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O Começo Depois do Fim – Cap. 281 – Um passo à frente

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Enquanto minha visão era inundada por um mar roxo, podia sentir meu núcleo de éter sendo drenando lentamente. Quando meus sentidos entraram no cubo de pedra, tentei olhar mais profundamente para dentro. Parecia que quanto mais eu “viajava”, mais difícil se tornava. Flutuando por este espaço, a viscosidade semelhante a lama logo engrossou e endureceu até que finalmente parecia que eu estava empurrando uma parede de tijolos.

Mesmo estando desconectado do meu corpo, podia sentir minha respiração ficando curta e irregular, como se estivesse respirando através de um pano úmido. Esforçando-me para empurrar essa parede que me impedia de me aventurar, bombeei mais éter para fora do meu núcleo até que finalmente fui capaz de me mover através da parede.

Descrever a experiência de minha mente tocando a superfície da relíquia cuboide em palavras seria subestimar a complexidade de tudo isso.

Formas geométricas em padrões e movimentos aparentemente aleatórios flutuavam ao meu redor. Não conseguia ver um fim para o quão longe esses poliedros iam, mas por algum motivo, sabia que havia um limite dentro desse caos.

À medida que mais éter fluía do meu núcleo para este reino dentro da relíquia, os poliedros começavam a mudar. Não estava mais apenas observando, mas realmente afetando essas formas geométricas como se meu éter estivesse ressoando com essas coisas.

Fiquei perdido em um transe enquanto tentava decifrar os padrões, movimentos, formas e tamanhos de todos esses poliedros que formavam este reino dentro da relíquia. Usando o éter dentro de mim como membros metafóricos, combinei, classifiquei e categorizei esses poliedros em um esforço para entender o que este guia complicado estava tentando me dizer.

Finalmente, quando minhas reservas de éter caíram para cerca de um décimo de sua capacidade, fui retirado do reino. Quando minha consciência voltou, me vi sentado na mesma posição em que estava no sofá. A única coisa que mudou foi que o quarto, antes bem iluminado pelo sol da tarde, agora estava quase completamente escuro.

— Você finalmente terminou? — Regis perguntou, levantando a cabeça enquanto se enrolava ao meu lado.

Encarei o sol decrescente.

— Por quanto tempo fiquei fora?

— Cerca de cinco ou seis horas. Eu perdi a conta depois de adormecer.

— Você precisa dormir? — perguntei.

Regis deixou escapar um largo bocejo antes de responder.

— É como um modo de economia de bateria. Consumo menos éter quando estou dormindo, então posso acumular mais éter ambiente.

— Que cão peculiar você é.

— Vá se foder. — reclamou antes de pular do sofá. — Então, você aprendeu alguma coisa com o cubo?

— Eu nem sei o que eu deveria estar aprendendo. — soltei um suspiro. — E o pior é que eu gasto éter tentando estudar este pedaço de rocha.

— Droga, e eu pensei que aprender essa habilidade de dobrar a realidade ia ser fácil. — disse Regis sarcasticamente enquanto se afastava.

O chutei abaixo do rabo, obtendo um grito agudo do meu companheiro.

— Nunca pensei que sentiria falta dos dias em que era incorpóreo. — resmungou antes de se virar para mim. — Então, qual é o plano?

Pensei por um momento.

— Temos alguns dias livres de qualquer jeito, então podemos também aprender um pouco mais sobre os habitantes locais. O evento de concessão é algo que eu gostaria de conferir junto com as academias amanhã.

Regis olhou para mim em silêncio com uma expressão ligeiramente atordoada.

Fiz uma careta.

— O que foi?

— Nada. É só que, pensei que você estaria arranhando sua pele tentando encontrar uma maneira de chegar às próximas Relictombs ou algo assim. — murmurou.

— Tenho estado muito nervoso ultimamente, não tenho? — cocei minha bochecha.

Regis deu de ombros, sua juba de fogo púrpura tremulando.

— É compreensível. Não tenho nenhuma família além de você, mas ficaria muito nervoso se não soubesse o que está acontecendo com as pessoas de quem gosto.

