Dark?

O Começo Depois do Fim – Cap. 233 – Corrompendo Grey

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— Aqui. — Lady Vera se sentou ao meu lado, abrindo uma garrafa de água e entregando-a para mim. — Beba isso e tente se acalmar.

Concordei antes de beber o liquido claro. Imediatamente, minhas preocupações, nervosismo e estresse acumulado desapareceram.

— Há algo de errado com a água? — perguntou, preocupada.

— N-não. Estava tão nervoso que desceu pelo lugar errado. — disse, tomando outro gole.

— Bom, continue bebendo. Você se sentirá melhor quando terminar de beber tudo e fazer alguns exercícios respiratórios. Neste ponto, precisamos manter seu corpo e mente em ótima forma.

Fiquei olhando fixamente para Lady Vera, minha madrinha, professora e mentora, alguém semelhante a uma irmã mais velha para mim. Olhou para trás, sorrindo daquela maneira confiante que me fez sentir tão seguro por estar ao seu lado.

— Você está quase lá, Gray. Basta vencer mais um duelo e você será o herdeiro aparente até a idade de assumir o título de rei. — Disse, inclinando-se para perto. — Com sua habilidade e talento, este torneio é apenas um trampolim para coisas maiores.

— Você está certa. — me preparei, pensando na diretora Wilbeck.

Até hoje, fico furioso com a rapidez com que seu caso foi encerrado, apesar da gravidade da situação. Isso me fez suspeitar que algo estava acontecendo, mas para confirmar isso e chegar ao fundo de tudo, precisaria da autoridade de um rei.

Como Lady Vera disse, este torneio seria apenas um trampolim para me tornar rei e ganhar o apoio de Etharia para lançar uma investigação internacional completa. Encontraria quem fez isso e usaria minha total autoridade como rei para garantir que eles pagassem por sua morte.

— Você sabe que meu país natal, Trayden e Etharia, assinaram um acordo recentemente, mas essa aliança tem sido um pouco tensa. Tenho fé que você vai se tornar um grande rei que será a ponte entre nossos dois países, Gray.

Olhei para Lady Vera, esperançoso.

— Você realmente acha isso? Mesmo com o meu passado?

— Seu passado? Você é membro da família Warbridge, assim como eu. — Apesar de seu tom severo, sua expressão se suavizou em um sorriso caloroso. — Vou garantir que ninguém duvide disso.

Meu peito apertou e as lágrimas ameaçaram vir à tona. Engolindo e sentando ereto, senti uma nova determinação.

— Obrigado, Lady Vera. Não vou te decepcionar.

— Claro que você não vai. — Ela colocou a mão firme no meu ombro. — Você já adivinhou quem será seu oponente final, certo?

Minhas mãos se fecharam em punhos.

— Claro.

— Eu sei que ela é uma velha amiga e vocês dois cresceram juntos, mas não se esqueça que ela deixou tudo de lado por isso. Esqueça os rumores; ninguém a forçou a lutar, e com seus poderes, ninguém pode.

Assim que terminou de falar, o telefone de Lady Vera tocou.

— Olá? O que! — Ela olhou para mim. — Ok, estarei aí em breve. — terminou, sua voz severa.

— Desculpe, Gray, um parceiro de negócios meu está aqui, e eu preciso ir para fora já que não é permitido sua entrada. Certifique-se de terminar a água e concentre-se em se acalmar.

Levantei a garrafa de água.

— Não se preocupe, Vou ficar bem.

Com um aceno de cabeça apertado, Lady Vera começou a falar novamente com quem estava do outro lado do telefone. Quando alcançou a porta para sair da minha sala de espera pessoal, a porta se abriu, surpreendendo a nós dois.

— Cuidado! — Lady Vera falou ao homem, que na verdade era um zelador puxando um carrinho de limpeza.

O homem magro e barbudo fez uma reverência apressada antes de sair do caminho.

— Me desculpe.

Estalando a língua, Lady Vera se adiantou para dar uma olhada no zelador, mas foi distraída por algo dito em seu telefone.

