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O Começo Depois do Fim – Cap. 267 – Praga de Arco (POV Ellie – Capítulo 4)

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Sorri para a Anciã Rinia. Seu senso de humor irônico era uma das coisas que eu realmente gostava dela. Enquanto todos os outros na cidade subterrânea caminhavam como se cada dia fosse um longo funeral, a velha vidente ainda conseguia encontrar humor, apesar de tudo o que tinha acontecido.

O sorriso afetado lentamente sumiu do meu rosto quando a anciã Rinia me fitava com um olhar penetrante e sem humor.

— Espera, você tá falando sério? — perguntei incerta.

— Sério como uma… como uma… — A anciã Rinia parou, a boca ligeiramente aberta, os olhos girando em direção ao telhado da caverna tentando dizer o que quer que fosse. — Droga, esqueci a frase, mas sim, estou falando muito sério. Se você acha que está pronta para os perigos da batalha, prove. A criatura que assombra esses túneis é um perigo genuíno, para mim, para você e para todos os outros na colônia. Quer minha sabedoria? Bem, você vai ter que merecer, querida Ellie.

Mais uma vez, não tenho certeza do que dizer. A anciã Rinia era um enigma; não conseguia nem começar a adivinhar o motivo por trás de suas ações, então tive que presumir que caçar e matar esse duende da praga era importante para a missão em Elenoir de alguma forma.

A imagem de gosma azul derramando-se de minha boca e nariz me veio à mente e senti o gosto de hortelã novamente. Ou talvez Rinia precise de alguma parte do duende da praga para seus estoques?

— Eu preciso trazer alguma parte da besta de volta? — perguntei. A anciã Rinia sorriu maliciosamente. — Garota esperta. Sim, mate a criatura e traga-me sua língua como prova.

Balancei a cabeça para mim mesma, meu coração disparando de emoção e medo. Pensei na batalha na Muralha, como a emoção e a adrenalina da luta se chocaram com o terror que senti ao ver a horda massacrar nossos soldados no campo de batalha…

Sempre foi assim, imaginei. Até meu irmão deve ter ficado com medo às vezes, mas sabia que ele estava ansioso para lutar, e ficar mais forte também. Ele disse que só queria ser forte o suficiente para proteger sua família, mas se isso fosse verdade, por que se sacrificou por Tessia?

Não tinha certeza se algum dia entenderia.

— Agora, há algumas coisas que você deve saber. — disse a anciã Rinia, interrompendo meus pensamentos. — O duende da praga não vai ficar parado e tentar lutar com você, especialmente não com aquele urso gigante protegendo você.

— Se ele não conseguir se aproximar de você, tentará te levar para uma armadilha. Não deixe isso acontecer. Se puder pegá-lo esperando por você e colocar uma flecha em seu pequeno coração preto antes que tenha a chance de se mover, essa é sua melhor aposta.

— E aconteça o que acontecer, não deixe a coisa lançar a fumaça em você novamente. Essa foi a última gota da minha gordura de caracol do gelo por quem sabe quanto tempo.

— Você não deveria saber quando vai conseguir mais? — perguntei. — Ser um vidente e tudo mais? — Apesar do meu nervosismo e do meu medo, uma energia vertiginosa estava começando a tomar conta de mim, e não pude evitar o sorriso grande e bobo que apareceu no meu rosto.

Carrancuda, a anciã Rinia disse.

— Ora, sua pequena… — então se levantou e começou a me enxotar. Pulei e, ainda sorrindo, deixei que ela me conduzisse em direção à “porta de sua casa na caverna”. — Não volte antes de aprender um pouco de respeito e não se esqueça daquela língua!

Rindo, escorreguei pela fenda e saí para o túnel escuro. Meu vínculo era uma sombra grande e difusa guardando a entrada. Virou sua cabeça larga para me encarar enquanto me aproximava, corri minha mão por seu focinho e entre seus olhos, fazendo-lhe cafuné. Boo fechou os olhos e bufou de prazer.

