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O Começo Depois do Fim – Cap. 258 – Purgar

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— Ugh, o que é isso? O que aconteceu? — Regis gemeu, coberto de lodo translúcido, escorregando para fora da parte de trás do cadáver do milípede.

Contive uma risada.

— Não sabia que fezes de milípede podiam falar.

A expressão de Regis escureceu quando olhou de onde ele veio.

— Oh merda…

— Sim, exatamente! — ri, incapaz de me segurar por mais tempo.

Depois que o milípede gigante morreu e seus órgãos começaram a falhar, pude ver Regis sendo lentamente empurrado para o traseiro da fera.

Em vez de tentar quebrar sua casca externa e arrancar Regis de dentro, deixei a natureza seguir seu curso.

— De qualquer forma, bem-vindo de volta. — cumprimentei com um sorriso, dando um tapinha no meu companheiro gosmento. — Como se sente?

Regis baixou o olhar. Por uma fração de segundo, fiquei preocupado que pudesse desmaiar, mas olhou para mim com a boca curvada em um sorriso.

— …Como lixo.

Apesar do quão exaustos e miseráveis nós estávamos, tudo parecia um pouco melhor enquanto ríamos de nossas próprias piadas infantis.

E com o milípede gigante morto, parecia que tinha alcançado outro novo marco de crescimento.

Após uma breve pausa, nós dois começamos a colher os frutos de nossa última vitória. Em vez das colinas de cristais de éter dentro da caverna, concentrei minha atenção no milípede.

Precisei apenas olhar de relance para perceber que o cadáver da besta de éter era a maior e mais potente fonte de éter em toda a caverna. Escalando o topo do milípede gigante, comecei a trabalhar consumindo o éter de seu corpo.

À medida que meu núcleo de éter se desenvolvia, também aumentava sua taxa de absorção. Ainda assim, considerando o quão grande era o tamanho da besta, foram necessárias várias rodadas.

Embora o processo de absorção do éter tenha sido bastante simples com meu núcleo recém forjado, os próximos passos retiraram mais de um terço da essência etérica do milípede para poderem ser testados.

Mas com a quantidade de material que tinha para trabalhar, fui capaz de experimentar e ajustar o processo, aumentando sua eficiência e preparando meu corpo para, eventualmente, ser capaz de fazer algo que nem mesmo Asuras do clã Indrath podem fazer: manipular o éter.

Como não havia exatamente um manual para o que eu estava fazendo, dividi o processo em três estágios e os chamei de absorção, temperamento e, por último, estagio de expurgo.

Depois de absorver o éter, descobri que encher meu núcleo a ponto de quase transbordar, doendo muito, forçava o éter dentro de mim a se condensar e se refinar mais rapidamente.

O estágio de expurgo, entretanto, era o mais importante e exigia minha máxima concentração. De uma vez, precisava expelir quase todo o éter que havia enfiado em meu núcleo. Enquanto a onda de éter se espalhava por meu corpo, precisava traçar os caminhos que aquele éter costumava se mover e guiar lentamente o resto para usar esses mesmos caminhos.

Cada vez que eu purgava o éter de meu núcleo, estava lentamente treinando-o a viajar por passagens mais eficientes dentro do meu corpo, em vez de apenas se espalhar sem rumo.

Concentrei-me em treinar as passagens em meus braços. Percebi que, embora minha técnica e experiência fossem capazes de compensar a perda de velocidade, elas não poderiam compensar a minha perda de poder.

Com a forma como o éter foi amplamente distribuído em meu corpo cada vez que utilizei seu poder, não fui capaz de criar força suficiente para causar grandes danos sem quase exaurir a maior parte. Não sem usar a Forma de Manopla, no caso.

Horas, se não dias, mais tarde, depois de ter passado por quase oitenta por cento da essência etérea do milípede, verifiquei meu progresso.

Segurando minhas mãos em minha frente, liberei o éter do meu núcleo. Na minha primeira vez, deixei que simplesmente se distribuísse uniformemente por todo o meu corpo enquanto tentava sentir as passagens de éter se fortalecendo dentro do meu braço.