— Estarei lá! Quero filmagens de todos os ângulos! — retrucou enquanto desaparecia pela porta.

O zelador deixou a porta fechar e caminhou em minha direção, a cabeça ainda abaixada, o rosto escondido sob o boné azul-marinho.

— Você realmente deveria ter mais cuidado, senhor. — avisei. — Há muitas pessoas importantes nestes corredores, pessoas que você não quer irritar acidentalmente.

O zelador não falou. Em vez disso, olhou diretamente para mim e arrancou sua barba grossa e grisalha. Em seguida, as feições do zelador começaram a se distorcer ligeiramente, revelando um rosto que não poderia ser mais familiar.

— N-Nic—

O zelador, ou melhor, meu velho amigo Nico disfarçado de zelador colocou a palma da mão na minha boca.

— Não fale muito alto.

Sua mão permaneceu até que confirmei a ele que havia me acalmado. Limpando minha boca, falei com meu amigo que vinha me ignorando nos últimos meses.

— Onde você esteve? Você está com uma aparência horrível. Aquela barba falsa… é um artefato de disfarce? Isso não é ilegal?

Nico me ignorou enquanto seus olhos percorriam a sala. Era óbvio que os últimos meses não foram fáceis para ele; seu rosto era magro, seus lábios rachados e seu cabelo despenteado. Ele claramente não estava cuidando de si mesmo.

— Não temos muito tempo antes de sua partida contra Cecilia. — Disse ele, atrapalhado através do carrinho de desinfecção antes de retirar um dispositivo do tamanho da palma da mão.

— Preciso que você ouça isso agora.

Afastei o dispositivo.

— O que está acontecendo, Nico? Sei que você está preocupado com Cecilia, mas você tem me ignorado nos últimos quatro meses e agora você entra aqui um pouco antes da minha partida e me distrai assim? O que você está tentando fazer?

— Por favor. — disse, desespero evidente em sua voz.

— Apenas ouça.

E foi o que fiz. Apesar de faltar menos de uma hora para a minha partida contra a Cecília, coloquei os fones de ouvido junto com o Nico e comecei a ouvir.

— Esta é… Lady Vera? — perguntei, ouvindo sua voz através do pequeno alto-falante em meu ouvido.

Ele me incentivou a continuar ouvindo e assim fiz. À medida que os clipes de áudio continuavam, ficava cada vez mais difícil continuar ouvindo.

— Besteira. — cuspi, puxando o fone de ouvido da minha orelha. — Planos para capturar Cecilia durante este torneio? Que tipo de piada de mau gosto é essa? O que você está fazendo, Nico?

— Não é uma piada, como eu poderia brincar sobre Cecilia? — perguntou, as lágrimas brilhando em seus olhos cansados. — Eu sei que Lady Vera tem sido boa para você, mas é por isso. Tudo era por este dia.

— Você ficou louco nesses últimos meses?

— É aqui que tenho estado nos últimos meses. — Nico puxou as mangas do uniforme e as pernas da calça, mostrando cicatrizes vermelhas profundas que corriam ao redor de seus pulsos e tornozelos. — Fui trancado por nossa própria embaixada de Etharian porque estava tentando tirá-la do prédio do governo em que foi detida. Passei fome e fui torturado, mas consegui escapar. Desde então, tenho reunido evidências em torno de Vera Warbridge para fazer você me ajudar.

Meus olhos se arregalaram e eu balancei minha cabeça.

— Não. Não, você está mentindo. Isso não faz sentido. Em primeiro lugar, por que Lady Vera precisaria levar Cecilia? Trayden e Etharia são aliados!

— É exatamente por isso que eles querem agora. — explicou ele, impaciente. — Quem quer que tenha controle sobre Cecilia, ou o que os Traydens chamam de O Legado, tem controle sobre os dois governos inteiros.

Fiquei abalado com o termo familiar: O Legado. Aquele homem chamou Cecilia de legado enquanto me torturava. Mas eu nunca disse isso a Nico.

— Ok, então como faço parte disso? Por que Lady Vera precisaria de mim especificamente, em vez de qualquer outro candidato a rei?

