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O Começo Depois do Fim – Cap. 284 – Uma Reunião Social

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Os primeiros raios da alvorada surgiram no horizonte no momento em que Regis e eu subíamos a colina crivada de feras perto da cidade Maerin. Tinha me concentrado exclusivamente em praticar o Passo de Deus, caindo mais vezes do que poderia contar no processo, enquanto Regis explorava a área, caçando por conta própria.

Embora o progresso fosse lento, ainda estava orgulhoso do visível crescimento no domínio da minha primeira runa divina oficial. Era capaz de chegar ao destino que havia determinado, usando Passo de Deus com uma precisão muito melhor do que no início.

No caso, sem obstáculos é claro. Levando em consideração os obstáculos que bloqueavam meu “caminho”, Passo de Deus tornou-se exponencialmente mais difícil de se usar.

Existem várias maneiras de contornar isso, é claro. Poderia usar o Passo de Deus em uma linha reta, assim como fiz com o Passo Explosivo, mas fazer isso seria basicamente usar o gume cego da espada.

Em alternativa, poderia passar um período de tempo prolongado focando e mapeando o “caminho” que poderia tomar para chegar ao meu destino pretendido… mas isso foi um pouco difícil de fazer enquanto uma besta de mana de meia tonelada avançava em minha direção, e a mudança de posições até mesmo alterava ligeiramente o “caminho”.

O lado bom por trás de tudo isso foi que meu desenvolvimento inicial de Passo Explosivo lá em Epheotus serviu como tutorial para o Passo de Deus. Junto com meus reflexos aumentados pelo meu núcleo de éter e o físico de um dragão do clã Indrath, sabia que dominar isso era apenas uma questão de tempo e esforço.

Regis, por outro lado, ainda não tinha entendido como ativar a runa da destruição, apesar da minha orientação.

Sabia que se usasse a runa de destruição mais uma ou duas vezes, ele seria capaz de obter informações sobre o édito, mas estava honestamente com medo do que poderia acontecer enquanto estivesse sob o estado pseudo-psicótico que o édito evocava.

Ainda assim, graças ao fato de que ao contrário da mana, o éter ambiental estava em toda parte. Regis conseguiu fazer avanços no fortalecimento de suas próprias reservas de éter. Com isso, sua força não só aumentou, mas o alcance que poderia estar longe de mim se expandiu.

Toda sua forma parecia ilustrar sua força crescente enquanto os dois chifres que se enrolavam e retorciam atrás de suas orelhas se tornaram ainda mais intrincados. Não só isso, mas toda a sua forma parecia se tornar mais corpórea e real enquanto o fogo roxo que formava sua crina parecia chamas reais em vez de fios de fumaça.

Com minha cabeça limpa dos eventos durante a cerimônia de concessão e meu núcleo de éter vazio, me aproximei da placa de pedra que indicava que estávamos de volta à zona “segura”. Para minha surpresa, havia alguém esperando por mim ao lado da pedra esculpida na clareira.

— Aquele não é a criança…er, Velma? Da noite passada? — Regis perguntou, sua forma escondida dentro de mim.

— Tem certeza de que é uma arma inteligente? — provoquei, antes de chamar o menino.

— Belmun?

— Arma senciente. — Regis corrigiu com um resmungo.

Belmun ficou de pé ao som de seu nome sendo chamado. Disparou em minha direção, o vento jogando para trás seu longo cabelo despenteado revelando um lábio arrebentado, um olho machucado e uma bochecha inchada.

O menino me lançou um sorriso largo acenando com a mão.

— Senhor!

Belmun derrapou até parar na minha frente e caiu de joelhos.

— Por favor, me ensine a lutar!

Percebendo os hematomas e vergões em todos os braços expostos e o olhar endurecido em seu rosto, não pude deixar de admirar a determinação do menino.

— Não. — respondi, passando por ele.