— Você está pronto para alguma ação, garotão? — grunhiu, um estrondo do fundo de seu peito que teria sido assustador se não fosse meu vínculo. — Nós vamos caçar.

Começamos nossa caçada voltando para onde havíamos encontrado a matilha de ratos das cavernas. Mais duas criaturas já haviam encontrado os corpos e estavam ativamente canibalizando os restos mortais.

Nós nos aproximamos na escuridão total, o artefato de luz agora escondido dentro de um bolso fundo de minhas calças largas. Tinha decidido que era mais seguro mover-se no escuro do que revelar nossa localização com a pedra da lanterna, contando, em vez disso, com minha audição reforçada pela mana para nos guiar.

Ainda assim, Boo não era exatamente furtivo, e os ratos das cavernas nos ouviram chegando. Eles se inflaram e sibilaram ameaçadoramente, protegendo a refeição, mas se viraram e fugiram quando Boo os atacou.

Quando tive certeza de que tinham sumido, retirei o artefato de luz e o segurei.

— Boo, veja se você consegue pegar o cheiro do duende da praga no teto. — Apontei para a pedra áspera acima de nossas cabeças.

Meu vínculo ficou em suas patas traseiras, estendendo seu nariz preto brilhante até o teto do túnel, e começou a farejar. Depois de apenas alguns segundos, caiu de quatro e baixou o focinho largo no chão, continuando a cheirar profundamente.

O segui enquanto nos levava para longe dos cadáveres mastigados, movendo-se lentamente, o nariz pressionado no chão.

Depois de cerca de um minuto, Boo parou e se virou para olhar para mim, seus olhos inteligentes brilhando verdes na luz fraca da pedra da lanterna. Bufou, expandindo seus flancos, então sacudiu sua pele peluda como um cachorro molhado. Ele tinha o cheiro.

— Ok, vamos lá pegá-lo, Boo.

Meu vínculo resmungou, então saiu rapidamente, movendo-se rapidamente agora. Guardei o artefato de luz novamente e o segui, meu arco pronto.

 

Separador Tsun

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O duende da praga tinha coberto um pouco de distância desde que nos atacara. Seguimos seu cheiro por uma hora, depois duas, mas ainda não o tínhamos visto. Os túneis ao redor de nossa cidade subterrânea eram um labirinto sinuoso e entrecruzado, o duende da praga se movia erraticamente, dobrando para trás como se soubesse que o estávamos procurando. Com base no que a Anciã Rinia havia dito, me perguntei se a besta de mana era paranoica, sempre rastejando como se algo a estivesse perseguindo.

Estava andando logo atrás de Boo, meu ombro direito pressionado contra seu flanco esquerdo, então quando parou soube imediatamente. O corpo inteiro do urso ficou rígido, sua pele dura tremendo ligeiramente. Esperei, meus dedos na corda do meu arco, pronto para puxar em um instante. De algum lugar à frente, meus ouvidos aprimorados com mana captaram o som fraco de garras arranhando a pedra. Escutei atentamente, tentando descobrir quantos eram.

Oito, pensei nervosamente, imaginando quantos ratos das cavernas meu vínculo poderia combater com segurança. O bando estava se movendo em nossa direção, mas eram lentos e sem pressa, não haviam captado nosso cheiro ainda.

Parecia que havia uma curva suave no túnel, talvez quinze ou dezoito metros à frente. Decidindo um plano, pressionei as costas de Boo para que se agachasse na minha frente, achatando-se contra a terra dura para que eu pudesse ver e atirar sobre ele.

Puxando meu arco, conjurei uma flecha de mana brilhante, semicerrando os olhos contra o brilho repentino, e atirei a flecha para baixo do túnel, onde se alojou na parede de pedra. Concentrei-me em manter a flecha no lugar, sua luz brilhante um farol na escuridão total.