Na segunda tentativa, foquei mais éter em meus braços. Desta vez, porém, pude sentir um aumento de cerca de dez por cento em volta dos meus braços em comparação com o resto do meu corpo.

Um sorriso surgiu em meu rosto olhando para minhas mãos, abrindo e fechando-as.

— H-haha…

— Parece que você acabou de descobrir o fogo. Sobre o que você está todo animado? — Regis perguntou flutuando em minha direção.

— Você pode sentir algo diferente? — respondi de volta, abrindo meus braços. De início, deixei o éter se distribuir uniformemente pelo meu corpo.

— O éter ao seu redor ficou um pouco menos rosa. — observou, não impressionado.

— Não isso. — Sorri enquanto coalescia mais éter em meus braços. — Isso.

Os olhos brancos de Regis se arregalaram.

— Você pode controlar o éter agora?

A tênue mortalha de éter ao meu redor se dissipou enquanto relaxava.

— Não completamente, mas é um grande passo dado.

— Parece que comer todo esse esterco de milípede valeu a pena. — disse Regis com uma risadinha.

— Estava consumindo o éter do corpo do milípede, não suas fezes. — comecei. — …não ainda, pelo menos.

— Bem, tenho algumas boas notícias sobre isso. — disse Regis misteriosamente.

Levantei uma sobrancelha.

— Oh? O que seria?

— Nah ah ahh. — Regis badalou. — Vou te dizer depois que tiver minha quota de vinte por cento do éter do milípede gigante.

— Certo. Guardei cerca de um quarto da essência etérica para você de qualquer forma. — respondi antes de sorrir. — Por ser comido e expulso do reto da fera gigante, seu mestre concede a você um aumento de cinco por cento.

— Este aqui é indigno! —  Regis exclamou exageradamente.

Depois de usar completamente a última essência etérica do milípede, reduzindo seu cadáver a uma cor cinza nebulosa, Regis foi capaz de resistir facilmente à Forma de Manopla três vezes sem se machucar.

Eu esperava mais, mas Regis estava satisfeito com seu crescimento, especialmente o crescimento de seus chifres.

— Por que você se preocupa tanto com o tamanho dos seus chifres? — perguntei.

— Por que os machos humanos se importam tanto com o tamanho de suas genitais? — brincou de volta.

Fiquei olhando para baixo, em seguida, olhei de volta para Regis.

— Desculpe por perguntar.

Seguindo Regis dentro da enorme caverna que era quase o comprimento de um quarteirão, me levou por uma colina particularmente grande de cristais de éter.

Depois que alcançamos o pico, a colina mergulhou para formar uma cratera onde uma pilha particularmente vibrante de cristais de éter estava reunida em torno de quatro grandes esferas, todas variando em diferentes tons de roxo leitoso.

— Não me diga que são…

— Sim. — Regis terminou. — Eu não sei como, mas aquele milípede gigante teve alguns bebês.

— Mas isso não é o que importa. — continuou, flutuando dentro da cratera. — Olhe para os cristais que cercam os ovos.

Deslizando pela lateral da cavidade de cristais de éter que funcionava como ninho para o milípede, concentrei meu olhar no vibrante conjunto de cristais brilhando muito mais intensamente do que todos os outros cristais de éter nesta caverna.

Apertando os olhos ao me aproximar, vi o que havia dentro dos cristais. Minha teoria inicial estava correta quando vi o que estava acontecendo com a rocha que o milípede engoliu ao lado daqueles macacos de duas caudas.

Presos dentro daqueles cristais de éter, que eram muito maiores e mais brilhantes do que os outros cristais nesta caverna, estavam vários equipamentos, armas e outros itens.

Pela maneira como as armaduras e roupas foram posicionadas dentro dos cristais do tamanho de um homem, ficou evidente para mim que antes havia pessoas vivas dentro de cada um deles. Assim como eu vi o macaco ser consumido e sua própria vida ser sugada do corpo, essas pessoas provavelmente tiveram o mesmo destino depois de serem engolidas inteiras pelo milípede deixando para trás apenas seus pertences.