— E-espera! — Belmun tropeçou de volta na minha frente. — Não tenho nada a oferecer agora, mas fui consagrado com uma crista hoje cedo!

Levantei uma sobrancelha.

— Então?

O menino coçou a cabeça.

— E-então eu tenho um talento incrível! Não tenho nada a oferecer a você agora, mas no futuro, quando eu for um famoso ou até mesmo um ranqueado ascendente, vou te pagar de volta!

Não sei o que aconteceu comigo quando vi a expressão confiante, quase presunçosa, no rosto de Belmun, mas liberei uma onda de força etérica, envolvendo apenas o suficiente da intenção de matar para deixar o menino de quatro enquanto sufocava.

Retirando minha intenção e também a pressão palpável exercida através do éter ambiente ao nosso redor, olhei fixamente para Belmun, agora com falta de ar.

— Não seja tão ignorante. O mundo é um lugar grande e seu talento nesta pequena cidade pode ser comparável aos ratos de rua de uma cidade grande.

Chegando de volta à mansão, Regis emergiu e pulou no sofá de couro.

— Não achei que você ficaria tão emotivo com o garotinho.

Fiz uma careta.

— Eu não estava emotivo.

— Por favor. Você mal se preocupa com as pessoas aqui o suficiente para trocar mais do que uma frase com elas, a menos que esteja procurando por informações. — Regis respondeu, se deitando. — Mas você não apenas ajudou o garoto, como também lhe deu conselhos.

Tirando minha camisa, respondi:

— Isso não foi um conselho. Sua atitude presunçosa depois de obter um pouco de reconhecimento me irritou.

Regis revirou os olhos enquanto se enrolava em seu estado “meditativo”.

Soltei um suspiro me sentando no chão. Sabia por que agia assim, só não queria admitir que o garotinho lembrava a mim mesmo de várias maneiras. Batendo em minhas bochechas para me concentrar, fechei meus olhos enquanto o cobertor quente da luz da manhã me envolvia e começava a refinar meu núcleo de éter mais uma vez.

 

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Nos dias que se seguiram à exposição anual, Regis e eu tínhamos entrado em um ritmo confortável, bem distante dos curiosos habitantes da cidade de Maerin.

Sem a necessidade de dormir além de algumas horas a cada três dias, gastava minhas manhãs refinando meu núcleo para repor minhas reservas de éter o suficiente para estudar a relíquia cuboide à tarde. À noite e durante a madrugada, ficava perto do pico da colina arborizada, praticando não apenas o Passo de Deus, mas também lutar usando o éter em geral.

Mayla apareceu no primeiro dia após a consagração, mas disse a ela que não iria a lugar nenhum e a fiz voltar para casa. Não queria que ela passasse a maior parte do dia comigo, quando seu tempo com a irmã era tão limitado agora.

Descobri por ela mais tarde, porém, que Belmun havia começado a treinar seriamente como atacante até que se matriculasse na Academia Stormcove. Descobriu-se que os hematomas que ele recebeu na noite após a concessão foram porque ele brigou com alguns dos alunos atacantes.

Embora houvesse progresso no estudo da relíquia cuboide e também no Passo de Deus, estava ficando cada vez mais impaciente por ficar nesta pequena cidade.

Então, quando o dia da exposição anual finalmente chegou, estava realmente animado.

— Você tem certeza de que quer fazer isso agora? — Regis perguntou, olhando para mim.

Segurei a pedra de Sylvie com ternura em minhas mãos.

— Já faz um tempo desde que tentei e meu núcleo de éter ficou mais forte depois de praticar o Passo de Deus.

— Eu sei, mas sua última tentativa não sugou quase que completamente suas reservas de éter? Você ficará bem durante a exposição?

— Exatamente. Não posso treinar hoje por causa da exposição de qualquer maneira, então tudo bem. Agora fique quieto. — respondi, focando na pedra translúcida enquanto liberava o éter do meu núcleo.

