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O Começo Depois do Fim – Cap. 274 – Seu Nome

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Acordei apenas para ver um teto abobadado mal iluminado por uma luz laranja oscilante. Isso foi tudo que fui capaz de compreender antes que meu corpo tão gentilmente me lembrasse o porquê de eu ter ficado inconsciente em primeiro lugar. Meu corpo parecia estar sendo totalmente torcido e espremido; uma dor ondulante e objeções ao movimento empurraram o ar completamente para fora dos meus pulmões.

Minha visão girou e demorei vários minutos para perceber que haviam outras pessoas falando.

— …algo que podemos fazer?

— A Princesa vai ficar bem. Ele só precisa de um pouco de espaço.

— O Lobo Falante está certo, Lady Caera. Já que elixires não funcionam no Efeminado, tudo o que podemos fazer é esperar.

— O que não entendo é como todos vocês podem aceitar com tanta calma o fato estarmos conversando com um lobo feito de sombras e fogo roxo!

— Você estava muito bem gritando comigo para te salvar lá zona de convergência, Srta. Mini-saia. Não vejo por que você está tão perplexa com isso agora.

— Mi-mini saia? O que você está—

— Era bastante óbvio que o Efeminado sempre foi cauteloso. Não é nenhuma surpresa que ele esteja escondendo algumas de suas habilidades.

Com o quarto estável e minhas feridas apenas perturbadoramente doloridas agora, consegui me apoiar nos cotovelos.

— Pensei ter dito para você parar de me chamar de Efeminado.

— Ah, parece que você está totalmente consciente agora. — Arian respondeu a  alguns metros de distância, onde ele, Taegen, Daria, Caera e Regis estavam situados ao redor de uma panela fervendo sobre o fogo. — Você já teve algumas convulsões como esta antes, então presumimos que você voltaria a dormir.

— Onde estou? — perguntei, Regis me ajudando ao empurrar minhas costas com sua cabeça.

— Você pode relaxar, respondeu Caera. — sua expressão uma mistura conflituosa de cautela e simpatia. — Estamos em uma sala santuário.

Meus olhos se encontraram com os dela, ressurgindo as memórias das chamas negras que ela conjurou.

Engolindo as emoções que passei a associar a elas, dor, perda, arrependimento e raiva, falei.

— Então, aquela besta gigante guardando a torre…

Arian me lançou um sorriso.

— Parece que seu plano de deixar o sopro da besta explodir na sua boca funcionou.

— O plano do Efeminado teria falhado se eu não tivesse ajudado. — Taegen  acrescentou, bufando. — Embora eu não achasse que realmente funcionaria.

Então eles não descobriram. A onda de choque do bafo da besta deve ter sido forte o suficiente para deixar Taegen e Arian inconscientes enquanto eu utilizava as runas de destruição que Regis armazenava em seu corpo.

Já que os carallianos na zona de convergência se desintegravam ao morrer, eles devem ter presumido que a mesma coisa tinha acontecido com aquela fera colossal.

A julgar pelas expressões de todos, pareciam ter muitas suspeitas, mas estava aliviado por eles não terem testemunhado meu uso do éter destrutivo.

— Todos nós temos perguntas para você, mas acho que é melhor recuperar suas forças. Daria disse suavemente me entregando uma tigela cheia de ensopado fumegante.

— Ouvi dizer que você é do Sul, mas você mesmo provou. O sangue Lehndert é famoso por receitas deliciosas e enriquecedoras.

— Este membro específico do sangue Lehndert parece ser particularmente mesquinho, no entanto. — Taegen murmurou. — Restringindo a todos a apenas duas porções por pessoa…

Daria sibilou para Taegen, lançando lhe um olhar feroz.

— Isso porque você começou a comer direto da panela usando a concha como colher!

— Ainda temos nossas próprias rações, Taegen. — Lady Caera disse enquanto  retirava calmamente o que parecia ser um tijolo marrom úmido com pedaços de frutas secas polvilhados nele.

— …Obrigado, Lady Caera. — A enorme massa de cabelos ruivos e músculos realmente soltou um suspiro antes de ele morder a barra de ração.

Apesar do fato de que meu corpo tecnicamente não precisava comer, minhas mãos automaticamente se estenderam. Deixei o calor se espalhar da tigela para minhas palmas antes de tomar um gole.

Um caldo rico e saudável desceu pela minha garganta, cobrindo minha boca com seu profundo sabor de carne. Minha expressão deve ter denunciado meus pensamentos porque olhei para cima para ver Daria com um sorriso malicioso, Caera olhando para mim com intriga e Taegen olhando ansiosamente para a tigela em minhas mãos.