— O governo Ethariano tem confinado Cecilia para sua própria proteção. Ela só aparece em público durante os torneios. — respondeu imediatamente. — Lady Vera precisava de você porque você é órfão. Existem regras rígidas sobre quem tem permissão para participar dos torneios da Coroa do Rei, especialmente nas rodadas finais. Lady Vera só foi permitida aqui porque ela é sua tutora legal, algo que não pode acontecer com outro candidato de uma família rica.

Meditei sobre suas palavras por um momento, perdido em pensamentos e de repente uma batida repentina na porta nos fez pular.

— Candidato Gray? Eu sou um dos facilitadores aqui. Lady Vera Warbridge me pediu para dar uma olhada em você. — Disse uma voz rouca do outro lado da porta.

Fitei Nico. Olhou para trás com os olhos arregalados, seu corpo inteiro tremendo.

— Estou bem. Por favor, diga a ela que não quero ser incomodado até a hora do duelo. — Respondi em voz alta.

O facilitador reconheceu minhas palavras e se despediu, mas Nico e eu esperamos mais alguns minutos antes de nos movermos. Espiei pela porta para ter certeza de que ninguém estava do lado de fora antes de voltar para Nico.

— Olha, é óbvio que você já passou por muita coisa. Eu não vou denunciá-lo, mas não posso acreditar em você. Você precisa sair daqui.

— Gray. — Nico implorou, cruzando as mãos sobre as minhas mais uma vez. — Eu estou te implorando. Consegui traçar um plano com alguns amigos depois que me libertei há algumas semanas. Tudo está em movimento, mas preciso da sua ajuda se vamos escapar com Cecilia!

— Fugir com Cecilia? — ecoei. — Você ao menos se ouve agora? Estamos competindo uns contra os outros pela Coroa do Rei! Você está me dizendo para jogar tudo isso fora porque acha que há algum tipo de conspiração maluca acontecendo agora? Eu vi a última luta de Cecilia; ela está completamente bem e saudável!

— Você não sabe o que a família Warbridge vai fazer com Cecilia assim que colocar as mãos nela! — gritou desesperadamente, começando a remexer nos bolsos. — Veja! Eu não queria te mostrar isso, mas isso tem que provar.

Peguei a foto amassada de sua mão trêmula, ainda cético em relação a suas palavras até que vi quem estava na foto. Embora embaçado e levado às pressas, não havia dúvida de que era Lady Vera conversando com um homem, o qual tinha, escorrendo pelo rosto, uma cicatriz.

— Não lembra dele? Foi ele quem tentou sequestrar Cecilia! — Nico disse, apontando freneticamente para o homem borrado e cheio de cicatrizes.

— Isso não pode ser… não, não é. Ouça, Nico, isso está muito embaçado para dizer. Eu não vou, eu não posso descartar tudo que Lady Vera fez por mim por causa de uma foto borrada. respondi, devolvendo a foto para ele.

Minhas mãos tremiam e meu coração batia forte contra minha caixa torácica. Eu precisava de água.

Me atrapalhei com a tampa da garrafa transparente e tomei um longo gole. Instantaneamente, pude me sentir acalmando, me sentindo melhor, mais forte, mais lúcido.

Lady Vera estava certa. Eu precisava cuidar do meu corpo, ficar hidratado. Respirando fundo, virei para Nico.

— Se algo do que você me disse hoje for mentira, você pode ser condenado à prisão perpétua. Se for verdade, e alguém descobrir, então você provavelmente será morto. Como amigo, vou fingir que isso nunca aconteceu, mas você está louco se acha que vou participar.

Nico caiu de joelhos, olhando para mim em desespero.

— Gray! Por fav…

— Vou ajudá-lo, Diretora Wilbeck e Cecilia fazendo o que venho feito todo esse tempo, me tornando rei. — me virei, caminhando em direção à porta. — Agora, se me dá licença, minha partida está prestes a começar.

