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O Começo Depois do Fim – Cap. 236 – Passagem do tempo

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Instintivamente, me envolvi em uma esfera de vento, mantendo a areia longe flutuando suavemente até o chão. Sylvie fez algo semelhante quando vi uma esfera preta derreter lentamente para revelar uma menina pequena com dois grandes chifres.

Virion e Bairon, com seus núcleos danificados e sua mana amplamente inutilizável, não se saíram tão bem.

Felizmente, Virion estava no epicentro de nossa descida, então deslizou pela grande montanha de areia que se acumulou abaixo dele. Bairon, uma figura cuja magia relâmpago era tão poderosa que aumentava seus reflexos, rolou pela duna de areia em um ataque de gritos desesperados.

Agitou os braços como um cachorrinho se afogando antes de perceber que estava em solo firme. Virion balançou a cabeça enquanto Sylvie se virava para esconder o riso.

Bairon cuspiu a boca cheia de areia enquanto me fuzilava com os olhos de adaga.

— Vocês! Uma Lança deveria ser tão egoísta a ponto de deixar seu… comandante mergulhar em perigos desconhecidos como este?

— O único que pensou que estávamos em perigo era você. — Virion rebateu, espanando a areia de seu manto.

Foi a primeira vez que vi as bochechas de Bairon coradas de vergonha. Rapidamente se levantou, limpando a boca arenosa e a língua na manga tossindo. Seu olhar maldoso nunca cessou fazendo isso, mas Bairon e eu sabíamos que não podia fazer nada a respeito. Com o estado em que estava agora, poderia matá-lo com um tapa, não que eu quisesse, é claro.

— Ei! — Disse Sylvie, sua voz ecoando ligeiramente. — Olhem em volta.

Suas palavras chamaram nossa atenção para o misterioso túnel subterrâneo em que estávamos. Olhei ao redor e finalmente percebi que, para um lugar sem fontes de luz, era surpreendentemente fácil de ver.

— Esses símbolos brilhantes são runas? Nunca vi nada como eles.—  Murmurou Bairon maravilhado ao mesmo tempo em que passava a mão sobre uma runa que pulsava com uma luz fraca na parede. — Devem ser runas, mas não sinto nenhuma mana de afinidade de fogo ou relâmpago ao redor delas.

Sylvie passou a mão pelas runas que pareciam perfeitas demais para serem gravadas à mão.

— Isso é porque não é movido por mana.

Bairon franziu as sobrancelhas.

— O quê? Isso é impossível.

— Não, ela está certa. — disse, circulando o Físico Realmheart pelo meu corpo mais uma vez. Os pensamentos de Sylvie vazaram para mim e só tive que verificar por mim mesmo. E para meu espanto absoluto, a caverna inteira se iluminou como uma noite estrelada, aquecendo a área em roxo. — É alimentado por Éter.

Minha mente girava tentando entender essa revelação. Repassei a conversa que tive com a avó de Sylvie, Lady Myre, na minha cabeça novamente. Tudo o que me disse sobre o Éter ser uma entidade que não poderia ser manipulada como mana, mas sim influenciada ou persuadida a agir, ia contra o que estava acontecendo na minha frente. O Éter não era algo que pudesse ser confinado e usado de forma tão permanente assim, mas estava claro como o dia que alguém ou alguma coisa havia descoberto como fazer isso.

— Vamos continuar caminhando. — Anunciou Virion, assumindo a liderança. — Tem mais disso aqui.

Tirando meus olhos das runas que enchiam essas paredes, continuamos a andar. Bem como no deserto acima de nós, o ar aqui era seco. Os únicos sons vinham de nossos passos ecoando pelo túnel que conduzia para fora da caverna por onde havíamos chegado.

Não poderia ser chamado de túnel, pois os pisos lisos e polidos e a luz proveniente das runas faziam com que parecesse mais um corredor estreito. O teto acima de nós continuou a subir enquanto caminhávamos pelo corredor, logo chegando tão alto que se perdeu na escuridão.

Apesar da familiaridade de Virion com este lugar, não pude deixar de ser cauteloso. Meus olhos dispararam para a esquerda e para a direita, procurando por algo estranho, mas exceto pela concentração incomumente alta de Éter reunida aqui, não havia nada de estranho neste lugar.

— Você também está se sentindo desconfortável. — Sylvie observou, ficando perto de mim.

— Acho que é apenas por causa de todo o Éter aqui e das runas que estão praticamente prendendo-os para usar como luz. Achei que o Éter influenciava apenas o tempo, o espaço e a vida.

