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O Começo Depois do Fim – Cap. 277 – O Cristal

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A cúpula de púrpura translúcida desapareceu e eu me vi de volta à câmara escondida. A entidade com quem eu havia acabado de lutar estava longe de ser encontrada e eu mal era capaz de permanecer de pé, a tensão mental e física de minha nova runa cravando suas garras frias ao meu redor.

Regis veio pulando em minha direção, sua expressão uma mistura de choque e preocupação.

— O-o que diabos aconteceu? Você ganhou outra runa!

— Onde ele está? — perguntei com os dentes cerrados, meus olhos procurando por qualquer sinal da figura roxa.

— Ele? — Regis ecoou em confusão. — Você simplesmente ficou aí parado por alguns segundos antes deste relâmpago roxo começar a crepitar ao seu redor.

— Nunca tinha visto o éter se manifestar dessa forma antes. — a voz profunda familiar ecoou na minha frente.

Eu levantei minha cabeça enquanto Regis se virava para vermos que a fonte da voz não vinha dessa mesma entidade… mas do cristal flutuando no topo do pedestal.

— Perdoe-me pela confusão. Visto que não tenho mais forma física, coloquei nossa luta em sua mente. — afirmou o cristal, irradiando uma luz que correspondia às palavras que dizia.

Minhas sobrancelhas franziram.

— Então toda aquela luta não aconteceu de verdade?

— A mente é uma ferramenta poderosa que mesmo Asuras raramente exercitam, optando por aprimorar seus corpos e núcleos. — o cristal respondeu com um tom um tanto petulante. — Mas você parece ser diferente, em mais de um sentido.

— Princesa aqui é um pouco excêntrica. — Regis concordou, balançando a cabeça.

Até eu tive que admitir que meu caso não era nada além de estranho. No entanto, tinha muitas perguntas e queria seguir em frente.

— Então, o que acontece agora? Passei no seu “teste final” ou há algo mais?

— O fato de eu ter escolhido falar com você significa que você passou. — respondeu o cristal. — Aquele pequeno confronto foi mais para minha curiosidade e tédio, e você fez um trabalho esplêndido em saciar a ambos.

Quer fosse o Clã Indrath ou o Clã Vritra, os Asuras e essas entidades superiores sempre pareciam amar satisfazer seu tédio sem qualquer cuidado com aqueles que o recebiam.

— Pensar que você seria capaz de receber uma runa, e nada menos do que do Édito de Spatium. — o cristal continuou. — Conte-me. Como você consegue controlar o fluxo do éter dentro de seu corpo com tanta precisão? É o físico Asura que ajuda você?

Meus olhos se estreitaram.

— Não tenho razão ou incentivo para responder.

Regis olhou para mim com um lampejo de pânico.

— Ar-Grey. O que você está fazendo? Não desrespeite o cristal falante.

— Não. Seu mestre é prudente. — disse o cristal a Regis antes de se dirigir a mim. — Grey, não é? Anteriormente, você indicou que queria respostas. O que está armazenado neste remanescente etéreo é algo que acredito que você desejará. Tudo que peço é que você sacie minha curiosidade por mais alguns minutos.

— Você disse que eu havia passado no seu teste. Já não tenho direito a tudo o que você vai me dar, independentemente de eu responder ou não? — rebati, cansado de suas travessuras.

O cristal fez uma pausa, sua superfície brilhante escurecendo por alguns segundos antes de falar novamente.

— Muito bem. Posso conceder-lhe um pequeno presente adicional do meu povo.

Trocando outro olhar com Regis, deixei escapar um suspiro e comecei a contar minha jornada depois de chegar aqui. Contei ao cristal sobre as feras com quem tive que lutar, as provações que eu precisei superar e o que viria a seguir quando saísse. No entanto, omiti qualquer uma das minhas relações com o clã Indrath por razões óbvias.

 

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— Fascinante! Pensar que você não só foi capaz de forjar um núcleo de éter, mas também temperar com força seus próprios canais internos para controlar sua saída. Verdadeiramente algo que só poderia ser feito com o físico de um Asura. — o cristal jorrou, suas luzes pulsando excitadamente.

— É para isso que servem aquelas runas que cobrem seu corpo, certo? Elas são usadas para que você possa controlar o fluxo do éter. — confirmei.

— Correto. Embora nosso povo tenha dominado a forma de feitiço para atrair e manipular o éter, o verdadeiro domínio e a aparência orgânica das runas divinas, tais como as do ramo de spatium que você acabou de receber, vem apenas através de uma revelação maior.