A reação foi imediata. Mais adiante no túnel, o bando de ratos das cavernas começou a correr em direção à luz. Pouco antes de eles aparecerem, conjurei uma segunda flecha e empurrei mana através dela, fazendo com que a flecha inchasse e o ar ao redor tremesse.

Ao mesmo tempo, deixei a flecha brilhante que havia atraído as bestas de mana desaparecer, mergulhando o túnel à frente na escuridão. Escutei atentamente enquanto os ratos das cavernas se arrastavam à nossa frente, arranhando as paredes e o piso do túnel procurando a fonte da luz.

A corda do meu arco retumbou quando dei meu tiro. A flecha branca saliente e brilhante deixou um rastro branco atrás dela descendo pelo túnel, então explodiu no ar bem no meio da matilha, fazendo os ratos das cavernas voarem.

Boo tremia de ansiedade, pronto para correr pelo corredor e acabar com eles, mas não podia ter certeza de quantos ratos das cavernas sobreviveram, e não queria arriscar que meu vínculo fosse ferido sem motivo.

Concentrei mais mana em meus ouvidos e conjurei outra flecha, e quando ouvi o som de luta de um rato da caverna tentando se levantar do chão, deixei a flecha de mana voar. Fui capaz de atirar mais rápido do que a matilha poderia se reunir, em poucos instantes os ratos da caverna estavam completamente silenciosos.

Quando tivemos certeza de que a ameaça havia sido resolvida, Boo se levantou e bufou de mau humor.

— Desculpe, Boo. Só estou guardando você para a luta real, ok? — Meu vínculo resmungou novamente, acariciei seu pelo grosso. — Vamos nos certificar de que pegamos todos eles.

Segui Boo pelo túnel e esperei ao mesmo tempo em que ele farejava os cadáveres de ratos das cavernas, cutucando-os com o focinho. Quando um assobiou sem fôlego, ele o esmagou com suas poderosas mandíbulas e, embora eu não tenha visto, ouvi a carne da besta de mana se rasgar e seus ossos quebrarem quando ela soltou seu último suspiro.

Com isso fora do caminho, Boo encontrou o cheiro do duende da praga novamente e seguimos em frente.

Espero que encontremos a besta logo, pensei. A viagem de ida e volta para a casa de Rinia não deveria ter levado mais do que algumas horas, e eu já estive fora por mais tempo do que isso. Minha mãe ficaria preocupada…

Naquele momento, ocorreu-me que minha mãe ficaria furiosa se soubesse o que eu estava fazendo. Nem havia discutido minha participação na missão que estava por vir a Elenoir com ela, apenas disse que ia visitar Rinia e depois fugi com Boo.

Ela nem teve tempo de me bombardear com perguntas sobre a reunião do conselho, que eu sabia que estava curiosa, mesmo que fingisse não querer nada com a liderança, ou sobrevivência, de nossa pequena colônia.

Essa conversa ia ser difícil o suficiente; talvez tenha sido melhor do que ela não descobrir sobre minha caça solo pelos túneis.

Meus ouvidos estremeceram quando ouvi o tilintar de pequenos seixos quicando nas paredes de pedra.

Muito distraída para ter prestado atenção adequadamente, empurrei meu arco para cima, uma flecha se formando contra a corda, e apontei para o teto, procurando a forma encolhida e sarnenta no sutil brilho branco de minha mana.

Nem tive tempo de decidir se uma forma sombria se projetando para baixo do telhado era realmente minha presa ou apenas um pedaço de pedra antes de meu tornozelo esquerdo torcer e escorregar para longe de mim.

Um grito de pânico explodiu de minha boca quando minha perna esquerda mergulhou em uma fenda invisível no chão, então foi interrompido quando a borda de pedra do buraco me atingiu nas costelas. Lutei para agarrar algo, tentando usar meu braço esquerdo e minha perna direita para me apoiar no lugar para não deslizar mais para baixo, mas o ar já havia sido tirado de mim e eu não tinha forças para me sustentar.