Fui recebido com a mesma sensação do éter sendo drenado do meu corpo quando uma mortalha roxa envolveu a pedra. Ao contrário da última vez, quando parecia que estava tentando encher um lago com algumas gotas de cada vez, podia sentir agora um fluxo real de éter atingindo a dimensão interna da pedra. Com meu éter mais puro e mais denso do que antes, havia ainda menos éter sendo desperdiçado no processo de “filtração” que também ocorria dentro da pedra.

Ainda assim, embora um progresso definitivo tenha sido feito, no momento em que fiquei suado e ofegante com a tensão de ter quase todo o meu éter sugado de mim, não havia mudanças visíveis na pedra translúcida.

Coloquei a pedra de volta na runa extradimensional e caí de volta no chão frio.

Olhando para o teto, pensei em quão longe ainda precisava ir. Mesmo depois de chegar tão longe, parecia que eu mal tinha dado um passo à frente nesta etapa da jornada. Mas o que mais temia era o que aconteceria depois que eu chegasse à última etapa.

Será que encher a pedra de éter realmente traria Sylvie de volta? Ela me deu sua forma física para poder me salvar. Realmente voltaria como a mesma Sylvie que eu conhecia e amava? Ela ao menos voltará?

Meu peito doeu com esses pensamentos e parecia que meu corpo tinha ficado várias vezes mais pesado enquanto minha motivação e determinação vacilavam.

Não. Você chegou até aqui, Arthur. Você não pode parar agora.

Soltando um suspiro forte, levantei e me troquei. A sensação da armadura de couro preto agarrada à minha pele foi uma mudança bem-vinda após a roupa de pano anterior.

A batida suave na porta me disse que estava quase na hora da exposição começar.

— Vamos. — disse a Regis. Com um aceno de cabeça, sua forma desapareceu em minhas costas.

Depois de puxar o manto verde-azulado sobre os ombros e inserir a adaga branca no bolso escondido no forro interno, fui em direção à porta.

Fui recebido por uma sombria Mayla. Ela me deu um sorriso que não condizia com seus olhos.

— Bom dia, Ascendente Grey.

— Mayla? — levantei uma sobrancelha. — Pensei ter dito para mandar outra pessoa para me acompanhar.

A garota que parecia ser apenas alguns anos mais nova que minha irmã balançou a cabeça.

— Eu não podia fazer isso. Minha mente estaria mais em paz com eu mesma guiando o estimado ascendente. Agradecemos pela sua consideração. Aproveitei os últimos dias com minha irmã.

— Tudo bem se você estiver bem, então. — eu murmurei, coçando minha bochecha.

Nós dois descemos a colina que levava à cidade em silêncio. A outrora falante garota parecia perdida em pensamentos, tropeçando várias vezes na estrada irregular.

— Ah, quase esqueci. — disse Mayla de repente, virando-se para mim. — O Chefe Mason preparou seu “cartão de runas” com o dinheiro que ganhou vendendo as bestas de mana. Ele percebeu que, como você perdeu seu anel dimensional, mesmo com a taxa, seria mais prático do que carregar uma bolsa de ouro.

— Cartões de runa são cartões físicos vinculados a uma instituição bancária usando runas para que você não tenha que carregar dinheiro físico por aí. — explicou Regis simplesmente depois de um rápido cutucão mental meu.

— Vou pegá-lo antes de partir. — respondi, impressionado mais uma vez com o quão avançado Alacrya era comparada a Dicathen. Fiquei tentado a descobrir como sutilmente perguntar mais sobre como as instituições bancárias daqui funcionavam quando chegamos à cidade propriamente dita.

A atmosfera hoje estava muito mais animada do que há alguns dias e só piorou quando chegamos à arena. O barulho de dezenas de conversas, todas lutando pela supremacia, dominou os soldados que tentavam controlar a multidão crescente.

Felizmente, não tivemos que pegar a entrada principal. Nós dois fomos escoltados por um dos guardas até uma entrada lateral que levava à área.

