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O Começo Depois do Fim – Cap. 278 – Maerin

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Passei pelo portal, sem realmente saber o que esperar do outro lado.

O que nem passou pela minha cabeça, de tudo o que tinha acontecido até agora, com minha experiência com os Alacryanos tanto em Dicathen quanto nas Relictombs, foi ver os dois guardas nos meus dois lados, literalmente pularem de surpresa, deixando escapar gritos aterrorizados.

Regis soltou uma risada divertida enquanto eu realmente não sabia o que fazer com a situação.

O guarda à minha direita, um homem bastante gordo usando uma armadura de chapas que obviamente não podia conter sua cintura larga, conseguiu reunir o pouco treinamento que tinha para pelo menos apontar sua lança trêmula para mim. Só levou um segundo a mais para o companheiro mais magro, embora não muito, seguir seu exemplo.

— Que-quem é você? — O guarda mais magro estremeceu.

Pensei por um segundo em como deveria responder quando o guarda mais gordo falou.

— Você veio– você está, você está vindo das R-Relictombs? — gaguejou, sua cabeça se movendo para a esquerda e para a direita.

— Não se preocupe em responder a esses fantoches. Basta matá-los. — gemeu Regis.

Ignorando a voz em minha cabeça me incitando a matar, olhei para o guarda gordo que se encolheu sob meu olhar e respondi.

— Sim.

O comparsa mais magro à minha esquerda soltou um suspiro audível. Estava se tornando cada vez mais desafiador não revirar os olhos.

— E-Estimado ascendente. — o comparsa mais gordo começou a falar, curvando-se tanto quanto sua barriga permitia antes de levantar a cabeça. — Permita que este o guie até o chefe da Cidade de Maerin.

O guarda corpulento gesticulou para que eu o seguisse e o mais magro veio logo atrás. Deixando de lado o pensamento ocioso de que talvez um deles devesse ter ficado para trás para guardar o portal, observei a visão ao meu redor pela primeira vez.

Ao contrário da… competência e graça demonstradas pelos dois guardas, o corredor em que havia chegado não era nada menos que magnífico. Embora não fosse grande, não maior que o tamanho de uma casa modesta em Ashber, exceto com tetos mais altos, tinha características que obviamente mostravam a importância de tal estrutura. Uma fila de pilares elevou-se sobre nós em ambos os lados, segurando arandelas de fogo real em cada uma. Após uma inspeção mais próxima, pude ver entalhes intrincados do que era obviamente um basilisco em sua forma humanoide sendo reverenciado por homens e mulheres ajoelhados. Cada pilar contava uma breve história, tudo levando à mesma mensagem de adoração para os basiliscos, o que fez meu estômago embrulhar.

Desconsiderando o comparsa corpulento que me espiava a cada poucos segundos, nós três caminhamos pelo caminho liso de pisos de mármore em paz até chegarmos às portas de eucalipto antigo. A luz infiltrou-se entre e ao redor das duas portas e de repente me lembrei do meu desejo de ver o Sol.

As portas se abriram com um chiado e gemido até que fui banhado pelos raios de Sol. Um nó se formou em meu estômago e me vi lutando para conter as lágrimas que nem sabia que existiam. O toque quente do sol me envolveu como um abraço de mãe.

— Uhh… estimado ascendente—

— Shhh! Ele deve estar cultivando ou obtendo uma revelação!

Fechei meus olhos por um momento e me recompus antes de passar pelo cobertor de luz que se derramava sobre mim como mel aquecido.

Conforme meus olhos se ajustavam, era capaz de perceber a vista ao meu redor, e era… inexpressiva.

Casas térreas de tijolo e argamassa alinhadas de forma organizada e uniforme em cada lado de uma estrada de paralelepípedos com cerca de três carruagens de largura. Civis podiam ser vistos fazendo suas tarefas do dia-a-dia, pendurando roupas em um varal, cuidando de seus jardins, enquanto as crianças corriam balançando espadas de madeira embrulhadas em pano. Havia até uma criança desenhando rabiscos aleatórios nas costas de seu amigo usando carvão.

Meus olhos continuaram a vagar, observando a paisagem até que percebi o fedor reminiscente de uma casinha de rua nos fundos que emanava de trás de nós.

— Por favor, aguente o odor até chegarmos à cidade propriamente dita, estimado ascendente. — disse o comparsa mais magro, percebendo minha mudança de expressão. — Ainda estamos nos limites da cidade, então o cheiro dos arredores da cidade ainda penetra pelos muros.

Me virei para ver uma parede com mais de seis metros de altura logo atrás do edifício que abrigava o portal pelo qual tínhamos acabado de sair.

— O que há do outro lado? — perguntei por simples curiosidade.