O árbitro, um homem magro, de meia-idade, com uma barba grisalha bem aparada, estava vestido com um terno preto formal. Manteve as mãos atrás das costas enquanto falava.

— Será que os dois finalistas entrarão no palco?

Meus passos ecoaram subindo os degraus de mármore que levavam à plataforma quadrada de duelo, e podia ouvir seus passos do outro lado também. O público limitado que pôde ser “testemunha” deste evento foi silenciado e aguardava ansiosamente o próximo representante de Etharia.

Usando uma técnica de respiração que Lady Vera havia me ensinado, acalmei meu ser enquanto subia na plataforma reforçada. No entanto, vendo meu oponente e velha amiga pisar na plataforma à minha frente, não pude deixar de estremecer.

O próprio ar ao redor dela parecia estar cheio de eletricidade enquanto minha pele formigava desconfortavelmente. Uma aura de ki puro era visível e condensada tão densa que temia que nem mesmo a lâmina mais afiada pudesse penetrá-la.

Bastou um olhar para perceber o quão ultrapassado eu estava. Um olhar e sabia que ninguém em todo o torneio, exceto ela, teria a chance de se tornar o próximo rei. Cecilia parecia saber disso, pois seus olhos exalavam confiança. Estava mais pálida do que o normal, mais doente, e as olheiras mostravam o quão cansada estava, mas seu comportamento ainda expunha sua arrogância.

— Em honra à competição, os dois finalistas prestarão homenagem ao rei em cargo de Etharia, Rei Ivan Craft. — Anunciou o árbitro, apontando para o pódio mais alto.

Me curvei profundamente da maneira tradicional antes de voltar para a minha oponente. Cecilia, por outro lado, mal baixou a cabeça antes de voltar o olhar para mim.

Por um momento, o tempo pareceu diminuir enquanto trocávamos olhares. As palavras de Nico ecoaram em minha mente, abalando minha confiança. Nico havia dito desde o início que Cecilia havia sido capturada pelo nosso próprio governo, mas não conseguia acreditar nele. Cecilia parecia ter optado por deixá-lo para buscar a realeza, exatamente como eu fiz.

O árbitro se colocou entre nós dois.

— Finalistas. Mostrem seus respeitos um ao outro.

Ele recuou e eu me curvei em respeito, como era tradicional, mas Cecilia manteve o queixo erguido e olhou para mim. O árbitro ignorou e sinalizou para que preparássemos as armas.

Desembainhei minha arma, golpeando a espada habilmente no ar antes de apontar sua ponta brilhante diretamente para Cecilia. Não podia perder o foco, ela era outro oponente que eu tinha que derrotar.

A expressão de Cecilia permaneceu inalterada enquanto elegantemente erguia a mão vazia. Nessa mão formou-se uma arma de ki em forma de uma rapieira. Ao contrário de outras armas de ki que tinha visto, entretanto, sua manifestação foi quase instantânea e sem falhas nos detalhes.

Houve um coro de suspiros abafados e murmúrios da plateia. Não os culpei; foi impressionante. O árbitro, porém, manteve seu profissionalismo, não exibindo nenhuma mudança de atitude ao sinalizar aos técnicos para levantarem a barreira de ki.

Assim que a cúpula translúcida envolveu totalmente a arena, o árbitro baixou a mão.

— Que comece o duelo!

Jogando de lado a hesitação que nublava minha mente, irrompi para frente, brandindo minha espada revestida de ki. Anos de treinamento com Lady Vera haviam fortalecido minha reserva de ki a um ponto que pensei não ser poderoso o suficiente. Embora ainda cambaleasse um pouco abaixo da média dos praticantes, com meus instintos poderosos e reflexos aguçados, fui capaz de utilizar cada gota de ki que tinha em meu arsenal.

Esses mesmos reflexos me fizeram parar no meio da corrida. Cada fibra do meu corpo gritava para que eu não me aproximasse mais de Cecilia enquanto ela permanecia imóvel.

Senti uma gota de suor rolar pelo lado do meu rosto mudando de tática, escolhendo ao invés disso circular cuidadosamente ao redor dela.