Boo berrou acima de mim, mas quando se virou para ajudar, praticamente pisou em mim, então uma pata enorme bateu contra a parte de trás da minha cabeça, me sacudindo tanto que me dobrei como um pedaço de pergaminho enquanto escorregava mais para dentro do buraco.

Meu corpo parou quando meu arco se agarrou, apoiado na boca do buraco em que eu deslizei para criar uma espécie de apoio para a mão. Segurando a maior parte do peso do meu corpo apenas com a mão esquerda na empunhadura do arco, tentei desembaraçar minha perna direita, que estava dolorosamente dobrada de modo que meu pé ficasse próximo à minha cabeça.

Isso, ao que parece, foi um erro.

Assim que liberei minha perna, meu corpo escorregou de novo, arrancando minha mão do arco e me fazendo cair pela estreita fenda na pedra, quicando dolorosamente nas paredes.

Percebendo que não havia mais nada a fazer, revesti todo o meu corpo com mana e coloquei minha cabeça em meus braços para proteger meu crânio. Momentos depois, as paredes de castigo desapareceram e eu caí ruidosamente no chão de pedra de outro túnel.

Vaga-lumes dançavam no escuro ao meu redor, ou eram estrelas? Estrelinhas brilhando como flocos de neve…

Um rugido preocupado ecoou pelos túneis, sacudindo a pedra como um terremoto e me trazendo de volta à realidade. Percebi com uma nova onda de pânico que não estava respirando, que não conseguia respirar. A queda tirou o fôlego de mim e eu ofeguei por ar, tentando encher meus pulmões.

Poeira e pequenas pedras choveram ao meu redor enquanto, em algum lugar acima, meu vínculo cavava freneticamente na fenda que conectava os dois túneis.  Tentei dizer algo, para ter certeza de que ele sabia que não estava morta, mas sem fôlego, não consegui pronunciar as palavras.

Então, recebi outro choque ao ouvir o som de madeira batendo contra a pedra:  meu arco, caindo no buraco.

Minha cabeça explodiu de dor e as estrelas pareciam explodir ao meu redor enquanto rolava para fora do caminho bem a tempo de evitar ser golpeada pela minha própria arma, que atingiu o chão ao meu lado e saltou para longe, batendo para descansar vários metros mais longe até o túnel.

Respirei fundo e finalmente consegui respirar. Por vários segundos, apenas me concentrei em respirar. As estrelas desapareceram, uma a uma, deixando-me na escuridão.

Finalmente, quando senti que tinha ar para isso, gritei baixinho por meu vínculo.

— Boo! Está tudo bem, garotão, estou bem!

O raspar das garras na pedra parou e um lamentável gemido ressoou do túnel acima.

— Você não vai conseguir descer por essa fissura, Boo. — disse, mas então tive que parar para tomar várias respirações estremecidas. Cada uma enviava uma dor aguda pelo meu lado e pulsava na minha cabeça. — Você vai ter que encontrar outro caminho.

Boo grunhiu nervosamente.

Rolando, me empurrei para cima com os braços ainda trêmulos. Uma onda de dor subiu pelo meu tornozelo direito e atingiu o joelho, mas quando testei sua força, a perna não cedeu.

Alcançando um braço, tateei no ar acima de mim em busca do teto do túnel. Preparando-me para a reação de dor, infundi mana em minhas pernas e pulei para cima, mas mal consegui raspar o teto com a ponta dos dedos.

— Não há como subir de volta. Eu–eu vou continuar andando. Você faz o mesmo. Tente encontrar meu cheiro, Boo!

Um estrondo consternado, quase choroso.

— E tenha cuidado! O duende da praga pode estar em qualquer lugar… — estremeci ao perceber a verdade de minhas próprias palavras. Decidindo que, sem a proteção de Boo, era muito arriscado andar às cegas no escuro, olhei no bolso e tirei o artefato de luz, que imediatamente derramou sua luz quente e fraca ao meu redor, iluminando o túnel.