— Os vagabundos e parasitas que foram expulsos da cidade de Maerin por não pagarem seus impostos ou por cometerem um crime estão todos reunidos lá. Nosso benevolente chefe permitiu que permanecessem naquela área e até ocupassem empregos de residentes da cidade, se necessário. — explicou o guarda robusto. — Isso também inclui trabalhos noturnos, se o estimado ascendente— ow! Sembi!

— Pare de ser idiota, Chumo! Você acha que um ascendente tem tão poucas opções que recorreria a se deitar com aquelas putas nojentas?

Os dois divagaram em uma discussão acalorada, acotovelando-se e sussurrando insultos como se achassem que eu não notaria.

— Me pergunto se essa porcaria foi algo que eles ensaiaram. — ponderou Regis, obviamente divertido.

Foi interessante ver que, ao contrário dos ascendentes que conheci nas Relictombs, os dois pau-mandados não tinham lacunas em suas armaduras que revelassem as marcas ou cristas que revestiam suas espinhas.

Talvez exibir as marcas fosse algo que apenas magos de nível superior faziam para mostrar seu status? Perdido em pensamentos, não percebi que muitos dos civis pelos quais passamos estavam olhando para mim. Alguns tiveram a decência de fingir que estavam fazendo algo, enquanto outros apenas paravam e encaravam boquiabertos.

Alguns dos homens me avaliaram, estufando o peito instintivamente, mesmo enquanto suas cabeças abaixavam em respeito.

Um grupo de garotas da cidade que não podiam ser muito mais velhas do que minha irmã corou depois de fazer contato visual antes de rirem entre si. Também avistei algumas mulheres mais velhas ajustando suas blusas para acentuar seus peitos, sorrindo docemente com um olhar convidativo quando nossos olhos se encontraram.

— Veja, Chumo! Olhe para todos babando sobre nosso estimado ascendente. Ele pode escolher. — gabou-se o comparsa mais magro chamado Sembi.

— A que distância fica o escritório do chefe da cidade? — perguntei, lançando um olhar frio para os dois.

— A-Apenas alguns quarteirões, no coração da própria cidade! — Chumo respondeu enquanto ambos visivelmente se encolheram sob meu olhar.

As casas logo deram lugar a lojas à medida que nos aproximávamos do centro da cidade. Não pude deixar de relembrar sobre meu tempo morando na cidade de Ashber. Embora aqui fosse muito maior e mais desenvolvido, possuía um ambiente mais pacífico em comparação com as cidades de Dicathen às quais estava tão acostumado.

No entanto, conforme continuamos caminhando, a estrada de paralelepípedos repentinamente se ramificou em quatro estradas separadas, uma principal e três caminhos menores, cada um levando a uma estrutura de vários níveis de tamanhos variados, com bastante terreno ao redor.

— Para que servem esses edifícios? — perguntei. Esses três edifícios eram os únicos que não tinham somente um andar, então presumi que tivessem alguma importância.

— Ah! Essas três escolas são o orgulho da cidade de Maerin! — Chumo bufou. — Aquela à nossa esquerda é onde nossos filhos que receberam sua primeira marca como escudo frequentam, enquanto o prédio maior é para conjuradores e o de telhado preto é para nossos futuros atacantes!

— Nossos instrutores são todos muito capazes, com eles próprios tendo cristas. — acrescentou Sembi. — E a instrutora-chefe da nossa escola de atacantes tem dois emblemas e já ensinou em uma cidade grande!

— Falando nisso, você chegou em um ótimo momento, estimado ascendente. — Chumo disse. — Além de amanhã ser um dia de concessão, em alguns dias, estudantes de nossas cidades vizinhas se reunirão aqui para nossa exposição anual!

Embora o “dia da concessão” parecesse interessante, eu não queria perder muito tempo nesta cidade. Minha prioridade seria conseguir um mapa de onde estávamos depois de falar com o chefe da cidade.

— Me pergunto se algum de nossos atacantes tem chance de vencer o torneio. — Chumo murmurou para Sembi.

— O filho do chefe da cidade, Draster, provavelmente tem a melhor chance, certo? Ouvi dizer que acabou de passar para o terceiro estágio do nível básico, respondeu Sembi.

— Sim, mas há aquele monstrinho da cidade de Cromer que acabou de passar pelo quarto estágio do nível básico aos quinze anos.

— Merda. E eu ouvi que um ancião de uma das academias da Cidade de Aramoor realmente virá assistir desta vez, para ver se há alguns talentos para levarem de volta como candidatos.

Os dois continuaram sua fofoca, completamente despreocupados enquanto nos aproximávamos do que parecia ser a praça da cidade. O número de pessoas aumentou rapidamente, visto que não apenas vitrines e restaurantes cercavam o centro suavemente pavimentado da cidade, mas ambulantes puxavam seus carrinhos de madeira. Alguns estavam cheios de comida, enquanto outros carregavam artigos de couro ou roupas simples.