— Então, essa runa divina significa que ganhei uma revelação de um certo aspecto do éter, certo? Por quem ou o quê? — perguntei. — Existe uma divindade superior acima dos Asuras que as está concedendo?

— Essa informação não está armazenada neste remanescente. — respondeu o cristal. — Mas o éter está ao nosso redor e pode funcionar de maneiras que são impossíveis de se imaginar. O caminho para obter autoridade sobre o éter é diferente para cada pessoa, e o seu, de longe, é o mais diferente.

— Como assim? — Perguntou Regis.

— Nosso povo era limitado por nossos corpos físicos. A maioria de nossas lutas não era para obter revelações, mas sim descobrir maneiras de fazer nossos corpos frágeis lidarem com o peso do éter.

— Posso estar especulando, mas acredito que sua nova runa assumiu a aparência de um relâmpago, não porque ela seja um relâmpago, mas porque foi assim que você conceituou a natureza abstrata daquele ramo específico do éter, continuou o cristal.

— Então, os dragões do Clã Indrath não foram capazes de fazer o que seu povo, ou eu, somos capazes de fazer? — perguntei. — Eles têm o físico e a aptidão para lidar com o éter, mas não o conhecimento e as percepções para conceituar como se fossem sua propriedade, certo?

Senti os cabelos em meu pescoço se arrepiarem quando uma forte pressão saiu do cristal.

— Essas bestas não merecem o título de Asura pelas atrocidades que cometeram. Sua ganância por nosso conhecimento e medo de que possamos ultrapassar sua posição como os verdadeiros detentores do éter os levaram a matar não apenas nosso povo, mas também a fazer prisioneiros muitos de nossos magos mais poderosos na esperança de torturá-los e aprender.

Meus olhos se arregalaram com a explosão repentina do cristal. Não sabia o quanto acreditar, mas se tudo o que dizia fosse verdade, então o Clã Indrath não era tão diferente de Agrona e do Clã Vritra.

Eu queria argumentar, dizer que nem todos os dragões eram assim. Sylvia e Lady Myre foram algumas das criaturas mais gentis que conheci e que me ensinaram tanto. Mas o pensamento de Sylvia trouxe novas suspeitas. Com base em sua última mensagem, parecia que até ela havia passado a desprezar seu clã. As runas douradas que possuía eram um subproduto de suas descobertas desses antigos magos?

Mordendo minha língua, balancei a cabeça solenemente.

O cristal parecia estar me estudando antes de falar mais uma vez.

— Minhas desculpas por minha explosão. Não era apenas meu conhecimento que estava armazenado aqui, mas também minhas emoções. Como você supôs, o Clã Indrath, junto com o resto dos Asuras que seu líder havia enganado ao acreditar que éramos uma ameaça decidida a destruir o mundo, conseguiu ter sucesso em seu genocídio, mas não em sua busca por nosso conhecimento.

— Por causa dessas Relictombs que você construiu para manter os Asuras longe? — Eu perguntei.

— Relictombs?

— É assim que as pessoas que sondam aqui embaixo chamam esse lugar. — esclareci.

— Que apropriado. Sim. Este lugar é obra de centenas de magos hábeis em empunhar éter de diferentes éditos, como você deve ter imaginado. Tempo, espaço e vida funcionam de maneira diferente aqui, porém isso é uma obra do curso natural do tempo, e não do nosso próprio projeto. — disse o cristal com uma pitada de orgulho. — Conforme nossa civilização foi saqueada e queimada, nós criamos um ecossistema separado do resto deste mundo, um que não pode ser tocado por Asuras.

— Embora, eu não entendo como isso foi possível. Com centenas de magos de éter, como vocês perderam? — perguntei, mais confuso do que antes. — E também, como foi possível para o seu povo criar um lugar onde apenas seres inferiores eram permitidos quando o clã Indrath, limitado como era, ainda tinha a capacidade de influenciar o éter.

— Não cabe a mim responder. — disse o cristal. — E fomos capazes de fazer isso com os esforços de muitos magos de Spatium.

A frustração cresceu na boca do meu estômago e Regis também a sentiu. Bateu levemente na minha perna com o rabo.

— Tudo bem. — murmurei. — E quanto aos seres inferiores vasculhando este lugar, procurando pilhar qualquer coisa que puderem na esperança de ficar mais forte e encontrar pedaços de conhecimento que você armazenou aqui para trazer de volta aos Asuras a quem servem?

— Como você provavelmente testemunhou em primeira mão, nós planejamos proteções para essas contingências, então—

— Bem, essas contingências estão falhando lentamente. — interrompi. — Pode durar por algum tempo, mas como eu disse, um Asura do clã Vritra já está perto de obter revelações acerca do que o seu povo sabia sobre o éter usando seres inferiores para explorar essas ruínas para ele.

