mana, deixei cair minha espada.

— E-eu perdi.

Foi quando falei que percebi que estava prendendo a respiração. Ao reconhecer minha derrota, meus ombros caíram e o ar preso escapou de meus pulmões.

Fiquei frustrada, desapontada e com inveja do homem que estava em minha frente. Mas, mais do que tudo, percebi que estava aliviada, aliviada por ele não ser meu inimigo de verdade.

Porque eu sabia que se ele tivesse considerado isso uma luta de verdade, não estaria viva.

A arena inteira tremeu com a multidão explodindo em gritos, me tirando dos meus pensamentos.

— Foi uma boa luta. — falou em voz baixa enquanto tirava a mão da minha garganta. — Mas você não deve depender tanto de algo que não faz ideia de como usar corretamente.

— Aphene! — A voz familiar de meu avô soou por trás.

O ascendente deu um tapinha em meu ombro enquanto passava por mim.

— Você tem um nome para esse feitiço?

— Não há um nome oficial para ele nos registros. — murmurei, virando minha cabeça na direção dele. — Eu apenas chamo de relâmpago interno.

Ele olhou para trás com um leve sorriso.

— Que tal chamá-lo de “Impulso Trovão”2Pra quem não sabe ou se lembra, é o nome do feitiço que o Arthur usava em Dicathen na magia de relâmpagos dele.?

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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