Fiquei em silêncio, surpreso com a menção indiferente de Regis a mim como sua família. Nunca me ocorreu que ele não tivesse mais ninguém além de mim. Mesmo nessa forma canina dele, ainda via Regis como uma arma?

Regis estreitou os olhos penetrantes.

— O quê? Por que você está me olhando desse jeito?

— N-não foi nada. — Me levantei do meu assento e fui em direção à porta.

— Para onde vamos? — perguntou, trotando atrás de mim.

— Você não ouviu o que Loreni disse antes? Há uma tonelada de bestas de mana fora da cidade. — Eu lancei um sorriso malicioso para o meu companheiro. — Não tive a chance de realmente praticar os limites do Passo de Deus.

— Podemos esticar um pouco as pernas e ganhar algum dinheiro. — Regis refletiu meu sorriso. — Parece bom.

 

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Eu respirei o ar fresco da noite, com nossos pés esmagando a folhagem enquanto nós dois corríamos pela floresta. Queríamos nos afastar mais da cidade para o caso de alguém nos ver usando éter, mas isso não significa que não matamos alguns rocavids no caminho. Essas enormes feras de mana parecidas com cervos tinham chifres não apenas em suas cabeças, mas na espinha e caudas grossas que usavam como clavas mortais.

Mortais para magos normais, de qualquer forma. A besta de mana não conseguiu nem mesmo reagir quando afundei minha adaga entre seus olhos, já que suas peles eram o que nós precisávamos vender.

Regis teve mais dificuldade em manter suas matanças limpas, mas entre nós dois, demorou menos de uma hora para caçar meia dúzia de rocavids que vagavam pela calada da noite. A única razão pela qual paramos foi por ficarmos sem espaço na runa extradimensional.

— Pensei que o cristal falante disse que você não poderia colocar coisas orgânicas na runa em seu braço. — Regis comentou enquanto nos aproximávamos de uma pequena clareira que levava à base da colina.

— Parece que só posso colocá-las quando já estiverem mortas. — respondi, meus olhos avistando uma grande pedra no centro da clareira.

Parando na frente da pedra que estava pelo menos trinta centímetros acima de mim, as palavras, “Perigo. Bestas de mana de alto nível à frente” foram esculpidas com ameaçadores salpicos de sangue seco em sua superfície.

Atravessamos para o outro lado da clareira, onde o terreno começou a se elevar gradualmente à medida que subíamos a colina. Embora minha visão tivesse sido aprimorada pelo meu novo físico, ser incapaz de sentir mana atualmente tornava encontrar bestas de mana uma tarefa muito mais desafiadora.

Mesmo que eu pudesse aumentar meus sentidos usando essa nova fonte de magia, não consegui encontrar uma maneira de utilizar o éter para sentir seres e objetos não etéreos.

No entanto, não ter nenhum tipo de assinatura de mana vindo de mim ou de Regis significava que a vida selvagem mais forte e predatória daqui nos via como uma refeição fácil.

A primeira besta de mana que veio atrás de nós era uma que eu não havia visto antes em Dicathen. Ela me lembrou do vínculo da minha irmã, Boo, se ele tivesse quatro braços e uma mandíbula de crocodilo com três fileiras de dentes serrilhados.

— Fique de olho no caso de qualquer viajante. — ordenei a Regis enquanto enfrentava a fera.

Com um rosnado horrível, o urso se abaixou em todos os seus seis membros e avançou contra mim com uma velocidade surpreendente. Guardando minha adaga, o encarei de frente.

Embora minhas reservas de éter não tivessem sido totalmente restauradas, o objetivo desta noite era apenas testar minha nova runa divina. Não sabia em que nível esta besta de mana seria classificada, mas serviria como uma boa cobaia.

O éter surgiu do meu núcleo, agarrando-se à minha pele. Conforme o calor familiar da runa se espalhava pela parte inferior das minhas costas, concentrei-me no local que tentaria pousar.

A experiência de iniciar a arte do éter desta vez foi completamente diferente de quando a usei pela primeira vez. Minha percepção do mundo ao meu redor mudou, como se tudo tivesse sido esticado em todas as direções. Partículas de éter ambiente agora se uniam e pareciam riachos entrelaçados de roxo correndo no ar, criando caminhos de fluido que se interconectavam e se ramificavam.