Duas coisas aconteceram quase instantaneamente. Primeiro, uma careta cruzou o rosto pálido de Cecilia. Depois, ela lançou uma enxurrada de golpes penetrantes de ki de uma só vez.

Meus olhos se arregalaram em choque. Seja por sorte ou instinto, consegui tecer através dos seus ataques casuais enquanto dezenas de golpes penetrantes eram projetados de sua arma de ki, avançando mais perto a cada desvio e esquiva, até que estava ao alcance para atacar.

Fintei com um corte para baixo antes de girar e girar atrás dela, atingindo Cecilia na parte de trás dos joelhos com um corte largo.

O ataque deveria ter feito suas pernas dobrarem, mas em vez disso uma forte onda de dor correu pelo meu corpo.

— Fraco — Cecilia murmurou baixinho.

Recusei-me a deixá-la me incitar a fazer algo estúpido. Reposicionando-me, golpeei Cecilia com uma série rápida de ataques radicais mais rápidos do que os olhos podiam acompanhar.

Mas eu não conseguia perfurar a aura espessa de ki envolvendo seu corpo minúsculo.

Cecilia respondeu, apunhalando sua rapieira translúcida aos meus pés.

O ataque foi fácil de evitar, mas o que se seguiu foi o terreno reforçado se estilhaçando com o impacto do ataque dela.

Sério? Isso é injusto! Amaldiçoei, tentando escapar da nuvem de destroços formada ao nosso redor. Antes que pudesse reagir, uma mão agarrou meu pulso e me prendeu no lugar com uma força que parecia quase impossível vinda de um corpo tão pequeno.

— Isso é tudo o que você conseguiu, mesmo com todo o treinamento que recebeu? — Cecilia zombou, praticamente suspirando de decepção.

— Cale a boca! — falei, puxando minha mão livre de seu alcance. As declarações de Nico sobre Cecilia sendo presa contra sua vontade e sendo forçada a competir pareciam uma besteira total neste momento.

A atitude dela era igual à daqueles candidatos presunçosos de famílias ricas, intolerante e arrogante.

Afastei-me da nuvem de poeira que se dissipava bem a tempo de me abaixar sob uma explosão de puro ki.

A barreira em torno da arena de duelo tremeu com o impacto e os olhos do árbitro se arregalaram de surpresa.

Momentos depois, Cecilia disparou para a frente, as duas mãos segurando sua arma ki, pronta para atacar. Me esquivei do golpe, mas a aura em torno de sua arma de ki foi afiada o suficiente para deixar um corte profundo na lateral do meu pescoço, tirando sangue.

Cecilia se moveu com pressa, sua lâmina brilhante se transformando em um borrão de luz indistinguível me atacando imprudentemente.

Cada vez que aparava sua arma de ki, fagulhas voavam e lascas apareciam ao longo de minha lâmina, embora, com ki, eu a estivesse reforçando.

Sabia que não poderia manter isso para sempre, ou minha arma se desintegraria em minha mão, então confiei em meu próprio corpo para evitar seus golpes.

Abaixei, volvi, teci e girei em uma velocidade que só eu poderia executar com tanta precisão e tempo. Seus ataques eram monstruosamente fortes e rápidos, mas sua esgrima não estava no mesmo nível que a minha.

De repente, a arma de Cecilia sumiu de vista quando posicionou a palma da mão agora vazia diretamente no meu rosto.

Mais uma vez, meu corpo gritou a mim que eu estava em perigo, e reagi agarrando seu braço estendido e puxando-o para longe enquanto o aproveitava para me posicionar ao seu lado.

E foi liberado, da palma da mão aberta de Cecilia, um cone de energia brilhante, bem onde eu estava.

— Tudo o que você pode fazer é desviar e correr? — disse ela, seu tom casual, como se isso fosse apenas um treino.

O cotovelo coberto de ki da Cecilia bateu diretamente no meu esterno, me lançando vários metros para trás e me deixando sem fôlego.

No momento em que ainda estava deitado de costas, minha boca se abrindo e se fechando como a de um peixe fora d’água tentando desesperadamente sugar o ar, Cecilia veio correndo em minha direção com uma arma ki recém-formada na mão.