Era quase idêntico ao resto dos túneis que eu tinha visto aqui: um tubo áspero com cerca de dois ou três metros de largura e altura. Tessia pensou que alguma besta gigante de mana parecida com um verme deve ter se enterrado aqui há muito tempo, deixando os túneis em seu rastro, mas mamãe pensou que eram tubos de lava.

Espanando a poeira, caminhei cautelosamente até onde meu arco estava no chão. Um gemido de dor escapou de mim quando me inclinei para pegar minha arma caída.

Eu pareço uma velha! Ri de mim mesma, o que só enviou outra onda de dor nas minhas costas, pescoço e lados.

Estava nervosa que o arco teria sido arruinado pela queda, ou por ser usado como um salva-vidas para me salvar da queda, mas não estava danificado além de alguns arranhões e amassados. Puxei a corda para trás e a segurei, apenas para ter certeza de que o eixo não se partisse ao meio sob pressão. Estava estável.

— Bem. — disse baixinho, — isso poderia ter sido pior.

Então algo me atingiu por trás.

Me lancei para frente em um rolo, sacudindo meu ombro dolorosamente contra o chão duro. Usando meu arco como um bastão, girei-o atrás de mim me levantando e o sentia atingir meu atacante.

No mesmo movimento, me virei e coloquei meus dedos na corda do arco, preparando-me para puxar e atirar, mas em vez disso tive que puxá-lo para cima,

segurando-a na minha frente como um escudo. Duas mãos nodosas com garras negras agarraram o arco e empurraram.

Com mana surgindo pelo meu corpo, mal fui capaz de me impedir de cair para trás. O duende da praga continuou a avançar, estalando suas mandíbulas viscosas em direção à minha garganta enquanto eu lutava para empurrar para trás.

Infundindo mana em meus braços, lancei para frente, tentando e falhando em jogar o duende da praga para longe de mim. A criatura fez um ruído de asfixia com a garganta que me lembrou uma risada, então respirou fundo.

Vai usar seu ataque de respiração! 

Desesperada, conjurei uma flecha na corda do arco de modo que ela apareceu entre o duende da praga e mim. Então, me deixei cair para trás enquanto a besta de mana grosseira continuava a correr em minha direção.

O duende da praga, com as garras ainda enroladas na haste do meu arco, saltou para a frente com a mudança repentina de impulso, e minha flecha de mana empalou seu ombro.

Um grito horrível explodiu dele, interrompendo seu ataque, e o duende da praga correu para trás e para longe de mim, arranhando e mordendo a flecha de mana enquanto tentava desalojá-la.

Do chão, puxei o arco e invoquei uma segunda flecha, mas o tiro foi direto sobre a cabeça deformada e semelhante a um rato do duende da praga e fracassou quando atingiu a parede. Um segundo tiro errou por vários centímetros quando a praga saltou na parede e deslizou, como uma aranha, para o teto.

Ele parou bruscamente quando uma terceira flecha atingiu a pedra bem na frente dele, então caiu do telhado para pousar a um braço de distância. É muito rápido!

À beira do pânico, disparei outra flecha explosiva. O raio ondulante de mana voou sobre a cabeça do duende da praga, então explodiu alguns metros atrás do meu alvo, jogando nós dois para longe.

Fui achatada pela força disso, caindo para trás em uma espécie de salto mortal reverso.

O duende da praga quicou no chão de pedra, parando em algum lugar atrás de mim e à minha direita.

Uma voz dentro da minha cabeça, que parecia muito com a de Arthur, estava gritando para que me levante!

De alguma forma, segurei meu arco. Estava deitada em cima dele, de bruços contra o chão áspero do túnel. Tentei me levantar, mas não havia força em meus braços. Em vez disso, rolei dolorosamente para o lado e me apoiei em um cotovelo, depois girei para olhar ao redor atrás de mim em busca da besta de mana esquelética.