Dando um “passo”, senti meu corpo sendo carregado por uma corrente de jato enquanto navegava nas correntes de éter. O problema era que não havia uma rota direta para o local que eu havia determinado, eu precisava navegar nessas correntes de éter que se ramificavam em cada centímetro do espaço que me cercava. No entanto, esses fluxos não se estendem infinitamente. As correntes me cercaram em um raio de dez metros, que provavelmente era meu alcance atual do Passo de Deus.

Apesar dos meus limites, o resultado foi surpreendente. Embora meu local de pouso não fosse tão preciso quanto gostaria que fosse, havia viajado dez metros em um piscar de olhos.

A maior diferença entre Passo de Deus e Passo Explosivo, no entanto, era o controle do momento. Como não estava mais preso à inércia ao chegar ao meu destino, realmente parecia que eu estava prestes a chegar ao verdadeiro teletransporte.

Gavinhas de relâmpago violeta enrolaram-se ao meu redor por usar o Passo de Deus conforme aparecia ao lado da besta semelhante a um urso. Ela derrapou até parar, mas quando virou, meu punho revestido de éter já havia afundado em sua lateral.

O corpo gigante da besta caiu no chão, esmagando e quebrando várias árvores em seu caminho.

— Você está detonando explosivos ou algo assim? — Regis expressou suas queixas.

— Perdão. — me contive.

Devido ao seu pelo espesso e coberto de mana, o urso ainda viveu, mas fugiu, soltando gemidos baixos.

Continuei vasculhando a floresta, treinando Passo de Deus enquanto caçava bestas de mana até que todos os cadáveres de rocavids dentro do meu anel fossem substituídos.

Regis também caçava, o que me permitiu ver em que nível estava. Deixando de lado a distância que poderíamos estar separados e sua crescente capacidade de reter o éter, o crescimento de Regis em termos de força não estava em um nível que pudesse me acompanhar. Precisava consumir mais éter, mas o problema era eu também.

Além de coletar as relíquias, tanto nas Relictombs quanto aqui em Alacrya, precisava obter minhas reservas de éter grandes o suficiente para despertar Sylvie de seu estado de coma.

— Está tudo bem? —Regis perguntou enquanto nos aproximávamos da base da colina. — Você está esfregando seu braço esquerdo de novo.

— Estou bem. — disse, enfiando as mãos nos bolsos.

Chegando mais perto da cidade, Regis se retirou de volta ao meu corpo e eu me peguei curtindo a noite tranquila, até me aproximar do local de um cadáver de rocavid que deixei para trás para abrir espaço em minha runa extradimensional.

Havia uma figura, cuja pequena estrutura indicava que não podia ter mais de dez anos, despedaçando o rocavid.

Ouvindo minha aproximação, a cabeça da criança disparou, olhando ao redor freneticamente até que nossos olhos se encontraram. O garotinho levantou-se de um salto, apontando a faca serrilhada que estava usando para esfolar o rocavid. Suas bochechas encovadas e roupas esfarrapadas falavam muito de seu status, mas foram seus olhos que me fizeram parar. Seus olhos estavam cheios de desespero e medo enquanto ficava entre mim e o cadáver do rocavid, mas ao mesmo tempo, podia ver a determinação dentro deles.

Seu olhar me lembrou de… mim. Não como Arthur, mas como Grey. Era o mesmo olhar que eu tinha quando conheci a Diretora Wilbeck quando me encontrou na rua.

— Garoto. — eu gritei, arrancando um passo assustado da criança. — Você planeja usar essa faca em mim?

O garoto abaixou lentamente a faca, hesitando, antes de erguê-la de volta e dar um passo em minha direção.

— E-este rocavid é meu.

Inclinei a cabeça.

— Você o matou?

Ele fez uma pausa, abaixando a cabeça.

— Não…

Eu dei um passo em direção a ele.

— Então por que é seu?

— E-Eu encontrei primeiro. Me escondi e esperei, mas não havia ninguém para reivindicá-lo. — o menino falou, sua voz de tenor abatida, mas forte.