Era uma maneira cruel de morrer, mas, neste momento, não pude evitar de ser dominado pela ganância. Olhei para baixo, examinando as tiras rasgadas de tecido e couro que estava usando como roupas, e então voltei para as várias armaduras e equipamentos brilhando dentro dos cristais.

— Olhe para seus olhos, todo brilhando. — brincou Regis antes de examinar os cristais de éter ele mesmo. — Sorte nossa, parece que a mamãe inseto se banqueteava com alguns magos.

— Tenha algum respeito pelos mortos. — eu repreendi.

— Todo o meu respeito desapareceu no momento que saí do ânus daquele inseto. — riu Regis.

Estava ansioso para colocar minhas mãos em alguns dos equipamentos presos nos cristais de éter, mas havia algo mais importante que precisava cuidar primeiro.

Usando Forma de Manopla, Regis e eu destruímos todos, exceto o último ovo de milípede antes de absorver a essência etérica deles.

— Por que você está deixando um vivo? — Perguntou Regis.

— Há um ecossistema muito delicado neste andar. Não quero destruir isso completamente. — eu respondi, passando para o primeiro grande cristal.

Demorou várias horas para absorver éter suficiente dos cristais, a fim de rompê-los, mas a ideia de ter algo a mais para vestir além do que eu havia rasgado e amarrado me fez continuar.

Infelizmente, apesar dos cristais de tamanho humano contendo equipamentos serem mais de uma dúzia, a maioria deles não eram utilizáveis na hora em que rompi a concha cristalina nas quais foram armazenados.

O que restou, no entanto, foram equipamentos magistralmente elaborados que sem dúvida pertenciam a poderosos magos e guerreiros ou, pelo menos, ricos.

Olhei para as armas primeiro. Dentre as que não se desfizeram completamente, havia uma lança dourada com runas vermelhas espalhada por sua haste, um arco longo sem corda, uma espada longa com uma gema embutida em seu punho e com uma rachadura em todo o comprimento da lâmina, e um cajado com uma gema estilhaçada.

Regis franziu a testa enquanto pairava sobre as armas espalhadas no chão na minha frente.

— Bem, isso é anticlimático.

Ainda esperançoso, peguei a espada longa primeiro. Estava perfeitamente equilibrada e era boa em minhas mãos, mas quando coloquei éter na espada, a rachadura que descia por sua lâmina ficou maior e começou a se estilhaçar.

Soltando um suspiro, bati no chão. Cristais de éter menores espirraram com o impacto quando a espada se partiu em pedaços.

Em seguida, peguei a lança. Imbuir o éter neste teve um efeito particular; as runas começaram a brilhar em roxo.

Os olhos de Regis se arregalaram.

— Ooh! Temos um ganhad—

A lança explodiu em pedaços nas minhas mãos, atirando-me vários metros para trás e carbonizando meu colete de couro.

— Acho que falei muito cedo. — respondeu Regis.

— Droga. — amaldiçoei, me recompondo e caminhando de volta para as armas que restaram.

As armas restantes não se saíram muito melhor: as runas no arco indicavam que ele usava mana para criar uma corda e flechas de fogo, tornando impossível eu usar, enquanto o bastão com a gema quebrada provou ser ainda menos útil do que a lança explodida, pelo menos a lança teria pegado alguém de surpresa se eu a tivesse usado contra um inimigo.

Passei para a pilha de equipamentos que tirei dos cristais de éter. Infelizmente, enfrentei o mesmo problema que tive ao usar as armas quando usei a armadura folheada. Como todas as peças de armadura de níveis mais altos foram forjadas para conduzir melhor a mana, mesmo o uso do éter com aqueles equipados rapidamente os levava a quebrar ou explodir.

O que me restou foram roupas feitas de tecido fino ou couro.

— Está bonita, princesa. — brincou Regis circulando ao meu redor.