Tentei desesperadamente alcançar minha espada, mas ela estava alguns centímetros fora de alcance. Então agarrei o chão, tentando arrastar meu corpo dolorido para minha única chance de sair disso com vida, mas já era tarde demais. A sombra de Cecilia passou por mim e pude ver o brilho de sua arma.

Não havia mais nada que eu pudesse fazer a não ser fechar os olhos e esperar o golpe que encerraria a partida, talvez até mesmo encerraria minha vida.

Mas a dor nunca veio. A espada ki de Cecilia se enterrou no chão a centímetros do meu rosto e o impacto mais uma vez destruiu o piso reforçado abaixo de mim, enviando uma onda de dor pelo meu corpo.

Minha oponente sorriu com seu rosto perto do meu.

— E com isso você teria morrido.

— Já chega! — gritei. Agarrando minha espada que havia caído ao meu alcance, golpeei Cecilia em sua cintura usando cada grama de ki que consegui reunir no momento. Minha lâmina não conseguiu cortar a aura protetora de ki enrolada em seu corpo, mas a força conseguiu empurrá-la para longe de mim.

Cecilia torceu o corpo, pousando agilmente em pé com um sorriso malicioso no rosto. Ela não era mais a amiga com quem eu cresci. Nico estava realmente delirando, pensando que tudo era forçado a ela pelo governo.

Segurei a espada com a mão direita, retirando o ki que protegia meu corpo. Se eu quisesse derrotá-la, não seria capaz de fazer isso desperdiçando meu precioso ki na defesa.

Percebendo isso, Cecilia retirou sua arma, deixando a rapieira brilhante desaparecer.

Ela assumiu uma postura ofensiva e gesticulou para que eu viesse. Não disse nada, mas não precisava. Nem mesmo me via como uma ameaça, acendendo em mim uma raiva e uma nova determinação de derrotá-la a todo custo.

Soltando um rugido, imbuí o ki em minhas pernas em pulsos explosivos, combinando com o meu passo. Alcancei-a em três passos a uma velocidade que a pegou de surpresa. Balancei então minha espada para cima, esperando pelo menos desequilibrá-la, mas Cecilia ficou parada e deixou sua barreira de ki absorver o impacto do meu ataque.

A mão dela, revestida com uma espessa camada de ki, conseguiu agarrar a ponta afiada da minha lâmina reforçada.

Então puxou a espada, levando-me junto a ela, e me deu um tapa no rosto com as costas da mão.

Consegui proteger meu rosto no último segundo, mas ainda assim fui jogado no chão. Voltando a ficar de pé, fui imediatamente recebido por uma enxurrada de ataques de Cecilia enquanto balançava minha própria espada contra mim.

— Meu treinador estava certo. Vocês dois eram pesos mortos me segurando, especialmente Nico. — sussurrou. — Estou feliz por ter conseguido me livrar de vocês dois.

A menção do nome de Nico trouxe outra onda explosiva de raiva. Apesar de suas conclusões serem malucas, ele fez tudo porque se importava com Cecilia, até a amava. O fato de ela cuspir aquilo naquelas emoções me deixou louco, apesar de todas as acusações que ele havia feito a Lady Vera.

— Cale-se! — Rugi. Envolvendo minha mão em ki, evitei seu próximo golpe para baixo, o fim de seu padrão de ataque, e desviei a lâmina para que ficasse enterrada no chão.

Mesmo com minha espada lascada, o ki que ela imbuiu ao redor formou um ataque forte o suficiente para dividir o piso reforçado e prender a espada.

Imediatamente segui com um soco poderoso em sua mandíbula e outro logo abaixo de suas costelas.

Meus nós dos dedos pareciam ter atingido uma parede de concreto, mas o golpe fez Cecilia cambalear por um instante, o que foi tempo suficiente para eu arrancar minha espada do chão.