— O poder da culinária Lenhndert triunfa novamente. — Daria riu. — Não pensei que fosse possível você fazer qualquer expressão além de irritado e inexpressivo.

Regis se aninhou ao meu lado, suas chamas roxas aparentemente frias ao toque.

— Ele é um molenga quando você o conhece.

Depois de terminar minha segunda tigela de ensopado, finalmente falei novamente.

— Embora suas ações tenham sido desnecessárias, obrigado por cuidarem de mim enquanto eu estava inconsciente.

Dei um tapinha em Regis, que ainda estava deitado.

— Vamos.

— Espere, você apenas vai embora agora que já descansou e se alimentou? — Daria perguntou.

Eu olhei a ascendente de cabelos castanhos.

— Existe alguma razão pela qual devemos continuar viajando juntos?

— Você é poderoso, assustadoramente, e é óbvio que você não revelou todas as suas habilidades. — Daria respondeu. — Mas há apenas uma ou duas zonas restantes até o próximo portal de saída aparecer. Vamos trabalhar juntos e voltar para casa em segurança. Já concordei em me juntar à equipe de Lady Caera.

Apesar de sem querer, Daria acabara de revelar dois fatos incrivelmente importantes. Primeiro, que haviam várias saídas e, segundo, que eles já haviam passado por um portal de saída, ou vários, antes disso. Isso significa que devo ter parado em algum lugar no meio das Relictombs.

Levantei-me e procurei todos os meus pertences. Percebendo que a adaga ainda estava amarrada a mim, a soltei da minha cintura e entreguei a Caera.

— Tive que pedir emprestado para a última batalha. Aqui.

Ela aceitou a adaga sem dizer uma palavra, sua expressão quase impossível de decifrar. Foi só quando me virei para ir embora que falou.

— Pare. — disse com um peso em sua voz que não tinha usado antes.

Olhei por cima do ombro a tempo de pegar a adaga que jogou de volta para mim.

— Você vai precisar delas assim que sair das Relictombs.

Olhei para a adaga em minha mão, percebendo que havia uma moeda de ouro amarrada à correia que não estava lá antes. O desenho de asas emplumadas estendidas a partir de um escudo em forma de coroa estava delicadamente gravado na face do medalhão.

— Lady Caera! — Taegen começou antes que a ascendente de cabelo azul marinho levantasse a mão.

— O que te faz dizer isso? — perguntei, meu olhar em Caera, que estava derramando um líquido fumegante em sua xícara de metal.

— Será a maneira mais fácil de provar a si mesmo sem ter que revelar sua identidade na frente de todos os oficiais do reino à espera de ascendentes que saem das Relictombs. — Caera tomou um gole antes de me encarar com um olhar sério.  — Basta dizer que você é um ascendente nômade contratado pelo Sangue Denoir.

Não tinha pensado na possibilidade de pessoas esperando do lado de fora das Relictombs. Esqueci que esta não era apenas uma masmorra onde os aventureiros podiam entrar e sair quando quisessem. Um dos propósitos fundamentais para essas Relictombs era recuperar artefatos perdidos dos antigos magos, então é claro que haveriam oficiais garantindo que isso fosse regulamentado.

— Então qual é a da adaga? Achei que fosse do seu irmão? — perguntei afrouxando o medalhão amarrado à correia da adaga.

— É sim. É por isso que espero que você o devolva eventualmente junto com o medalhão. — respondeu Caera. — A propriedade Denoir será fácil de encontrar quando você chegar ao domínio da capital no centro de Alacrya.

— Domínio central? — Minhas sobrancelhas franziram. — Não tenho planos de—

— Então você deseja que eu pegue de volta a adaga e o medalhão?

Agarrei a moeda de ouro em minhas mãos enquanto decidia.

— O que te faz pensar que vou devolvê-lo assim que estiver fora das Relictombs?

— O sangue Denoir Debonair sempre teve um bom olho para as pessoas. — afirmou simplesmente. — Você conhece um segredo meu e eu conheço um seu. Não vou tentar forçá-lo a vir conosco, mas espero que possamos nos encontrar novamente e compartilhar uma conversa em melhores circunstâncias.

— Espere, você vai apenas deixa-lo ir? — Daria se levantou. — Eu ainda tenho um simulador que você pode pegar. Assim que estivermos todos fora daqui o Sangue Lihndert definitivamente pode fornecer a você o que quiser. Eu já disse isso, estamos sempre procurando atacantes poderosos.

— E você também o chamou de bonito. — acrescentou Regis.

Daria corou e lançou um olhar para ele.

— Sim, eu chamei. — E geralmente, fazendo alguns elogios e expondo um pouco de pele.