— Você deve obter revelações sobre o éter mais rápido, então. Comparado com o Asura, que nem mesmo é capaz de atravessar neste plano, seu físico e compreensão única lhe dão uma vantagem. — o cristal respondeu.

— Não é suficiente. Agrona teve centenas, senão milhares de anos a minha frente!

O cristal escureceu.

— Mas, apesar de tudo isso, este Agrona vê você como uma ameaça, certo?

Fiz uma careta.

— Bem, sim. Mas—

— Então há esperança. Isso significa que há uma possibilidade de você ter sucesso.

Parecia que eu estava falando com uma pedra neste momento. Bem, uma rocha não senciente feita de éter…

— Meu trabalho não é guiá-lo nem o tranquilizar. Também não está em minhas mãos controlar o resultado do Destino, apenas incliná-lo a nosso favor. — a pedra disse, como se sentisse minha frustração. — E é por isso que você vai receber estes…

De repente, os halos de pedra girando em torno do cristal pararam e um flash de luz roxa me envolveu antes que tivesse a chance de reagir.

Um leve formigamento irradiou do meu antebraço direito, bem como na minha espinha, mas mesmo isso durou apenas por um segundo. A luz diminuiu e a primeira coisa que notei foi uma runa negra correndo por dentro do meu antebraço.

— O que é isso?

— Isso… — o cristal disse. — é um armazenamento extradimensional gravado diretamente em seu braço. Você me mencionou sobre suas habilidades regenerativas, então esta runa é um pouco especial porque, mesmo que seu braço seja cortado, desde que cresça novamente, esta runa permanecerá com você.

— Então ninguém pode roubar nada armazenado dentro dela? — Regis perguntou, trazendo meu braço para baixo com a pata para que pudesse ter uma visão melhor.

— Exatamente. — respondeu o cristal. — Isso limita o espaço dentro da runa, mas eu diria que ainda caberia cerca de uma caixa de qualquer coisa inorgânica ou morta.

Meus olhos estudaram as formas geométricas complexas que compunham a runa escorrendo pelo meu braço.

— Isso…

— Você também me disse que esse Asura contra o qual você está lutando criou uma civilização de magos com feitiços básicos correndo por suas costas para ajudá-los na magia. Para que você se camufle melhor, gravei algumas runas inúteis em suas costas que descrevem aproximadamente seus feitiços etéreos como um subtipo raro de mana puro — explicou o cristal. — Não tenho certeza de como eles são capazes de ler a forma de feitiço, mas deve pelo menos permitir que você use suas habilidades etéricas básicas sem levantar muitas suspeitas.

— Nossa. Você é totalmente um Alacryano agora. — Regis brincou, usando sua pata para levantar as costas da minha camisa.

Fuzilando meu companheiro com um olhar, golpeei sua pata para longe.

— Tome cuidado. Se você usar um edito de éter, a runa divina brilhará acima dessas runas falsas. — advertiu o cristal.

Balancei a cabeça em compreensão, mostrando respeito pela primeira vez.

— Obrigado, de verdade. Ambos os presentes ajudarão tremendamente.

— Não me agradeça ainda. O verdadeiro artefato está no armazenamento extradimensional em seu braço. Ele contém as revelações necessárias para desbloquear outra runa divina.

Meus olhos se arregalaram quando retirei rapidamente o único item do armazenamento. Uma pequena pedra cuboide repousava na palma da minha mão e, além de sua forma e peso enganosamente pesado, não era nada notável, na melhor das hipóteses.

Ainda assim, estava animado com a perspectiva de desbloquear outra runa divina sem tentar ter uma revelação às cegas.

— Isso vai me ensinar como criar uma arma etérica como você foi capaz de fazer? Ou talvez negar o impacto? — Tentei adivinhar com base nas habilidades que ele usou em nossa luta.

O cristal brilhou.

— Não. Será algo muito mais útil se você for capaz de decifrá-lo.

— Decifrar? — Perguntou Regis. — Então essa pedra não vai apenas dar a Gray uma runa divina?

— Se isso fosse possível, tenho certeza de que o Clã Indrath ou Vritra já teriam assumido o controle do édito do Destino há muito tempo. — respondeu o cristal. — Não. Esta é apenas uma bússola da mente para obter revelações, e é uma que nem eu fui capaz de desvendar enquanto ainda estava vivo.