Ele estava se recuperando mais rápido do que eu, já se arrastando desajeitadamente pelo chão em minha direção, seus olhinhos redondos cheios de ódio.

Empurrei meu arco, tentando levantá-lo para mais um tiro, mas uma extremidade ainda estava alojada sob meu quadril. Me mexi, tentando puxá-lo, mas não foi o suficiente. Gritei de dor e medo enquanto balançava para o lado e puxava novamente, e o arco finalmente deslizou livre. Rolei em uma posição meio sentada para melhor puxar para trás a corda do arco, mas uma mão desgrenhada com garras pretas como garras agarrou o arco e tentou arrancá-lo de minhas mãos, fazendo com que eu tombasse de lado.

Bati com força no chão frio e úmido, quase tirando o ar de mim quando o peso do duende da praga me pressionou e sua boca ainda batia em meu rosto. Mana explodiu em meus braços enquanto puxava meu arco para que as presas torcidas e deformadas enterrassem na haste de madeira em vez de na minha garganta exposta.

Assisti com horror enquanto o duende da praga rasgava e despedaçava meu lindo arco: o mesmo arco que Emily Watsken tinha feito para mim quando todos nós ficávamos no castelo juntos.

A horrível besta de mana parecia quase encantada com o fato de estar destruindo algo precioso… tanto que foi totalmente distraída de mim por apenas um segundo.

A madeira ao redor da empunhadura do arco começou a lascar e rachar. As mãos ou patas da frente do duende da praga, com seus dedos longos e com garras, ainda estavam enroladas no arco, mas suas garras traseiras estavam cavando e arranhando selvagemente. Quando um deles agarrou minha perna e rasgou minha calça, deixando um corte longo e profundo na minha canela, gritei de novo.

Os olhos escuros e redondos da besta mudaram de direção, voltando a se concentrar no meu rosto. Sua horrível língua parecida com uma enguia que pendia de sua boca, seu hálito de fruta podre quase me engasgando.

Meu coração martelou na garganta quando percebi que estava prestes a morrer.  Todo o meu treinamento, todo aquele tempo com Arthur e Sylvie derrubando blocos de pedra e ursos em chamas e discos giratórios de gelo, para quê? Morrer sem se desculpar adequadamente com minha mãe e deixá-la sozinha…

Se eu pudesse controlar a pedra como Arthur, ou atirar mana de minhas mãos como Sylvie

O pensamento mal havia se formado na minha cabeça quando percebi o que precisava fazer. Mas nunca tentei recriar a magia que vi Sylvie usar há muito tempo.

Não tenho tempo! A não ser—

Usando cada onça de força que tinha, empurrei meu arco na mandíbula do duende da praga, empurrando-o profundamente em sua boca nojenta. Os dentes desiguais perfuraram a madeira até que, com um único golpe final, meu arco se partiu ao meio.

O duende agarrou uma metade do arco quebrado com as duas garras e começou a roer a ponta, mastigando-o como um lobo com um osso quebrado. Sem nem mesmo tempo para lamentar meu precioso arco, levantei minha mão esquerda livre e me concentrei em condensar mana pura em minha palma. Helen sempre disse que eu era extraordinariamente talentosa em manipular mana pura na forma de minha escolha, e suas palavras ressoando em minha cabeça foram o que me deu a confiança para conjurar um dardo fino e de cabeça larga na palma da minha mão com pouco esforço. A próxima parte foi mais difícil.

Vendo a flecha branca crepitante começar a se formar na minha palma, o duende da praga cambaleou para trás, soltando as ruínas da minha arma. Ao mesmo tempo,

ouvi-o inspirar irregularmente e chocalhar se preparando para exalar gases mortais em mim.