Naquele exato momento, uma explosão balançou a arena, envolvendo toda a plataforma de duelo em nuvens de poeira e destroços. A barreira translúcida em torno da arena de duelo estremeceu, tremeluziu e então desapareceu enquanto um coro de gritos e berros enchiam o lugar.

Fiquei parado por um momento, confuso com a virada dos eventos até que um lampejo de movimento saiu do canto dos meus olhos.

— Este duelo acabou! — gritou enquanto corria em minha direção.

Ela lançou uma onda de golpes com sua arma ki recém-formada, liberando crescentes agudos de energia. Os ataques bombardearam o terreno ao meu redor, levantando ainda mais poeira e destroços na situação já caótica que se desenrolava. No entanto, mantive o foco, querendo terminar este duelo tanto quanto ela.

Agarrando minha espada com as duas mãos, infundi o ki restante que ainda havia em sua lâmina e rezei para que suportasse mais um ataque. Dentro da cortina de fumaça de poeira que obscurecia minha visão, consegui localizar a sombra tênue de Cecilia no ar.

Seu plano de usar aqueles ataques chamativos para obstruir minha visão dela pode ter funcionado na maioria das vezes, mas meus sentidos aguçados e instintos me permitiram adivinhar seu próximo movimento.

Soltei um rugido primitivo, levantando minha espada e dirigindo sua ponta afiada direto para a figura sombreada de Cecilia com todas as minhas forças, apertando minha mandíbula para o impacto que viria.

No entanto, o recuo que eu esperava ao colidir com sua aura protetora nunca veio.

Em vez disso, observei minha espada deslizar profundamente no peito de Cecilia e ficar manchada de vermelho em suas costas.

Senti seu peso caindo em mim; o fluido quente e viscoso escorrendo pelas minhas mãos e pelos meus braços.

— Eles… não me deixaram… me matar. Sinto muito… esta era… a única maneira. — Cecilia murmurou com sua respiração irregular.

Eu soltei minha espada, minhas mãos tremendo ferozmente.

— O que? por quê? Como?

— Enquanto… eu viver, Nico será… preso… usado contra… mim.

Tropecei para trás e Cecilia caiu em cima de mim. Para meu horror, a lâmina afundou mais fundo nela e ela soltou um suspiro de dor.

— N-N-Não… isso não pode ser… — gaguejei, incapaz até mesmo de formar o resto da frase enquanto sufocava os soluços se formando em minha garganta.

A poeira do último ataque de Cecilia e da explosão ao redor da arena tinha se dissipado enquanto continuava segurando Cecilia. Apesar de todos os filmes de ação que tinha visto no orfanato do personagem principal morrendo dramaticamente, a morte de Cecilia estava longe de ser a mesma.

Ela simplesmente parou de respirar e caiu mole. Foi isso.

— Não! Como? O que é que você fez!? — Lady Vera gritou do meu lado.

Virei minha cabeça em direção ao som da voz, mais por instinto do que como uma resposta real. À minha esquerda estavam duas figuras, uma masculina e uma feminina. Ambos usavam armaduras militares, os rostos cobertos por máscaras de tecido. No entanto, o homem havia tirado os óculos que cobriam os olhos, revelando dois olhos de cores diferentes.

Talvez se estivesse em qualquer outra situação, teria reagido de forma diferente. Eu tinha encontrado um dos homens responsáveis ​​pela morte da Diretora Wilbeck. Também tinha acabado de ouvir a voz inconfundível de Lady Vera por trás da máscara da mulher agressora ao lado dele.

Nico estava certo, mas isso não importava para mim agora. Eu tinha matado uma amiga,não, eu havia matado a mulher que meu melhor amigo amava.

O mundo ficou em silêncio enquanto olhava fixamente, o assassino de um olho castanho com cicatrizes e com um olho verde puxando Lady Vera para longe e fugindo.

Observei, o árbitro e os juízes freneticamente fazendo seu caminho em nossa direção enquanto os guardas corriam ao redor, tentando controlar o caos.

E do canto dos meus olhos, perto da própria entrada de onde eu vim, testemunhei Nico enquanto sua expressão se transformava em horror e desespero.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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