— Obrigado pela oferta, mas terei que recusar. — disse a Daria. — Quanto ao medalhão e adaga. Eu vou devolvê-los.

Troquei olhares com Taegen e Arian. Embora ambos parecessem um pouco relutantes, me lançaram um aceno.

Fiz meu caminho em direção ao final do santuário, onde uma porta fechada me esperava. Abri-la mostrou um portal cintilante que eu sabia que me levaria para um lugar diferente do resto.

— Seu nome. — ela disse sobre as chamas crepitantes.

Voltando-me, pude ver que Caera também estava de pé.

— Eu não preciso saber de que sangue você é, mas pelo menos um nome…

Era uma pergunta simples a qual tive dificuldade em responder. Apesar das mudanças em minha aparência, me tratar por Arthur não seria inteligente, muitos Alacryanos tinham ouvido falar da Lança com esse nome durante a guerra.

Ao mesmo tempo, não queria que o nome que usasse agora fosse um mero apelido para permanecer oculto. Meu motivo não era ficar escondido.

Precisava de algum tempo sob o radar enquanto ficava mais forte, mas isso não seria o mesmo que me chamar de Note durante o tempo em que estava fingindo ser o aventureiro mascarado.

Não. Queria que meu nome fosse uma declaração que ninguém mais, exceto meus parentes, Agrona e os Asuras saberiam. E meu objetivo seria, quando Agrona ouvisse esse nome o conectasse a quem eu realmente sou, que eu fosse um inimigo poderoso o suficiente para enfrentá-lo.

— Meu nome é Grey. — respondi, caminhando através do portal.

 

Separador Tsun

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Tanto Regis quanto eu ficamos em alerta total assim que entramos, esperando outra fera movida a éter. Eu meio que desejava que a porta permanecesse como no primeiro santuário. Da última vez, consegui desbloqueá-lo com meu conhecimento limitado de runas etéreas para descansar e desafiar o nível várias vezes.

No entanto, o que encontramos foi um silêncio mortal e um corredor com cerca de dois ombros de largura, fortemente iluminado por painéis de luz descendo pelo topo das paredes. Me virei para ver que o portal pelo qual passamos havia desaparecido, me deixando com apenas um caminho.

— Bem, isso é estranho. — observou Regis, caudas de chamas pretas e roxas balançando em sua forma de lobo enquanto caminhava ao meu lado.

— Sim. — Meus olhos dispararam para a esquerda e para a direita, nunca parando em um só lugar com a adrenalina correndo por mim. Estava quieto e calmo, mas com a luz branca e as paredes brancas imaculadamente lisas, não pude deixar de me sentir no limite.

Enquanto caminhávamos, no entanto, devo ter acionado algo porque as runas de repente se iluminaram nas paredes em cada lado e as luzes do corredor de repente ficaram roxas.

Não tive muito tempo para reagir depois disso porque uma força indescritível subitamente nos puxou para frente, colocando tanto Regis quanto eu de frente de uma entrada maciça feita do que parecia ser cristal negro que definitivamente não estava perto do caminho que estávamos percorrendo.

O ar de repente voltou aos meus pulmões, o que me fez perceber que estava prendendo a respiração. Nos portões sólidos de preto cintilante haviam gravuras em índigo que, apenas em uma inspeção mais próxima, pareciam ser runas.

— Bem-vindo, Ser de Éter e Carne. Por favor, entre.

Uma voz abruptamente falou em minha cabeça. Tendo compartilhado comunicações telepáticas com Sylvie e Regis, estava acostumado a ouvir vozes em minha cabeça. Contudo, isso era diferente. Não parecia que alguém ou algo estava falando. Parecia que fui eu quem de repente pensou isso comigo mesmo.

— Você ouviu aquela voz também? — Perguntei a Regis.

Ele inclinou a cabeça.

— Ouvi algo, mas a voz estava abafada demais para eu entender qualquer coisa.

— Fique dentro de mim, só por precaução.

Quando a forma sombria do meu companheiro desapareceu conforme entrava pelas minhas costas, olhei em volta mais uma vez. Não havia corredor atrás de mim no momento, apenas três paredes brancas, um teto e chão brancos e um único portão sólido cristalino que emitia um brilho roxo. Pisei na frente dele, cautelosamente alcançando a porta.

Quando as pontas dos meus dedos roçaram a superfície, no entanto, um toque quente e quase familiar me envolveu e minha mão afundou no cristal aparentemente sólido.

Hesitei em ir mais fundo, porém não pude evitar ser atraído pelo o que quer que estivesse do outro lado, avançando mais uma vez por outra entrada para o desconhecido.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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