— O que você planeja fazer com isso?

O menino se manteve firme enquanto continuava a andar em sua direção, segurando sua faca trêmula no alto.

— Minha família precisa disso. Se eu puder vender a pele, podemos comer.

Soltei um escárnio.

— Não seria mais simples comer apenas a carne do rocavid? — Seus ombros desabaram. — Eu… não consigo carregá-lo.

Caminhei em direção ao menino sem responder, assustando-o. Em vez de recuar, no entanto, avançou em minha direção com uma mão sobre a outra segurando a faca que estava apontada para mim.

Fazendo-o tropeçar enquanto tirava a faca das mãos com um movimento rápido, o garoto caiu de cara no chão. Abalado, mas ainda determinado a lutar pelo cadáver do rocavid, se levantou de um salto e se lançou em minha direção com as mãos nuas.

Eu dei um passo para o lado e o fiz tropeçar mais uma vez antes de pegar o cadáver pelas patas traseiras.

— Onde é sua casa? — O menino se levantou, confuso com minha pergunta.

Inclinei a cabeça.

— Você não queria este cadáver?

— S-sim! — gaguejou rapidamente. Se virou e começou a liderar o caminho antes de parar. Virando-se para mim, me olhou com medo.

— V-você não vai machucar minha família, certo?

Olhando para o menino, deixei escapar um suspiro.

— Qual é o seu nome, garoto?

— Belmun. — disse com cautela.

— Vou deixar isso perto o suficiente de sua casa, onde sua família pode vir e te ajudar a pegá-lo depois que eu sair. — respondi. — Isso parece bom?

Belmun assentiu com a cabeça antes de sair correndo. Senti o cheiro da casa de Belmun antes que pudesse vê-la, a área sobre a qual Chumo e Sembi me falaram. Barracos feitos de madeira lascada e outro material descartado alinhavam-se na zona cercada na periferia da cidade. As tochas estavam mal acesas, deixando a maioria das casas envolta em escuridão.

— Você pode simplesmente deixar isso aqui. — disse Belmun.

— É. — murmurei, meu olhar ainda observando a visão em minha frente.

Para minha surpresa, Belmun fez uma reverência, as roupas esfarrapadas mostrando as costelas expostas. Ele me deu um sorriso cheio de dentes que finalmente o fez parecer uma criança.

— Muito obrigado, senhor.

Voltei para minha residência, minha mente incapaz de esquecer o que tinha visto. Mesmo em Dicathen, os poucos escravos que eu tinha visto antes de serem banidos estavam em melhor forma do que Belmun.

— Não achei que você fosse tão altruísta. — disse Regis, enroscando-se no sofá de couro. — Especialmente considerando o seu ódio pelos Alacryanos.

— Não sou altruísta. — retruquei, sentando-me também. — Ele acabou de me lembrar de alguém.

Regis apenas deu de ombros antes de voltar ao modo de economia de energia. Embora não precisasse respirar, a juba roxa como fogo em sua nuca começou a pulsar ritmicamente e eu pude ver as partículas de éter sendo lentamente absorvidas por ele.

Enquanto o silêncio pacífico pairava no ar, verifiquei o que eu tinha. Não era mais um rei, nem uma Lança. As únicas coisas que eu possuía eram minhas roupas, a faca de Caera, a pedra de Sylvie, a relíquia de cubo e os cadáveres de algumas bestas de mana.

Mesmo assim, apesar de meus poucos pertences, o que mais pesava em minha mente era a criança. Esta era a sociedade que Agrona havia criado. Uma sociedade onde, ainda mais do que Dicathen e até mesmo meu mundo anterior, se não tivesse força, você era jogado de escanteio como lixo.

Não é minha função intervir, me lembrei. Tenho coisas maiores com que me preocupar.

Com o sono me escapando, comecei a meditar, refinando o éter ambiente em meu núcleo, com um gosto amargo na boca. Desde a concessão de amanhã, à exposição e ainda além, estava curioso, mas também com medo de ver o que este continente teria reservado para mim. Este continente governado por divindades que viam essas pessoas apenas como armas e ferramentas.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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