Ignorando os olhares passageiros dos civis, avistei o coliseu que ofuscava os estabelecimentos de um único andar ao redor. Apenas pelo número de soldados, verdadeiros guardas saudáveis que exalavam uma imagem de força, guardando a grande estrutura em forma de tigela, poderia adivinhar o nível de importância que ela carregava.

Civis saindo de carruagens puxadas por cavalos e bestas de mana enfileiradas na frente da entrada principal, esperando para entrar. Pelas mercadorias que carregavam, parecia que estavam lá para se preparar para a próxima exposição.

— Parece que este Estimado Ascendente está interessado nos próximos eventos. — observou Regis.

— Talvez um pouco. — admiti. Eu nunca tinha ido a uma exposição ou a qualquer tipo de torneio em Dicathen enquanto crescia lá. Mesmo com minhas vantagens injustas, provavelmente não teria sido muito divertido, o próprio ar na praça da cidade parecia vibrante enquanto os civis se preparavam para esses eventos.

— …scendente?

Virei-me e vi Sembi e Chumo esperando por mim.

— É por aqui, estimado ascendente. — disse Sembi, gesticulando em direção a um edifício abobadado com um longo pórtico sustentado por colunas semelhantes em design às do edifício que abrigava o portal que levava à entrada principal.

Uma vez lá dentro, fui guiado até o balcão da frente em um prédio vazio, onde uma jovem obviamente entediada estava brincando com seu cabelo castanho preso com força em um coque.

Chumo apoiou o cotovelo no balcão da frente.

— Ei, Loreni.

— Faltando ao trabalho de novo para um lanche, Chumo? — Loreni perguntou, sem se preocupar em olhar para cima. — Seja cuidadoso. Foi assim que você e Sembi ficaram presos guardando a Câmara de Descensão. Sendo honesta com Vritra, não sei por que o velho se incomoda em colocar guardas lá, quando não há um ascendente saindo daquele portal há anos. Se fosse eu—

— Uhh, Loreni? — Sembi entrou na conversa, nervosamente mudando seu olhar entre mim e a garota que agora começava a tirar a sujeira de debaixo das unhas.

Loreni finalmente olhou para cima com um olhar irritado.

— O qu–oh!

Seus olhos se arregalaram e suas bochechas coraram quando Loreni se levantou e alisou sua blusa.

— Q-quem é… esse?

— Ele é um ascendente. — sussurrou Chumo, inclinando-se para mais perto.

Não achei que os olhos da garota pudessem se abrir mais, mas abriram.

— Ah, nossa! Minhas desculpas pelo comportamento rude, estimado ascendente. N-não temos muitos ascendentes aqui, então não tenho nenhuma razão para supor que haveria… meu Deus, eu deveria parar de falar agora. Você está aqui para encontrar o chefe da cidade? Claro que está, essa foi uma pergunta boba. Por aqui!

Loreni me guiou por um corredor, muitas vezes espiando para trás antes de se virar nervosamente enquanto Sembi e Chumo riam atrás de mim. Chegamos ao escritório do chefe da cidade, modestamente decorado com uma escrivaninha e dois sofás de couro frente a frente separados por uma mesa oval de chá.

— O chefe Mason, o líder da nossa cidade, estará aqui em breve. Por favor, fique à vontade enquanto pego algo para você beber! — Loreni exclamou enquanto se curvava.

Depois de dar outra longa “espiada” em mim, ela baixou a cabeça mais uma vez e praticamente saiu correndo da sala enquanto Chumo e Sembi montavam guarda do lado de fora da porta.

Me vi olhando para a porta. Ouvindo Loreni sussurrar alguns palavrões para os dois guardas através da porta, não pude deixar de conter uma risada.

— Já faz um tempo que você não ri. — refletiu Regis.

— Já faz um tempo desde que estive perto de tantos idiotas. — brinquei, recostando-me no sofá enquanto Regis mentalmente concordava com a cabeça.

Tomando um momento para abrir a janela atrás de mim, peguei a brisa suave que fluía, levando junto a conversa e os sons da praça da cidade. Risos, jovens e velhos, soaram como sinos melódicos que quase me embalaram para dormir.

Absorvi tudo enquanto minha mente repassava tudo o que havia passado. Lutando não apenas para viver, mas para ficar mais forte a partir do momento em que acordei. Havia perdido Sylvie e estava separado dos meus entes queridos sem nenhuma maneira de saber como estavam.

Mas neste breve momento, estava em paz quando finalmente percebi…

Eu tinha conseguido sair daquelas Relictombs infernais.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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