— Não é possível trocar este artefato por outro que me dê a habilidade que mencionei antes? — perguntei. — Aprender a manifestar uma arma ou ser capaz de negar ataques físicos seria extremamente útil para enfrentar os Alacryanos e os Vritra.

— Esses dois éditos são ramos menores os quais acredito que você pode obter revelação por conta própria. — afirmou o cristal. — Por outro lado, esse artefato contém um decreto capaz de ajudá-lo nas áreas das “Relictombs” que você ainda precisa atravessar e também ajudá-lo a virar a maré em sua próxima batalha.

Guardei o artefato de volta na dimensão do bolso junto com minha bolsa que continha a pedra de Sylvie.

— Tudo bem, mas você acabou de dizer que nem mesmo você foi capaz de decifrar este artefato. Se você pudesse pelo menos me ajudar a ter uma visão sobre a manifestação de uma runa etéri—

De repente, estávamos de volta ao laboratório, nós dois parados em frente ao portal de vidro.

 

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— Você realmente teve que pechinchar com um cristal de éter senciente ancião? — Regis suspirou, balançando a cabeça.

— Consegui obter algumas vantagens adicionais por causa disso, não foi? — rebati.

Com tudo que passei desde que cheguei a esta Relictomb, não me sentia nem um pouco próximo de saber como essa jornada se desenrolaria. Agrona não iria parar até que tivesse sucesso em obter uma visão sobre o Destino, e seria impossível saber se minha família, Tess, Virion, todos os outros com quem eu me importava, estavam seguros.

Mesmo assim, fiquei mais forte e recebi algumas tarefas tangíveis que precisava realizar.

Regis se virou, olhando para mim com um olhar sério.

— Como você foi capaz de obter informações sobre outro édito de éter?

— Passo Explosivo — respondi com um sorriso malicioso. — Acontece que a técnica que desenvolvi alguns anos atrás já era o primeiro passo para obter uma visão sobre este édito específico.

Regis inclinou a cabeça.

— Trocadilho intencional?

Fiz uma careta.

— Que trocadilho?

— Passo… deixa pra lá. — Regis deixou escapar um suspiro. — Então, o que mudou desde o Passo Explosivo original?

Embora seja difícil de explicar com palavras, descrevi a sensação que senti ao usar o Passo Explosivo contra a fera titânica que guardava o portal. Em vez de estimular apenas as partes necessárias do meu corpo para dar aquele “passo”, aglutinei o éter por todo o meu corpo. Diferente de quando usei o éter para me fortalecer, o conhecimento obtido através de uma revelação me guiou. Era quase como sintonizar a frequência do éter em um canal específico por uma fração de segundo, permitindo-me cortar o espaço para um local predeterminado.

Como esperado, Regis realmente parecia mais confuso do que antes de eu explicar. Sem as revelações que ganhei naquele momento, provavelmente também teria a mesma aparência. Depois de obter conhecimento sobre o édito de destruição e este ramo específico do espaço, pude ver por que as tentativas de Indrath de obter revelações sobre o éter por meio da tortura de magos antigos foram infrutíferas.

Não é que eles não explicaram, é que não puderam. Até mesmo esse último édito era diferente de quando eu tinha usado totalmente a vontade de dragão de Sylvia. Quando era capaz de usar esse tipo de pseudo Passo Explosivo, era na verdade eu “dobrando” o espaço e dando um passo físico através dessa dobra para cruzar uma distância impossível.

Este, embora tivesse um resultado semelhante, era diferente. Não estava manipulando o espaço ao meu redor, mas manipulando meu corpo nessa vibração etérica capaz de deslizar pelo espaço em uma velocidade quase instantânea.

— Então, é como o Passo Explosivo 2.0. — concluiu Regis.

— Não é o teletransporte verdadeiro, mas diria que está em um nível muito mais alto do que o Passo Explosivo.

O rabo de Regis começou a balançar.

— Então, tipo…Passo Divino?

Soltei um suspiro.

— Você tem que dar um nome a tudo? Não acha que isso meio que menospreza a técnica?

— Só se o nome for uma merda. — respondeu. — Hmm… Passo Asura?

Levantei uma sobrancelha.

— Nossos inimigos, aqueles que temos que derrotar, são Asuras.

— Você está certo. — disse antes de seus olhos se iluminarem. — Aah! Passo de Deus

Pensei por um momento antes de um sorriso surgir no meu rosto.

— Passo de Deus… gostei

— Ótimo! — Regis saltou de repente e desapareceu nas minhas costas.

— Você está pronta para Alacrya, princesa?

Respirando fundo, encarei o portal, olhando para a cena do outro lado. Precisava dar um passo de cada vez.

Começando com este.

— Claro.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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