— Vou me retirar aqui, estimado ascendente. — disse Mayla, abaixando a cabeça. — Apenas oficiais das cidades e convidados da Academia Stormcove são permitidos nesta sala de exibição.

Observando-a voltar, deixando-me com o guarda no corredor bem iluminado, xinguei internamente por pensar que seria capaz de assistir à exposição em paz. Já podia imaginar o quão sufocante uma sala cheia de funcionários da cidade puxando saco dos representantes da Academia Stormcove seria.

O porteiro parado no final do corredor abriu apressadamente a porta de cerejeira e me conduziu para dentro enquanto gritava:

— Ascendente Grey chegou!

Entrei na sala ao ar livre que dava para a arena que tinha fileiras de pré-adolescentes em uniformes que destacavam distintamente suas cidades.

A sala estava decorada de maneira modesta com vasos de flores sobre móveis de madeira escura. A falta de assentos nesta “sala de estar” parecia sugerir a ideia de andar pela área e conhecer os outros.

Dentro haviam indivíduos distintos de várias idades, todos vestidos com ternos ou vestidos luxuosos. Cada um deles segurava uma taça de vinho na mão como se estivessem posando para uma foto enquanto me encaravam.

— Estimado ascendente! — Uma voz estrondosa familiar me chamou. O chefe Mason usava um terno justo que destacava seu corpo largo. Seu cabelo grisalho estava arrumado para trás enquanto sua barba estava devidamente penteada e amarrada perto do fim.

Me entregou uma das muitas taças de vinho exibidas nas mesas de coquetéis dispostas por toda a sala antes de se virar para o resto das pessoas presentes na sala.

— Estamos todos muito animados em tê-lo conosco hoje!

— Obrigado por me receberem. — Aceitei o copo e me virei para os indivíduos me encarando, levantando meu copo e apresentando um sorriso. — Devo ter ficado um pouco animado demais, considerando como estou vestido para me juntar às crianças lá em baixo ao invés de beber aqui.

Risos soaram, quebrando a tensão quando os oficiais presentes começaram a nos reunir.

— Wow. Quem é esse fala mansa e o que você fez com o angustiado Arthur que passei a tolerar? Achei que você tivesse dito que era ruim em reuniões sociais. — disse Regis.

— Cale a boca. E eu disse que não gostava de reuniões sociais. Isso não significa que eu seja ruim com elas.

— Como esperado de um estimado ascendente. Não apenas sua presença é tão imponente, mas sua aparência também é deslumbrante. — disse uma mulher que parecia ter vinte e poucos anos, rindo, roçando a mão na minha.

Eu sorri de volta quando dei um passo em sua direção.

— Por favor. Me chame de Grey.

Sem me preocupar em saber seu nome, abri caminho no meio da multidão de mais de vinte pessoas. Rejeitando suas excessivas ânsias de se apresentarem para mim e exibir qualquer pedaço de poder que tinham a fim de apelar sobre mim, mantive um ar encantador e alegre.

Havia bebido várias taças de vinho enquanto trocava saudações e uma bebida com as pessoas presentes conforme aprendia mais sobre as três cidades vizinhas quando meu corpo inteiro estremeceu de repente.

Regis sentiu isso também quando toda a minha atenção foi repentinamente direcionada para a porta por onde havíamos entrado.

— O Ancião Cromely, os alunos Aphene e Pallisun da Academia Stormcove chegaram! — O porteiro anunciou, abrindo a porta.

A tagarelice e as risadas ao meu redor logo foram abafadas pelo sangue que bombeava em meus ouvidos, enquanto Regis e eu nos concentramos no homem magro e grisalho vestido com um terno escuro.

Mais especificamente, o que chamou nossa atenção foi a pedra que estava montada sobre a lustrosa bengala de obsidiana em sua mão. A pedra despretensiosa que continha uma quantidade considerável de éter em sua superfície decrépita.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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