Minha nova roupa consistia em uma camisa branca solta de mangas compridas que enfiei em um par de braçadeiras feitas de couro grosso enegrecido. Por cima, coloquei um gorjal feito do mesmo material das braçadeiras. Apesar da minha estrutura um tanto magra, se encaixava bem, descansando confortavelmente sobre meus ombros e chegando ao meu queixo.

Depois de alguns testes, percebi que a camisa e as peças de couro da armadura eram surpreendentemente duráveis. Não tinham nenhuma runa ou indicação de que eram artefatos, então não precisei me preocupar com minhas roupas estourando por causa de uma reação ruim ao éter. Isso é sempre uma coisa boa.

Junto com um par de calças, alguns sapatos de couro macio e uma bolsa resistente que era capaz de conter com segurança a pedra de Sylvie e minha bolsa de água, o último item tinha um valor sentimental para mim. Era uma capa bastante elegante, forrada com um pelo branco macio ao redor do capuz.

Era resistente a cortes e incrivelmente quente, mas gostei simplesmente por causa de sua cor. Embora fosse branco com pelo por dentro, o tecido externo era de uma cor azul-petróleo atenuada. Isso me lembrou da Canção do Amanhecer, mas mais do que isso, me lembrou dos tempos mais simples quando eu encontrei a Canção do Amanhecer aos fundos da Casa de Leilões Helstea.

Colocando a capa que descia logo acima dos meus joelhos, fui saudado por um belo peso, mas o que me surpreendeu foi que havia algo escondido dentro do forro interno da capa.

— Achei que você tivesse passado por todas as armas. — retorquiu Regis, estudando a adaga em minha mão.

— Também pensei. — eu murmurei, hipnotizado pela pequena arma por algum motivo.

A alça elegante de prata escovada era longa o suficiente para eu segurá-la em uma das mãos com leves ranhuras para cada um dos meus dedos. Preso ao final do cabo estava um anel, provavelmente para o meu dedo indicador, se escolhesse usar a lâmina para baixo.

Segurando o cabo com força, puxei-o para fora de sua bainha para revelar uma lâmina branca perfeita com a insígnia de um hexágono com três listras paralelas dentro dele esculpidas perto da base.

— Uau. De que é feito? — Regis perguntou, estudando a lâmina branca e brilhante.

Segurei bem na minha frente, inspecionando-a também.

— Parece algum tipo de… osso?

— Os ossos são geralmente tão brilhantes e brancos assim? Parece quase cristalino.

— Esta é a primeira vez que vejo algo assim também. — confessei, incapaz de tirar os olhos.

— Experimente. Imbua um pouco de éter nela. — disse Regis com impaciência.

Estava com medo, não queria danificá-la. Mas quando o fiz, para minha surpresa, foi capaz de resistir e até conduzir uma pequena porção do éter.

— Você acha que a pessoa que tinha essa faca também sabia manejar o éter? — Regis perguntou, surpreso com a visão da aura roxa fraca vazando de sua lâmina branca.

— Acho que não. — respondi. — Provavelmente, esta adaga é feita apenas de algo que era capaz de usar éter, talvez de alguma besta encontrada nesta masmorra.

A boca de Regis se curvou em um sorriso sinistro.

— Perverso.

Olhei de volta para o ovo restante, em busca de um centímetro de culpa por matar seus três irmãos. Definitivamente perdi algo enquanto estava aqui. Uma parte de mim estava com medo e queria que me agarrasse a qualquer fragmento de humanidade que me restasse, mas uma parte maior de mim sabia que, para sobreviver aqui e alcançar meu objetivo, não poderia vacilar.

— Pronto para ir? — Perguntou Regis.

— Só um instante. Pegando meu cabelo que tinha crescido muito além dos meus ombros, o amarrei frouxamente perto da base do meu pescoço. Agarrando o rabo de cavalo, cortei meu cabelo logo depois do nó, deixando as mechas de cabelo trigo claro caírem no chão.

Regis acenou com a cabeça em aprovação.

— Eu vou admitir, isso foi muito másculo.

Dei uma olhada rápida no milípede gigante que matamos antes de seguir em frente.

— Vamos.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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