— Suspeito que as paredes não são apenas feitas de pedra, mas algum tipo de coisa viva. — respondeu.

Toquei cuidadosamente as paredes pela primeira vez e percebi que Sylvie estava certa. Não era pedra, como eu havia assumido, parecia mais um tronco liso de árvore.

Então o Éter está dando a esta… árvore… vida? Imaginei.

— Seu palpite é tão bom quanto o meu neste momento. Posso usar o Éter, mas você pode pelo menos ver a mana ambiente; eu tenho que ir pelo meu pressentimento.

Continuamos caminhando em silêncio. A passagem reta parecia durar para sempre, sem fim à vista. Apesar das dezenas de runas nas paredes, a falta de variação entre elas tornava impossível dizer por quanto tempo estávamos caminhando.

— A que distância estamos de chegar ao abrigo real? — Perguntou Bairon, incapaz de conter a impaciência por mais tempo.

— Não tenho certeza. Não faz muito tempo que chegamos, então seja paciente. — Respondeu Virion.

Os olhos de Bairon se arregalaram.

— Não muito? Comandante, parece que tenho caminhado quase o dia inteiro! Achava que a jornada para encontrar este túnel subterrâneo fosse mais curta.

— Bairon, você não está exagerando muito? Eu dificilmente estaria tão bem se tivéssemos que andar tanto tempo sem usar mana. — Argumentou Virion.

Eu inclinei minha cabeça em confusão. Ele estava certo; Bairon pode ter exagerado, mas parecia que já estava caminhando há algum tempo. Ainda assim, Virion, que era o mais fraco entre nós, estava indo muito bem.

— Sylvie, há quanto tempo você está caminhando? — perguntei, ligando Realmheart mais uma vez.

— Não mais de uma hora… espere, algumas horas se passaram para você? — Ela perguntou surpresa.

Concordei.

— Sylvie, você pode tentar utilizar o Éter?

Lendo meus pensamentos, respondeu:

— Mas eu não posso usar isso para controlar o tempo.

— Sei. Não acho que você precise, no entanto.

Respirando fundo, Sylvie começou a invocar o Éter ambiente. Seu corpo começou a brilhar na luz roxa fraca que emitiu enquanto usava vivum para curar a si mesma e a seus aliados.

Imediatamente, a sensação surreal de cair em seu sonho puxou meu corpo. E então, como se realmente tivesse acordado, uma clareza indescritível se espalhou pela minha visão.

— Arthur, olhe atrás de você. — Disse Sylvie, abalada.

Olhei para trás para ver que nossa caminhada por este corredor havia nos levado apenas trinta passos à frente da caverna em que havíamos chegado.

Percebendo a mudança em minha expressão, Bairon se virou. Não conseguia ver seu rosto, mas a julgar por como seus ombros ficaram tensos e ele deu um passo para trás, sabia que estava ainda mais abalado do que Sylvie e eu.

— I-Isso é impossível. Estou caminhando há horas. Como, o que está acontecendo? — Bairon exigiu, virando-se e trocando olhares entre mim e Sylvie.

— Meu melhor palpite é que essas runas carregam nelas o poder de aevum e spatium. — Expliquei, meus olhos voltando-se para as runas misteriosas e intrincadas esculpidas nas paredes.

— Aevum e spatium? — Virion perguntou.

— Artes de Éter de tempo e de espaço. — Respondeu Sylvie, as sobrancelhas franzidas em confusão.

Bairon balançou a cabeça.

— Não, isso não faz sentido! Essas, artes do Éter no tempo e no espaço não deveriam nos afetar da mesma maneira? Como é que o Comandante Virion só se sentiu como se tivesse caminhado por uma hora enquanto parece que estou viajando há mais de um dia!

Pensei por um momento, olhando ao redor até que meus olhos pousaram no medalhão branco.

— Por causa disso. — Apontei para o antigo artefato na mão de Virion. — Esta “armadilha” parece mais uma precaução usada para dar a quem construiu este lugar tempo suficiente para reagir aos intrusos, ao invés de uma medida completa para detê-los. E acho que ter o artefato é o suficiente para tornar a passagem um pouco mais fácil.

— Isso não explica por que vocês dois não foram afetados. — Retrucou Bairon, obviamente chateado.

Olhei para o meu vínculo.

— Provavelmente, é porque Sylvie é naturalmente inclinada ao Éter que experimentou apenas pequenos efeitos. Para mim, só posso supor que é porque sou sensível ao Éter que fui menos afetado que você.

Após um longo momento de silêncio, Bairon aceitou a resposta com um estalo de língua.