Imaginando a corda do meu arco agora inútil atrás da flecha de mana brilhando em minha palma, imaginei toda aquela força, aquela energia potencial, armazenada em mim, e moldei a mana em minha mente até que pudesse senti-la empurrando de volta contra minha mão, uma bola de força se esforçando para se soltar.

Segurei, esperando que meu alvo fizesse um movimento, com medo de dar apenas um tiro. O tempo pareceu parar enquanto nós dois congelamos, cada um esperando que o outro fizesse um movimento.

Então, um rugido monstruoso e selvagem atravessou o túnel, fazendo com que o duende da praga girasse, seu hálito mortal ondulando ao redor dele como uma nuvem em vez de ser direcionado a mim.

Naquele instante, como um soco no estômago, senti o mundo ao meu redor mudar.

O túnel escuro, iluminado apenas pelo meu artefato de iluminação, que estava meio escondido em uma depressão no chão em algum lugar atrás de mim, entrou nitidamente em foco. Cada fissura e afloramento de repente estava tão claro como se uma lua prateada da meia-noite brilhasse sobre mim.

Meu olfato parecia mudar também. Podia não apenas sentir o cheiro do gás fétido do fogão, mas também sentir onde e com que rapidez seu ataque estava se espalhando. Podia sentir o cheiro de suor cobrindo minha própria pele, a poeira do chão do túnel e até mesmo o almíscar sutil de Boo, embora ainda não pudesse vê-lo.

Conforme meus sentidos se tornaram aguçados e bestiais, uma coragem feroz tomou conta de mim e esqueci meu medo da morte e do fracasso. Minha mão estava firme quando mirei, colocando o como e o porquê da minha transformação repentina no fundo da minha mente enquanto me concentrava em meus sentidos recentemente aguçados.

Deixei o feixe de força que reuni estourar, arremessando a flecha de mana em direção ao duende da praga como se tivesse sido disparada do meu arco. O raio brilhante zumbiu enquanto voava poucos metros até meu alvo, acertando-o bem atrás de seu ombro e perfurando profundamente seu peito.

O duende da praga caiu gritando no chão, depois tentou se levantar, mas caiu novamente. Uma névoa verde turva escoou de sua boca enquanto olhava freneticamente ao redor, seus olhos esbugalhados e a língua pendurada grotescamente.

Enquanto passava por seus estertores de morte, cambaleei para trás, ficando o mais longe que pude da nuvem verde que estava enchendo o corredor ao redor dele. A sensação daquele gás queimando minha garganta e pulmões ainda estava muito fresca…

O som de bufos e grunhidos, e de pés pesados com garras correndo pela pedra, veio da escuridão do outro lado da nuvem de gás. Boo parou assim que chegou perto o suficiente para ver o cadáver do duende da praga e a nuvem mortal que o cercava.

— Ei garotão — disse cansada, dando um pequeno aceno ao meu vínculo. Recuou sobre as patas traseiras, andando de um lado para o outro no túnel e bufando ansiosamente enquanto esperava o gás se dispersar. — Conseguimos, Boo.

Ele encontrou meu olhar, bufou, então se acomodou sobre as patas traseiras. A incrível clareza dos meus sentidos se desvaneceu, e a exaustão invadiu meus músculos doloridos e minha mente cansada, afastando a coragem estranha e anormal que senti brevemente no processo. Foi como se eu de repente tivesse descoberto algo que sempre esteve dentro de mim, mas agora tinha voltado a dormir. Algo que parecia um pouco com Boo.

Deitada, descansei entorpecidamente na pedra dura e áspera. Uma ponta afiada de pedra estava cravada em meu quadril, mas não me importei. Meu coração batia forte contra minhas costelas com a empolgação da minha descoberta e vitória sobre o duende da praga, embora o momento fosse agridoce.

A perda do meu arco curto, uma arma insubstituível projetada apenas para mim, foi um preço alto a pagar pela língua do duende da praga.

É melhor que isso valha a pena.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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