— Vamos. Vamos continuar. — Insistiu Virion. — Com Lady Sylvie usando Éter, os efeitos do Éter de tempo e de espaço não parecem nos afetar.

Continuamos andando com cautela com Sylvie na liderança, ela continuava usando o Éter.

Meu cérebro bateu contra o meu crânio tentando entender o que exatamente tinha acontecido. Foi fácil deduzir todas as coisas que disse, mas muitas outras perguntas surgiram na minha cabeça.

Como os antigos magos conseguiram dominar as artes do Éter a tal ponto que puderam inventar armadilhas como essa? A manipulação do tempo e do espaço era isolada para cada pessoa individualmente, ou estávamos em alguma área restrita?

Os ensinamentos do clã Indrath sobre o Éter estavam errados? Esses antigos magos se originaram do Clã Indrath, e como o Clã Vritra, fugiram de Epheotus devido a uma diferença de crenças? Ou esses magos antigos eram realmente inferiores que aprenderam a controlar o Éter?

Enquanto minha mente vagava nessas perguntas, continuei olhando para trás para ter certeza de que estávamos realmente fazendo progresso. Bairon também o fez, ainda mais nervoso do que todo mundo. Depois de um tempo, algo luminescente apareceu à distância. Um brilho que não pulsava como as runas brilhantes ao nosso redor cresceu à medida que nos aproximávamos.

— Finalmente! — Bairon murmurou atrás.

Ele não foi o único aliviado. Com a esperança de um fim finalmente à vista, nossos passos tornaram-se mais longos e mais confiantes até que finalmente chegamos ao fim do corredor.

O corredor se abria para uma caverna enorme com um elegante teto abobadado esculpido na pedra natural e lixado com perfeição. Pilares, da largura de pelo menos três homens adultos de braços dados, sustentavam a enorme estrutura subterrânea. Orbes brilhantes de luz quente revestindo as paredes expuseram a expansão inspiradora à nossa frente.

Por um lado, me lembrou dos sistemas de cavernas que os anões criaram para suas cidades subterrâneas, mas, ao mesmo tempo, essas estruturas rudimentares não podiam nem começar a descrever o esplendor e a meticulosidade arquitetônica deste lugar.

Meus olhos imediatamente perceberam a caverna grande o suficiente para abrigar uma pequena cidade e os vários túneis que conduziam para fora da caverna. Correndo por toda a extensão estava um grande riacho que brilhava, refletindo as luzes da caverna. Havia várias estruturas de vários níveis em cada lado do riacho e pontes que cruzavam a largura do riacho em vários pontos ao longo da caverna.

O que me chamou a atenção, no entanto, foi a luz bruxuleante que avistei no segundo nível de um dos edifícios perto do riacho.

Sylvie e eu trocamos olhares, nos entendendo com apenas um pensamento. Voltei-me para Bairon, que ainda estava observando o que via na nossa frente, e Virion, que estava recuperando o fôlego.

Sem dizer uma palavra, chamei a atenção deles e apontei para o único prédio com luz. As expressões de Virion e Bairon ficaram ferozes, todos os sinais de fadiga substituídos por uma careta cautelosa.

Sendo o mais forte do grupo, assumi a liderança descendo o lance de escadas que levava ao solo. Nós costuramos silenciosamente através das estruturas de pedra vazias que pareciam uma casa.

Fiz uma anotação mental para explorar esses edifícios mais tarde, se tivesse a chance de ver se conseguia encontrar algum tipo de pista sobre esses magos antigos. No entanto, nosso objetivo era descobrir quem acendeu um fogo tão abaixo do solo em um local secreto.

Chegando ao prédio, pude ouvir os murmúrios baixos de várias vozes, mas as janelas estavam cobertas por vidro e mesmo com a audição aprimorada, mal conseguia distinguir quantas vozes eram.

Gesticulando para que todos se aproximassem, sussurrei para eles.

— Eu ouço pelo menos três vozes diferentes, mas suponho que sejam mais do que isso.

Depois de receber um aceno de Sylvie, Bairon e Virion, circulamos o perímetro até encontrar a entrada do edifício. Não havia uma porta, então nos aproximamos, mantendo nossas costas contra a parede até que estivéssemos ao lado da abertura que levava para o prédio.

Levantei cinco dedos e contei lentamente. Assim que meu último dedo caiu, girei para encarar a entrada com mana cobrindo meu corpo.

Eu esperava encontrar um guarda vigiando, e estava certo… ou mais ou menos isso.

Meus olhos se arregalaram e meu queixo caiu.

— Boo?!

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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